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de Oliveira
Prefácio
DEVIDO PROCESSO
LEGISLATIVO
Belo Horizonte
2015
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra, por qualquer meio eletrônico,
inclusive por processos xerográficos, sem autorização expressa do Editor.
Conselho Editorial
217 p.
ISBN 978-85-450-0064-8
OLIVEIRA, Marcelo Andrade Cattoni de. Devido processo legislativo: uma justificação
democrática do controle jurisdicional de constitucionalidade das leis e do processo legislativo.
3. ed. rev. ampl. e atual. Belo Horizonte: F17p.
(ELY, 1980).
CAPÍTULO 1
DELIMITAÇÃO DO CAMPO DE ESTUDO: A PROBLEMÁTICA
ACERCA DE UMA JUSTIFICAÇÃO DA LEGITI MIDADE DO
CONTROLE JUDICIAL DE CO NSTITUCIO NALIDADE DAS LEIS E
DO PROCESSO LEGISLATIVO ............................................................................ 21
1.1 Introdução........................................................................................................... 21
1.2 A problemática acerca do controle de constitucionalidade das leis e do
processo legislativo no Brasil........................................................................... 25
1.3 A problemática acerca da justificação do controle de constitucionalidade
das leis e do processo legislativo no direito comparado............................. 36
1.4 Traçando hipóteses de trabalho....................................................................... 40
1.5 Estrutura da argumentação.............................................................................. 51
CAPÍTULO 2
REPUBLICANISMO E LIBERALISMO DA RELAÇÃO ENTRE
CONSTITUCIONALISMO E DEMOCRACIA NO MARCO DAS
TRADIÇÕES DO PENSAMENTO POLÍTICO MODERNO........................ 53
2.1 Introdução........................................................................................................... 53
2.2 Republicanismo e Liberalismo......................................................................... 58
CAPÍTULO 3
DEMOCRACIA E CONSTITUCIONALISMO NO MARCO DO
ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO: DA NECESSIDADE DE
SUPERAÇÃO DAS TRADIÇÕES REPUBLICANA E LIBERAL POR
MEIO DE UMA VISÃO PROCEDIMENTALISTA DO DIREITO E DA
POLÍTICA DELIBERATIVA ................................................................................... 71
3.1 Introdução........................................................................................................... 71
3.2 A teoria discursiva da democracia, de Jürgen Habermas............................ 76
3.3 A inter-relação entre democracia e constitucionalismo numa visão
procedimentalista do direito e da política deliberativa –
uma aproximação.............................................................................................. 80
CAPÍTULO 4
TEORIA DISCURSIVA DA CO NSTITUI ÇÃO E PROCESSO
CONSTITUCIONAL................................................................................................. 87
4.1 Introdução........................................................................................................... 87
4.2 Teoria Discursiva da Constituição................................................................... 89
4.3 Constituição e processo.................................................................................. 104
1
Aí a crítica de Carl Schmitt ao modelo de controle judicial de constitucionalidade, tal como
pensado por Kelsen. Sobre isso ver: BAHIA, Alexandre Gustavo Melo Franco. Controle
Concentrado de Constitucionalidade: o guardião da Constituição no embate entre Hans
Kelsen e Carl Schmitt. Revista de Informação Legislativa, Brasília, v.164, 2004, p. 96.
2
Na Alemanha, desenvolve-se a ideia de que o controle concentrado de constitucionalidade
é abstrato (não se refere a um caso concreto) e objetivo (sem partes). Tal doutrina chegou
ao Brasil principalmente por intermédio de Gilmar Mendes. Cf.: MENDES, Gilmar F.
Jurisdição constitucional: o controle abstrato de normas no Brasil e Alemanha. 2. ed., São
Paulo: Saraiva, 1998. Contra tal tese Marcelo Cattoni mostra que o controle concentrado
possui um “caso” a julgar, isto é, a regularidade do processo legislativo e que em tal
processo há verdadeiras partes, ativa e passiva.
3
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido processo legislativo: uma justificação
democrática do controle jurisdicional de constitucionalidade das leis e do processo
legislativo. 2. ed. Belo Horizonte: Mandamentos, 2006, p. 135.
4
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido processo legislativo, 2006, p. 56-57.
5
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido processo legislativo, 2006, p. 136.
6
O Estado Democrático de Direito pode ser entendido, desde uma perspectiva discursiva,
como “institucionalização jurídica de canais de comunicação público-política a respeito
de razões éticas, morais, pragmáticas e de coerência jurídica. É precisamente esse fluxo
comunicativo que conformará e informará o processo legislativo de justificação e o
processo jurisdicional de aplicação imparcial do Direito democraticamente fundado”
(CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido processo legislativo, 2006, p. 130).
7
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido processo legislativo, 2006, p. 167.
8
Ver, e.g., MENDES, Gilmar. Jurisdição constitucional: o controle abstrato de normas no
Brasil e Alemanha. 2. ed., São Paulo: Saraiva, 1998, p. 304.
9
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido processo legislativo: uma justificação
democrática do controle jurisdicional de constitucionalidade das leis e do processo
legislativo. Belo Horizonte: Mandamentos, 2000, p. 136. Tal tese, inclusive, que inspirou
a Dissertação, orientada pelo Prof. Marcelo Cattoni, de um dos presentes subscritores:
BAHIA, Alexandre Gustavo Melo Franco. Controle judicial de constitucionalidade das leis
e atos normativos: contribuição para a construção de uma democracia cidadã no Brasil.
Dissertação (Mestrado em Direito Constitucional). Faculdade de Direito, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2004.
10
In verbis: “Salvos os casos previstos na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado
como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado
nem ser substituído por decisão judicial”.
11
Ou pior, o papel de “tutor” ou de “superego de uma sociedade órfã”. Sobre isso ver: MAUS,
Ingeborg. Judiciário como superego da sociedade: o papel da atividade jurisprudencial na
“sociedade órfã”. Novos Estudos CEBRAP, nº 58, p. 183-202, nov. 2000.
12
Diz o texto atual: “Art. 49. É da competência exclusiva do Congresso Nacional: (...)
V – sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar
ou dos limites de delegação legislativa”.
13
O fundamento, segundo o Deputado estaria no inciso XI do art. 49 da CR/88: é da
competência exclusiva do Congresso Nacional: XI – zelar pela preservação de sua
competência legislativa em face da atribuição normativa dos outros Poderes”.
14
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. Devido processo legislativo, 2006, p. 167-168.
15
Sobre isso cf.: BAHIA, Alexandre; NUNES, Dierle. Crise da Democracia Representativa –
Infidelidade Partidária e seu Reconhecimento Judicial. Revista Brasileira de Estudos Políticos,
v. 100, p. 57-83, jan./jun. 2010; e: BAHIA, Alexandre. A não-discriminação como Direito
Fundamental e as redes municipais de proteção a minorias sexuais - LGBT. Revista de
Informação Legislativa, nº 186, p. 89-106, abr./jun. 2010.
1.1 Introdução
A sociedade deste início de século se caracteriza por uma
crescente diferenciação entre os vários subsistemas sociais e por uma
acentuada autonomização de antigas esferas normativas, tais como
as da Moralidade, da Ética e da Religião. É sociedade, cada vez mais
claramente, sem centro, o que pode ser visto da perspectiva de um avançado
processo de globalização ou de internacionalização na tematização e no
tratamento das questões econômicas, políticas, ecológicas, entre outras,
que mobilizam a opinião pública mundial e que transcendem tanto os
mercados regionais quanto os Estados nacionais (HABERMAS, 1995a).
Portanto, a sociedade atual é moderna. À diferenciação sistêmica,
à autonomização normativa e à perda de um centro acrescenta-se o
fato de a sociedade atual ser marcada por um pluralismo de formas de
vida e de visões de mundo as mais diferentes, até concorrentes e em
desacordo, acerca do que seja justo, do que seja ético ou do que seja o
sucesso. E, ainda mais, diversidades de formas de vida e de visões de
mundo são vistas como igualmente razoáveis e podem assim pretender
concorrentemente o reconhecimento de sua dignidade (RAWLS, 1993a).
1
Como veremos, “las razones que abonan la legitimidad del derecho, so pena de
disonancias cognitivas, han de estar en concordancia con los principios morales de una
justicia y solidariedad universalistas, así como con los principios éticos de un modo
de vida tanto de los individuos como de los colectivos, conscientemente proyectado y
asumido con responsabilidad” (HABERMAS, 1998a, p. 164).
2
Para a caracterização de o que seja moralidade pós-convencional, ver COLBY-KOHLBERG,
1987. Kohlberg, partindo de Jean Piaget, formula uma teoria construtivista-cognoscitivista
do desenvolvimento moral, segundo a qual este se daria por meio de níveis estruturais
cada vez mais sofisticados de aprendizagem e de raciocínio acerca de questões prático-
morais; o nível pré-convencional, caracterizado por uma perspectiva individual concreta;
o nível convencional, centrado nos papéis grupais e sociais; e o nível pós-convencional,
que requer uma atitude crítico-reflexiva acerca de papéis, normas e instituições sociais,
a partir, quer dos direitos humanos e do bem-estar social, no estágio 5, quer a partir
do reconhecimento argumentativo de princípios morais universais, no estágio 6. Uma
moralidade pós-convencional é a aquela cujas normas se justificam à luz de um princípio
da universalização e que se aplicam no marco de um princípio formal de adequabilidade.
Acerca da recepção, pela teoria habermasiana, de trabalhos de psicologia social, realizados
por Kohlberg, ver HABERMAS, 1989, p. 143 et seq.
3
Em Habermas, a eticidade substancial consiste no conjunto de tradições, valores, formas
e modos de vida socialmente vigentes e “naturalizados”, que forma a identidade social,
grupal e individual. Na pré-modernidade, esta consistia num amálgama de normas,
valores e interesses que, com a crescente racionalização e problematização do seu
conteúdo, vindas com a modernidade, assume forma reflexiva, num mundo caracterizado,
para usar os termos de John Rawls (1993a), pelo “fato do pluralismo razoável” (acrescento,
pluralismo ético, ou seja, quanto às formas e aos modos de vida boa e digna).
4
Na explicação de Jiménez Redondo (JIMÉNEZ REDONDO, 1998), o princípio democrático
é uma densificação do princípio do discurso, segundo o qual “sólo son legítimas aquellas
normas de acción que pudieran ser aceptadas por todos los posibles afectados por ellas
como participantes en discursos racionales” quando aplicado a normas do agir com forma
jurídica (p.11). E forma jurídica moderna ou forma jurídica [moderna] das normas “se trata
de normas en las que se prescinde de la capacidad del destinatario de ligar su voluntad por
propia iniciativa; que se refieren a asuntos bien tipificados y que, por tanto, representan en
su materia una violenta abstracción respecto de la complejidad del ‘mundo de la vida’; y
en las que se prescinde de la motivación del agente a la hora de atenerse o no a la norma”
(p. 9). Acerca dessa compreensão do Direito, ver HABERMAS, 1997b.
5
Na explicação de Manuel Jimenez Redondo, uma teoria reconstrutiva ‘‘reconstruye la
idealidad inmanente a la facticidad de la realidad como aguijón y elemento de tensión
operante en esa misma realidad” (JIMENEZ REDONDO, 1998, p.13). Como veremos, um
enfoque reconstrutivo do Controle judicial de constitucionalidade das leis nos possibilitará
romper tanto com abordagens excessivamente normativas, quanto com abordagens
cépticas desse controle, ao permanecer aberto a diferentes pontos de vista metodológicos,
a diferentes objetos teóricos, a diferentes papéis sociais e a diferentes atitudes pragmáticas
de pesquisa, a fim de que uma abordagem normativa não perca seu contato com a realidade,
nem uma abordagem objetiva exclua qualquer aspecto normativo, mas permaneçam em
tensão. Sobre um enfoque reconstrutivo, ver HABERMAS, 1997b.
6
Sobre a importância do controle judicial de constitucionalidade para o estudo da jurisdição
constitucional, ver BARACHO, 1996. A presente investigação pretende seguir a linha de
pesquisa inaugurada pelo Professor José Alfredo de Oliveira Baracho acerca da jurisdição
e do processo constitucionais, na Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas
Gerais.
quer que ela seja, sabendo-se que todas as vontades do Planalto são
confirmadas pelo Judiciário.
As Ordenações Filipinas, que vigoraram entre nós por muito tempo,
cominavam dois tipos de pena capital: a morte natural e a espiritual. A
primeira atingia o corpo; a segunda, a alma. O excomungado continuava
a viver, mas só fisicamente: sua alma fora executada pela autoridade
episcopal, com a ajuda do braço secular do Estado.
Algo semelhante aconteceu com nossa Carta. Ela continua a existir
materialmente, seus exemplares podem ser adquiridos nas livrarias (na
seção das obras de ficção, naturalmente), suas disposições são invocadas
pelos profissionais do Direito no característico estilo “boca de foro”. Mas
é um corpo sem alma. Hitler, afinal, não precisou revogar a Constituição
de Weimar para instaurar na civilizada Alemanha a barbárie nazista:
simplesmente relegou às traças aquele “pedaço de papel”.
A única razão de ser de uma Constituição é proteger a pessoa humana
contra o abuso de poder dos governantes. Se ela é incapaz disso, porque
o governo dita a interpretação de suas normas ou as revoga sem maiores
formalidades, seria mais decente mudar a denominação – “o Presidente
da República, ouvido o Congresso Nacional e consultado o Supremo
Tribunal Federal, resolve: a Constituição da República Federativa
do Brasil passa a denominar-se regimento interno do governo”.
(COMPARATO, 1998, p. 3)
7
Para uma discussão acerca do instituto da Medida Provisória, ver CLÈVE, 1993, p. 150 et
seq.
8
Acerca da redução, empreendida pelo Supremo Tribunal Federal, do processo legislativo
a uma dimensão eminentemente política, desprovida de juridicidade, ver CARVALHO
NETTO, 1992.
9
Acerca dos princípios da unicidade, da economia e da continuidade procedimentais, ver
CARVALHO NETTO, 1992, p. 239-240. Considero adequado compreender esses princípios
a partir da posição doutrinária de Elio Fazzalari e Aroldo Plínio Gonçalves, tendo em vista
o “princípio do contraditório” (GONÇALVES, 1992) e a compreensão por eles apresentada
de procedimento. Assim, teremos o “princípio da finalidade” e o “princípio da ausência de
prejuízo” (GONÇALVES, 1993), para o caso da análise da validade e da eficácia dos atos do
próprio processo (“procedimento realizado em contraditório”) legislativo, guardadas as
especificidades desse em relação ao processo jurisdicional. Acerca da aplicação adequada
do princípio do contraditório ao processo legislativo, ver, infra, capítulo 4.
10
É o que pode ser concluído, a partir das análises empreendidas do ponto de vista da
Sociologia Jurídica, por, entre outros, José Eduardo Faria, Boaventura de Sousa Santos, José
Reinaldo de Lima Lopes, Celso Campilongo (FARIA, 1997) e, em especial, JUNQUEIRA;
VIEIRA; FONSECA, 1997.
11
Para uma análise do fenômeno chamado “constitucionalismo simbólico”, ver NEVES, 1994.
Para uma reflexão acerca de um caráter prospectivo, promocional, dos textos “simbólicos”,
bem como dos seus “efeitos sociais latentes”, sobretudo da perspectiva de uma tendência à
desneutralização do Judiciário, no sentido do paradigma jurídico do bem-estar social, ver,
também, VIANNA; CARVALHO; MELO, 1997, p. 26. Para uma crítica a essa noção, ver o
que se segue.
12
Como afirma Habermas (1997b, v. 2, p. 123-124), em relação às Constituições que surgem
após períodos de convulsão política, “diferindo do direito formulado ou desenvolvido por
juristas profissionais, o teor e o estilo dos direitos fundamentais revelam enfaticamente
a vontade de pessoas privadas que reagem a experiências concretas de repressão e de
ataque aos direitos humanos. Na maioria dos artigos referentes aos direitos humanos,
ressoa o eco de uma injustiça sofrida, a qual passa a ser negada, por assim dizer, palavra
por palavra”. Essa passagem de Direito e Democracia: entre facticidade e validade poderia ser
perfeitamente ilustrada pela Constituição de 1988.
13
Como veremos, um enfoque reconstrutivo se preocupa em reconstruir “la idealidad
inmanente a la facticidad de la realidad como aguijón y elemento de tensión operante en
esa misma realidad” (JIMENEZ REDONDO, 1998, p. 13).
14
A bibliografia brasileira acerca dos chamados “novos movimentos sociais”, que se
caracterizam pelo modo não corporativo de reivindicação política, vem se ampliando cada
vez mais. Como exemplo, STEDILE, 1997.
15
Para uma discussão acerca da caracterização, nos Estados Unidos, da jurisdição constitucional
como instituição contramajoritária, ver MISHLER-SHEEHAN (1993, p. 101).
16
É o que se pode concluir das análises empreendidas, nos Estados Unidos, entre outros, por
TRIBE (1990), ELY (1980) e PERRY (1994).
17
Qual é o “caso concreto”, tratando-se do controle de constitucionalidade? É a análise da
constitucionalidade da lei (em tese)? É famosa a crítica de Carl Schmitt à instituição de
um controle judicial de constitucionalidade das leis segundo a qual “não se subsume
uma norma à outra, mas somente condutas a normas” (SCHMITT, 1983); e a resposta de
Hans Kelsen segundo a qual a questão a ser analisada é “o processo de produção da lei”
(KELSEN, 1981). Sobre isso, ver, infra, capítulos 4 e 5.
18
Como poderemos afirmar, hoje e já naquela época: e vice-versa. Ou, em outras palavras,
“numa época de política inteiramente secularizada, não se pode ter nem manter um
Estado de direito sem democracia radical” (HABERMAS, 1997b, p. 13).
19
É possível caracterizar a forte influência culturalista no sentido do que em princípio poderia
ser, como bem mostra CITTADINO (1999 p. 15 et seq.), um pensamento político-jurídico
republicano comunitarista, de matriz social, nas obras de grandes juristas brasileiros
da atualidade, como José Afonso da Silva, Paulo Bonavides, Fábio Konder Comparato,
Roberto Siqueira Castro, Cândido Rangel Dinamarco e tantos outros. No Brasil, os
expoentes dessa corrente doutrinária são fortemente influenciados por autores centrais
do constitucionalismo português e espanhol, de 1976 e 1978, como Gomes Canotilho,
Jorge Miranda, Vieira de Andrade, García de Enterría e Pérez Luño, e, por sua vez,
pelo constitucionalismo contemporâneo alemão de Bonn, desenvolvido à luz da
jurisprudência dos valores.
20
Para uma caracterização da tradição liberal no Brasil, ver PALM, 1998. Rui Barbosa, por
exemplo, é considerado um dos grandes expoentes do pensamento liberal brasileiro. Sobre
Rui Barbosa, ver ROCHA, 1995.
21
Acerca do pluralismo que marca as sociedades modernas, ver RAWLS, 1993a e GALUPPO,
1998, p. 9; p. 47; p. 148 et seq.; 264; e p. 265.
22
No Brasil, tal perspectiva pode ser identificada nos debates constituintes, em entendimentos
jurisprudenciais e doutrinários. Sobre o assunto, ver CITTADINO, 1999, p. 60 et seq.
23
Sobre a Jurisdição Constitucional, ainda que sujeita a reservas quanto ao Direito
Comparado, HABERMAS, 1997, v.1, p. 297 et seq.
24
Sobre os paradigmas jurídicos modernos, o do Estado Liberal, o do Estado Social e o do
Estado Democrático de Direito, ver CARVALHO NETTO, 1996. Também, BARACHO
JÚNIOR, 1998, e CATTONI DE OLIVEIRA, 1998a, p. 42 et seq.
25
Urge, aqui, e desde já, fazer um importantíssimo esclarecimento. O processo legislativo
democrático, que garante/corresponde às condições procedimentais de institucionalização
jurídica de discursos jurídico-normativos de justificação do Direito não pode ser lido
quer em termos meramente morais, quer em éticos. Em obra anterior, dissemos que
“os discursos de justificação se referem à validade das normas, à sua capacidade de
universalização dos interesses, segundo uma versão ‘fraca’ do Princípio da Universalização
(U)” (CATTONI DE OLIVEIRA, 1998a, p. 134). De fato, isso só estará correto se estivermos
fazendo referência à Moral e não ao Direito. O princípio do discurso, que justifica em
última análise a legitimidade de todas as normas do agir, ganha densidade, à luz de
normas morais, enquanto princípio da universalização. Normas morais se justificam à luz
de argumentos que levam em consideração o interesse e o bem de todos. Contudo, isso
não ocorre no Direito. As normas jurídicas não se justificam tão somente à luz de razões ou
argumentos morais, mas também com base em razões éticas e pragmáticas no contexto de
uma comunidade jurídica concreta. Nos discursos de justificação da validade de normas
jurídicas, o princípio do discurso ganha concretude, quando aplicado à forma jurídica
das normas, enquanto princípio democrático. O princípio democrático, diferentemente
do princípio moral da universalidade, não é uma regra interna à argumentação; ele é
desde sempre um princípio institucional, um princípio que garante as condições de
institucionalização das mais variadas formas discursivas e negociais, inclusive morais,
mas não somente morais, pelos quais os discursos de justificação jurídico-normativa
se desenvolvem. Assim, a passagem citada deve ser interpretada a partir do que está
corretamente afirmado às páginas 50 a 52, 144 a 146 da mesma obra. Sobre o assunto, ver
HABERMAS, 1997b, p. 145-147; p. 190 et seq
26
Sobre isso, ver, infra, capítulo 5.
27
Embora discorde do viés historicista por vezes subjacente à sua análise, ver a arguta crítica
de CITTADINO (1999, p. 229 et seq.), ao “constitucionalismo comunitarista brasileiro”.
28
A crítica se destina diretamente tanto a Bruce Ackerman e seu modelo dualista de
democracia, quanto a Frank Michelman e sua caracterização do papel da Suprema Corte
norte-americana, mas pode estender-se ao republicanismo em geral. Assim, afirma
Habermas que: “A tradição republicana sugere um tal excepcionalismo, uma vez que liga
a prática política dos [cidadãos] ao ethos de uma comunidade naturalmente integrada. A
política correta só pode ser feita por [cidadãos] virtuosos.” (HABERMAS, 1997b, v. 1, p. 345)
REPUBLICANISMO E
LIBERALISMO DA RELAÇÃO
ENTRE CONSTITUCIONALISMO
E DEMOCRACIA NO MARCO DAS
TRADIÇÕES DO PENSAMENTO
POLÍTICO MODERNO
2.1 Introdução
Na introdução à sua tradução de Faktizität und Geltung (Direito
e Democracia: entre facticidade e validade), de Jürgen Habermas, Manuel
Jiménez Redondo (1998) parte do pressuposto de que se poderia
considerar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789
como uma das expressões mais significativas do conteúdo normativo
da modernidade política. Analisando a Declaração, seria possível
reconhecer a marca das duas grandes tradições do pensamento político
moderno – a liberal e a republicana –, representadas, respectivamente,
nos embates políticos da Revolução Francesa, pelos girondinos e pelos
jacobinos (ELSTER, 1994, p. 57 et seq.).
Após o seu preâmbulo, que procura explicitar as razões pelas
quais os “representantes do povo francês” julgaram necessário “expor
em uma declaração solene os direitos naturais, inalienáveis e sagrados
do homem” – ou seja, o esquecimento, a ignorância e o desapreço pelos
direitos do homem como causa de toda corrupção dos governos –, a
Declaração de 1789 passa a especificar uma série de princípios e de
naturais deveria ser nula. Mas, desde a perspectiva do art. 6º, obter-se-ia,
por sua vez, um sentido bastante diferente que, inclusive, poderia estar
mais de acordo com o disposto no art. 3º. A questão é que, da perspectiva
do art. 6º, explica Jiménez Redondo,
à propriedade; e o art. 60, §4º, inciso IV, torna esses direitos um limite
ao exercício do Poder Legislativo, inclusive do Poder Constituinte de
Reforma da Constituição, ao determinar que não deverá ser (o texto, em
tom de declaração, diz, literalmente, “não será”) objeto de apreciação
por parte do Poder Legislativo proposta de emenda tendente a
abolir direitos e garantias individuais (isso, sem nos esquecermos
da normativa do inciso XXXVI do art.5º, que determina que a lei
não deverá prejudicar – “não prejudicará”, como está no texto – o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada). Por outro
lado, o art. 1º, parágrafo único, da Constituição dispõe que a fonte
de legitimidade do poder político é o povo, que o exerce por meio de
seus representantes eleitos ou diretamente; e o art.5º, II, estabelece que
“ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão
em virtude de lei”. Como, ontem e hoje, compreender adequadamente
esses dispositivos normativos?
Diante dessa problemática, Isaiah Berlin, como outros autores,
no terreno da Filosofia Política, buscou sintetizar o que seria o grande e
duvidoso legado da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão
de 1789 com as seguintes palavras:
29
Para uma pequena genealogia da tradição republicana, ver MOUFFE, 1996, p. 85, e,
sobretudo, SANDEL, 1982.
30
Sobre o humanismo cívico, ver BIGNOTTO, 1991, p. 9 et seq. Também SKINNER, 1996, p.
91 et seq.
31
Sobre James Harrington, ver SABINE. In: HARRIGNTON, 1996.
32
Sobre Maquiavel e o republicanismo renascentista, ver BIGNOTTO, 1991, e SKINNER,
1996, p. 176-177; p. 201 et seq.
Charles Taylor (1993; 1997), Michael Walzer (1993; 1997), Michael Sandel
(1982) e Alasdair McIntyre, além de juristas como Neil MacCormick
(1995), Michael Perry (1990; 1994) e Frank Michelman (1988).
A tradição política liberal, de John Locke a Immanuel Kant, de
Emmanuel Sièyes e Thomas Paine a Benjamin Constant ou a John Stuart
Mill, e passado por Jeremy Benthan e outros, chega aos nossos dias
através dos ensaios de Isaiah Berlin e de obras tão diversificadas como
as de John Rawls (1971; 1993a), Robert Nozick (1991), Charles Larmore
(1996) ou Ronald Dworkin (1978; 1993). Contudo, é a obra filosófico-
política e moral de John Rawls que, atualizando o jusnaturalismo de
matriz kantiana e não utilitarista, reacendeu nos Estados Unidos o
debate,33 que mais tarde se alastrou pelo mundo, entre republicanos
(comunitaristas ou não) e liberais (sociais ou não).
Essas duas tradições, enquanto tradições do pensamento político
moderno, compartilham a ideia segundo a qual todos os cidadãos
são livres e iguais. Assim, ambas defendem não apenas a existência
de uma Constituição e de um regime democrático, mas também a
constitucionalização de direitos fundamentais. Todavia, isso não
significa que a Constituição, a Democracia e os direitos fundamentais
sejam interpretados da mesma forma por elas. Ao contrário, o que há
entre essas tradições políticas é uma série de divergências (CITTADINO,
1999), nem sempre conciliáveis, quanto aos conceitos de processo
político, cidadania (VIEIRA, 1997, p. 220), direitos, Constituição,
Democracia, etc. (HABERMAS, 1997b, v. 2. p. 19 et seq.).
Tomemos, de início, o pensamento de Jean-Jacques Rousseau e
de John Locke, que podem ser compreendidos como os autores que, em
primeiro lugar, fixaram – e a Declaração de 1789 pode ser considerada
como reflexo disso – os termos das questões filosófico-políticas que, a
essa altura das nossas indagações, devem ser discutidas.
Jean-Jacques Rousseau, assim como John Locke, é muito
conhecido, entre outros motivos, por ser um grande representante do
“contratualismo”.34
33
Sobre o debate ver, MOUFFE, 1996, p 37 et seq.; p. 83 et seq.; KUKATHAS; PETTIT, 1995;
HABERMAS, 1997b, em várias passagens; TOURAINE, 1996, em várias passagens, APEL
In: BLANCO FERNÁNDEZ; PÉREZ TAPIAS; SÁEZ RUEDA, 1994.
34
Para uma visão geral do “contratualismo” e de que “por tal termo se entende uma escola
que floresceu na Europa entre os começos do século XVII e os fins do século XVIII e teve
seus máximos expoentes em J. Althusius (1557-1638), T. Hobbes (1588-1679), B. Spinoza
(1632-1677), S. Pufendorf (1632-1694), J. Locke (1632-1704), J.-J. Rousseau (1712-1778), I. Kant
(1724-1804)”, ver o verbete de Nicola Matteucci Zn: BOBBIO; MATEUCCI; PASQUINO,
1994, p. 272. Matteucci adverte para o fato, bastante relevante para o presente estudo, de que
por escola entende “não uma comum orientação política, mas o uso comum de uma mesma
sintaxe ou de uma mesma estrutura conceitual para racionalizar a força e alicerçar o poder no
consenso”. Contudo, vai-se tornando inegável, à medida que a análise de Matteucci avança,
a influência dessas referidas “orientações políticas divergentes” (verdadeiras pragmáticas)
nessa “estrutura conceitual”, que pouco resta como sendo a mesma, ainda mais em se
tratando da busca de “uma racionalização da força” ou de “um fundamento consensual do
poder”. Sobre as teorias contratualistas hoje, ver, por exemplo, KERN; MÜLLER, 1992.
35
A tradução do francês ao português, na publicação feita pela Abril Cultural, em sua
coleção “Os Pensadores”, é de Lourdes Santos Machado, com notas também redigidas por
Paul Arbousse-Bastide. Na primeira nota, os organizadores advertem de modo bastante
significativo: “Na edição Dreyfus-Brisac, famosa por ser a primeira a tentar a reposição do
texto segundo as fontes originais, figura um fac-símile da primeira folha do Manuscrito de
Genebra, primitivo esboço do Contrato Social. Aí se encontram as muitas variantes por que
passou o título da obra. Primeiro, foi mesmo Do Contrato Social. Depois, provavelmente para
fugir ao sabor individualista dessa expressão, foi ela riscada e substituída por Da Sociedade
Civil. A seguir, consciente da originalidade de sua interpretação do esquema contratual,
Rousseau retoma o primeiro título. Quanto ao subtítulo, encontramos sucessivamente
‘Ensaio sobre a Constituição do Estado’, ‘Ensaio sobre a Formação do Corpo Político’,
‘Ensaio sobre a Formação do Estado’ e ‘Ensaio sobre a Forma da República’. ‘Princípios do
Direito Político’ é novidade que só surge na versão definitiva do Contrato.”
36
Mesmo assim, a própria leitura de Hobbes, empreendida por Bobbio, carece de maiores
aprofundamentos. Como demostram os estudos mais recentes, Hobbes poderia ser visto
como um paradoxal defensor da esfera privada, que seria garantida por um governo
autoritário. Todavia, esse autoritarismo possui limites. O soberano somente realizaria suas
ações por meio da linguagem abstrata do Direito moderno, o que viabilizaria, portanto, o
direito de todos a iguais liberdades subjetivas. Assim, Napoleão Bonaparte corporificaria
a figura de um soberano como esse, e muito melhor do que qualquer um dos reis Stuart.
37
Usamos aqui, mais uma vez, as expressões de Isaiah Berlin (1981). Retomando o tema da
famosa conferência de Benjamin Constant, Berlin fala em liberdade em sentido positivo e
liberdade em sentido negativo. Todavia, tal distinção é problemática da perspectiva de uma
teoria discursiva da democracia.
38
O que o empirismo político característico das análises de Norberto Bobbio (1992b, p. 48)
não deixa ver é justamente o aspecto normativo da exposição tanto de Locke quanto, e
fundamentalmente, de Rousseau, acerca do pacto social: com este se funda a organização
política, por meio da institucionalização político-jurídica de direitos que passam a ser
reciprocamente reconhecidos, desde o início, quando da passagem do “estado de natureza”
para o “estado civil”.
39
Sobre o conceito de propriedade em John Locke, ver JORGE FILHO, 1992, p. 77 et seq.
Aqui, o contraste entre Locke e Rousseau é imenso. Basta lembrar que Rousseau considera
que a propriedade privada está na origem das desigualdades “morais” ou “políticas”
entre os homens (ROUSSEAU, 1983b, p. 259).
40
No original, “The great and chief end therefore, of Mens uniting into Commonwealths,
and putting themselves under Government, is the preservation of their Property. To which
in the state of nature there are many things wanting” (LOCKE, 1963, p. 395-396).
Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo seu poder sob a
direção suprema da vontade geral, e recebemos, enquanto corpo, cada
membro enquanto parte indivisível do todo’. Imediatamente, esse ato de
associação produz, em lugar da pessoa particular de cada contratante,
um corpo moral e coletivo, composto de tantos membros quantos são os
votos da assembléia, e que, por esse mesmo ato, ganha sua unidade, seu
eu comum, sua vida e sua vontade. Essa pessoa pública, que se forma,
desse modo, pela união de todas as outras, tomava antigamente o nome
41
Cabe lembrar que, em Locke, o governo, composto de representantes ou de um representante
do povo, é exercido fundamentalmente pelo Poder Legislativo, existente ao lado do Poder
Executivo e do Poder Federativo, e se diferencia do seio do povo, não se confundindo com
este último. Sobre o tema, ver LOCKE 1963, p. 401 et seq.; 1983, p. 86 et seq.
42
É o próprio Locke quem explica o que significa Commonwealth, nesta passagem do seu
já citado livro: 133. “By Commonwealth, I must be understood all along to mean, not
a democracy, or any Form of Government, but any Independent Community which
the Latines signified by the word Civitas, to which the word which best answers in our
Language, is Commonwealth, and most properly expresses such a Society of Men, which
Community or City in English does not, for there may be Subordinate Communities in a
Government; and City among us has a quite different notion from Commonwealth”.
43
O jacobinismo e seu Comité de Saúde Pública representarão a quintessência desse ponto
de vista.
44
Em Rousseau, a ideia de soberania inalienável e indivisível opõe-se ao governo
representativo no sentido de Locke. A íntegra do famoso trecho é: “A soberania não pode
ser representada pela mesma razão por que não pode ser alienada, consiste essencialmente
na vontade geral e a vontade geral absolutamente não se representa. É ela mesma ou é outra,
não há meio-termo. Os deputados do povo não são, nem podem ser seus representantes;
não passam de comissários seus, nada podendo concluir definitivamente. É nula toda lei
que o povo diretamente não ratificar; em absoluto, não é lei” (ROUSSEAU, 1983a, p. 108)
E num ataque frontal a Montesquieu e a Locke, afirma: “O povo inglês pensa ser livre e
muito se engana, pois só o é durante a eleição dos membros do parlamento; uma vez estes
eleitos, ele é escravo, não é nada. Durante os breves momentos de sua liberdade, o uso,
que dela faz, mostra que merece perdê-la” (p. 108). E explicitando as raízes medievais do
“governo representativo”, considera-o incompatível com o direito e com a liberdade civil.
45
Não há lugar, portanto, para um pacto secundário entre povo e governantes.
46
ROUSSEAU, 1983a, p. 46: “... a vontade geral é sempre certa e tende sempre à utilidade
pública”.
47
Sobre a compreensão de democracia, ver HANNAH ARENDT (1990), fundamentalmente,
capítulos 4 e 5.
DEMOCRACIA E
CONSTITUCIONALISMO NO MARCO DO
ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO:
DA NECESSIDADE DE SUPERAÇÃO
DAS TRADIÇÕES REPUBLICANA E
LIBERAL POR MEIO DE UMA VISÃO
PROCEDIMENTALISTA DO DIREITO E
DA POLÍTICA DELIBERATIVA
3.1 Introdução
Republicanismo e liberalismo são duas tradições do pensamento
político moderno que informam o debate político-jurídico dos últimos
séculos. Como vimos no capítulo anterior, apresentam modelos que,
preocupados não tanto em explicar ou descrever processos políticos
concretos, levantam a pretensão de fundar a política em termos
normativo-idealizantes.
Ta i s m o d e l o s t ê m p e r d i d o m u i t o d o s e u p o d e r d e
convencimento por não levarem em consideração a complexidade
da sociedade atual, ao manterem, por exemplo, um modelo de
sociedade composta por indivíduos e centrada no Estado, ou,
mais especificamente, no caso republicano, ao pressuporem uma
homogeneidade ético-cultural como base da democracia, pouco ou
nada são capazes de se articularem a uma análise empírica no nível
dos processos políticos concretos, em nossas sociedades complexas,
descentradas e pluralistas.
48
Traduzimos o termo inglês fairness por equanimidade e não por equidade, para marcar o
contexto não aristotélico da Teoria da Justiça apresentada por John Rawls, uma concepção
que se pretende procedimental e não substantivista.
49
Segundo Rawls, os princípios da justiça selecionados pelas partes na posição original
devem ser, assim, enunciados: “a). Toda pessoa tem igual direito a um esquema
plenamente adequado de liberdades fundamentais iguais, o qual seja compatível com
um esquema similar de liberdades para todos; b). As desigualdades sociais e econômicas
devem satisfazer a duas condições. Primeiro, devem estar associadas a cargos e a posições
abertos a todos, em condições de uma equitativa igualdade de oportunidades; e, segundo,
devem proporcionar o maior benefício aos membros menos favorecidos da sociedade”
(RAWLS, 1993a, p. 291) A mudança em relação à anterior formulação do primeiro princípio,
explica Rawls, está em que a expressão “um esquema plenamente adequado” substitui a
expressão “o sistema total o mais extenso”, tal como se encontra em Theory (RAWLS,
1971, p. 250; p. 302), o que leva à inserção dos termos “o qual” antes de “compatível”. Tais
alterações visam, segundo Rawls, afastar um “critério de maximização” (maximin) das
liberdades, que poderia estar subjacente à formulação original (RAWLS, 1993a, p. 331).
50
Para uma crítica ao realismo da Teoria da Escolha Racional, ver HABERMAS, 1997b v. 2,
p. 65 et seq.
51
Para uma crítica à Teoria dos Sistemas, ver HABERMAS, 1997b, v. 2, p. 63-65; p. 74 et seq.
52
Segundo Habermas, “só uma democracia entendida nos termos da teoria da comunicação é
também possível sob as condições das sociedades complexas” (HABERMAS, 1997a, p. 147).
53
Para uma crítica fundada na Teoria dos Sistemas às “semânticas” da soberania popular,
liberal ou republicana, no sentido, inclusive, da sua superação, ver MAGALHÃES, 1998,
p. 361-369.
54
Segundo Habermas, o paradigma procedimentalista do Direito se apoia nas seguintes
premissas: “a) o caminho de volta, propalado pelo neoliberalismo através do mote ‘retorno da
sociedade burguesa e de seu direito’, está obstruído; b) o apelo que nos incita a ‘redescobrir o
indivíduo’ é provocado por um tipo de juridificação no interior do Estado social, que impede
reconstruir a autonomia privada; c) o projeto do Estado social não pode ser simplesmente
congelado ou interrompido: é preciso continuá-lo num nível de reflexão superior. O que
se tem em mente é domesticar o sistema econômico capitalista, ‘transformando-o’, social e
ecologicamente, por um caminho que permita ‘refrear’ o uso do poder administrativo, sob
dois pontos de vista: o da eficácia, que lhe permita recorrer a formas mitigadas de regulação
indireta, e o da legitimidade, que lhe permita retroligar-se ao poder comunicativo e imunizar-
se contra o poder ilegítimo.” (HABERMAS, 1997b, v. 2, p. 147-148).
55
Sobre tal compreensão de Constituição, ver também o próximo capítulo.
56
Reconstrutivamente, segundo Habermas, esses direitos fundamentais são os seguintes:
a) direitos a iguais liberdades subjetivas; b) a iguais direitos de pertinência; c) à garantia
do direito à tutela jurisdicional; d) à elaboração legislativa autônoma; e e) direitos
participatórios (HABERMAS, 1997b, v. 1, p. 159 et seq.).
Nesse sentido, pode-se dizer que, para uma teoria discursiva do Direito e da Democracia,
57
TEORIA DISCURSIVA DA
CONSTITUIÇÃO E PROCESSO
CONSTITUCIONAL
4.1 Introdução
No capítulo anterior, buscamos caracterizar, em linhas gerais,
uma Teoria da Democracia capaz de superar os dilemas a que foram
levadas as tradições liberal e republicana, quanto à compreensão da
relação entre autonomia pública e autonomia privada, por um lado, e,
fundamentalmente, entre constitucionalismo e democracia, por outro.
Como vimos, se quisermos, da perspectiva da Teoria Discursiva da
Democracia, levar a sério o nexo entre autonomia pública e autonomia
privada, enquanto duas dimensões em que a autonomia jurídica se
espraia, a soberania popular deverá ser vista como poder comunicativo
que, ao derivar das interações entre a formação da vontade política
institucionalizada e os públicos mobilizados culturalmente da sociedade
civil, é mediada juridicamente pelo processo legislativo democrático.
Desse modo é que a Constituição deverá ser compreendida como
a institucionalização de condições processuais para a formação da
vontade e da opinião políticas e como instância de reconhecimento
reflexivo de espaços públicos e privados abertos à interpretação que,
presente a tensão entre faticidade e validade, pretendem garantir o
exercício das autonomias pública e privada dos coassociados jurídicos.
Neste e no próximo capítulo, procuraremos, com base na
reconstrução da relação entre constitucionalismo e democracia,
empreendida a partir da Teoria Discursiva da Democracia, apresentar uma
58
O estudo do Direito Constitucional Processual (THEODORO JÚNIOR, 1987, p. 43), dos
princípios constitucionais que integram o chamado “modelo constitucional do processo”
(ANDOLINA; VIGNERA, 1990), é fundamental para a compreensão do papel que a
Constituição reserva para o processo jurisdicional, esse instrumento pelo qual não só é
exercido o Poder Jurisdicional, mas também é viabilizada a garantia constitucional de se
submeter uma (pretensão de) lesão, ou (de) ameaça de lesão, a direito, à apreciação do
Poder Judiciário. Somente por meio desse estudo é que se pode reconstruir adequadamente
os institutos do Direito Processual. Assim como há uma relação fundamental entre
Constituição e processo no plano jurídico-normativo, hoje, mais que ontem, a Teoria
Geral do Processo depende de uma Teoria da Constituição que a guie no seu trabalho não
somente jurídico-dogmático, mas também crítico-reflexivo.
59
Sobre a distinção entre Direito Constitucional Processual – “princípios constitucionais
do Direito Processual” – e Direito Processual Constitucional ou simplesmente Processo
Constitucional – “normas constitucionais que organizam e instrumentalizam o exercício
da Jurisdição Constitucional”, ver BARACHO, 1984, p. 126 et seq.; NÉRY JÚNIOR, 1996 e
THEODORO JÚNIOR, 1987, p. 44-45.
60
Schmitt elenca, na primeira parte do seu livro, os conceitos absoluto (todo unitário),
relativo (pluralidade de leis particulares), ideal (em razão do conteúdo) e positivo de
Constituição, A Constituição como decisão de conjunto sobre o modo e a forma da unidade
política. Esse último é o que adota (SCHMITT, 1927, p. 50). Sobre o conceito positivo de
Constituição, ver SCHMITT, 1927, p. 23.
61
Em sua Teoria da Constituição (SCHMITT, 1927, p. 24.), assim se manifestava Schmitt,
acerca do livro de Smend (Constituição e Direito Constitucional): ...”está anunciado um
livro de Rudolf Smend sobre Teoria constitucional. Eu busquei no meu atual trabalho
enfrentar suas anteriores publicações e na confrontação experimentei a riqueza e grande
fecundidade de seus pensamentos. Por isso, lamento de modo singular não conhecer e
poder valorar a esperada exposição de Teoria constitucional”.
62
HABERMAS, 1995a. Sobre o impacto dessas questões no âmbito da Teoria do Estado, ver
LUCAS VERDÚ, 1974, v. 2, p.34 et seq.
63
Exemplos desse desenvolvimento: HABERMAS, 1987 e LUHMANN, 1991. Sobre o
impacto da sociologia contemporânea no estudo do fenômeno estatal, ver CANOTILHO,
1995, p.15-18.
64
P. ex., no Direito brasileiro, com o surgimento da Ação Civil Pública (Lei Federal nº
7.347/85), do Mandado de Segurança Coletivo (Constituição da República, art.5º, LXX) e
das novas ações coletivas do Código de Defesa do Consumidor (Lei Federal nº 8.078/90).
A esfera pública pode ser descrita como uma rede adequada para
a comunicação de conteúdos, tomadas de posição e opiniões; nela
os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se
condensarem em opiniões públicas enfeixadas em temas específicos [...]
a esfera pública se reproduz através do agir comunicativo, implicando
apenas o domínio de uma linguagem natural; ela está em sintonia com
a compreensibilidade geral da prática comunicativa cotidiana [...] A
esfera pública constitui principalmente uma estrutura comunicacional
do agir orientado pelo entendimento, a qual tem a ver com o espaço
social gerado no agir comunicativo, não com as funções nem com os
conteúdos da comunicação cotidiana. (HABERMAS, 1997b, v. 2, p. 92)
65
Sobre a influência de Taylor nas discussões sociológicas brasileiras, ver SOUZA, 2000.
66
Acerca dessa denominação, um termo já usual na linguagem comunitária européia, ver
CARRERAS SERRA, 1995, p. 207.
67
Sobre o conceito hegeliano de sociedade civil como “sistema das necessidades”, ver as
análises desenvolvidas em SALGADO, 1996, p. 365 et seq. Segundo Salgado, em Hegel, “O
ser para si existente que caracteriza a sociedade civil é o bourgeois, o indivíduo do ponto de
vista das suas necessidades econômicas. Inversamente ao cidadão, o bourgeois é o indivíduo
que na sociedade cuida dos seus interesses particulares, sem qualquer consideração da
ordem pública como um bem comum. Seu interesse é sempre oposto ao da comunidade
e só aproveita à comunidade porque sua atividade está inserida num sistema de
interdependência, pelo qual o que ele produz é socializado, ou seja, aproveita indiretamente
à sociedade.” (SALGADO, 1996, p. 365). “Assim, a sociedade civil estrutura-se segundo o
jogo das necessidades reciprocamente determinadas. Não há a convergência de todos para
um mesmo interesse; obedece-se à regra da oferta e da procura e aos seus processos de
compensação e acomodação de interesses” (SALGADO, 1996, p. 367). Vale a pena contrastar
o conceito hegeliano com a noção contemporânea de sociedade civil (ARATO; COHEN,
1994a, p. 345; HABERMAS, 1997b, v. 2, p. 99), adotada aqui, e que se segue.
68
Nesse sentido, também: CARVALHO NETTO, 2001, p. 41 et seq. Do mesmo autor, “A Revisão
Constitucional e a cidadania: A legitimidade do Poder Constituinte que deu origem à
Constituição da República Federativa de 1988 e as potencialidades do Poder Revisional nela
previsto”. Revista Fórum Administrativo, Belo Horizonte, v. 1, n. 7, p. 882 et seq., set. 2001.
69
Não é correto compreender a “situação ideal de fala” em Habermas como uma espécie
de sucedâneo do “reino dos fins” ou mesmo como uma “ideia reguladora” que “serve
como guia para discursos empíricos” e “torna possível criticar resultados neles obtidos”
(GOMES; MERLE, 2007, p. 69). Ora, a “situação ideal de fala” nada mais é, segundo
Habermas, do que um “experimento de pensamento” [ein Gedankenexperiment], uma “ficção
metodológica”, e representa, assim destituída de toda e qualquer conotação essencialista,
tão somente uma projeção empreendida por meio da reconstrução dos pressupostos
idealizantes, de caráter contrafactual, da racionalidade comunicativa, já presentes na
facticidade dos processos sociais, subjacentes, portanto, a toda interação linguística voltada
ao entendimento; aqui, pois, a transcendência é imanente, é intramundana. Nas palavras
de Habermas: “Os pressupostos contrafactuais de que têm de partir os participantes
na argumentação abrem, é claro, uma perspectiva que permite a eles [os participantes]
transcender a inevitável provincialidade de seus contextos espaço-temporais, na ação
e na experiência, ir além das práticas locais de justificação e, portanto, fazer justiça à
significação [Sinn] das pretensões de validade transcendendo-contextos. Mas com as
pretensões de validade transcendendo-contextos, eles próprios [os participantes] não
são transportados para o mais além transcendente de um reino ideal de seres inteligíveis.
Em contraste com a projeção de ideais, à luz dos quais podemos identificar desvios, “os
pressupostos idealizantes que nós já sempre temos de adotar, se pretendemos alcançar o
entendimento mútuo, não envolvem qualquer tipo de correspondência ou de comparação
entre ideia e realidade” [Brunkhorst]. Por outro lado, é legítimo usar tal projeção para
um experimento de pensamento [Peters]. O mal-entendido essencialista é substituído
por uma ficção metodológica elaborada para dispor de um pano-de-fundo sobre o qual
o substrato de complexidade societária inevitável torna-se visível” (HABERMAS, 1992, p.
392). Assim, toda a discussão empreendida em Travessoni/Merle revela-se ainda presa
a uma metafísica dos dois mundos, típica de uma tradição filosófica que é anterior ao
linguistic turn. Ao lançar mão de dicotomias tais como “consenso empírico/consenso
ideal”, “mundo real (empírico)/mundo ideal”, toda essa discussão se reduz a uma série
de equívocos no que diz respeito à compreensão do projeto filosófico habermasiano de
uma pragmática formal; e assim fracassa perdendo todo o seu sentido, despendendo
inutilmente um enorme esforço que tem a intenção de pretenciosamente defender
Habermas da descabida acusação de um “idealismo ingênuo”. Tal labuta demonstra,
também, uma certa falta de background quanto ao estado da arte das discussões em
torno do pensamento habermasiano; e, naquilo que seria decisivo à argumentação, nem
mesmo se dá ao trabalho de se remeter diretamente ao próprio Habermas. Estamos aqui,
portanto, diante de um problema, no mínimo, hermenêutico-filosófico. Eis, assim, como em
Travessoni/Merle não se compreendeu adequadamente sequer o sentido da própria tese,
presente desde o título da obra teorético-jurídica de Habermas: a tensão – e não uma
contraposição ou mesmo um hiato! – entre facticidade e validade.
70
Ou seja, uma superação da “classificação ontológica da Constituição”, desenvolvida por:
LOEWENSTEIN, 1976.
71
Mas superar também as abordagens no sentido de um constitucionalismo simbólico
(Marcelo Neves).
72
Nesse sentido é que CANOTILHO fala, com base em Robert Alexy, de uma “teoria da
Constituição” e de um “constitucionalismo constitucionalmente adequado”. (CANOTILHO,
1998, p. 1.036).
instrumentos que têm por finalidade realizar “os valores sociais e políticos
da nação” (DINAMARCO, 1993, p. 12). E a liberdade e a igualdade,
enquanto valores a serem realizados pela jurisdição, encontram seu
sentido tão somente à luz das identidades culturais e tradicionais de
cada nação, e que modelam “o modo de ser político de cada Estado”:
Ser sujeito à lei não significa ser preso ao rigor das palavras que os textos
contêm, mas ao espírito do direito do seu tempo. Se o texto aparenta
apontar para uma solução que não satisfaça ao seu sentimento de
justiça, isso significa que provavelmente as palavras do texto ou foram
mal empregadas pelo legislador, ou o próprio texto, segundo a mens
legislatoris, discrepa dos valores aceitos pela nação no tempo presente.
Na medida que o próprio ordenamento jurídico lhe ofereça [ao juiz]
meios para uma interpretação sistemática satisfatória perante o seu
senso de justiça, ao afastar-se das aparências verbais do texto e atender
aos valores subjacentes à lei, ele [o juiz] estará fazendo cumprir o direito.
(DINAMARCO, 1996, p. 294, nº 6).
73
Cappelletti é um dos poucos processualistas que, ao tratar do tema do “acesso à justiça”,
refere-se aos limites e aos riscos desse enfoque. Em seu clássico trabalho, com Bryant
Garth, sobre o tema, ele afirma, entre outras coisas, que “as reformas judiciais e processuais
não são substitutos suficientes para as reformas políticas e sociais” (CAPPELLETTI;
GARTH, 1988, p. 161); que “as reformas não podem (e não devem) ser transplantadas
simploriamente de seus sistemas jurídicos e políticos” (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p.
162); que “os sistemas jurídicos não podem introduzir órgãos e procedimentos especiais
para todos os tipos de demandas”, as competências podem ficar confusas, a especialização
e consequente isolamento e estreiteza de perspectiva do juiz (CAPPELLETTI; GARTH,
1988, p. 162-163). E o pior de todos, “o risco de que procedimentos modernos e eficientes
abandonem as garantias fundamentais do processo civil – essencialmente as de um
julgador imparcial e do contraditório” (CAPPELLETTI; GARTH, 1988, p. 163). De fato,
não se quer negar a importância do “acesso à justiça”, a necessidade de reformas no
sistema processual brasileiro ou que a superação de um enfoque formalista do processo
e da jurisdição seja necessária. Ao contrário, é urgentíssimo. Contudo, para isso não é
preciso, nem se deve, por um lado, abandonar as garantias processuais e, por outro, adotar
uma compreensão idealizante e paternalista do papel do juiz ou do próprio Estado, como
transparece na análise de alguns autores brasileiros.
74
O título da famosa obra de Von Ihering pode ser retomado, no sentido dado por Bobbio
(1992a) – a necessidade de reconquista constante e cotidiana dos direitos humanos para
além da consagração destes em diplomas normativos.
75
De uma perspectiva descritiva, ver Luhmann (1996, p. 83).
76
Quanto a essa concepção de processo, cabem algumas ressalvas, que serão desenvolvidas
infra.
77
Nesse sentido, este trabalho procura distanciar-se dos enfoques tradicionais da doutrina
e da jurisprudência nacionais sobre o processo legislativo, tal como os classicamente
apresentados por Ferreira Filho (1995), e Sampaio (1996).
as análises de Elio Fazzalari (1994), de Serio Galeotti (1985) e, num certo sentido, de
Peter Haberle (1997), à luz da Teoria Discursiva do Direito e da Democracia apresentada
por Jürgen Habermas. Cabe registrar, também, que procura desenvolver, criticamente,
preciosas intuições apresentadas em Galuppo (1995). Sobre os conceitos de procedimento
e de processo adotados aqui, ver neste capítulo, infra.
necessitariam toda uma digressão à parte. Várias delas serão objeto de exposição e de
análise, durante o desenvolvimento deste e do próximo capítulo. Discordaremos, p. ex., da
Portanto,
O Direito mais uma vez deve ser aplicado a si mesmo na forma de normas
de organização, não somente para criar competências jurisdicionais, mas
80
Por exemplo: BARACHO, 1995; DANTAS, 1996; MENDES, 1998a; CANOTILHO, 1995
p. 953 et seq.; 1998, p. 781 et seq.; CAPPELLETTI, 1992; FAVOREU, 1994; KELSEN, 1981;
COMBELLAS, 1995; FIX-ZAMUDIO, 1995; HERDEGEN, 1995; STEIN, 1996; ABAD
YUPANQUI, 1996; BREWER-CARÍAS, 1996; LÕSING, 1996; FERNANDEZ SEGADO,
1996; CARLUCCI-MOSSO, 1996.
81
Por exemplo, PIZZORUSSO, 1987; SCHLAICH, 1987; OEHLINGER, 1987; CAPPELLETTI,
1992; BOUZAT, 1991; MENDES, 1998.
82
Por exemplo, CAPPELLETTI, 1976; FIX-ZAMUDIO, 1995; BOREA ODRÍA, 1995;
ALCALÁ, 1997; TORREALBA SANTIAGO, 1997; AYALA CORAO, 1996; ALEXY, 1993.
83
Por exemplo, GALLEOTTI, 1950; ANTUNES, 1993; CLÈVE, 1995; DANTAS, 1996;
STREINZ, 1997; COLAPIETRO, 1996.
formação da lei, sendo por assim dizer uma formação com sinal negativo e,
portanto, uma função legislativa. E um tribunal que possui o poder de anular
as leis é por consequência órgão do Poder Legislativo. A anulação das leis
por um tribunal poderia ser, portanto, considerada tanto como repartição
do poder legislativo quanto como invasão do Poder Legislativo[...] Se
se quer manter [o princípio da separação dos poderes] numa república
democrática, pode ser somente tomando razoavelmente em consideração,
dentre os vários, o significado que exprime a expressão ‘divisão de poderes’,
melhor do que a de separação, a idéia, a saber, da repartição do poder
entre órgãos diversos, não tanto para isolá-los reciprocamente, quanto
para consistir num controle de uns sobre os outros. E isso não somente
para impedir a concentração de um poder excessivo nas mãos de um só
órgão – concentração que seria danosa para a democracia –, mas para
garantir outrossim a regularidade do funcionamento dos diversos órgãos.
Mas agora a jurisdição constitucional não contrasta completamente com
o princípio da separação de poderes, em vez disso é uma afirmação. [...]
A sua independência tanto perante o parlamento quanto em relação ao
governo é um postulado evidente. É realmente correto que o parlamento e o
governo, os órgãos que participam do procedimento legislativo, devam ser
controlados pelo órgão da justiça constitucional. (KELSEN, 1981, p. 172-174).
84
Tal passagem, assim, completa-se: “Il vantaggio fondamentale di un tribunale
costituzionale sta in ciò, che esso, non partecipando sin dall’inizio all’esercizio del
potere, non si pone in contrasto necessario col parlamento o col governo.” (KELSEN,
1981, p. 270).
85
Ainda que sujeito a certas críticas no âmbito do Direito Constitucional Comparado, ver
HABERMAS, 1997b, v. 1, p. 322-330. Como se verá, mais à frente, isso não faz da Jurisdição
Constitucional um guardião republicano do processo político (HABERMAS, 1997b, v. 1, p.
345-347).
86
Sobre o assunto, ver, fundamentalmente, o próximo capítulo.
87
De um lado, Kelsen (1987) e Hart (1994), por outro, Schmitt (1927; 1988; 1992).
CONCLUSÃO
O PAPEL DA JURISDIÇÃO
CONSTITUCIONAL E DO CONTROLE
JUDICIAL DE CONSTITUCIONALIDADE
DAS LEIS E DO PROCESSO LEGISLATIVO
NO MARCO DO ESTADO DEMOCRÁTICO
DE DIREITO
5.1 Introdução
Como vimos no item 4.4, se compreendermos fundamentalmente
a Constituição como a regulação de processos que visam garantir
o exercício da autonomia jurídica, numa perspectiva que supera
tanto o paradigma liberal quanto o paradigma de bem-estar social,
de Constituição e de autonomia, poderemos reconstruir a tarefa da
Jurisdição Constitucional como primordialmente referida ao exame
e à garantia de realização das condições procedimentais, das formas
comunicativas e negociais, para um exercício discursivo da autonomia
pública. Os direitos fundamentais exprimem essas condições,
possibilitam um consenso racional acerca da institucionalização das
normas do agir e tornam possível a gênese democrática do Direito.
Assim, como já dito, sobretudo, nos capítulos 3 e 4, soluciona-se, no
plano da autocompreensão normativa do Estado Democrático de Direito
e sobre a base de uma relação não conflituosa entre constitucionalismo
88
Em outros termos, poderíamos perguntar: Segundo a Constituição brasileira (art. 102,
caput), “compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição”.
O que isso pode significar, sob o paradigma procedimentalista do Estado Democrático de
Direito?
89
A crítica se destina diretamente tanto a Bruce Ackerman e seu modelo dualista de
democracia, quanto a Frank Michelman e sua caracterização do papel da Suprema Corte
norte-americana, mas pode estender-se ao republicanismo em geral. Assim, afirma
Habermas (1997b, v. 1, p. 345): “A tradição republicana sugere um tal excepcionalismo, uma
vez que liga a prática política dos [cidadãos] ao ethos de uma comunidade naturalmente
integrada. A política correta só pode ser feita por [cidadãos] virtuosos”.
90
Nos termos, por exemplo, do art. 5º, §2º, da Constituição brasileira.
91
Baseamo-nos aqui, sobretudo, em FABRÍCIO, 1994, p. 6 et seq., apesar de discordar dos
conceitos de processo e de procedimento adotados por esse, e em MAGALHÃES, J. L.,
1997, p. 180.
92
Também, nessa perspectiva, o excelente ensaio de LAGES, 1998.
Mas não tem o juiz a faculdade de revogar a lei [...] Daí o decreto judicial
de inconstitucionalidade não significar anulação da lei, porém, a sua
inaplicabilidade ao caso em espécie. (PEREIRA, 1991, v. 1, p. 149).
93
Assim, por um lado, o fato de uma lei poder ser desobedecida porque inconstitucional
está intimamente ligada ao princípio segundo o qual numa democracia todos somos
intérpretes ativos da Constituição. E, por outro, não faz sentido a preocupação segundo a
qual dizer que a decisão judicial teria natureza declaratória levaria necessariamente a que
se reconhecesse um direito de desobedecer sob quaisquer razões.
94
A grande maioria dos autores brasileiros advoga, desde Rui Barbosa, a tese segundo a
qual a decisão judicial é declaratória, como Cléve (1995, p. 164), Dantas (1996, p. 151; p.
187-188), Mendes (1995, p. 288 et seq.; 1998a, p. 252 et seq.), Barroso (1993, p. 77) e tantos
outros. Essa é, inclusive, a posição tradicional do Supremo Tribunal Federal. Cabe,
contudo, anotar as posições de Fazzalari (1994, p. 271), segundo a qual a decisão tem
caráter constitutivo, embora tenha eficácia retroativa, Gonçalves (1993, p. 126), para quem
não se pode confundir a natureza (constitutiva) da decisão (anulação, aplicação da sanção
de nulidade ao vício de inconstitucionalidade) com a dos seus efeitos (retroativos ou não,
conforme o Direito positivo), e de Ferrari (1992), muito semelhante à do segundo.
95
Assim, o que não tem sentido é dizer que defender a posição segundo a qual a decisão
jurisdicional apenas declara a inconstitucionalidade da lei ou de ato normativo é estar
à mercê da total desobediência às leis e é afirmar a desnecessidade dos Tribunais. A
decisão jurisdicional declaratória cumpre papel importantíssimo justamente porque tem
a função de reconhecer com caráter institucional e vinculante a inconstitucionalidade e,
portanto, de “acertar” situações jurídicas, solucionando uma situação de incerteza sobre a
irregularidade ou constitucionalidade, à luz do Direito vigente. E dizer “Direito vigente”
é o mesmo que dizer “Direito compatível com a Constituição”, pressuponto-se visões
jurídico-paradigmáticas, datadas, históricas, carentes de legitimação que, sob o Estado
Democrático de Direito, não podem ser, inclusive, ingenuamente ou tão somente seguidas,
mas devem ser problematizadas.
96
É nesse sentido que concordamos com a arguta crítica de GONÇALVES (1993, p. 129-
130) à esdrúxula “ação direta de constitucionalidade” (EC n. 3/93) e consideramos
inconstitucional dentre outras razões, a Lei nº 9.868/99. Elas são incompatíveis com o modelo
constitucionalmente adotado de controle de constitucionalidade reconstruído aqui.
97
Insisto, nisso reside a sua importância: A decisão jurisdicional declaratória cumpre, aqui,
papel importantíssimo, justamente porque exerce a função de reconhecer com caráter
institucional e, assim, vinculante, a inconstitucionalidade e, portanto, de “acertar”
situações jurídicas, solucionando uma situação de incerteza sobre a irregularidade ou
constitucionalidade, à luz do Direito positivo.
I
Foi com base na compreensão habermasiana do nexo interno
entre Estado de Direito e Democracia que buscamos desenvolver nossas
reflexões sobre os pressupostos democráticos do controle jurisdicional
de constitucionalidade das leis e do processo legislativo, em Devido
Processo Legislativo: uma justificação democrática do controle jurisdicional
de constitucionalidade das leis e do processo legislativo. (CATTONI DE
OLIVEIRA, 2000, p. 181)
Essa obra, cuja primeira edição foi lançada pela Editora
Mandamentos, em 2000, com prefácio de Menelick de Carvalho Netto,
foi fruto, em sua gênese, de Tese de Doutorado, defendida com sucesso,
em 17 de maio de 1999, junto ao Programa de Pós-Graduação em Direito,
da Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais,
perante Banca Examinadora composta pelos Professores Doutores
Menelick de Carvalho Netto (meu orientador), José Ribas Vieira (Direito
– PUC-RJ/UFRJ), Theresa Calvet de Magalhães (Filosofia – UFMG),
Aroldo Plínio Gonçalves (Direito-UFMG), José Alfredo de Oliveira
Baracho (Direito – UFMG), José Luiz Quadros de Magalhães (Direito
II
A obra está dividida em cinco capítulos. Uma vez delineados, no
capítulo 1, o problema, assim como a percpectiva reconstrutiva, a partir da
qual as reflexões são desenvolvidas, procuramos resgatar, nos capítulos
2 e 3, as concepções liberal e republicana (especialmente a comunitarista)
de Direito e de Democracia, que já se encontram presentes na história
do constitucionalismo e que animam os processos político-sociais, pelo
menos, nos três últimos séculos, a fim de mostrar, a partir de uma visão
procedimentalista do Direito e da Democracia, como se pretende lidar
reconstrutivamente com o que Jürgen Habermas certa feita chamou de
paradoxo da emergência da legitimidade através da legalidade,98 não no quadro
de uma pretensa Filosofia da História, mas à luz de uma Teoria do Agir
Comunicativo, que propõe uma teoria da comunicação, da sociedade,
da racionalidade e da modernidade centradas nas noções linguístico-
pragmáticas de facticidade e validade (HABERMAS, 1998a, p. 63 et seq).
Segundo Habermas, o Direito democraticamente produzido
é um dos meios de integração social, que pode controlar os
riscos de dissenso, garantindo a estabilização de expectativas de
comportamento e, a um só tempo, produzindo legitimidade, de
98
Cf. HABERMAS. Derecho y moral (Tanner Lectures 1986). In: HABERMAS, 1998a, p. 535 et
seq.; HABERMAS, 1998a, p.197; e “Epílogo a la cuarta edición, revitada”. In: HABERMAS,
1998a, p.645 et seq.
99
Esse texto consta também em HABERMAS, 1999, p.231 et seq.
III
Para finalizar este pósfácio, cabe desenvolver, ainda, um breve
comentário sobre a Lei Federal nº 9.868/99, que “Dispõe sobre o
processo e julgamento da ação direta de inconstitucionalidade e da
ação declaratória de constitucionalidade perante o Supremo Tribunal
Federal”. Essa Lei pretende introduzir uma série de inovações no
sistema de controle de constitucionalidade brasileiro, alterando-lhe,
profundamente, a feição, principalmente no que se refere aos efeitos
temporais das decisões do Supremo Tribunal Federal, em sede do
controle por via principal. Essas inovações merecem não somente a
atenção dos operadores jurídicos, mas também a da cidadania em
100
Para nós, esse argumento não procede à luz de uma concepção “construtiva” da
interpretação constitucional: o caso seria de se aplicar o princípio constitucional da
igualdade e não simplesmente o de declarar, negando tutela jurisdicional adequada, uma
omissão parcial.
101
CF. MENDES, 1998a. Apêndice.
102
Sobre o tema, ver ALEXY, 2001. p. 81 et seq.
103
Para as críticas de Habermas a Alexy, ver HABERMAS, 1998a, p. 326 et seq.
104
Mais uma vez, seguimos Habermas e Günther. Sobre isso, ver CATTONI DE OLIVEIRA,
2001, p. 139 et seq.
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WEBER, Max. Ensayos sobre sociología de la religión. Tradução de José Almaraz y Julio
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ESTUDOS COMPLEMENTARES
105
Lula diz que democracia não garante voz para minoria. Disponível em: <http://tv.terra.
com.br>.
106
O tema da proteção às minorias políticas, no Direito Brasileiro e no Direito Comparado, é
tratado de forma analítica sobretudo no excelente artigo de SAMPAIO, 2003, p. 79-131. Ver
também ATALIBA, 2004, p. 98-101.
107
Há algum tempo, pude notar nesse e em alguns discursos do Presidente Lula o seu
viés eminentemente “democrata”, para usar o termo ao modo de Renato Janine Ribeiro
(RIBEIRO, Renato Janine. “Democracia petista, republicanismo tucano”. Disponível
em: <http://www.renatojanine.pro.br/Brasil/democraciapetista.html>; também, “O
Brasil hoje”, disponível em: <http://www.renatojanine.pro.br/Brasil/obrasilhoje.html>; e
Democracia versus república: a questão no desejo nas lutas sociais. In: BIGNOTTO, 2000,
p.13-25). Aqui seria cabível uma pequena crítica, no sentido de se chamar atenção para os
riscos que, sob o argumento de se defender a democracia como governo da maioria, se
poderia perder de vista os direitos políticos das minorias. Cabe também acrescentar que,
como veremos adiante, esses direitos não são apenas das minorias, já que esses direitos
não são simples limite para o poder, mas são também condição de possibilidade para a
formação legítima do poder político.
108
Faço, aqui, explicitamente, a referência ao debate Habermas-Michelman sobre o sentido
não paradoxal da Constituição de um Estado Democrático de Direito. Em sua resposta
a Michelman, Habermas se apoia em vários supostos presentes na própria tradição
do republicanismo cívico, adotando, mais uma vez, uma perspectiva que, em vários
momentos, foi consagrada por ele e por Apel, ou seja, algo do tipo “Pensando o Estado
Democrático de Direito com Michelman contra Michelman”. Habermas, inclusive, já teve
oportunidade de denominar de Republicanismo Kantiano o seu próprio ponto de vista.
Sobre a discussão com Michelman, ver HABERMAS, 2001, p.766-781. Também CATTONI
DE OLIVEIRA. In: SAMPAIO, 2004, p. 131 et. seq.
naturais. Com base no art. 5º, a lei que desrespeitasse direitos naturais
deveria ser nula. Contudo, desde a perspectiva do art. 6º, obter-se-ia,
por sua vez, um sentido bastante diferente que, inclusive, poderia
estar mais de acordo com o disposto no art. 3º. A questão é que, da
perspectiva do art. 6º,
109
Para uma reflexão crítica sobre a Declaração de 1789, numa perspectiva comparativa da
Revolução Francesa com a Norte-americana, que leva a sério, no contexto do republicanismo
cívico, o sentido político, não “natural”, portanto, dos direitos fundamentais, ver sobretudo
ARENDT, 1990.
110
HABERMAS, 1997. Também é inegável o diálogo com o pensamento de DWORKIN, 2006.
111
Sobre o tema da proteção das minorias políticas no Supremo Tribunal Federal, ver
SAMPAIO, 2003, especialmente, p. 103-130.
112
Tal análise será feita no sentido de se contribuir para um diálogo franco entre a
Universidade e as Instituições Políticas, especialmente o Supremo Tribunal Federal, nos
termos propostos por José Alfredo de Oliveira Baracho Júnior em BARACHO JÚNIOR.
In: SAMPAIO, 2004, p. 209 et seq. O que se pretende é reforçar o papel decisivo do STF na
consolidação da democracia no Brasil, sem, contudo, fazer do Supremo um substituto para
o Legislativo ou para o Executivo.
113
A primeira versão desta passagem afirmava que “Cabe lembrar que a Constituição
de 1891 estabelecia que A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão a direito
individual. Seria, pois, necessário alegar uma lesão a direito individual para que, em
princípio, o Judiciário pudesse conhecer da causa.” Em boa hora, Sérgio Pompeu
acertadamente me chamou atenção para o equívoco em que eu estava incorrendo, em
e-mail datado do dia 23/01/2007: “Como leitor atento, tenho também uma observação
sobre seu artigo (menos sutil, referente a detalhe menor, mas que pode contribuir
para eventual nova publicação): é que, segundo pesquisei, o que hoje chamamos
princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional aparece originalmente
na Constituição de 1946[...] Pode-se argumentar, contudo, que a ideia de que a
alegação de violação a direito individual é o critério fundamental de incidência da
competência do judiciário foi desenvolvida na jurisprudência do STF no transcorrer
da primeira república, pois aparece em alguns julgados, especialmente a partir de
1900 e poucos”. Por um lado, é a Constituição de 1946 que literalmente traz em seu
art. 141, § 4.º, disposição segundo a qual “A lei não poderá excluir da apreciação
do Poder Judiciário qualquer lesão de direito individual”, disposição mantida na
Constituição de 1967, art. 150, § 4.º. Mas, por outro, como a alegação de lesão a
direito individual já era utilizada, desde a República Velha, como critério para
determinação dos limites da competência do Poder Judiciário no exercício da
jurisdição, a diferenciar questões jurídicas das políticas, não se invalida o que no
texto se afirma. Ao contrário, é inclusive a consolidação dessa jurisprudência que,
em 1946 e após a ditadura do Estado Novo, se tornará fonte de inspiração para o
processo constituinte e para a ideia de inafastabilidade da jurisdição. Agora, mesmo
na versão original do texto não se estava tratando do princípio da inafastabilidade,
pois a ideia de alegação de lesão a direito individual, na República Velha, não tinha
tanto a conotação, propriamente dita, de uma garantia individual em face de lesão a
direito, mas sim de critério de determinação dos limites do controle judicial de atos
do legislativo e do executivo, ou seja, das questões jurídicas em face das políticas.
Isso, por mais que um pensador como Ruy Barbosa tivesse brigado a vida toda
contra isso, até porque não concordava tão tranquilamente com essa distinção entre
questões políticas e jurídicas. Mas para se ver a força disso, tanto a Constituição de
1934, art. 68, quanto a Constituição de 1937, art. 94, determinavam que “é vedado
ao Poder Judiciário conhecer de questões exclusivamente políticas”. Cabe dizer,
por fim, e em acréscimo, que uma primeira noção de inafastabilidade já poderia
ter sido buscada anteriormente ao texto de 1946 exatamente em razão da existência
do próprio monopólio estatal da jurisdição, por um lado, e da inexistência de um
contencioso administrativo no caso da Constituição de 1891 (a justiça administrativa
do trabalho, criada posteriormente, art. 122 da Constituição de 1934 e art. 139 da
Constituição de 1937, é caso à parte). O problema, aqui, era a concepção liberal de
1891 do direito como limite do poder estatal e a concepção autoritária, senão de 1934,
sim de 1937, do direito como instrumento do poder estatal.
114
Algumas críticas, entretanto, podem ser feitas à parte da argumentação desenvolvida
pelo Min. Rel. O Min. Celso de Mello considerou necessária uma aplicação “analógica”,
“integrativa”, “extratextual”, portanto, do Regimento Interno da Câmara Federal, a
fim de solucionar o caso no Senado. Ora, essa visão é incompatível com a compreensão
principiológica do Direito que ele tanto buscou defender! Isso porque embora o Regimento
do Senado não preveja expressamente a competência específica de o seu Presidente
para nomear os membros de uma CPI, diante do caso de não indicação de membros
pelos líderes dos partidos, como ocorre expressamente no caso do Regimento Interno
da Câmara, bastava somente o reconhecimento, com base no princípio constitucional
do devido processo legislativo, no “princípio democrático”, para usar a expressão
utilizada pelo Ministro, da falta de cumprimento de um dever de agir por parte do
Presidente do Senado, lesiva a direitos fundamentais, para resolver o caso.
115
Ver, também, CATTONI DE OLIVEIRA, 2000, p. 77.
116
Sobre isso, ver, também, a claríssima passagem de HABERMAS, 2001b, p. 147-149.
117
Também CATTONI DE OLIVEIRA. In: SAMPAIO, 2004, p.131 et seq.
118
Segundo Habermas, o paradigma procedimentalista do Direito se apoia nas seguintes
premissas: “a) o caminho de volta, propalado pelo neoliberalismo através do mote
‘retorno da sociedade burguesa e de seu direito’, está obstruído; b) o apelo que nos
incita a ‘redescobrir o indivíduo’ é provocado por um tipo de juridificação no interior
do Estado social, que impede reconstruir a autonomia privada; c) o projeto do Estado
social não pode ser simplesmente congelado ou interrompido: é preciso continuá-
lo num nível de reflexão superior. O que se tem em mente é domesticar o sistema
econômico capitalista, ‘transformando-o’, social e ecologicamente, por um caminho
que permita ‘refrear’ o uso do poder administrativo, sob dois pontos de vista: o da
eficácia, que lhe permita recorrer a formas mitigadas de regulação indireta, e o da
legitimidade, que lhe permita retroligar-se ao poder comunicativo e imunizar-se
contra o poder ilegítimo.” (HABERMAS, 1997, v. 2, p.147-148)
Referências
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Ática; Brasília: Unb, 1990.
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São Paulo: Malheiros, 2004.
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Celso de Mello.
CATTONI DE OLIVEIRA, Marcelo Andrade. O projeto constituinte de um Estado
Democrático de Direito: Por um exercício de patriotismo constitucional no marco da
Teoria Discursiva do Direito e do Estado Democrático de Direito de Jürgen Habermas. In:
SAMPAIO, José Adércio Leite (Coord.). 15 anos de Constituição: História e vicissitudes.
Belo Horizonte: Del Rey, 2004.
119
“Patriotismo constitucional” é denominação utilizada por Habermas para a
defesa pluralista da Constituição democrática. Assim, ao longo de um processo de
aprendizado social, crítico-reflexivo, que se realiza no arco do tempo histórico, por
parte dos membros de uma república de cidadãos livres e iguais, desenvolve-se uma
cultura político-jurídica plural e aberta, no marco da qual pode ser interpretado
construtivamente o sistema de direitos fundamentais. Sobre o tema, ver CATTONI DE
OLIVEIRA. In: BARRETO, 2006.
120
Reconstrutivamente, segundo Habermas, esses direitos fundamentais são os seguintes:
a) direitos a iguais liberdades subjetivas; b)a iguais direitos de pertinência; c) à garantia
do direito de ação; d) à elaboração legislativa autônoma; e e) direitos participatórios
(HABERMAS, 1997, v.1, p.159).
Modesty is an attitude, not a calling. We are modest, not when we turn our
back on difficult theoretical issues about our roles and responsibilities as people,
citizens, and officials, but when we confront those issues with an energy and
courage forged in a vivid sense of our fallibility.
121
Tradução livre: “Modéstia é uma atitude, não uma vocação. Somos modestos, não quando
viramos as costas a assuntos teoréticos difíceis acerca de nossos papéis e responsabilidades
como povo, cidadãos e funcionários, mas quando confrontamos tais assuntos com uma
energia e coragem forjadas num vívido sentido de nossa falibilidade”.
122
Outro tema refere-se ao entendimento acerca da dispensabilidade da atuação do advogado
em processos administrativos, criticado em CATTONI DE OLIVEIRA e NUNES (2008).
Mas a parte final da Súmula não permite criar novo critério. A solução
adotada pelo STF colocou-se como intermediária entre duas soluções
extremas. Uma propunha o congelamento do valor do salário mínimo e a
aplicação dos índices de reajuste salariais, critério ainda mais prejudicial
para os trabalhadores; a outra era a utilização da remuneração como
base de cálculo. (RR – 1814/2004-010-15-00.9, Relator Ministro: Ives
Gandra Martins Filho, Data de Julgamento: 14/05/2008, 7ª Turma, Data
de Publicação: 23/05/2008)
123
Sobre tal questão, todavia no que se refere à cláusula de exclusão da apreciação judicial
prevista nos Atos Institucionais no período da autocracia militar, ver o excelente artigo de
Paixão e Barbosa (2008, p. 57-78). O que ali se diz sobre as cláusulas de exclusão caberia
125
Tradução livre: “Representação é uma relação de duas variáveis entre um repraesentandum
e um repraesentans. No caso da legislação parlamentar a relação entre o repraesentandum – o
povo – e o repraesentans – o parlamento – é essencialmente determinado pela eleição. Agora,
é possível esboçar uma imagem da democracia que contenha não mais do que um sistema
de tomada de decisão centrado nos conceitos de eleição e regra da maioria. Isso seria um
modelo puramente decisionista de democracia. Um conceito adequado de democracia deve,
todavia, compreender não apenas decisão mas argumentação. A inclusão da argumentação
no conceito de democracia torna a democracia deliberativa. Democracia deliberativa é uma
tentativa de institucionalizar o discurso, tanto quanto possível, como meio de deliberação
pública. Por essa razão, a conexão entre o povo e o parlamento não deve apenas ser expressa
por decisões expressas nas eleições e votos mas também por argumentos. Nesse sentido, a
representação do povo pelo parlamento é, ao mesmo tempo, volitiva ou decisionista, assim
como argumentativa ou discursiva. A representação do povo por uma corte constitucional
é, ao contrário, puramente argumentativa. O fato de que a representação pelo parlamento
ser tanto volitiva quanto argumentativa mostra que representação e argumentação não são
incompatíveis. Ao contrário, um conceito adequado de representação deve referir-se – como
Leibholz o coloca – a certos ‘valores ideais’. Representação é mais que – como Kelsen propõe
– atuação em vez de ou no lugar de outrem [R. A. KELSEN, Pure Theory of Law, p. 299 (Max
Knight trans., Univ. of Calif. Press, 2d ed. 1967): ‘‘‘Representação’ significa o mesmo que
proxy’’ (trans. altered)], e, ao mesmo tempo, mais do que – como Carl Schmitt afirma – tornar
o repraesentandum existente [R. A. SCHMITT, Verfassungslehre, p. 209 (Duncker & Humblot,
5th ed.1970) (1928): ‘‘Representação não é um evento normativo, não é um processo, não
é um procedimento, mas algo existencial.’’]. Sem dúvida, ela inclui elementos de ambos,
ou seja, representação é necessariamente normativa quanto fática, mas esses elementos
não exaurem esse conceito. Representação necessariamente lança pretensão de correção.
Assim, um conceito completo e plenamente desenvolvido de representação deve incluir
uma dimensão ideal, a qual conecta decisão e discurso. Representação é assim definida pela
conexão entre as dimensões ideal, factual e normativa.”
126
Caberia, neste ponto, retomar, com maior cuidado, as concepções de Kelsen e de Schmitt
sobre representação, o que não será feito. Basta lembrar que, para Kelsen, a identidade
entre a vontade do representante e a do representado é uma ficção (KELSEN 1987, p.
315-317). Interessante que a tradução, feita pelo próprio Alexy, de Vertretung, palavra
utilizada originalmente por Kelsen, foi proxy, que pode significar fazer algo por meio de
outrem, ou mesmo o próprio instrumento de mandato, a procuração, como quando se
diz, por exemplo, “que alguém não pode estar presente (mas podia em princípio estar!)
numa assembléia deliberativa, mas votou por seu procurador ou votou por procuração”
(by proxy). Mas proxy não possui o sentido, do ponto de vista da teoria geral do processo,
de substituição. Há uma diferença técnico-conceitual entre representação e substituição
que aqui é pertinente, pedindo licença aos processualistas ao falar-se do que de início
pode parecer uma obviedade. Representar é agir em nome alheio na defesa de direito ou
interesse alheios; substituição é agir em nome próprio na defesa de direitos ou interesses
alheios. A questão é que a representação não implica necessariamente, como no caso da
substituição, em exclusão do representado do processo. O problema, portanto, de se
confundir representante e substituto é o de se entender erroneamente que a representação,
ao contrário de mediar, viabilizar institucionalmente a participação do representado
no processo deliberativo, exclui essa participação, com consequências obviamente
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na Constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo
de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão
judicial. Disponível em: <http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/menuSumario.
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BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Mandado de Injunção nº 712. Art. 5º, LXXI da
Constituição do Brasil. Concessão de efetividade à norma veiculada pelo art. 37, inciso
VII, da Constituição do Brasil. Legitimidade ativa de entidade sindical. Greve dos
trabalhadores em geral [art. 9º da Constituição do Brasil]. Aplicação da Lei federal nº
7.783/89 à greve no serviço público até que sobrevenha lei regulamentadora. Parâmetros
concernentes ao exercício do direito de greve pelos servidores públicos definidos por
esta corte. Continuidade do serviço público. Greve no serviço público. Alteração de
entendimento anterior quanto à substância do mandado de injunção. Prevalência
do interesse social. Insubssistência do argumento segundo o qual dar-se-ia ofensa
à independência e harmonia entre os poderes [art. 2º da Constituição do Brasil] e à
separação dos poderes [art. 60, §4º, III, da Constituição do Brasil]. Incumbe ao Poder
Judiciário produzir a norma suficiente para tornar viável o exercício do direito de
greve dos servidores públicos, consagrado no art. 37, VII, da Constituição do Brasil.
Relator: Eros Grau. Pará, 25 out. 2007. Disponível em: <http://stf.jusbrasil.com.br/
jurisprudencia/2926757/mandado-de-injuncao-mi-712-pa>.
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Reclamação nº 4.335. AC, Relator: Ministro Gilmar
Mendes, Data de Julgamento: 21 ago. 2006. Disponível em: <http://stf.jusbrasil.com.br/
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BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. Súmula 228 – Tire suas dúvidas sobre o adicional
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KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. São Paulo:
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STRECK, Lenio Luiz. Hermenêutica jurídica e(m) crise: uma exploração hermenêutica da
construção do Direito. 7. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2007.
129
As críticas que serão apresentadas aplicam-se à PEC nº 33, também de autoria do
Deputado Nazareno Fonteles. A PEC nº 33 prevê aprovação do Congresso Nacional das
súmulas vinculantes e das decisões em sede de ações diretas de inconstitucionalidade
e das declaratórias de constitucionalidade emitidas pelo Supremo Tribunal Federal. O
que é de todo inconstitucional, não se podendo restringir por meio de controle político,
majoritário, decisões em matéria constitucional do Supremo Tribunal Federal – e do
Judiciário em geral – por violação do art. 60, §4.º, IV, da Constituição da República. A
PEC também propõe ampliar de seis para nove o número mínimo de ministros do STF
necessários para declarar a inconstitucionalidade de normas. Não é novidade no Direito
brasileiro a tentativa de controle político de decisões do STF em sede de controle de
constitucionalidade. Ainda que a intenção no presente possa ser diferente das do passado,
cabe não apenas lembrar da doutrina das questões políticas durante a República Velha,
da Carta de 1937 que expressamente previa a possibilidade de o Congresso derrubar
decisões do STF a pedido do Presidente da República e mesmo da tentativa de tornar
judicialmente inumes os atos institucionais, bem como as medidas de execução deles, em
face do controle judicial durante a Autocracia de 1964.
130
Atualmente, tramita perante a Câmara dos Deputados, projeto de decreto legislativo, de
autoria do Deputado João Campos, do PSDB de Goiás, que pretende sustar, com base no
art. 49, V e XI, da Constituição, as decisões proferidas nas ADI nº 4277 e ADFP nº 132,
em que o STF reconheceu de modo constitucionalmente adequado a constitucionalidade
da união homoafetiva como união estável, com base em interpretação dos princípios
constitucionais da igualdade, da não discriminação, da proibição do preconceito e do
direito à liberdade individual, à vida privada e à intimidade. O argumento com base no
qual se pretende justificar tal projeto seria a da suposta violação da separação dos poderes
e invasão, portanto, pelo STF de competências legislativas do Congresso Nacional. Ora,
tais violação e invasão não ocorreram, pois é tarefa constitucional do Poder Judiciário
e, especialmente, do STF por meio de ADI e de ADPF, interpretar de forma consistente
e conforme a Constituição os princípios da igualdade e da liberdade, garantindo esses
direitos em face de lesão ou ameaça (art. 5.º, XXXV, combinado com os art. 1.º, III, 3.º, IV, 4º,
II, 5.º, X e 5.º, §2.º, da Constituição). O Poder Legislativo não tem competência para sustar
por decreto legislativo decisões em sede de controle de constitucionalidade, o sistema de
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