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Esta nova coletânea traz como novidade a apresentação

2004 O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso no Sebrae


dos casos por área temática, visando facilitar a consulta teve sua origem em 2002 com o objetivo de disseminar
e melhor entendimento do conteúdo. 2004 as melhores práticas vivenciadas por empreendedores
e empresários de diversos segmentos e setores,
O primeiro volume da nova edição descreve casos participantes dos programas e projetos do Sebrae
vinculados aos temas de artesanato, turismo e cultura, em vários Estados do Brasil.
empreendedorismo social e cidadania. O segundo relata
histórias sobre agronegócios e extrativismo, indústria, A primeira fase do projeto, estruturada para escrever estudos
comércio e serviços. E o terceiro aborda exclusivamente de caso sobre empreendedorismo coletivo, publicou em
casos com foco em inovação tecnológica. 2003 a coletânea Histórias de Sucesso – Experiências

Os resultados obtidos com o projeto Desenvolvendo


Histórias de Sucesso Empreendedoras, em três livros integrados de 1.200
páginas, que contou 80 casos desenvolvidos em
Casos de Sucesso, desde sua concepção e implantação, Experiências Empreendedoras diferentes localidades e vários setores, abrangendo as
têm estimulado a elaboração de novos estudos sobre cinco regiões: Sul, Sudeste, Centro-Oeste, Norte e
histórias de empreendedorismo coletivo e individual, e, Nordeste. Participaram 90 escritores, provenientes do
conseqüentemente, têm fortalecido o processo de Gestão quadro técnico interno ou externo do Sebrae.

Histórias de Sucesso
do Conhecimento Institucional. Contribui-se assim, de forma
significativa, para levar ao meio acadêmico e empresarial Esta segunda edição da coletânea Histórias de Sucesso –
o conhecimento acerca de pequenos negócios bem- Experiências Empreendedoras – 2004, composta de três
sucedidos, visando potencializar novas experiências volumes que totalizam cerca de 1.100 páginas, contou com
que possam ser adotadas e implementadas no Brasil. a participação de 89 escritores e vários profissionais de
todos os Estados brasileiros, que escreveram os 76 casos.
Para ampliar o acesso dos leitores interessados em utilizar
os estudos de caso, o Sebrae desenvolveu em seu portal A continuidade do projeto reitera a importância da
(www.sebrae.com.br) o site Casos de Sucesso, onde o disseminação das melhores práticas observadas no âmbito
usuário pode acessar na íntegra todos os 156 estudos de atuação do Sistema Sebrae e de sua multiplicação para
das duas coletâneas por tema, região ou projeto, bem o público interno, rede de parceiros, consultores, professores
como fotos, vídeos e reportagens. e meio empresarial.

Todos os casos do projeto foram desenvolvidos sob a orientação


de professores tutores, atuantes no meio acadêmico e em
diversas instituições brasileiras, que auxiliaram os autores
a pesquisar dados, entrevistar pessoas e escrever os casos,
de acordo com a metodologia elaborada pelo Sebrae.

Foto do site do Sebrae. Casos de Sucesso.

Esperamos que essas histórias de sucesso possam


produzir novos conhecimentos e contribuir para fortalecer
os pequenos negócios e demonstrar sua importância
econômica no País.
Série Histórias
Boa leitura e aprendizado! de Sucesso.
Primeira edição 2003.
COPYRIGHT © 2004, SEBRAE – SERVIÇO DE APOIO ÀS MICRO E PEQUENAS EMPRESAS

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer


forma ou por qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Armando Monteiro Neto
Diretor-Presidente
Silvano Gianni
Diretor de Administração e Finanças
Paulo Tarciso Okamotto
Diretor Técnico
Luiz Carlos Barboza
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Gustavo Henrique de Faria Morelli
Coordenação do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Comitê Gestor do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso
Cezar Kirszenblatt, SEBRAE/RJ; Daniela Almeida Teixeira, SEBRAE/MG; Mara Regina Veit, SEBRAE/MG;
Renata Maurício Macedo Cabral, SEBRAE/RJ; Rosana Carla de Figueiredo Lima, SEBRAE Nacional
Orientação Metodológica
Daniela Abrantes Serpa – M.Sc., Sandra Regina H. Mariano – D.Sc., Verônica Feder Mayer – M.Sc.
Diagramação
Adesign
Produção Editorial
Buscato Informação Corporativa

D812h Histórias de sucesso: experiências empreendedoras / Organizado


por Renata Barbosa de Araújo Duarte – Brasília: Sebrae, 2004.

412 p. : il. – (Casos de Sucesso, v.2)

Publicação originada do projeto Desenvolvendo Casos de


Sucesso do Sistema Sebrae.
ISBN 85-7333-386-3
1. Empreendedorismo 2. Estudo de caso 3. Agronegócio
4. Extrativismo 5. Indústria, comércio e serviço I. Duarte, Renata
Barbosa de Araújo II. Série

CDU 65.016:001.87

BRASÍLIA
SEPN – Quadra 515, Bloco C, Loja 32 – Asa Norte
70.770-900 – Brasília
Tel.: (61) 348-7100 – Fax: (61) 347-4120
www.sebrae.com.br
PROJETO DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO

OBJETIVO
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi concebido em 2002 a partir das prioridades
estratégicas do Sistema SEBRAE com a finalidade de disseminar na própria organização, nas
instituições de ensino e na sociedade as melhores práticas de empreendedorismo individual e
coletivo observadas no âmbito de atuação do SEBRAE e de seus parceiros, estimulando sua
multiplicação e fortalecendo a Gestão do Conhecimento do SEBRAE.

METODOLOGIA “DESENVOLVENDO CASOS DE SUCESSO”


A metodologia adotada pelo projeto é uma adaptação do consagrado método de estudos
de caso aplicado em Babson College e Harvard Business School, que se baseia na história
real de um protagonista, que, em dado contexto, se encontra diante de um problema ou de
um dilema que precisa ser solucionado. Esse método estimula o empreendedor, o aluno ou a
instituição parceira a vivenciar uma situação real, convidando-o a assumir a perspectiva do
protagonista.

O LIVRO HISTÓRIAS DE SUCESSO – Edição 2004


Esse trabalho é o resultado de uma das ações do projeto Desenvolvendo Casos de Su-
cesso, elaborado por colaboradores do Sistema SEBRAE, consultores e professores de ins-
tituições de ensino parceiras. Esta edição é composta por três volumes, em que se
descrevem 76 estudos de casos de empreendedorismo, divididos por área temática:
• Volume 1 – Artesanato, Turismo e Cultura, Empreendedorismo Social e Cidadania.
• Volume 2 – Agronegócios e Extrativismo, Indústria, Comércio e Serviço.
• Volume 3 – Difusão Tecnológica, Soluções Tecnológicas, Inovação, Empreendedorismo e
Inovação.

DISSEMINAÇÃO DOS CASOS DE SUCESSO DO SEBRAE


O site Casos de Sucesso do SEBRAE (www.casosdesucesso.sebrae.com.br) visa divulgar as
experiências geradas a partir das diversas situações apresentadas nos casos, bem como suas
soluções, tornando-as ao alcance dos meios empresariais e acadêmicos.
O site apresenta todos os estudos de caso das edições 2003 e 2004, organizados por área de
conhecimento, região, municípios, palavras-chave e contém, ainda, vídeos, fotos, artigos de
jornal, que ajudam a compreender o cenário onde os casos se passam. Oferece também um
manual com orientações para instrutores, professores e alunos de como utilizar o estudo de caso
na sala de aula.
As experiências relatadas ilustram iniciativas criativas e empreendedoras no enfrentamento
de problemas tipicamente brasileiros, podendo inspirar a disseminação e aplicação dessas
soluções em contextos similares. Esses estudos estão em sintonia com a crescente importância
que os pequenos negócios vêm adquirindo como promotores do desenvolvimento e da geração
de emprego e renda no Brasil.
Boa leitura e aprendizado!

Gustavo Morelli
Gerente da Unidade de Estratégias e Diretrizes
Renata Barbosa de Araújo Duarte
Coordenadora do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004


INDUSTRIALIZANDO OS FRUTOS DO CERRADO
TOCANTINS
MUNICÍPIO: SANTA MARIA

INTRODUÇÃO

N o Município de Santa Maria, região do cerrado tocantinense, as asso-


ciações Soninho e São José, formadas por pequenos produtores ru-
rais, descobriram que poderiam encontrar na riqueza do cerrado a solução
para o problema do desemprego, melhorando a qualidade de vida e evi-
tando o êxodo rural.
Com uma economia local que não oferecia alternativas para o pequeno
produtor rural, os associados iniciaram suas atividades fazendo da extração
dos frutos do cerrado, como o cajá, o caju, o murici, entre outros, sua fon-
te de renda.
A região possuía grande potencial de produção e colheita dos frutos do
cerrado, porém não havia no município condições para o processamento.
Essa era a maior dificuldade dos produtores da região. Eles não tinham
como processar os frutos em Santa Maria, e o transporte para a cidade de
Carolina, no Maranhão, ocasionava perda de 60% dos produtos.
Em 2002, os associados uniram-se em torno da idéia que poderia solu-
cionar seus problemas: a criação de uma agroindústria em Santa Maria.

Breno Sardinha Wanderley, consultor do SEBRAE/TO, elaborou o estudo de caso sob a orientação da
professora Yolanda Vieira de Abreu, da Universidade Federal do Tocantins, integrando as atividades
do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso do SEBRAE.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 1


Acervo SEBRAE/TO

MUDAS DE FRUTOS DO CERRADO PREPARADAS PARA


REFLORESTAMENTO DOS ASSENTAMENTOS.
Acervo SEBRAE/TO

POLPAS DE FRUTAS PROCESSADAS E EMBALADAS


PARA COMERCIALIZAÇÃO
INDUSTRIALIZANDO OS FRUTOS DO CERRADO – SEBRAE/TO

AS DIFICULDADES DA REGIÃO DE SANTA MARIA

L ocalizado na região central do Tocantins, o município de Santa Maria


fica a 260 quilômetros de Palmas, capital do Estado. Apresenta uma
vegetação de cerrado, com biodiversidade bastante rica. Sua emancipa-
ção aconteceu em 1992, após intensa discussão com a comunidade. Ante-
riormente, o entroncamento pertencia ao município de Pedro Afonso.
Com uma população de 2.226 habitantes1, Santa Maria está inserida
numa área de mais de 30 mil hectares de cultivo de soja, uma mono-
cultura que promove o desenvolvimento econômico com concentração
de renda e que vem crescendo desordenadamente e ocasionando o des-
matamento das matas nativas do local.
Em 1992, o envolvimento da comunidade e o desejo de ver o desen-
volvimento de Santa Maria deram a Maria Botelho energia para buscar a
independência, tornando-se a primeira prefeita do município eleita com
95% dos votos. No entanto, com a emancipação vieram os primeiros de-
safios de sua administração: gerar emprego na comunidade e criar alter-
nativas para diminuir o êxodo rural. Tal situação era conseqüência da
falta de oportunidades no campo e da migração do homem do campo
deslumbrado com as novas oportunidades e com a qualidade de vida
que a cidade oferecia. Dona Maria José, moradora e amiga de Maria
Botelho, lembra que ela dizia:
“Meu Deus! O que fazer pra agüentar esse povo lá na roça, porque não
dá para vir para cidade e dar emprego pra tanta gente”.
Havia ainda o problema da expulsão dos pequenos produtores de suas
terras para o aumento da plantação de soja nas grandes propriedades e
também o uso descontrolado de queimadas praticado nas pequenas pro-
priedades, para a formação de roça de toco.
Naquele momento, dona Maria Botelho teve a idéia de incentivar a
criação de associações que pudessem contribuir para o desenvolvimento
rural da região. Essa idéia surgiu a partir das lembranças da época em que
residia em Pernambuco. Uma realidade que faz parte da maioria dos
jovens brasileiros que moram no interior.
Assim, em 1992, as associações Soninho e São José tornaram-se reali-
dade. Desde a sua criação, tinham como idéia básica cultivar os frutos do
cerrado, produtos em abundância na região, tirando deles o seu sustento.

1
Dados do IBGE 2000.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 3


AGRONEGÓCIO E EXTRATIVISMO

Entre 1992 e 1996, tudo era muito simples e precário, mas o tempo foi
passando e os envolvidos empenharam-se no trabalho. A renda familiar
aumentou e melhorou a qualidade de vida dos associados.

A VIDA DOS CAMPONESES EM SANTA MARIA

E m 1992, as associações Soninho e São José iniciaram seus trabalhos


conscientizando os pequenos agricultores da necessidade de se uni-
rem para sobreviver. Cada uma começou com 14 associados. Em 1993,
com o apoio da prefeitura, foram constituídas juridicamente, permitin-
do-lhes acesso aos financiamentos de projetos em âmbito federal, esta-
dual e municipal.
Dona Maria José, presidente da associação Soninho, lembrou:“Naquela
época, as famílias produziam somente para comer e não tinham dinheiro
para pagar outras despesas”.
A associação Soninho, situada a 28 quilômetros de Santa Maria, ar-
rendou 40 alqueires de terras para cultivo. Em 1996, adquiriu a proprie-
dade conhecida como Fazenda Maravilha e obteve vários benefícios,
como água, energia, televisão.
A associação São José, a 25 quilômetros de Santa Maria, era um anti-
go assentamento do Incra. O local possuía estrutura básica para os asso-
ciados, como gerador de energia, caixa d’água, além da modernidade da
TV com antena parabólica.
A criação das duas associações permitiu melhorar a renda familiar que,
até então, era tirada da agricultura de subsistência – arroz, feijão, milho e
melancia – produzida na roça de toco e que passou a ser complementa-
da com o extrativismo dos frutos do cerrado.
Um estudo do Centro de Trabalho Indigenista (CTI) realizado na região,
em 1992, evidenciava a ocorrência natural e abundante de frutas nativas,
tudo que os associados precisavam para iniciar de imediato a extração dos
frutos, tais como: bacaba, bacuri, buriti, cajá, caju, cajuí, copaíba, goiaba
araçá, murici, mangaba e pequi. Segundo esse estudo, a possibilidade de
colheita é o ano todo.

4 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


INDUSTRIALIZANDO OS FRUTOS DO CERRADO – SEBRAE/TO

TABELA 1: FRUTOS DO CERRADO - PERÍODO DE COLHEITA


Espécie ago. set. out. nov. dez. jan. fev. mar. abr. maio jun. jul.
Bacaba
Bacuri
Buriti
Cajá
Caju
Cajuí
Copaíba
Cupuaçu
Goiaba araçá
Mangaba
Murici
Pequi
Fonte: Associação dos Agricultores Soninho e Associação de Agricultores São José, 2004

No início, as associações colhiam os frutos nativos e levavam para se-


rem vendidos e processados na cidade de Carolina, no Estado do Mara-
nhão, e para consumo próprio. Contudo, essa atividade não estava tendo
o resultado esperado e despendia-se muito esforço para colhê-los, sepa-
rá-los e transportá-los até a cidade de Carolina. O maior prejuízo dos fru-
tos, uma perda de cerca de 60%, era em conseqüência do transporte,
numa viagem longa e debaixo de um calor muito intenso.
No entanto, com todas as perdas no transporte dos produtos, o negó-
cio ainda proporcionava grande melhoria no padrão de vida da comuni-
dade. Maria Botelho afirmou que: “Um pé de cajá completo vale um
bezerro! ” . Por esse motivo seu Joaquim comentava: “Nunca mais derru-
bamos um pé de cajá!”.
Segundo Maria José: “[...] a redução das queimadas, derrubadas e até as
roças de toco já diminuíram, muito pouco associado hoje tem roça de toco.
As áreas que ele tem já são preservadas, se derrubava um mundaréu de pé
de cajá, hoje eles não derrubam porque sabem quanto dá um pé de cajá ” .
O potencial de produção e a determinação da comunidade contribuí-
ram para que, em 1996, o Projeto Demonstrativo para a Amazônia (PD/A),
ligado ao Ministério do Meio Ambiente, contratasse uma consultoria da
Rede Frutos do Cerrado (RFC), para desenvolver e propor estratégia
visando aprimorar o sistema de gestão, comercialização dos produtos,
novos investimentos e capacitação de agentes multiplicadores. O financia-
mento do PD/A teria como objetivo criar subsídios e capacitar agentes

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 5


AGRONEGÓCIO E EXTRATIVISMO

locais que contribuíssem para a viabilidade e sustentabilidade econômica,


social e ambiental do conjunto de projetos da RFC. O potencial de frutos
coletados em 1996/1997 pode ser observado na Tabela 2.

TABELA 2: QUANTIDADE COLETADA DE ALGUNS FRUTOS


DO CERRADO EM 1996/97 E SEU POTENCIAL LOCAL
Fruto Unidade Quantidade
1996/97 Potencial Adicional
Bacuri Mil frutos 261.700 1.033.000 1.160.000
Buriti kg 350 5.000 10.000
Cajá kg 7.268 31.620 31.620
Cupuaçu kg 4.095 8.000 8.000
Murici kg 45 1.000 2.000
Fonte: Apud Relatório final de consultoria: Estudo para a reestruturação da RFC, 1998.

Do diagnóstico realizado pelo PD/A, que comprovou que a região po-


deria melhorar a renda e criar possibilidade de fixar o homem no campo,
surgiu o primeiro projeto aprovado de ajuda financeira. O projeto consis-
tia em plantar frutas típicas da região e aproveitar as já existentes para
processá-las ou comercializá-las in natura. Esse financiamento proporcio-
nou à comunidade verbas para o pagamento da coordenação do projeto,
a contratação de viveirista, curso de capacitação, a compra de um freezer
e uma caminhonete F-4000.
A partir daquele momento, as associações Soninho e São José passaram
a integrar o Projeto Frutos do Cerrado. Com um viveiro, podiam cultivar
suas próprias mudas de frutos do cerrado, como da acerola, do tamarindo
e outros. Porém o processo ainda era manual e o transporte para o pro-
cessamento em Carolina continuava, pela falta de maquinário.
A produção de polpas, óleos, sabão, doces, geléias e outros beneficiamen-
tos realizados pelos associados, mais a comercialização do fruto in natura,
mudava cada vez mais a vida de cada um. No entanto, o problema com o
transporte dos frutos para Carolina os inquietava. O cansaço da viagem e
as perdas dos frutos no trajeto de aproximadamente 250 quilômetros, até
a unidade de processamento, eram muito grandes.
Os primeiros consumidores das polpas foram as escolas públicas e muni-
cipais, que as utilizavam na merenda escolar. Passaram também a fornecer
para os mercados locais e de cidades vizinhas e nos quiosques situados às
margens das estradas. Nesses locais também se vendia o fruto in natura,

6 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


INDUSTRIALIZANDO OS FRUTOS DO CERRADO – SEBRAE/TO

acondicionados em embalagem de cipó e em cófea feita com palha de


piaçava ou de babaçu.
Logo após o término do primeiro projeto do PD/A, os associados
conseguiram, em 2000, a aprovação de outro projeto no Programa de
Pequenos Projetos (PPP), que possibilitou descobrir melhor forma
de produzir e comercializar os subprodutos da flora do cerrado. Pelo
projeto foram ministrados cursos de sistemas e métodos de plantio, de
gerenciamento, contabilidade e comercialização, de associativismo
e cooperativismo, elaboração de projetos sociais e outros. O PPP tam-
bém financiou a construção de uma cozinha industrial, espaço onde
são experimentadas diversas receitas produzidas pelas associadas.
As necessidades, que surgiam a cada nova oportunidade, levavam
os associados à busca de outras alternativas e soluções para o cresci-
mento. Por meio do PD/A, vislumbra-se a oportunidade de aprovação
de um segundo projeto, o qual sugeria o desenvolvimento do Projeto
Frutos do Cerrado. Essa era a oportunidade para os associados da So-
ninho e São José conseguirem a verba para a concretização do proces-
samento dos frutos em Santa Maria. Assim começou a luta para a
implantação da agroindústria e a solução para o problema de perdas
de produtos no transporte para o processamento em Carolina.

A CONSOLIDAÇÃO DE UM SONHO

E m 2002, começou uma nova fase na vida dos associados de Soninho


e São José, que se uniram em prol do crescimento do projeto Frutos
do Cerrado.
Maria Emília, membro da associação Santa Maria, procurou o SEBRAE
para a elaboração do plano de negócios e estudo de viabilidade econô-
mica para o processamento dos frutos in natura. Seu desejo era a cons-
trução de uma agroindústria que pudesse atender a todos os associados
de Soninho e São José. Até aquele momento, o SEBRAE era um parceiro
“de longe”, porém agora queriam estabelecer uma relação mais próxima,
como declarou dona Maria José: “Em 2002, tivemos o primeiro, contato
com o SEBRAE como parceiro para capacitação; até aí tinha o SEBRAE
como uma coisa muito distante. Mas eu tinha vontade de conhecer
qual era o apoio que poderia dar como associação e foi quando eu fiquei
conhecendo o pessoal de Guaraí, e a gente foi muito bem recebido”.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 7


AGRONEGÓCIO E EXTRATIVISMO

A demanda crescente pelos produtos abriu uma nova perspectiva de


vida e de crescimento para as associações. Aos poucos, a idéia de cons-
truir uma agroindústria ia se consolidando, após muitas reuniões realiza-
das. O processo de construção, porém, exigia grandes investimentos, o
que deixava desesperançada a maioria dos associados.
Para Joaquim Custódio Neto, motorista do projeto: “Tudo não passava
de um sonho, como seria possível conseguir tanto dinheiro?”. O que para
uns parecia dificuldade para outros era motivo para continuar, era um
grande desafio que eles teriam de vencer.
Em 1998, o diagnóstico realizado pelo consultor da RFC, sugeria a aqui-
sição de equipamentos para a instalação de uma agroindústria. Decidiram,
então, a partir daí entrar com mais um projeto solicitando verbas para sua
instalação. A justificativa era simples: grande potencial de colheita na re-
gião, porém grandes perdas (60%) do produto durante o transporte para
o processamento, que era feito em outro Estado.
Começava a fase de construção da agroindústria em um lote cedido
pela prefeitura com toda a documentação aprovada por todos os órgãos
competentes. Com a aquisição de mais quatros lotes, a unidade foi insta-
lada numa área de 450 m2, onde funcionam as salas de processamento,
lavagem, embalagens e também da administração.
Em 2003, a agroindústria já possuía os seguintes equipamentos para
processamento das frutas: balança, tanque de lavagem, despolpadora,
liquidificador industrial, câmara fria, com capacidade para 16 toneladas,
freezer e seladora manual. Além disso, sua administração era equipada
com computadores, telefones e um radioamador.
Com a agroindústria, os associados passaram a produzir aproximada-
mente 5 mil kg de polpas de frutas, uma diferença muito grande em rela-
ção ao que produziam em Carolina, que era cerca de 800 kg.
O processamento das frutas consiste na produção de polpas, licores e
da cajuína. Para a comercialização, os produtos são acondicionados em
embalagens plásticas de 100 g, 500 g e 2 kg (sob encomenda), e em em-
balagens de 500 g, contendo cinco pacotinhos de 100 g. Os doces são
acondicionados em potes de vidro com capacidade para 450 ml e 300 ml.
A cajuína é embalada em garrafa de vidro escuro para manter as caracte-
rísticas do produto.

8 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


INDUSTRIALIZANDO OS FRUTOS DO CERRADO – SEBRAE/TO

NOVOS MERCADOS E NOVOS DESAFIOS

A pós a implantação da agroindústria, a alegria dos associados e a


satisfação de ter agora a possibilidade de expandir as vendas moti-
varam todos a procurar novos mercados. Outras preocupações: surgiram
o registro do produto nos órgãos sanitários, a construção de uma iden-
tidade para os produtos e a forma de distribuí-los para o varejo.
Com a implantação da agroindústria, aumentou a produção e também
a necessidade de enviar os produtos para outras regiões. Tal necessi-
dade levou os associados a procurar o SEBRAE para o desenvolvimento
de rótulos de seus produtos, o que foi possível por meio do Programa
SEBRAE Via Design, que realizou o levantamento equinográfico da região.
O desenvolvimento das embalagens foi executado com a comunidade,
observando e conservando seus valores e características regionais. Foi
feito ainda estudo para o processo de certificação e implantação de códi-
go de barras, respeitando as normas legais do mercado.
A busca pela inserção dos produtos em novos mercados levou Maria
Emília a realizar os cursos Liderar e Líder Cidadão do SEBRAE. Ela estava
preocupada com a administração da agroindústria, em fase de pleno
desenvolvimento e crescimento. A comercialização dos produtos estava
sendo realizada nos mercados de Palmas, Recursolândia, Santa Maria, Ita-
cajá, Pedro Afonso, Guaraí, Centenário. Em 2004, as associações Soninho
e São José contavam com 48 sócios.
A renda melhorou muito, mas, como diz Maria José: “Tem sócio que
ganha 100 reais, outros 300 e outros 500, depende da quantidade de
fruta que entregam por mês”.
A agroindústria gerou oito empregos diretos: quatro motoristas, dois
viveiristas e dois coordenadores. O viveiro, que funciona na mesma
quadra da agroindústria, em constante crescimento, produziu em
1988/1989 aproximadamente 30 mil mudas, em 2000 chegou a 40 mil e
de janeiro a julho de 2004 foram produzidas 37 mil mudas, gerando
renda para os associados. Os membros possuem cerca de 20 hectares,
onde produzem os frutos do cerrado. Contudo, a agroindústria compra
produção de qualquer pessoa que colha os frutos e queira vendê-los,
com preços diferenciados para associados e não-associados.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 9


AGRONEGÓCIO E EXTRATIVISMO

TABELA 3: PREÇOS DE COMPRA DOS FRUTOS E


VENDAS DAS POLPAS DE ALGUNS FRUTOS
Espécie Preço compra (R$/kg) Preço venda (R$/kg)
Acerola 0,30 3,5
Buriti 0,20 3,0
Cajá 0,40 4,0
Caju 0,50 3,0
Cupuaçu 2,30 10,0
Goiaba araçá 0,50 3,0
Manga 0,80 2,0
Maracujá 0,30 4,0
Tamarindo 0,40 3,0
Fonte: Preços fornecidos pela presidente da Associação dos Agricultores Soninho/2004.

Para Maria José, a meta de produção até o final de 2004 é de 10 mil


quilos de polpa por mês: “Produzimos hoje [2003] 3 mil quilos de polpa
por safra, mas queremos chegar a 10 mil quilos!”.

CONCLUSÃO

O s associados da Soninho e São José experimentaram grandes mu-


danças. Eles alcançaram uma qualidade de vida mais digna e enfren-
taram novos desafios, mostrando que transformações são possíveis
quando as pessoas assumem o seu papel na sociedade.
As mulheres das associações Soninho e São José perceberam que podiam
mudar sua história de vida. Maria José, filha da terra e de um dos fundado-
res da associação Soninho, aceitou o desafio: é uma das coordenadoras do
projeto Frutos do Cerrado. O trabalho que estão desenvolvendo mostra que
muito ainda precisa ser feito, mas os primeiros passos foram dados.
Com a construção da agroindústria em Santa Maria do Tocantins, 85%
dos frutos do cerrado estão sendo aproveitados, contribuindo para
aumentar a renda de 48 famílias. O que antes era queimado e sem valor
econômico ou cultural transformou-se em ganho financeiro, cultural, pro-
pulsor do desenvolvimento na região. As parcerias foram de fundamental
importância, desde a construção da agroindústria até a capacitação técnica
e gerencial dos trabalhadores.
Até o ano 2002, as associações produziam em média 800 kg de polpa, em
Carolina (MA), por safra. Em 2003, com a agroindústria instalada, passaram

10 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS


INDUSTRIALIZANDO OS FRUTOS DO CERRADO – SEBRAE/TO

a produzir uma média de 3 mil kg de polpas por safra. Em 2004, estavam


produzindo, por safra, cerca de 5 mil kg.
As pessoas que antes não tinham renda para o consumo básico da fa-
mília e viviam do plantio da roça de toco em 2004 estavam obtendo até
R$ 500,00 por safra, além do consumo próprio. Os resultados alcançados
dizem respeito não somente à renda financeira, como também às constan-
tes mudanças pelas quais os associados passaram, desde a educação até a
preocupação com o meio ambiente. Maria José relatou o aprendizado dos
associados: “[...] antes se desperdiçavam muitos frutos, nós não tínhamos o
hábito de tomar suco, hoje não aceitamos refrigerante em nossos eventos”.
Os frutos do cerrado, que antes eram cortados e queimados, se trans-
formam em fonte de renda e esperança para as 48 famílias que se asso-
ciaram, e conscientizaram-se da importância de trabalhar em equipe e de
preservar o meio ambiente. Os próximos desafios para os associados da
Soninho e São José são a diversificação dos produtos e sua inserção no
mercado tocantinense e até mesmo sua expansão para outros Estados,
para que o seu crescimento seja contínuo e sustentável.

QUESTÕES PARA A DISCUSSÃO

• Quais as alternativas que poderiam ser utilizadas para aumentar a


produção de frutas?

• Como inserir os produtos no mercado de forma mais competitiva em


relação às outras marcas?

• Que outros tipos de culturas poderiam ser propostos para a comuni-


dade diversificar sua produção?

AGRADECIMENTOS

Diretoria Executiva do SEBRAE/TO: Ernani Soares Siqueira, Lina Maria M. C. Cavalcante, Pio
Cortizo Vidal Filho.

Coordenação Técnica: Pedro Correa Neto.

Colaboração: Maria José Ferreira Lima Alves, presidente da Associação Soninho; Deuselina dos Santos
Ribeiro Tavares, coordenadora administrativa; Edglei Dias Rodrigues, SEBRAE/TO.

HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2004 11


AGRONEGÓCIO E EXTRATIVISMO

BIBLIOGRAFIA

IBGE. Censo Demográfico 2000: características da população e dos


domicílios. Tocantins, 2000.

_____. Resumo Censo Demográfico 2000. Pesquisa de campo, in loco. Palmas,


TO, 2000.

MINISTÉRIO do Meio Ambiente. PDA – Uma trajetória pioneira. Brasília:


fev. 2001.

RODRIGUES, José Carlos da Costa. Manejo e aproveitamento sustentável


das espécies nativas do cerrado. São Luís: Ética Editora, mar. 2004.

12 EDIÇÃO 2004 HISTÓRIAS DE SUCESSO – EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

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