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caderno do

PROFESSOR

HISTÓRIA
ensino médio
1a SÉRIE
volume 2 - 2009
Coordenação do Desenvolvimento dos Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Conteúdos Programáticos e dos Cadernos dos Arte: Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque,
Professores Jéssica Mami Makino, Mirian Celeste Martins e
Ghisleine Trigo Silveira Sayonara Pereira

AUTORES Educação Física: Adalberto dos Santos Souza,


Carla de Meira Leite, Jocimar Daolio, Luciana
Ciências Humanas e suas Tecnologias Venâncio, Luiz Sanches Neto, Mauro Betti, Renata
Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton Elsa Stark e Sérgio Roberto Silveira
Luís Martins e Renê José Trentin Silveira LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, Alzira
Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Rodrigues,
Tadeu Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Fidalgo
Araujo, Regina Célia Bega dos Santos e Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet
Sérgio Adas Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar,
História: Paulo Miceli, Diego López Silva, José Luís Marques López Landeira e João Henrique
Governador Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Nogueira Mateos
José Serra Raquel dos Santos Funari Matemática
Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza Matemática: Nílson José Machado, Carlos
Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe, Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Pastore
Vice-Governador Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Ferreira da
Alberto Goldman Schrijnemaekers Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli
Secretário da Educação Ciências da Natureza e suas Tecnologias Caderno do Gestor
Paulo Renato Souza
Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de Felice
Secretário-Adjunto Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene Murrie
Guilherme Bueno de Camargo Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta
Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Equipe de Produção
Chefe de Gabinete Santana, Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo Coordenação Executiva: Beatriz Scavazza
Fernando Padula Venturoso Mendes da Silveira e Solange Soares
de Camargo Assessores: Alex Barros, Antonio Carlos Carvalho,
Coordenadora de Estudos e Normas Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Beatriz Blay, Eliane Yambanis, Heloisa Amaral Dias
Pedagógicas Leite, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto, de Oliveira, José Carlos Augusto, Luiza Christov,
Valéria de Souza Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida Maria Eloisa Pires Tavares, Paulo Eduardo Mendes,
Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria Paulo Roberto da Cunha, Pepita Prata, Ruy César
Coordenador de Ensino da Região Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo Pietropaolo, Solange Wagner Locatelli e Vanessa
Metropolitana da Grande São Paulo Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro, Dias Moretti
José Benedito de Oliveira Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão, Equipe Editorial
Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume
Coordenador de Ensino do Interior Coordenação Executiva: Angela Sprenger
Rubens Antonio Mandetta Física: Luis Carlos de Menezes, Sonia Salem,
Assessores: Denise Blanes e Luis Márcio Barbosa
Estevam Rouxinol, Guilherme Brockington, Ivã
Presidente da Fundação para o Gurgel, Luís Paulo de Carvalho Piassi, Marcelo de Projeto Editorial: Zuleika de Felice Murrie
Desenvolvimento da Educação – FDE Carvalho Bonetti, Maurício Pietrocola Pinto de
Edição e Produção Editorial: Conexão Editorial,
Fábio Bonini Simões de Lima Oliveira, Maxwell Roger da Purificação Siqueira e
Edições Jogo de Amarelinha, Verba Editorial e Occy
Yassuko Hosoume
Design (projeto gráfico)
Química: Denilse Morais Zambom, Fabio
Luiz de Souza, Hebe Ribeiro da Cruz Peixoto, APOIO
Isis Valença de Sousa Santos, Luciane Hiromi FDE – Fundação para o Desenvolvimento da
Akahoshi, Maria Eunice Ribeiro Marcondes, Educação
EXECUÇÃO Maria Fernanda Penteado Lamas e Yvone
Mussa Esperidião CTP, Impressão e Acabamento
Coordenação Geral Esdeva Indústria Gráfica
Maria Inês Fini
Concepção
Guiomar Namo de Mello A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais
Lino de Macedo secretarias de educação do país, desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegi-
Luis Carlos de Menezes dos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.
Maria Inês Fini * Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas no material da SEE-SP que não
Ruy Berger estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

GESTÃO
Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas
Fundação Carlos Alberto Vanzolini

Presidente do Conselho Curador: São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.


Antonio Rafael Namur Muscat S239c Caderno do professor: história, ensino médio - 1a série, volume 2 / Secretaria
da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Diego López Silva,
Presidente da Diretoria Executiva:
Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli, Raquel dos Santos Funari, Paulo
Mauro Zilbovicius
Miceli. – São Paulo : SEE, 2009.
Diretor de Gestão de Tecnologias
aplicadas à Educação: ISBN 978-85-7849-275-5
Guilherme Ary Plonski
1. História 2. Ensino Médio 3. Estudo e ensino I. Fini, Maria Inês. II. Silva,
Coordenadoras Executivas de Projetos:
Diego López. III. Silva, Glaydson José da. IV. Bugelli, Mônica Lungov. V. Funari,
Beatriz Scavazza e Angela Sprenger
Raquel dos Santos. VI. Miceli, Paulo. VII. Título.
COORDENAÇÃO TÉCNICA
CDU: 373.5:93/99
CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas
Prezado(a) professor(a),
Vinte e cinco anos depois de haver aceito o convite do nosso saudoso e querido
Governador Franco Montoro para gerir a Educação no Estado de São Paulo, nova-
mente assumo a nossa Secretaria da Educação, convocado agora pelo Governador
José Serra. Apesar da notória mudança na cor dos cabelos, que os vinte e cinco anos
não negam, o que permanece imutável é o meu entusiasmo para abraçar novamente a
causa da Educação no Estado de São Paulo. Entusiasmo alicerçado na visão de que
a Educação é o único caminho para construirmos um país melhor e mais justo, com
oportunidades para todos, e na convicção de que é possível realizar grandes mudan-
ças nesta área a partir da ação do poder público.
Nos anos 1980, o nosso maior desafio era criar oportunidades de educação para todas
as crianças. No período, tivemos de construir uma escola nova por dia, uma sala de aula
a cada três horas para dar conta da demanda. Aliás, até recentemente, todas as políticas
recomendadas para melhorar a qualidade do ensino concentravam-se nas condições de
ensino, com a expectativa de que viessem a produzir os efeitos desejados na aprendiza-
gem dos alunos. No Brasil e em São Paulo, em particular, apesar de não termos atingido
as condições ideais em relação aos meios para desenvolvermos um bom ensino, o fato é
que estamos melhor do que há dez ou doze anos em todos esses quesitos. Entretanto, os
indicadores de desempenho dos alunos não têm evoluído na mesma proporção.
O grande desafio que hoje enfrentamos é justamente esse: melhorar a qualidade de
nossa educação pública medida pelos indicadores de proficiência dos alunos. Não es-
tamos sós neste particular. A maioria dos países, inclusive os mais desenvolvidos, estão
lidando com o mesmo tipo de situação. O Presidente Barack Obama, dos Estados Uni-
dos, dedicou um dos seus primeiros discursos após a posse para destacar exatamente
esse mesmo desafio em relação à educação pública em seu país.
Melhorar esses indicadores, porém, não é tarefa de presidentes, governadores ou
secretários. É dos professores em sala de aula no trabalho diário com os seus alunos.
Este material que hoje lhe oferecemos busca ajudá-lo nesta sua missão. Foi elaborado
com a ajuda de especialistas e está organizado em bimestres. O Caderno do Professor
oferece orientação completa para o desenvolvimento das Situações de Aprendizagem
propostas para cada disciplina.
Espero que este material lhe seja útil e que você leve em consideração as orienta-
ções didático-pedagógicas aqui contidas. Estaremos atentos e prontos para esclarecer
suas dúvidas e acatar suas sugestões para melhorar a eficácia deste trabalho.
Alcançarmos melhores indicadores de qualidade em nosso ensino é uma questão
de honra para todos nós. Juntos, haveremos de conduzir nossas crianças e jovens a um
mundo de melhores oportunidades por meio da educação.

Paulo Renato Souza


Secretário da Educação do Estado de São Paulo
Sumário
São Paulo faz escola – Uma Proposta Curricular para o Estado 5
Ficha do Caderno 7
Orientação sobre os conteúdos do bimestre 8
Tema 1 – Civilização Grega: a constituição da cidadania clássica e as relações sociais
marcadas pela escravidão 10
Situação de Aprendizagem 1 – Os primeiros tempos da democracia grega e o regime
democrático ateniense na época clássica 11
Situação de Aprendizagem 2 – Os limites da democracia grega: mulheres, escravos e
estrangeiros – os excluídos do regime democrático 26
Situação de Aprendizagem 3 – Democracia e escravidão no mundo antigo e no
mundo contemporâneo 33
Tema 2 – O Império de Alexandre 38
Situação de Aprendizagem 4 – O Império de Alexandre e a fusão cultural entre
Oriente e Ocidente 38
Considerações finais 44
Bibliografia 45
SãO PAUlO FAz ESCOlA – UmA PROPOSTA
CURRICUlAR PARA O ESTAdO

Prezado(a) professor(a),

É com muita satisfação que apresento a todos a versão revista dos Cadernos
do Professor, parte integrante da Proposta Curricular de 5a a 8a séries do Ensino
Fundamental – Ciclo II e do Ensino Médio do Estado de São Paulo. Esta nova versão
também tem a sua autoria, uma vez que inclui suas sugestões e críticas, apresentadas
durante a primeira fase de implantação da proposta.

Os Cadernos foram lidos, analisados e aplicados, e a nova versão tem agora a


medida das práticas de nossas salas de aula. Sabemos que o material causou excelente
impacto na Rede Estadual de Ensino como um todo. Não houve discriminação.
Críticas e sugestões surgiram, mas em nenhum momento se considerou que os
Cadernos não deveriam ser produzidos. Ao contrário, as indicações vieram no sentido
de aperfeiçoá-los.

A Proposta Curricular não foi comunicada como dogma ou aceite sem restrição.
Foi vivida nos Cadernos do Professor e compreendida como um texto repleto de
significados, mas em construção. Isso provocou ajustes que incorporaram as práticas
e consideraram os problemas da implantação, por meio de um intenso diálogo sobre
o que estava sendo proposto.

Os Cadernos dialogaram com seu público-alvo e geraram indicações preciosas


para o processo de ensino-aprendizagem nas escolas e para a Secretaria, que gerencia
esse processo.

Esta nova versão considera o “tempo de discussão”, fundamental à implantação


da Proposta Curricular. Esse “tempo” foi compreendido como um momento único,
gerador de novos significados e de mudanças de ideias e atitudes.

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Os ajustes nos Cadernos levaram em conta o apoio a movimentos inovadores, no
contexto das escolas, apostando na possibilidade de desenvolvimento da autonomia
escolar, com indicações permanentes sobre a avaliação dos critérios de qualidade da
aprendizagem e de seus resultados.

Sempre é oportuno relembrar que os Cadernos espelharam-se, de forma objetiva, na


Proposta Curricular, referência comum a todas as escolas da Rede Estadual, revelando
uma maneira inédita de relacionar teoria e prática e integrando as disciplinas e as
séries em um projeto interdisciplinar por meio de um enfoque filosófico de Educação
que definiu conteúdos, competências e habilidades, metodologias, avaliação e recursos
didáticos.

Esta nova versão dá continuidade ao projeto político-educacional do Governo de


São Paulo, para cumprir as 10 metas do Plano Estadual de Educação, e faz parte das
ações propostas para a construção de uma escola melhor.

O uso dos Cadernos em sala de aula foi um sucesso! Estão de parabéns todos os que
acreditaram na possibilidade de mudar os rumos da escola pública, transformando-a
em um espaço, por excelência, de aprendizagem. O objetivo dos Cadernos sempre será
apoiar os professores em suas práticas de sala de aula. Posso dizer que esse objetivo
foi alcançado, porque os docentes da Rede Pública do Estado de São Paulo fizeram
dos Cadernos um instrumento pedagógico com vida e resultados.

Conto mais uma vez com o entusiasmo e a dedicação de todos os professores, para
que possamos marcar a História da Educação do Estado de São Paulo como sendo
este um período em que buscamos e conseguimos, com sucesso, reverter o estigma
que pesou sobre a escola pública nos últimos anos e oferecer educação básica de
qualidade a todas as crianças e jovens de nossa Rede. Para nós, da Secretaria, já é
possível antever esse sucesso, que também é de vocês.

Bom ano letivo de trabalho a todos!

maria Inês Fini


Coordenadora Geral
Projeto São Paulo Faz Escola

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FIChA dO CAdERnO
nome da disciplina: História

área: Ciências Humanas e suas Tecnologias

Etapa da educação básica: Ensino Médio

Série: 1a

Período letivo: 2o bimestre de 2009

Temas e conteúdos: Civilização Grega: a constituição da


cidadania clássica e as relações sociais
marcadas pela escravidão

O Império de Alexandre e a fusão cultural


entre Oriente e Ocidente

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ORIEnTAçãO SOBRE OS COnTEúdOS dO BImESTRE
Caro(a) professor(a), cidadão é algo variável no espaço e no tempo.
Essa dimensão da temática possibilita a você,
Este Caderno tem como objetivo auxiliá-lo professor, tratar de um tema tão distante, es-
no desenvolvimento de dois temas relaciona- pacial e temporalmente, como A constituição
dos ao mundo antigo, Civilização Grega – A da cidadania clássica e as relações sociais mar-
constituição da cidadania clássica e as relações cadas pela escravidão por meio do recurso de
sociais marcadas pela escravidão e O Império frequentes aproximações com a realidade dos
de Alexandre e a fusão cultural entre Oriente e alunos, chamando sua atenção não só para
Ocidente. Sugerimos uma seleção de conteúdos a importância do conhecimento ministrado,
e planos de aulas para que, a partir de suas mas também para as significações práticas
experiências docentes, desenvolvidas no con- desse conhecimento na sua própria vivência.
tato com os alunos e nos ambientes em que A exclusão social, a gestão dos regimes de-
realiza suas atividades profissionais, você pos- mocráticos e nossas práticas sociais poderão,
sa decidir sobre sua aplicação, alterando-os frequentemente, ser utilizadas como paralelos
ou adequando-os. Para cada um dos temas, é para reflexão.
proposto um conjunto de atividades, nas quais
foram priorizados aspectos representativos de No que diz respeito ao segundo tema, tam-
seu conteúdo e das discussões historiográficas bém buscamos contemplar aspectos entendi-
que, atualmente, são travadas sobre eles. dos como significativos para sua compreensão.
Um aspecto definidor do que convencio-
No primeiro tema, buscamos traçar uma nalmente designamos por cultura helenísti-
caracterização da constituição do pensamen- ca consiste no contato das culturas orientais
to democrático grego, comumente referido so- com a cultura grega. Tradicionalmente, esse
mente pelos princípios do século V ateniense. contato foi percebido por meio da prevalên-
É da Atenas desse período que advém a quase cia da cultura helênica (que teria difundido o
totalidade dos referenciais que temos acerca pensamento racional e a civilização) sobre as
da democracia e da escravidão gregas, mas demais. Procuramos apontar os limites desse
esses referenciais nos são passados como se modelo interpretativo, alinhando-nos com
tivessem existido sempre da mesma forma, ou propostas que percebem o contato entre os
seja, sem historicidade, problema para o qual povos como uma dimensão de trocas e de in-
nos voltamos, buscando ofertar uma resposta terações culturais.
que contemple um pouco da história da de-
mocracia grega, sobretudo ateniense. Assim como o tema da cidadania, O Impé-
rio de Alexandre e a fusão cultural entre Orien-
A ênfase na experiência de Atenas deve-se te e Ocidente oferece ampla gama de possíveis
ao fato de ser a cidade do mundo grego que co- paralelos e significações práticas relativos à
nheceu o maior aperfeiçoamento do regime realidade dos alunos. Pensar as interações
democrático, sistema que não se pode com- culturais, sem hierarquizações, pode consistir
preender bem se dissociado de estudos sobre a num exercício que resulte na valorização, pelo
escravidão. A cidadania, tema ligado a todas aluno, das diferenças entre as culturas e no re-
as experiências sociais, não pode ser entendida conhecimento da diversidade e complexidade
senão por uma percepção histórico-social. Ser dos grupos sociais.

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História – 1a série - Volume 2

Os temas desenvolvidos neste Caderno aqui adotadas procuram considerar o conhe-


buscam contemplar o conteúdo previsto pelas cimento prévio dos alunos em relação às te-
três competências e habilidades para a área de máticas apresentadas. Os procedimentos e as
História dos PCNs – Representação e comu- estratégias de avaliação propostos abrangem
nicação, Investigação e compreensão e Con- instâncias de pesquisa, participação e produ-
textualização sociocultural –, com a intenção ção textual, aqui entendidas como importantes
de abranger as especificidades de suas propo- formas de desenvolvimento das competências
sições. As estratégias de ensino-aprendizagem e habilidades previstas.

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TEmA 1 – CIvIlIzAçãO GREGA: A COnSTITUIçãO
dA CIdAdAnIA CláSSICA E AS RElAçõES SOCIAIS
mARCAdAS PElA ESCRAvIdãO

A história da Antiguidade Clássica (grega los quais lutavam. Pierre Vidal-Naquet (VI-
e romana), em particular, e do mundo antigo, DAL-NAQUET, 2002, p. 32), ao analisar as
de maneira geral, foi acompanhada, ao lon- tradições interpretativas da história da Grécia
go dos últimos anos, principalmente a partir na França, por exemplo, aponta a construção
do início da década de 1980, por grandes mu- de uma Grécia francesa, dizendo tratar-se não
danças ocorridas nos domínios da História. só de uma Grécia Antiga, mas também de uma
O estudo das relações entre a Antiguidade Grécia situada entre a Antiguidade e o século
e o mundo contemporâneo, entre o passado e XIX, tingida por paixões nacionalistas, mar-
o presente, na escrita da história do mundo cas do cruzamento e do diálogo entre presente
antigo, tem sido, desde então, objeto de inú- e passado. A Grécia Antiga não é a Grécia em
meros trabalhos, que têm contribuído para o si, é a Grécia representada, dada a ler, com as
desenvolvimento de uma História Antiga mais distintas influências dos valores daqueles que
problematizada. Esses trabalhos têm buscado a narraram e de seu contexto de produção.
compreender melhor as tênues relações entre
o passado estudado e o presente vivido por Tomando-se ainda a França como exem-
seus intérpretes. Em uma ampla perspectiva, plo, pode-se ver que, nas análises da produção
eles têm se pautado por uma análise na qual intelectual de historiadores da Antiguidade,
os objetos não se desvinculam de suas tradi- como Nicole Loraux e Pierre Vidal-Naquet,
ções histórico-interpretativas. Neste sentido, nos séculos XVIII e XIX, criou-se a imagem de
diferentes temas relacionados à história grega uma Atenas burguesa, preocupada com o res-
são pensados não como objetos isolados num peito à propriedade, à vida privada e à expan-
passado distante, plasmados e à espera de sua são do comércio, do trabalho e da indústria,
apreensão pelos historiadores, mas como ob- refletindo anseios e hesitações da burguesia
jetos cujas próprias análises ao longo da his- desse período, às quais não são indiferentes
tória devem ser consideradas, sobretudo pelo as leituras dos textos clássicos acerca da de-
fato de terem sido sempre influenciadas pelos mocracia grega. Essa dinâmica não é distinta
valores que lhes foram contemporâneos. A quando se considera a escravidão antiga, cujos
nossa compreensão da democracia e da escra- estudos também estiveram fortemente marca-
vidão na Grécia Antiga é fortemente influen- dos por valores contemporâneos subjacentes
ciada pelos conhecimentos que a esse respeito às suas análises. Em uma obra clássica na
produziram, por exemplo, autores dos séculos área, Escravidão antiga e ideologia moderna,
XVIII e XIX, sobretudo europeus. (1991) Moses I. Finley aborda as influências
subjacentes que se fazem presentes nos traba-
Nosso conhecimento da Antiguidade pas- lhos dos historiadores da Antiguidade sobre
sa, necessariamente, pelos embates dos revolu- a escravidão. Esse aspecto, que desenvolvere-
cionários de 1789, que instrumentalizaram os mos ao longo das Situações de Aprendizagem
estudos do mundo antigo de forma a atender apresentadas, além de propiciar aos alunos
aos diferentes interesses dos grupos políticos uma compreensão mais dinâmica da própria
envolvidos, em prol da defesa dos ideais pe- História, pode ser entendido como uma for-

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História – 1a série - Volume 2

ma de repassar-lhes aspectos importantes que maior número de fontes, é em Atenas que se


têm orientado trabalhos de diversos historia- conhece o mais expressivo aperfeiçoamento
dores contemporâneos. do regime democrático, a ponto de conside-
rarem que tratar de democracia grega signifi-
Nas Situações de Aprendizagem deste mó- ca tratar de democracia ateniense (como já se
dulo, tanto para a democracia quanto para disse, um sistema que não se pode compreen-
a escravidão gregas, a maior parte de nossos der dissociado de estudos sobre a escravidão),
exemplos será retirada da Atenas clássica, daí a ênfase que conferimos, neste Caderno, à
uma opção que necessita ser explicada. É na experiência ateniense.
estrutura política da pólis que se originaram
e se desenvolveram, no mundo grego clássico, A experiência democrática grega exerceu
os fenômenos sociais e econômicos, em sua profunda influência nas práticas políticas
quase totalidade. No que se refere à democra- modernas, sobretudo a partir dos séculos
cia e à escravidão gregas, é da Atenas clássica XVIII e XIX. Nesse domínio, a democra-
que advém a parte mais expressiva dos docu- cia grega foi instrumentalizada de diferentes
mentos de que dispomos sobre esses temas modos, ora como modelo a ser seguido, ora
(fontes literárias, epigráficas, iconográficas, como modelo a ser evitado. Pode-se dizer
arqueológicas etc.). A pólis ateniense, como que grande parte das ideias que inspiraram
afirma Moses I. Finley, em Uso e abuso da his- o nascimento e o desenvolvimento das insti-
tória (1989a. p. 24) “[...] pela primeira vez – tuições democráticas de hoje foi influenciada
ao menos na história ocidental –, apresentou por modelos gregos, sobretudo atenienses, o
a política como uma atividade humana, ele- que você poderá apresentar de maneira crí-
vando-a em seguida à mais fundamental das tica aos seus alunos por meio das atividades
atividades sociais”. Para além da existência de que propomos.

SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 1
OS PRIMEIROS TEMPOS DA DEMOCRACIA GREGA
E O REGIME DEMOCRáTICO ATENIENSE
NA ÉPOCA CLáSSICA
Esta Situação de Aprendizagem tem como Nessa caracterização, você poderá trabalhar
objetivo propor reflexões em torno de uma te- os seguintes conteúdos:
mática clássica nos estudos da história da An-
tiguidade grega: a democracia. Cientes de que f Localização geográfica da Grécia
as delimitações implicam a necessidade de es-
colhas e de que estas podem não contemplar Solicite aos alunos que observem, no Ca-
aspectos importantes para um bom entendi- derno do Aluno, o mapa do mundo grego
mento do conteúdo a ser tratado, sugerimos antigo. Nessa oportunidade, observe que di-
que, em duas ou três aulas que antecedam ferentes cidades na Antiguidade buscaram
o desenvolvimento do tema, você apresente a ampliação de seus domínios por meio de
aos alunos uma caracterização dos períodos políticas expansionistas e muitas chegaram a
da história grega anteriores à Época Clássi- formar verdadeiros impérios ou constituíram
ca (séculos V e IV a.C.). Esse procedimento áreas nas quais exerceram fortes influências.
também será útil para o desenvolvimento das Por vários motivos (dificuldades de gestão,
atividades que se seguirão. guerras etc.), esses impérios e essas áreas se

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desestruturaram. No caso da Grécia Antiga, Convém destacar que, face à inexistência
especificamente, foram criadas diferentes co- de outras obras, a Ilíada e a Odisseia (prova-
lônias ao longo do Mediterrâneo cujo controle velmente compostas no século VIII a.C., mas
foi disputado entre as próprias cidades gregas, que só conheceram forma escrita no século VI
que acabaram, posteriormente, dominadas a.C.), comumente atribuídas a Homero, consti-
pelo Império de Alexandre e pelos romanos. tuem as principais fontes de conhecimento so-
bre o período analisado. A própria natureza
f Período Pré-Homérico (anterior ao século desses textos, considerados pela tradição histo-
XII a.C.) riográfica compilações de relatos orais, auxilia
a compreensão do modo de vida grego des-
Procure enfatizar a formação do povo e das sa época. Escritos para serem recitados, e não
primeiras cidades, com o advento das ondas lidos, eles nos dão mostras das formas de or-
migratórias de povos de língua indo-europeia, ganização social, do pensamento religioso, da
provavelmente entre 2200 e 2100 a.C. vida econômica etc. Uma breve apresentação
problematizada dos argumentos centrais des-
f Período Homérico (século XII a.C. ao século sas obras pode, inclusive, despertar nos alunos
VIII a.C.) a curiosidade intelectual pelo conhecimento da
A Grécia Antiga

ARRUDA, José Jobson de A. Atlas histórico básico. São Paulo: ática, 2002. p. 8.

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História – 1a série - Volume 2

história antiga grega. Para embasar essa apre- to de trabalhadores (artesãos, médicos, poetas,
sentação, você pode consultar esses livros na etc.) que prestavam serviços às casas nobres,
biblioteca da escola, além de usar seu material camponeses e pequenos proprietários de terras
didático (a caracterização do Período Homéri- (a esse respeito ver: CARDOSO, 1990, p. 20).
co é comum na maioria dos livros didáticos), ou
mesmo consultar sites que disponibilizam gran- Já no Período Arcaico, diferentes estudos
de quantidade de excertos deles, como: apontam para a concentração de terras sob o
poder da aristocracia e a consequente redu-
– Ilíada: <http://www.ufrgs.br/proin/ ção do papel do rei, posteriormente substituído
versao_1/iliada/index.html>; por magistrados eleitos e por nobres de san-
gue. Esses nobres eram proprietários de terras
– Odisseia: <http://www.ufrgs.br/proin/ e detentores de poderes políticos e judiciários,
versao_1/odisseia/index.html>. possuindo grande prestígio num regime que
pode ser entendido como aristocrático ou oli-
f Período Arcaico (século VIII a.C. ao sécu- gárquico. Desse novo modelo organizacional
lo VI a.C.) resultou a subordinação do genos e do oikos
à comunidade. Essas importantes mudanças,
É importante destacar que foi no Período junto do significativo aumento populacional
Arcaico que ocorreram significativas mudan- observado pelos estudiosos desse período, fo-
ças na organização socioeconômica do mun- ram fundamentais para a constituição da pólis
do grego, sobretudo aquelas relacionadas à e de suas instituições na época clássica. Nas
desagregação das comunidades gentílicas. No propostas de aulas apresentadas nesta primei-
Período Homérico, o genos (família extensa, ra Situação de Aprendizagem, abordaremos
agregada em torno de um patriarca) era o núcleo aspectos relevantes para a compreensão da
em torno do qual se organizava o oikos (casa formação do pensamento democrático grego,
real ou nobre), que era composto por membros analisando seus principais fundamentos e sua
da família, agregados, escravos, bens, alimen- manifestação mais completa na Atenas do pe-
tos, etc. Fora dessa estrutura, havia um conjun- ríodo clássico.

Tempo previsto: 7 aulas.

Conteúdos e temas: história da democracia grega.

Competências e habilidades: reconhecimento do processo histórico que caracterizou a constituição das


práticas e do pensamento democrático grego; análise de mapas – Grécia Antiga e mapa-múndi; análise
de textos conceituais; formulação de conceitos.

Estratégia: aula expositiva, dinâmica de grupos, análise de textos e mapas e elaboração de glossário.

Recursos: lousa e giz.

Avaliação: pesquisa, participação e glossário.

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Sondagem e sensibilização seguintes termos que aparecem nessa Situa-
ção de Aprendizagem: Arconte, areópago,
À Grécia Antiga comumente se associa um bulé, eclésia, estratego, eupátridas, hilotas,
número muito grande de temáticas que podem hoplitas, metecos, periecos e pólis.
envolver os alunos dessa fase escolar. Falar do
surgimento das olimpíadas, do pensamento míti- Roteiro para a aplicação da
co, da crença em diferentes divindades, dos gran- Situação de Aprendizagem
des combates bélicos, como a Guerra de Troia
ou a Guerra do Peloponeso, pode constituir um A ideia contemporânea de democracia
interessante fator de sensibilização e motivação comumente associa o termo a duas esferas
em relação à importância do tema. Além disso, do universo social: a da política e a das rela-
associações não tão frequentes, com a Filosofia ções interpessoais. Na primeira, a democracia
ou o teatro, poderão também despertar-lhes o in- é entendida como o regime em que os cida-
teresse pelo conhecimento da Grécia Antiga. dãos elegem seus representantes políticos, a
democracia representativa. Nesse sentido,
No que diz respeito diretamente à te- a democracia se contraporia à autocracia, o
mática aqui proposta, apresente à classe a poder absoluto de um governante (eleito ou
seguinte questão: O que é democracia? Nas in- não). No que se refere às relações interpes-
tervenções obtidas, você possivelmente ouvi- soais, um espaço democrático, por exemplo,
rá respostas que se aproximam de expressões é entendido como aquele em que diferentes
como: “poder do povo”, “governo do povo”. posicionamentos podem ser manifestados e
Transcreva o significado da palavra na lousa, devem ser respeitados. É claro que ambas as
mesmo no caso de ela não ter sido menciona- caracterizações são superficiais, a ponto de se
da pelos alunos, explorando etimologicamen- poder apontar aspectos tidos como autocráti-
te o termo: demos = povo / kratos = força, cos em uma democracia e outros tidos como
soberania, poder. Como o objetivo proposto democráticos em uma autocracia. Contudo,
para esse momento é somente a sensibilização são esses os conhecimentos que geralmente
para a temática a ser tratada, não aprofunde se associam à ideia de democracia e que nos
muito as problematizações do conceito, vis- serão úteis como ponto de partida para as re-
to que elas serão realizadas na primeira aula flexões desta Situação de Aprendizagem.
e no decorrer desta Situação de Aprendiza-
gem. Solicite aos alunos que anotem no Ca- 1a aula
derno do Aluno uma síntese das discussões.
Aproveite o momento para propor-lhes a As reflexões realizadas na Sondagem e sen-
elaboração de um glossário, em ordem alfa- sibilização em torno da análise terminológica
bética, que os ajude a sintetizar e organizar da palavra “democracia” orientarão o desen-
os inúmeros conceitos novos que serão aqui volvimento dessa primeira aula. Ao explorar
trabalhados. No decorrer das aulas, desta- etimologicamente os termos demos e kratos,
que esses conceitos na lousa, estimulando os anotados na lousa, é importante que se ob-
alunos a formular definições objetivas dos serve que a democracia grega antiga pode ser
mesmos. Nas aulas subsequentes, pergunte se entendida como poder do demos ou gover-
pairou alguma dúvida e a solucione antes de no pelo demos, o povo. Logo, importa saber,
prosseguir. Vale lembrá-los que, além de ser para essa discussão, o que era o povo e quem
uma estratégia de estudo individual, o glos- o compunha. Em vez de ofertar, de antemão,
sário será objeto de avaliação final. Para ela- essas informações, você pode propor aos alu-
boração desse glossário sugerimos alguns dos nos que sorteiem, dentre papéis previamente

14
História – 1a série - Volume 2

dobrados, o status que representarão em uma Diante da dicotomia cidadão/não-cidadão


breve dramatização do que seria a sociedade estabelecida, problematize brevemente as ca-
ateniense do século V. Nesse contexto, ao en- tegorias apresentadas, reiterando quem era e
tender demos como os cidadãos, lembre-se de quem não era cidadão (logo, quem podia com-
que não faziam parte desse grupo mulheres, parecer nas assembleias) e quais as explica-
crianças, escravos e estrangeiros (que estavam ções sobre o porquê de assumirem esse status,
fora dos poderes decisórios da pólis), mas so- explorando, assim, os limites da democracia
mente homens nascidos em Atenas e com ida- ateniense. Por exemplo: cidadão, no século V,
de entre 14 e 16 anos. Essa é uma constatação era considerado aquele que fosse filho de pai e
importante para a compreensão da democra- mãe atenienses (homem, com mais de 16 anos),
cia grega e de seus limites; ela é o poder do e não todo habitante da cidade; as mulheres
povo ou o governo exercido por ele, mas é por cuidavam das casas e dos filhos (futuros cida-
definição excludente, o que a tornaria contrá- dãos) e participavam de rituais religiosos; os
ria aos preceitos modernos que dela temos. escravos eram, em geral, prisioneiros de guer-
ra, não sendo percebidos como seres humanos,
De posse dos papéis sorteados (não esque- mas sim como mercadorias, animais ou coisas,
ça de incluir mulheres, crianças, escravos e literalmente; os estrangeiros (metecos), a quem
estrangeiros, além de homens maiores de 16 era concedido o direito de residir em Atenas,
anos), simule a seguinte situação: Atenas vive não tinham direitos políticos na cidade.
um momento de disputa política por determi-
nada região da ática. É necessário votar, em É importante que fique claro que a exclusão
uma assembleia, se os atenienses declararão dos escravos era estrutural, ao passo que a das
guerra a essa cidade ou se insistirão na busca mulheres e dos estrangeiros pode ser entendi-
pela paz mediante negociações. Auxilie dois da como política, mas não social. Um aspec-
alunos (ou dois pequenos grupos) a preparar to a ser reforçado sobre essa discussão é que
uma breve defesa dos dois posicionamentos a cidadania não é um conceito imóvel e nem
distintos (argumentos favoráveis: necessidade uma prática que sempre existiu. No entanto,
de ampliação do território, do comércio etc.; o conceito passa por nuances distintas, seja
argumentos contrários: ausência de estratégia na história da Grécia Antiga, seja em nosso
militar ou falta de recursos bélicos, impossibi- mundo contemporâneo. Ser cidadão no Bra-
lidade de gestão após a conquista etc.). Você sil, nos Estados Unidos, em países europeus
poderá conversar separadamente com os dois ou do Oriente ou em quaisquer outras locali-
alunos ou os grupos organizados, detalhando dades tem, ainda hoje, uma significação muito
os argumentos gerais aqui sugeridos. Na se- diferente. Apresentadas essas informações, so-
quência, peça que simulem um breve debate licite aos alunos que respondam no Caderno
a partir dos argumentos apresentados. Após do Aluno quem eram os escravos e quem eram
essa etapa, proponha a votação. Ao perceber os cidadãos na Atenas do século V.
que todos (em princípio) se manifestaram fa-
voráveis ou contrários à guerra, diga que nem Delimitada a noção de demos (que variou,
todos que votaram poderiam ter votado, pois, como se poderá ver, ao longo do desenvol-
na Atenas do século V, nem todos seriam cida- vimento democrático ateniense), você pode
dãos. Caso alguém se manifeste antes do fim aproveitar essa oportunidade para enriquecer
dessa dinâmica, você pode antecipar a discus- o conhecimento de seus alunos a respeito de
são ou contornar a situação. um aspecto mais amplo e pouco considerado

15
acerca de outra conotação de demo (também ciedades ateniense e espartana. As respostas
corrente em textos gregos antigos), ligada aos poderão ser as mais variadas, desde o conheci-
pobres dentre os cidadãos (logo, à maioria). mento advindo de sua formação escolar ante-
rior até filmes e mitos, além daqueles obtidos
Observe que considerar que a maioria dos pela curiosidade intelectual dos alunos, a par-
cidadãos era composta por camponeses e ar- tir de leituras já realizadas e trabalho investi-
tesãos implica atribuição de maiores poderes gativo (seguramente, aspectos relacionados a
àqueles que, na sociedade, possuem menos re- experiências e exemplos de outras cidades gre-
cursos. Nesse sentido, os pobres teriam experi- gas serão arrolados). Você poderá anotar no
mentado (ainda que se considerem os limites quadro as características apontadas de cada
da democracia grega) um regime excepcional uma dessas sociedades, auxiliando dialogi-
de exercício de poder, não só na Antiguidade camente os alunos a expor os próprios conhe-
grega, mas na história humana, ao ser-lhes cimentos.
permitido o acesso às instâncias de participa-
ção política como cidadãos, em que poderiam Com o quadro elaborado, comente suas
decidir sobre as questões da cidade. anotações considerando sobretudo as espe-
cificidades político-sociais dos dois modelos,
Conclua a aula dizendo que se tratou de problematizando e acrescentando as informa-
uma breve introdução ao tema e que o que foi ções que julgar necessárias. O conteúdo pode-
discutido representa alguns aspectos impor- rá ser retomado e mais bem desenvolvido nas
tantes da democracia ateniense do século V etapas a seguir. Esclareça que, num primeiro
a.C. Diga aos alunos que, no próximo encon- momento, vocês analisarão o modelo demo-
tro, vocês darão início ao estudo do desenvol- crático ateniense e, posteriormente, a socie-
vimento do pensamento democrático grego, dade aristocrática espartana. Diga que tanto
sobretudo ateniense. Atenas quanto Esparta são consideradas
cidades-Estado da Antiguidade grega, daí a
2a à 7a aulas necessidade de uma reflexão a esse respeito.

O desenvolvimento, na aula anterior, da


discussão conceitual em torno do termo demo- definição de pólis
cracia pode ser entendido como introdução ao
tema, na qual não foram considerados aspectos “A cidade – pólis, em grego – é um peque-
importantes da trajetória do pensamento grego no Estado soberano que compreende uma
a esse respeito, o que será iniciado a partir deste cidade, o campo ao redor e, eventualmente,
momento. Nesse sentido, por causa da exten- alguns povoados urbanos secundários. A
são dos conteúdos a ser ministrados, não pro- cidade se define, de fato, pelo povo – demos
pomos uma distribuição dos mesmos em aulas – que a compõe: uma coletividade de indi-
específicas para que você possa organizá-los víduos submetidos aos mesmos costumes
melhor, em conformidade com o desempenho fundamentais e unidos por um culto comum
alcançado ao longo das aulas e em consonân- às mesmas divindades protetoras. Em geral,
cia com seu cronograma (estipulamos para esse uma cidade, ao formar-se, compreende várias
conteúdo o máximo de seis aulas). tribos; a tribo está dividida em diversas fra-
trias, e estas, em clãs; estes, por sua vez, com-
Inicialmente, indague aos alunos quais postos de muitas famílias no sentido estrito
conhecimentos possuem a respeito das so- do termo (pai, mãe e filhos). A cada nível,

16
História – 1a série - Volume 2

os membros desses agrupamentos acreditam bem compreendidos com o desenvolvimento


descender de um ancestral comum, e se en- dos conteúdos que se seguirão.
contram ligados por estreitos laços de soli-
dariedade. As pessoas que não fazem parte O processo de formação das cidades pode
destes grupos são estrangeiros na cidade, e ser brevemente recapitulado, lembrando que
não lhes cabe nem direito, nem proteção.” diversos grupos de pessoas, por causa da escas-
sez de terras cultiváveis e para criação, perse-
FUNARI, Pedro de Abreu. Grécia e Roma. Vida pública guições políticas, guerras, etc., partiam em busca
e vida privada. Cultura, pensamento e mitologia. Amor e de novas terras, fator importante na constitui-
sexualidade. 4. ed., 1. reimp. São Paulo: Contexto, 2007. ção de novas cidades e na expansão grega. O
p. 25. <http://www.editoracontexto.com.br> comércio marítimo, o uso da moeda e o desen-
volvimento de armas podem ser entendidos
como característicos desse processo, que limi-
tou o poder dos nobres e permitiu aos cidadãos
Especificidades das cidades-Estado uma participação mais ampla nas questões
políticas das cidades. Essas mudanças datam,
“As cidades-Estado [...] eram muito di- principalmente, dos séculos VII e VI a.C.
ferentes entre si: nas dimensões territoriais,
riquezas, em suas histórias particulares e Na sequência, você poderá desenvolver
nas diferentes soluções obtidas ao longo dos uma caracterização histórica geral do desen-
séculos para os conflitos de interesses entre volvimento do regime democrático na pólis
seus componentes. A maioria delas nunca ateniense. O conteúdo ministrado nas aulas
ultrapassou a dimensão de pequena unida- sobre os períodos históricos gregos poderá ser
de territorial, abrigando alguns milhares de recapitulado neste momento. Para essa carac-
habitantes – não mais que 5 mil, quase to- terização, você poderá contemplar os aspectos
dos envolvidos com o meio rural. Outras, de relacionados a seguir.
porte médio, chegaram a congregar 20 mil
pessoas. Algumas poucas, portos comerciais 1. Pólis ateniense (democrática)
ou centros de grandes impérios, atingiram a
dimensão de verdadeiras metrópoles, com A maior participação da população nas
mais de 100 mil habitantes – e, por vezes, questões das cidades (principalmente em
como na Roma imperial, chegaram à escala Atenas) esteve associada ao enfraquecimento
de um milhão de pessoas.” do poder dos nobres e dos grupos familiares,
em um longo processo de conflitos contínuos, o
GUARINELLO, Noberto Luiz. Cidades-Estado na que propiciou a ampliação dos direitos do de-
Antiguidade Clássica. In: PINSKY, Jaime; PINSKY, mos. É importante que seus alunos saibam que
Carla Bassanezi (Orgs.). História da cidadania. 4. ed. – houve uma trajetória percorrida pelos gregos
2. reimp. São Paulo: Contexto, 2008. p. 30. <http://www. até chegarem à democracia ateniense do século
editoracontexto.com.br>. V a.C. tal como a conhecemos. A esse respeito,
você poderá desenvolver os seguintes aspectos:

Tanto a definição de cidade-Estado quan- 1.1. Os primeiros tempos


to suas delimitações deverão ser explicadas
por você aos alunos. Lembre-os de que os as- Inicialmente, Atenas foi governada por
pectos importantes nelas contidos serão mais uma monarquia hereditária (com reis assisti-

17
dos por um conselho de anciãos), e os reis de- demos passaram a exercer forte poder político
tinham em suas mãos a autoridade religiosa, junto à aristocracia da cidade, pressionando-a
militar e judicial. em prol de maiores benefícios políticos.

Há uma transição desse primeiro momento É desse contexto que data a introdução de
para um regime aristocrático, que vai do sé- grandes reformas políticas instituídas pelos le-
culo IX ao século VI a.C., com a detenção de gisladores Drácon e Sólon – na aula que ante-
amplos poderes pelos eupátridas (nobres), “os ceder o desenvolvimento do conteúdo a seguir,
bem-nascidos”, “filhos de bons pais”. Os eu- solicite aos alunos que pesquisem e tragam
pátridas eram grandes proprietários de terras, apontado no Caderno do Aluno o significado
responsáveis pelo cultivo de cereais, criação de das palavras draconiano(a) e ostracismo. Es-
gado e produção de vinho e de azeite, princi- sas palavras são intimamente ligadas ao voca-
pais fontes de riqueza dos atenienses. bulário dos estudos sobre a democracia grega,
apresentando, contudo, um significado atual
Os reis foram substituídos por magistra- diferenciado. Sua análise, além de auxiliar na
dos, encarregados da guerra. Como cabia aos compreensão mais elaborada do processo de-
guerreiros prover seus armamentos, os eupá- mocrático ateniense, seguramente enriquecerá
tridas, em virtude de sua condição econômica o vocabulário de seus alunos. Referenciais im-
favorecida, tinham grande influência sobre o portantes do processo histórico que conduziu
controle da guerra. ao regime democrático poderão ser verifica-
dos no conteúdo a seguir, que trata das princi-
Somente aos eupátridas era reservado o pais reformas instituídas por Drácon, Sólon,
direito de participação no Areópago, coluna Psístrato e Clístenes.
na qual se reunia um conselho com os aris-
tocratas da cidade, os arcontes (magistrados, drácon (621-620 a.C.)
em número de nove, que substituíram o rei),
eleitos entre os aristocratas para exercício de O conhecimento a respeito das reformas
cargo vitalício e, posteriormente, para perío- draconianas (adjetivo que nos traz, hoje, a
dos de dez e de um ano (a esse respeito ver: ideia de rigidez) foi referenciado muito depois
CARDOSO, 1990, p. 42). O Areópago exer- da época de sua aplicação. Em síntese, pode-
cia amplas funções políticas, e seus membros -se dizer que elas tiveram por objetivo tornar
eram vitalícios. as leis públicas e aplicáveis a todos.

Além dos eupátridas, compunham o corpo Segundo a tradição que lhe sucedeu, desse
social os camponeses e os demiurgos (aqueles conhecimento se pode dizer que propunha:
que trabalhavam para o demos), que exerciam
várias funções: médicos, adivinhos, mensagei- f concessão da cidadania a todos os hoplitas
ros etc. (soldados) que pudessem, às suas próprias
custas, possuir equipagens militares. Essa
1.2. A transição democrática concessão incluía os hoplitas de origem não
nobre, que passavam a ter direito de eleger
Com a expansão de Atenas (fortalecimen- os arcontes, embora talvez não pudessem,
to de sua economia, por meio do comércio como observa Ciro Flamarion Cardoso,
com outros povos, anexação de novos domí- “[...] ingressar no Areópago” (CARDOSO,
nios etc.), os comerciantes que compunham o 1990, p. 43);

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História – 1a série - Volume 2

f obrigatoriedade de se recorrer aos tribu- Nesse contexto de crise social, Sólon foi
nais quando de contendas privadas, fixan- nomeado legislador, estabelecendo inovações
do condições para se recorrer à vingança e reformas institucionais (de caráter socioeco-
ou à conciliação; nômico) de grande importância para o pro-
f desagregação dos grupos familiares, sepa- cesso democrático ateniense. Além do fim da
rados em círculos de parentela mais ou me- escravidão por dívidas, com a interdição da
nos próximos. hipoteca pessoal, como visto no documento
citado anteriormente, você pode acrescentar
As informações contidas nos itens acima que Sólon:
devem ser colocadas na lousa, com a orien-
tação de que os alunos as copiem no caderno f repatriou atenienses pobres que tinham
para usá-las em seus estudos. sido vendidos como escravos;
f tornou público o conhecimento das leis,
O trecho IV da Constituição de Atenas, es- escrevendo-as em axones ou kyrbeis expos-
crita por Aristóteles, trata justamente das re- tos para consulta na acrópole, na ágora, no
formas draconianas. Portanto, peça aos alunos pórtico real e no Pritaneu;
que pesquisem o significado das palavras ar- f atribuiu mais poderes à Eclésia (assembleia
conte, estratego e areópago, anotando no glos- dos cidadãos);
sário indicado no Caderno do Aluno. f vinculou os direitos políticos da cidade às
fortunas (dividindo os cidadãos em gru-
Há um fragmento da Constituição de Atenas pos, de acordo com seu rendimento), e não
no Caderno do Aluno. Versões digitalizadas da mais aos laços familiares ou de sangue;
obra podem ser consultadas na internet. Uma f criou a Bulé (conselho encarregado do pre-
delas está no link “Biblioteca” do site: <www. paro de leis para serem votadas);
consciencia.org>. f reorganizou a agricultura em torno da oli-
veira e da vinha, conferindo ênfase ao co-
Sólon (592-591 a.C.) mércio do azeite;
f desenvolveu o comércio marítimo, fazen-
As reformas de Drácon privilegiaram os do frente à competição com as demais
atenienses ricos não aristocratas, deixando cidades.
de lado os camponeses pobres que compu-
nham o demos. Clientes e arrendatários dos Psístrato e a tirania (560-527 a.C.)
ricos proprietários de terras, esses campo-
neses endividavam-se a ponto de não mais No longo processo de democratização,
conseguirem pagar as dívidas contraídas, Atenas não acabou com a instauração das re-
tornando-se escravos de seus credores e po- formas de Sólon, que apaziguaram somente
dendo, inclusive, ser vendidos por eles. Essa por um tempo os conflitos sociais, visto que
condição mudou com as reformas de Sólon, não atenderam aos interesses do demos, e sim
mediante a instauração do fim da escravi- a imperativos ligados ao controle e à organi-
dão por dívidas, e poderá ser analisada por zação do Estado, à instituição da legalida-
você ao consultar a mesma fonte indicada de, na busca do que os gregos denominavam
anteriormente (A Constituição de Atenas, de eunomia ou “boa ordem”. Na continuida-
Aristóteles, Livro II). de desse processo, os gregos conheceram a

19
Wikipedia
tirania, com Psístrato e, posteriormente, duas
tentativas malsucedidas de manutenção desse
regime por parte de seus filhos. A Psístrato
atribuem-se:

f o desarmamento da população, exílio e


execução de alguns aristocratas;
f a promoção de ampla política cultural
(com artistas, poetas, escultores, festivais
etc.); Ostraka.
f a construção de templos e melhorias para a
cidade, com várias medidas de incentivo à A Clístenes são atribuídas, também, leis
agricultura, à indústria e ao comércio; sobre o ostracismo, palavra que hoje remete a
f a isenção de impostos aos pobres e o esta- afastamento, esquecimento (lembre-se de veri-
belecimento de uma política de emprésti- ficar, aqui, o resultado da pesquisa feita pelos
mos para os pequenos cultivadores; alunos relativa ao significado da palavra). O os-
f o confisco de grandes propriedades e o tracismo foi uma instituição importante para a
aumento do número de pequenos proprie- manutenção do sistema democrático. Pelo os-
tários. tracismo, em assembleia, os cidadãos podiam
votar, em cacos de cerâmica (os ostraka), os
Clístenes interesses da cidade, como o início ou suspen-
são de atividades de guerra, ou mesmo evitar
Com Clístenes, a partir de 508 a.C., pode-se a concentração de poderes em pessoas ou gru-
dizer que tem início a democracia em Atenas. pos (FUNARI, 2001, p. 35). Anualmente, os
Mesmo com o exercício da tirania de Psístrato atenienses votavam em ostraka o nome daque-
e a sua concentração de poderes, o demos con- les que desejavam afastar da vida política por
tinuou com acesso às “instituições democráti- um período de dez anos. Essas mudanças as-
cas” e elegeu, em 510, Clístenes como arconte seguraram uma integração maior do demos à
para o governo da cidade. O novo arconte pro- política da cidade.
moveu uma ampla reforma político-social em
Atenas, envolvendo: 1.3. A democracia ateniense do século v

f admissão à cidadania de estrangeiros resi- Data dos séculos V e IV a consolidação do


dentes na cidade (metecos); regime democrático ateniense, mantido sem
f divisão dos cidadãos em dez tribos e 160 di- grandes mudanças até o término da indepen-
visões administrativas, e dos demos em cir- dência grega. Após as reformas de Clístenes, a
cunscrições eleitorais (CARDOSO, 1990, p. democracia ateniense passou pela experiência
45), aumentando o número de conselheiros das guerras greco-pérsicas ou Médicas (490-
da bulé de 400 para 500 (todos escolhidos -448 a.C.), das quais Atenas saiu vencedora e
por sorteio); líder da confederação das cidades marítimas,
f direito de voto em assembleia popular (eclé- a Liga de Delos, que posteriormente rivalizou
sia) estendido a todos os cidadãos no gozo com a Liga do Peloponeso, capitaneada por
de seus direitos (para votação de diferentes Esparta. A confluência de cidades envolvidas
assuntos do interesse da cidade, tais como e a emigração contribuíram para ampliar a
guerra, paz, cassações etc.). democracia. Como observou Gustave Glotz:.

20
História – 1a série - Volume 2

nossos concidadãos, pois não nos ressenti-


“A construção de um porto e de uma ci- mos com nosso vizinho se ele age como lhe
dade no Pireu, a prosperidade do comércio e apraz, nem o olhamos com ares de repro-
da indústria, o desenvolvimento da riqueza vação que, embora inócuos, lhe causariam
mobiliária, a abundância de dinheiro, numa desgosto. Ao mesmo tempo que evitamos
palavra, tudo o que constitui a grandeza ofender os outros em nosso convívio priva-
econômica e política de Atenas, convertida do, em nossa vida pública nos afastamos da
em capital do mundo mediterrâneo, teve por ilegalidade, principalmente por causa de um
resultado diminuir o valor real do censo e temor reverente, pois somos submissos às
promover, sem esforço, os cidadãos de uma autoridades e às leis, especialmente àquelas
classe a outra. Era uma ampliação contínua promulgadas para socorrer os oprimidos e às
da democracia, um deslocamento progressi- que, embora não escritas, trazem aos trans-
vo do centro de gravidade para a massa de gressores uma desonra visível a todos.”
produtores e marinheiros.”
TUCÍDIDES. História da Guerra do Peloponeso. Tradu-
GLOTz, Gustave. A cidade antiga. 2. ed. Tradução Hen- ção Mario da Gama Kury. Brasília: Editora da Univer-
rique de Araújo Mesquita e Roberto Cortes de Lacerda. sidade de Brasília, 1982.
Rio de Janeiro: Bertand Brasil, 1988. p. 104

É no contexto de uma guerra subsequente, Imagem idealizada da democracia atenien-


a Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.), con- se, a oração fúnebre de Péricles foi pronunciada
flito entre Atenas e Esparta, que temos, pela em honra aos mortos atenienses no primeiro
escrita de Tucídides, uma definição da demo- ano da Guerra do Peloponeso, o conflito com
cracia do período feita por Péricles: Esparta. Nesse discurso, são valorizados os po-
deres da cidade, a liberdade dos cidadãos, sua
igualdade perante as leis e a proposição de Ate-
“Vivemos sob uma forma de governo que nas como modelo a ser seguido pelas demais
não se baseia nas instituições de nossos vi- cidades gregas. É importante que os alunos sai-
zinhos; ao contrário, servimos de modelo a bam que os gregos não tinham uma constitui-
alguns ao invés de imitar outros. Seu nome, ção tal qual conhecemos hoje e que democracia
como tudo depende não de poucos, mas da não tem, em nossa época, o mesmo sentido que
maioria, é democracia. Nela, enquanto no tinha na Grécia antiga; para Tucídides, pela
tocante às leis todos são iguais para a solu- boca de Péricles, o poder não incluía a maioria
ção de suas divergências privadas, quando se dos habitantes da cidade: mulheres, escravos e
trata de escolher (se é preciso distinguir em estrangeiros. Tanto na Grécia antiga, como
qualquer setor), não é o fato de pertencer a hoje, o oposto de minoria não significa totali-
uma classe, mas o mérito, que dá acesso aos dade. Nas democracias representativas de hoje,
postos mais honrosos; inversamente, a po- o poder pertence tanto às maiorias que elegem
breza não é razão para que alguém, sendo seus representantes quanto às minorias que o
capaz de prestar serviços à cidade, seja im- exercem em cargos políticos eletivos. Atribuir o
pedido de fazê-lo pela obscuridade de sua exercício do poder a um maior número pode
condição. Conduzimo-nos liberalmente em dar uma conotação um tanto perversa, atrelan-
nossa vida pública, e não observamos com do a idéia de democracia, apenas, ao poder das
uma curiosidade suspicaz a vida privada de maiorias, que exclui o que é diverso, o que é
diferente, o que destoa do homogêneo. Aqui,

21
como você percebe, surge uma oportunidade Somente os esparciatas pertenciam ao gru-
singular para tratar de questões ligadas às cha- po dos chamados iguais. Proibidos de traba-
madas minorias sociais na atualidade, tais lhar, eram sustentados pelos hilotas (o que foi
como mulheres, negros, índios, gays etc. motivo de diferentes revoltas entre eles, sendo
uma das mais conhecidas a de Messênia, no
2. Pólis espartana (militar e aristocrática) século VIII a.C.), ao passo que os esparciatas
(homens) estavam envolvidos em diferentes
No mesmo período, em Esparta, vivia-se atividades militares, fator determinante da
um regime aristocrático (“governo dos me- educação masculina do cidadão espartano
lhores”, os nobres). Para que os alunos te- desde sua infância (geralmente, a partir dos
nham outros referenciais importantes para a sete anos). Um perfil do homem espartano vi-
construção do próprio conhecimento e con- sado por essa educação pode ser trabalhado
dições de estabelecer paralelos entre os dife- por você, apontando a valorização da força
rentes regimes, apresentamos a seguir uma física e da coragem nos combates, a solidarie-
breve caracterização do modelo aristocrático dade para com os companheiros e a entrega
espartano. de sua vida, se necessário, em benefício da ci-
dade.
A pólis espartana (os lacedemônios) não
era sinônimo de conjunto de cidadãos, ao con- Essas eram as virtudes esperadas de um
trário do que ocorria em Atenas. A pólis era esparciata, e é importante que os alunos com-
composta pelos esparciatas (cidadãos), mas preendam muito bem as mesmas, visto cons-
também pelos periecos (súditos de Esparta, tituírem aspectos referenciais da formação do
não-metecos), que tinham autonomia inter- cidadão espartano. Observe que a conquista
na em suas cidades e povoados (CARDOSO, da Messênia e a transformação de sua popu-
1990, p. 50). lação em hilotas (com frequentes conflitos) é
entendida, historicamente, como fator deter-
As atividades econômicas de Esparta fica- minante na história de Esparta, visto ser uma
vam a cargo dos periecos e dos hilotas (lite- explicação possível para a grande especializa-
ralmente, aprisionados). Os hilotas não eram ção militar dos esparciatas.
escravos, porque não eram de fato proprieda-
de dos espartanos. Eles eram submetidos, mas Do ponto de vista da organização polí-
formavam uma comunidade à parte, embora tica, um documento do período clássico da
não tivessem direitos legais e pudessem ser história espartana, conhecido como Grande
mortos por qualquer espartano sem que este Rectra, nos dá uma indicação da organiza-
sofresse nenhuma punição pelo assassinato ção da “constituição” espartana e da concen-
(FUNARI, 2001, p. 28). tração de poderes:

“Depois que o povo estabelecer o santuário de zeus Silânio, distribuir-se em tribos, e tiver
estabelecido um conselho (gerúsia) de 30 [anciãos], incluindo os reis, que se reúna de estação a
estação para a festa de ápelas. Que os anciãos apresentem ou rejeitem propostas, mas que o povo
tenha a decisão final. No entanto, se o povo se manifestar de forma incorreta, que os anciãos e os
reis rejeitem [o que o povo tiver decidido].”
Grande Rectra. Apud FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Grécia e Roma. Vida pública e vida privada. Cultura, pensamento e mito-
logia. Amor e sexualidade. 4. ed. 1. reimp. São Paulo: Contexto, 2007. p. 30. <http://www.editoracontexto.com.br>.

22
História – 1a série - Volume 2

Para esclarecer a concentração de pode- f Drácon, Sólon, Psístrato, Clístenes e Pé-


res aludida no fragmento da Grande Rectra, ricles foram responsáveis por importantes
explique à classe que a gerúsia (conselho/tri- proposições, que tornaram possível a ins-
bunal supremos, literalmente conjunto de ve- tauração das instituições democráticas ate-
lhos) era composta por dois reis integrantes nienses do século V a.C., as quais tiveram
de famílias rivais da cidade e por 28 anciãos um longo percurso na história do pensa-
eleitos em assembleia (escolhidos entre os mento grego;
nobres de nascimento, com mais de 60 anos), f apesar de a democracia grega ser distinta
que exerciam o cargo de modo vitalício. À das democracias modernas, estas foram
assembleia cabia a escolha de cinco éforos, fortemente influenciadas por ela.
responsáveis pelo exercício, por um ano, de
um cargo executivo. O poder final, de fato, Finalmente, esclarecemos que toda a Situa-
como observado na transcrição do fragmen- ção de Aprendizagem foi planejada visando à
to da Grande Rectra, permanecia nas mãos interação dialógica entre você e seus alunos.
dos anciãos. Ressalte aos alunos que o regi- Mesmo que a participação da classe, mediante
me espartano também ficou conhecido, não intervenções efetivas, nem sempre se verifique,
ocasionalmente, como oligarquia (poder de você pode incitá-la estabelecendo paralelos
poucos), como se pode deduzir dos docu- constantes entre a Antiguidade e o mundo
mentos analisados. Finalmente, podemos contemporâneo.
resumir a ideia de organização sociopolítica
espartana, em termos clássicos, da seguinte Ao final do desenvolvimento desta Situa-
maneira: é dividida em esparciatas, periecos ção de Aprendizagem, agende um dia para a
e hilotas. verificação do glossário elaborado no decor-
rer dos estudos.
Esparta ficou conhecida pela rigidez de sua
educação militar, típica de uma cidade vol- Proposta de questões para avaliação
tada para a guerra, daí derivando o adjetivo
espartano, a que nos referimos quando que- 1. A democracia grega antiga é um regime
remos caracterizar a dureza de determinado em que os cidadãos exercem um papel im-
comportamento. portante, se têm acesso às assembleias. O
problema que se coloca é: Quem é cidadão
Avaliação da Situação de na pólis grega? Ao se considerar o modelo
Aprendizagem estudado, da democracia ateniense, poucos
são os cidadãos. A partir dessa constatação
Espera-se, com esta Situação de Aprendi- e à luz dos estudos realizados, desenvolva
zagem, que os alunos tenham adquirido infor- um texto sobre “Os limites da democracia
mações fundamentais para o conhecimento da ateniense”.
democracia grega, sendo capazes de associar e
relacionar aspectos básicos dos conteúdos mi- Com esta questão, espera-se que os alunos
nistrados, como: reflitam, basicamente, sobre os limites da
democracia ateniense, considerando, sobre-
f Atenas e Esparta possuíram regimes dife- tudo, seu aspecto definidor, que é a exclusão
rentes, democrático e aristocrático, respecti- de seus quadros de parcelas significativas
vamente, associando-se ao primeiro a parti- da população: escravos, mulheres, crianças
cipação crescente do “povo” e ao segundo a e estrangeiros, por exemplo. Democracia,
predominância dos aristoi (“os melhores”); em grego, é o “poder do povo”, diferencian-

23
do-se da oligarquia (“poder de poucos”) os cidadãos espartanos podiam dedicar
e da aristocracia (“poder dos melhores”). seu tempo a uma educação militarizada,
Espera-se que os alunos contemplem a no- indispensável à manutenção desse siste-
ção de “povo” para os atenienses. ma. A base dessa educação estava no con-
vívio público dos homens (cidadãos) da
2. Sobre Esparta, o estudioso Moses Finley cidade, que partilhavam de diversas ativi-
afirmou: dades comuns e obrigatórias: rígido treino
militar, policiamento dos hilotas, refeições
conjuntas, etc.

“Ser igual significava compartilhar de um 3. À luz da leitura do trecho a seguir e do


ciclo de vida comum bem definido, incluindo: conteúdo estudado sobre democracia ate-
1. uma educação comum, formal e com- niense, é correto afirmar que:
pulsória, destinada a inculcar a obediência,
a coragem, a disciplina e a habilidade militar
profissional;
[...]
2. única vocação ou profissão, a de solda-
do ou a de oficial hoplita; “Vivemos sob uma forma de governo que
3. segurança econômica e independência não se baseia nas instituições de nossos vi-
quanto às preocupações de ordem econômi- zinhos; ao contrário, servimos de modelo a
ca, sendo todos os serviços produtivos e auxi- alguns ao invés de imitar outros. Seu nome,
liares executados por duas categorias distintas como tudo depende não de poucos, mas da
de súditos, os hilotas e os periecos;
maioria, é democracia.”
4. uma vida pública [...] numa comuni-
[...]
dade totalmente composta de homens, com
o máximo de conformismo e anti-indivi- TUCIDIDES. História da Guerra do Peoloponeso. Tra-
dualismo.” dução Mario de Gama Kiery. Brasília: Editora da Uni-
versidade de Brasília, 1982.
FINLEY, M. Esparta. In: Uso e abuso da História. Tra-
dução Marylene Pinto Michael. São Paulo: Martins
Fontes, 1989. p. 179.
a) em Atenas, a maioria da população tinha
acesso às discussões acerca das questões
políticas da cidade, com direito ao exer-
Com base nessas informações, desenvolva cício do voto. Essa maioria incluía os es-
um pequeno texto que retrate as motivações trangeiros, mas excluía os escravos.
da militarização espartana, a divisão do tra-
balho na sociedade e a vida pública. b) do regime democrático ateniense esta-
vam excluídos homens e mulheres me-
Um dos fatores comumente utilizados nores de 21 anos, que só podiam votar a
para a explicação do militarismo esparta- partir dessa idade.
no liga-se à constante necessidade dos ci-
dadãos de manterem os povos conquistados c) dela estavam excluídos escravos, mu-
(convertidos em hilotas) sob seu domínio. lheres, crianças e estrangeiros, que não
Aos hilotas competia a realização de dife- tinham direito à participação política
rentes trabalhos na cidade, ao passo que para solução das questões da cidade.

24
História – 1a série - Volume 2

c) as decisões do povo eram incontestáveis.


d) garantia a todos o acesso à participação
e ao voto nas discussões relacionadas à d) as propostas em assembleias podiam
vida da cidade. ser feitas pelo povo, mas a decisão a seu
respeito cabia aos anciãos.
4. Leia o trecho a seguir:
5. De Atenas e Esparta, sucessivamente, pode-
se dizer que seus regimes políticos eram:

a) aristocrático e democrático.
“Depois que o povo estabelecer o santuá-
rio de zeus Silânio, distribuir-se em tribos, e b) tirânico e democrático.
tiver estabelecido um conselho (gerúsia) de
trinta [anciãos], incluindo os reis, que se reú- c) oligárquico e democrático.
na de estação a estação para a festa de ápelas. d) democrático/oligárquico e aristocrático.
Que os anciãos apresentem ou rejeitem pro-
postas, mas que o povo tenha a decisão final. Propostas de Situação de
No entanto, se o povo se manifestar de forma
Recuperação
incorreta, que os anciãos e os reis rejeitem [o
que o povo tiver decidido].” Depois da realização das atividades aqui
propostas (aulas, exercícios de análise de texto
FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Grécia e Roma. Vida pú- e avaliação final), você poderá identificar entre
blica e vida privada. Cultura, pensamento e mitologia.
seus alunos alguns que não tenham alcançado
Amor e sexualidade. 4. ed., 1. reimp., São Paulo: Contex-
seus objetivos, tanto no que concerne à apreen-
to, 2007. p. 30. <http://www.editoracontexto.com.br>.
são dos conteúdos quanto no desenvolvimento
das habilidades e competências contempladas.
Para esses casos, sugerimos as seguintes
Esse trecho refere-se a um documento gre- atividades:
go do século VI a.C., denominado Grande f proponha aos alunos que elaborem um
Rectra, representativo de reformas dos pri- texto que estabeleça comparação entre os
mórdios da pólis espartana. A seu respeito regimes democrático ateniense e aristocrá-
se pode afirmar que:
tico espartano;
a) o poder do povo era superior ao dos an- f solicite aos alunos que, com base na cita-
ciãos. ção a seguir, sobre democracias contem-
b) o poder dos anciãos se sobrepunha à porâneas, desenvolvam um paralelo com a
decisão do povo. democracia ateniense.

“Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igualdade perante a lei: é, em resumo,
ter direitos civis. É, também, participar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políticos.
Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem os direitos sociais, aqueles que garantem
a participação do indivíduo na riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à
saúde, a uma velhice tranquila. Exercer a cidadania plena é ter direitos civis, políticos e sociais.”
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da cidadania. 4. ed., 2. reimp., São Paulo: Contexto, 2008. p. 9.
<http://www.editoracontexto.com.br>.

25
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 2
OS LIMITES DA DEMOCRACIA GREGA:
MULHERES, ESCRAVOS E ESTRANGEIROS
OS EXCLUÍDOS DO REGIME DEMOCRáTICO

Na Situação de Aprendizagem 1, propuse- (e também da aristocracia espartana). Agora,


mos uma breve caracterização da cidadania nesta Situação de Aprendizagem, visamos a
clássica na Grécia Antiga. Insistimos, em di- uma reflexão mais detida, a partir de exem-
ferentes momentos, na exclusão de segmen- plos documentais, sobre o que denominamos
tos sociais do regime democrático ateniense limites da democracia grega.

Tempo previsto: 5 aulas.

Conteúdos e temas: os limites da democracia grega: mulheres, escravos e estrangeiros, os excluídos do


regime democrático.

Competências e habilidades: reconhecimento da exclusão social como limite da democracia ateniense.

Estratégia: aula expositiva e dinâmica de grupo.

Recursos necessários: lousa e giz.

Avaliação: pesquisa, participação e análise relacional de textos e imagem.

Sondagem e sensibilização
Esta Situação de Aprendizagem tem como estudados, possibilitará a oportunidade de que
objetivo trabalhar com as formas de exclusão estabeleçam paralelos com o mundo contem-
social da democracia ateniense. Com a dinâmi- porâneo, numa rica experiência comparativa.
ca realizada em classe na Situação de Apren- Provavelmente, escravos, mulheres, menores de
dizagem anterior, em que se propôs a votação 16 anos e estrangeiros serão lembrados como
de uma hipotética declaração de guerra, os excluídos do regime democrático ateniense.
alunos tiveram um primeiro contato com a Já em relação às sociedades contemporâneas,
temática. Neste momento, com o intuito de espera-se que associações sejam feitas a res-
aprofundar os conhecimentos referenciados, peito da exclusão social advinda da pobreza,
proponha como sensibilização o debate da o que é pertinente, visto que hoje entendemos
seguinte questão: Na Antiguidade e no mundo por democracia o direito à participação dos
contemporâneo, quem são e quais lugares ocu- cidadãos nas decisões políticas, participação
pam os excluídos do regime democrático? esta que guarda estreita relação com a cons-
cientização política, à qual, muitas vezes, se
Essa pergunta, além de dar margem para associa a instrução formal dos cidadãos para
que os alunos recapitulem os conhecimentos o exercício de uma cidadania crítica.

26
História – 1a série - Volume 2

Não deixe de explorar outras formas de desta forma, separados. Assim, as filhas casa-
exclusão social que transcendem, por vezes, das pelo pai são, pelas nuanças da lei, neces-
as barreiras impostas pelo poder aquisi- sariamente submetidas à reivindicação. A lei
tivo, como, por exemplo, a discriminação declara, explicitamente, que se pode dispor,
de “minorias” étnicas e sexuais que, histo- com liberdade, de seus bens, na ausência de
ricamente, estiveram fora dos poderes de- filhos legítimos do sexo masculino. Se há fi-
cisórios e que, hoje, apesar de “incluídas” lhas, deve dispor-se delas ao mesmo tempo.
democraticamente, ainda experimentam Para decidir-se sobre o destino das filhas,
uma forte rejeição social nas lutas pelos pode doar-se e legar-se seus bens. Não se
próprios direitos. Você pode ilustrar com pode, contudo, sem dispor as filhas legítimas,
os fatos de que as mulheres não votavam, adotar e legar nenhuma parte de seus bens.”
no Brasil, até 1932, e os negros não tinham
direito ao voto, nos Estados Unidos, até a Tradução Pedro Paulo Abreu Funari. In: _____. Anti-
década de 1960. Tanto em um país, como guidade Clássica: a história e a cultura a partir dos do-
em outro, hoje, mulheres e negros votam e cumentos. Campinas: Editora da Unicamp, 2002.
podem ser votados, mas prevalecem fortes
as discriminações de caráter sexual e étni-
co, o que contribui em ampla medida para 2a aula – mulheres
a exclusão desses grupos dos processos de-
mocráticos plenos. Nesta segunda aula, solicite aos alunos que
estabeleçam relações entre o texto de Isaios e
1a aula – mulheres a imagem do gineceu, analisando a figuração
feminina em Atenas. Se achar necessário reco-
Para o desenvolvimento dessa temática, lha essa produção para correção.
propomos o trabalho com dois documentos
antigos, relacionados à mulher grega. A suces-

© The Bridgeman Art Library/Grupo Keystone


são de Pirro, de Isaios, que reproduzimos a se-
guir, e uma imagem de um gineceu. Nessa
primeira aula, leia com os alunos o texto a ser
estudado, inicialmente enfatizando a compre-
ensão de seu vocabulário:

Fragmentos de A sucessão de Pirro, de


Isaios (360-350 a.C.) – “Estruturas fami-
liares áticas”
“Vê-se o caso de filhas que, casadas por
seu pai e vivendo já com seu marido – e
quem, melhor que o pai, poderia decidir sua
situação? – e que, entretanto, casadas nessas
condições, se seu pai morre sem deixar ir-
mãos legítimos, segundo os termos da lei, são
atribuídas ao parente mais próximo. Muitos
maridos, vivendo com suas esposas, foram,
Ânfora grega com pintura de um gineceu.

27
3a aula – devolução das produções seguir e continuar a instrução, com o estudo
da Filosofia”.
No momento da devolução dos trabalhos
corrigidos, incite os alunos a manifestar o FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Grécia e Roma. Vida
conteúdo de suas análises, que você poderá pública e vida privada. Cultura, pensamento e mitolo-
complementar, considerando que: gia. Amor e sexualidade. 4a edição, 1a reimpressão, São
Paulo: Contexto, 2007. pp. 43-44. <http://www.editora
f a educação das meninas, variável no tem- contexto.com.br>.
po e no espaço, tem em comum na história
grega o fato de ser claramente diferenciada
da educação dos meninos. Enquanto estes,
desde a primeira infância, eram afastados
do núcleo doméstico, as meninas ficavam A educação das meninas, em sua infância
restritas a ele, literalmente; e adolescência, era voltada para a “formação
f na casa das famílias mais abastadas, havia ideal das mulheres”, às quais competia servir
um espaço masculino e um feminino; no aos maridos e fornecer cidadãos para a pó-
feminino (gineceu), elas brincavam e eram lis (o cidadão é, em geral, filho de pai e mãe
instruídas a cuidar das coisas cotidianas da atenisenses). Você pode solicitar aos alunos
casa. que ouçam a música Mulheres de Atenas, de
Chico Buarque. Seu conteúdo é simples, e sua
mensagem, bastante direta, o que ajudará na
associação e compreensão das temáticas estu-
dadas.
Você pode observar que seus brinque-
dos eram representativos da vida que teriam Em relação ao texto e à imagem do gine-
como adultas, ceu, ambos se complementam no auxílio ao
“[...] basicamente como mães e donas de estudo das representações da vida feminina
casa, dedicadas à costura da lã, ao cuidado no universo grego. O primeiro mostra a tutela
dos filhos e ao comando dos escravos do- feminina, ou seja, sua frequente dependência
em relação aos homens (marido ou pai) no
mésticos. Os meninos brincavam de lutas, já
espaço da pólis, enquanto o segundo apresen-
antecipando sua entrada no exército. Quan- ta o espaço destinado às mulheres dentro da
do chegavam à adolescência, as meninas par- casa, o que é bastante significativo de sua fi-
ticipavam de cerimônias que as preparavam guração social.
para o casamento; as garotas de famílias
com mais recursos podiam aprender, tam- Para os dois casos analisados, é importan-
te que você observe que, a despeito do lugar
bém, a tocar e dançar. Já os rapazes começa-
social ocupado pelas mulheres, a dominação
vam o treinamento para o serviço militar. A masculina não as relegou à invisibilidade.
caça, para eles, era um treino para a guerra, Diferentes estudos, hoje, apontam para resis-
assim como as competições esportivas de tências a essa dominação e novos papéis das
que participavam. A educação dos rapazes mulheres nas sociedades gregas, ainda que
consistia no conhecimento das letras, da
persista a constatação de sua exclusão dos
espaços decisórios da cidade. A naturalização
poesia e da retórica, ainda que se pudesse
da total exclusão feminina e do silêncio das

28
História – 1a série - Volume 2

mulheres esteve fortemente ligada a valores como a Ilíada e a Odisseia, podemos ler que a
contemporâneos de estudiosos da Antiguida- prática da guerra com outros povos, a pirata-
de, principalmente nos séculos XVIII e XIX. ria e os saques de territórios da Hélade eram
A moral vitoriana, por exemplo, muitíssimo a grande fonte de fornecimento de escravos.
ligada aos valores clássicos, legitimou os pró- Em Atenas, não era diferente. Os escravos
prios valores ao consolidar uma leitura das obtidos dessa forma poderiam ser gregos ou
mulheres gregas como totalmente submissas não-gregos (esses últimos foram, pejorati-
aos homens e a seus desígnios, reiterando, vamente, designados pelos gregos de bár-
assim, o “papel da mulher”, tanto na socie- baros) e exerceram diferentes funções, que
dade grega, quanto naquela em que viviam os iam da agricultura e trabalho nas minas
historiadores. aos trabalhos públicos e domésticos na ci-
dade. É importante que se observe a grande
Ao encerrar a aula, anuncie que, na próxi- variedade das condições de vida e funções
ma, será tratado o status dos escravos na Gré- exercidas pelos escravos e que muitos deles
cia Antiga, particularmente em Atenas. possuíam mais instrução que a maioria dos
cidadãos.
4a aula – Escravos
Aos escravos, em diferentes situações, po-
A democracia ateniense antiga é comu- deria ser conferida a liberdade (quando, por
mente entendida pelos historiadores da Anti- exemplo, eram utilizados em guerra, algo ex-
guidade como um regime que só pôde existir cepcional no caso de Atenas, contrariamente
graças à escravidão. Assim, escravidão e de- ao que ocorria em Esparta, onde também os
mocracia, aparentemente incompatíveis, fo- hilotas combatiam nas guerras), mas nunca a
ram formas vivenciadas concomitantemente cidadania, fazendo com que jamais partici-
em Atenas. Indague aos alunos, inicialmente, passem das instâncias decisórias sobre os pro-
se há uma incompatibilidade entre os termos. blemas das cidades.
Promova um debate e, se necessário, inter-
venha e acrescente informações a respeito, Além disso, os escravos não eram consi-
deixando claro que, naquela sociedade, escra- derados seres humanos, mas “instrumentos
vidão e democracia não eram incompatíveis, vivos” ou coisas, podendo ser cedidos, vendi-
contrariamente ao que se poderia observar dos ou alugados, como quaisquer outras pro-
em sociedades contemporâneas, nas quais priedades e bens. Note-se que as reformas de
porventura existisse a escravidão. A demo- Sólon e o fim da escravidão por dívida liberta-
cracia ateniense não poderia existir se não ram um grande número de pessoas, mas eram
houvesse a escravidão, pois era o escravo que atenienses que se tornavam escravos de outros
tornava possível o estatuto claro e definido atenienses, uma condição entendida como in-
do cidadão, constituindo a figura decisiva digna na Atenas do século V.
para a manutenção econômica e política da
pólis. Os escravos eram aqueles que, na socieda-
de democrática ateniense, viviam sob a coação
Na sequência da aula, observe que, desde dos outros, dos cidadãos, e cujo trabalho não
as primeiras organizações familiares, os es- era realizado para si, mas para os outros. Essa
cravos já apareciam como componentes do dimensão quase não aparece nos livros didáti-
“grupo familiar”, sempre submetidos à total cos, nos temas dedicados à história da Grécia.
vontade dos senhores, representando a força Por isso, sugerimos que você enfatize essa
de trabalho no interior do oikos. Em textos questão propondo aos alunos que reflitam em

29
torno de dois aspectos já anunciados, e que Com base nos excertos documentais a se-
são importantes para a compreensão do tema: guir, peça aos alunos que tracem em seus ca-
o do tornar-se escravo e o da natureza do tra- dernos um perfil dos metecos. Posteriormente,
balho escravo. ao discutir o conteúdo elaborado pelos alunos,
verifique se apontaram e/ou articularam as-
Para encerrar a aula, você poderá colocar pectos definidores do status dos metecos entre
na lousa, para reflexão com os alunos, alguns os atenienses (não eram cidadãos, mas tinham
aspectos definidores da escravidão ateniense: alguns direitos; eram recrutados e guerrea-
vam ao lado dos soldados atenienses; desen-
f a escravidão era entendida como uma ins- volviam importantes papéis na economia da
tância natural da vida dos homens da cida- cidade; para serem assistidos juridicamente, ti-
de, à qual alguns eram contrários e outros, nham de ser representados por um ateniense).
favoráveis (dentre esses últimos, pode-se
citar Aristóteles, para quem alguns indiví-
duos eram naturalmente destinados à es-
cravidão, visto terem nascido para servir); “Hoje estamos sós, desembaraçados da
f a origem étnica não esteve na base da es- palha. Sim, que os metecos constituem a pa-
cravidão grega, como ocorrera com os ne- lha dos cidadãos, ao que penso.”
gros africanos na escravidão moderna; ARISTÓFANES, Acarnenses, 502-508. Apud FER-
f os escravos estiveram na base da economia REIRA, 1990, p. 258.
ateniense, que, voltada para o comércio, ti-
nha na escravatura sua mão de obra para
os serviços agrícolas.

5a aula – Estrangeiros
“Nas proximidades do outono daquele
Os metecos eram os estrangeiros na pólis ano os atenienses em massa, recrutados en-
ateniense, aos quais era concedido o direito de tre os cidadãos e os residentes estrangeiros,
nela habitar. Os metecos eram livres, podendo invadiram o território de Mégara.”
ser gregos ou não-gregos. A eles competia a rea-
TUCIDIDES. História da Guerra do Peloponeso, II, 31.
lização de atividades comerciais e artesanais,
Tradução de Mario de Gama Kury. Brasília: Editora da
mas não podiam exercer os direitos políticos
Universidade de Brasília, 1982.
dos cidadãos. Na condição de estrangeiros, ti-
nham de ser registrados e pagar impostos so-
bre sua pessoa; caso contrário, poderiam ser
vendidos como escravos. Com essa situação re-
gularizada, podiam apelar à justiça, mas sem-
“[...] a cidade tem necessidade dos mete-
pre por meio de um patrono ateniense. No que
cos devido ao grande número de profissões e
se refere à democracia ateniense, pode-se dizer
da frota.”
que ela também necessitava dos metecos, espe-
cialmente no que se refere à prestação de servi- XENOFONTE, República dos atenienses, I, 10-12,
ços à coletividade dos cidadãos. Como observa apud CASSIN, Barbara et al. Gregos, bárbaros, estran-
Nicole Louraux, “[...] a democracia atribuía geiros. A cidade e seus outros. Tradução de Ana Lúcia
direitos aos metecos e os protegia prescreven- de Oliveira e Lúcia Cláudia Leão. Rio de Janeiro:
do-lhes deveres” (CASSIN, B.; LOURAUX, Editora 34, 1993. p. 20
N.; PESCHANSKIC, C., 1993, p. 14).

30
História – 1a série - Volume 2

Avaliação da Situação de possível dizer, eram excluídos estruturalmen-


Aprendizagem te. As mulheres (entendidas como as esposas
dos cidadãos), ainda que não conhecessem
O objetivo principal desta Situação de direitos políticos e tivessem uma educação
Aprendizagem consistiu em apontar os limites orientada para os valores domésticos, não
do modelo democrático ateniense, atentando eram escravizadas e integravam-se aos am-
para suas formas de exclusão. Ao tratar da- bientes da vida de um homem com direitos.
queles que estavam fora dos espaços da polí- Os metecos tinham alguns direitos e deveres
tica da cidade, é provável que muitos de seus resguardados, mas estavam fora dos espaços
alunos estabeleçam paralelos com nossos con- cívicos, pois não eram cidadãos. O paralelo
textos contemporâneos, o que poderá ser ex- com as democracias contemporâneas pode
plorado por você. É importante que, com esses ser entendido como um espaço no qual os
conteúdos, os alunos possam discernir as dife- alunos poderão refletir sobre as formas
rentes formas de exclusão do processo demo- atuais de exclusão que atingem diferentes
crático e nelas vislumbrar as especificidades grupos sociais.
das categorias excluídas. No caso da Grécia
Antiga, os escravos estavam estruturalmente 2. Leia o texto a seguir:
fora da vida social, ao passo que as mulheres e
os estrangeiros o estavam da vida política.

Considere a análise comparativa proposta “Nos primeiros tempos da guerra, su-


na 2a aula um produto a ser avaliado. Valorize portamos com a paciência habitual aquilo
o momento da devolutiva, esclarecendo seus que vós, homens, combináveis. Aliás, quem
critérios de correção, aproveitando para am- nos deixava abrir a boca? Não que isso nos
pliar as relações possíveis, descritas na 3a aula. agradasse! Mas compreendíamos-vos bem:
muitas vezes, embora fechadas em casa, con-
Proposta de questões para avaliação seguíamos saber que estáveis a tramar um
grande sarilho. Então, ocultando a nossa
1. Pode-se afirmar que escravos, mulheres e mágoa, perguntávamos-vos com um sorriso:
estrangeiros estavam excluídos do regime ‘O que decidistes hoje, na assembleia? Que
democrático ateniense e que essa exclusão mais há para se fazer a paz?’. ‘A ti que te im-
pode ser entendida como um de seus limi- porta’, dizia ele, que é o marido: ‘Pensa em
tes. O que você pensa a esse respeito? Nas estar calada!’. E eu calava-me. [...] Vínhamos
sociedades contemporâneas, experimenta- a saber de um plano ainda mais louco? En-
mos alguma forma de exclusão de grupos tão, perguntávamos: ‘Marido meu, andais a
dos regimes democráticos? Quais? fazer das boas. Por quê?’. Ele fulmina-te com
o olhar: ‘Vai fiar, e tem cuidado com a cabe-
Escravos, mulheres e estrangeiros experi- ça! Cabe aos homens tratar da guerra’.”
mentaram diferentes formas de exclusão so-
cial no regime democrático ateniense, o que ARISTÓFANES, Lisístrata, 506-20. Apud REDFIELD,
comumente é entendido como um importante James. O homem e a vida doméstica. In: VERNANT,
limite a ser considerado em suas análises. O J.-P. O homem grego. Tradução Maria Jorge Vila de Fi-
“governo do povo” excluía de seus processos gueiredo. Lisboa: Editorial Presença, 1994. p. 157.
decisórios essas categorias, mas isso ocor-
ria de modos muito distintos. Os escravos, é

31
O trecho foi extraído de uma comédia 4. Para o estudioso Moses I. Finley, “[...] com
grega, na qual o autor, Aristófanes, iro- raras exceções, não havia atividade, lucra-
nicamente simula um diálogo entre um tiva ou não lucrativa, pública ou privada,
homem e uma mulher gregos, quando a agradável ou desagradável que não fosse
mulher busca envolver-se com as ques- executada por escravos em algum momen-
tões entendidas como “dos homens”. À to e em algum lugar no mundo grego. A
luz dos conhecimentos adquiridos, desen- exceção era, naturalmente, a política: ne-
volva uma reflexão (entre 10 a 15 linhas) nhum escravo tinha um cargo público ou
sobre a condição social das mulheres em assento nos órgãos deliberativos ou judi-
Atenas. ciais (embora os escravos fossem emprega-
dos habitualmente no ‘serviço civil’, como
Espera-se que, neste exercício, o aluno seja secretários e escriturários, como policiais e
capaz de analisar o documento transcri- guardas das prisões”.
to, percebendo que a personagem femini-
na é inquiridora e busca envolver-se com FINLEY, Moses I. Economia e sociedade na Grécia Anti-
questões que, na Atenas clássica, eram ga. Tradução Marylene Pinto Michael. São Paulo: Martins
entendidas como exclusivas do universo Fontes, 1989. p. 105.
masculino. A partir dessa constatação, o
aluno deve observar que, apesar de estar a) Os escravos não tinham direitos políticos,
em um ambiente em que vive junto de um pois eram cidadãos de segunda categoria.
cidadão, usufruindo do status de uma pes-
soa nessa condição, a mulher não tem di- b) Os escravos desenvolviam diferentes ativi-
reitos políticos. dades, podendo exercer, inclusive, alguns
cargos políticos, mas isso era exceção.
3. As cidades de Atenas e Esparta foram tra-
dicionalmente entendidas como um “clube c) Os escravos tinham poucos direitos po-
de homens” e como um “clube de cida- líticos.
dãos”. Por que comumente se associa, ao
se tratar de democracia grega, o destino de d) Os escravos jamais participavam das
escravos e mulheres? instâncias decisórias a respeito dos pro-
blemas das cidades, porque não tinham
a) Porque, assim como as mulheres, os escra- nenhum direito.
vos também habitavam a cidade grega.
5. Qual dos itens abaixo apresenta categorias
b) Porque as mulheres gregas possuíam di- excluídas da vida política da cidade ate-
reitos, mas os escravos não. niense?

c) Porque, entendida como “clube de ho- a) hoplitas, escravos e mulheres.


mens” e “clube de cidadãos”, a cidade
grega excluía as mulheres e os escravos b) mulheres, escravos e arcontes.
de seus quadros decisórios.
c) mulheres, estrangeiros e escravos.
d) Porque escravos e estrangeiros possuíam
os mesmos direitos na cidade. d) estrangeiros, hoplitas e escravos.

32
História – 1a série - Volume 2

Propostas de Situação de Solicite uma pesquisa sobre a educação


Recuperação masculina e feminina na Grécia, a qual deverá
ser desenvolvida, preferencialmente, na biblio-
Peça aos alunos que desenvolvam um tra- teca da escola ou da cidade. Oriente os alunos
balho comparativo entre situações de exclusão a pesquisar em livros didáticos, paradidáticos
na Antiguidade grega e no mundo contempo- e sites da internet.
râneo. Para auxiliá-los, você poderá propor
No momento da devolutiva das produções
algumas categorias: referentes às duas estratégias propostas, escla-
reça aos alunos seus critérios de apreciação,
f mundo antigo: escravos, mulheres e estran- enfatizando os objetivos atingidos e aqueles
geiros; que ainda necessitariam de aprimoramento.
Considere a possibilidade de revisão para
f mundo contemporâneo: pobres, grupos ét- aqueles que precisariam aprimorar o trabalho,
nicos e minorias sexuais. seja de pesquisa ou de síntese dos conteúdos.

SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 3
DEMOCRACIA E ESCRAVIDãO NO MUNDO ANTIGO
E NO MUNDO CONTEMPORÂNEO

Nesta Situação de Aprendizagem, propo- relacionados à democracia e à escravidão em


mos uma análise não-hierarquizada entre os outros contextos, conferindo ênfase à figuração
conhecimentos estudados em relação à de- de mulheres, estrangeiros e escravos, particular-
mocracia e à escravidão gregas, com aspectos mente no que concerne à história brasileira.

Tempo previsto: 2 aulas.

Conteúdos e temas: tradições interpretativas em relação à exclusão social na Antiguidade e na contem-


poraneidade.

Competências e habilidades: reconhecimento da historicidade das interpretações históricas.

metodologia: aula expositiva e dinâmica de grupos.

Recursos: lousa; giz; materiais de pesquisa (livros didáticos, paradidáticos e internet).

Avaliação: pesquisa, participação e produção de fichamento.

33
Sondagem e sensibilização de que poderão realizar como pesquisa e cujos
resultados deverão ser partilhados com os co-
Coloque na lousa as seguintes afirmações: legas e problematizados por você. Essa ativida-
de, além de propiciar uma reflexão em torno do
f “Os negros escravizados no Brasil foram conteúdo estudado, dará margem para que os
trazidos do continente africano.” alunos o pensem à luz de experiências que lhes
f “No Brasil, as mulheres votam desde 1932.” são conhecidas ou contemporâneas.
f “Um estrangeiro naturalizado pode votar
nas eleições no Brasil.” Na primeira aula após a pesquisa, divida
a turma em três grupos e solicite a produção
Solicite aos alunos que, à luz dos conteú- de um fichamento (em tópicos), por grupo, a
dos estudados, reflitam em relação a cada respeito da análise comparativa solicitada.
uma das afirmações e considerem as seguintes Essa seleção de dados deve refletir o conteú-
questões: Quem eram os escravizados na Gré- do pesquisado pelos componentes do grupo.
cia Antiga? Por que as mulheres e estrangeiros Para a aula seguinte, solicite que representan-
não tinham direito ao voto nas assembleias? A tes dos grupos apresentem os resultados que
discussão dessas contraposições é importan- obtiveram, dando margem para que os demais
te, visto que orientará a continuidade das ati- participantes também manifestem opiniões e
vidades. complementações em relação a cada um dos ei-
xos temáticos propostos. Nessa oportunidade,
1a e 2a aulas sintetize e problematize o conteúdo arrolado
anotando-o na lousa. Proceda de igual maneira
O principal objetivo das duas aulas a se- com os dois outros grupos, verificando e valo-
guir consiste em propiciar aos alunos uma rizando, de modo problemático, suas contri-
compreensão comparativa de referenciais li- buições. Não deixe de solicitar aos alunos que
gados à democracia e à escravidão antigas e anotem os dados novos em seus cadernos.
contemporâneas, permitindo ao aluno a pro-
dução de reflexões críticas a respeito de ambos Provavelmente, em suas análises, os alunos
os contextos. Tendo desenvolvido aspectos puderam identificar algumas características
referenciais da democracia e da escravidão entendidas como de atenuação das condições
gregas você pode, oportunamente, estabelecer de exclusão social de mulheres e estrangeiros
uma análise comparativa entre valores a elas nos contextos contemporâneos, percebendo-
ligados e outros que, em contextos modernos -os como integrados socialmente. Em relação
e contemporâneos, nortearam e norteiam re- à escravidão, apesar de as referências, em prin-
flexões acerca do pensamento democrático cípio, serem dadas a partir da escravização dos
e da escravidão em nosso contexto. Ofereça negros, não deixe de fazer menção aos cons-
aos alunos um conjunto de temas a respeito tantes casos contemporâneos de escravidão de
do conteúdo, como, por exemplo, escravidão crianças, homens e mulheres que aparecem na
brasileira, participação feminina na sociedade mídia e são objeto de preocupação. Em todos
brasileira contemporânea e inserção política os casos, estabeleça uma comparação com os
dos estrangeiros no Brasil, e, na sequência, pressupostos relacionados à história grega
solicite-lhes a elaboração de uma análise com- sem, contudo, hierarquizar essas diferentes
parativa dessas diferentes realidades, ativida- situações.

34
História – 1a série - Volume 2

Avaliação da Situação de 3. Diz-se que o número de escravos em


Aprendizagem Atenas pode ter sido de 100 mil, 200 mil
ou 400 mil; contudo, um número peque-
O objetivo principal desta Situação de no faria da escravidão um mal menor?
Aprendizagem é discutir algumas contraposi- Para Moses Finley (1991, p. 66), não há
ções entre referenciais relacionados à figuração validade num sistema ético que sustente
de escravos, mulheres e estrangeiros no contex- tal questão e que justifique que a escravi-
to estudado e em outros. É importante que os dão foi um tumor benigno ou maligno no
alunos desenvolvam uma compreensão de que corpo político da cidade antiga. O siste-
essas análises não têm por objetivo nenhuma ma criticado por Finley traz indícios de
espécie de hierarquização, mas sim propiciar um argumento frequentemente utilizado
uma reflexão em torno de aspectos comuns em como forma de atenuar, no mundo con-
contextos diferenciados. temporâneo, o problema da escravidão
antiga e da escravidão moderna. A esse
Como produto, você pode considerar o ficha- respeito, é possível afirmar que:
mento produzido pelos grupos e a participação
em aula no momento em que ocorrer a sociali- a) o número de escravos em Atenas era de
zação dos dados pesquisados e analisados. 350 mil.

Proposta de questões para avaliação b) a escravidão foi necessária e justificável


no mundo antigo, assim como no mun-
1. Estabeleça uma análise comparativa entre do moderno.
os direitos das mulheres na Grécia antiga e
aqueles que essas possuem hoje no campo c) diferentes autores quiseram ver em um
da política. número menor de escravos em Atenas
a política de um mal menor, fato que
Excluídas dos processos decisórios no cam- se aplicaria, também, à escravidão mo-
po da política, nas cidades gregas, e restritas derna.
à atuação doméstica, as mulheres na Grécia
Antiga tinham uma vida voltada para o lar, d) a escravidão foi um fato que ocorreu
sobretudo para os cuidados da casa. Hoje, as apenas em Atenas.
mulheres experimentam uma emancipação
crescente em relação às opressões históricas 4. Qual dos itens abaixo representa uma con-
e conquistam, nos espaços políticos, os mes- dição das mulheres na Grécia Antiga e no
mos direitos que os homens. Brasil antes de 1932?

2. Descreva uma situação em relação à histó- a) Em ambos os contextos, as mulheres ti-


ria do Brasil que, a seu ver, represente valo- nham direito ao voto.
res antagônicos no que se refere à situação
de escravos, mulheres ou estrangeiros na b) Em ambos os contextos, as mulheres
Grécia Antiga. não tinham direito ao voto.

A ser analisada pelo professor, a partir do c) Em ambos os contextos as mulheres


conteúdo ministrado e das atividades de pes- eram responsáveis pela educação de
quisa realizadas pelos alunos. seus filhos até os sete anos.

35
d) Em ambos os contextos, as mulheres po- a) sempre houve uma visão negativa da
diam ser eleitas para cargos políticos. democracia como governo do povo.

5. Leia o texto a seguir: b) a ideia de massa ociosa, quando se tra-


ta da sociedade ateniense antiga, teve
Para o autor do texto, a noção de plebe início no final do século XVIII, sendo
ociosa é posterior à Antiguidade, data do embasada numa leitura que justificava
século XVIII d.C. e é representativa de te- valores presentes naquele período.
mores da burguesia nascente em relação ao
aumento de camponeses que se dirigiam c) tanto na Antiguidade quanto no mun-
para as cidades e que eram vistos como do contemporâneo, a plebe sempre foi
uma ameaça à ordem. Em conformidade ociosa.
com o texto, é correto afirmar:
d) a ideia de plebe ociosa já existia na An-
tiguidade.

“A experiência da democracia ateniense Proposta de Situação de


serviu de inspiração para aqueles que, mui- Recuperação
tos séculos depois, em diversos momentos
históricos, defenderam a liberdade política Solicite aos alunos que elaborem um
e o governo do povo. Entretanto, por mui- quadro comparativo entre o funcionamento
to tempo, para alguns prevaleceu uma visão político da democracia grega e as chama-
negativa do ‘governo do povo’ e do ‘exem- das democracias modernas, recuperando
plo de Atenas’. Desde fins do século XVIII conteúdos desenvolvidos nesta Situação
d.C., nutriu-se uma tradição historiográfica de Aprendizagem e nas anteriores. Se você
que viu na sociedade ateniense uma massa considerar necessário, remeta novamente
ociosa, responsável, em última instância, os alunos às situações de pesquisa, com a
pelo fim do regime democrático, a partir do intenção de ampliar o entendimento, parti-
século IV a.C. De acordo com essa interpre- cularmente em relação às chamadas demo-
tação, os pobres ociosos foram incentivados cracias modernas.
a participar da vida política, tomando parte
nas assembleias graças a uma ajuda mone- Recursos para ampliar a perspectiva
tária. Isso acabou levando à demagogia, ou do professor e do aluno para a
seja, ao domínio das assembleias populares compreensão do tema
por líderes manipuladores e inescrupulosos,
porque os pobres seriam ignorantes, ociosos Recomendamos, para estudo da temáti-
que só estavam interessados no pagamen- ca da Situação de Aprendizagem 1, a leitura
to que recebiam por participar.” dos textos a seguir. Os trabalhos de Cardoso,
Funari e Guarinelo propiciam uma rica intro-
FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Grécia e Roma. Vida pú- dução ao tema, que poderá ser aprofundada
blica e vida privada. Cultura, pensamento e mitologia. com os textos de Ferreira e Finley.
Amor e sexualidade. 4. ed. 1. reimp. São Paulo: Contex-
to, 2007. p. 40. <http://www.editoracontexto.com.br>. CARDOSO, Ciro Flamarion. A Cidade-Esta-
do antiga. 3. ed. São Paulo: ática, 1990. (Prin-
cípios).

36
História – 1a série - Volume 2

FERREIRA, José Ribeiro. A democracia na FUNARI, Pedro Paulo Abreu. Grécia e Roma.
Grécia Antiga. Coimbra: Livraria Minerva, Vida Pública e vida privada. Cultura, pensa-
1990. mento e mitologia. Amor e sexualidade. 4. ed.
1. reimp. São Paulo: Contexto, 2007. <http://
www.editora contexto.com.br>

FINLEY, M. Esparta. In: ______. Uso e abu- GUARINELO, Norberto Luiz. Imperialismo
so da História. Tradução Marylene Pinto greco-romano. São Paulo: ática, 1991. (Prin-
Michael. São Paulo: Martins Fontes, 1989. cípios).

37
TEmA 2 – O ImPÉRIO dE AlEXAndRE
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 4
O IMPÉRIO DE ALEXANDRE E A FUSãO CULTURAL
ENTRE ORIENTE E OCIDENTE
Ao se tratar da cultura helenística, um o Egito, a Mesopotâmia, a Palestina e parte
primeiro aspecto a ser observado consiste na da Índia.
análise de sua denominação. Os gregos an-
tigos denominavam-se helenos, mas helenís- A curta duração do Império de Alexandre,
tica não é somente a cultura dos helenos, e principalmente por causa das dificuldades e divi-
sim um conceito comumente utilizado pela sões políticas que o enfraqueciam, é, sobretudo,
historiografia contemporânea para designar lembrada pela “fusão cultural entre Ocidente e
a cultura de todos os povos falantes do gre- Oriente”, atribuindo-se a Alexandre a junção dos
go, desde a conquista de Alexandre, o Gran- elementos da cultura grega à cultura oriental de
de (336 a.C.) até 146 a.C., período em que egípcios, persas, fenícios, assírios etc. Esse proces-
a Grécia esteve sob domínio da Macedônia. so ficou conhecido como helenismo, denominan-
Sob o comando de Filipe II, da Macedônia, os do-se a cultura daí oriunda de cultura helenística.
macedônios estenderam sua conquista por
um vasto território, empreendimento que foi Essa atividade foi planejada para tratar
ampliado por Alexandre, filho de Filipe II. dos principais aspectos e resultados desse vas-
Essa expansão submeteu as cidades gregas, to processo de fusão histórico-cultural.

Tempo previsto: 2 aulas.

Conteúdos e temas: interações culturais entre o Oriente e o Ocidente.

Competências e habilidades: reconhecimento das interações e trocas culturais entre povos sem hierarqui-
zações preconcebidas – cultura superior/cultura inferior.

Estratégia: aula expositiva e dinâmica de grupos.

Recursos: lousa, giz e mapas.

Avaliação: pesquisa, participação e produção textual.

38
História – 1a série - Volume 2

Sondagem e sensibilização do Oriente, submetidos ao comando de Ale-


xandre. Presente em diferentes campos do
Para começar, fale à classe sobre a impor- pensamento (Arte, Filosofia, Ciências), ainda
tância dos processos históricos de interação e que se considere o breve período de sua preva-
troca cultural, destacando que, em vez de se- lência, a cultura helenística é entendida como
rem combatidas, as diferenças entre povos e símbolo das possibilidades de interação entre
culturas devem ser reconhecidas e valorizadas. diferentes culturas.
Em seguida, relacione alguns exemplos histó-
ricos, referindo resultados da relação (quase Tradicionalmente, muitos estudos his-
nunca pacífica, é verdade) entre culturas dife- toriográficos caracterizaram-se apenas por
rentes. admitir a supremacia da cultura helênica
sobre as demais, entendendo-a como res-
Agora, você já pode esclarecer que o con- ponsável pela difusão do racionalismo e da
teúdo a ser trabalhado busca tratar de um dos civilização nos vastos territórios conquista-
mais importantes processos históricos de fu- dos pelo exército de Alexandre. Esse mode-
são cultural, a partir do qual fundiram-se as lo interpretativo assume, sem muita análise,
culturas oriental e ocidental, resultando na- que os povos conquistados militarmente ti-
quilo que conhecemos por cultura helenística. veram também sua cultura suplantada pela
Como esse conceito não é corrente entre os dos conquistadores. Entretanto, essa supos-
alunos, esclareça seu sentido e comece escre- ta passividade com que os povos coloniza-
vendo na lousa a seguinte questão: No mundo dos receberam e incorporaram a cultura dos
contemporâneo, quais meios podem ser enten- conquistadores tem sido objeto de severas
didos como fatores de interação entre culturas críticas por diferentes tendências historio-
diferentes? gráficas contemporâneas, com as quais nos
alinhamos aqui.
Ainda que provavelmente não se refiram ao
termo globalização e seus derivados, os alu- É importante que você ressalte aos seus
nos referenciarão meios a eles relacionados, alunos que a relação entre a cultura helênica
como a internet e a televisão. Explore esses e as culturas orientais não foi unidirecional,
aspectos (tanto os positivos quanto os negati- não foi uma via de mão única, na qual uma
vos), enriquecendo a análise com comentários suplantou as demais. Ao contrário, o contato
acerca das possibilidades atuais de interações entre diferentes culturas tem sido considera-
e trocas culturais que podem ser facultadas do fonte de diferentes interações culturais, e
por esses meios de comunicação, que possi- não se pode simplesmente afirmar que uma
bilitam o diálogo com uma pessoa de outro suplantou a outra. Essa dimensão de intera-
Estado ou país por uma sala de bate-papo ou ção entre culturas pode ser ilustrada a partir
por e-mails. do próprio cotidiano dos alunos, forma pela
qual você pode introduzir a temática dessa
Roteiro para a aplicação da atividade.
Situação de Aprendizagem
Para iniciar, lembre-se de solicitar aos alu-
Da cultura helenística não se pode dizer nos que observem o mapa sobre a extensão
que seja exclusivamente grega ou exclusiva- territorial do Império de Alexandre no Cader-
mente composta por referenciais dos povos no do Aluno.

39
ARRUDA, José Jobson de. Atlas histórico básico. São Paulo: ática, 2002. p. 9.

Providencie, também, para seu uso, um não deve ser analisado a partir de conceitos de
mapa político atual da Europa. Logo no iní- superioridade ou inferioridade.
cio, divida a classe em três grupos e solicite a
cada um deles que desenvolva uma pesquisa Em seguida, estabeleça a distinção entre
sobre uma das três áreas em que foram gran- cultura helênica e cultura helenística:
des as contribuições da cultura helenística:
Filosofia, Ciências e Artes. Oriente os alunos - cultura helênica = grega;
a buscar aspectos gerais e definidores dessas
áreas: - cultura helenística = cultura de todos
os povos falantes do grego, desde a
f Filosofia: estoicismo, epicurismo e ceti- conquista de Alexandre, o Grande (336
cismo; a.C.) até 146 a.C.
f Ciências: Biblioteca de Alexandria, desen-
volvimento da Matemática, da Física e de Para facilitar seu trabalho, procure tratar,
outras ciências; sequencialmente, das seguintes questões:
f Artes: mudanças na Arquitetura, na Escul-
tura, na Literatura etc. f contextualize o enfraquecimento das cida-
des-Estado (dificuldades e divisões políti-
1a e 2a aulas cas, além do enfraquecimento dos exércitos,
provocado por conflitos internos);
Inicialmente, solicite aos alunos que deem f solicite aos alunos que localizem a Mace-
um exemplo de interação de diferentes cul- dônia nos mapas que possuem e que veri-
turas. Eles provavelmente farão referência a fiquem a extensão do Império conquistado
aspectos ligados à cultura nacional e à con- por Alexandre. Não deixe de observar que,
tribuição de nossas diferentes etnias formado- conhecido como o mais extenso império da
ras, o que poderá ser desenvolvido por você e Antiguidade, o Império de Alexandre teve
exemplificado com ilustrações acerca da plu- curta duração (aproximadamente 13 anos);
ralidade das culturas no Brasil, sempre lem- f apresente o mapa-múndi e peça aos alunos
brando que o contato entre diferentes culturas que comparem as dimensões do Império

40
História – 1a série - Volume 2

de Alexandre, observadas em seus mapas, tudantes poderão anotar informes discutidos


com aquele apresentado por você, buscan- em sala a respeito das áreas de influência da
do identificar os países que hoje corres- cultura helenística não pesquisadas por eles.
pondem aos territórios conquistados por
Alexandre; Avaliação da Situação de
f peça aos alunos que identifiquem em seus Aprendizagem
mapas alguns dos povos conquistados mili-
tarmente (egípcios, mesopotâmios, fenícios, O objetivo principal da atividade proposta
assírios, persas etc.). Você pode observar é o reconhecimento das interações culturais
que um fator preponderante das conquistas entre Oriente e Ocidente, sem hierarquizações
de Alexandre foi a superioridade e organi- preestabelecidas. Ao ouvir considerações
zação do exército da monarquia macedô- sobre superioridade ou inferioridade entre di-
nica, o que permitiu o rápido domínio dos ferentes culturas, o que deverá ocorrer, é im-
territórios invadidos. Precise que a influên- portante que você problematize a questão,
cia do pensamento helenístico estendeu-se esclarecendo que essas categorias não se apli-
para diferentes áreas do conhecimento hu- cam quando tratamos de culturas, inclusive
mano (Filosofia, Ciência e Artes); acrescentando exemplos históricos em que
f é importante que os alunos sejam informa- posturas etnocêntricas resultaram (e resul-
dos de que, do ponto de vista cultural, os tam) na subordinação até forçada de povos e
povos que eram militarmente conquista- grupos sociais. Assim, será possível o reconhe-
dos tomavam contato com a cultura grega, cimento das interações e trocas culturais entre
havendo uma grande interação entre esta e povos orientais e ocidentais como “uma via de
as culturas locais. Alguns aspectos contri- mão dupla”.
buíram para isso, como os seguintes, que
devem ser escritos na lousa: Proposta de questões para avaliação

- permissão para permanência das insti- 1. Qual a distinção entre cultura helênica e
tuições políticas e religiosas locais; cultura helenística?

- incentivo à união, por meio de casamen- Helênico é o termo utilizado pelos gregos
tos, entre vencedores e vencidos, do que para se referir a si mesmos; logo, cultura he-
deu exemplo o próprio Alexandre; lênica é um sinônimo de cultura grega. He-
lenístico é como ficou conhecido o período
- integração ao exército macedônico de que vai das conquistas de Alexandre até o
contingentes militares dos povos con- domínio romano da Grécia, sendo a cultu-
quistados; ra helenística aquela dos povos falantes do
grego, desde as conquistas de Alexandre.
- governo dos territórios conquistados
por gregos e macedônicos, incorporan- 2. Cite algumas das principais contribuições
do, em grande medida, aspectos impor- da cultura helenística.
tantes dos governos locais.
A influência da cultura helenística se fez
Após a problematização dos aspectos ar- sentir em diferentes áreas do conhecimento.
rolados, solicite aos grupos que apresentem, Na Filosofia, resultou no desenvolvimento
sucessivamente, por temática, os resultados de de escolas filosóficas, como o Estoicismo,
suas pesquisas. No Caderno do Aluno, os es- o Epicurismo e o Ceticismo. Nas Ciências,

41
houve um grande avanço dos estudos da c) diferentes trocas culturais entre gregos e
Matemática, com a Geometria de Euclides não-gregos.
e a Física de Arquimedes, além dos estudos
astronômicos e cartográficos, como os de d) trocas culturais somente no que se refe-
Cláudio Ptolomeu. Nas Artes, a busca de re à Literatura.
um realismo maior e mais dramático, que
contemplasse os sentimentos humanos, defi- 5. Assinale algumas características da expan-
ne a cultura helenística nesse campo, assina- são do Império Macedônico de Alexandre,
lado pela predominância de obras de grande o Grande:
porte nas esculturas e edifícios públicos.
a) globalização das instituições romanas
3. Sobre os termos helênico(a) e helenístico(a) como a república e o papado.
relacionados à cultura, pode-se afirmar que
são, respectivamente: b) criação de um verdadeiro intercâmbio
entre as culturas dos povos anexados ao
a) adjetivo que se refere à cultura grega/ Império.
adjetivo utilizado por estudiosos con-
temporâneos para se referir ao período c) crucificação de todos os opositores e
que vai das conquistas de Alexandre até proibição de lutas nas arenas romanas.
o domínio romano sobre a Grécia.
d) proibição de toda manifestação cultural
b) adjetivo utilizado por estudiosos con-
que não fosse grega.
temporâneos para se referir ao período
que vai das conquistas de Alexandre até
o domínio romano sobre a Grécia/adje-
Propostas de Situações de
tivo que se refere à cultura grega.
Recuperação

c) termos com o mesmo significado.


Proposta 1

d) adjetivo que designa como ficou conhe- Em relação ao conteúdo ministrado, solici-
cido o período de Péricles/adjetivo que te aos alunos que retomem suas anotações e,
se refere à cultura grega após a domina- com base nas mesmas, redijam um texto sobre
ção romana. o tema “interações culturais”. É importante
que esse texto contemple referenciais tratados
4. Em relação à civilização helenística, é ao longo das aulas.
correto afirmar que, na relação entre gre-
gos e não-gregos, no período helenístico, Proposta 2
houve:
Solicite aos alunos que pesquisem a escultu-
a) predomínio da cultura grega sobre as ra Laocoonte e seus filhos e façam uma análise
demais. sobre o porquê de essa obra ser representativa
da cultura helenística no campo da escultura.
b) predomínio das culturas locais dos po- Observe que essa escultura é conhecida por
vos conquistados sobre a dos conquis- simbolizar o trágico e a monumentalidade das
tadores. esculturas do período.

42
História – 1a série - Volume 2

MOMIGLIANO, Arnaldo. Os limites da hele-


Recursos para ampliar a perspectiva nização. Tradução Claudia Martinelli Gama.
do professor e do aluno para a Rio de Janeiro: Jorge zahar, 1991.
compreensão do tema VIDAL-NAQUET, Pierre. Os Alexandres.
In: ______. Os gregos, os historiadores, a de-
Recomendamos, para o conhecimento mais
mocracia. O grande desvio. Tradução Jônatas
aprofundado dessa temática, a leitura de dois Batista Neto. São Paulo: Companhia das
textos referenciais. Letras, 2002.

© Tod Spiegel/Corbis-Latinstock

Laocoonte e seus filhos, século I d.C.

43
COnSIdERAçõES FInAIS
Ao desenvolver os temas tratados neste Ca- O que aqui apresentamos foram propostas
derno, duas orientações principais guiaram de modos de abordar um conteúdo rico em
nossas preocupações: fazer com que este mate- paralelos, com significações práticas da vida
rial apresente discussões historiográficas recen- dos alunos, o que pode propiciar interesse e
tes em relação ao conteúdo arrolado e fornecer gosto pelo tema, cabendo a você verificar a
a você, professor, propostas detalhadas para o sua aplicabilidade.
desenvolvimento dos temas; enfim, algo que
possa colaborar na elaboração de suas aulas.

44
História – 1a série - Volume 2

BIBlIOGRAFIA
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46

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