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Direitos Reais I

Faculdade de Direito – Universidade Federal da Bahia


Prof. Emanuel Lins
Mariana Gomes Barros
2016.2

Apresentação da disciplina
É uma das disciplinas em que mais é possível ver o que é realmente o Direito Civil. O
conteúdo de Civil se divide em parte geral e parte especial.
A lei se divide em livros, títulos, capítulos e seções. Lei Complementar 95/98 explica a
distribuição da lei.
Ler a parte inicial em Santiago Dantas.
A Parte Especial se divide em 5 livros. Estudaremos o Livro III.
Título I – relações possessórias; Título II – listagem dos direitos reais (da coisa própria e
da coisa alheia); Título III – propriedade.

 Introdução ao direito das coisas (Av1)


 Posse (Av1)
 Propriedade (Av2)

Avaliação e método de ensino


Av1 – peso 4
Av2 – peso 6
Avaliações abertas com três questões. Duas questões práticas e uma teórica, sobre os
textos lidos. Serão quatro textos para cada avaliação, e a questão será sobre o texto de
nossa escolha. Caso prático com aplicação teórica. Uso de vade mecum permitido. Pode ter
destaques, mas não anotações.
Apresentação em dupla do texto pode substituir a avaliação do texto na prova.
Apresentação terá perguntas do professor. Avisar antes qual o texto. Apresentação de 20 a
40 minutos.
Para a Av2, se houver tempo, faremos juris simulados pontuados, distribuindo os papeis
entre os alunos. O objetivo é aproximar os alunos de discussões reais. Substituiria a
questão dos textos na avaliação. Dois temas: ocupações na zona urbana e rural e despejo
de locatários (comercial ou residencial).
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Além dessa possibilidade, há a possibilidade de substituir a Av2 por um artigo científico.


Não é uma avaliação mais fácil; requer pesquisa e aprofundamento. Os artigos precisam
ter pertinência temática com o conteúdo da disciplina. Indicar por requerimento abrindo
mão da avaliação. Entrega uma semana após a avaliação. Procurar o professor se houver
interesse com antecedência, logo no início do semestre, para consultar sugestões de obras,
e garantir um melhor desempenho. O professor indicará se a pessoa terá condições de
fazer o artigo durante o semestre.

Referências
Não utilizar manuais com todo o conteúdo de civil em um livro ou livros de concurso.

I. Clássicos
 Orlando Gomes –Livro sobre Direitos Reais. Pegar edição atualizada
por Faquin. Precisão teórica e capacidade de síntese. Influência
francesa. É raro encontrar em Orlando Gomes referência a dispositivo
legal ou jurisprudencial. Basicamente teórico. Repertório teórico que
poucos autores dão. Repertório em Civil mais consistente. Possível
utilizar em todo o semestre.
 Santiago Dantas – Diferencia direito pessoal e real. Destaca o objeto de
estudo dos Direitos Reais. O professor deixará na xerox se não tiver na
biblioteca. Usar para a parte introdutória, não é muito indicado pra o
semestre inteiro. Leitura de apoio.
 Caio Mário da Silva Pereira – Repertório teórico denso com capacidade
de síntese boa. Também possibilita um repertório em Civil. Foi
atualizado por Guilherme Calmon. Ao contrário de Faquin, não sinaliza
o que é atualização do revisor. Também pode ser utilizado em todo o
semestre.

II. Contemporâneos
 Carlos Alberto Gonçalves – autor contemporâneo. Distribui o conteúdo
de acordo com a organização do código. É didático. Utiliza autores
clássicos como referência.
 Sílvio Venosa – autor contemporâneo. Recorre ao direito romano para
explicar a origem dos institutos.

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 Cristiano Chaves – autor contemporâneo. A linguagem é mais fechada.


Do ponto de vista teórico, para o professor é meio confuso. Mais
extenso.
 Flávio Tartuce e Simão – autor contemporâneo. Livro didático e denso.

Textos para a Av1


 MARKY, Thomas. Curso Elementar de Direito Romano. Caps. 8 a 16 (p. 63-104).
 SAVIGNY. Tratado da Posse. Caps. 1 e 2.
 IHERING, Rudolph von. Teoria Simplificada da Posse.

Textos para a Av2


 GROSSI, Paolo. História da Propriedade e Outros Ensaios. Cap. 1 (“A propriedade e
as propriedades).

Textos complementares
 Santiago Dantas
 Orlando Gomes. Introdução. Cap. 9.  capítulo da diferença entre dever jurídico,
obrigação, sujeição e ônus, e subcapítulo da diferenciação entre direitos reais e
direitos pessoais.

DIREITOS SUBJETIVOS

1. Noções Gerais

Uma coisa é a relação jurídica de natureza pessoal, que se dá entre pessoas, e outra
é a relação jurídica de natureza real, que se dá entre pessoas e coisas.

As obrigações são impostas às pessoas, e podem ser positivas ou negativas. No


caso da obrigação positiva, o direito subjetivo só é atingido, fruído, com o
cumprimento da prestação pela pessoa. Serão positivas as obrigações de dar e de
fazer. Serão negativas as obrigações de não fazer.

Situação jurídica é uma tentativa de Leoni Digget. Para ele, não existe direito
subjetivo e obrigação/dever, mas situações jurídicas. Ou se está em uma situação
jurídica ativa, em posição de agir, ou em uma situação jurídica passiva, para

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beneficiar outra pessoa (dar, fazer ou não fazer). A mesma pessoa poderia reunir
uma situação jurídica ativa e passiva.

Quando formos falar de função social da propriedade, a Digget sai da ideia de


propriedade como direito subjetivo, e volta à ideia de função social de propriedade
como uma relação jurídica.

2. Direitos subjetivos e direitos potestativos

Para Ihering, direito subjetivo é um interesse juridicamente protegido. Existem


outras teorias. O interesse seria o elemento material. Se esse interesse é protegido
legalmente, juridicamente (para ele é a mesma coisa), cumpre-se o elemento
formal. Assim, se o sujeito tem um interesse material protegido pela lei, ele tem um
direito subjetivo.

Dentro dos direitos subjetivos, existem dois elementos centrais: licitude (proteção
do direito pela lei) e pretensão (direito de, como titular do direito, exigir de outrem
o cumprimento de uma pretensão, que pode ser comissiva ou omissiva, de ação ou
inação, abstenção).

Logo, quando se tem um direito subjetivo, haverá do outro lado um dever jurídico.
Existirá um devedor. No direito potestativo, não haverá do outro lado um devedor
e, portanto, uma pretensão de agir. Em verdade, haverá uma posição de sujeição.

Um exemplo seria pedir judicialmente que um devedor entregue o celular


comprado, pois não foi entregue no prazo estipulado. O comportamento do
devedor é essencial para que esse direito subjetivo se concretize. O direito de
acionar judicialmente é um direito potestativo, por ser exercido
independentemente da anuência do outro (o direito de acionar judicialmente, não
a cobrança). Não é necessário que a outra parte aceite que seja acionada
judicialmente.

Não há pretensão no direito postestativo porque não há o que exigir. No direito


potestativo não é necessário uma conduta; simplesmente se sujeita à potestagem.

3. Dever jurídico, obrigação, sujeição e ônus jurídico

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Quando se fala de dever jurídico e de obrigação, se fala, basicamente, de direitos


subjetivos. Quando se tem o direito subjetivo, por outro lado há um dever jurídico.
O dever jurídico genérico é conhecido como neminem laedere (não prejudicar). A
lei obriga as pessoas a se abster desses atos.

Seria o caso da abstenção a matar ou lesionar alguém.

A obrigação, por sua vez, é um dever jurídico específico, pois é imposto a uma
pessoa ou a um grupo de pessoas determinadas.

Uma coisa é um dever jurídico específico de abstenção, que é uma obrigação de


não fazer, e outra é um dever genérico de abstenção.

Assim, o dever jurídico pode ser geral, que é aquele que a lei disciplina para todos,
ou pode ser específico, que é aquele oriundo de um acerto contratual ou
extracontratual (obrigação).

A sujeição é um direito potestativo, ou seja, o direito de praticar uma conduta


independentemente da anuência da outra parte.

Um ônus jurídico é um comportamento que determinada pessoa pode ou não


praticar para auferir cantagem para si própria.

Seria o caso do ônus jurídico de registrar um imóvel comprado. Se esse registro é


feito, o sujeito pratica um ato em benefício próprio. Se deixa de praticar, ele
comete um ato de desbenefício próprio.

Recorrer a uma sentença é um ônus jurídico do que saiu em desfavor do


julgamento em primeira instância.

4. Direitos patrimoniais e extrapatrimoniais

Direitos patrimoniais são aqueles bens passíveis à redução pecuniária. Ou seja, são
bens com conteúdo essencialmente econômico, que podem ser reduzidos à
pecúnia. Seriam direitos pessoais (obrigacionais) e direitos reais.

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Direitos extrapatrimoniais, por sua vez, são aqueles que não tem expressão
pecuniária. Isso não quer dizer que não possa ser indenizado em virtude de sua
violação, mas aquela compensação não atribui valor a esses direitos, pois não são
passíveis de expressão pecuniária. Nesses casos, a indenização é meramente uma
tentativa de dissabor, não sendo possível o desfazimento do dano, a indenização
vai tentar compensar a vítima pelos dissabores aos quais foi acometida. Seriam
direitos da personalidade e direitos de família.

5. Direitos absolutos e relativos

Em relação aos efeitos e a eficácia, os direitos podem ser absolutos ou relativos.

Direito absoluto é aquele que é oponível erga omnes, de eficácia absoluta. São
direitos absolutos os direitos reais e os direitos da personalidade.

Direitos relativos têm eficácia relativa (interpartes), são oponíveis a determinadas


pessoas. Os direitos obrigacionais são direitos relativos.

INTRODUÇÃO AO DIREITO DAS COISAS

1. Distinção entre direito das coisas e direitos reais

Direito das coisas tem a ver com a relação das pessoas com os bens e os seus
modos de utilização econômica. Direitos reais disciplinam relações jurídicas entre
pessoa e coisa que constitui um direito. Direito real é o direito de uma pessoa
sobre uma coisa.

No âmbito do direito das coisas, há relações entre pessoas e coisas que não serão,
necessariamente direitos reais. A posse pode decorrer de aluguel (obrigacional),
empréstimo (obrigacional) e de usufruto (direito real de coisa alheia).

Logo, o direito das coisas é mais amplo que os direitos reais. Há situações que
importam para o direito das coisas, ainda que não seja um direito real.

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Só será direito real se estiver expressamente indicada na lei como direito real. O
legislador diz que a posse não é direito real, mas que pode decorrer de um direito
real, como usufruto, mas não é direito real. São taxativos.

O art. 1.225 do Código Civil é taxativo. A maior parte da doutrina acredita que o rol
de direitos reais seja apenas aquilo que está descrito no artigo. Para esses, a posse
pode decorrer de um direito real, mas não é direito real. A posse, para o direito
civil, não seria direito real. Santiago Dantas, e minoria da doutrina, defendem que a
taxatividade pode ser mitigada.

A partir do título II, começa a trabalhar caso a casa cada um dos direitos reais
elencados no art. 1.225.

O Código se divide em posse e direitos reais. Os direitos reais são divididos em


direitos (....)

Art. 1.225. São direitos reais:


I - a propriedade;
II - a superfície;
III - as servidões;
IV - o usufruto;
V - o uso;
VI - a habitação;
VII - o direito do promitente comprador do imóvel;
VIII - o penhor;
IX - a hipoteca;
X - a anticrese;
XI – a concessão de uso especial para fins de moradia;
XII - a concessão de direito real de uso.

2. Distinção entre direitos reais e direitos pessoais

Nos direitos reais existe uma relação política entre pessoa e coisa. Nos direitos
pessoais ou obrigacionais existe uma relação política entre pessoa e pessoa.

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Uma pessoa que tem algo emprestado de outra tem posse, não é dono; se respeita
o poder dele sobre o carro. O direito dele sobre o objeto depende de uma relação
obrigacional, de comodato. Ele é possuidor, tem uma relação de poder material
sobre a coisa, mas não tem, portanto, o direito direto sobre a coisa.

Assim funciona também com o aluguel.

Alguns autores consideram que a posse é um direito, mas nem todos consideram
que é um direito real.

Como precisa de um intermediário, portanto uma relação mediata, trata-se de um


direito pessoal. Se for uma relação imediata, que dispensa um intermediário, é um
direito real.

A posse, ainda que não seja considerada pelo Código e para a maioria da doutrina
como um direito real, tem uma importância no direito das coisas. Há uma relação
de poder com a coisa que gera algumas consequências. É por isso que a posse
aparece como o primeiro título do direito das coisas.

Apesar da natureza jurídica ser controversa na doutrina, é, indiscutivelmente, uma


relação de poder de uma pessoa sobre uma coisa, ainda que decorra de uma
obrigação.

No âmbito do direito das coisas existem relações de pessoas sobre bens que não
necessariamente serão reais e, portanto, diretas.

Uma outra situação de posse que nasce de uma relação jurídica diferente é o caso
do usufruto, direito real de coisa alheia. A posse pode decorrer de usufruto (pessoa
que não é a dona do bem, mas pode usar e fruir – pode morar e alugar). Se é
usufrutuário é possuidor. A posse, contudo, não decorre de um direito
obrigacional, mas de um direito real. Se quiser alugar um imóvel, dispensa a
opinião do proprietário, poderia ser real. Está previsto no Código Civil.

2.1. Teorias realista (dualista) e personalista (unitária)

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Tanto os direitos reais como os direitos pessoais estão no campo dos


direitos patrimoniais. A propriedade e a obrigação têm expressão
econômica.

Para a teoria realista existem peculiaridades que demandam uma


diferenciação teórica em relação aos direitos obrigacionais. Seriam
características diferenciam uma relação contratual de uma relação de
natureza real, diretamente com a coisa. Se existem peculiaridades com a
relação os tipos de direito devem ser diferenciados. A teoria faz a
dualidade entre o direito real e o direito das obrigações.

Para a teoria personalista, existem características que não permitem que


essa distinção seja feita. Tratam-se de traços gerais. A teoria dualista
defende uma unidade dos direitos patrimoniais.

A maior evidência da prevalência da teoria dualista reside na própria


divisão das disciplinas.

Orlando Gomes apresenta bem os critérios para diferenciar os direitos


reais dos direitos obrigacionais e criar a dualidade; o mais usado para
diferencia-los é o modo de exercício, baseado no autor Henri de Page, do
Tratado do Direito Civil belga (usa esse tratado para falar do francês).

Assim, se o exercício é do direito é feito de modo real, dispensando um


intermediário, seria um direito real. Se o exercício do direito sobre a coisa
ou bem é feita indiretamente, ou de forma mediata, ou seja, necessita de
um intermediário, esse direito deixa de ser real e passa a ser obrigacional.

Assim se diferencia a dualidade, criando uma teoria realista, que é


considerada a mais forte.

A principal crítica que se faz a essa teoria é que não existem direitos que
não sejam intersubjetivos. Todas as relações jurídicas são intersubjetivas.
Não existe nenhuma possibilidade de se ter uma relação jurídica
diretamente com uma coisa, pois as relações jurídicas se dão,
necessariamente, entre pessoas. É impossível ter uma relação jurídica de

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natureza real, porque pressupõe uma relação intersubjetiva. Se deixa de


ser intersubjetiva, deixa de ser uma relação jurídica. Essa é a linha de
crítica da teoria personalista.

Um outro argumento, um pouco mais fraco, é que, partindo do


pressuposto que não há um intermediário, aquele direito pode ser oposto
contra qualquer pessoa, não apenas contra um intermediário específico.
Daí surge a ideia de eficácia absoluta dos direitos reais.

Os direitos reais, se forem assim considerados, não são os únicos absolutos,


a exemplo dos direitos da personalidade. Ser um direito absoluto não seria
uma peculiaridade dos direitos reais. Se o critério utilizado para distinguir
o direito real do pessoal é apenas a eficácia, essa crítica faz sentido.

A teoria personalista diz, portanto, que se você não pode ter uma relação
juríca sem ser intersubjetiva, isso não quer dizer que no direito real não há
uma relação jurídica. Para essa teoria, esse sujeito intersubjetivo é um
sujeito universal, existindo, portanto, um devedor. Essa relação jurídica
também tem um sujeito passivo. A teoria personalista, quando trata de
direitos da personalidade, diz que a pessoa tem um direito sobre uma
coisa, e quem está do outro lado, como obrigado, é um sujeito passivo
universal. Para a teoria personalista, no direito real, também há um
devedor, que não é identificado, é um sujeito passivo universal; todo
mundo seria devedor da obrigação de respeitar a propriedade alheia, por
exemplo. Essa teoria consegue que no direito real haja um sujeito passivo.

A consequência é muito parecida, significa que pode opor o direito sobre


todo mundo.

Henri de Page diz que essa construção é muito artificial, superficial.

A teoria realista critica a teoria personalista à medida que se se tem uma


obrigação, ela é colocada no âmbito do patrimônio, seja ativo ou passivo.
No entanto, a obrigação de respeitar o patrimônio alheio não é considerada
uma posição passiva do patrimônio, não terá um valor específico. Essa
obrigação não será escrita na posição passiva do patrimônio. O dever de

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respeitar a propriedade alheia não é uma obrigação em sentido estrito, é


um dever jurídico de abstenção, um dever de conduta, mas não é uma
obrigação.

3. Objeto do direito das coisas

Basicamente, o objeto são os bens corpóreos, que podem ser, praticamente, bens
móveis ou imóveis.

Bens incorporéos, até o Código Civil de 16, eram tratados no âmbito dos direitos
das coisas. Hoje em dia não são mais, visto que existe legislação específica.

4. Classificação

Os direitos reais podem ser subdivididos em direito real sobre coisa própria, e
direitos reais sobre coisa alheia.

O direito real sobre coisa própria é o direito real ilimitado. Chamado de ius in rer
própria. É o caso da propriedade. O seu leque de faculdades é maior, são três
faculdades: poder de usar, gozar ou fruir e dispor. É possível morar, dirigir,
receber frutos, etc. Há também o direito de reaver de quem quer que injustamente
o possua ou detenha (art. 1.222). É possível diminuir ou ampliar os poderes
quando proprietário.

Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao possuidor


de máfé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o seu custo; ao
possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.

Os direitos reais sobre coisa alheia são os direitos reais limitados. Também
chamado de iura in rer aliena. Envolve todos os demais, que não a propriedade.
Terá apenas dois, dos quatro poderes: usar e gozar ou fruir. É direito real, mas só
tem alguns dos poderes possíveis sobre uma coisa. Os poderes são limitados.

5. Características

I. Oponibilidade erga omnes

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Eficácia absoluta. Essa característica não é uma particularidade dos


direitos reais – existe nos direitos da personalidade.

II. Aderência

O direito adere à coisa. A principal consequência disso é que o direito de


propriedade pode ser perseguido em qualquer lugar contra qualquer
pessoa. A relação com a coisa é direta, dispensa intermediário, pouco
importa quem está com o bem em mãos, o bem continua sendo do
proprietário.

III. Preferência sobre preferência

Se existem dois credores hipotecários, há um direito real sobre bem imóvel


alheio. Como garantia de um empréstimo de dinheiro, constitui uma
hipoteca. O direito de preferência é que se prefere o primeiro credor
hipotecário. O credor hipotecário tem preferencia em relação a outros
tipos de credores, como o fiduciário. O fiduciário tem que pagar, mas não
necessariamente aquele bem específico.

6. Figuras híbridas

6.1. Obrigação “proper rem”

Obrigação ambulatória ou mista. Adere à coisa. É híbrido porque também


tem alguém que é obrigado. É caracterizada, sinteticamente, a partir da
origem (titularidade do direito real) e da transmissibilidade automática
(não depende da vontade do transmitente ou da anuência do comprador –
se uma pessoa compra um imóvel com dívida, a dívida passa ao novo
proprietário).

Em relações civis (IPTU, condomínio), as contas vêm no nome do


proprietário. Relações consumeristas (água, luz, telefone) isso altera – as
contas vêm no nome do inquilino.

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 Imóvel alugado. A obrigação é do inquilino. A obrigação do prédio vai


cobrar do proprietário, que alega que não é ele que deve, que quem
deve é o locatário. Pede para ser excluído da ação, ilegitimidade
passiva. Isso está certo ou errado?

Existe um proprietário (locador) e um possuidor (locatário). O titular


do direito real de propriedade é o proprietário, por isso, o síndico entra
com a ação contra ele. O proprietário alega que por conta do contrato
de aluguel, a cobrança deveria ser feita ao inquilino. Ocorre que o
correto seria responder, na condição de proprietário e, depois, entrar
com uma ação de regresso contra o inquilino. O condomínio não pode
entrar com a ação contra o inquilino porque ele não é o possuidor, e
porque o contrato de aluguel não envolve o condomínio, é uma
obrigação. É uma obrigação mista ou ambulatória – um sujeito passivo
determinado, em razão da titularidade do direito real.

Direitos Pessoais Direitos Reais


Em relação ao modo Mediatidade (presença de um Imediatidade (satisfação do direito
de exercício intermediário) diretamente)
Em relação à eficácia Relativos (se opoem a quem esta
(quanto aos efeitos) diretamente vinculado à obrigação) Absolutos (se opoem contra todos)
Prestação (o objeto da prestação é o
objeto mediato da obrigação, que
pode ser uma coisa determinada ou
indeterminada, quando se tratar de
Em relação ao objeto uma obrigação de dar - ius ad rem) Coisa (ius in ré - direito à coisa)
Indeterminado (o sujeito só é
Em relação ao sujeito Determinado ou, no máximo, determinado quando há uma
(passivo) determinável violação)
Em relação à Temporários (se extinguem com o
duração adimplemento) Permanente (tende à perpetuidade)
Em relação à Direito de sequela (apenas aquela
responsabilidade Responde com todo o seu patrimônio coisa responde)
Numerus clausus (precisa de
Quanto à formação Numerus apertus (art. 425) previsão legal)
Ação real (opõe contra alguém, mas o
Ação pessoal (opõe contra a pessoa que justifica que o réu seja réu é a
Em relação à ação do devedor) titularidade do direito real)

6.2. Ônus reais

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Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da


coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente
a possua ou detenha.

Gravame que limita o gozo do sujeito sobre a propriedade.

O único exemplo é o do Código de Rendas, que, contudo, não é previsto


mais pelo Código Civil como direito real.

Se assemelha a um aluguel, a uma obrigação proper rem. Seria alguém que


é credor dos frutos.

A própria doutrina tinha dificuldade para diferenciar, mas faz isso com os
elementos (proper rem pode ser positiva ou negativa) e em relação à
vinculação com a coisa (proper rem responde com todo o patrimônio).

A) Importância

A importância está na aproximação dos direitos reais com o direito de


coisa alheia. A ideia de ônus reais é apenas sobre o gozo, mas ao
aproximar da realidade, se expande.

Numa hipoteca, penhor, a pessoa não pode dispor do bem. Ou ainda


anticrese, que não pode dispor do gozo.

B) Distinções

Para ter um ônus real, tem que ser proprietário. Se o bem é seu, é
obrigado a dar os frutos. Mas é possível dar um bem seu para a
hipoteca de terceiro. A garantia não é, necessariamente, prestada pelo
devedor.

Os ônus reais são garantias que só podem ser prestadas pelo devedor.

6.3. Obrigações com eficácia real

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São direitos obrigacionais que ganham oponibilidade contra todos. Não


deixa de ser uma figura hibrida, mas não perde o caráter de direito pessoal.

Para que se tenha uma obrigação de eficácia absoluta ou real, é preciso ter
uma previsão legal. Existem dois exemplos no ordenamento.

Art. 33 Lei nº 8.245.

Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não


pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou
particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o
promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.

O contrato é assinado com o alienante. Passando dessa fase, se o inquilino


não tem condições de comprar o apartamento nos termos do comprador
por ser adquirente prioritário (prelação legal). O inquilino pode ser
despejado. O novo proprietário não pode ser obrigado a manter um
contrato que não assinou. Em regra, a pessoa que está usando pode ser
retirada. Agora, o contrato tem eficácia relativa.

Tem eficácia real se houver previsão contratual de manutenção do pacto na


hipótese de alienação (se o bem for vendido, mantém a locação), e a
publicidade da cláusula (o contrato registrado na matrícula do imóvel).
Atendendo a esses dois critérios, a obrigação vincula não apenas o
proprietário como qualquer novo adquirente, que será obrigado a respeitar
o contrato.

Promitente comprador – em relação aos imóveis. Direito real sobre coisa


alheia porque não houve o registro ainda.

Uma outra hipótese é a de um sujeito que promete o imóvel para várias


pessoas, que pagam uma parcela. Mas se o contrato de um deles tem uma
cláusula de não-arrependimento, e esse contrato está registrado, o direito
de aquisição sobre coisa alheia fica com aquela pessoa. Já sabia da
existência da promessa.

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POSSE

1. Definição

1.1. Contextualização

Para Ihering, o que diferencia um jurista de um não-jurista, ou alguém que


é da área de direito para alguém que não é, seria diferenciar posse de
propriedade. A definição não é tão precisa. Normalmente, se volta para
conceitos. Até hoje, as teorias do direito romano persistem como as
principais teorias.

O direito romano era cotidiano, resolvia problemas concretos. Não era


abstrato. Além disso, não se construiu do dia para a noite, levou séculos
que se transformaram em milénios. É segmentado em períodos. Alguns
chamam o primeiro período de arcaico ou pré-clássico (desenvolvimento
do ius civile), depois há o período clássico, república, justitiano (corpus ius
civile) e depois o período bizantino ou medieval.

O corpus ius civile é uma compilação feita por Justitiano. Ele juntou toda a
construção do direito romano e organizou em um corpo jurídico único. Ele
a considerou tão bem construída que não deveria ser interpretada. Só
depois de um tempo passou-se a ter pessoas que faziam isso. Napoleão
também fez isso (“Juiz como boca da lei”). O corpus ius civile é do século VI
d.C. E, basicamente, todas ou as principais teorias do estudo da posse
partem do direito romano.

O direito romano não debatia na teoria o conceito. Mas a ideia se


desenvolveu no direito romano a partir de experiências práticas. A partir
disso, os romanistas dos períodos pós-direito romano, pós-Idade Média,
resgataram o direito romano e o estudo da posse.

Existia entre os romanistas do século XVIII e XIX divergências absurdas.


Apesar de ter um estudo da posse desenvolvido pelos romanos, ele não

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tinha sistematização. Quem começou a tentar sistematizar foram esses


romanistas, que pegaram o direito romano para resgatar e sistematizar.

Os próprios romanos não diferenciavam corretamente posse e


propriedade. Exatamente por isso, Ihering mencionou que os juristas eram
aqueles que faziam a distinção entre posse e propriedade.

O fato é que essas divergências tem um fundamento principal que, muitas


vezes, não é dito nos manuais, e é um dos elementos de distinção entre
Savigny e Ihering. Os romanistas interpretavam documentos de períodos
diferentes; Savigny se concentrou no período clássico, enquanto Ihering se
voltou para documentos da república.

O corpus ius civile reunia tudo o que tinha de períodos anteriores, que era
sistematizado mas não era, necessariamente, um código, estava mais
próximo de uma compilação ou consolidação.

Em razão de ter vários estudiosos do direito romano a partir de épocas


distintas, que existem tantas divergências. Mas é fato que o estudo da posse
nasce do direito romano.

Savigny e Ihering nasceram em períodos diferentes; Ihering foi aluno de


Savigny. São interpretações diferentes sobre o direito romano.

Ihering reconhece que parte da divergência é justamente do estudo de


períodos diferentes.

Além disso, Savigny escreveu antes de Ihering, aos 22 anos de idade, muito
jovem. Ihering dizia que Savigny era um meteoro – sua teoria acabaria
sendo aclamada, porém, no futuro, pouco utilizada. Isso acabou
acontecendo com a maioria das codificações, inclusive a brasileira, que
seguem mais a teoria de Ihering. Contudo, em usucapião há a identificação
da teoria de Savigny.

1.2. Teorias

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A) Subjetiva (Friedrich Karl von Savigny)

Savigny fez parte, dentro do direito, de uma escola muito famosa, a


escola histórica do direito. Ele defendia que havia a escola histórica e o
resto. Não havia uma outra construção muito definida diferente, apenas
uma negação a essa escola.

O período de Savigny foi o mesmo das codificações. Há um grande


lapso temporal entre o Código Francês e Alemão por conta dessa escola
histórica.

Dizia-se que não era preciso um Código Alemão porque o direito


comum europeu e o direito romano já davam conta. O direito era fruto
da construção do próprio povo, não era preciso um legislador que
construísse uma lei para isso porque os conflitos eram antigos e já
existiam soluções pré-definidas para ele. O direito foi consolidado ao
longo de séculos, não precisava de um legislador para regulamentar o
que já era regulamentado. Defendia que o direito romano e o direito
comum europeu fosse a base de todo o direito alemão. O direito comum
europeu junta o direito romano, canônico e bárbaro (vários povos da
Europa).

Savigny defendia a desnecessidade de um direito nacional. Portanto,


deveria se dedicar mais ainda ao estudo do direito romano.

Savigny coloca que a posse tem três fases no direito romano: a posse
dentro da casa romana, a posse fora da casa romana e a de bens
públicos.

A posse dentro da casa romana era a posse do pater, figura que dirigia
a família romana. Dentro da casa dele ele tinha a posse sobre todas as
outras pessoas e sobre os escravos. A posse sob os escravos era
chamada de naturales possessio.

A posse fora da casa romana era na relação entre particulares. É a


posse privada fora do ambiente doméstico.

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Bens públicos dos quais se faz uso, sem poder ser proprietário.

Savigny e Ihering diferenciam posse de detenção.

Posse para Savigny era a reunião de dois elementos constitutivos – um


elemento corpóreo (corpus), que era considerado o poder físico sobre a
coisa, sendo esse o elemento material da posse, e o elemento volitivo
ou anímico (animus domini), que seria o ânimo/vontade/intenção de
dono.

O problema dessa teoria é decidir ou investigar elementos psicológicos.


Eles não podem ser objetivamente mensurados. Não há como saber se
uma pessoa quer ou não ser dona daquilo.

Pela teoria de Saviny, é saber se há o poder material sobre a coisa, e


além disso se tem a vontade de dono.

Um empregado de uma empresa, um caseiro ou um motorista, possui o


poder sobre aquelas coisas, mas não tem a vontade de dono. O
proprietário é possuidor, por reunir os dois elementos – é detentor
físico e tem a intenção de dono.

Se houver um ladrão, a pessoa reúne os dois elementos. Isso significa


que essa pessoa é possuidora. Um ladrão pode chegar a ter sua posse
protegida contra terceiros, não em relação a quem foi roubada. Para
terceiros, podem não saber que aquilo foi roubado. Se o ladrão for
roubado, ele pode pedir reintegração de posse contra um terceiro. Para
Savigny, um ladrão é possuidor.

Por outro lado, um locatário ou comendatário não tem o ânimo de


dono, ainda que tenha o poder físico. Se ele sofre um atentado sobre
sua posse, ele não pode acionar a justiça por não ser possuidor. É mero
detentor.

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Aí está o problema prático dessa teoria – a concessão da proteção


possessória.

A teoria de Savigny é chamada de subjetiva porque prevalece o


elemento psicológico, que só pode ser analisado entrando na psique do
sujeito, algo quase impossível de se realizar.

B) Objetiva (Rudolph von Ihering)

Ihering criticou veementemente a escola histórica de Savaigny. O


próprio Ihering deu um veredito dizendo que o direito romano e o seu
estudo se tornaria inútil porque haveria direitos nacionais codificados
que reuniriam tudo. Ihering tinha uma capacidade de analisar o futuro
– ainda não existia um Código Civil Alemão, mas isso é verdade.

Hoje em dia há um retorno ao estudo do direito romano porque alguns


autores defendem com base na integração da Europa, que o direito
romano volta a servir para isso. Com base nessa integração, ter vários
direitos nacionais dificulta o transito de pessoas e bens, o direito
romano seria a solução, a estrutura jurídica da Europa.

Ihering criticava dizendo que Savigny concedeu proteção possessória


para sujeitos que não deveriam ter, e negou para sujeitos que deveriam
ter. Ihering atribui isso por Savigny ter jovem. Para Ihering, o problema
do ladrão possuidor foi acentuado por Savigny.

Ihering começa a questionar boa parte da construção teórica geral de


Savigny – a escola histórica, e própria questão da posse. Ihering diz que
o elemento subjetivo ser preponderante cria problemas práticos e
inviabiliza a análise.

Ihering diz que se tem o elemento corpóreo sobre a coisa, o corpus


quando há o poder jurídico sobre a coisa, se relacionando com o poder
econômico sobre ela. Seria o uso que naturalmente se espera que se
faça de um bem. O que garante a ideia de posse é justamente o poder
jurídico que se tem de uma coisa que é, basicamente, o uso econômico

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da coisa. Esse é o elemento imaterial para Ihering. É o central para


definir se é possuidor ou não. Para Ihering, no próprio conceito de
corpus, já se tem o elemento anímico, o comportamento da pessoa que
é considera possuidor. Esse elemento não é, contudo, necessariamente
a intenção, a vontade, um elemento psicológico que requer uma
investigação do que se passa dentro da pessoa. É um elemento
objetivo: a exteriorização da propriedade. A posse seria a
exteriorização da propriedade; a aparência de propriedade, que se faz
quando se tem o uso econômico da coisa.

O elemento anímico e o corpóreo se confundem: são uma coisa só. Não


se distingue um do outro. O corpus conjuga o poder jurídico e o
comportamento. Só é possível determinar se alguém tem o poder
jurídico sobre o bem se ela se comportar como dono. Não quer saber se
há a intenção de ser dono, mas se a pessoa tem conduta de dono.

Em Ihering não se fala em animus de dono, mas em animus tenendi. O


ânimo de ter – a conduta ou comportamento de dono.

Para Ihering, se a pessoa é proprietário do bem e perdeu a posse, é


possível reaver o bem.

Se a pessoa é ladra, não se consegue proteção possessória contra a


pessoa que foi roubada, mas contra terceiros terá. Isso porque o
proprietário necessita que se impeça que novas invasões ocorram,
ainda que isso seja feito por um invasor. Se ele está protegendo a
propriedade.

Essa teoria não desconsidera tudo o que Savigny diz.

Mas o locatário terá proteção possessória para Ihering. Ihering


resolveu, assim, um problema prático.

C) Outras teorias (Silvio Perozzi, Raymond Salleiles e Antonio


Hernandez Gil)

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Estudam a posse sob a perspectiva de função social da posse.

2. Estudo comparativo

Elemento
Elemento corpóreo anímico
Corpus (material) –
Savigny poder físico Animus domini

Corpus - poder jurídico


- uso econômico +
exteriorização da
Ihering propriedade Animus tenendi

2.1. Elementos constitutivos

2.2. Natureza jurídica

Caio Mário diz que existem três correntes que se posicionam sobre a
natureza jurídica da posse: uma que diz que é um fato, uma que diz que é
um direito, e uma terceira que diz que é ao mesmo tempo um fato e um
direito.

Ihering considera que a posse é um direito, sendo a natureza jurídica,


então, um direito. Savigny considera que a posse é simultaneamente um
fato e um direito. Considerando como posse, quanto ao direito, para
Savigny é um direito pessoal, enquanto para Ihering é um direito real.

2.3. Fundamento da proteção possessória

Para Savigny, a posse é um fato que se converte em direito. O argumento


geral de que qualquer violação de direito merece proteção é que
fundamenta a proteção possessória.

Para Ihering, direito é o interesse (elemento material) juridicamente


protegido (elemento formal). Para Ihering, o fundamento é a facilitação da
proteção da propriedade. Provar que é proprietário é mais difícil que
provar que é possuidor. Os meios probatórios são mais fáceis. Além disso,
se há um possuidor que é mero locatário, se ele protege a posse, ele

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também protege a propriedade. O proprietário deixa que outro proteja seu


bem. Locatário e inquilino podem ajuizar ação de restituição de posse.

2.4. Elemento central da distinção: concessão da proteção possessória

Ihering se preocupa mais com a aplicação prática. Isso significa que o que
realmente diferencia uma teoria da outra é quem merece ter a proteção
possessória.

O proprietário terá proteção nas duas teorias. O ladrão também, ainda que
apenas em relação a terceiros. Contudo, o comodatário, o depositário de
um bem e o locatário são possuidores para Ihering.

O Código Civil brasileiro adota a teoria objetiva. Isso é visível no artigo


1196:

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o


exercício, pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à
propriedade.

3. Objeto

3.1. Posse de direitos?

A discussão se faz em cima da ideia de que quando se fala em propriedade,


em regra, se fala em bens corpóreos. Quando se fala em domínio, para
alguns autores, se amplia o domínio, passando a abarcar bens corpóreos e
direitos. Isso significa que se o código utiliza a expressão domínio, ele
estende a ideia de direitos reais, e, portanto, de posse, para os direitos,
bens imateriais. Inicialmente, era possível a reintegração de posse sobre
direito. Hoje, se ajuíza mandato de segurança para direitos. A doutrina diz
que temos remédios jurídicos mais eficientes para proteger direitos. Não
faria mais sentido considerar que bens incorpóreos sejam objeto de
proteção possessória (reintegração/manutenção de posse e ???). Se há
remédio específico, não precisa fazer uso. Em regra, se considera objeto de

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posse os bens corpóreos. Os bens incorpóreos são protegidos por remédios


jurídicos que não a proteção possessória.

PROPRIETÁRIO, POSSUIDOR E DETENTOR

1. Proprietário: art. 1.228

O artigo diz os poderes do proprietário – usar, gozar (perceber os frutos), dispor e


reaver caso espoliado. Vale lembrar que qualquer desses poderes pode ser
“delegado” (Orlando Gomes chama de elasticidade).

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da coisa, e o


direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente a possua ou
detenha.
§ 1º O direito de propriedade deve ser exercido em consonância com as suas
finalidades econômicas e sociais e de modo que sejam preservados, de
conformidade com o estabelecido em lei especial, a flora, a fauna, as belezas
naturais, o equilíbrio ecológico e o patrimônio histórico e artístico, bem como
evitada a poluição do ar e das águas.
§ 2º São defesos os atos que não trazem ao proprietário qualquer
comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar
outrem.
§ 3º O proprietário pode ser privado da coisa, nos casos de desapropriação,
por necessidade ou utilidade pública ou interesse social, bem como no de
requisição, em caso de perigo público iminente.
§ 4º O proprietário também pode ser privado da coisa se o imóvel
reivindicado consistir em extensa área, na posse ininterrupta e de boa-fé, por
mais de cinco anos, de considerável número de pessoas, e estas nela houverem
realizado, em conjunto ou separadamente, obras e serviços considerados pelo
juiz de interesse social e econômico relevante.
§ 5º No caso do parágrafo antecedente, o juiz fixará a justa indenização
devida ao proprietário; pago o preço, valerá a sentença como título para o
registro do imóvel em nome dos possuidores.

2. Possuidor: arts. 1.196 e 1.197 + CF (enunciados 236 e 563)

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Possuidor é aquele que tem o exercício pleno ou legal.

O locatário é considerado possuidor – pode usar e fruir do bem. O fruto pode ser
natural, industrial (intervenção humana essencial) ou civil (rendimento). Se é um
comodatário ou locatário, e subloca, estará recebendo frutos. Há dois poderes aí –
usar e gozar.

A posse pode ser desdobrada. O desdobramento pode sair de um direito real ou


pessoal. Daí porque a posse não é um direito meramente real.

O locatário tem uma posse que decorre de um contrato. Há um direito de usar e


fruir decorrente desse contrato, cedido pelo proprietário. Contratos são direitos
pessoais.

O usufruto é um exemplo de posse desdobrada de direito real. O usufrutuário tem


o direito de usar e fruir. O proprietário não tem esses direitos, mas só ele pode
dispor. O usufrutuário pode administrar o bem – pode alugar o bem. Ele tem o
poder de administração, mas não de dispor. Vender e doar só o proprietário pode.

O possuidor age em interesse próprio.

Art. 1.196. Considera-se possuidor todo aquele que tem de fato o exercício,
pleno ou não, de algum dos poderes inerentes à propriedade.

Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta,
de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse
contra o indireto.

Os enunciados são elaborados nas Jornadas de Direito Civil. Os enunciados


não são jurisprudência – jurisprudência vem de demandas judiciais – ainda
que sejam elaborados pelo magistrado. Orientam a jurisprudência. Está
mais próximo da doutrina.

O enunciado traz a ideia de que o possuidor pode ser uma coletividade, e não
apenas um sujeito único.

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Lei que institui o programa “Minha casa, minha vida”. Quem tinha a posse sobre
determinada área, poderia ter a posse formalizada. Reconheceu a posse como
título possessório.

3. Detentor: art. 1.198 + CF, enunciados 301 e 493

O detentor está subordinado juridicamente e economicamente (dependente).


Exerce atos de posse, mas o faz estando subordinado juridicamente e
economicamente a outra pessoa, que é efetivamente o possuidor.

Seria o caso de empregados, segurança, caseiros, motoristas. Eles exercem a


detenção, não a posse.

Art. 1.198. Considera-se detentor aquele que, achando-se em relação de


dependência para com outro, conserva a posse em nome deste e em
cumprimento de ordens ou instruções suas.
Parágrafo único. Aquele que começou a comportar-se do modo como
prescreve este artigo, em relação ao bem e à outra pessoa, presume-se
detentor, até que prove o contrário.

O desforço possessório (resistência a assaltos) pode ser feito pelo detentor, não é
possível apenas pelo possuidor.

O detentor pode vir a ser possuidor. Quando ele se opõe a subordinação, quando
alega a quebra da relação, deixando de praticar atos de acordo com a subordinação
ou deixa de ser dependente economicamente, passa a ser possuidor. Para a maioria
da doutrina, é necessário que a subordinação jurídica e econômica estejam
atreladas.

CLASSIFICAÇÃO DA POSSE

1. Direta (imediata) e indireta (mediata): art. 1.197

A posse direta é aquela em que há poder imediato sobre o bem. A posse indireta é
quando o exercício da posse é desdobrado, que pode ser real (usufruto) ou pessoal.

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O indivíduo de posse remota/indireta exerce a sua posse por meio/mediante o


indivíduo que tem posse direta. O possuidor indireto tem a posse remota, ou
garantida através do exercício da posse imediata pel possuidor direto, que exerce a
posse nos interesses próprios.

O possuidor direto não é subordinado economicamente ou juridicamente, não


deve ser confundido com o detentor, que é servo (fâmulo) de posse – serve à posse
de outra pessoa. A posse direta nem sempre será do proprietário.

O contrato é o título aquisitivo e há, nos direitos reais, a necessidade de módulo de


transição. O contrato justifica o uso de direito real.

Art. 1.197. A posse direta, de pessoa que tem a coisa em seu poder,
temporariamente, em virtude de direito pessoal, ou real, não anula a indireta,
de quem aquela foi havida, podendo o possuidor direto defender a sua posse
contra o indireto.

1.1. Distinção quanto à composse (art. 1.199)

Quando não há como dividir a coisa, exerce o ato possessório sobre o todo,
sendo que cada um possua uma fração ideal daquela coisa. Não existe
fração real – há uma fração ideal. A posse de um não exclui a posse do
outro. Na composse, cada um tem uma fração ideal sobre o bem, e é
impossível delimitar a porção real de cada um. Os atos possessórios não
serão necessariamente em conjunto.

A composse ou compossessão termina quando dividem a coisa. Antes da


divisão, todos tem uma fração ideal, mas a posse sobre tudo. Quando a
fração ideal passa a ser real, havendo porções exclusivas de condomínio,
termina a composse, havendo posse exclusiva.

Na composse, não há relação vertical. A repartição é quantitativa, de


relação horizontal. Não confundir com desdobramentos. Há também a
relação vertical, em que existem graus de posse. Há alguém que era
possuidor, que divide ou desdobra sua posse para o possuidor direto. Ele

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deixa de ser possuidor, e passa a ser possuidor indireto. Estão em graus


diferentes. É uma repartição qualitativa da posse (qualificações diferentes).

Ocorre com condôminos e herança.

Art. 1.199. Se duas ou mais pessoas possuírem coisa indivisa, poderá


cada uma exercer sobre ela atos possessórios, contanto que não
excluam os dos outros compossuidores.

1.2. Desdobramentos sucessivos (CF, enunciado 76)

Possuidor direto é apenas um, que pode ser uma composse também, os
demais serão possuidores indiretos. Quando se tem desdobramentos
sucessivos, apenas aqueles que têm a posse imediata são possuidores
diretos. Os demais são indiretos.

No entanto, em caso de invasão, pode entrar com ação possessória


qualquer um, tanto os indiretos quando o direto.

O possuidor direto tem defesa possessória quanto o possuidor indireto. O


enunciado prevê que o contrário também é possível.

Um locador que quer entrar a força no imóvel, arrombando a porta, há


direito de recorrer à proteção possessória. Ao mesmo tempo, se uma
pessoa começa a explorar uma mina, sem que isso fosse autorizado no
contrato, o possuidor indireto pode recorrer.

2. Justa e injusta (art. 1.200)

Art. 1.200. É justa a posse que não for violenta, clandestina ou precária.

A posse injusta é maculada por vícios de violência, clandestinidade ou


precariedade. Quando a posse é viciada por algum desses males, é injusta. São
vícios objetivos.

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A posse é violenta quando é adquirida mediante ameaça ou violência física ou


moral. É associado ao roubo. A propriedade é protegida no direito penal e no
direito real. É considerada defeito relativo da posse que podem cessar
(constituídos em relação à pessoa que sofre a violência). A posse pode se
recuperar, se tornando justa (podem convalescer, tendo o caráter alterado).
Merece proteção porque é injusta em relação a alguém, e não aos demais.

A posse é clandestina quando é ocultada intencionalmente daquele que tem poder


possessório. É associada ao furto. É considerada defeito relativo da posse que
podem cessar (constituídos em relação à pessoa de quem é ocultada). A posse
pode se recuperar, se tornando justa (podem convalescer, tendo o caráter
alterado). Merece proteção porque é injusta em relação a alguém, e não aos
demais.

A posse é precária quando é por abuso de confiança. Quando há o descumprimento


de um dever, a posse passa a ser injusta. É associada à apropriação indébita –
quando se apropria de algo que não deve ser apropriado. A posse precária não
pode convalescer, de acordo com o Código Civil. O abuso de confiança não cessa. É
um vício (defeito) absoluto, não podendo ter o caráter alterado, em regra.

3. De boa-fé e de má-fé (art. 1.201)

O vício aqui para de ser objetivo, e passa a ser subjetivo.

Uma posse é de boa-fé quando se ignora o vício que macula a posse. Para outros
autores, é quando procede de acordo com o que se considera correto, tendo a
convicção de que age corretamente.

A posse de má-fé é quando há ciência do vício que macula a posse.

Art. 1.201. É de boa-fé a posse, se o possuidor ignora o vício, ou o obstáculo


que impede a aquisição da coisa.
Parágrafo único. O possuidor com justo título tem por si a presunção de boa-
fé, salvo prova em contrário, ou quando a lei expressamente não admite esta
presunção.

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No conceito positivo, presume-se que a pessoa está sempre de boa-fé, estando de


má-fé apenas quando com culpa grave.

3.1. Boa-fé real e presumida

Boa-fé presumida decorre da presença de um justo título, ou seja, aquele


que é apto, em tese, a transferir a propriedade. Isso independente das
circunstâncias particulares. Quando se analisa o justo título, se analisa
juridicamente se há a aptidão de transferir a propriedade,
independentemente de circunstâncias particulares. A boa-fé é presumida
se é portador de um justo título. É uma presunção relativa porque pode ser
afastada se comprovada. O ônus da prova é de quem contesta a boa-fé.

Presunção absoluta (presuncio jure et de jure) é aquela que não pode ser
afastada, é de direito. Presunção relativa (presuncio juris tantu).

A boa-fé é real quando os elementos não aparentam nenhum tipo de vício.


Quem deve provar, quem tem o ônus da prova, quando há a boa-fé real é a
própria pessoa, mostrando que está de boa-fé, mesmo que isso ocorra
falando que não há nada que indique que estava de má-fé.

3.2. Conversão em posse de má-fé (art. 1.202)

Para mostrar inequivocamente que a pessoa está de má-fé, faz um ato que
indique ciência inequívoca do vício. Isso é feito através de um processo
judicial.

A maioria da doutrina coloca que após a citação em uma ação judicial,


alegando que a posse dela é ilegítima, a pessoa passa a ter ciência.

Depois de uma citação não há como ignorar o vício. Citação e contestação


são instrumentos para conversão em posse de má-fé.

Art. 1.202. A posse de boa-fé só perde este caráter no caso e desde o


momento em que as circunstâncias façam presumir que o possuidor
não ignora que possui indevidamente.

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Ignorar que o bem foi concedido gratuitamente ao pai do sujeito. O pai


morre sem que o filho tivesse ciência do comodato. O sujeito então alega a
inexistência desse comodato para poder alegar usucapião. Ele recebe a
visita de alguém querendo o bem de volta. Essa pessoa entra com ação de
reintegração de posse. É possível entrar com uma ação de manutenção de
posse. Quando há a contestação, há ciência inequívoca. No fundo, em regra,
é a partir da citação.

Discute-se na doutrina se uma medida extrajudicial é suficiente para


considerar a ciência de alguém. Em regra, não admite como instrumento
para converter uma posse de boa-fé em posse de má-fé.

Seria o caso de um AR. Mas não é possível, por meio disso, comprovar o
conteúdo do AR, ou garantir que a pessoa de fato recebeu. Não é uma
demonstração inequívoca.

Alguns admitem que o AR, se de mão própria, é considerada instrumento


de conversão de posse de boa-fé em posse de má-fé.

3.3. Distinção quanto à posse justa/injusta

Uma posse justa (vícios) é sinônimo de boa-fé (ignorância ou não de


vícios)? Em regra, sim. Mas pode não ser.

Se o sujeito rouba um carro, a posse é injusta. Se ele vende no dia seguinte,


o caráter da posse não muda, a posse continua injusta, mas a transferência
da posse, por outro lado, é de boa-fé, se o novo proprietário ignorar o vício.

4. Posse “ad interdicta” e posse “ad usucapionem”

Posse ad interdicta é aquela que concede proteção apenas possessória. Há direito a


proteção dos interditos possessórios. Em regra, se se comporta como se dono
fosse, já adquire a proteção possessória.

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Uma posse ad usucapionem é aquela que concede proteção possessória e a


capacidade para usucapir. Não necessariamente se tem uma posse que conduz ao
usucapião, como é o caso do comodatário, que não tem a vontade de ser dono.
Também é chamada de posse usucapível.

Aqui, a classificação é quanto aos efeitos.

5. Posse nova e posse velha

Posse nova é aquela com menos de ano e dia (até um ano). Posse velha é aquela
com mais de ano e dia (mais de um ano).

O Código Civil não adota mais essa classificação, o Código de 16 que adotava. Ela é
importante apenas para o debate de interventos possessórios. É importante para
intervenção da posse. Leva a ação possessória de força nova, que tem rito especial
no CPC, ou não.

6. Com título e sem título

Posse com título é aquela que deriva de um título que concede a posse, como um
contrato de comodato, locação ou depósito. Se existe um título por meio do qual se
adquiriu a posse, ela será titular.

Uma posse sem título não deriva de título nenhum.

Essa classificação tem a ver com a ideia de existência ou não de título aquisitivo da
posse.

6.1. Outras terminologias correlatas

A) Jus possidendi/jus possession

Há autores na doutrina contemporânea que associa posse titulada com


jus possidendi, e posse não titulada a jus possession.

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Jus possidendi é a posse que deriva da propriedade. É aquela de


quando é proprietário.

Jus possession é a posse de quando não é proprietário. Não será,


necessariamente, sinônimo de posse não titulada, porque é possível ser
possuidor sem ser proprietário e, ainda assim, ter um título.

B) Civil (jurídica) e natural

Posse civil é aquela em que não necessariamente se recebeu a coisa.

A tradição pode ser real, simbólica ou presumida. Tradição é o que vai


conferir publicidade. O título de tradição é importante porque há a
entrega da posse direta.

A tradição real é quando há entrega efetiva e material da coisa que está


sendo transferida. Isso acontece com bens móveis, e não com bens
imóveis.

Uma tradição simbólica é quando não há entrega efetiva, em regra


porque não tem como pelas características da coisa, mas há uma
demonstração da transferência de modo simbólico. É o caso da entrega
da chave de um imóvel ou automóvel, ou de um documento.

A tradição presumida seria o que se chama de posse civil (constituto


possessório) é quando não há tradição real, nem simbólica. Houve uma
presunção dos atos de tradição (se presume que o ato foi realizado).
Nesse tipo, se vira proprietário. A posse que deriva de uma tradição
presumida é chamada de civil ou jurídica. A posse natural não deriva
disso.

Há na doutrina atual quem fale que posse natural é posse sem título, e
posse civil é a posse com título.

CONTINUIDADE DO CARÁTER DA POSSE E “INTERVERSIO POSSESSIONIS” (ART.


1.203 E 1.208)

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
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Art. 1.203. Salvo prova em contrário, entende-se manter a posse o mesmo caráter
com que foi adquirida.

É o princípio da presunção da continuidade do caráter da posse. Se adquiriu a posse


precariamente, ela permanece precária. Se adquiriu de forma clandestina, permanece
clandestina. Em outras palavras, se ela foi adquirida de forma injusta, ela continua injusta.
Isso é uma presunção – presume-se que continua com o mesmo caráter. Isso é identificado
de forma objetiva.

Mas, o código permite que esse caráter seja alterado:

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou tolerância assim como
não autorizam a sua aquisição os atos violentos, ou clandestinos, senão depois de
cessar a violência ou a clandestinidade.

É uma permissão quando há a cobrança de taxa para a passagem na propriedade alheia. A


autorização é expressa. Se a pessoa tolera, a autorização é tácita.

Isso é importante para efeito de servidão e, eventualmente, para proteção possessória.

Quando tem uma posse violenta ou clandestina, o código diz que isso não induz posse, pelo
menos em relação a quem sofreu o ataque. Quem sofreu o ataque não é considerado
alguém que perdeu a posse. Em relação a quem ataca, a posse é injusta.

Uma posse violenta ou clandestina pode deixar de ser violenta ou clandestina. Há a


mudança no caráter da posse ou intervesio possessionis (interversão possessória). Isso
significa que há o afastamento da presunção de continuidade do caráter da posse.

Em regra, a doutrina admite a mudança do caráter depois da passagem do intervalo de ano


e dia. O critério para determinar que mudou de caráter quando tem a passagem de tempo
superior a um ano.

Se passa mais de um ano sem praticar ato algum de violência, deixa de ser violenta. Deixa
de ser clandestina quando se revela e passa mais de um ano assim.

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
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Isso é importante porque a partir desse momento é possível discutir se tem ou não posse
usucapível. Uma posse injusta não é usucapível.

A posse precária pode deixar de ser precária? Pelo Código, não (art. 1.208). Esse defeito
seria absoluto e não poderia ser sanado. Porém, o STJ e parte da doutrina defende a
mudança desse caráter, em regra, com base em alguns elementos. Se opõe expressamente
às ordens do possuidor indireto. Ver: enunciados e decisões do STJ.

EFEITOS DA POSSE

São basicamente cinco efeitos que decorrem da posse: direito a proteção possessória por
meio de interditos (arts. 1.210 a 1.213), direito à usucapião, direito à percepção dos frutos,
responsabilidade pela perda ou deterioração da coisa e direito à indenização.

1. Direito à percepção dos frutos (arts. 1.214 a 1.216)

Art. 1.214. O possuidor de boa-fé tem direito, enquanto ela durar, aos frutos
percebidos.
Parágrafo único. Os frutos pendentes ao tempo em que cessar a boa-fé devem
ser restituídos, depois de deduzidas as despesas da produção e custeio; devem
ser também restituídos os frutos colhidos com antecipação.

Uma forma de classificar os frutos é em relação ao momento de sua percepção. Há


frutos percebidos (já foram colhidos), frutos pendentes (ainda serão produzidos) e
frutos percipiendos (na tendência).

Se ele já foi percebido, e está de boa-fé não tem que devolver. Se perde a boa-fé,
perde o direito aos frutos pendentes.

Há o direito a indenização pelos custos com o cultivo de frutos naturais, mas, se de


má-fé, não tem direito ao próprio fruto.

Art. 1.215. Os frutos naturais e industriais reputam-se colhidos e percebidos,


logo que são separados; os civis reputam-se percebidos dia por dia.

Os frutos civis são os rendimentos.

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Art. 1.216. O possuidor de má-fé responde por todos os frutos colhidos e


percebidos, bem como pelos que, por culpa sua, deixou de perceber, desde o
momento em que se constituiu de má-fé; tem direito às despesas da produção
e custeio.

2. Responsabilidade (arts. 1.217 e 1.218)

Art. 1.217. O possuidor de boa-fé não responde pela perda ou deterioração da


coisa, a que não der causa.

A perda é o perecimento. A deterioração é a perda parcial, quando o bem é


comprometido, mas ainda é utilizável.

Ainda que de boa-fé, se agir com culpa, responderá.

Seria o caso de um acidente provocado por uma pessoa que alugou um carro, mas
dirigia acima da velocidade permitida.

Art. 1.218. O possuidor de má-fé responde pela perda, ou deterioração da


coisa, ainda que acidentais, salvo se provar que de igual modo se teriam
dado, estando ela na posse do reivindicante.

Se estiver de má-fé, automaticamente responderá. A menos que,


comprovadamente, a mesma coisa fosse acontecer se o bem estivesse em posse de
quem foi esbulhado.

Seria o caso de um deslizamento de terra.

3. Direitos à indenização das benfeitorias (1.219 a 1.222)

Uma benfeitoria necessária é aquela indispensável. Uma benfeitoria útil cria uma
utilidade. Uma benfeitoria voluptuária é uma melhoria para mero deleite. A
localização e a destinação do imóvel pode alterar isso.

3.1. Possuidor de boa-fé (art. 1.219)

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Se alguém está subjetivamente agindo de boa-fé, em regra, será protegido.


Se age de má-fé não terá proteção, salvo para evitar o enriquecimento sem
causa.

Se tem benfeitorias, agindo de boa-fé, receberá a indenização. Poderá reter


o imóvel em razão do não pagamento dessa benfeitoria. Se, por outro lado,
está de má-fé, mas a benfeitoria é necessária, há acréscimo e, portanto,
enriquecimento sem causa quando o proprietário não indeniza o custo que
ele mesmo teria que ter.

Art. 1.219. O possuidor de boa-fé tem direito à indenização das


benfeitorias necessárias e úteis, bem como, quanto às voluptuárias, se
não lhe forem pagas, a levantá-las, quando o puder sem detrimento da
coisa, e poderá exercer o direito de retenção pelo valor das benfeitorias
necessárias e úteis.

Há o direito de reter o bem se não forem pagas as benfeitorias. Em relação


a voluptuárias, há o direito de levantar, não de reter. A menos que o
levantamento da benfeitoria prejudique o bem.

 Jus retentionis

Direito à retenção da coisa pelo não pagamento do valor das


benfeitorias. Isso é arguido na contestação.

Se a pessoa for citada, tendo benfeitorias, é necessário se defender. A


inclinação natural é pedir manutenção da posse. Vai discutir isso
processualmente. A decisão pode ser em qualquer sentido. Pode alegar
o direito de retenção se isso tiver sido suscitado logo.

Se forem realizadas depois, no curso do processo, quando de má-fé, não


tem mais esse direito de retenção.

 Jus tolhendi

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É o direito de, se de boa-fé, não causando prejuízo ao bem, de levantar,


de tolher. Cabível para as benfeitorias voluptuárias.

3.2. Possuidor de má-fé (art. 1.220)

Art. 1.220. Ao possuidor de má-fé serão ressarcidas somente as


benfeitorias necessárias; não lhe assiste o direito de retenção pela
importância destas, nem o de levantar as voluptuárias.

Não em razão da boa-fé ou da má-fé, há direito da indenização em caso de


benfeitoria necessária. Essa é a regra geral do Código.

Em um contrato de locação, há direito a indenizações por benfeitorias


necessárias e úteis? Há direito de retenção? O que dá esse direito, em caso
positivo? O contrato de locação pode retirar o direito à indenização? – ver a
lei de locação de imóveis urbanos (Lei 8.245/91 – art. 35 e 36), enunciado
da Jornada de Direito Civil nº 433, art. 424 e 426 do Código Civil e art.
2.036 do Código Civil.

Há direito a indenização por benfeitorias úteis, se autorizado. Mesmo


assim, é possível renunciar a esse direito se houver cláusula contratual. No
contrato por adesão, a renúncia de direito é considerada nula. A rigor, a
aplicação do Código Civil é subsidiária em relação a leis especiais. Contudo,
o dispositivo do art. 424 é especial, é específico, e, portanto, deverá ser
aplicado. Se o contrato não for de adesão, não se aplica o art. 424 do
Código.

3.3. Compensação (art. 1.221)

Art. 1.221. As benfeitorias compensam-se com os danos, e só obrigam


ao ressarcimento se ao tempo da evicção ainda existirem.

3.4. Valor (art. 1.222)

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Art. 1.222. O reivindicante, obrigado a indenizar as benfeitorias ao


possuidor de máfé, tem o direito de optar entre o seu valor atual e o
seu custo; ao possuidor de boa-fé indenizará pelo valor atual.

4. Direito à usucapião

É o direito a adquirir a propriedade de um bem em razão do exercício prolongado,


incontestável e contínuo da posse. Pressupõe posse usucapível.

INTERDITOS POSSESSÓRIOS

1. Ações possessórias em sentido lato e em sentido estrito

São ações possessórias em sentido estrito, também chamado de indertidos


possessórios: interdito proibitório, reintegração de posse e manutenção de posse.
São tipos de ação que vão proteger a posse que o sujeito tem.

Existem outras ações, além dessas, que defendem indiretamente a posse. Em geral,
se enumera quatro: ação de nunciação de obra nova, ação de dano infecto,
embargos de terceiro e imissão da posse. São meios indiretos de defesa da posse,
por isso são consideradas em sentido lato.

1.1. Ações possessórias em sentido lato

A) Ação de nunciação de obra nova

É disciplinada no Código de Processo Civil de 73 nos arts. 934 a 940. O


CPC atual não prevê mais, mas não significa que deixou de existir.

É um meio indireto de defesa da posse porque não há uma pessoa


entrando na posse. A posse não é embaraçada nem perdida. O sujeito
mantém a posse do bem, porque essa posse não foi diretamente
atacada. Mas é perdida a vista da posse. Aquela obra tem o potencial de
comprometer o imóvel.

B) Ação de dano infecto

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Tem como fundamento da ação é o direito de vizinhança. Essa ação


pode ter como fundamento o barulho ou a obra (pode ser feita de um
jeito que comprometa seu imóvel). O que fundamenta é o uso anormal
da propriedade. Se sua propriedade é usada de modo excessivo,
causando prejuízo ao outro. O imóvel propriamente dito só é atacado
de modo indireto.

C) Embargos de terceiro

É quando tem ciência de que existe de um processo buscando a


constrição judicial de um bem do qual você é proprietário ou
possuidor. O sujeito é terceiro – não compõe a relação jurídica
processual. O fundamento é ser possuidor ou proprietário de um bem
que é objeto de constrição judicial em um processo do qual não se é
parte. Não é possível penhorar um bem que não é do sujeito parte do
processo.

D) Ação de imissão da posse

Imóvel financiado tomado porque o financiador não consegue pagar.


Então, adquirem por leilão, mas o sujeito ainda vive lá. O sujeito que
vive lá começa a destruir o imóvel. Em momento algum o sujeito
comprador já esteve lá. Não é possível perder a posse de algo que
nunca se teve, por isso, não se pede uma reintegração de posse.

1.2. Ações possessórias em sentido estrito

A) Reintegração de posse

Se a pessoa sofre um esbulho, deve pedir reintegração de posse. Casos


em que se impede a entrada. O fundamento é o esbulho, a perda da
posse. O efeito que se quer é restaurar a posse (efeito restaurativo).

B) Manutenção de posse

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Se sofreu uma turbação ou embaraço, pede manutenção da posse. Há


dificuldade de entrada. O efeito que se quer alcançar é a normalização
da posse, para ela deixar de ser embaraçada (efeito normalizador).

C) Interdito proibitório

Se está sofrendo um atentado ou ameaça, pede um interdito


proibitório, para impedir que essa ameaça se converta em um
embaraço ou esbulho.

A ameaça é de fato, não de direito. O fundamento de interdito


proibitório é a ameaça da posse. O efeito que se busca é prevenir a
consumação do atentado (efeito preventivo).

2. Fundamento

O que fundamenta a tutela possessória é a existência de uma posse injusta.

Art. 1.210. O possuidor tem direito a ser mantido na posse em caso de


turbação, restituído no de esbulho, e segurado de violência iminente, se tiver
justo receio de ser molestado.

Enunciados 239 e 492

A turbação é um embaraço na propriedade (pede manutenção de posse). No


esbulho, se perde a posse (pede reintegração de posse). NA iminência de violência,
no intuito de não ver a posse esbulhada ou turbada, pede interdito proibitório.

A ação de despejo, que possui um rito específico na Lei do Inquilinato, refere-se a


retirada do inquilino de um imóvel urbano.

São três fundamentos: 1- a posse é justa?; 2- o vício é relativo ou absoluto?; 3- há o


cumprimento da função social do bem?

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Analisa-se a destinação social do bem, para ver quem está, de fato, cumprindo a
função social.

2.1. Vedação à exceção de domínio (art. 1.210, § 2º)

Tanto é verdade que a posse é autônoma em relação à propriedade, que o


Código proíbe a exceção de domínio.

O fundamento da ação reivindicatória é o direito a propriedade. O


fundamento da ação de manutenção de posse é a posse.

Na prática, são fundamentos distintos que podem conduzir a decisões


distintas. O juiz teria que unir as demandas e julgar conjuntamente,
evitando decisões contraditórias. Assim, o Código determina que enquanto
houver demanda possessória, não é permitido mover ação que tenha como
fundamento a propriedade. As demandas são distintas.

Vale ressaltar que a propriedade nem sempre diz respeito a uma posse
justa. Ele pode esbulhar, por exemplo, o indivíduo que tem posse devido a
um contrato em que não houve notificação para devolução de bem.

Art. 1.210 (...)


§ 2º Não obsta à manutenção ou reintegração na posse a alegação de
propriedade, ou de outro direito sobre a coisa.

Uma exceção de domínio é quando se fundamenta a defesa ou exceção no


fato de ser dono ou proprietário. A defesa, contudo, deve dizer o porquê.
Não apenas o fato de ser proprietário.

O fundamento da ação possessória deve ser o exame da posse, analisando,


por exemplo, a função social. Deve-se analisar se a posse é justa ou injusta,
considerando se é violenta ou clandestina (vício relativo que pode ser
sanado), se é precária (vício absoluto), e a função social da posse (o
possuidor deve utilizar o bem da forma que lhe é próprio).

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A doutrina e a jurisprudência proíbem a exceção de domínio para que se


evite a existência de decisões conflitantes, fazendo uma separação absoluta
do juízo. Só pode analisar em relação à posse.

 Código Civil de 16, art. 505: o fundamento da ação possessória tem que
ser o exame da posse. Não pode alegar na defesa que tem direito
apenas por ser proprietário. Mas, a tutela possessória não deve ser
concedida para quem não for dono. Dizia, em outras palavras, que o
dono ganha a ação. O dispositivo não se aplica mais. O código
relativizava os juízos.
 Súmula do STF nº 487: dizia que se duas pessoas discutem a posse de
um bem e ambas alegam ser proprietárias, analisar quem é o
verdadeiro dono. Verificar se há fraude ou não no primeiro. Tenta
relativizar o argumento no sentido de se pautar apenas na discussão
sobre a posse. Esse argumento relativiza a função social da
propriedade. A maior parte da doutrina considera essa súmula
superada, e diz que em casos como esse deve ser analisada a função
social da posse, aplicando a súmula 492 do STJ.
 Enunciados 78 e 79

3. Espécies

São três as espécies de interditos possessórios ou ações possessórias em sentido


estrito: manutenção da posse, reintegração da posse e interdito proibitório.

4. Remissão legal

4.1. Código Civil: 1.210 a 1.213

4.2. Código de Processo Civil: arts. 554 a 568

 Enunciado 238

5. Autodefesa da pose (art. 1.210, § 1º)

Art. 1.210. (...)

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§ 1º. O possuidor turbado, ou esbulhado, poderá manter-se ou restituir-se por


sua própria força, contanto que o faça logo; os atos de defesa, ou de desforço,
não podem ir além do indispensável à manutenção ou restituição da posse.

Desforço imediato (incontinenti) – perdeu a posse sobre o bem, imediatamente se


aplica o desforço para reconquistar a posse. Se não conseguir, por conta própria,
praticar o desforço imediato, é possível ter ajuda. A ideia de mediatidade pode ser
relativizada, pois sua resposta à essa posse perdida não foi no minuto seguinte se
não existia essa possibilidade; seria a ação seguinte a ser tomada. Assim que existir
a possibilidade, entrar com o desforço imediato.

A autodefesa da posse ocorre antes de perder a posse; o sujeito ainda tem e está
sofrendo um atentado sobre ela.

Antes de entrar com ação possessória, é possível autodefender a posse, por conta
própria, desde que a resposta seja imediata.

Essa autodefesa pode ser feita por terceiro não-proprietário. O detentor tem
legitimidade para fazer isso. Podem levar pessoas para ajudar.

6. Competência (art. 47, § 2º, CPC)

A ação possessória deve ser ajuizada no foro da situação do imóvel. Não existiria
sentido entrar com essa ação em um local diferente. Fazendo necessárias perícias
ao local não teria sentido um juiz de uma comarca se deslocar para outra.

CPC: Art. 47. Para as ações fundadas em direito real sobre imóveis é
competente o foro de situação da coisa.
§ 1º O autor pode optar pelo foro de domicílio do réu ou pelo foro de eleição
se o litígio não recair sobre direito de propriedade, vizinhança, servidão,
divisão e demarcação de terras e de nunciação de obra nova.
§ 2º A ação possessória imobiliária será proposta no foro de situação da
coisa, cujo juízo tem competência absoluta.

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CPC: Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor


ação que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o
regime de separação absoluta de bens.
§ 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I - que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime
de separação absoluta de bens;
II - resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato
praticado por eles;
III - fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV - que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de
ônus sobre imóvel de um ou de ambos os cônjuges.
§ 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu
somente é indispensável nas hipóteses de composse ou de ato por ambos
praticado.
§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos.

A composse pode ocorrer por regime de bens, ou condomínio voluntário, ou em


razão da própria utilização da coisa (copossuidor não condômino).

O fundamento de uma ação de interdito proibitório é a ameaça de atentado a


posse. Busca-se prevenir a consumação do atentado, evitar que a ameaça se
consuma.

Quando se tem a posse turbada (embaraçada), pede a manutenção da posse. Quer


a normalização da posse.

Quando se é esbulhado, ou seja, impedido de entrar em sua propriedade, não há


mais turbação pois já perdeu a posse. Nesse caso, o que quer é reintegrar a posse,
restaurando o que tinha anteriormente e não tem mais.

7. Fungibilidade

Um atentado pode avançar para um embaraço, ou ir diretamente para um esbulho.


Antes da concessão da liminar, isso pode acontecer. Isso significa que, nesse caso,
há a convertibilidade, e o juiz deve deliberar.

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Essa ideia presume que a posse pode ser alterada faticamente, face a progressão.
Nesse caso, se tem a fungibilidade do interdito possessório, convertendo uma coisa
em outra.

Isso significa dizer que se parte de dois pressupostos: o ataque pode progredir
(isso é da própria situação fática), e, além disso, pode existir uma dificuldade em
definir se é uma turbação ou esbulho.

Seria o caso de uma propriedade parcialmente esbulhada. Seria um esbulho parcial


ou uma turbação?

O pedido de uma coisa, portanto, para o código, não obsta que outra seja
concedida. O Código permite, para resolver isso, que entre com uma ação e ganhe
outra.

Fungibilidade reversa: pedido de reintegração de posse. Antes do juiz apreciar o


pedido, a situação se alterou e o sujeito já recuperou a posse, mas ainda tem a
ameaça de perder a posse. Extinguiria a ação ou converteria em um interdito
proibitório? A ação perde o sentido porque a tutela judicial perde o sentido, visto
que, na prática, a posse já foi defendida. A rigor, o correto é extinguir o processo.
Pode, com base no princípio da economia processual, converter. É diferente a
respeito dos requisitos – provar a posse, a perda/turbação, se esbulhado provar
que continua com a limitação de acesso, se tubado demonstrar que mantém na
posse porém embaraçada, e a data do atentado. Os requisitos do interdito
proibitório são a ameaça e a iminência de ataque. Em regra não se admite a
conversibilidade quando se está no sentido reverso.

8. Caráter dúplice

Se alguém quer ser reintegrado, é porque alguém foi esbulhado. Esse sujeito vai
querer ser mantido na posse. Logo, toda ação possessória é necessariamente
dúplice.

Pedido contraposto: já presume legalmente que aquela demanda tem caráter


dúplice. É o caso aqui.

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Se o sujeito entra com uma ação de reintegração de posse, a pessoa pode


responder que a posse dela é justa e entrar com pedido contraposto.

Para requerer o pedido contraposto, deve demonstrar os elementos tratados no


item anterior.

9. Legitimidade

9.1. Ativa

A) Possuidor aparente (art. 1.211)

O possuidor aparente, sem o ser, por óbvio, não tem legitimidade ativa
para a propositura de ação possessória. O detentor, por exemplo, que
por vezes aparenta ser possuidor, não tem legitimidade ativa para essa
ação. Outrossim, no caso da legitimidade passiva, como réu, o detentor
deve indicar a quem está subordinado e quem é o possuidor daquele
bem.

B) Posse escalonada

Quando a posse se desdobra sucessivamente, a posse está sendo


escalonada. É possível ter um possuidor direto defendendo a posse
contra o indireto, e o contrário também (mais residual).

Se a relação está dentro da posse escalonada, é preciso ver quem violou


quem.

Se o sujeito tem uma propriedade e alugou a alguém que sublocou, o


sublocatário passou a ter posse indireta. Se o proprietário tenta entrar
na propriedade e não consegue, entra com ação contra quem foi o autor
do atentado.

Se um terceiro invade, todos tem legitimidade para entrar com a ação.


A legitimidade será concorrente. Há um litisconsórcio facultativo
(podem ingressar com a ação conjuntamente).

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C) Detentor

O detentor não tem legitimidade processual para ingressar com ação


possessória, assim como não tem legitimidade para ser réu.

9.2. Passiva

O autor pode não saber que o detentor é detentor, achando que o detentor
é o possuidor. Logo, pode ser indicado como réu. A obrigação do detentor
como réu é nomear autoria, indicando, em sua peça de defesa, o possuidor,
que é quem deve ser o réu no processo. Logo, o detentor não tem
legitimidade ativa nem passiva.

Art. 1.212. O possuidor pode intentar a ação de esbulho, ou a de


indenização, contra o terceiro, que recebeu a coisa esbulhada
sabendo que o era.

Aqui, analisa-se a boa-fé. Se o sujeito está de má-fé, será réu.

Enunciado 80

10. Cumulação de pedidos (art. 555, CPC)

É possível cumular pedido dos dois lados. Além da proteção possessória, o réu só
pode pedir a indenização por perdas e danos.

Essa cumulação de pedidos pode ser feita inclusive pelo réu, que pode pedir para
ser mantido na posse e pode pedir, também, a indenização pelas benfeitorias
realizadas, podendo, se estiver de boa-fé, inclusive, deter a coisa.

CPC, Art. 555. É lícito ao autor cumular ao pedido possessório o de:


I - condenação em perdas e danos;
II - indenização dos frutos.
Parágrafo único. Pode o autor requerer, ainda, imposição de medida
necessária e adequada para:

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I - evitar nova turbação ou esbulho;


II - cumprir-se a tutela provisória ou final.

11. Ação de força nova e de força velha (CPC, art. 558)

Para determinar se o rito é ordinário ou especial, tem que saber se o


esbulho/turbação/atentado à posse tem mais ou menos de um ano e dia. Se tiver
até um ano, é ação de força nova, logo, o rito será especial. Se tiver mais de um ano,
é ação de força velha, e o procedimento será ordinário.

Fundamento da especialidade do rito  quando a posse tem um ano ou menos, a


defesa será simplificada. Ou se prova os quatro elementos necessários para a tutela
possessória ou o Juiz escuta o autor para avaliar se os elementos existem de fato.
Pois, em virtude do pouco tempo do atentado, o autor pode ter dificuldade de
provar todos os quatro elementos. Após a audiência de justificação, o rito é igual ao
ordinário.

O prazo de defesa é diferente na ação de força nova. Isso determinaria a


especialidade do rito.

Do ponto de vista material, está se simplificando, fazendo a defesa mais rápido.

12. Ações coletivas: art. 554, § 1º ao 3º, c/c art. 565, CPC

O CPC atual traz um regramento mínimo para ações possessórias coletivas,


diferentemente do que ocorria com o código anterior.

AQUISIÇÃO E PERDA DA POSSE – art. 1.204 a 1.209

1. Remissão legal

2. Aquisição

2.1. Noção geral

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A pessoa é considerada possuidora quando exerce alguma das faculdades


inerentes ao domínio (uso, disposição, gozo/fruir, sequela/perseguir). Isso
é uma cláusula geral, disposta no art. 1.204.

Art. 1.204. Adquire-se a posse desde o momento em que se torna


possível o exercício, em nome próprio, de qualquer dos poderes
inerentes à propriedade.

O Código Civil anterior tratava a aquisição da posse de maneira causuística.


Houve uma mudança metodológica.

2.2. Elementos

Para adquirir a posse, deve ter o corpus (uso econômico da força) e o


animus (manifesta vontade de possuidor).

2.3. Atos que não induzem posse

Existem atos que não induzem posse, que seria a permissão e a tolerância.

Art. 1.208. Não induzem posse os atos de mera permissão ou


tolerância assim como não autorizam a sua aquisição os atos
violentos, ou clandestinos, senão depois de cessar a violência ou a
clandestinidade.

2.4. Legitimidade

Morador/inquilino, representante (procurador) ou terceiro sem mandato.

Art. 1.205. A posse pode ser adquirida:


I - pela própria pessoa que a pretende ou por seu representante;
II - por terceiro sem mandato, dependendo de ratificação.

2.5. Modos

A) Originária

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É quando há um ato unilateral. Ninguém transmite a posse.

B) Derivada

É quando há uma causa transmissiva. Ou seja, a posse deriva de uma


posse anterior. Há um ato bilateral.

A aquisição derivada é basicamente a tradição. Tradição é o ato pelo


qual se transfere a propriedade e também a posse.

 Espécies de tradição

I. Real:

Há entrega efetiva da coisa.

II. Simbólica:

Eventualmente pode ser inviável entregar a coisa, em razão de


seu volume, tamanho, etc. Logo, entrega-se o símbolo do bem.
Seria um exemplo a entrega de chaves ou documentos.

III. Presumida:

Não existe o ato de transferir a coisa ou o símbolo da coisa,


simplesmente presume que o ato foi praticado. Em outras
palavras, o que se tem é a alteração do animus.

A tradição presumida pode ser traditio brevi manu (mantém a


coisa com ele, o possuidor se torna proprietário - ex: inquilino
tem preferência para comprar o imóvel alocado) e constituto
possessório (o proprietário vira mero possuidor).

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
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O constituto possessório exige cláusula específica no contrato, a


cláusula constituti. Não se presume, exatamente porque como
não houve entrega, tradição propriamente dita.

 Somas de posses

É quando se tem sucessão. É uma posse derivada.

Quando há um contrato de compra e venda, existe uma sucessão – ele


sucede o dono da coisa.

Assim como o recebimento de herança (art. 1.784).

Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do


possuidor com os mesmos caracteres.

Quando há a aquisição por ato de compra e venda, pode ser translatio


ou uma nova posse.

Se comprou de alguém que não era dono, foi compra e venda sem dono.
O vendedor e o comprador estavam de boa-fé e ignoravam isso.
Quando recebe a posse anterior, é possível somar as posses para fins
de usucapião.

3. Perda

3.1. Noção geral

O outro lado da aquisição é a perda. O Código Civil atual traz uma cláusula
geral para perda, no art. 1.223. No código anterior era casuística.

Art. 1.223. Perde-se a posse quando cessa, embora contra a vontade


do possuidor, o poder sobre o bem, ao qual se refere o art. 1.196.

3.2. Espécies

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Para perder a posse, é necessário perder um dos elementos da posse


(animus ou corpus), ou ambos.

A) “Corpore et animo”

Nesse caso, perde tanto o animus quanto o corpus. O sujeito perde a


própria coisa, entrega a coisa ou não quer mais ser dono da coisa.

B) “Solo corpore”

O esbulho encaixa-se nessa espécie. Apesar de perder o corpus, o


indivíduo não perde o animus de dono.

C) “Solo animo”

PROPRIEDADE

1. Breve noção histórica e modelos

Existem algumas correntes que justificam a propriedade. O direito civil tem,


basicamente, três pilares – família, contrato e propriedade. O contrato foi
desenvolvido, originalmente, na França, mas sua origem vem do Direito Romano. A
família, por sua vez, é a maneira de manter a propriedade no mesmo núcleo
familiar, o que leva a ideia de sucessão.

É de se ressaltar que a mudança que a propriedade passou no decorrer da história


levou a existência, hoje em dia, da chamada propriedade empresarial. Na era do
capitalismo financeiro essa modalidade se desenvolveu muito.

A ideia de propriedade, destarte, tem a ver com a perspectiva social e econômica


de cada época.

A propriedade tem como sua principal origem o Direito Romano, que concebia a
propriedade em um viés individual. No século VI d.C., Justiniano mandou compilar
toda a produção jurídica no âmbito do Império Romano criando o Corpus Iuris

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Civilis, que compilava o direito de propriedade em todas as épocas do direito


romano.

Nosso direito, ainda nos dias atuais utiliza uma ideia de propriedade como direito
individual, derivada da ideia de propriedade em Roma.

Paolo Grossi foi um historiador que estudou bastante a propriedade na era


medieval, não em Roma efetivamente. Nessa época, tinha-se o senhor feudal e o
vassalo, que tinha a propriedade útil daquela terra. Havia um soberano que tinha o
poder sobre todas as terras públicas, e que podia repartir essa propriedade para
com entes privados (senhores feudais), que concediam o domínio útil da terra para
os vassalos. Esse modelo é diferente da ideia de propriedade que existiu no direito
romano, pois não é mais uma propriedade individual, é uma propriedade repartida
em virtude do poder que se tem sobre aquela terra.

Esse modelo não era muito compatível com os interesses da burguesia ascendente
francesa. Eles não queriam uma propriedade repartida como na Idade Média, mas
uma propriedade individual, que seria de quem pudesse pagar por ela. Foi em
virtude disso que o direito francês criou um novo direito de propriedade com
inspiração no Direito Romano.

Via de regra, a propriedade é individual. Isso quer dizer que só há um proprietário


com propriedade exclusiva do bem, que detém os 4 poderes do domínio (Uso,
gozo/fruição, disposição e reaver o bem com quer que seja).

Isso evidencia a influência do regime europeu de propriedade.

A tentativa de aplicar as capitanias hereditárias foi um modelo que visou replicar o


existente na idade média, de propriedade repartida. Quando o Brasil se torna
independente, no entanto, a propriedade individual é resgatada, e a ideia de
propriedade repartida é extirpada do ordenamento.

Como toda evolução histórica, ela não acontece de forma retilínea, e sim de forma
helicoidal, por isso que temos na história grandes avanços e contramarchas.

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Durante o século XX, com a Revolução Russa, ainda existiu um outro modelo de
propriedade que rivalizou com a propriedade individual, a propriedade coletiva,
que não era única da União Soviética. Esse tipo de propriedade limitava o poder do
indivíduo sobre a propriedade, a disponibilidade da propriedade era diminuída. O
poder de dispor sobre determinado bem é praticamente anulado, pois a
propriedade vai ter de servir, necessariamente, a sua função determinada.

Na União Soviética, tinha-se a ideia de bens de produção e bens de uso pessoal, na


medida em que o primeiro deveria ser pertencente ao poder público, não podendo
ser de propriedade exclusiva de particular, enquanto os bens de uso pessoal
poderiam pertencer exclusivamente a particulares.

Assim, existem alguns modelos de propriedade, sendo que hoje prevalece a ideia
de que a propriedade é um direito subjetivo absoluto. Essa ideia, entretanto, tem
sido mitigada, uma vez que há a necessidade de respeitar determinações
ambientais, o direito de vizinhança e questões administrativas (ex.: fios da Coelba e
tubos da embasa).

Ainda, existe a questão da necessidade de cumprir a função social da propriedade


urbana, havendo sanções quando essa não é cumprida, como pagamento a maior
do IPTU e, se durar mais de 5 anos pagando esse IPTU a maior sem uma
providência, há uma obrigatoriedade de construir na propriedade e dividi-la.

Nesse sentido, nota-se que são inúmeras as limitações sobre a propriedade. Esta
não pode ser utilizada da forma que for mais conveniente para um particular; o
direito está, de alguma forma, limitado. É em virtude disso que há uma
relativização do direito da propriedade, que ainda é considerado um direito
subjetivo absoluto.

2. Conceito e objeto

A propriedade, como situação jurídica, seria uma relação jurídica em que o sujeito
se insere por ato de vontade, e, em virtude deste ato, ingressa em uma relação
jurídica de natureza real, que comporta situações jurídicas que podem ser ativas
(equivalente à direito) e situações jurídicas passivas, em que não é titular de um
direito, mas detentor de dever, que pode ser ambiental, de vizinhança ou uma

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servidão administrativa. Isso significa, em outras palavras, que é possível conceder


a propriedade não apenas como um direito, mas como um direito e um dever,
levando a ideia de que a propriedade também pode ser considerada um dever
jurídico. Essa ideia é desenvolvida por Orlando Gomes, e é a tese de Emanuel Lins.

Ainda hoje, a propriedade é entendida como um direito subjetivo absoluto que


vem recebendo limitações.

O conceito sintético de Orlando Gomes é de que a propriedade é a submissão de


uma coisa em toda a sua extensão ao homem ou ao sujeito.

A definição analítica de propriedade de Orlando Gomes é aquela utilizada de forma


mais ampla por toda a doutrina. Esse conceito entende a propriedade como o
direito de usar, gozar, dispor ou reaver o bem de quem quer que seja. Aqui, em
verdade, não se tem uma definição de propriedade, mas uma enumeração dos
direitos do proprietário, voltando-se para a situação jurídica ativa.

A definição descritiva que Orlando Gomes dá de propriedade é a de que a


propriedade é o direito exclusivo, fundamental, complexo, perpétuo e absoluto que
é exercido nos limites da lei.

Em todas essas definições, Orlando Gomes destaca o elemento ativo da


propriedade, tendo a propriedade como apenas um direito, focando apenas no
poder que os sujeitos têm sobre aquela coisa. É um conceito subjetivo da
propriedade.

Paolo Grossi diz que talvez devêssemos mudar a perspectiva para conceituar a
propriedade, olhando não sob a luz subjetiva, do proprietário, mas sob a ótica de
quem não o é.

3. Fundamentos (teorias)

Existem quatro teorias que tentam apresentar um fundamento para o direito de


propriedade.

3.1. Teoria da Ocupação

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Segundo essa teoria, o que fundamenta o direito da propriedade é o fato do


proprietário ocupar o bem, dar uma destinação a um bem que estava sem
uso.

A crítica que se faz é essa teoria é que a ocupação é apenas uma das formas
de se adquirir a propriedade, sendo, portanto, uma teoria muito
reducionista.

3.2. Teoria da Especificação

Essa teoria se aproxima da ideia de função social. Traz a noção de que se o


bem não é utilizado de acordo com sua especificidade, a propriedade é
perdida para outro indivíduo que atue de acordo com essa especificidade.

Essa teoria não é muito utilizada, pois, gera situações em que o


proprietário perderia a propriedade para empregados.

Por exemplo, o proprietário de indústria dá especificação aos bens através


do trabalho dos operários. Por meio da teoria, os operários se tornariam
proprietários.

Essa teoria não tem relação com a ideia capitalista de produção industrial,
e se levada a última ratio, aconteceriam espoliações sucessivas, vez que o
novo proprietário teria que contratar novos operários que se tornariam
proprietários e assim vai.

É muito associada a ideia de propriedade coletiva, mas completamente


refutada no modelo capitalista de produção.

3.3. Teoria da Lei

Diz que o que justifica a propriedade ser concebida como o direito é o fato
da lei dar esse caráter de direito para a propriedade. Ou seja, a propriedade
é direito porque a lei diz que ela é direito. É uma teoria muito positivista e
legalista. Essa teoria também não é muito aceita.

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3.4. Teoria da Natureza Humana

Diz que a propriedade é um direito por ser algo relativo à natureza dos
seres humanos. Haver pessoas que possuem algo e outras que não
possuem é algo natural da história humana. Todo ser humano almeja ser
proprietário de um bem com exclusão dos demais sujeitos. É a ideia de
propriedade individual. Logo, essa é uma teoria de direito natural,
jusnaturalista, que concebe a propriedade como algo derivado da essência
humana. O fundamento jurídico da propriedade é que ela é um fato da
própria natureza humana. Essa teoria é a mais aceita em nosso país
dentre as quatro apresentadas.

Anibal Conci, e Haiek trazem conceitos diferentes.

4. Características

Todas as características construídas até hoje do direito de propriedade foram


embasadas no direito clássico de Roma. São elas: plenitude, exclusividade,
elasticidade, absoluto e perpetuidade.

A propriedade é plena porque o proprietário tem o direito de usar, gozar, dispor e


reaver o bem de quem quer que seja. Os três primeiros são faculdades, e o quarto
um direito; logo essa é a primeira característica da propriedade.

A segunda característica é a exclusividade. Por essa característica, entende-se que


todo proprietário deve ser exclusivo do bem, não podendo coincidir propriedades
distintas sobre aquele mesmo bem. O condomínio não fere isso porque ele é uma
abstração, em que o sujeito é dono de fração ideal; é uma abstração – não é
possível delimitar a fração real do bem. O sujeito pode utilizar toda a propriedade.

Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em


contrário.

A terceira característica foi cunhada por Orlando Gomes, e é utilizada com


amplitude, que é a elasticidade. O sujeito tem o poder de, elasticamente, manter

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todos os poderes com ele, ou pode reduzi-los; o sujeito pode ficar fazendo isso o
tempo inteiro sem que a propriedade seja extinta por isso.

A quarta característica do direito de propriedade é o fato de ser considerado um


direito absoluto, quer dizer, é um direito com oponibilidade erga omnes, mas que
sofre limitações legais e voluntárias.

A quinta característica diz respeito a perpetuidade da propriedade, o que significa


dizer que ela não se extingue pelo não uso, assim inexistindo a ocorrência de uma
das formas de perda da propriedade (se não tem usucapião, se você não renunciou
a propriedade, se o bem não se perdeu).

5. Elementos constitutivos

São quatro: o direito de usar a coisa (jus utendi), o direito de perceber os frutos
(jus fruendi), o direito de dispor (jus disponendi) e, por fim, o direito de vindicar a
coisa, que decorre do direito de sequela (jus vindicandi).

Ou seja, usar, gozar ou fruir, dispor e reaver de quem quer que injustamente o
possua ou detenha.

6. Ação reivindicatória

A ação reivindicatória decorre do direito de vindicar a coisa, e decorre do direito


de sequela (reaver o bem).

6.1. Natureza

A natureza da ação é real.

6.2. Prescrição?

O prazo de prescrição dessa ação é de 10 anos. A maior parte da doutrina,


no entanto, defende a imprescritibilidade dessa ação em virtude da
perpetuidade do direito de propriedade. O prazo para usucapir é de 15
anos; logo, nesse lapso temporal, haveria um direito de propriedade sem

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dono durante 5 anos, em que entraria o prazo para usucapir e o direito de


reivindicar a restituição do bem.

6.3. Fundamento

O fundamento é o direito de ser considerado como proprietário, buscando


a restituição do bem.

6.4. Finalidade

A finalidade é a restituição do bem.

6.5. Requisitos

A situação envolve um proprietário com título, porém sem a posse, que


ajuíza ação contra um possuidor sem título e que, por não possuir o título,
é um possuidor injusto. É mais amplo que a ideia de posse injusta
clandestina, precária e violenta, porque se baseia apenas na ausência do
título. O rito é ordinário.

Se o título existir, a ação adequada é a ação possessória.

Primeiro, prova-se que é proprietário, por meio do registro de matrícula do


imóvel, que deve estar em nome do sujeito. Segundo, há uma descrição
individualizada do bem (tamanho, se é terreno ou tem construção, com
quem se está debatendo a questão, etc.). O terceiro é a posse molestada, ou
seja, é preciso ter pedido essa posse.

6.6. Legitimidade

A legitimidade ativa é necessariamente do proprietário com título mas sem


a posse, que ajuíza a ação contra um possuidor sem título (injusto). É
possível, em regra, ajuizar a ação contra um possuidor ou contra um
detentor que não sabe que é detentor (ele alega ilegitimidade passiva,
nomeando um possuidor).

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7. Extensão

Quando se fala em extensão, se fala da extensão da propriedade móvel e da imóvel.

Art. 1.229. A propriedade do solo abrange a do espaço aéreo e subsolo


correspondentes, em altura e profundidade úteis ao seu exercício, não
podendo o proprietário opor-se a atividades que sejam realizadas, por
terceiros, a uma altura ou profundidade tais, que não tenha ele interesse
legítimo em impedi-las.

A propriedade vai “do céu ao inferno”, uma vez que há a projeção da propriedade
para o subsolo e para o céu. No entanto, essa propriedade se limita até o local em
que ela é útil para o sujeito. Há um critério de utilidade que só pode ser verificado
no caso concreto, por se tratar de uma cláusula geral que dá para o magistrado
maior liberdade para adequar o caso aos elementos decisórios.

Se algo passa por baixo do imóvel, sem que atrapalhe a utilização desse imóvel, não
é possível impedir isso.

No entanto, há uma restrição quanto à exploração de jazidas, sítios arqueológicos


porque, via de regra, são de propriedade da União, que também tem o direito de
explora-los. Apesar disso, existe a possibilidade de exploração por parte do
proprietário.

Art. 1.230. A propriedade do solo não abrange as jazidas, minas e demais


recursos minerais, os potenciais de energia hidráulica, os monumentos
arqueológicos e outros bens referidos por leis especiais.
Parágrafo único. O proprietário do solo tem o direito de explorar os recursos
minerais de emprego imediato na construção civil, desde que não submetidos
a transformação industrial, obedecido o disposto em lei especial.

Frutos e produtos são acessórios do principal. Via de regra, o acessório segue o


principal, ressalvadas as exceções do art. 1.232 e do art. 1.284.

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Art. 1.232. Os frutos e mais produtos da coisa pertencem, ainda quando


separados, ao seu proprietário, salvo se, por preceito jurídico especial,
couberem a outrem.

Art. 1.284. Os frutos caídos de árvore do terreno vizinho pertencem ao dono


do solo onde caíram, se este for de propriedade particular.

8. Restrições legais de interesse público e particular

Geralmente, as únicas restrições legais impostas à propriedade são as de interesse


público e de interesse particular. Isso não quer dizer que existam apenas essas
limitações, mas são a maioria. Existe uma série de deveres impostos em diversas
legislações esparsas, como no Plano Diretor e Estatuto da Cidade. Para Emanuel,
inclusive, não são meramente limitações imposta, mas, sim, uma série de deveres
impostos ao proprietário.

Ambas as restrições, tanto de interesse público como de interesse particular, estão


previstas em lei. Quando se fala de restrição de interesse público, por exemplo,
você fala de servidão administrativa, quando o interesse beneficia não apenas o
Estado mas uma coletividade de pessoas.

Exemplo 1: A tem um terreno em Brotas, e para que a luz chegue até aquele local, é
obrigado a permitir a passagem dos cabos elétricos. Essa figura é próxima da
servidão, mas não o é, já que é cogente – o Estado impõe a cessão da propriedade
para passagem de determinada instalação. O interesse é púbico por beneficiar não
apenas o Estado, mas a coletividade de cidadãos beneficiados com a luz. Por óbvio,
não é possível se impor a isso; deve respeitar e aceitar a servidão administrativa.

Exemplo 2: o proprietário de um imóvel tem seu imóvel tombado. Isso impede que
se faça qualquer alteração nos mesmos que não aquelas autorizadas pela lei. Essa é
uma outra restrição de interesse público, o tombamento.

Outros exemplos:

CF, art. 5º, XXIV - a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por
necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e

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prévia indenização em dinheiro, ressalvados os casos previstos nesta


Constituição;

CF, art. 5º, XXV - no caso de iminente perigo público, a autoridade


competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao
proprietário indenização ulterior, se houver dano;

CF, art. 176. As jazidas, em lavra ou não, e demais recursos minerais e os


potenciais de energia hidráulica constituem propriedade distinta da do solo,
para efeito de exploração ou aproveitamento, e pertencem à União,
garantida ao concessionário a propriedade do produto da lavra.;

Código Florestal, art. 2o As florestas existentes no território nacional e as


demais formas de vegetação nativa, reconhecidas de utilidade às terras que
revestem, são bens de interesse comum a todos os habitantes do País,
exercendo-se os direitos de propriedade com as limitações que a legislação
em geral e especialmente esta Lei estabelecem.;

Ademais, também existem as restrições legais de interesse particular, que também


estão amparadas na lei. No entanto, o interesse que move essas restrições é
meramente de particular. Como maior exemplo dessas restrições temos as
restrições postas no direito de vizinhança.

9. Principais modalidades de propriedade

9.1. Plena e limitada

Propriedade plena é aquela em que se tem os quatro poderes (usar,


gozar/fruir, dispor e reaver o bem de quem quer que seja).

Art. 1.228. O proprietário tem a faculdade de usar, gozar e dispor da


coisa, e o direito de reavê-la do poder de quem quer que injustamente
a possua ou detenha.

Art. 1.231. A propriedade presume-se plena e exclusiva, até prova em


contrário.

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Na visão de Emanuel Lins, não faz sentido presumir a propriedade como


plena. Isso porque, atualmente, a maioria das propriedades apresentam
caráter limitado.

A propriedade limitada é aquela em que algum ou alguns dos poderes se


encontra cedido.

Um imóvel locado tem a propriedade limitada, assim como na compra de


um imóvel em alienação fiduciária com garantia.

9.2. Perpétua e resolúvel

Propriedade perpétua é aquela que tende a perpetuidade, ou seja, só perde


essa propriedade se o imóvel perecer, acontecer usucapião ou caso algum
modo aquisitivo operar sobre aquela propriedade.

A propriedade resolúvel, no entanto, é aquela propriedade que contém uma


condição resolutiva, o que significa dizer que esta propriedade só produz
efeitos enquanto a condição resolutiva se opera. Quando aquela condição
resolutiva acontecer, entretanto, a propriedade deixa de ser propriedade
daquele sujeito.

É o caso da propriedade resolúvel propriamente dita, da propriedade


fiduciária e do fideicomisso.

A propriedade fiduciária é a que ocorre em casos de empréstimo para a


compra de um bem, em que o banco fica com o próprio bem como garantia
daquele empréstimo. Há um constituto possessório porque o proprietário,
até que se finde a dívida do empréstimo, será o banco. O sujeito que vai
adquirir é meramente um depositário/possuidor até que ocorra a traditio
previ manu, que é a troca de pose de coisa alheia para posse de coisa
própria.

O fideicomisso envolve o fiduciante, que é aquele que deixa o testamento


para o filho do fiduciário, que é o fideicomissário. A propriedade é do

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fiduciário até a sua morte ou até que o fideicomissário complete 25 anos.


Logo, há uma condição ou um termo nessa espécie de propriedade
resolúvel, que é uma condição resolutiva. Não é necessariamente a morte
ou a idade, mas a condição posta pelo fiduciante. O fideicomissário, quando
resolvida a condição, terá a propriedade plena.

A regra hoje é a propriedade resolúvel, que deveria, em verdade, ser a


exceção.

10. Modos de aquisição

10.1. Originária e derivada

A aquisição originária é aquela em que se adquire o bem


independentemente de qualquer relação com o proprietário anterior, como
é o caso do usucapião.

O instituto do usucapião gera uma nova matrícula para o imóvel. O que


gera a aquisição da propriedade não é a transferência por parte do
proprietário anterior, e sim pelo decurso do tempo. É um fato que recebe
efeitos jurídicos atribuídos pela lei. Em virtude da posse que se exercia
sobre o bem, se adquire a propriedade pelo fato de ocupar de boa-fé real
(15 anos) ou presumida (10 anos), que é aquela com justo título.

Aqui não há causa transmissória, não há transmissibilidade da


propriedade.

Por outro lado, a propriedade derivada é aquela que deriva de outra


propriedade. É o caso da compra e venda. Existe uma aquisição derivada de
causa de transmissão.

Um exemplo é a obrigação proper rem, que tem como um dos requisitos a


transmissibilidade da propriedade. Só existe a transmissão da obrigação
proper rem se existir transmissão da propriedade. Logo, se o sujeito deveu
IPTU por 30 anos, o indivíduo que usucapir aquele imóvel não pagará pelo
tempo em que não estava lá fixado.

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10.2. A título universal e a título singular

Aquisição a título universal é aquela em que se transfere a totalidade do


patrimônio. É comum no direito das sucessões, mas também pode ocorrer
por atos intervivos. Em geral, as obrigações pessoais passam para o
adquirente.

Seria o caso da compra da totalidade de um fundo comercial, a compra de


todas as lojas de uma franquia, em que se adquire todas as lojas, todos os
instrumentos das lojas, todos os contratos, todos os bens da empresa.

Aquisição a título singular é quando se especifica o bem. Em regra, as


obrigações para com terceiros não são transmitidas para o sucessor. A
maior parte das aquisições feitas por atos intervivios é à título singular.

Seria, por outro lado, o caso da compra de uma loja de uma franquia.

10.3. Quanto à distinção fundamental dos bens – bens móveis e imóveis

Refere-se a divisão entre bens móveis ou imóveis. O Código Civil é


organizado a partir do critério de aquisição de propriedade mobiliária e
imobiliária.

Uma aquisição móvel pode ser originária ou derivada, assim como uma
aquisição imóvel também pode ser originária ou derivada.

11. Sistemas de aquisição

É comum que os livros falem dos sistemas alemão e francês. Mas, também é
possível tratar o sistema romano de aquisição de propriedade que, de certa forma,
se assemelha ao brasileiro.

11.1. Romano: justo título + modo (tradição ou usucapião)

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Nesse modelo de aquisição de propriedade, se tem o justo título, que


transfere a titularidade da propriedade e o modo de adquirir tal
propriedade, que pode ser a tradição, passagem de mão a mão ou
usucapião. São necessários dois atos jurídicos para aquisição da
propriedade – o justo título e a transmissão do bem, seja ela em qual modo
for.

11.2. Francês: efeito translativo do contrato

O sistema francês independe da transmissão no caso dos bens móveis, ou


do registro (tradição solene) no caso dos bens imóveis. A transferência da
propriedade ocorre no momento do fechamento do contrato. Não é
necessário, portanto, a transmissão do bem.

Os contratos, em geral, são consensuais.

No direito francês tem efeito translativo ou real quando fechado o acordo,


independentemente de ter recebido ou não o bem, o sujeito já é
proprietário.

11.3. Alemão

No sistema alemão, por sua vez, a ideia do sistema romano é replicada de


maneira mais radicalizada. Há uma separação do ato obrigacional por meio
do qual a vontade é manifestada, e da tradição/registro. O contrato pode
ser inválido e o registro ser válido. É em virtude disso que há essa
separação exacerbada.

11.4. Como é no Brasil?

No Brasil, se um contrato é inválido, o registro também será. Os contratos


não tem efeito translativo como no sistema francês. Se o contrato de
compra e venda foi adimplido por si só, não há transferência da
propriedade, que só ocorre com a tradição.

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O modelo brasileiro se aproxima do modelo romano, excetuando-se a


necessidade de justo título para usucapião. No Brasil, há uma diferença no
prazo necessário para usucapir – 10 anos se tiver justo título (boa-fé
presumida) ou 15 anos sem justo título (boa-fé real).

SÍNTESE DAS FORMAS DE AQUISIÇÃO

1. Bens imóveis

1.1. Originária

O código opta por dividir as formas de aquisição da propriedade em móvel


e imóvel. Isso o torna repetitivo, já que existem formas de aquisição que
são similares para bens de ambas as naturezas.

A) Acessão

A acessão nada mais é do que o acréscimo àquela propriedade. Existem


acessões naturais e artificiais (patrocinadas por ação humana)

B) Usucapião

1.2. Derivada

A) Transcrição/registro

B) Sucessão

Em regra, causa mortis.

2. Bens móveis

2.1. Originária

Ocupação, diferenciação de ocupação e descoberta, usucapião.

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2.2. Derivada

Tradição, sucessão, especificação, comistão, adjunção e confusão.

USUCAPIÃO

1. Noções gerais

A primeira forma de aquisição originária da propriedade e, sem dúvidas, a


principal é a usucapião. USUS + CAPIO – “capio” significa adquirir; “usus” significa
posse, então, do ponto de vista etimológico, significa adquirir pela posse.

Via de regra, se fala em A usucapião, nao o usucapião. Isso ocorre por ser uma
forma de aquisição da propriedade. Entende-se, também, a usucapião como uma
forma de prescrição.

A prescrição é a passagem do tempo que extingue ou faz adquirir direitos e divide-


se em duas, prescrição aquisitiva e extintiva. A prescrição extintiva é o decurso do
tempo que extingue pretensões pessoais e pretensões reais. Essa prescrição se
encontra na parte geral do Código.

Na parte especial, no entanto:

Art. 1.244. Estende-se ao possuidor o disposto quanto ao devedor acerca das


causas que obstam, suspendem ou interrompem a prescrição, as quais
também se aplicam à usucapião.

O artigo diz que se as causas obstativas, interruptivas e suspensivas da prescrição


aquisitiva. Logo, essas causas se aplicam a usucapião pelo fato de que ela também é
uma forma de prescrição, mas uma forma de aquisição prescritiva. É a passagem do
tempo que faz adquirir direitos.

Alguns autores trabalham como sinônimo de prescrição aquisitiva e outros


trabalham como espécie de prescrição aquisitiva.

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Na usucapião só se adquire pretensões reais, ou seja, só existe usucapião na seara


dos direitos reais. Apesar disso, é possível encontrar em diversos autores a ideia de
usucapião para direitos.

Art. 197. Não corre a prescrição:


I - entre os cônjuges, na constância da sociedade conjugal;
II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
III - entre tutelados ou curatelados e seus tutores ou curadores, durante a
tutela ou curatela.

Art. 198. Também não corre a prescrição:


I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
II - contra os ausentes do País em serviço público da União, dos Estados ou
dos Municípios;
III - contra os que se acharem servindo nas Forças Armadas, em tempo de
guerra.

Art. 199. Não corre igualmente a prescrição:


I - pendendo condição suspensiva;
II - não estando vencido o prazo;
III - pendendo ação de evicção.

Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo
criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva.

Art. 201. Suspensa a prescrição em favor de um dos credores solidários, só


aproveitam os outros se a obrigação for indivisível.

Causa suspensiva é aquela em que se suspende a contagem da prescrição.

Causa obstativa é aquela em que há um óbice para a contagem da prescrição.

Seria o caso de um sujeito que utiliza um carro há 10 anos, mas é casado e aquele
carro é propriedade do casal. Logo, não poderá usucapi-lo em caso de separação,
pois há um óbice para que nesse período a prescrição corra.

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Mariana Gomes Barros – 2016.2

Art. 202. A interrupção da prescrição, que somente poderá ocorrer uma vez,
dar-se-á:
I - por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o
interessado a promover no prazo e na forma da lei processual;
II - por protesto, nas condições do inciso antecedente;
III - por protesto cambial;
IV - pela apresentação do título de crédito em juízo de inventário ou em
concurso de credores;
V - por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor;
VI - por qualquer ato inequívoco, ainda que extrajudicial, que importe
reconhecimento do direito pelo devedor.
Parágrafo único. A prescrição interrompida recomeça a correr da data do
ato que a interrompeu, ou do último ato do processo para a interromper.

Art. 203. A prescrição pode ser interrompida por qualquer interessado.

Art. 204. A interrupção da prescrição por um credor não aproveita aos


outros; semelhantemente, a interrupção operada contra o co-devedor, ou seu
herdeiro, não prejudica aos demais coobrigados.
§ 1o A interrupção por um dos credores solidários aproveita aos outros; assim
como a interrupção efetuada contra o devedor solidário envolve os demais e
seus herdeiros.
§ 2o A interrupção operada contra um dos herdeiros do devedor solidário não
prejudica os outros herdeiros ou devedores, senão quando se trate de
obrigações e direitos indivisíveis.
§ 3o A interrupção produzida contra o principal devedor prejudica o fiador.

Causa interruptiva é aquela que não apenas suspende, mas reinicia a contagem do
prazo assim que a causa interruptiva cessa. É aquela em que se interrompe a
prescrição para reiniciar a contagem prescricional quando a causa interruptiva
cessar.

2. Conceito

A usucapião é a aquisição da propriedade em decorrência da passagem do tempo,


em conformidade com os requisitos legais.

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3. Fundamentos

Quando se fala de usucapião, existem duas teorias: a teoria subjetiva e a teoria


objetiva.

Na teoria subjetiva, tenta-se justificar a usucapião como uma sanção pela


negligência do proprietário. O fato de o proprietário não exercer a posse por um
lapso temporal considerável, significa uma espécie de intenção de renúncia, algo
próximo do abandono. Pela teoria subjetiva, esse é o fundamento da usucapião -
presume-se que o proprietário, em virtude de sua negligência, queria abandoná-la.
Logo, nada mais justo do que ser adquirida pelo usucapilente. Essa teoria, no
entanto, é muito criticada, pois não necessariamente o fato de o indivíduo não estar
exercendo a posse quer dizer que exista renúncia ou negligência. A pessoa poderia
estar com outras prioridades, por exemplo. Outro ponto é que só há renúncia
expressa, não pode existir renúncia tácita.

A teoria objetiva é mais valorizada, e o que significa a aquisição da posse pela


usucapião é a função social/utilidade social. Dá segurança jurídica ao usucapiente e
aquelas pessoas com quem o usucapiente travava relações. Quando se fundamenta
a usucapião na utilidade social da propriedade, há uma segurança para o
usucapiente e todos aqueles que o cercam. Outrossim, quando o sujeito fica um
longo período na posse, cria-se uma presunção de que ninguém irá se opor ao uso
que o usucapiente faz do bem. Se o sujeito age com animus domini, paga imposto,
fez inscrição no IPTU, presume-se que, não tendo oposição aquela posse, esse bem
será do sujeito.

Isso significa dizer, portanto, que são necessários determinados requisitos para
poder usucapir um bem.

4. Requisitos

4.1. Gerais

Os requisitos gerais são aqueles que estão presentes em qualquer espécie


de usucapião.

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A) Pessoais

Tem relação com a capacidade de adquirir usucapião. Quem tem essa


capacidade, cumpre um requisito pessoal.

B) Reais

É um requisito real. Em verdade, é preciso que haja uma coisa


usucapível, “res habilis” (coisa hábil a ser adquirida por usucapião).

Os bens naturalmente usucapíveis são os bens particulares. Existem


bens, no entanto, que não são usucapíveis, como os bens públicos. Eles
podem ser passíveis de posse.

Existem, ainda, bens que não são usucapíveis por estarem fora do
comércio naturalmente. Bens que estão fora do comercio por qualquer
outro motivo, quer dizer, convencionalmente, no entanto, são
usucapíveis.

Na herança, antes da partilha, todos os herdeiros tem composse sobre


o patrimônio todo.

Só se fala em usucapião de área certa. Não há a possibilidade de


usucapião de área comum. Um condômino tem uma fração ideal da
área comum – por não ser uma área certa, não é possível usucapir. Mas,
se ele ocupa aquela área comum, de modo que impeça os outros de
utilizarem, tornando-a particular, para alguns autores é possível se
falar em usucapião.

Se exclui os demais porque eles não aparecem, sem impedir de fato


esse uso dos demais, no fundo ela utiliza com exclusividade. Mas isso é
porque os demais não exercem a posse, ainda que não tenha sido
criado um obstáculo. A posse desse jeito não justifica o usucapião.

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Maria Helena Diniz tem admitido que é possível ter usucapião de


copossuidor em desfavor dos demais quando há uma posse exclusiva
que se consubstancia na exclusão dos demais copossuidores,
impedindo que eles exerçam a posse sobre o bem. Mesmo para quem
avance na ideia de ser possível, se faz uma alegação de que é algo
decorrente de boa-fé, não seria propriamente o usucapião, mas um
supressio (para condôminos)/surrectio (para ele), já que deixou de
reivindicar o direito sobre área comum, perde-se o direito de
reivindica-lo. .

C) Formais

a) Tempo

O decurso do tempo é um dos requisitos essenciais do usucapião, já


que se adquire a propriedade pela passagem do tempo.

Sobre a soma de posses:

Art. 1.243. O possuidor pode, para o fim de contar o tempo


exigido pelos artigos antecedentes, acrescentar à sua posse a
dos seus antecessores (art. 1.207), contanto que todas sejam
contínuas, pacíficas e, nos casos do art. 1.242, com justo título
e de boa-fé.

Se há uma sucessão causa mortis e a posse é injusta, não se tornará


justa. A posse injusta não pode ser somada no período necessário
para usucapir.

Art. 1.206. A posse transmite-se aos herdeiros ou legatários do


possuidor com os mesmos caracteres.

Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do


seu antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua
posse à do antecessor, para os efeitos legais.

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Na posse a título universal, não existe a faculdade de somar a posse


anterior ou não, ela será obrigatoriamente somada. Na posse a
título singular, no entanto, existe essa faculdade. A maior parte da
doutrina afirma que o critério é o estabelecido pelo art. 1.207, se é
a título universal, as posses serão somadas; se não, analisa-se a
conveniência no caso concreto.

Em outras palavras, ignoram o art. 1.206, que traria mais confusão


do que clareza para as questões da vida prática.

b) Posse

Para alguns, a posse violenta, clandestina e precária não é posse.


Seria apenas detenção. Seria, então, uma detenção que se converte
em posse injusta. Para outros autores, é uma posse injusta que se
converte em posse justa. Essa é uma questão fundamental porque
apenas a posse justa é usucapível.

O código admite expressamente o convalescimento da posse


violenta e clandestina, mas não aceita o convalescimento da posse
precária.

Toda posse precária, em algum momento, foi justa. Isso porque


aquela cessão de posse era autorizada, seja por um direito real ou
por um direito pessoal. Ela se torna injusta quando se é requerido
ou compelido à devolução da posse, mas não o faz. Via de regra, é
um vício absoluto, já que é eivado de abuso de confiança. O código
não considera possível reverter esse quadro.

Se um sujeito firma um acordo com o proprietário, há a


possibilidade de se reestabelecer a relação jurídica entre o
possuidor direto e o possuidor indireto. Há a ideia, nesse caso, da
intervenção da posse, que significa a mudança do ânimo de
possuidor em nome alheio, para ânimo de posse própria.

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Para o STJ, a ideia de posse própria significa abrir mão do


desdobramento da posse, que passa a ser exercida em nome
próprio. Esse entendimento doutrinário é minoritário. Segundo
esses autores, a posse passa a ser usucapível quando se recusa a
cumprir ordens emanadas do possuidor indireto, ou seja, quando
se deixa de se submeter aos atos possessórios do possuidor
indireto, como o pagamento de aluguel, por exemplo. Essa tese não
é muito aceita, inclusive porque o código não prevê a possibilidade
de convalescimento da posse usucapível.

4.2. Especiais

Só estarão presentes em algumas espécies de usucapião, basicamente, na


usucapião ordinária. Alguns autores preveem a figura dos requisitos
especialíssimos. Na usucapião ordinária, não se carece de boa-fé.

A) Justo título

É aquele título apto, em tese, a transferir a propriedade, mas que é


ineficaz. O justo título é abstratamente apto a transferir a propriedade,
mas seus efeitos translativos não são produzidos.

Se considera que um título aquisitivo é ineficaz quando a causa de


transmissão tem algum dos elementos: 1- aquisição feita a nondomino;
2- aquisição a domino, mas o transmitente não tem o direito de
transmitir a coisa; 3- erro de forma.

A aquisição a non domino é aquela em que o sujeito vende um bem que


não é dele e o comprador, agindo de boa-fé, pensa que é. Não há efeitos.

Pode haver também a aquisição a domino em que a pessoa, por algum


motivo, não pode dispor daquele bem. O transmitente não tem o direito
de dispor do bem.

O erro de forma é quando não se atende as exigências formais da


maneira correta.

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Podem ser justo título: contrato de compra e venda, contrato de


doação, legado, arrematação, adjudicação, dação em pagamento.

Só há usucapião ordinário com justo título.

B) Boa-fé

O justo título está diretamente associado à boa-fé. Na ausência de justo


título, só há boa-fé real; com o justo título, há boa-fé presumida. Boa-fé
é a ignorância do vicio que acomete sua posse.

4.3. Posse usucapível – requisitos gerais

Posse usucapível é a posse mansa e pacífica. Não pode ser violenta


(lembrando que a posse violenta pode deixar de ser violenta, passando um
ano e dia). Além disso, tem que ser pública, contínua e duradoura. É
possível interrupções no uso da posse, decorrentes de fatos da vida, como
viagens. Isso não caracteriza que deixou de exercer posse, vez que continua
exercendo atos possessórios (fechar porta, mandar alguém olhar). Mas se
há um intervalo muito grande no exercício da posse, se desconfigura a
continuidade. Em regra a posse deve ser plena, não pode ser desdobrada.
Mas, eventualmente, ceder em comodato/aluguel, pode indicar a
continuidade da posse, vez que possuidor indireto é possuidor.

Parte da doutrina alega que teria que ser possuidor direto. Mas ser
possuidor direto implica em assumir que é possível ter um possuidor
indireto. Significa dizer que na posse desdobrada, especialmente na posse
direta, não há anumus domini, porque reconhece que a posse não é com a
intenção de ser dono, porque se sabe que ela decorre de um
comodato/penhor/contrato de comodato/usufruto/etc. Automaticamente
se reconhece isso. Na posse desdobrada, de fato, não teria animus domini, o
que significa dizer que a posse não é usucapível, elemento essencial dessa
posse.

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Numa posse precária há abuso de confiança, o bem não foi restituído. Toda
posse precária em algum momento foi justa, porque aquela sessão da posse
era autorizada por direito real ou pessoal. Ela se torna injusta quando o
sujeito é provocado a restituir o bem e não o faz, abusando da confiança. Se
torna precária, e sendo precária, se torna injusta. O vício da precariedade,
em regra, é absoluto, não cessa. Logo, não há como provar que isso cessou.

Quando se opõe aos atos possessórios do possuidor indireto, para parte da


doutrina, está exercendo a posse com animus domini. Isso significaria, para
parte da doutrina com base em julgados do STJ, o que justificaria a
intervenção da posse seria a oposição, somada ao investimento no bem
(geralmente relacionado à construção) e a não oposição do outro
possuidor, que seria o indireto. Nesse caso, teria a posse que era
desdobrada, passando a ser plena. Não basta que se oponha aos atos
possessórios, ordens do possuidor. O possuidor indireto também tem que
se manter inerte.

Isso seria a ideia de posse usucapível. Ela tem que ser mansa, pacífica.p
ública, continua e duradoura. Além disso, deve ter animus domini e sem
oposição. Em outras palavras, é uma posse justa (nem violenta, nem
clandestina, nem precária). Sendo que, se a posse é injusta, a discussão é
relativa a intervenção da posse.

A discussão é se é realmente posse, e deixa de ser injusta (art. 1204). A


intervenção da posse não torna essa posse usucapível, pois se
transformaria em posse injusta. Para outra parte da doutrina, violência e
clandestinidade são sempre relativas; em relação à essa pessoa, a posse é
injusta e depois de ano e dia se torna justa e, então, usucapível. Em relação
as demais não é violência nem clandestina. Essa segunda teoria é usada
para defender o usucapião.

Esses requisitos são gerais, estão presentes em qualquer modalidade de


usucapião, e até nas espécies de cada modalidade. Além disso, existem
requisitos espeicais – boa-fé e justo título, usados para reivindicar
usucapião ordinário (quando não tem boa-fé e justo título). Pelo código,
além dos requisitos gerais, são necessários também a boa-fé e o justo título.

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5. Usucapião de bens imóveis

5.1. Modalidades

A) Extraordinária

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade,
independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que
assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro
no Cartório de Registro de Imóveis.
Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez
anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia
habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

Nessa modalidade, se ocupa uma área, e sua posse é usucapível durante


quinze anos. Não tem limite de área. Na usucapião extraordinária são
necessários apenas os requisitos gerais (capacidade de usucapir, coisa
usucapivel (coisa particular), posse em decurso do tempo), não se exige
justo título e, para a maioria da doutrina, nem da boa-fé.

Terras dominicais - deixou de usar para o fim que era próprio.

Terras devolutas - não são propriedades de ninguém, localizadas em


áreas consideradas do estado ainda que não registradas. Atualmente,
são considerados bens públicos e não usucapíveis, apesar de
suscetíveis de posse. Há inúmeros projetos para usar na reforma
agrária. Daria finalidade a uma área do Estado mesmo.

Não existe no Brasil bem público usucapível.

O prazo dos quinze anos é visto em política legislativa. Depende da


circunstancia local, geral, do momento, construção doutrinária, etc.

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Nesse caso não precisa de justo título, e para a maioria da doutrina não
precisa de boa-fé (requisito especial expressamente exigido no
usucapião ordinário).

É possível a soma de posses. Ou seja, é possível soma de posses em que


a posse é de má-fé.

Art. 1.207. O sucessor universal continua de direito a posse do seu


antecessor; e ao sucessor singular é facultado unir sua posse à do
antecessor, para os efeitos legais.

Faz poucas considerações sobre ser justa ou injusta.

Com relação ao parágrafo único, se a posse é qualificada, há uma


redução de cinco anos.

Há o elemento da boa-fé real – já se ocupava por tanto tempo que


presume-se que tem a convicção de que não haverá mais oposição à
sua posse. Para a maioria da doutrina não é preciso comprovar a boa-
fé, mas existem elementos objetivos que evidenciam que não haverá
oposição. A rigor, se o proprietário alega que o usucapiente ou a pessoa
que tinha posse anteriormente estava de má-fé, mesmo na usucapião
extraordinária, a posse é não-usucapível.

B) Ordinária

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que,


contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por
dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o
imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro
constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde
que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou
realizado investimentos de interesse social e econômico.

Prazo geral de dez anos.

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Posse qualificada – diminui o prazo em cinco anos, tanto para ordinária


quanto para extraordinária. Seria o caso de investimentos
consideráveis.

A ideia de soma de posses é importante no exame da conveniência do


usucapiente. Se tem ciência que a aquisição tinha sido feita a non
domino, e sabia que o outro não era proprietário, os dois estão de má-
fé (transmitente e adquirente). Na prática, se tem duvida que a boa-fé
vai ser provada, se argui que precisa de mais um ano para usucapir
extraordinariamente. Se tiver certeza que a má-fé não será provada
(boa-fé presumida), aplica o caminho mais seguro do usucapião
ordinário. Na usucapião ordinária a boa-fé é presumida, decorrente de
justo título.

C) Especial

Na prática, os requisitos necessários são os gerais. Não precisa de justo


título e boa-fé. Mas tem requisitos considerados extraordinários –
limitação de área, uso específico do bem, inexistência de outras
situações jurídicas reais e pessoais (não pode ser proprietário de outro
terreno), limitações a situações reais (não soma posse a não ser que
seja filho de quem faleceu).

Na usucapião especial tem exigência de requisitos gerais, mas não exige


requisitos especiais. Em compensação, tem requisitos extraordinários
exigidos, que tornam usucapião especial.

a) Rural

Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural


ou urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos,
sem oposição, área de terra em zona rural não superior a
cinqüenta hectares, tornando-a produtiva por seu trabalho ou
de sua família, tendo nela sua moradia, adquirir-lhe-á a
propriedade.

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b) Urbana

Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até
duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua
moradia ou de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde
que não seja proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos
ao homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do
estado civil.
§ 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será
reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

Se subdivide em usucapião especial urbana individual,


regulamentada no art. 183 da Constituição e no Estatuto da Cidade,
e em usucapião especial urbana coletiva, presente no Estatuto da
Cidade.

c) Especialíssima – familiar

Art. 1.240-A Aquele que exercer, por 2 (dois) anos


ininterruptamente e sem oposição, posse direta, com
exclusividade, sobre imóvel urbano de até 250m² (duzentos e
cinquenta metros quadrados) cuja propriedade divida com
ex-cônjuge ou ex-companheiro que abandonou o lar,
utilizando-o para sua moradia ou de sua família, adquirir-lhe-
á o domínio integral, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural.
§ 1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao
mesmo possuidor mais de uma vez.

5.2. Procedimento judicial

Pode decretar usucapião por procedimento judicial ou extrajudicial. No


procedimento judicial, se sofreu uma ação possessória ou reivindicatória, é

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vedada a exceção de domínio. Usucapião é uma forma de aquisição de


propriedade.

Usucapião é uma forma originária de aquisição de propriedade.

Quando se tem uma decisão declaratória somente se certifica a existência


de um direito; a decisão constitutiva é aquela que cria, modifica, extingue
ou mantém uma relação jurídica (ex: ação que apenas reconhece
paternidade); a decisão condenatória tem a condenação do réu a uma
prestação de dar, fazer ou não fazer (ex: prestação de alimentos).

Toda decisão condenatória é constitutiva. Toda decisão constitutiva é


declaratória. Mas existem decisões que são puramente declaratórias (ex:
ação que apenas certifica que um templo religioso é isento de pagamento
de IPTU).

Uma decisão judicial de usucapião é puramente declaratória. Não adquire a


propriedade com a decisão, ela apenas declara que é o proprietário. Se isso
acontecesse, a sentença deveria ser um requisito do usucapião, e não é. A
sentença que não é requisito apenas certifica. Isso significa, do ponto de
vista processual, que numa ação de usucapião a sentença servirá de título
para registrar o imóvel no cartório de registro de imóveis. Mas, é possível
alegar usucapião como matéria de defesa em ações possessórias e
reivindicatórias.

Supondo que o sujeito foi réu numa ação possessória e alegou usucapião,
que foi reconhecido pelo juiz. A sentença que julga improcedente ao
reconhecer o usucapião não serve para registrar o imóvel no cartório. O
procedimento para reconhecer a usucapião é mais bem desenhado.

Para mover uma ação de usucapião, deve desenhar a área, descreve-la bem
definidamente, dizer quem é o proprietário ou requerer a citação de quem
for, a citação dos vizinhos, confrontações, etc. É bem detalhado, ainda que o
procedimento especial não tenha sido repetido pelo novo CPC, a tendência
é que continue como era no código anterior.

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Na ação possessória ou petitória, ainda que a alegação de usucapião seja


reconhecida pelo juiz para poder julgar improcedente a ação, essa decisão
não produz efeitos em relação a terceiros, porque eles não tiveram a
oportunidade de participar do processo. Não se reconhece efeitos
absolutos para essa decisão. Logo, ela não pode ser registrada.

A discussão de usucapião no processo pode ser discutida tanto como autor,


assim como réu. Mas, como réu, não produzirá efeitos.

6. Usucapião de móveis

Apesar de institivamente parecer que existe apenas para bens imóveis, também
pode ser utilizado para bens móveis.

Já foi muito utilizado para linhas telefônicas e automóveis. Hoje em dia essa
questão do telefone não existe mais.

Há a discussão sobre usucapião de bens roubados.

7. Efeitos

É modo de adquirir a propriedade, logo, o principal será adquirir a propriedade. O


segundo efeito é a retroatividade dos efeitos. Quando adquire por usucapião os
efeitos são retroativos ao inicio da posse. Isso protege interesses de terceiros. E
também serve para desfazer negócios jurídicos realizados pelo proprietário que
perdeu a propriedade.

CASO: é possível usucapir um carro adquirido por alienação fiduciária em


garantia? E se foi um arrendamento mercantil ou lise? Se sim, qual seria a
modalidade? Comprando um carro de alguém que tinha adquirido por alienação
fiduciária em garantia ou arrendamento mercantil antes de terminar o pagamento,
é possível adquirir o carro por usucapião?

8. Espécies de usucapião

8.1. Ordinária

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Pressupõe boa-fé e justo título.

Art. 1.242. Adquire também a propriedade do imóvel aquele que,


contínua e incontestadamente, com justo título e boa-fé, o possuir por
dez anos.
Parágrafo único. Será de cinco anos o prazo previsto neste artigo se o
imóvel houver sido adquirido, onerosamente, com base no registro
constante do respectivo cartório, cancelada posteriormente, desde
que os possuidores nele tiverem estabelecido a sua moradia, ou
realizado investimentos de interesse social e econômico.

No caput do art. 1.242, há o prazo geral. E o prazo reduzido, de 5 anos, no


parágrafo único.

O prazo é reduzido em função da ideia de posse social (quando o bem é


utilizado para uma destinação, seja moradia ou outro fim). Além disso, o
bem foi de aquisição onerosa que foi levada a registro, que foi cancelado
posteriormente – ou seja, conseguiria ter chegado até o último estágio, não
apenas porta o justo título).

Art. 1.260. Aquele que possuir coisa móvel como sua, contínua e
incontestadamente durante três anos, com justo título e boa-fé,
adquirir-lhe-á a propriedade.

O art. 1.260 regra a questão para bens móveis. O prazo é de três anos.

8.2. Extraordinária

Art. 1.238. Aquele que, por quinze anos, sem interrupção, nem
oposição, possuir como seu um imóvel, adquire-lhe a propriedade,
independentemente de título e boa-fé; podendo requerer ao juiz que
assim o declare por sentença, a qual servirá de título para o registro
no Cartório de Registro de Imóveis.

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Parágrafo único. O prazo estabelecido neste artigo reduzir-se-á a dez


anos se o possuidor houver estabelecido no imóvel a sua moradia
habitual, ou nele realizado obras ou serviços de caráter produtivo.

Aqui a pessoa pode estar de má-fé, para a maioria dos autores. Seria o
reconhecimento de uma boa-fé real.

O prazo é de quinze anos. Também pode haver uma redução para dez anos,
se a posse tiver um uso social. Essa qualificação surge com residência,
investimentos econômicos, etc.

Art. 1.261. Se a posse da coisa móvel se prolongar por cinco anos,


produzirá usucapião, independentemente de título ou boa-fé.

Quanto aos móveis, o prazo é de cinco anos.

8.3. Especial

Atentar que, aqui, os requisitos especiais não estão presentes. O que


existem são requisitos chamados de especialíssimos ou extraordinários. Ou
seja, aqueles que tem qualificação como posse social.

A) Urbana (pró-misero)

O prazo é de cinco anos e a posse tem que ser qualificada ou social. Não
será para fins de subsistência, mas para moradia pessoal ou da família.
Além disso, não pode se proprietário de nenhum outro imóvel urbano
ou rural.

A questão dos limites de propriedade varia com a modalidade


individual ou coletiva.

Esse tipo de ação só pode ser ajuizado uma vez. Entende-se que já se
saiu da situação de miserabilidade, logo, não pode ser manejada. As
outras espécies podem ser manejadas. Isso não é dito expressamente
para usucapião rural, mas fica subentendido.

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
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O termo grileiro surge de documentos fabricados que nunca existiam,


que eram colocados numa caixa com grilos para dar a impressão de ser
um documento antigo, utilizados para aquisição de terra. É ilegal
(fraude de documento).

 Individual

Art. 1.240. Aquele que possuir, como sua, área urbana de até duzentos
e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos ininterruptamente e
sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja proprietário de outro
imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao
homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º O direito previsto no parágrafo antecedente não será
reconhecido ao mesmo possuidor mais de uma vez.

CF, Art. 183. Aquele que possuir como sua área urbana de até
duzentos e cinqüenta metros quadrados, por cinco anos,
ininterruptamente e sem oposição, utilizando-a para sua moradia ou
de sua família, adquirir-lhe-á o domínio, desde que não seja
proprietário de outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O título de domínio e a concessão de uso serão conferidos ao
homem ou à mulher, ou a ambos, independentemente do estado civil.
§ 2º Esse direito não será reconhecido ao mesmo possuidor mais de
uma vez.
§ 3º Os imóveis públicos não serão adquiridos por usucapião.

Lei do Estatuto da Cidade (Lei 10.257/01), art. 9º.

O limite máximo é de 250 metros quadrados.

 Coletiva

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Não tem previsão no Código Civil nem na Constituição. Sua previsão


está no Estatuto da Cidade.

Áreas a partir de 250 metros quadrados. O que significa dizer que aqui
há um limite mínimo e não máximo. Pode ser ajuizada quando não se
consegue delimitar individualmente a área de cada ocupante. Não é
possível estabelecer as frações reais. São legitimados os próprios
possuidores ou uma associação, que aparece como um substituto
processual.

Se um dos possuidores não quiser participar, basta requere a


individual, desde que cumpra todos os requisitos.

É um instrumento de regularização fundiária.

 Familiar

Alguns autores encaram como usucapião urbana. Criação de uma


modalidade mais ampla – usucapião urbana familiar. Não pode ter esse
tipo de ação para áreas rurais, todos os requisitos da usucapião urbana
individual estão presentes.

A diferença é que há a propriedade.

Na usucapião especial urbana familiar, a pessoa vive com alguém em


razão de casamento ou união estável. União parcial de bens é o regime
mais comum – comunicabilidade de patrimônios adquiridos juntos.
Existem cônjuges ou companheiros que são meeiros (tem a meação) de
um imóvel que é de propriedade do casal. São proprietários em
condomínio, cada um tem 50%. Isso significa que na usucapião familiar
o que se quer é adquirir a outra metade. Também pode ocorrer em
união universal de bens.

Um dos cônjuges tem que ter abandonado o lar, que não é a mesma
coisa de se separar.

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Uma medida de separação de corpos é uma medida cautelar para evitar


violência antes ou dentro do divórcio. Pede para que um dos cônjuges,
em regra, o homem, saia do imóvel. Em separação de corpos não há o
abandono.

Tem a questão dos deveres do lar: assistência material e material


recíproca. O casal paga as despesas ordinárias do casal. Se continua
ajudando nessa assistência, não é abandono do lar. Paga alimentos, não
é abandono do lar.

Mas, se sai de casa e deixa o outro sem assistência material


(econômica), há abandono do lar. Inexiste tutela familiar.

É por isso que se admite que o cônjuge ou companheiro que ficou


alugue o imóvel e, mesmo assim, possa se valer do usucapião. Assim é
possível, de repente, alugar um outro lugar menor e ainda ter um
dinheiro para ajudar nas despesas.

Esse imóvel tem que ser de residência do casal. Só ele é suscetível de


usucapião familiar.

O prazo é o menor da legislação civil.

Art. 1.240-A Aquele que exercer, por 2 (dois) anos ininterruptamente


e sem oposição, posse direta, com exclusividade, sobre imóvel urbano
de até 250m² (duzentos e cinquenta metros quadrados) cuja
propriedade divida com ex-cônjuge ou ex-companheiro que
abandonou o lar, utilizando-o para sua moradia ou de sua família,
adquirir-lhe-á o domínio integral, desde que não seja proprietário de
outro imóvel urbano ou rural.
§ 1º O direito previsto no caput não será reconhecido ao mesmo
possuidor mais de uma vez.

B) Rural (pró-labore)

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Mariana Gomes Barros – 2016.2

Art. 1.239. Aquele que, não sendo proprietário de imóvel rural ou


urbano, possua como sua, por cinco anos ininterruptos, sem oposição,
área de terra em zona rural não superior a cinqüenta hectares,
tornando-a produtiva por seu trabalho ou de sua família, tendo nela
sua moradia, adquirir-lhe-á a propriedade.

Antes do CC, já tinha sido previsto na CF, no art. 191. Antes da CF, já
estava prevista na Lei 6.969, da década de 70. Ou seja, desde a década
de 70 já havia previsão legal da usucapião especial rural. E, para além
da previsão legal, já havia previsão constitucional dela, porque a
usucapião especial rural foi prevista pela primeira vez na Constituição
Federal de 1934, repetida pela de 37 e 46. Não apareceu na década de
60.

Em ordem cronológica, foi prevista na CF/34, repetida na de 37 e 46.


Depois foi normatizada pela Lei 6.969. Apareceu novamente na
Constituição Federal de 1988, até que, em 2002, apareceu no Código
Civil.

Além dos requisitos gerais, é necessária a utilização do imóvel como


moradia habitual de sua família e a utilização para subsistência. A
propriedade rural deve ser utilizada para sobreviver (plantio, criação
de gado, etc).

O prazo para essa usucapião é de 5 anos. O tamanho máximo do


terreno é de 50 hectares.

Está consolidado o entendimento, por Jornadas e jurisprudência, que


não é necessário medir os hectares quando há o módulo rural superior
a isso. Módulo rural é o mínimo necessário para utilizar de forma
produtiva a propriedade rural. Já que ele varia de acordo com a
localidade, se, eventualmente, ele superar os 50 hectares, é suscetível
de usucapião rural.

Além disso, não pode ser proprietário de outro imóvel, seja em área
urbana ou rural. Ou seja, o Código, a legislação esparsa e a Constituição

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Mariana Gomes Barros – 2016.2

Federal interpretam o usucapião rural como um instrumento para se


corrigir desequilíbrios fundiários. Não é para utilizar essa modalidade
para adquirir propriedades rurais.

8.4. Indígena

Lei 6.101 (Estatuto do Índio).

O índio é considerado, em regra, incapaz. Pode ser reconhecido como capaz


se estiver integrado.

Estando ou não integrado, pode mover ação de usucapião de áreas com até
50 hectares. É uma espécie próxima da usucapião rural. Não pode requerer
sobre bens públicos e não pode requerer sobre uma área tribal (ocupada
pela tribo e que já de propriedade da tribo). Tem que ser uma área que não
é ocupada pela própria tribo ou por outra.

8.5. Administrativa

A) Programa Minha Casa, Minha Vida

Foi alterado. Antes a renda tinha que ser mais baixa para entrar no
programa. Agora a renda familiar pode ser de 10 salários mínimos.
Hoje é um programa de financiamento habitacional como qualquer
outro.

O Minha Casa, Minha Vida foi instituído pela lei 11.977. Tinha a
possibilidade de usucapir administrativamente. Tinha uma área urbana
da qual havia a legitimação da posse concedida pelo governo. Esse
imóvel tinha que estar inserido num projeto de regulamentação de
área de interesse social.

Se ficar 5 anos numa área legitimada, podia requerer


administrativamente o reconhecimento da usucapião e se tornar
proprietário.

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Não é uma ação judicial, é a conversão em cartório do que era uma


posse legitimada para uma propriedade.

B) Usucapião Administrativo geral

Previsão do Novo CPC. Extinguiu a usucapião como ação de rito


especial, e disse que é possível, em vez de mover ação judicial de
usucapião, se não quiser se valer dessa ação, mover um procedimento
administrativo de usucapião, ou seja, ir diretamente a um cartório de
registro de imóvel.

Os requisitos são delimitar a área, conflitação, etc.

A matrícula do imóvel será organizada com base nisso.

Também é preciso ter um acordo com o proprietário e confinantes.

9. Casos práticos

O principal efeito da usucapião é a aquisição da propriedade, e o segundo efeito é a


retroativadade dos efeitos. Ou seja, os efeitos são retroativos ao início de sua
posse, podendo, por exemplo, desfazer negócios jurídicos feitos pelo proprietário
enquanto o imóvel estava com a posse do usucapiente. A retroatividade desses
efeitos é essencial para que se garanta a segurança jurídica das relações travadas
com terceiros.

É possível usucapir um carro adquirido por alienação fiduciária em garantia? O


sujeito não é proprietário, tem uma propriedade resolúvel, pode usucapir? Se sim,
qual seria a modalidade cabível?

R: O indivíduo comprou o carro na concessionária mediante alienação fiduciária


em garantia. Há um contrato de compra e venda, um contrato de mútuo e a
transferência de propriedade resolúvel para o banco que lhe emprestou dinheiro.
Em regra, esse indivíduo seria o depositário, pois há um desdobramento
possessório, no caso um constituto possessório. O indivíduo que possuía em nome
próprio passa a possuir em nome alheio. Vale ressaltar que o constituto não se

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presume, deve ser previsto de forma expressa. O que ocorre aqui é uma tradição
ficta, presume que existiu a entrega da chave do carro para o banco e
posteriormente o banco devolveu a chave como depositário. Logo, o depositário
vai ser possuidor direto. Nesse caso, o indivíduo não é proprietário, mas sim
possuidor direto. Aqui não cabe usucapião pelo fato de não existir o animus
domini, o indivíduo só adquiriu aquela posse em virtude da aquiescência do
proprietário, no caso o banco. Em geral, a posse direta não é usucapível. A
propriedade é adquirida, ou seja, se resolve apenas quando todas as parcelas das
dívidas são pagas. Se o indivíduo parar de pagar a dívida, pode-se promover a
busca e apreensão do veículo, faz-se necessário para tal, ainda, a notificação do
indivíduo devedor. Nesse caso de não pagamento, a posse direta se tornou posse
precária e posse precária, via de regra, também não é usucapível.

Há quem advogue pela tese de que existe a possibilidade de usucapião de posse


precária em virtude do convalescimento desta. Se, em um contrato de 60 meses, se
pagou 12, e tem 48 meses sem pagar, ainda não é proprietário se for utilizado o art.
1.261, pois o período de usucapião extraordinário de bem móvel é de 5 anos. Tem
que definir a partir de quando a sua posse se tornou usucapível para que se inicie o
período de contagem para usucapir. Ou seja, quando alterou o ânimo daquela
posse, que, via de regra, só seria após o momento em que o indivíduo parar de
pagar e o banco não se importar com isso, não buscando o pagamento por parte do
devedor.

É de se ressaltar, ainda, que a sentença apenas é declaratória da propriedade, o


indivíduo já tem a propriedade por usucapião antes da sentença.

Se não foi uma alienação fiduciária em garantia, mas sim um leasing (“aluguel” em
inglês) ou arrendamento mercantil? O sujeito pode, nesse caso, adquirir o veículo
por usucapião? Se sim, qual a modalidade?

R: No arrendamento mercantil, há alguém que compra o carro, o banco que


diretamente compra o carro. O banco vai funcionar como uma espécie de
intermediário, como se alugasse o bem. O sujeito paga um valor residual de
garantia no início do contrato, o que é uma descaracterização do arrendamento
mercantil, haja vista que o valor residual deveria ser pago no final do contrato.

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Em tese, no arrendamento mercantil, é possível optar por, no final, não ser o


proprietário. Isso se o valor residual de garantia fosse pago no final. Mas, no Brasil,
com o pagamento desse valor no início, há uma espécie de desvirtuação desse
instituto.

Se o sujeito comprou o carro de alguém que adquiriu por alienação fiduciária em


garantia ou arrendamento mercantil, sem que este tenha terminado o pagamento
do que devia, é possível adquirir por usucapião esse veículo? Se sim, qual a
modalidade?

R: é muito comum a existência disso no interior – um individuo compra o carro por


alienação fiduciária, e depois o vende por um preço muito menor a um outro
indivíduo. Esse é chamado o carro Pokémon, pois o comprador não pagará o que
deve ao banco, nem o novo proprietário. Esse indivíduo que comprou o carro
Pokémon na mão do novo proprietário e o indivíduo que vai buscar usucapir o
veículo com a usucapião extraordinária (Art. 1.261 CC-02).

ACESSÕES

1. Introdução

Existem dois tipos de acessões: naturais e artificiais.

Arnoldo Wald, no entanto, traz uma classificação um pouco diferente. Ele diz que
existem acessões de imóveis a imóveis, de móveis a imóveis e de móveis a móveis
(comistão, adjunção...). Emanuel não concorda.

Acessão é um modo originário de aquisição da propriedade. Por isso a classificação


de Wald confunde um pouco, pois há uma confusão entre aquisição originária e
derivada da propriedade. Para Emanuel o erro reside apenas nas acessões de
móveis a móveis, por ter a comistão e adjunção, que são meios de aquisição
derivada da propriedade.

A acessão nada mais é do que o acessório se somando a coisa principal.

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Se o sujeito tem um terreno e construiu uma casa nele, a casa é coisa acessória, e é
de sua propriedade.

2. Acessões naturais

São acessões que não dependem de ação humana, apenas da natureza.

Art. 1.248. A acessão pode dar-se:


I - por formação de ilhas;
II - por aluvião;
III - por avulsão;
IV - por abandono de álveo;

Aluvião é quando há um deslocamento gradativo de porções de terra por ação das


águas de um rio.

Avulsão é quando há um deslocamento abrupto de terra, que não é,


necessariamente, gerado pela força das águas do rio.

Abandono de álveo é quando o rio seca completamente. A área que era de um rio,
deixa de ser.

3. Acessões artificiais

Art. 1.248. A acessão pode dar-se:


(...)
V - por plantações ou construções.

Essas acessões dependem da ação do homem. Há um regramento presente dos


artigos 1.253 ao 1.259.

A construção ou plantação acede à propriedade com pagamento equivalente (art.


1.253). A boa-fé gera um direito à indenização. A má-fé gera responsabilidade por
perdas e danos.

4. Acessão invertida, direito da superfície e direito de laje

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A acessão invertida é quando o dono do acessório adquire o principal (art. 1.255,


parágrafo único).

Surge um debate a respeito da diferenciação entre acessão invertida, direito de


superfície (direito real sobre coisa alheia) e direito de laje autônomo (instituído
pela medida 759/2016).

Quando se trata a laje como acessão, é um acessório. Quando tratar como direito de
superfície ou direito de laje, se permite concluir que, apesar de ser, inicialmente,
um acessório, ganha tanta importância que passa a ser principal.

Art. 1.255. Aquele que semeia, planta ou edifica em terreno alheio perde, em
proveito do proprietário, as sementes, plantas e construções; se procedeu de
boa-fé, terá direito a indenização.
Parágrafo único. Se a construção ou a plantação exceder consideravelmente
o valor do terreno, aquele que, de boa-fé, plantou ou edificou, adquirirá a
propriedade do solo, mediante pagamento da indenização fixada
judicialmente, se não houver acordo.

Em termos práticos, quando se constrói em um terreno avançado sobre o terreno


alheio, o que era apenas terreno, torna-se construção. O dono do acessório, o que
plantou em terreno alheio, adquire propriedade sobre o terreno alheio mediante
pagamento de indenização. O código não traz, explicitamente, se ele se torna dono
do terreno inteiro ou apenas da parte construída, mas a lógica é de que se adquire
toda a propriedade devendo, em caso contrário, desmembra-lo.

Art. 1.256. Se de ambas as partes houve má-fé, adquirirá o proprietário as


sementes, plantas e construções, devendo ressarcir o valor das acessões.
Parágrafo único. Presume-se má-fé no proprietário, quando o trabalho de
construção, ou lavoura, se fez em sua presença e sem impugnação sua.

Na má-fé recíproca, há uma reciprocidade de sanções que leva a compensações;


paga-se apenas o equivalente, sem perdas e danos. O que construiu sobre terreno
alheio, perde direito aos materiais.

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
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Art. 1.258. Se a construção, feita parcialmente em solo próprio, invade solo


alheio em proporção não superior à vigésima parte deste, adquire o
construtor de boa-fé a propriedade da parte do solo invadido, se o valor da
construção exceder o dessa parte, e responde por indenização que represente,
também, o valor da área perdida e a desvalorização da área remanescente.
Parágrafo único. Pagando em décuplo as perdas e danos previstos neste
artigo, o construtor de má-fé adquire a propriedade da parte do solo que
invadiu, se em proporção à vigésima parte deste e o valor da construção
exceder consideravelmente o dessa parte e não se puder demolir a porção
invasora sem grave prejuízo para a construção.

Art. 1.259. Se o construtor estiver de boa-fé, e a invasão do solo alheio exceder


a vigésima parte deste, adquire a propriedade da parte do solo invadido, e
responde por perdas e danos que abranjam o valor que a invasão acrescer à
construção, mais o da área perdida e o da desvalorização da área
remanescente; se de má-fé, é obrigado a demolir o que nele construiu,
pagando as perdas e danos apurados, que serão devidos em dobro.

O art. 1.258 traz uma especificidade maior que o art. 1.255. Há a regra dos 5%,
segundo a qual se a construção em terreno alheio não ultrapassar os 5%, adquire-
se a propriedade apenas da parte que invadiu, devendo pagar apenas o valor
correspondente à área, mais a desvalorização da área invadida, se estiver de boa-
fé. Se estiver de má-fé, primordialmente, há um dever de demolir a construção. Se o
dano for superior, deve pagar 10 vezes mais para que haja a aquisição da
propriedade.

O direito de superfície, que vem do direito romano, é o direito de plantar ou elevar,


ou o direito de sobrelevar (elevar acima do pavimento já existente). O direito de
plantar e construir no subsolo também é tratado como direito de superfície. O
direito de superfície é estabelecido com negócios jurídicos. Esse direito foi
resgatado no Código Civil de 2002.

Em 22/12/16, saiu uma medida provisória que desconfigurou a tratativa da


regulamentação fundiária, criando um novo direito real sobre coisa alheia que é o
direito de laje. Nada mais seria que o direito de superfície de sobrelevação. A partir

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
Mariana Gomes Barros – 2016.2

de então, criou-se uma confusão entre os institutos, desorganizando o direito de


superfície, que requer a análise da existência do negócio jurídico.

O enunciado do TJ-BA traz uma confusão no sentido de caracterizar o direito de


laje como direito de superfície ou acessão. Ele diz que seria uma acessão artificial,
o que gera uma inconsistência teórica. Isso porque não há como aplicar a ideia de
acessão no caso, já que o que construiu em cima, passaria a ser proprietário do
todo, ou o de baixo passaria a ser proprietário do todo. Alguém sairia perdendo.

Em suma, para o código seria um direito a superfície. Para os enunciados, seria um


direito de acessão. Para a Medida Provisória, seria um direito de superfície
específico, ou seja, um direito autônomo de laje.

AQUISIÇÃO DA PROPRIEDADE MOBILIÁRIA

1. Modos de aquisição

São formas de aquisição originária a ocupação e a usucapião. Os modos derivados


de aquisição da propriedade mobiliária são a sucessão, a tradição, a especificação,
a confusão, comistão e adjunção.

2. Ocupação

2.1. Conceito e âmbito

É a forma por excelência de aquisição, porque o sujeito se torna


proprietário de uma coisa sem dono. Para o direito romano, diz-se que a
coisa sem dono pertence a quem primeiro a tomar.

Hoje em dia, a ideia de ocupação perdeu o sentido, porque há poucas


hipóteses. Basicamente, subsiste quando se captura animais selvagens e
quando se pesca.

No caso do Brasil, desde 1850, as terras sem dono são propriedade do


Estado (as chamadas terras devolutas). Por isso, não existe usucapião de
terras devolutas. Não há ocupação para imóveis, apenas para bens móveis.

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
Mariana Gomes Barros – 2016.2

A coisa sem dono é res nullius (nunca teve dono) ou res derelictae (coisa
abandonada).

2.2. Requisitos

Quem ocupa deve ter animus domini.

No caso da coisa abandonada, reside um aspecto subjetivo – muitas vezes,


abandona-se por necessidade na intenção de recuperar posteriormente. A
intenção do agente de realmente abandonar deve ser investigada.

O terceiro requisito é a previsão legal; para que seja uma modalidade de


aquisição de propriedade, a ocupação deve ser legalmente prevista.

Nos contratos de serviço que preveem que, passado certo tempo, a coisa
será abandonada, a cláusula pode ser tornada nula em debate, porque não
se pode presumir que a coisa esteja abandonada, sem a previsão legal.

2.3. Formas

A) Propriamente dita

Há uma coisa sem dono. Seria ocupação, a partir das regras próprias,
quando se pega seres vivos não domesticados e coisas inanimadas,
inclusive aquelas arrojadas pelo mar.

B) Invenção

O Código Civil não trata mais como forma de aquisição de propriedade.


É a chamada descoberta – quando se descobre uma coisa perdida.
Nesses casos, há a obrigação de devolver, mas não se tem a obrigação
de pegar. Se houver dificuldade para guardar a coisa, a pessoa que
perdeu é obrigada a ressarcir as despesas e, além disso, tem um direito
de achabelo, o direito de ter 5% do valor da coisa que, para não ser

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
Mariana Gomes Barros – 2016.2

pago, implica a renúncia. Se o dono não for encontrado, deve haver a


entrega para a autoridade pública.

C) Achada

O código trata do achado de tesouro, que tem, como consequência, a


aquisição da propriedade. O tesouro é toda coisa oculta, cujo dono não
se tem memoria. O caso da garota de ânsio trata dessa forma de
aquisição. Quando há ciência do dono, fica-se na descoberta.

3. Sucessão

3.1. Tipos de sucessão

A sucessão pode ser causa mortis ou inter vivos.

3.2. Momento da sucessão

Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos


herdeiros legítimos e testamentários.

Para evitar que haja patrimônio vagando sem dono, em caso de morte, a
transmissão é automática. A sucessão transfere bens móveis e imóveis.

O direito à herança é tratado como bem imóvel por ficção jurídica. Antes da
partilha, é tratada como um único bem indivisível.

4. Tradição

Além do negócio jurídico, requer um ato de transmissão. Pode ser real, simbólica
ou presumida.

5. Especificação, confusão, comistão e adjunção

Aroldo Baldi e Álvaro Vilassa considera que seriam acessões.

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
Mariana Gomes Barros – 2016.2

A especificação é quando se pega matéria prima e transforma em escultura, sendo


que a matéria prima não era propriedade do escultor. Ele se torna proprietário
com o pagamento de indenização.

A confusão é a mistura de líquido com líquido, em que não se consegue diferenciar


os proprietários, criando um condomínio.

A comistão (aparece no código como comissão) é a mistura de sólidos ou secos, em


que também se gera um condomínio.

Na adjunção, há a justaposição da coisa, que não se misturam, como óleo e água.

REGISTRO

1. Introdução

É o último modo de aquisição da propriedade a ser estudado. Só se transfere a


propriedade de um bem com a tradição. O registro trata-se de uma tradição solene.
Refere-se ao registro de bens imóveis. É o modo de conferir publicidade à
alienação de um bem imóvel.

Quando se passa a propriedade de um bem móvel, essa ideia de tradição é o


simples ato de transferir. A publicidade já é conferida; se o sujeito reter, fica a ideia
de que ainda é proprietário ou, ao menos, possuidor.

As finalidades do registro são duas – conferir publicidade ao ato de transferência e


para que se consiga dar característica probatória para a transferência da
propriedade.

Art. 1.245. Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o registro do


título translativo no Registro de Imóveis.
§ 1º Enquanto não se registrar o título translativo, o alienante continua a ser
havido como dono do imóvel.
§ 2º Enquanto não se promover, por meio de ação própria, a decretação de
invalidade do registro, e o respectivo cancelamento, o adquirente continua a
ser havido como dono do imóvel. (Princípio da Presunção)

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
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Art. 1.247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado


reclamar que se retifique ou anule.
Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o
imóvel, independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.

O registro é necessário quando transferido entre vivos. É a consolidação do título


translativo da propriedade. Enquanto não tiver esse título, o alienante permanece
como dono; não há mudança da propriedade. Enquanto não se promover por meio
de ação própria a revogação do registro ou a sua anulação, aquele que comprou
figura como dono.

Prenotação é feita na escritura pública, para que depois seja feito o registro. A
prenotação anterior ao registro de terceiro é a que vale. Ou seja, se prenotado, um
terceiro que efetuar o registro não se tornará dono.

Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel, independente da


boa-fé do comprador.

2. Princípios

2.1. Publicidade

Como uma das finalidades, será também um princípio.

2.2. Força probante (presunção)

Como a segunda finalidade, de conferir força probatória, esse também será


um princípio.

Também pode chamado de princípio da presunção, porque é possível que


se tenha um registro, mas que este seja feito mediante um ato jurídico nulo.
Ser considerado dono depende da validade do título translativo. Presume-
se que ele é válido.

2.3. Territorialidade

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
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O registro deve ser feito no cartório da localidade do imóvel.

Ver: Lei de Registros Públicos (Lei 6.015) – regulamenta todos os atos


praticados em cartórios e outras serventias extrajudiciais no Brasil.

2.4. Continuidade

Os atos de registro seguem uma continuidade.

2.5. Prioridade

Art. 1.417. Mediante promessa de compra e venda, em que se não


pactuou arrependimento, celebrada por instrumento público ou
particular, e registrada no Cartório de Registro de Imóveis, adquire o
promitente comprador direito real à aquisição do imóvel.

Art. 1.418. O promitente comprador, titular de direito real, pode


exigir do promitente vendedor, ou de terceiros, a quem os direitos
deste forem cedidos, a outorga da escritura definitiva de compra e
venda, conforme o disposto no instrumento preliminar; e, se houver
recusa, requerer ao juiz a adjudicação do imóvel.

Há o direito do promitente comprador (direito sobre coisa alheia) – é a


pessoa que se encontra no estágio da promessa de compra e venda. Se pega
a promessa de compra e venda e coloca na matrícula do imóvel. Logo,
qualquer segundo promitente comprador, ao consultar a matrícula, verá
que há um contrato de um promitente comprador existente. Aquilo se
torna público.

Se esse contrato e essa cláusula de irrevogabilidade não existirem e


tentarem vender, no estágio de uma escritura pública/contrato particular,
o dono será quem registrar primeiro.

Art. 1.246. O registro é eficaz desde o momento em que se apresentar


o título ao oficial do registro, e este o prenotar no protocolo.

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
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3. Matrícula, registro e averbação

A matrícula do imóvel é a identificação desse imóvel. Nela se faz toda a


identificação do imóvel. É como se fosse o primeiro registro do imóvel. Após a
matrícula, se faz o registro ou averbação.

Se ele tem valor superior a 30 salários mínimos, para que se proceda com o
registro, o contrato deve estar em forma pública, ou seja, por meio de escritura
pública. Se o valor é inferior, no entanto, é possível proceder o registro por
contrato particular.

Averbação é quando se põe alguma cláusula específica na matrícula do imóvel. Por


exemplo, uma eventual cláusula da manutenção da locação em caso de venda ,
seria prevista no contrato de locação e averbada na matrícula do imóvel. Isso a
torna válida.

A promessa de compra e venda deve ser registrada no cartório na matrícula do


imóvel.

Se o imóvel foi vendido, faz-se o registro. Outros atos são realizados por averbação.

Existe jurisprudência que aceita a manutenção da cláusula sem averbação. Isso é


um equívoco, porque o inquilino fica numa situação de insegurança, assim como o
comprador, porque a cláusula não foi tornada pública. Não teria, portanto,
obrigação de saberem de sua existência.

PERDA DA PROPRIEDADE

1. Noções gerais

Na perda da propriedade, há algo parecido com o que havia na perda da posse.

A posse pode ser perdida em razão da alteração do ânimo, da perda da própria


coisa, ou os dois. Se o bem pereceu, se perde a posse. Da mesma forma, se perde a
propriedade. Se vender, perde a posse e a propriedade. O Código antigo

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Direitos Reais I – Prof. Emanuel Lins
Mariana Gomes Barros – 2016.2

enumerava exemplos de casos em que se perdia a posse, mas o atual não faz mais
isso.

No caso da propriedade, continuaram enumerando.

2. Modos

Art. 1.275. Além das causas consideradas neste Código, perde-se a


propriedade:
I - por alienação;
II - pela renúncia;
III - por abandono;
IV - por perecimento da coisa;
V - por desapropriação.
Parágrafo único. Nos casos dos incisos I e II, os efeitos da perda da
propriedade imóvel serão subordinados ao registro do título transmissivo ou
do ato renunciativo no Registro de Imóveis.

A alienação sempre se dá entre pessoas vivas. Para que ela signifique a perda de
propriedade para o alienante e a aquisição para o adquirente, ele precisa ser
submetido ao registro.

Da mesma forma ocorre com a renúncia. A renúncia não se presume. Em regra,


será expressa.

O abandono refere-se a bem móvel. Não pressupõe o registro, porque em tese é


feito em relação a bens móveis (bens imóveis é renúncia). Precisa comprovar que
houve o abandono para perder a propriedade; precisa provar que queria deixar de
ter o domínio.

Se a coisa pereceu, houve a perda total do bem. Logo, não é possível mais ser dono
de algo que não existe.

A desapropriação é, em regra, uma medida promovida pelo Estado. Pode ser por
interesse público (necessidade ou utilidade pública) ou por interesse social. Isso
significa que será desapropriado independente de qualquer dever do sujeito. Há

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também a desapropriação sanção, quando se é penalizado pelo descumprimento


do dever legal, que é associada a ideia de função social da propriedade.

O art. 1.228 traz uma hipótese nova de desapropriação, que é a judicial de posse
privada. Ocorre quando há um número considerável de pessoas que ocupa uma
propriedade privada, e a ocupação tem investimentos sociais relevantes. O
proprietário perde essa propriedade por desapropriação. A dúvida é se ela é paga
pelo Estado ou pelos particulares que ocupam a área; se for o segundo caso, vai ser
uma desapropriação privada, algo incomum no ordenamento.

Art. 1.276. O imóvel urbano que o proprietário abandonar, com a intenção de


não mais o conservar em seu patrimônio, e que se não encontrar na posse de
outrem, poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à
propriedade do Município ou à do Distrito Federal, se se achar nas
respectivas circunscrições.
§ 1º O imóvel situado na zona rural, abandonado nas mesmas circunstâncias,
poderá ser arrecadado, como bem vago, e passar, três anos depois, à
propriedade da União, onde quer que ele se localize.
§ 2º Presumir-se-á de modo absoluto a intenção a que se refere este artigo,
quando, cessados os atos de posse, deixar o proprietário de satisfazer os ônus
fiscais.

Há a possibilidade do imóvel ser considerado vago. Não se pode abandonar o


imóvel, ele deve ser renunciado. Se não houver renúncia ou usucapião, o imóvel
passará para o Município, para ser considerado vago (se não for posse de
ninguém).

Há outras formas de perda da propriedade que não são enunciadas, como o


usucapião, que é a aquisição para um, e a perda para outro.

FUNÇÃO SOCIAL DA PROPRIEDADE

1. Abordagem habitual e respectivas críticas

Há, primeiramente, uma questão de nomeação. Alguns autores falam da função


social da posse, e outros falam de função social da propriedade. Mas, no fundo,

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estão falando da mesma coisa. Há uma função social da coisa. Isso significa que,
apesar de já haver uma construção doutrinária significativa, não se sedimentou
algumas distinções.

A abordagem habitual, mais atual, adota um tom um pouco ufanista. Seria a de que,
a partir da Constituição de 1988, a propriedade passa a ser fonte não apenas de
direito (concepção tradicional), mas também passa a ser fonte de deveres
jurídicos. Esses deveres jurídicos podem ser em sentido amplo (decorrem da lei),
ou um dever jurídico estrito (contratual). Esse dever estrito só é autorizado
porque a lei autoriza esse negocio jurídico a formular esses deveres na sociedade.

Os autores costumam pegar a ideia de propriedade, falar sobre função social, e


depois esquecem isso. Isso talvez seja um indicativo de que algumas ideias de
função social da propriedade não foi consolidado.

Há autores que criticam a função social da propriedade como coisa de quem não
entende o que seria propriedade, sem, contudo, aprofundar. A função social da
propriedade não é localizada, nem é um conceito densificado, levando a um
discurso de esvaziamento.

A primeira crítica a abordagem ufanista da função social da propriedade é ter que


enquadra-la no modelo jurídico atual como elemento que cria deveres. Existem
outros elementos, presentes na lei, doutrina e jurisprudência, em que igualmente
se cria deveres pra o proprietário, mas que não são, necessariamente, função social
para o proprietário.

Só a partir da perspectiva do direito ambiental é que o proprietário tem obrigação


de certas coisas, como o dever de cuidar de área de preservação ambiental
existente na propriedade, por exemplo.

O dever de vizinhança como dever de abstenção, a exemplo da limitação de


pessoas na piscina, é outra situação.

A rigor a ideia de propriedade como dever absoluto que sofre limitações pontuais é
defasada há muito tempo. É possível ter, em relação a determinada coisa, mais
deveres que direitos.

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Quando se coloca na situação de direito real, se assume na condição de portador de


direitos, mas também de deveres que, muitas vezes, se sobrepõem aos direitos.

A função social da propriedade é algo essencial; mas, pode ser melhor enquadrado
teoricamente como uma das tantas fontes de deveres do sistema jurídico para
situações de propriedade ou de direito real.

2. Breve histórico

Autores como Otávio colocam que a função social da propriedade já existe, pelo
menos, desde a Constituição de 34. Quando se fala na possibilidade de reivindicar
um bem perante o poder público, significa que há uma transição entre a ideia de
modelo de propriedade. Supostamente vivemos em um modelo individualista, mas
há parte da doutrina que diz que esse modelo sofre influxos da função social da
propriedade, seria o modelo social. Mas isso leva a ideia de que não se pode mais
conceber a propriedade como dever individual, mas não se sabe o que seria o novo
modelo. A ideia de modelo social é uma negativa do modelo social – o modelo
social é um modelo não-individualista. Não se explica os impactos disso no modelo
como um todo.

Se o texto começou na Constituição de 34, isso significa que tem, pelo menos, 80
anos em que já existe, expressamente, no principal documento jurídico do
ordenamento, alguma menção a função social, mesmo que a ideia expressa não
estivesse lá. Ou seja, é impossível conceber que ninguém se atentou a isso
anteriormente em algum momento.

Quando se traça o histórico, se coloca na obrigação de pesquisar quem escreveu


sobre isso na época.

Judith Martins Costa trabalha que existem modelos – modelo costumeiro, modelo
positivo, modelos doutrinários e modelos jurídicos. A ideia é que exista uma
retroalimentação entre eles.

2.1. Modelos doutrinários

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A doutrina começou a escrever sobre o tema há, pelo menos, 100 anos. Isso
é visto com Astolfo Rezende e Teixeira de Freitas. Se existia alguém
escrevendo sobre aquilo é porque, ou já estava presente em nosso sistema,
ou já estava presente em outros sistemas e já queríamos incorporar.

2.2. Modelos jurídicos

É possível identificar modelos legais, modelos jurisprudenciais e modelos


costumeiros, e modelos doutrinários, que debatem a ideia geral de deveres
do proprietário e que, automaticamente, também debatem a ideia de
função social da coisa. A própria ideia de decisões judiciais que obrigam o
proprietário a cumprir determinadas obrigações já existe desde o Superior
Tribunal de Justiça do Império.

Assim, quando se trabalham os modelos jurídicos existe uma teoria interna


(da mais espaço para banalização da função social da propriedade – a ideia
da função social está dentro da propriedade; quem diz qual a função social
da propriedade é quem aplica essa função social; na prática não se sabe o
que é função social de fato) e uma teoria externa (pressupõe instrumentos
positivados em norma infraconstitucional que efetivem a ideia de função
social).

Orlando Gomes diz que o bem que pode ser objeto de função social é o bem
de consumo, e não o bem individual de produção. A discussão de função
social não tem relação com o socialismo.

Há quem diga que a função social só existe se tiver lei infraconstitucional


dizendo que é isso e quais os instrumentos para que ela seja cumprida.
Essa teoria se contradiz com o sistema atual. Essa ideia parte da teoria
interna – se está escrita no código e na constituição, já é suficiente. Mas a
ideia de função social não é alterada apenas com a teoria interna.

A doutrina se situa na teoria interna, mesmo que não se auto apresente


nesse sentido. A jurisprudência, por outro lado, vai num outro caminho. O
modelo jurídico se localiza na teoria externa.

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A teoria externa divide a função social da propriedade urbana da rural. É


mais visível, nos modelos legais, a função social da propriedade rural.

3. Função social da propriedade rural

A primeira ideia que vem a cabeça é da Reforma Agrária, que vem da Constituição.
A Constituição diz que se a propriedade rural não tem sua função social, ela será
redistribuída. Essa ideia já existia antes. Tem haver com parâmetros que são
estabelecidos para a ideia de função social que a Constituição, hoje, traz
expressamente (art. 191, 184). A lei 8.629 também pega os parâmetros
constitucionais e densifica. Ela diz qual a propriedade que não cumpre a função
social, ou os critérios para que se alcance a função social. Traz a ideia de
desapropriação como sanção. A ideia de desapropriação não nasce aqui, já existia a
possibilidade de desapropriar um bem por utilidade ou necessidade pública, ou
interesse social. Fala-se aqui no “interesse público” que justifique a
desapropriação. Há algo maior que o direito subjetivo. A função social traz a ideia
de que interesse público poderia ser fundamento para desapropriar,
aprofundando a ideia.

4. Função social da propriedade urbana

A Constituição diz genericamente que a função social da propriedade é aquela que


está de acordo com o plano diretor. Quem delimitou foi o Estatuto da Cidade, que
também, em algum momento, por questão de competência legislativa, foi de certa
forma genérica. O específico teria haver com o plano diretor de cada cidade.

Isso evidencia a fraqueza da teoria interna, porque requer lei para embasar a
construção da função social da propriedade.

O art. 4º do Estatuto da Cidade traz uma série de instrumentos jurídicos que são
postos como a regularização fundiária, o arcelamento e a instituição de zonas
especiais.

5. Função social da propriedade no CC

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No final das contas, analisa-se a ideia de função social da propriedade no Código


Civil a partir dos arts. 1.239 e 1.240, 1.238 e 1.242, e 1.228, § 1º ao 5º.

O problema da aplicação do instituto é que ele é dotado de cláusulas gerais. Além


disso, há uma indefinição quanto a designação de quem seria responsável pela
indenização.

DISCUTIR NA PROVA – Quais são os modelos de propriedade que se tem? Existem modelos
diferentes de propriedade ao longo da história, nos diferentes lugares do mundo, em
relação ao modelo atual, como as capitanias hereditárias. Caio Mário faz menção a
necessidade de reconceituar a propriedade. Sair do conceito de propriedade de um direito
subjetivo e individual por excelência. Otávio traz a discussão sobre a perspectiva da função
social. A premissa apresentada no texto por Otávio é que a discussão já existia, por que
estamos num estágio tão primário do debate?

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