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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA_____

VARA JUDICIAL DE BERTIOGA

“Um minuto de silêncio pela


morte da competência em gestão de recursos hídricos”

Ícaro Camargo, audiência pública


realizada em 09 de dezembro de 2015,
Bertioga.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO,


pela Promotora de Justiça infra-assinada, integrante do GAEMA- Grupo de
Atuação Especial e Defesa do Meio Ambiente da Baixada Santista, no uso de suas
atribuições legais (artigo 25, inciso IV, alínea “a” da Lei Federal nº 8.625, de 12 de
fevereiro de 1993, e artigo 103, inciso VIII, da Lei Complementar Estadual nº
734, de 26 de novembro de 1993) e constitucionais (artigo 129, inciso III, da
Constituição Federal), vem, perante Vossa Excelência, com substrato no Inquérito
Civil 64/15, em trâmite no GAEMA - Baixada Santista, e Inquérito Civil nº
08/15, em trâmite perante o GAEMA – Cabeceiras, com fulcro da Lei Federal nº
7347 (Lei da Ação Civil Pública), de 24 de julho de 1985, propor AÇÃO CIVIL
PÚBLICA AMBIENTAL COM PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
em face da COMPANHIA AMBIENTAL DO ESTADO DE SÃO PAULO -
CETESB, pessoa jurídica de direito público, CNPJ 43.776.491/0001-70, com
sedes na Avenida Professor Frederico Hermann Jr., nº 345, Alto de Pinheiros,
Município de São Paulo/SP, e Rua Delfim Moreira, n.º 56, Embaré, CEP 11040-
100, cidade e comarca de Santos/SP, na pessoa de seu representante legal,
COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DO ESTADO DE SÃO
PAULO – SABESP, pessoa jurídica de direito público, CNPJ 43.776.517/0001-
80, a ser citada na pessoa de seu representante legal na Unidade de Negócios da
Baixada Santista –RS, Av. São Francisco nº 128, Santos/SP, pelos motivos de fato
e de direito a seguir expostos:

I – PEDIDO DE URGÊNCIA:

Trata-se de licenciamento ambiental do empreendimento “Obras de


Aproveitamento da Bacia do Rio Itapanhaú para o Abastecimento da
Região Metropolitana de São Paulo”, Processo SMA 166/2015, com licença
prévia emitida em 02 de agosto de 2016 (LP 2507). O empreendimento, como o
próprio nome define, visa a captação de água do rio Itapanhaú para abastecer o
Sistema do Alto do Tietê. O órgão licenciador é a CETESB. No entanto, a
necessidade dessa obra é totalmente questionável e os danos para a cidade de
Bertioga não foram avaliados. Tudo será explicado detalhadamente. O parecer do
CAEX, anexo nesta inicial, traz relatório minucioso de todas as falhas do
licenciamento. Desde já, pedimos licença para transcrever trechos do respectivo
parecer.

Hoje, dia 07 de abril de 2017, saiu publicado no Diário Oficial, que


o TCCA do Itapanhaú foi aprovado na Câmara de Compensação Ambiental.

GABINETE DO SECRETÁRIO.

CÂMARA DE COMPENSAÇÃO AMBIENTAL

Extratos de termos

Extratos de Termos de Compromisso de Compensação Ambiental – TCCA:

Interessado: Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo - Sabesp

CNPJ: ° 43.776.517/0001-80

Empreendimento: Obras de aproveitamento da Bacia do Rio Itapanhaú para


abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo

Processo SMA 258/2013.

Objeto: cumprimento da compensação ambiental decorrente da implantação do


empreendimento acima denominado, nos termos estabelecidos no Processo de
licenciamento ambiental SMA 166/2015 e conforme Parecer Técnico 234/16/IE
e Licença Prévia emitida pela Cetesb, que fixou as condicionantes para a emissão
da Licença de Instalação.

Termo de Compromisso de Compensação Ambiental celebrado em 17-01-2017.

Assim, a obra será executada e iniciada imediatamente. Portanto,


imprescindível a tutela judicial de urgência para não permitir o andamento da
presente obra, que visa a transposição do Rio Itapanhaú para abastecer a Região
Metropolitana de São Paulo sem a devida análise dos impactos ambientais na
região de Bertiga.

Vejamos.

De forma resumida, neste tópico, podemos adiantar: não há


avaliação necessária dos impactos negativos para a região, não se considerou o
verdadeiro potencial benefício desta obra, não realizaram medidas já previstas que
tornariam ainda mais desnecessária essa obra (como redução de perdas físicas,
utilização da capacidade máxima da ETA Taiaçupeba associada ao enchimento
completo do reservatório Taiaçupeba), sequer mencionaram no EIA sobre a
alternativa de não realizarem a obra. Pior, com vários projetos em andamento
(obras emergenciais sendo realizadas para o reforço do Sistema Produtor Alto
Tietê, reversão de vazões da Bacia Hidrogáfica do Robeirão Guaió para a Bacia do
Rio Taiaçupeba, Captação de Água do Rio Guaratuba para Incremento Sazonal na
Represa Ponte Nova do Sistema Alto Tietê), não existiu análise integrada de todos
os projetos para constatar a real necessidade do presente empreendimento
milionário. Estima-se que seu valor é de cento e sessenta milhões.

Saliente-se que, embora sejam recursos públicos, o maior prejuízo é


o ambiental. Tal empreendimento causará impactos negativos seríssimos, diretos e
indiretos, em áreas ambientalmente frágeis, protegidas e importantes nos setores
de planalto, cimeira das escarpas e vertentes da Serra do Mar, bem como nos
ecossistemas de restinga e mangue no médio e baixo curso do Rio Itapanhaú.

Os vícios do licenciamento o invalidam. Vale repetir, tudo


minuciosamente explicado no parecer do CAEX (documento anexo).

Além de o órgão ambiental (CETESB) minimizar os danos


ambientais numa área extremamente sensível e, por isso, protegida, é questionável,
também, a necessidade de tal obra porque existem outras medidas previstas para
melhorar o abastecimento do sistema. Como citado acima, o órgão ambiental não
avaliou outras medidas previstas, como, por exemplo, a redução das perdas físicas
no armazenamento da água e distribuição da água.

Na verdade, a obra foi pensada na década de 60, e o EIA/RIMA


também não analisou a mudança de cenário da época. O Estudo de Impacto
Ambiental (EIA) e o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA) apresentam a
justificativa do empreendimento a partir de um relato histórico sobre a
concepção do aporte de água da bacia do Rio Itapanhaú para o abastecimento
da RMSP. Segundo esse relato, a possibilidade de aproveitar as porções de
montante das bacias dos rios Itapanhaú e Itatinga, situados no setor de planalto
da Serra do Mar, na vertente marítima, mediante reversão para a bacia do Alto
Tietê foi estudada e incorporada ao Plano Diretor de Obras - HIBRACE na
década de 60.

O EIA/RIMA também relata a aprovação da Lei Estadual no


898/75, que considerou a bacia do Rio Itapanhaú e a bacia do Rio Itatinga até
os limites da Região Metropolitana de São Paulo como Áreas de Proteção aos
Mananciais de interesse desta região. Os referidos estudos e a aprovação da Lei
citada foram realizados num cenário em que se projetavam elevadas e
crescentes demandas de água para a RMSP e as restrições ambientais não eram
suficientes para a Proteção aos Mananciais.

Tal cenário não foi abordado no EIA/RIMA, da mesma forma


que as mudanças posteriores não foram analisadas.

Como destacado no parecer do CAEX, dentre essas mudanças,


destaca-se a criação do Parque Estadual da Serra do Mar - PESM (Decreto nº
10.251/1977) com a finalidade de assegurar integral proteção à flora, à
fauna, às belezas naturais, bem como para garantir sua utilização a objetivos
educacionais, recreativos e científicos. Além dessa unidade de conservação
integral, foram criados: o Parque Estadual da Restinga de Bertioga - PERB
(2010); a APA Marinha Litoral Centro - APAMLC (2008) e a Área Natural
Tombada da Serra do Mar e de Paranapiacaba (1984).

Outros planos mais recentes foram apontados nesse relato histórico,


tais como o Plano Diretor de Abastecimento de Água (PDAA-2004) e o Plano
Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista
(DAEE-2013), que mantiveram o enfoque no aproveitamento de recursos
hídricos com a previsão de reversão dos rios Itapanhaú e Itatinga sem a devida
consideração das restrições decorrentes dos atributos naturais presentes na
área de influência da obra e da legislação ambiental em vigor.

Com a crise de abastecimento da RMSP em 2014 e 2015, a SABESP


analisou a possibilidade de, a curto prazo, fazer a reversão da bacia do Rio
Itapanhaú para o reservatório Biritiba, de forma a permitir ao Sistema Produtor
Alto Tietê - SPAT ampliar sua área de atendimento que, em condições normais,
seriam abastecidas somente pelo Cantareira.

Na audiência pública realizada em 08 de dezembro de 2015, a então


Secretária Adjunta do Meio Ambiente, Mônica Porto, afirmou que a intenção seria
aumentar a segurança hídrica do Alto Tietê e ampliar as fontes de seu
abastecimento, ou seja, “ao invés de se encher um balde d’água com uma
torneira só, passar a encher o mesmo balde de água com várias torneiras de
forma a aumentar a possibilidade de se manter esse balde cheio”.

Excelência, só há um problema. O rio Itapanhaú não é uma torneira.


E, caso entenda que possa ser usado como “torneira”, ele não tem capacidade
para encher o balde alheio sem prejudicar a população local. Não só a população
seria prejudicada, mas todo o meio ambiente, legalmente protegido.

Lembramos que a Lei do SNUC, Lei 9985/00, no seu artigo 28,


proíbe, nas unidades de conservação, quaisquer alterações, atividades ou
modalidades de utilização em desacordo com os seus objetivos, o seu Plano de
Manejo e seus regulamentos.

E seu decreto regulamentador, Decreto 25341/86 at. 9º e 24,


prevê:

Artigo 9.º - Não são permitidas, dentro das áreas dos Parques
Estaduais, quaisquer obras de barragens, hidrelétricas, de controle
de enchentes, de retificação de leitos, de alteração de margens e
outras atividades que possam alterar suas condições hídricas
naturais.
Parágrafo único – Quaisquer projetos para aproveitamento
limitado e local dos recursos hídricos dos Parques estaduais devem
estar condicionados rigorosamente ao objetivo primordial de
evitar alterações ou perturbações no equilíbrio do solo, água, flora,
fauna e paisagem, restringindo-se ao indicado no seu Plano de
Manejo.

Artigo 24º – vedada a execução de obras que visem à


construção de teleféricos, ferrovias, rodovias, barragens,
aquedutos, oleodutos, linhas de transmissão ou outras, que não
sejam de interesse do Parque Estadual.

Não há estudos e análises dos efeitos dessa obra sobre as unidades


de conservação atingidas. Presentes estão os princípios da precaução e prevenção
Excelência, sendo imprescindível a tutela de urgência para não permitir o dano e,
só depois, analisar seus impactos e eventuais ações de remediações.

A decisão de tal obra é meramente POLÍTICA, sem embasamentos


técnicos e sem preocupação com o meio ambiente e com a sensibilidade da área
do empreendimento.

Não há justificativa e estudo adequado para permitir a presente obra.


Necessária a tutela jurisdicional para salvar o Rio Itapanhaú e toda a sua área de
influência atingida pelo empreendimento, que também foi minimizada.
O Rio Itapanhaú é o principal curso d’água contribuinte do Canal de
Bertioga, visto que os outros rios que deságuam neste canal são pouco extensos e
possuem vazões menores, portanto este curso d’água se caracteriza como a
principal fonte potencial de sedimentos e nutrientes para o canal de Bertioga .

II- BREVE RELATO DOS FATOS:

Em 2015, chegou ao conhecimento do Ministério Público a notícia


sobre o início de licenciamento ambiental junto à CETESB visando à transposição
de água da bacia do Rio Itapanhaú para o Sistema da bacia do Rio Alto Tietê.

Assim, iniciou-se a investigação - I.C 08/2015 - perante o GAEMA


–Núcleo Cabeceiras, no sentido de acompanhar o licenciamento ambiental para o
referido empreendimento, bem como apurar eventuais irregularidades e
degradação ambiental decorrentes das obras de reforço para o Sistema Produtor
Alto Tietê, anunciadas pelo Governo do Estado de São Paulo para
enfrentamento da crise hídrica.

Em resposta ao ofício encaminhado, o DAEE – Departamento de


Águas e Energia Elétrica informou, em 04 de maio de 2015, que foi realizada
reunião do Comitê de Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, sob o título “Segurança
Hídrica para São Paulo”, que anunciou a realização de obras emergenciais para
o reforço do Sistema Produtor Alto Tietê – SPART, dentre elas:

a) Transferência de 0,5 m³/s do Rio Guaratuba: A SABESP protocolou


no DAEE, em fevereiro/2015, os requerimentos de Outorga de
Autorização de Implantação de Empreendimento referente à
ampliação, em 1,0 m³/s, da captação existente no Rio Guaratuba, da
vertente marítima, Município de Bertioga, para transposição de
vazões para a empresa de Ponte Nova, principal reservatório do
SAPT.
b) Transferência de 0,8 m³/s do Rio Guaió: Foi autorizada a implantação de
Empreendimento em caráter emergencial, de captação superficial de vazão
média anual de 1,0 m³/s do Ribeirão Guaió, conforme Despacho do
Superintendente do DAEE, de 16/03/2015. Essa captação deverá ocorrer
somente quando da seção da tomada d’água houver disponibilidade hídrica
remanescente, atendidos os demais usos existentes, com a finalidade de
transposição de vazões para a represa formada pela barragem de
Taiaçupeba, aproveitamento que integra o SPAT.
c) Transferência de 4,0 m³/s do braço do Rio Grande, do Sistema Billings:
d) Transferência de 2,4 m³/s dos Rios Itatinga e Itapanhaú:

Instada a prestar esclarecimentos sobre o citado empreendimento, a


SABESP, em 06/05/2015, informou que encaminhou pedido de expansão e
respectiva outorga junto ao DAEE para realização de obras para reforço ao
Sistema Alto Tietê. Quanto às reversões dos Rios Itainga e Itapanhaú, destacou
que tratava-se de obras de médio prazo e que estavam sendo realizados
estudos pioneiros.

Em setembro de 2015, a SABESP afirmou que os estudos referentes


ao aproveitamento do Rio Itapanhaú para o abastecimento da região
metropolitana de São Paulo – RMSP estava em fase de desenvolvimento, e não
estava disponível ainda o projeto referente à estrutura de captação.

Posterirormente, chegou ao conhecimento deste MPSP, através de


convite realizado pelo CONSEMA – Conselho Estadual do Meio Ambiente, a
realização de duas audiências Públicas nos 08 de dezembro de 2015 e 09 de
dezembro de 2015 sobre o EIA/RIMA do empreendimento “Obras de
Aproveitamento da Bacia do Rio Itapanhaú, para o abastecimento da Região
Metropolitana de São Paulo, de responsabilidade da Companhia de Saneamento
Básico do Estado de São Paulo”.

Nesta ocasião foi requisitado à SABESP o envio de uma cópia


integral do EIA/RIMA mencionado no convite do CONSEMA. Em resposta, a
SABESP acostou aos autos cópia do EIA-RIMA do empreendimento e informou
que o citado documento foi protocolado na CETESB (Processo 166/2015) na
data de 19/11/15.

Em 21 de janeiro de 2016, o Comitê da Bacia Hidrográfica da


Baixada Santista informou que o EIA/RIMA apresentado pela SABESP, referente
ao empreendimento “Obras de Aproveitamento da Bacia do Rio Itapanhaú”, foi
analisado pelas Câmaras Temáticas do Comitê e aguardava discussão em plenário
para o dia 11 de fevereiro de 2016.

Posteriormente, a Fundação Florestal encaminhou Informação


Técnica AT/DLN 39/2015 referente à análise preliminar do EIA/RIMA do
empreendimento. Manifestando-se contrariamente ao empreendimento.
Nesta oportunidade, informou que a Fundação Florestal instituiu um Grupo de
Trabalho específico para continuidade da análise do empreendimento.

Destaca-se que ao analisar o EIA/RIMA do empreendimento, a


Fundação Florestal conclui que “em face não só da insuficiência de
informações ambientais imprescindíveis para sustentar a previsão
de impactos do EIA, mas também da falta de propostas de ações
mitigadoras para muitas das alterações previstas pelo próprio
empreendedor, conclui-se que o estudo apresentado deixa de
cumprir seu objetivo de avaliar as consequências ambientais da
realização das obras, nos termos do projeto, para as Unidades de
Conservação afetadas – principalmente para o Parque Estadual
da Restinga de Bertioga e para a APA marinha do Litoral Centro.
Consequentemente, não é possível ter uma avaliação conclusiva
em favor do Projeto. Em que pese o caráter de relevância,
emergência e excepcionalidade de que se reveste o Projeto
apresentado, essa insuficiência de informações impossibilita
também propor que sejam impostas ao empreendedor
condicionantes para emissão de Licença Prévia. Nesse sentido,
propõe-se que o empreendedor atenda às recomendações do
tópico 7.”

Posteriormente, vieram aos autos Parecer UPPH nº 296-2016 –


emitido pelo CONDEPHAAT – Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico,
Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado, acerca da análise do EIA/RIMA
apresentado pela SABESP para realização de obras para o aproveitamento da
Bacia do Rio Itapanhaú. Da análise do referido parecer, verifica-se que o
EIA/RIMA do projeto para aproveitamento do Rio Itapanhaú foi analisado pelo
Conselho do CONDEPHAAT mediante Processo 75262/2015, todavia o pedido
de autorização para a intervenção da área tombada foi deferido pelo Secretário
de Cultura, que avocou a decisão no referido pedido, após deliberação do
Egrégio Colegiado em que restou prejudicado o processo em questão.

Em 14/12/2015, primeiramente o Colegiado do CONDEPHAAT


deliberou por 8 votos favoráveis, 8 votos contrários e 2 abstenções o projeto para
obras de aproveitamento da bacia do rio Itapanhaú para abastecimento da Região
Metropolitana de São Paulo. A senhora presidente manifestou seu voto de
qualidade contrário ao projeto, restando, portanto o processo prejudicado.

Todavia, conforme se vê do parecer do CAEX (fls. 24 e seguintes) o


Secretário de Cultura Marcelo Mattos Araújo, considerando a paralisação das
atividades do colegiado até fevereiro em razão do recesso de fim de ano, bem
como da declaração de situação de criticidade hídrica da região do Sistema
Produtor do Alto Tietê – SPAT, assim como a premência na adoção de medidas
concretas de mitigação de crise hídrica que assola o Estado desde 2014 e
considerando que autorização para intervenção exarada pelo órgão de defesa do
patrimônio cultural é elemento essencial ao licenciamento ambiental de
empreendimento de área tombada, AVOCOU a decisão no pedido de autorização
para intervenção, apresentado pela SABESP, que tramitou no Processo
Condephaat nº 75262/2015, com fundamento jurídico no artigo 19 in fine da Lei
estadual nº 10.177/1998 c/c artigo 1º da lei Estadual nº 10.247/1968 e artigo 1º
da lei estadual nº 10.774/2001. E assim decidiu “entendendo que as razões
ambientais serão exaustivamente examinadas no bojo do competente
licenciamento, não vislumbro descaracterização ou desvirtuamento do bem
cultural amparado pelo tombamento, defiro o pedido de autorização para
intervenção em área tombada apresentado pela SABESP, que tramita no
processo CONDEPHAAT nº 75262/2015”.

Posteriormente, no tramitar da investigação, em consulta ao site da


SABESP, tomou-se conhecimento acerca da elaboração de relatório
complementar ao EIA/RIMA que trata da transposição de água da bacia do Rio
Itapanhaú para o Sistema Produtor Alto Tietê.

Nessa toada, foi requisitado aos Técnicos do CAEX a elaboração de


parecer técnico acerca do EIA/RIMA original e sua respectiva complementação.

Nesta Oportunidade, o Ministério Público requisitou à SABESP que


comprovasse ter submetido o relatório complementar ao EIA/RIMA à apreciação
dos Comitês das Bacias Hidrográficas do Alto Tietê e Baixada Santista,
CONDEPHAAT, IPHAN e Fundação Florestal.

O Ministério Público, ainda, com fulcro no art. 6º, inciso XX da lei


Complementar 75/93 e parágrafo 1º do art. 113 da lei Complementar nº 734/93,
em face dos novos trabalhos apresentados pela SABESP, que trouxeram
alterações significativas no projeto sob análise, expediu RECOMENDAÇÃO à
CETESB para que o órgão ambiental exigisse a realização de novas audiências
públicas para a discussão do assunto, das quais se desse irrestrita publicidade, bem
como exigisse que a referida documentação fosse apreciada pelos Comitês das
Bacias Hidrográficas do Alto Tietê e Baixada Santista, CONDEPHAAT, IPHAN,
Fundação Florestal.

RECOMENDOU também ao Presidente do CONSEMA –


Secretária de Estado de Meio Ambiente que se abstenha de colocar em
votação perante o colegiado a aprovação do projeto de transposição de água da
bacia do Rio Itapanhaú para o Sistema Produtor Alto Tietê de interesse da
SABESP, enquanto não concluído o seu processo de licenciamento e, em especial,
em face dos novos trabalhos apresentados pela SABESP, que trouxeram
alterações significativas no Projeto de transposição de água da bacia do Rio
Itapanhaú.

Ou seja, a fim de se evitar judicializar os fatos, o MPSP recomendou


aos órgãos ambientais e ao empreendedor a observância da legislação pertinente.

Nesse interim, o CAEX emitiu Parecer Técnico acerca do EIA/


RIMA do empreendimento, apontando várias insuficiências técnicas e
irregularidades.

Em 31 de março de 2016, a SABESP acostou Nota Técnica – TE


180316 informando que encaminhou à CETESB o Relatório de Informações
Complementares – RIC, para instrução do processo de licenciamento ambiental
prévio do Aproveitamento da Bacia do Rio Itapanhaú. Destacou ser de
competência do órgão ambiental a interação com as demais instituições
envolvidas, dentre elas os Comitês de Bacia do Alto Tietê e Baixada Santista,
CONDEPHAAT, IPHAN e Fundação Florestal.

Após análise do Parecer Técnico elaborado pelo CAEX, o MPSP


resolveu RECOMENDAR À CETESB, que todas as insuficiências técnicas e
irregularidades apontadas no aludido parecer fossem objeto de exigências, por
parte da companhia ambiental, de retificações e/ou complementações por parte
do empreendedor para regular andamento do processo de licenciamento em
análise. E considerando que as complementações a serem exigidas do
empreendedor iriam modificar significativamente o conceito e abrangência do
empreendimento, RECOMENDOU-SE, também, que sejam exigidas as
realizações de novas audiências públicas, bem como colhidas novas manifestações
do IBAMA, CONDEPHAAT, Fundação Florestal e Comitês das Bacias
Hidrográficas envolvidas no assunto.

Em resposta à RECOMENDAÇÃO exarada, a CETESB esclareceu


que os documentos apresentados para complementação ao Estudo de Impacto
Ambiental e o respectivo Relatório de Impacto Ambiental – RIMA, detalham
aspectos específicos da proposta, não havendo alteração na concepção do projeto.
Destacou que “Assim, a caracterização das intervenções que consta do EIA e RIMA
permanece exata e, por esta razão, entendemos que não há necessidade de nova apreciação por
parte dos Comitês das Bacias Hidrográficas do Alto Tietê e Baixada Santista,
CONDEPHAAT e IPHAN. As referidas complementações ao EIA estão em análise na
Fundação Florestal. Cabe informar ainda que, em atendimento ao novo rito estabelecido na
Deliberação Normativa Consema nº 1/2015, para o licenciamento de obras e atividades de
abastecimento público de água em período de criticidade hídrica, foram realizadas audiências
públicas nos municípios de Biritiba Mirim e Bertioga, sendo atendidos os requisitos estabelecidos
na citada Deliberação. Assim, não há necessidade de realizar novas Audiências Públicas” (sic).
Em reunião realizada, em 21 de junho de 2016, o Promotor de
Justiça que presidia a investigação questionou o IBAMA se já havia análise
conclusiva acerca do pedido de anuência acerca da supressão de vegetação do
bioma Mata Atlântica para as obras de aproveitamento das águas do Rio
Itapanhaú de interesse da SABESP. Nesta oportunidade, o IBAMA esclareceu que
só recentemente recebeu a documentação faltante e que encaminhara aos técnicos,
mas ainda não fora analisada. Por oportuno, a fim de subsidiar o pronunciamento
do IBAMA acerca do pedido, o Promotor de Justiça entregou cópia dos pareceres
produzidos pelos assistentes técnicos do MPSP a respeito do empreendimento,
solicitado que, em 60 dias, o IBAMA comunicasse ao GAEMA o resultado de sua
análise técnica acerca do pedido de intervenção em Mata Atlântica para o
empreendimento em comento. O IBAMA solicitou mais prazo para responder o
ofício e, em 23 de fevereiro de 2017, declarou não ter competência para analisar a
matéria.

Em 05 de julho de 2016, mais uma vez, a CETESB afirmou que “os


documentos apresentados pela Companhia de Saneamento Básico do estado de
São Paulo- SABESP em contemplação ao Estudo de Impacto Ambiental do
Aproveitamento do rio Itapanhaú para o abastecimento da Região Metropolitana
de São Paulo detalham aspectos específicos da proposta, sem alteração na
concepção do projeto e, portanto, entendemos que não há motivação que
justifique o atendimento à recomendação de realizar novas Audiências Públicas e
novas oitivas do IBAMA, CONDEPHAAT, Fundação Florestal e Comitês de
Bacia Hidrográficas. Quanto às alegadas insuficiências técnicas mencionadas com
base no teor dos pareceres técnicos SETEC RI 1889/15-LT, 0436/16 e SETEC
RI 1889/15 0 LT 0607/16, cumpre esclarecer que as questões apontadas foram
contempladas nas complementações do Estudo de Impacto Ambiental
apresentadas, de modo que a instrução técnicas atual é compatível com esta fase
do licenciamento e permite a continuidade da análise, sem prejuízo de
detalhamentos nas fases subsequentes.” (sic)

Assim, em 11 de julho de 2016, a CETESB emitiu Parecer Técnico


234/16/IE entendendo que não há óbices à continuidade do licenciamento do
empreendimento em questão estabelecendo algumas exigências ambientais.

Por sua vez, a Fundação Florestal, em 24 de junho de 2016, ao


contrário de sua manifestação anterior, elaborou Parecer Técnico concluindo que
“após análise do EIA/RIMA e complementos apresentados (destacando o
Plano de Monitoramento do Médio e Baixo Itapanhaú, juntamente com a
Nota Técnica de Esclarecimentos) esta Fundação não vê óbices de um ano
de monitoramento conforme proposto no Plano de Monitoramento
apresentado, o qual deverá ser iniciado com a maior brevidade possível,
após a emissão de licença prévia”.

Em 07 de julho de 2016, a Secretaria de Meio Ambiente do


Município de Bertioga informou que, em cumprimento ao disposto na Lei
Federal 9.985/2000 e Resolução CONAMA nº 428/2010, foi realizada reunião
extraordinária com os membros conselheiros do CONSEMA para tratar sobre a
votação para autorização do projeto de aproveitamento da Bacia do Rio Itapanhaú
para Abastecimento da Região Metropolitana, porque a área de influência está
localizada em Parque Natural Municipal Rio da Praia, no Município de Bertioga.

O município de Bertioga relatou que na referida reunião estavam


presentes profissionais da SABESP que apresentaram com muita clareza os
aspectos gerais do projeto, a interferência na área da unidade de conservação
municipal e, principalmente, o projeto de monitoramento proposto para a área.
Após a explanação por parte da SABESP, os conselheiros se manifestaram
mostrando-se muito preocupados não só com o tema específico, mas também
com vários outros aspectos ligados ao saneamento local, os quais estão bastante
deficitários no município. Ao final da reunião, a Autorização para o projeto foi
colocada em votação e por 5 votos a favor e 3 contrários, o CONDEMA não viu
óbices à concessão da Autorização, desde que o plano de monitoramento seja
completamente implantado e os dados obtidos sejam amplamente divulgados ao
municipalidade e ao CONDEMA.

Em 02 de agosto de 2016, a CETESB, então, emitiu a licença prévia


para o empreendimento. Licença ambiental prévia 2507, processo SMA 166/2015.

III – DAS CARACTERÍSTICAS AMBIENTAIS DA ÁREA LICENCIADA

Imprescindível destacar que a área do empreendimento licenciado é


especialmente protegida por lei.

A seguir vejamos a classificação das Unidades de Conservação


diretamente afetadas, realizada pela Fundação Florestal na Informação
Técnica AT/DLN 39/2015. São elas:

1. Parque Estadual da Serra do Mar (PESM) protege


aproximadamente 7% de Mata Atlântica remanescente no Estado, incluindo
exuberantes paisagens e mananciais. Constitui um grande corredor de
biodiversidade de mais de 315.000 hectares ao longo da costa paulista que
proporciona a continuidade e a qualidade dos recursos hídricos, além o equilíbrio
do clima e a proteção das encostas contra deslizamentos.

2. Parque Estadual Restinga Bertioga (PERB) constitui corredor


biológico entres os ambientes marinhos costeiros – a restinga – a Serra do Mar,
cuja proteção é fundamental para garantia da perpetuidade dos seus processos
ecológicos e fluxos gênicos. O PERB situa-se integralmente no município de
Bertioga e possui área total de 9.312,32 hectares, abrigando 98% dos
remanescentes de mata de restinga da Baixada Santista. Apresenta todas as
fitofisionomias citadas para o litoral paulista: manguezal, floresta baixa de restinga.
Florestal alta de restinga, floresta paludosa: manguezal, floresta ombrófila densa
de terras baixas, floresta ombrófila densa submontana, floresta aluvial, restinga
herbácea, restinga arbustiva e vegetação pioneira sobre costão rochoso. A
presença da floresta de transição entre a encosta da Serra do Mar e a área da
baixada permite que elementos da fauna característicos da floresta ombrófila
transitem ou mesmo ocupem essa região, como é o caso da onça pintada, veado,
anta, jaguatirica, mono-carvoeiro, bugio, cateto e queixada, todos ameaçados de
extinção.

3. PARQUE NACIONAL ILHA DO RIO DA PRAIA foi criado


pelo Decreto Municipal nº 1.636 de 26/01/11, com 224,01 hectares, que é uma
ilha fluvial cercada pelo Rio Itapanhaú e Rio da Praia e faz divisa com o parque
Estadual Restinga de Bertioga.

4. APA MARINHA LITORAL CENTRO – APAMLC foi criada


pelo Decreto estadual 52.526/2008, com a finalidade de proteger, ordenar,
garantir e disciplinar o uso racional dos recursos ambientais da região, inclusive
suas águas, bem como ordenar o turismo recreativo, as atividades de pesquisa e
pesca e promover o desenvolvimento sustentável da região. O Plano de Manejo
da APANLC está em processo de elaboração. Os ecossistemas e ambientes da
APAMLC sempre foram alvos do interesse turístico e econômico, principalmente
as praias arenosas, onde se desenvolveu o turismo de balneário associado às
segundas-residências. Contudo, costões rochosos, ilhas e parcéis complementam a
paisagem da UC, com características singulares de grande importância à
preservação da biodiversidade. Além dos tradicionais recursos pesqueiros –
peixes, moluscos e crustáceos – as ilhas e águas da APAMLC são verdadeiros
corredores ecológicos de espécies marinhas migratórias, como cetáceos, aves e
quelônios, inclusive espécies ameaçadas, entre elas a toninha (Pontoporia
Blainvillei), o trinta-réis-real (Thalasseus maximus) e a tartaruga-de-couro
(Dermochelys coriácea). Pela alta importância na proteção e conservação da
biodiversidade marinha e estuariana, além dos aspectos sociais associados, foram
integradas à gestão do território da APAMLC, também, importantes áreas de
manguezal junto aos rios Itagauré, Guaratuba, Itapanhaú e Canal de Bertioga, no
Município de Bertioga.

5. APA Várzea do Rio Tietê – foi criada pela Lei Estadual nº


5598/1987, e regulamentada pelo Decreto estadual nº 42.837/1998, que
estabeleceu o zoneamento ambiental, as diretrizes para usos dos recursos naturais
da área e o Conselho Gestor da APA Várzea do Rio Tietê. O Objetivo da criação
desta APA é a proteção das várzeas e planícies aluvionares do Rio Tietê.

Por se tratar de obra com influência em unidades de conservação,


necessária a manifestação da Fundação Florestal. Para melhor entendimento sobre
a posição da Fundação Florestal, pedimos licença para transcrever o parecer do
CAEX neste ponto: “II. 3.1 – Pareceres técnicos da Fundação Florestal”

Conforme consta no Processo FF NIS 1890289, a área técnica da Fundação


Florestal, na primeira Informação Técnica DLN 017/15 emitida em
02/07/2015 sobre o empreendimento, já apontou deficiências no
documento analisado (EIA/RIMA). Nesta análise foi solicitada a inclusão
de estudos sobre os corredores ecológicos (mosaico de UCs), além de
estudos detalhados das cinco espécies raras, endêmicas ou ameaçadas nas
Áreas de Influência Direta (AID) e nas Áreas Diretamente Afetadas (ADA).
Neste mesmo parecer, os técnicos apontaram também deficiências sobre
as alterações hídricas (quantidade e qualidade) até a foz do Rio Itapanhaú,
em seus diversos ecossistemas, e estudos de análises de riscos
considerando a “proteção dos atributos protegidos”. Na manifestação da
Fundação Florestal ficou evidente que não havia a devida demonstração de
que as medidas mitigadoras, compensatórias, de controle e de
monitoramento (incluindo-se os efeitos de bordas) não conflitavam com os
objetivos de criação das Unidades e seus respectivos planos de manejo.

Foram apontadas falhas no Programa de Proteção (com vistas a detectar e


coibir invasões, ocupações irregulares e extrativismo nas UCS), e no
Programa de Recuperação (em caso de degradação ou acidente nas fases
de implantação e operação), ficando destacado na Informação Técnica
DLN 017/15 da Fundação Florestal a ausência de planos de
monitoramento adequados, contemplando devidamente a fauna e flora nos
diversos ecossistemas protegidos.

Sem que nenhuma das falhas apontadas até então fosse objeto do devido
saneamento, verificou-se que a Fundação Florestal elaborou um segundo
parecer sobre o EIA/RIMA apresentado, resultando na IT AT/DLN nº
39/15. Este parecer contou com a colaboração dos gestores dos Parques
Estaduais Restinga de Bertioga e Serra do Mar, além da APA Litoral
Centro, Instituto Florestal e alguns membros dos conselhos gestores. A
colaboração foi informal e não produziu relatórios ou manifestações em
separado. Também não houve manifestação dos conselhos consultivos ou
trabalhos das Câmaras Técnicas das Unidades de Conservação que
sofrerão impactos.

Com análise aprofundada, referido documento apontou novas deficiências


do EIA/RIMA, incluindo a ausência da devida avaliação de impactos
negativos bem como a ausência de previsão de monitoramento e medidas
mitigadoras para vários deles, conforme consta no IT AT/DLN nº 39/15.
Dentre os questionamentos está a situação crítica de abastecimento
público da Baixada Santista e a ação de vetores de pressão, ambos
identificados no Plano de Manejo da Serra do Mar.

Consta no Plano de Manejo a hierarquização dos vetores de pressão sobre


o Parque Estadual da Serra do Mar, sendo que as “Estruturas para o
Abastecimento de Água” é o segundo mais crítico, conforme Figura 1 a
seguirapresentada.
Figura 1 - Plano de Manejo do PESM – Capítulo 03. Diagnóstico e
avaliação

Neste parecer da Fundação Florestal foram identificados vários impactos


negativos diretos dentro das Unidades de Conservação afetadas conforme
consta no IT AT/DLN nº 39/15, os quais ficaram sem a previsão de
salvaguardas ambientais mínimas, em função dos atributos ameaçados.

Após a apresentação do Parecer IT AT/DLN nº 39/15, criou-se através da


Portaria FF nº 20/16, grupo de trabalho composto por 08 membros, para a
análise e apresentação de parecer final sobre o EIA/RIMA o que não
ocorreu, isto é, não houve apresentação de parecer final corroborado pelos
componentes do grupo.

Posteriormente, na Informação Técnica FF/DLN nº 013/2016 ampliou-se a


análise realizada pela IT FF/DLN 39/15, destacando as áreas afetadas:
Parque Estadual Serra do Mar (PESM), Parque Estadual Restinga de
Bertioga (PERB), Área de Proteção Ambiental Marinha Litoral Centro
(APA MLC) e Reserva Particular de Proteção Natural (RPPN) Hercules
Florense. O preâmbulo desta informação destacou a importância das UCs,
sendo que os maiores remanescentes de restinga da Baixada Santista
encontram-se no PERB e, que o PESM e o PERB são gerenciados de
forma integrada formando um contínuo territorial e biológico.
Neste contexto são citados dois importantes dispositivos legais:

Lei n. º 9985/00, art. 7º §1º, art. 28

Art. 7º As unidades de conservação integrantes do SNUC dividem-se em


dois grupos, com características específicas:

I - Unidades de Proteção Integral;

II- Unidades de Uso Sustentável.

§ 1º O objetivo básico das Unidades de Proteção Integral e preservar a


natureza, sendo admitido apenas o uso indireto dos seus recursos naturais,
com exceção dos casos previstos nesta Lei.

Art. 28º. São proibidas, nas unidades de conservação, quaisquer alterações,


atividades ou modalidades de utilização em desacordo com os seus
objetivos, o seu Plano de Manejo e seus regulamentos.

Decreto 25341/86 at. 9º e 24.

Artigo 9.º - Não são permitidas, dentro das áreas dos Parques Estaduais,
quaisquer obras de barragens, hidrelétricas, de controle de enchentes, de
retificação de leitos, de alteração de margens e outras atividades que
possam alterar suas condições hídricas naturais.

Parágrafo único – Quaisquer projetos para aproveitamento limitado e local


dos recursos hídricos dos Parques estaduais devem estar condicionados
rigorosamente ao objetivo primordial de evitar alterações ou perturbações
no equilíbrio do solo, água, flora, fauna e paisagem, restringindo-se ao
indicado no seu Plano de Manejo.

Artigo 24º – vedada a execução de obras que visem à construção de


teleféricos, ferrovias, rodovias, barragens, aquedutos, oleodutos, linhas de
transmissão ou outras, que não sejam de interesse do Parque Estadual.

Neste parecer, também é feita referência ao Plano de Manejo do PESM


sobre a Zona de Amortecimento, destacando algumas restrições e seu
objetivo geral: “Proteger e recuperar os mananciais, os remanescentes
florestais e a integridade da paisagem na região de entorno do PE Serra do
Mar, para garantir a manutenção e recuperação da biodiversidade e dos
seus recursos hídricos” (Capitulo Zoneamento do Plano de manejo do
PESM).

Dentre os objetivos específicos da Zona de Amortecimento a citada


Informação Técnica destacou também:

- Contribuir para a diminuição dos impactos negativos das atividades


humanas sobre a qualidade e quantidade de água em todo sistema
hidrológico do parque;

- Restringir a implantação de empreendimentos e execução de atividades


com impacto negativo sobre a unidade de conservação.

Outras informações e questionamentos podem ser destacados desta


Informação Técnica.

Em relação à vegetação, a Fundação Florestal alerta que a supressão de


15,1 hectares na Zona de Amortecimento se dará em áreas com alto grau de
conservação e integridade e que a fragmentação refletirá diretamente no
interior do PESM. “Mesmo localizada na Zona de Amortecimento imediata
e o número de hectares cuja supressão é prevista ser pequeno em função do
todo do PESM, trata-se de área vegetada na continuidade de maciço da
melhor qualidade e que não reconhece limites territoriais estabelecidos
pelos homens” (sic Informação Técnica).

No plano geral, a Informação Técnica da Fundação Florestal questiona a


suficiência amostral dos estudos e levantamentos realizados sobre a flora e
a fauna, em prejuízo das avaliações e conclusões formuladas. Além disso,
questionam os efeitos negativos de uma estiagem induzida (redução de
vazão) sobre os atributos das Unidades de Conservação. Mesmo com as
deficiências dos estudos ambientais apresentados, a Fundação Florestal
destaca que na região da planície costeira, o levantamento de dados
primários, em um dos pontos amostrados, apontou que 64% das espécies
encontradas constam na lista de espécies ameaçadas.

Esta Informação Técnica reforça a manifestação anterior da Fundação


Florestal, onde ficou evidenciado que a abertura ou reativação de acessos,
adutoras e linhas de transmissão favorecem os vetores de ocupação. A
intervenção potencializa vetores de pressão já existentes (Figura 1).

Em relação aos possíveis impactos negativos previstos para os ambientes


de restinga e manguezal, a Fundação Florestal destaca a fragilidade e as
características dos mesmos questionando a salvaguarda de seus atributos e
apontando a insuficiência de dados científicos que permitam não só a
avaliação dos efeitos do empreendimento como a concepção de medidas
de mitigação e monitoramento procedentes e abrangentes (a salinidade foi
considerada insuficiente como parâmetro).

Além disso, a Fundação Florestal afirma que a ausência de informações


associadas à dinâmica complexa do ambiente em questão são fatores que
contribuíram para que o EIA/RIMA, os RICs (Relatório de Informações
Complementares) e pareceres adicionais reconheçam assertivamente a
existência de impactos, porém são inconclusivos sobre seu
dimensionamento. Isso impede a adoção de medidas corretivas e
mitigadoras eficientes.
Por fim, concluem nesta terceira Informação Técnica FF/DLN 13/16 que
“As informações apresentadas não permitem uma avaliação apropriada dos
impactos gerados”.

Emitida a Informação Técnica acima mencionada e apresentado o plano


de monitoramento de salinidade, dias após, o Diretor da Fundação
Florestal do Litoral Norte e Baixada Santista apresentou parecer, sem
participação de nenhum outro técnico da FF (FF/DLN nº 014/16), onde
não faz qualquer análise técnica sobre o plano. Somente enfatiza que este
atende parcialmente aos critérios para identificação das condições
necessárias à manutenção da integridade ambiental das UCs e solicita
inclusão de alguns estudos listados no parecer, a serem realizados. Destaca
ainda nesta manifestação que o monitoramento deveria ser realizado em
período não inferior a dois anos antes da emissão de pareceres de
viabilidade ambiental da regra operativa.

Em suas conclusões a Fundação Florestal requer esclarecimentos e


apresenta apenas dois questionamentos: 1 - Sobre o estabelecimento de
salvaguardas. Quais os parâmetros que asseguram o estabelecimento das
mesmas? 2 - Os levantamentos propostos mencionam o período de 01 ano
para o levantamento de linha de base, este período é suficiente para
determinar as condições ambientais que garantam a integridade do
ambiente?
Ocorre que a questão do monitoramento de salinidade nos trechos do Rio
Itapanhaú é apenas uma pequena parte de todos os pontos obscuros e suas
lacunas de conhecimento, medidas de controle, mitigação entre outras que
foram levantados nos três primeiros pareceres da FF. Diante de tais
aspectos, fica evidente que as perguntas efetuadas conforme citado acima,
foram direcionadas e insuficientes para a devida abordagem da matéria em
seus múltiplos aspectos.

Em resposta a estes dois questionamentos, a SABESP afirmou que os


estudos apresentados eram suficientes e apresentou Nota Técnica de
autoria do Prof. Sérgio Rosso.

Assim, a manifestação do Professor Rosso se sobrepôs aos graves


questionamentos levantados anteriormente pelo próprio Diretor da
Fundação Florestal, sem que tenham sido abordados, considerados e
equacionados o conjunto de questionamentos feitos nos quatro primeiros
laudos emitidos pela equipe de técnicos da própria Fundação.

Ressaltamos que a relação de estudos solicitados pela Fundação Florestal


no LT DLN 014/16 foi elaborada em conjunto entre a FF, SMA, CETESB e
IG. No entanto o Prof. Sergio Rosso não abordou os demais estudos
carentes, atendendo, parcialmente a questão do monitoramento da cunha
salina pelo curto período de um ano.

Por fim, em poucos dias, a nota técnica assinada em 20 de junho teve seu
trâmite acelerado, em regime de urgência e obteve, sem qualquer outro
parecer técnico multidisciplinar, parecer favorável do Diretor Executivo da
Fundação Florestal.

Neste contexto, é importante lembrar que o parecer favorável da Fundação


Florestal tinha papel determinante para a emissão de licença prévia, mas,
veio a ser emitido com graves falhas de fundamentação para viabilizar este
propósito, em detrimentos dos bens ambientais protegidos pelas Unidades
de Conservação.

Além do exposto anteriormente, cabe ainda destacar que não houve


manifestação dos conselhos consultivos do PESM, PERB e APAS.
Também não há parecer das RPPNs. O instituto Florestal, que gerenciou
as UCS até o SIEFLOR e que tem expertise em unidades de conservação
sequer foi consultado.

Por fim, consta no processo da Fundação Florestal, manifestação da


Prefeitura de Bertioga que se refere ao Parque Municipal do Rio da Praia e
ao CONDEMA.

A Secretaria Municipal de Meio Ambiente informou que no município não


havia técnicos especialistas na área, e a manifestação focou apenas no tema
saneamento, aproveitando, na oportunidade, a presença dos técnicos da
SABESP. A única ressalva do poder público municipal (conselheiros do
CONDEMA) foi o de requerer acesso aos dados do monitoramento.

Excelência, não se tratam de meras irregularidades apontadas pela


Fundação Florestal, mas de aspectos relevantes para a proteção do meio ambiente
e ignorados pelo órgão ambiental, que também não considerou os aspectos
levantados pela pesquisadora do Instituto Geológico, que afirmou que os
impactos do projeto de captação de água do Rio Itapanhaú se somados aos
desencadeados pela elevação atual e futura do nível do mar e por possíveis efeitos
das mudanças climáticas na área, certamente irá ampliar a extensão da cunha
salina, e consequentemente a expansão dos manguezais.

A geóloga Dra. Célia Regina de Gouveia Souza, do Instituto


Geológico, considerou diversos pontos negativos e preocupantes com relação à
influência da obra no estuário. Afirmou que, em nenhum parecer técnico dentro
do processo de licenciamento e nem mesmo no próprio EIA/RIMA, foi levado
em consideração o tema elevação atual e futura do nível do mar, e nem os
possíveis efeitos das mudanças climáticas na área, e ainda menciona que estudos e
projeções recentemente efetuados para o município de Santos pelo Prof. J. Harari
(IO–USP) mostram que o nível do mar tende a se elevar a uma taxa de 0,45
cm/ano nas próximas décadas, e um dos efeitos dessa elevação é o aumento da
intrusão da cunha salina nos sistemas fluviais.
Portanto, os impactos do projeto de captação de água do Rio
Itapanhaú se somados aos desencadeados pela elevação atual e futura do nível do
mar e por possíveis efeitos das mudanças climáticas na área, certamente irá
ampliar a extensão da cunha salina, e consequentemente a expansão dos
manguezais, o que não foi considerado no EIA/RIMA e nem na instrução do
processo de licenciamento.

Mudanças no aporte de sedimentos para a Praia da Enseada poderão


reduzir o balanço sedimentar da mesma, causando e/ou aumentando a erosão,
principalmente em situação de elevação do nível do mar, quando a principal fonte
de sedimentos passa a ser os rios. De acordo com o Mapa de Risco à Erosão
Costeira do Estado de São Paulo (2012) elaborado pela pesquisadora do IG, acima
mencionada, as praias de Bertioga já são classificadas como em Risco Médio, e
com a implantação deste projeto de captação, o risco à erosão poderá
aumentar, colocando em risco a população residente nestas áreas, além de
enormes prejuízos materiais. A navegabilidade e as rotas de navegação
utilizadas ao longo do Canal de Bertioga também poderão ser afetadas.

É digno de nota, que a pesquisadora um dia depois de emitir o


Informe Técnico acima analisado, emite outro Informe, contendo a mesma
estrutura do anterior, porém, detalhando o que e como deve ser realizado o
monitoramento recomendado. Ou seja, tacitamente, concordou com a obra,
exigindo apenas o seu monitoramento.
Assim, também, técnicos do CONDEPHAT. O Conselho de Defesa
do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado, que é o
órgão responsável pela Área Natural Tombada da Serra do Mar e de
Paranapiacaba, analisou o EIA/RIMA e inicialmente deu parecer negativo sobre
as obras, porém o Secretário Estadual da Cultura aprovou o projeto, após avocar
a decisão.

Além disso, segundo relatado pelo CONDEPHAAT – Conselho de


Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de
São Paulo, em parecer por ele emitido acerca do EIA/RIMA para o
empreendimento em questão, “o empreendimento está quase que
completamente inserido na área tombada da Serra do Mar e de
Paranapiacaba. O Ponto de captação e parte do sistema de adução por tubulação
aérea estão em área tombada. O ponto de dissipação está em situação de
envoltória de 300 metros do tombamento enquanto o local destinado a canteiro
de obras não é tutelada pelo CONDEPHAAT”.

Conclusão: existe licença ambiental prévia, mas ela é nula. Não há


embasamento técnico que a respalde. A decisão foi política.

IV– DAS CARACTERÍSTICAS DO EMPREENDIMENTO.


O empreendimento para o qual a SABESP requereu o licenciamento
ambiental consiste no aproveitamento da bacia do rio Itapanhaú para
abastecimento da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), mediante sistema
de reversão de águas do Ribeirão Sertãozinho (formador do rio Itapanhaú,
pertencente à vertente marítima – UGRHI 07) para o reservatório de Biritiba
(Bacia do Alto Tietê), visando o reforço da capacidade de produção de água dos
Sistema Alto Tietê (SPAT) da SABESP.

Segundo a SABESP, a reversão das águas da bacia do rio Itapanhaú


para o reservatório Biritiba pretende recuperar o estoque e ampliar a segurança
hídrica do SPAT, mediante aumento do volume de água armazenado nos
reservatórios que integram esse sistema para utilização plena da capacidade da
ETA Taiaçupeba, e, dessa forma, contribuir para o abastecimento da RMSP tanto
na crise hídrica atual quanto para suprir demandas futuras de água da região,
sujeita às condições naturais de escassez hídrica.

Consta do Parecer técnico sobre o EIA/RIMA das obras emitido


pelo Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto Tietê, o empreendimento será
implantado em duas etapas sucessivas: (I) a primeira, de caráter emergencial, na
qual as bombas da estação elevatória serão alimentadas por sistema de geradores a
diesel; e (II) na sequência, a segunda etapa prevê a implantação de linha de
transmissão de energia à estação elevatória de captação e desativação do sistema a
diesel.
Na fase de implantação são previstas intervenções na Zona de
Recuperação no interior do PESM, com a implantação de barragem no Rio
Sertãozinho. Já na zona de amortecimento, são previstas as estruturas de captação,
adutora, linha de transmissão, áreas de apoio e estradas de acesso.

Na fase de operação está prevista a redução da vazão ao longo de


todo o curso do Rio Itapanhaú que poderá provocar alterações nos ecossistemas à
jusante, com eventual alteração de qualidade da água, na sua salinidade, no
transporte de sedimentos e nutrientes, na biota aquática e na vegetação marginal,
interferindo nas unidades de conservação PESM, PERB e a APA Estadual
Marinha Litoral Centro.

Na região de inserção do empreendimento ou sob sua influência,


como já vimos, estão presentes importantes Unidades de Conservação tais como:
o Parque Estadual da Serra do Mar – PESM – Núcleo Bertioga; o Parque Estadual
Restinga de Bertioga – PERB; a Área de Proteção Ambiental – APA Estadual
Marinha Litoral Centro; o Parque Natural Municipal Ilha do rio da Praia; e as
Reservas Particulares de Patrimônio Natural – RPPNs Hércules Florence.

Mesmo com os elevados níveis de fragilidade da região, que será


afetada pelo empreendimento, os estudos ambientais contidos no EIA/RIMA e
no Relatório de Informações Complementares mostraram-se insuficientes e falhos
para permitir a devida instrução do licenciamento.

Vários aspectos dos diagnósticos, bem como da identificação e


avaliação de impactos foram apontados como deficientes pela CETESB e pelos
demais órgãos consultados, que resultaram em inúmeras exigências relacionadas
no Parecer nº 234/16/IE para serem cumpridas em fases subsequentes à LP.

Dentre essas exigências destacam-se os planos e programas de


monitoramento, que pretendem fornecer as respostas às questões não esclarecidas
pelo EIA/RIMA. Neste contexto, o monitoramento visa suprir as deficiências dos
estudos ambientais, denotando falhas de instrução, que põem em dúvida o
licenciamento e a regularidade da LP, notadamente em face do desrespeito
configurado ao artigo 5º e 6º da Resolução Conama 01/86.

Deve-se ressaltar que o monitoramento permite mensurações,


mas não garante a salvaguarda de bens ambientais. Mesmo que superadas
todas as deficiências metodológicas já identificadas nos planos de monitoramento,
incorre-se em risco da identificação de impactos não previstos e não mitigáveis,
que podem inviabilizar ambientalmente o empreendimento.

A realização de um empreendimento supostamente


emergencial não deve estar vinculada a uma eventual e improvável
comprovação “a posteriori” de sua viabilidade ambiental, inclusive por
meio da execução de monitoramentos de caráter experimental. É um risco
demasiado inclusive em face da sua alegada necessidade emergencial.

Não está assegurado sequer que as decisões a serem tomadas em face


destes resultados permitirão não só a efetiva salvaguarda de bens ambientais,
como a reversão de possíveis danos ambientais, cuja devida identificação,
avaliação de ocorrência, e medidas cabíveis correlatas não foram suficientemente
demonstradas pelo EIA/RIMA (pelo contrário).

V- DAS INCONSISTÊNCIAS DA OBRA - PARECER DO CAEX - COM


BASE NO EIA/RIMA.

Após análise minuciosa realizada, o CAEX conclui que o


EIA/RIMA e suas complementações, bem como o Parecer da CETESB nº
234/16/IE contém equívocos e insuficiências técnicas graves e substanciais. A
obra sequer encontra justificativa para ser executada. Vejamos.

1. Quanto à necessidade do empreendimento: incrivelmente,


tal questão não foi analisada no EIA/RIMA, como já exposto.

Segundo informações contidas nos autos do Inquérito Civil


0003/2012 do GAEMA Cabeceiras, a plena capacidade da ETA Taiaçupeba está
associada ao enchimento completo do Reservatório Taiaçupeba, que ainda não
pode operar com o seu volume máximo de armazenamento de água. O processo
de licenciamento ambiental da ampliação deste reservatório se encontra em
tratativas entre a SABESP, DAEE e CETESB há cerca de uma década, inclusive
com a emissão de Licença de Instalação e autorizações de supressão de vegetação
para ampliação de sua área inundável. Caso este empreendimento fosse executado,
seria necessária a obra de transposição do rio Itapanhaú?

Não sabemos. Acreditamos que não, mas não existiu estudo para
garantir tal necessidade.

Satisfeita com as informações apresentadas no EIA/RIMA, a


CETESB não faz nenhum comentário sobre a alternativa de não execução do
empreendimento e, portanto, não questiona a possibilidade de operação do
Reservatório Taiaçupeba em seu nível mais alto de projeto que, juntamente com
outras obras executadas ou em andamento, poderia dispensar a reversão da bacia
Rio Itapanhaú.

No entanto, tais análises não são feitas pelo empreendedor, muito


menos pelo órgão ambiental.

A edição da Portaria DAEE no 350/14 que autorizou a SABESP


a ampliar a captação na ETA Taiaçupeba de 10 m3/s para 15 m3/s foi
fundamentada pelas modelagens feitas para o Sistema Produtor Alto Tietê
prevendo o Reservatório Taiaçupeba com seu volume máximo de
reservação, sem depender da reversão da bacia Rio Itapanhaú.

Outro aspecto que deveria ser analisado diz respeito ao programa de


redução de perdas físicas no armazenamento e distribuição da água. Segundo o
posicionamento e contribuições técnicas da Associação Brasileira de Engenharia
Sanitária e Ambiental – ABES( http://abes-
dn.org.br/pdf/28Cbesa/Perdas_Abes.pd), em relatório publicado em
19/10/2015, avaliações feitas no sistema de abastecimento de água da SABESP na
Região Metropolitana de São Paulo - RMSP mostraram que, somente
considerando os vazamentos não visíveis, o sistema entraria em colapso em dois
anos, se nenhuma das 19 ações previstas tivesse sido realizada para detectar e
reparar os vazamentos encontrados.

Assim, fica evidente que não ficou demonstrado que a redução de


perdas físicas e o enchimento do Reservatório Taiaçupeba com seu volume
máximo de reservação, não poderiam substituir o oneroso e perigoso projeto de
reversão da bacia Rio Itapanhaú, com alto potencial de causar impactos
ambientais.

2. Quanto às áreas de influência: Segundo o relatado no laudo


do CAEX SETEC RI 1889/15, sobre as áreas de influência do empreendimento
(pág. 23 do laudo), “é possível constatar que o EIA/RIMA subestimou a
abrangência espacial dos impactos ambientais negativos diretos e indiretos
do empreendimento”.
Vejamos o trecho relatado pelo CAEX:

“A faixa de 500 metros de cada lado ao longo das instalações do


empreendimento e ao longo do Rio Itapanhaú até o seu desemboque no mar,
estabelecida como Área de Influência Direta (AID) é suficiente para avaliar os
impactos negativos gerados pelo empreendimento aos ecossistemas locais.

Como exemplos desta insuficiência espacial é possível citar que nas áreas em que
ocorrerá supressão de vegetação:

- As estruturas (adutora e caminho de serviço) formarão uma barreira ao


deslocamento de fauna silvestre. Considerando a proximidade com o Parque
Estadual da Serra do Mar (PESM) e a presença de mamíferos, tais como felinos
ameaçados de extinção poderão ter seu deslocamento prejudicado à procura de
presas e de parceiros reprodutivos no local, restringindo desta forma o habitat
disponível para a sobrevivência destas espécies que necessitam de grande áreas de
vida;

- Nas áreas de contato de Floresta Ombrófila Densa com as áreas a serem


desmatadas, os impactos ambientais negativos do efeito de borda causados pela
supressão de vegetação podem ocorrer em distâncias superiores a esta metragem
estabelecida no EIA/RIMA, inclusive adentrando a vegetação inserida no Parque
Estadual da Serra do Mar, de forma a impactar tanto a vegetação como as espécies
da fauna que necessitam de ambientes florestais mais conservados;
Além disso, a redução da vazão a jusante do ponto de captação irá
causar impactos negativos diretos no Rio Itapanhaú. Praticamente todos os
impactos relacionados às obras na estrada de acesso/caminho da adutora de
recalque e de captação, e eventuais vazamentos de graxas e combustíveis terão
consequências diretas a jusante, como a alteração de qualidade da água e redução
de vazão do Rio Itapanhaú.

Também desconsiderou a importância do Rio Itapanhaú para o


Canal de Bertioga, que por sua vez faz parte do Estuário de Santos e São Vicente
e a importância desta região estuariana para a área oceânica adjacente, visto que
estas regiões foram completamente desconsideradas nas áreas de influência do
empreendimento”.

Conforme já mencionado acima, o Rio Itapanhaú é o principal curso


d’água contribuinte do Canal de Bertioga, visto que os outros rios que deságuam
neste canal são pouco extensos e possuem vazões menores, portanto este curso
d’água se caracteriza como a principal fonte potencial de sedimentos e nutrientes
para o canal de Bertioga.

Estes sedimentos são depositados, preferencialmente, junto à área de


confluência de correntes de maré junto ao Largo do Candinho, região que
corresponde a uma das raras áreas do estuário santista em que se depositam
predominantemente sedimentos argilosos, com alta porcentagem de matéria
orgânica, que subsidia as cadeias tróficas estuarinas. Portanto, a diminuição das
vazões do Rio Itapanhaú ocasionará impactos ambientais negativos nas cadeias
tróficas do Canal de Bertioga.

Estes impactos ambientais negativos também poderão se propagar


ao Complexo Estuarino de Santos e São Vicente e a região oceânica adjacente,
visto que o Canal de Bertioga é considerado em termos de hidrodinâmica
estuarina como uma conexão secundária do oceano com este estuário.

Excelência, nada disso foi analisado! Portanto, não há sequer


previsão de medidas mitigadoras para tais danos.

Por todo o relatado em relação à área de influência do


empreendimento em comento, pode-se concluir que o EIA/RIMA não atendeu
de forma satisfatória o inciso III do art. 5º da Resolução CONAMA 01/86,
pois as áreas de influência do empreendimento foram subestimadas e,
portanto, as etapas posteriores do EIA/RIMA (diagnósticos ambientais;
identificação e análise dos impactos; e proposições de medidas ambientais)
também estão comprometidas.

3. Quanto aos planos e programas de monitoramento: A


proposta de monitoramento do médio e baixo Itapanhaú apresentou objetivo
geral de acompanhar possíveis alterações ambientais no rio, decorrentes da
redução de vazão. Esse objetivo se divide em quatro objetivos específicos, sendo
que o primeiro propõe que se consiga estabelecer salvaguardas para prevenir, em
tempo real, potenciais “situações críticas de stress para o ecossistema”.

Contudo, em nenhum momento se definiu que stress seria esse.


Foi estabelecido um limite de variação de salinidade, mas não o que será
considerado como stress para o ecossistema.

O segundo objetivo específico estabelece que o monitoramento


visa subsidiar a futura avaliação de impacto do empreendimento no médio
prazo, e isso apenas a partir da renovação da Licença de Operação.

Pode-se concordar que a proposta de monitoramento vai fornecer


informações importantes sobre o funcionamento dos sistemas, mas no
processo de licenciamento deve-se levar em consideração os impactos
previstos. Claramente não se tem informação suficiente para se prever quais
serão esses impactos.

O licenciamento, como tem sido conduzido, fere o artigo 5 da


CONAMA 01/86, pois o estudo de impacto não identificou e avaliou
sistematicamente os impactos gerados pelo empreendimento.
Patindo desse princípio, o licenciamento deveria ser conduzido a
partir do momento em que os estudos propostos estivessem concluídos ou, ao
menos, que possibilitassem a clara identificação e avaliação dos impactos.

O quarto objetivo visa discriminar os efeitos que possam ser


atribuídos ao empreendimento, por conta da redução da vazão do Rio
Itapanhaú, em relação a outros fatores, naturais ou antrópicos. Ou seja, mais
uma vez se reforça que não se tem base de conhecimento suficiente para se
avaliar o que vai acontecer.

Um aspecto importante é que o plano de monitoramento foi


concebido com base nas conclusões do EIA e do RIC:

 A redução da vazão vai afetar a salinidade do rio,


profundidade e salinidade do lençol;

 A restinga é um ecossistema muito vulnerável, pois


depende de água doce e é menos tolerante à
salinidade que o manguezal; isso gera risco de
rearranjos localizados de vegetação no trecho de
transição, com avanço do manguezal.

Contudo, se o EIA e o RIC não produziram material que permita


se avaliar adequadamente os impactos, vide Informação Técnica FF/DLN nº
13/2016, o monitoramento partiu de uma base de informações insuficiente
para ser concebido.

Outro aspecto que merece maiores esclarecimentos está


relacionado à seleção dos chamados “setores representativos” de cada
fitofisionomia de restinga. Os critérios utilizados nessa subdivisão das áreas de
restinga precisam ser esclarecidos.

O Plano de Monitoramento envolve três etapas.

Na primeira está previsto o levantamento exploratório e


detalhamento do plano e, na fl. 520 do processo da FF, se informa que os
produtos serão consolidados apenas no PBA (Plano Básico Ambiental), para
instruir a solicitação de Licença de Instalação.

Considerando que a emissão de Licença Prévia implica em se


avaliar o empreendimento como ambientalmente viável, lembrando que nem o
EIA nem o RIC possibilitaram a adequada avaliação dos impactos, como deixar
esse importante levantamento e o detalhamento do plano apenas para a fase de
solicitação de LI?
O levantamento exploratório deverá trazer importantes
informações para o adequado balizamento do plano de monitoramento.

Considerando também que a linha de base será levantada na


segunda etapa do plano e que é instrumento fundamental para se saber as
condições ambientais prévias à implantação do empreendimento, como deixar
essas etapas apenas para fases posteriores, sendo que no caso do levantamento
da linha de base ela se dará concomitantemente à implementação do sistema de
captação?

Essas questões não foram esclarecidas em nenhuma análise


efetuada pelos órgãos ambientais responsáveis pelo licenciamento e
gerenciamento das unidades de conservação ao se aceitar a ordem em que se
propõe o desenvolvimento dos projetos para levantamento da real situação
ambiental nas áreas de influência do empreendimento.

Em relação à salvaguarda ambiental, com o estabelecimento do


limite de dois desvios padrão como tolerância, um aspecto que merece atenção
é o risco de o número de réplicas ser baixo para a eventual variabilidade
existente no sistema. Isso poderia levar a um aumento dos desvios, o que
aumentaria a tolerância para se tomar medidas corretivas. Seria importante já se
ter um lote de dados que permitisse estimativa mais confiável das variações de
salinidade, para daí se ter maior confiança na utilização dessa salvaguarda.
No caso do monitoramento da restinga, ainda existem algumas
questões pendentes, como a definição do que será considerado como “amostra
representativa”. Também não se tem definido um critério para se avaliar
alteração quando não for possível se trabalhar com médias, casos de baixo
número de réplicas, por exemplo.

Isso significa que vai se descobrir o que fazer depois, com


tudo em andamento, tanto o monitoramento como as obras e a posterior
operação do empreendimento.

4. Quanto às alternativas locacionais: também não existem


tais análises. Simplesmente, o órgão ambiental ignorou tal exigência. Lembramos
que todo estudo de impacto ambiental deve, conforme a Resolução CONAMA
01/86, observar o estudo das alternativas locacionais e os impactos ambientais do
pretendido empreendimento.

Artigo 5º - O estudo de impacto ambiental, além de atender à


legislação, em especial os princípios e objetivos expressos na
Lei de Política Nacional do Meio Ambiente, obedecerá às
seguintes diretrizes gerais:

I - Contemplar todas as alternativas tecnológicas e de


localização de projeto, confrontando-as com a hipótese de não
execução do projeto;

II - Identificar e avaliar sistematicamente os impactos


ambientais gerados nas fases de implantação e operação da
atividade ;

Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no


mínimo, as seguintes atividades técnicas:

I - Diagnóstico ambiental da área de influência do projeto


completa descrição e análise dos recursos ambientais e suas
interações, tal como existem, de modo a caracterizar a
situação ambiental da área, antes da implantação do projeto,
considerando:

a) o meio físico - o subsolo, as águas, o ar e o clima,


destacando os recursos minerais, a topografia, os tipos e
aptidões do solo, os corpos d'água, o regime hidrológico, as
correntes marinhas, as correntes atmosféricas;

b) o meio biológico e os ecossistemas naturais - a fauna e a


flora, destacando as espécies indicadoras da qualidade
ambiental, de valor científico e econômico, raras e ameaçadas
de extinção e as áreas de preservação permanente;

c) o meio sócio-econômico - o uso e ocupação do solo, os


usos da água e a sócio-economia, destacando os sítios e
monumentos arqueológicos, históricos e culturais da
comunidade, as relações de dependência entre a sociedade
local, os recursos ambientais e a potencial utilização futura
desses recursos.

II - Análise dos impactos ambientais do projeto e de suas


alternativas, através de identificação, previsão da magnitude e
interpretação da importância dos prováveis impactos
relevantes, discriminando: os impactos positivos e negativos
(benéficos e adversos), diretos e indiretos, imediatos e a
médio e longo prazos, temporários e permanentes; seu grau
de reversibilidade; suas propriedades cumulativas e
sinérgicas; a distribuição dos ônus e benefícios sociais.

III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos


negativos, entre elas os equipamentos de controle e sistemas
de tratamento de despejos, avaliando a eficiência de cada uma
delas.

lV - Elaboração do programa de acompanhamento e


monitoramento (os impactos positivos e negativos, indicando
os fatores e parâmetros a serem considerados).

Na mêsma linha o Decreto Federal 99.274/90:

Art. 17. A construção, instalação, ampliação e funcionamento


de estabelecimento de atividades utilizadoras de recursos ambientais,
consideradas efetiva ou potencialmente poluidoras, bem assim os
empreendimentos capazes, sob qualquer forma, de causar degradação
ambiental, dependerão de prévio licenciamento do órgão estadual
competente integrante do Sisnama, sem prejuízo de outras licenças
legalmente exigíveis.

§ 1º Caberá ao Conama fixar os critérios básicos, segundo os


quais serão exigidos estudos de impacto ambiental para fins de
licenciamento, contendo, entre outros, os seguintes itens:

a) diagnóstico ambiental da área;

b) descrição da ação proposta e suas alternativas;


e

c) identificação, análise e previsão dos impactos


significativos, positivos e negativos.
Importante acrescentar que “O Prof. Rodgers Júnior, em seu
Environmental Law, conceitua a discussão das alternativas como linchpin
(elemento central ou de coesão) da avaliação de impacto, devendo essa
discussão ser “sóbria, fundamentada e minuciosa” e o Prof. Juergensmeyer
classifica a discussão das alternativas como o coração da avaliação de impacto
ambiental” (pag. 279).

Quanto à identificação e avaliação dos impactos ambientais do


projeto, adverte Paulo Afonso que “terão que ser avaliados antes de se licenciar
a implantação e antes de se autorizar a operação da atividade”.

Sabemos que a avaliação de impactos ambientais deve ser


empregada para identificar, prever, avaliar e gerenciar impactos significativos.
Portanto, a alternativa locacional do projeto é uma exigência legal e devem ser
identificados todos os impactos ambientais positivos e negativos das
alternativas propostas, inclusive, para se poder, ao final, apontar qual a melhor
alternativa locacional para o projeto.

No entanto, não há uma vírgula no EIA/RIMA analisando outras


áreas para o empreendimento.
CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Chama a atenção a “urgência” com que todo o empreendimento e


seu licenciamento está sendo tratado.

No momento haveria uma certa tolerância de tempo que


permitiria o desenvolvimento dos estudos propostos antes de se iniciar o
processo de licenciamento.

Não se discute a importância de se garantir o suprimento de


água para parte da Região Metropolitana de São Paulo, mas isso deve ser
feito com critério e com base em estudos que efetivamente permitam a
avaliação dos impactos ao meio ambiente.

Como já apresentado, não há informações ambientais suficientes


sobre a área de influência do empreendimento, o que significa que não é
possível se estimar de forma adequada os impactos que serão gerados.

Caso o monitoramento tivesse sido implementado desde o


momento em que se deu entrada no pedido de licença, as etapas 1 e 2 já
estariam perto de seu final, garantindo mais informações sobre a real situação
do sistema.

Nunca é demais se ressaltar que a tomada de dados para o


estabelecimento de uma linha de base, obviamente no caso do meio aquático,
pode se dar em um ano pouco típico, como recentemente ocorreram alguns,
criando um lote de dados que pode não refletir as condições a serem avaliadas
durante o monitoramento.

Todo o levantamento para o diagnóstico, estabelecimento da linha


de base e início de monitoramento deveria ser implantado a priori.

Deve ser ressaltado que a Fundação Florestal solicitou a inclusão


de uma série de estudos, bem como apresentou a sugestão de que a elaboração
dos estudos do marco zero se desse dois anos antes à emissão de parecer sobre
viabilidade ambiental do empreendimento, conforme Informação Técnica
FF/DLN nº014/2016, de 09/06/2016. Esse documento foi assinado pelo Sr.
Carlos Zacchi Neto, Diretor da Baixada Santista, Litoral Norte, Vale do Paraíba
e Mantiqueira.

O mesmo documento apresentou dois questionamentos à


SABESP, respondidos pelo Prof. Dr. Sergio Rosso (fls. 542/546 do processo
da FF).
Ao que se sabe, nenhuma manifestação foi apresentada pelo
empreendedor em relação às solicitações efetuadas na Informação Técnica
FF/DLN nº014/2016.

Mesmo sem resposta em relação à inclusão dos estudos solicitados


e apenas com base nos esclarecimentos referentes às duas questões efetuadas e
respondidas pelo Prof. Dr. Sergio Rosso, o mesmo Sr. Carlos Zacchi Neto
considerou que não havia óbices à implantação do empreendimento, conforme
consta na Informação Técnica FF/DLN nº016/2016.

Como já ressaltado, o empreendimento é baseado em decisão


política. Infelizmente, não há estudo técnico adequado que ateste a viabilidade do
empreendimento.

Por todo o exposto, verifica-se que a instrução do licenciamento


ambiental não demonstrou e nem comprovou a viabilidade ambiental do
empreendimento ensejando a anulação de sua licença Prévia, que foi
indevidamente emitida.
VI – DO DIREITO:

Como se observa pelos fatos acima narrados, segundo Parecer


Multidisciplinar elaborado pelo Setor Técnico do MPSP, nem o EIA/RIMA, nem
as suas complementações, atendeu às diretrizes e atividades técnicas elencadas nos
artigos 5º e 6º, da Resolução CONAMA 01/86.

Sabe-se que as conclusões do EIA/RIMA são passíveis de


questionamento judicial, sendo que o não atendimento às disposições dos artigos
5º e 6º, da Resolução CONAMA 01/86, pode determinar a inexistência ou
insuficiências do EIA/RIMA, como é o caso dos autos.

Segundo o doutrinador Álvaro Luiz Valery Mirra, “Um EIA que


não contempla todos os pontos mínimos do seu conteúdo, previstos na
regulamentação, é um estudo inexistente; e um EIA que não analisa de
forma adequada e consistente esses mesmos pontos é um estudo
insuficiente. E tanto num caso (inexistência do EIA) quanto no outro
(insuficiência do EIA) o vício que essas irregularidades acarretam ao
procedimentos de licenciamento é de natureza substancial.
Consequentemente, inexistente ou insuficiente o estudo de impacto, não
pode a obra ou a atividade ser licenciada e se, por acaso, já tiver havido o
licenciamento, este será inválido.” (Impacto Ambiental - Aspectos da
Legislação Brasileira, Ed. Juarez de Oliveira, 2ª ed. Pág. 69).
Assevere-se que, com o advento da Constituição Federal de 1988, o
meio ambiente foi elevado a bem de interesse comum do povo, constituindo
verdadeiro direito fundamental da coletividade e para a qual compete, juntamente
com o Estado, zelar pela sua preservação, de sorte a garantir um ambiente sadio e
equilibrado para as presentes e futuras gerações.

É o que muito bem resume o artigo 225, caput, da Lei Maior, que
transcrevermos in verbis:

“Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente


equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade
o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras
gerações.” (sublinhamos)

Bem por isso, a proteção do meio ambiente se afigura como uma das
obrigações legais e constitucionais do Estado, razão pela qual vem também
esculpida no § 1º da supracitada norma, igualmente transcrito:

“§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder


Público:

I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o


manejo ecológico das espécies e ecossistemas;

II- preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do


País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de
material genético;

III - definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e


seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a
alteração e a supressão permitidas somente através de lei, vedada
qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que
justifiquem sua proteção;

IV - exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade


potencialmente causadora de significativa degradação do meio
ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará
publicidade;

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas,


métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade
de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e


a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas


que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção
de espécies ou submetam os animais a crueldade.” (sublinhamos)
Analisando o dispositivo constitucional em comento, JOSÉ
AFONSO DA SILVA ensina que “as normas constitucionais
assumiram a consciência de que o direito à vida, como matriz de
todos os demais direitos fundamentais do homem é que há de
orientar todas as formas de atuação no campo da tutela ao meio
ambiente. Compreendeu que ele é um valor preponderante, que
há de estar acima de quaisquer considerações como as de
desenvolvimento, como as de respeito ao direito de propriedade,
como as da iniciativa privada. Também estes são garantidos no
texto constitucional, mas, a toda evidência, não podem primar
sobre o direito à vida, que está em jogo quando se discute a tutela
da qualidade do meio ambiente, que é instrumental no sentido de
que, através dessa tutela, o que se protege é um valor maior: a
qualidade da vida humana” (Curso de Direito Constitucional
Positivo, Ed. RT, 6ª Ed., São Paulo, 1990, PP.709/710).

Ainda, não se deve olvidar, no que concerne à responsabilidade dos


Estados para com o meio ambiente, o que vem disposto no artigo 23 da Magna
Carta, também aplicável aos demais entes federados, e que merece transcrição:

“Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito


Federal e dos Municípios:
I - zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições
democráticas e conservar o patrimônio público;

........

VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em


qualquer de suas formas;

VII - preservar as florestas, a fauna e a flora”.(sublinhamos)

Neste diapasão, temos que no Estado de São Paulo grande parte


da parcela de responsabilidade pelos danos porventura causados por atividades
passíveis de provocar significativa degradação recaia sobre a CETESB, ora
requerida, posto que órgão vinculado à Secretaria de Estado do Meio
Ambiente, e que, nos termos constitucionais acima transcritos, não poderia
relegar a segundo plano a proteção do patrimônio ambiental.

No entanto, no intuito de realizar uma obra politicamente


recomendável para o Governo do Estado, esquece a CETESB de seu papel
institucional.

Não podemos tolerar a presente obra, sem o mínimo de zelo com


o meio ambiente atingido.
Ainda mais porque, como órgão de controle ambiental, sua
obrigação constitucional, legal e institucional é exatamente a de assegurar,
através do regular licenciamento dos empreendimentos potencialmente
poluidores ou passíveis de provocar considerável degradação, o alcance do
desenvolvimento sustentável, que deflui da conjugação dos artigos 225 e 170,
inciso VI de nossa Carta Magna.

Isto porque este último dispositivo, ao tratar dos princípios


atinentes à ordem econômica, é expresso ao garantir “a defesa do meio
ambiente, inclusive mediante tratamento diferenciado conforme o
impacto ambiental dos produtos e serviços e de seus processos de
elaboração e prestação”.

In casu, conforme se verifica do EIA/RIMA apresentado ao órgão


ambiental, o empreendimento afetará diversas áreas protegidas, como Unidades
de Conservação, APP e Áreas de Proteção Ambiental, dentre elas o Parque
Estadual da Serra do Mar, Parque Estadual Restinga de Bertioga, APA Marinha
Litoral Centro.

Em que pese a importância das áreas afetadas, o procedimento de


licenciamento não observou o devido trâmite, previsto na Resolução
CONAMA 237/97, como já afirmado.
Convém lembrar, ainda, que as complementações feitas ao
EIA/RIMA, foram após a realização das audiências públicas, realizadas em
08 de dezembro de 2015 e 09 de dezembro de 2015, o que fere mais um
dispositivo do regramento do licenciamento ambiental, notadamente, o seu
artigo 10:

Art. 10 - O procedimento de licenciamento ambiental obedecerá às seguintes


etapas:

I - Definição pelo órgão ambiental competente, com a participação do


empreendedor, dos documentos, projetos e estudos ambientais, necessários ao
início do processo de licenciamento correspondente à licença a ser requerida;

II - Requerimento da licença ambiental pelo empreendedor, acompanhado dos


documentos, projetos e estudos ambientais pertinentes, dando-se a devida
publicidade;

III - Análise pelo órgão ambiental competente, integrante do SISNAMA ,


dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados e a realização de
vistorias técnicas, quando necessárias;

IV - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental


competente, integrante do SISNAMA, uma única vez, em decorrência da
análise dos documentos, projetos e estudos ambientais apresentados, quando
couber, podendo haver a reiteração da mesma solicitação caso os esclarecimentos
e complementações não tenham sido satisfatórios;

V - Audiência pública, quando couber, de acordo com a


regulamentação pertinente;
VI - Solicitação de esclarecimentos e complementações pelo órgão ambiental
competente, decorrentes de audiências públicas, quando couber, podendo haver
reiteração da solicitação quando os esclarecimentos e complementações não
tenham sido satisfatórios;

VII - Emissão de parecer técnico conclusivo e, quando couber, parecer jurídico;

VIII - Deferimento ou indeferimento do pedido de licença, dando-se a devida


publicidade.

§ 1º - No procedimento de licenciamento ambiental deverá constar,


obrigatoriamente, a certidão da Prefeitura Municipal, declarando que o local e
o tipo de empreendimento ou atividade estão em conformidade com a legislação
aplicável ao uso e ocupação do solo e, quando for o caso, a autorização para
supressão de vegetação e a outorga para o uso da água, emitidas pelos órgãos
competentes.

§ 2º - No caso de empreendimentos e atividades sujeitos ao estudo de impacto


ambiental - EIA, se verificada a necessidade de nova complementação em
decorrência de esclarecimentos já prestados, conforme incisos IV e VI, o órgão
ambiental competente, mediante decisão motivada e com a participação do
empreendedor, poderá formular novo pedido de complementação.

Ora, devido a todas as incongruências encontradas no EIA/RIMA


elaborado pela SABESP, tais como: ausência de demonstração do real benefício
da captação na bacia do Rio Itapanhaú na melhoria da segurança de
abastecimento de água ao SPAT; a ausência de alternativa locacional e de análise
da não execução do empreendimento, em razão da possiblidade de operação do
Reservatório Taiaçupeba em seu nível mais alto de projeto que, juntamente, com
outras obras executadas ou em andamento, poderia dispensar a reversão da bacia
do Rio Itapanhaú; insuficiência do diagnóstico ambiental realizado em razão de
falha da delimitação das áreas de influência do empreendimento, ausência de
discussão pública das “complementações” dos estudos, tendo em vista o risco de
exclusão dos estuários e as praias da região, que podem sim ser afetadas, fica
evidente que o EIA /RIMA possui falhas substanciais que redundam na sua total
invalidade.

Assim, diante das inúmeras e graves falhas já narradas nesta


exordial, em nome dos Princípios da Prevenção e Precaução, que norteiam o
Direito Ambiental, o oneroso Projeto de Reversão da Bacia do Rio Itapanhaú,
com alto potencial de causar impactos ambientais irreversíveis em áreas sensíveis
de relevantes atributos à conservação, deve ser paralisado e o Processo de
Licenciamento deve ser invalidado.

Segundo o autor Frederico Amado, em sua obra Resumo Direito


Ambiental (4º edição fls. 37), de acordo com o Princípio da Precaução, se
determinado empreendimento puder causar danos ambientais sérios ou
irreversíveis, existindo base científica razoável fundada em juízo de probabilidade
não remoto da sua potencial ocorrência, o empreendedor deverá ser compelido a
adotar medidas de precaução para elidir ou reduzir os riscos ambientais para a
população.
O entendimento acima esposado é respaldado pela farta
Jurisprudência sobre o assunto, recorrente na invocação do princípio da
precaução como forma de garantir a qualidade ambiental, conforme ementa a
seguir exposta:

DIREITO AMBIENTAL - AÇÃO POPULAR - ÁREA DE


PROTEÇÃO AMBIENTAL – EXTRAÇÃO MINERAL -
DEGRADAÇÃO DO MEIO AMBIENTE - REGIÃO DE
MANANCIAIS - INEXISTÊNCIA DE DIREITO ADQUIRIDO
CONTRA A PROTEÇÃO AMBIENTAL – PRINCÍPIO DA
PRECAUÇÃO. 1. O meio ambiente consiste em bem de uso comum
do povo, essencial à sua qualidade de vida, impondo ao poder público e
à própria coletividade o dever de protegê-lo e preservá-lo, visando
assegurar a sua fruição pelas futuras gerações. Inteligência do art. 225
da Constituição Federal. 2. A atividade de pesquisa e posterior
exploração mineral na região, tal como prevista nos atos impugnados,
não pode ser conciliada com a proteção ambiental dispensada (APA),
sobretudo por suas repercussões em bacia hidrográfica relevante.
Situação agravada pela exploração já empreendida, independentemente
de autorização dos órgãos competentes e sem qualquer fiscalização. 3.
Inexiste direito adquirido oponível à proteção do meio ambiente.
Precedente do C. STJ. 4. A ausência de certeza científica formal
acerca da existência de risco de dano sério ou irreversível requer a
implementação de medidas que possam assegurar a sua
prevenção. Princípio da Precaução. 5. Apelação a que se nega
provimento. (AC 00065755719994036105, DESEMBARGADOR
FEDERAL MAIRAN MAIA, TRF3 – SEXTA TURMA, e-DJF3
Judicial 1 DATA:02/02/2011 PÁGINA: 193).(destacamos).

Já o Princípio da Prevenção se refere a uma efetiva e completa


análise dos impactos de um empreendimento com potencial poluidor, para então
avaliar sua viabilidade ambiental e as medidas mitigadoras e compensatórias
necessárias.

Superadas eventuais deficiências quanto à avaliação de riscos, gestão


de riscos e comunicação de riscos, ter-se-ão, ao menos, dados científicos
concretos sobre os riscos ambientais advindos do empreendimento, permitindo,
desta forma, a tomada de decisão com base na ciência sobre a viabilidade ou não
em atendimento ao acima exposto princípio da precaução.

A ele segue-se uma análise posterior ao estudo contextual de


impactos, etapa essa também indispensável para o correto licenciamento que
materializa o também constitucional reconhecido Princípio da Prevenção, onde
a configuração do risco transmuta-se para abandonar a qualidade de risco
de perigo para assumir a do risco de produção dos efeitos sabiamente
perigosos.
Diante desta indissociável relação entre os princípios, tem-se que o
desrespeito ao princípio da precaução traz como consequência inexorável o
desrespeito ao princípio da prevenção, viciando as medidas mitigadoras a serem
exigidas do empreendedor.

Não é demais frisar que as licenças ambientais não são intangíveis,


tampouco se sobrepõem à realidade fática, sendo que por vezes são concedidas
irregularmente e seus efeitos suspensos ou anulados pelo Poder Judiciário. Cabe
ao parquet, por dever institucional, atuar caso constate desrespeito ao ordenamento
jurídico, como ao princípio da precaução e prevenção, como é o caso dos autos.

Outro princípio que se aplica ao presente caso é aquele que, de


forma implícita, está previsto na Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos
(Lei nº 9.433/97), nos artigos 2º, inciso I, 5º, inciso I, 6º e 7º, inciso IV, isto
porque, para que o objetivo da LPNRH de assegurar à atual e às futuras gerações
a disponibilidade de água em qualidade adequada se concretize, a norma impõe a
melhoria do meio ambiente (aumento da quantidade e melhoria da qualidade dos
recursos hídricos disponíveis), o que é impossível com a diminuição dos níveis
normativos de proteção ao meio ambiente, sobretudo no que diz respeito à
cobertura florestal, como se sabe, intimamente relacionada à produção de água
com qualidade.
No caso em apreço, descuidou-se dos pilares fundamentais do
Direito Ambiental Constitucional – os princípios da prevenção e precaução –
e, por consequência, das regras infraconstitucionais que neles buscam seus
fundamentos de validade, cuja violação macula o processo de licenciamento.

Não resta, portanto, outra solução às rés que não seja a adequação de
suas condutas aos preceitos constitucionais e legais, sendo a condenação das
requeridas medida de rigor para que a legislação ambiental em comento seja
fielmente cumprida.

VII – DOS PEDIDOS:

1. DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA:

No presente caso, é imperiosa a concessão de tutela de urgência, já


que presentes todos os elementos que evidenciem a probabilidade do direito e
perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo.

A probabilidade do direito é manifesta diante da prova pericial


elaborado pelo Setor Técnico deste MPSP e da mera leitura do EIA/RIMA, que
evidencia a ausência dos estudos adequados.
O parecer aponta cuidadosamente as falhas e omissões constatadas
no insuficiente estudo e permite concluir que o EIA/RIMA e suas
complementações não atenderam de forma satisfatória os artigos 5º e 6º da
Resolução CONAMA 01/86. Estes vícios acarretam a absoluta imprestabilidade
do estudo e, de consequência, do próprio licenciamento e de eventuais licenças a
serem expedidas.

In casu, a não concessão de tutela de urgência acarretaria perigo de


danos ambientais irreversíveis a todas as Unidades de Conservação e Áreas de
Proteção Ambientais diretamente afetadas pelo empreendimento, além do risco de
desperdício de recursos públicos. Deve-se impedir, portanto, prejuízos ao meio
ambiente, por meio da tutela de urgência, de sorte a resguardar os resultados úteis
da presente demanda se concedida ao final.

Assim, é de se observar que os fatos e o direito material acham-se


suficientemente demonstrados nos documentos que instruem a presente, estando
claramente evidenciada a necessidade do amparo judicial urgente para afastar de
pronto o risco de perecimento dos bens que representam a garantia de eficácia da
sentença de mérito.

Na hipótese, as ilegalidades e irregularidades do licenciamento


ambiental para o empreendimento em comento e potenciais danos ao meio
ambiente apontados nesta exordial estão devidamente comprovados por prova
documental inequívoca, consubstanciada nos autos do Inquérito Civil que instrui a
presente.

2. DOS PEDIDOS:

Diante do exposto, requer o autor:

1. a concessão da tutela provisória de urgência (artigos 294 a 299 do CPC),


com fundamento no Princípio da Prevenção e Precaução, impondo-se à requerida
CETESB a obrigação de fazer, consistente na imediata suspensão do
processo administrativo de licenciamento do empreendimento em tela,
bem como suspensão de autorizações de desmatamento e licenças
ambientais concedidas e, relativamente a corré SABESP, a obrigação de
não fazer consistente na imediata proibição de iniciar a obra ou a sua
paralisação, caso já esteja em andamento, e obrigação de não fazer,
consistente na imediata paralisação de qualquer desmatamento em
andamento, até decisão final desta ação, sob cominação de multa diária de
valor não inferior a 10.000 (dez mil) UFESPs, devida por qualquer ato praticado
em desacordo à ordem judicial

2. determinar à corré CETESB , em razão do item anterior, a obrigação de não


fazer consistente na abstenção quanto a emitir novas licenças ou
autorizações, direta ou indiretamente relacionadas ao empreendimento em
questão, as quais visem quaisquer espécies de intervenções na área afetada,
enquanto não existir os estudos necessários para embasar o EIA/RIMA, com a
realização das respectivas audiências públicas.

Em caso de incidência de multa, esta deverá ser revertida para o Fundo Estadual
de Reparação de Interesses Difusos Lesados de que tratam as Leis Federal
7.347/85 e Estadual 6.536/89 e o Decreto Estadual 27.070/87, junto à conta da
Nossa Caixa, Nosso Banco n. 13.00074- 5, agência 0935-1, nos termos dos
Decretos Estaduais 43.060/98 e 43.106/98.

3. a citação das requeridas nos termos do art. 237 e seguintes do CPC, para
resposta no prazo legal, advertindo-as dos efeitos da revelia, se não contestada a
ação;

4. ao final, a PROCEDÊNCIA DOS PEDIDOS PARA:

a) tornar definitiva a tutela provisória de urgência;

b) decretar a nulidade dos atos administrativos de aprovação do EIA/RIMA e


suas complementações, e respectiva Licença Prévia nº 2507;

c) não permitir a obra enquanto não existir um novo EIA/RIMA, com os estudos
adequados, avaliando-se efetivamente os danos e suas respectivas compensações,
caso passíveis de serem compensados;

d) condenação da requerida SABESP em obrigação de fazer consistente na


obrigatoriedade de apresentação e prévia aprovação de novo EIA/RIMA para as
obras de “transposição a Bacia do Rio Itapanhaú”, que atenda explicitamente a
todas as exigências contidas na Resolução 01/86 do CONAMA;

e) por cautela, caso a obra não seja suspensa, a condenação na reparação dos
danos causados ao meio ambiente com a execução da obra. E, caso não sejam
passíveis de reparação, sejam tais danos indenizáveis;

f) condenarem-se solidariamente as requeridas à obrigação de reconduzir o meio


ambiente lesado ao statu quo ante, reparando integralmente os danos ambientais
denunciados nestes autos e, preferivelmente, no modo recomendado por perícia
técnica;

g) a condenação das Requeridas aos danos extrapatrimoniais e interinos


provocados pela degradação ambiental (caso a obra seja paralisada), como desvio
de curso d´água, construção em APP, desmatamentos. Aqui, neste tópico, nos
referimos aos serviços ambientais que deixaram de ser prestados pela interferência
das rés na área da obra. Estes são oriundos do funcionamento saudável dos
ecossistemas naturais ou modificados pelos seres humanos. Como exemplos de
serviços ambientais citamos a produção de oxigênio pelas plantas, a capacidade de
produção de água e equilíbrio do ciclo hidrológico, fertilidade do solo, vitalidade
dos ecossistemas, a paisagem, o equilíbrio climático, conforto térmico e captura de
CO2, dentre outros.

“Pelo princípio da reparação integral do dano ambiental há que se


considerar não apenas os prejuízos produzidos nos elementos que
compõem o ambiente natural, por ex., a água, o solo, a fauna, a flora, o
ecossistema, mas, também, a extensão de todo esse prejuízo, incluindo o
dano causado ao equilíbrio ecológico. Neste sentido, há que se apurar
“os efeitos ecológicos e ambientais da agressão inicial a um bem
ambiental corpóreo que estiverem no mesmo encadeamento causal,
como, por exemplo, a destruição de espécimes, habitat e ecossistemas
inter-relacionados com o meio afetado,” ainda, “os denominados danos
interinos, vale dizer, as perdas de qualidade ambiental havidas no
interregno entre a ocorrência do prejuízo e a efetiva recomposição do
meio degradado”; da mesma forma, devem ser reparados “os danos
futuros que se apresentarem como certos, os danos irreversíveis à
qualidade ambiental” e, por fim, “os danos morais coletivos resultantes
da agressão a determinado bem ambiental (COMUNE, Antônio Evaldo;
MARQUES, João Fernando. A teoria neoclássica e a valoração ambiental. In:
ROMEIRO, Ademar Ribeiro; REYDON, Bastiaan Philip; LEONARDI, Maria
Lúcia Azevedo (Coords.). Economia do meio ambiente: teoria, políticas e a
gestão de espaços regionais. Campinas: Unicamp IE, 1996.).

Requer-se, derradeiramente:

a) A produção de todas as provas admitidas em direito, notadamente


documentos, perícias e inspeções judiciais;
b) A dispensa do pagamento de custas, emolumentos e outros encargos (art.
18, da lei 7.347/85 e art. 87 do CDC);
c) As intimações pessoais do Ministério Público, por meio dos Promotores de
justiça integrantes do GAEMA/BS.

Embora de valor inestimável, atribui-se à


presente o valor de R$ 160.000.000,00 (cento e sessenta milhões, valor atribuído à
obra).

Santos, 07 de abril de 2017.

Almachia Zwarg Acerbi


Promotora de Justiça
GAEMA - Núcleo III – Baixada Santista

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