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Delírio Sensitivo-Paranóide de Auto Referência

TOVAR TOMASELLI [TOVARTOMASELLI]


7/7/07

A questão de uns cinco anos atrás, recebi um encaminhamento de uma ex-aluna da


faculdade, me solicitando urgência para que eu visse um rapaz, o qual vinha a ser irmão
de uma grande amiga sua. Esse rapaz morava em uma cidade do interior de São Paulo e,
realmente ligou para marcar um horário. Pela urgência a mim solicitada, procurei marcar
para o mais breve possível, o que veio a ocorrer depois de uns dois dias

Me solicitou o primeiro horário da manhã, uma vez que depois do nosso encontro, ele
teria que voltar para a sua cidade, porque tinha compromissos de ordem profissional.
Chega pontualmente no horário marcado, senta-se e me diz que o que o havia trazido até
mim, era o fato de que tinha uns trinta e cinco anos e, que mais ou menos depois dos
cinco anos de idade, começou a achar que cheirava profundamente mal.

Agregou que não estava mais aguentando conviver com essa situação e que, na verdade
não sabia mais o que fazer, já tendo chegado até a pensar em "fazer uma besteira". Lhe
perguntei sobre as providências que já havia tomado em relação a essa situação , ao que
me respondeu que a vida toda vinha passando por médicos de todas as especialidades
que eu pudesse imaginar, tendo inclusive ele próprio perguntado a vários médicos se não
seria importante que ele pudesse estar consultando um psicólogo. Me disse qu

e todos acharam que isso não se fazia necessário, e que parecia se tratar de algum
distúrbio relacionado às glândulas sudoríparas. Trás uma lembrança , ainda do tempo da
pré escola, onde invariávelmente percebia que a menina que se sentava atrás dele, ficava
se abanando com o caderno, o que para ele lhe dava a certeza de que ele estaria
cheirando muito mal.

Para piorar a situação, sua atividade profissional lhe demandava à manipulação de


carnes, frangos , etc, os quais eram vendidos em seu comércio. Referiu-se sobre a sua
impossibilidade de poder convidar uma môça para irem ao cinema, uma vez que "sabia"
que ela não iria agüentar o seu mal cheiro. Quando saia de casa e se dirigia para o
trabalho, se quando lá chegasse, encontrasse pessoas na porta de seu comércio e
conversando , tinha a plena convicção de que , quando ele se aproximasse, eles iriam
parar de falar em função de seu mal cheiro. Se alguém, por ventura coçasse o nariz
quando estivesse próximo a ele, ocorria a certeza imediata que era para disfarçar, por
não estar agüentando o seu cheiro. As vezes pensava que poderia gostar de ir pescar
com alguns conhecidos, sim porque amigos ele não tinha. Em seguida desistia da idéia,
por achar que , em lá chegando eles não aguentariam o seu mal cheiro.
Esse estado de coisas se repetia quando tinha que enfrentar uma fila de banco, para tratar das finanças
de seu negócio. Era só alguém se abanar que ele chegava muitas vezes a ir embora, procurando voltar
numa hora de movimento menor. Fez referência a um fato , a meu ver de substancial importância: a
única pessoa que ele tinha certeza de que não sentia o seu mal cheiro, era a sua mãe, com quem aliás
morava. Já não tinha mais pai e seus irmãos estavam "espalhados" por aí.
Exatamente nesse momento, me surgiu a idéia de lhe perguntar como é que ele estava
se sentindo ali comigo, ao que me respondeu que curiosamente , não estava tendo a
sensação de que eu estivesse sentindo o seu mal cheiro. Podemos notar que , mesmo me
oferecendo uma resposta negativa, reafirma a existência do seu mal cheiro.

Eu tinha, então, diante de mim alguém que me referia toda uma vida de sofrimento e que
me dizia que já tinha até pensado em fazer "alguma besteira". Sua expressão era a de
quem, mais do que desesperado, estava absolutamente desesperançado quanto a
qualquer possibilidade de resolução de seu problema, até porque como me havia
afirmado, já havia feito toda uma verdadeira romaria, indo de médico em médico. Me
disse também que chegou a ficar feliz quando a sua irmã lhe ligou, uma vez que havia
conversado com a amiga psicóloga, minha ex-aluna, e que esta lhe havia indicado para
que viesse falar comigo.

Reiterou que por várias vezes ele mesmo havia sugerido isso aos médicos, mas que uma
vez que eles não concordaram e, não tendo ele nenhuma referência de profissionais da
área, acabou não procurando por ninguém até então.

Depois de tê-lo ouvido por mais ou menos uma meia hora, ficou claro prá mim que de
nada adiantaria prolongar aquele nosso encontro, uma vez que eu tinha diante de mim ,
alguém que precisava ser medicado e, que essa medicação já estava atrasada uns trinta
anos!. Muito bem, perguntei a ele se ele dispunha de condições de marcar uma consulta
particular com um médico que eu lhe indicaria. Me disse que sim, que apesar de não ter
uma situação financeira muito favorável devido a grande concorrência que os
supermercados da região tinham imposto ao seu negócio, mas que daria para tomar essa
providência. Expliquei a ele que essa consulta se fazia necessária, uma vez que ele
estaria com a sua percepção alterada e, que depois de tanto sofrimento se impunha que
pudéssemos tratar disso de forma adequada. Disse a ele também que eu iria querer
continuar a vê-lo, mas que naquele momento se impunha mais a urgência da consulta e
da instituição da medicação adequada, a qual eu tinha claro que seria da família dos
neurolépticos ou anti-psicóticos.
A reação dele foi de alguém que parecia ter tirado um enorme peso das costas, no
sentido de que alguém, finalmente, parecia que havia entendido do que ele precisava.
Assim nos despedimos e ele foi então à sua consulta médica-psiquiátrica. O amigo a
quem indiquei esse paciente, me ligou logo após tê-lo visto, me dizendo que lhe havia
medicado e marcado um retorno para dali a uns quinze dias. Foi ele que me deu como
diagnóstico, o título desse artigo.

Voltei a ver o paciente na semana seguinte, o qual embora tivesse inalterada à sua
percepção delirante, pelo menos me pareceu mais calmo e confiante. Procurei ouví-lo
sem grandes expectativas de grandes revelações, uma vez que para mim estava bastante
claro, que ele estava plenamente envolvido com a sua problemática, pela qual tinha vindo
me procurar . Tive a oportunidade de vê-lo por mais ou menos mais um mês e foi quando
ele me disse que estava ficando muito cansativo comparecer, uma vez que tinha que sair
da sua cidade na noite anterior à sessão, viajar por umas quatro horas de carro, dormir
na casa da irmã, vir à sessão e retornar para a sua cidade logo após.

Me disse inclusive que , quase havia se metido num grave acidente por ter "cochilado" no
volante. Estando eu sabendo de que estava fazendo uso de uma medicação muito
apropriada, porém "pesada", e reconhecendo que realmente para aí estar tinha que
desenvolver uma atitude muito fatigante, lhe propus que se tivéssemos que escolher
entre o uso da medicação e a sua freqüência num processo de análise, que eu lhe estava
indicando que, de forma alguma parasse com a medicação e com o controle psiquiátrico,
mas que quanto a mim, eu me colocava à sua disposição para um contato futuro. Lhe
sugerí também , que pudesse se informar na sua cidade sobre clínicas ou mesmo
profissionais que pudessem lhe proporcionar um acompanhamento psicoterápico. Passado
um tempo, ao encontrar com o profissional para quem eu o havia indicado e, tendo eu
perguntado por ele, este me disse que o havia visto recentemente e que ele já tinha
conseguido ir pescar com alguns conhecidos e que continuava vir , de tempos em
tempos, para fazer um acompanhamento psiquiátrico. Me tranqüilizou no sentido de ter
me assegurado que as idéias delirantes estavam já bem menos intensas, bem como bem
mais espaçadas, o que vinha lhe possibilitando a abertura para o que seria uma vida
social, a qual era inexistente até então.

Eu, particularmente nunca mais ví o paciente, mas pude ficar com a sensação do dever
cumprido, uma vez que pude ser sensível ao seu sofrimento interminável, e pude
encaminhar a situação de maneira feliz. Sempre que me lembro desse paciente, como
agora que escrevo esse texto, continuo me perguntando: por que será que tendo ele
mesmo sugerido a vários médicos, a importância de que pudesse procurar um psicólogo,
todos , sem exceção lhe fecharam essa porta, insistindo sempre em exames
mirabolantes, cada vez mais específicos e que não chegavam a absolutamente nada?
Mesmo que não acreditassem na importância de uma abordagem psicoterápica, o que
revela uma extremada "miopia", em termos de um diagnóstico diferencial, que mal essa
procura poderia fazer ao paciente?

Não é tão infrequente, na clínica, que o paciente traga o seu sofrimento, mas que traga
também alguns indícios de caminhos por onde devemos percorrer em busca de alguma
luz para os seus problemas. Lembremos que foi o famoso caso de Anna O. ( Elisabeth
Papenheim), paciente de Freud, a qual teria lhe dito algo mais ou menos assim: " Caro
doutor, por que não deixa que eu lhe fale sobre aquilo que eu quiser?" Freud,como um
homem de ciência, sempre muito atento aos detalhes, como também o foi Alexander
Fleming, na descoberta da penicilina, afastou simplesmente a sua cadeira e se propôs a
ouvir aquilo que a paciente tinha a lhe dizer. Criava-se, assim, o método da associação
livre.

Deixo aqui registrada a minha enorme satisfação em saber que aquele paciente, que para
todos, segundo ele, cheirava mal, pôde ao longo do tempo, se permitir sentir de sí
próprio e das outras pessoas, bem com o da natureza, o cheiro da vida na sua plenitude,
as vezes mais gostoso, as vezes menos, mas ainda assim, o cheiro da vida !

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