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* ETNOGEOGRAFIAS - CONCLUSAO* PAUL CLAVAL UMA CURIOSIDADE ANTIGA MAS POUCO ESTRUTURADA NO FINAL DO ULTIMO SECULO, EM 1895, 0 BOTANICO AMERICANO HARSHBERGER COMECOU A EXPLORAR OS CONHECIMENTOS BOTANICOS DAS TRIBOS INDIGENAS E CRIOU A ETNOBOTANICA. UM POUCO MAIS TARDE, EM 1914, HENDERSON E HARRINGTON INVENTAM DA MESMA MANEIRA A ETNOZOOLOGIA. PASSA-SE A FALAR, A PARTIR DE 1944, COM CASTETTER, DE ETNOBIOLOGIA (PARA DESIGNAR, DE MANEIRA MAIS SINTETICA, AS DUAS DISCIPLINAS PRECEDENTES). Estas pesquisas no podiam deixar os ge6grafos indiferentes, Entre as fontes geralmente negligenci- adas da Escola de Berkeley, a etnobotanica é de im- portincia capital: os imensos inventarios de plantas conhecidas, a andlise minuciosa de seus variados empregos nas civilizagies indigenas, tudo isto é parte central das preocupagdes de Carl O. Sauer € de seus alunos, Os resultados que eles obtém sio muitas vezes espetaculares, como a redescoberta do papel do amaranto na alimentagdo amerindia antes do contato com os europeus,revolucionando as idéi. as que tinhamos sobre o equilibrio de seus regimes. mesmo sem criaglo de animais, eles dispunham das, proteinas de que tinham necessidade. Os gedgrafos estudam hi muito tempo a orien- tacio praticada por diferentes povos € as expres- ses verbais ou grificas feitas por cles. Conhece-se os desempenhos cartogréficos dos Inuits, ou a ca. pacidade dos Polinésios de navegarem na imensi dio do Pacifico sul sem se perder. A erudigio nos ensina sobre 0 que os arabes, os hindus, os chineses € 05 japoneses fundamentavam a representagio da terra O campo da curiosidade etnogeogréfica foi cres cendo pouco a pouco. Lendo-se os trabalhos etno- légicos, os gedgrafos descobriram a importancia das idéias que os povos primitivos tinham de seu meio ambiente, de suas estruturas sociais ou de suas rela- es com outros mundos. Os gedgrafos néo podem ignorar a andlise da topografia da aldeia Bororé que Claude Lévi-Strauss produziu ¢ interpretou. Da mesma maneira, eles sentem que a metafisica do. gon condiciona a forma geral de suas aldeias, ¢ a maneira pela qual é percebida Apés trinta anos, os trabalhos se multiplicaram se aprofundaram. O sinal de partida foi dado quan. do Xavier de Planhol (1957; 1968) mostrou 0 peso das ideologias religiosas que valorizaram um ou ou- tro género de vida, no mundo mugulmano. As ve zes 0 gedgrafo de formagio cientifica pode ficar desorientado diante de algumas organizagoes regionais do espaco. Foi o que aconteceu com Jean ESPAGO E CULTURA, LER). RIN. 7 P.69.74, JANJJUN DE 1999 [ESR Gallais no delta interior do Niger em 1967. Contu- do, 20 se familiarizar com a lingua peulh, cle com. preendeu a hierarquia dos lugares ¢ dos homens ¢ a maneira como eles organizam scus movimentos ¢ estruturam seus meios Quando, em 1987, Joél Bonnemaison se interes. sou pelas pessoas de Tanna, ele nos mostrou sua concepgio de mundo de mancira mais préxima: 0 universo das pessoas de Tanna foi primeiramente percorrido e estruturado por heréis fundadores, mais tarde transformados em pedras, as Kapiel, no tempo do sonbo. A histéria deles esté materializada pelas estradas que fazem 0 contorno da ilha. A mitologia da Arvore € da piroga (barco estreito vela utiliza- do pelos f dios da Oceania) permite compreender as rclagGes que os indigenas tecem com o meio e entre eles. Jean Delvert sempre ressaltou © papel do budis- mo no Sudeste da Asia como vefculo que influencia as mentalidades ¢ as estruturas sociais. Na Coréia, como em outros lugares, o confucionismo € respon: sdvel por parte da organizacao do espaco. O ponto de vista etnogeogratico € fecundo quan do se aplica as sociedades cuja histéria € tao rica e complexa quanto a do Japao. Augustin Berque o mostrot ao analisar alternadamente a maneira como 0s japoneses concebem seu espaco social (Vivre I Espace au Japon, 1982) de cujas natureza ¢ forgas a sociedade japonesa portadora (Le Sauvage et Artifice, lose) ou as bases da sociabilidade japonesa (Du Gest a la Cite to93), Poderiamos citar dezenas de artigos ou de obras ue nos apresentam as geografias concebidas ¢ pra- ticadas por diversos grupos. Desses estudos muitos se encontram nos paises de lingua inglesa ¢ na Ale manha. Nos parece que sao especialemente abun. TRHDH SPAcO€ CULTURA, UER), RI, N.7,P 69-74, JANJIUN DE 1990 dantes na Franga, Nao fizemos aqui uma recensio de todos eles, apenas assinalamos algumas obras importantes Entretanto, quase néo se fala de etnogeografia O termo s6 apareceu recentemente. O general Hu rault utiliza o termo etnogeografia num artigo so- bre os indios da Guiana publicado no Le Monde em 1972, Georges Condaminas 0 emprega também na sintese que ele consagra ao espago social (1980) Christian Taillard também faz referéncia num arti- go de 1981 ¢ foi nesse momento que o termo passou a ser conhecido. ‘A nogio € pouco empregada, embora seja «til para designar um campo onde as curiosidades sao numerosas, os trabalhos de valor e as orientagdes muito originais: os homens que transformam o mun- do nunca agem em fungio do que existe de fato, mas em tazio da imagem que eles tém do mundo (Boulding, 1956) POR QUE SE INTERESSAR PELAS ETNOGEOGRAFIAS — Duas séries de raz6es nos provocam maior inte- resse pelo tema das etnogeografias: 1- © mundo que nés estudamos € moldado pela agao dos ho- mens ¢ se encontra marcado por seus saberes, seus desejos ¢ suas aspiragdes. 2- A geografia que prati- camos e que acreditamos cientifica, ou seja, inde- pendente de qualquer valor particular e de toda re- feréncia étnica , nao € tao universal quanto nés ima- ginamos 1, UMA MEDIDA INDISPENSAVEL PARA COMPREENDER © ESPACO DOS HOMENS © mundo que os homens constroem, transfor: ‘mam ¢ organizam depende da imagem que cles tém do meio, das técnicas que permitem ter dominio sobre ele ¢ os modelos ideais que cles gostariam de impor. O mundo que os homens desenham coloca em jogo deuses, espiritos ¢ forgas césmicas: sua to: pografia mistura espagos profanos espacos sagra- dos. Daniel Dory mostrou recentemente que nio se podia compreender o habitat dos Lobis do Burkina Faso ¢ da Costa do Marfim se se ignorasse a circula- Gao, no espaco que habitam, dos espiritos malfeito: res que deveriam ser evitados. Isso explica o porqué dos zig zag dos caminhos num pais de topografia moderada. O peso que as técnicas tém na organizacéo do espaco € muito explorado. Jé o papel das utopias que guiam a agio ainda é inexpressivo. Entretanto as utopias definem as estruturas que os homens so nham e traduzem suas preferéncias por um ou outro tipo de relagio social em um ou outro ambiente Para ir fundo nas organizagaes do espago com ‘0s quais nos confrontamos é indispensdvel conside: rar trés grandes questdes: como o meio € percebido por aqueles que o habitam? Gragas a que se tem dominio sobre ele? Como concebem a ordem soci- al, as regras e normas as quais devem se conformar? 2. POR UMA CONCEPCAO MAIS CRTICA DA. GEOCRARIA COCIDENTAL € POR NOVOS HORIZONTES DE PESQUISA EM CEOCRAFIA HISTORICA Seré necessério sair da légica impessoal e objeti va do método cientifico habitual e explorar o uni: verso mental dos homens. Estamos certos em nio misturar & nossa conduta de individuos evoluidos tum niimero de normas implicitas? Por privilegiar muito 0 objetivo, o material, o mensurdvel, nao te- riamos nos privado de ferramentas essenciais de in- vestigagao ? ‘A vontade de s6 apoiar ages baseadas nos co- nhecimentos objetivos traduz uma ideologia. A es: colha entre 0s ocidentais de expurgar as relacdes com 0 meio de toda dimensio simbélica ou afetiva nao seria uma convengdo sobre o mundo, uma ma neira entre outras de concebé-lo? A anélise pura mente funcional que propomos das instituigées no sofre do mesmo ponto de vista redutor? O cui lado que manifestamos para conservar a natureza nio estaria contaminado por algumas con- cepges metafisicas ou religiosas? Nao teria tido hé muito tempo uma conivéncia entre ecologismo € sensibilidade protestante? A utilizagio que fazemos das nogdes objetivas ¢ neutras que produzi o mé- todo cientifico nio traduz uma vontade de desen- cantar 0 mundo que nada tem de objetivo? A tradigio ocidental nao nasceu do nada. Para compreender a histéria complicada das representa .g8cs do mundo, do meio ¢ da sociedade que cla suscitou, € importante se perguntar sobre as etno- seografias do passado, Foi o que compreendeu John K Wright hé 75 anos quando consagrou sua tese a0 Geographical Lore ofthe Time of the Crusades (1925) E esta corrente da pesquisa que € importante retomar, Ela poderi nos permitir compreender as normas que presidiram as organizacées passadas em nosso espaco. Estudar a geografia de um pais num determinado momento implica que se compreenda os principios que tinham aqueles que 0 construiram. UM QUADRO PARA © ESTUDO DAS ETNOGEOGRAFIAS Osestudos de etnogeografia so numerosos, mas falta coeréncia. O problema essencial, se se quer ampliar sua fecundidade, & favorecer as aproxima- Ges € 05 pontos de comparagio entre os pesquisa ESPAGO E CULTURA, UERJ, RN. 7, 69-74, JANJUN. DE 1999 EEO dores absorvidos nas suas culturas diferentes. Um quadro comum deveria facilitar os contatos. Nos parece que este quadro poderia se articular em duas dreas. A primeira representaria o dominio a se estudar e a segunda seria a interpretagio dos dados recolhidos. L. Os CAMPOS PARA EXPLORAR 4) As epresentagdes do mundo: Quais so as nogoes, sobre as quais se baseiam a representagio do espa ona sociedade estudada ? Os pontos cardiais? Onde passa 0 eixo do mundo? A partir de que elementos se opera a orientagio? Dispdem-se de meios de re- presentacéo cartogréfica? De que tipo? As pessoas praticam habitualmente 0 desenho? Como chamam 0s lugares ¢ como os guardam na meméria? b) As relagdes com o meio: Como as formas do rele- vo, 0 ciclo da agua, o clima, os movimentos apa- rentes do sol ¢ os ritmos das estagdes séo descri- tos € explicados? Como os homens concebem suas relagdes com seu meio? Como 0 grupo reage aos acontecimentos excepcionais, inundagées, tem pestades, tufdes, tremores de terra, erupgées vul canicas etc.? Que entidades, que divindades 0 homem vé na obra da natureza? Trata-se de po- téncias localizadas em alguns pontos, ou de for as difusas? Quais sdo os recursos que os homens sabem descobrir no seu meio? Como esses recur- sos so reconhecidos? Através de que sinais des cobrem esses recursos na vegetagio, no solo, no sub-solo ou nas éguas? Em que condig&es podem se apropriar? Qual € a parte dos rituais ¢ a das receitas técnicas valorizadas da natureza? Qual é a estrutura ontolégica da natureza selvagem , da natureza humanizada ¢ da natureza artificializa da que é a cidade? THREEA] Fsraco CULTURA, UER, RIN. 7,».69.74, JAN.JUN, DE 1999 c) O homem ¢ a vida social: Como o individuo é concebido? Trata-se de uma pessoa, ou seja, de uma entidade auténoma e responsdvel por seus atos? O homem é movido por forgas externas? A expressio de um grupo € tao permanente que, sem ela, 0 ho: mem nio existiria? Onde termina o circulo daque- les que sio considerados como préximos? Ou da- queles com os quais € legitimo entrar em relagdo? E 0 dos estrangeitos que terdo de ser evitados? Qual a fronteira dos inimigos? Sobre o que se basciam as identidades coletivas? Elas se ligam diretamente ou indiretamente ao territério? Ou estariam ligados & descendéncia? Oud prética de alguns ritos religio- sos? Ou a alguns cédigos sociais? Qual € © lugar para o piblico € o privado? Existem cultos ¢ formas de sacralizacao ligadas a cada um destes tipos de espago? Quais sao os status sociais reconhecidos, 08 espagos que Ihe sio associados, aqueles que sio neutros, sem valor, ¢ aqueles que sio especializados € constituem os dominios reservados a um ou outro aspecto da vida social? Quais so os elementos va- lorizados do habitat, dos espacos pablicos, dos es pagos do trabalho? A sociedade é concebida segun. do um modelo hierérquico; essa hierarquia possui uma tradugio espacial? A sociedade se exprime por segregacées ou pela articulagio do espaco em ele- mentos de status desiguais? Ou ainda pelo estilo ea importincia da residéncia? 2. PRINCIPIOS DE INTERPRETAGAO. Uma vez pronto 0 quadro de andlise, convém interpretar os resultados. A dificuldade esté em co. ordenar as observagSes que pertencem aparentemen. tea ordens diferentes. O método etnogeogréfico reconstitui primeira mente a percepgao que os homens tém do mundo, aprofunda aquilo que pode explorar ¢ para nos va- lores que norteiam sua ago. © espaco que mode- am reflete em parte estes dados simples. Mas € pre- ciso preservar-se da ingenuidade. As convicsBes, os valores ¢ as aspiracdes habitualmente néo se tradu zem diretamente no espago: isto € verdade para os paises desenvolvides como também para as socie~ dades tradicionais. A vida social coloca em funcio- namento mecanismos, como por exemplo os de mercado, que fazem desaparecer muitos sonhos. Mas mesmo o mercado implica regras que se diferenci- am de uma cultura para outra, Portanto, muitas, vezes, 0s modelos imaginados pelos homens aca- bam por se traduzirem na realidade de maneira deturpada. O espago é muito mais modificado pelos princfpios que as pessoas respeitam nos seus comportamentos, pelo fundamento que dio 3 sua sociabilidade, do que pelas crengas € utopias que dizem ter. Grande nimero de representagies $30 imaginadas para justificar o real, confortar o funci- ‘onamento da sociedade, reproduzir suas desigual- dades ¢ salvaguardar os privilégios daqueles que a dominam, Como explorar estes problemas? Quais sio os fatores que ligam os elementos da cultura? Quais so 0s principios que estruturam 0 espago € sobre péem ao caos original uma ordem inteligivel? Para colocé-los em evidéncia, nao ha outra possibilida. de senio a de refletir sobre os motivos mais profun- dos ¢ sobre as crengas mais sélidas: os geégrafos encontram nesta busca todos aqueles que se inte: ressam pela histéria e pela natureza das culturas. a) Convém se interrogar sobre as forcas que as pessoas vém na obra do Cosmos, da natureza, ¢ da sociedade. Elas admitem um principio comum? E esse principio divino? Ou metafisico? Ou fisico? Ou se trata de uma forga vital Esse princfpio € access vel & razéo experimental? b) Qual é a topologia das forgas na obra no Cosmos, no mundo € na sociedade? Essas forgas sto imanentes ou transcedentes? © homem tem dom‘ nio sobre elas? Seria o homem joguete e instrumen: to dessas forgas? ©) Como a diferenciacao das foreas transceden. tes ou imanentes se traduz no espago? Nés a lemos 1a oposigdo entre éreas profanas ¢ lugares onde aflo- ra 0 sagrado? ‘Nos parece impossivel evitar um aprofundamento na ontologia espacial para podermos compreender ‘as concepgdes imaginadas pelos grupos humanos sobre 0 universo distante € sobre o meio mais pré- ximo, Isto no se constitui numa especulagio gra- tuita dos fildsofos. Somente ela permite compreen. der os méveis de determinada sociedade Um exemplo? Sobre 0 que repousa a sociedade americana? Aparentemente sobre suas grandes em- presas, sobre 0 conjunto das burocracias publica ‘ou privadas que the permitiram dominar um grande espago e, em seguida, estender seu campo de influ. éncia sobre toda a terra. Mas entao como explicar a anarquia reinante nesta grande sociedade e o clima de desordem que foi 0 do Far West e que se renova constantemente? Como dar conta de sua extraordi- néria plasticidade e da sua capacidade em romper com os quadros existentes? Como explicar sua ati- tude em dividir sempre sobre novas bases sem trau ‘matismos aparentes? O que coloca sobre a via de interpretagao € a curiosa miopia da sociedade americana, sua pulve risagio em grupos locais que se ignoram, Também € 0 sistema de ensino, mais preocupado em ensinar aos j6vens americanos a manejar bem as regras da ESPAGO E CULTURA, ERI, RJ, N.7, P 69.74, JAN UN. DE 1999 EEE democracia do que thes explicar a historia de seu pais ou sua geografia. A sociedade americana é fun damentalmente uma sociedade de comunidades, de Pequenos grupos, ¢ isto desde o desembarque dos Puritanos do Mayflower. Alguns dito que comuni- dades existem em todo lugar. Sim, mas a comunida- de americana é herdeira da lgreja dos Santos, cada uma das pequenas denominagies era somente para cla, a Igreja, pois Cristo disse: “Estarei entre vés desde que estejam reunidos para rezar em meu nome." Cada uma das comunidades americanas € a América, nica, E isso que permite ao pais se rein ventar constantemente e se refazer sem causar da- nos em suas bases. £ como se explica a enorme des. BIMBO ©5°8C0 € CULTURA, UERI, RJ. N. 7,» 69.74, JANJIUN. DE 1999 centralizagao de um espago voltado para grandes organizagées. A nogio de etnogeogratia € muitas vezes associ- ada as pequenas células de grupos sem hist6ria, ou as massas camponesas das civilizagées hist6ricas tra- dicionais. Iss0 nio significa nada: todas as socieda- des merecem ser estudadas na ética etnogeogréfica, porque todas refletem ao menos em parte as repre. sentagdes que seus membros compartilham. Notas * Trata-se da conclusio da coleténea Ethnogéogra Phies, organizada por Paul Claval e Singaravelou Paris: LHarmattan. 1995, p, 363-370. Tradugio de ‘Maria Licia Maia Nobrega

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