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i
Para a Felismina (in memorian), Maria Augusta, Domingos e Diogo.
ii
AGRADECIMENTOS
A Professora Doutora Rita Gisela Martins de Azevedo, minha orientadora, pelos seus
conselhos sempre sabios e oportunos que constituiram uma mais-valia inestimavel para a
minha investigação, pelo seu profissionalismo, disponibilidade, amizade, paciência, dedicação
e apoio sem os quais não teria sido possivel a realização desta dissertação;
Ao Professor Doutor Carlos Cardoso;
Ao Professor Doutor Levi Leonido Fernandes da Silva;
A Professora Doutora Maria José Cunha, orientadora da unidade curricular de estagio;
A Professora Helena Gouveia, diretora da Escola E.B 1 no6 de Vila Real onde realizei o meu
estagio;
A Dona Célia, funcionaria dos serviços académicos da UTAD pela compreensão, bondade e
por não considerar os alunos como “números”;
A Elisa Freitas, Nelson da Silva e Élio Silva por todo o ensinamento, apoio e camaradagem ao
longo desta jornada;
iii
SIGLAS E ABREVIATURAS
PE – Projeto Educativo
PC – Projeto Curricular
RI – Regulamento Interno
iv
RESUMO
O presente relatorio pretende descrever, analisar, e fazer uma reflexão sobre o periodo
de estagio I e II realizado na Escola EB1 N.º6 de Vila Real, para a obtenção do grau de Mestre
no Mestrado em Ensino de Teatro na Universidade de Tras-os-Montes e Alto Douro. Este
documento contempla uma fundamentação teorica e pratica, bem como uma analise reflexiva
sobre a tematica “O teatro medieval como ferramenta de interiorização dos valores humanos.
A Moralidade inglesa anonima Todo-o-Mundo (1495)”.
v
ABSTRACT
This report intends to describe, analyze and to reflect on the probationary period I and
II held in “Escola EB1 N.º6 de Vila Real”, for the degree of Master in theater education
Master at the University of “Tras-os-Montes e Alto Douro”. This document offers a
theoretical and practical reasons as well as a reflective analysis on the theme “The medieval
theater as internalization tool of human values. The anonymous English Morality Everyman
(1495)”.
In this study, we aim to emphasize the importance of investing in cultural and artistic
practices in the education system, highlighting the benefits of theater in creative and
educational process of the children. The central goal of this work is to reflect fairly on
theatrical practices as internalization tool of human values.
vi
ÍNDICE GERAL
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................iii
SIGLAS E ABREVIATURAS...................................................................................................iv
RESUMO ...................................................................................................................................v
ABSTRACT ..............................................................................................................................vi
2.1. Reflexão sobre os Valores Humanos com base na Declaração Universal dos
Direitos do Homem e da Criança..............................................................................................18
Básico........................................................................................................................................23
3.3.2.Autoria da obra...............................................................................................32
CONCLUSÃO..........................................................................................................................45
3.DOCUMENTOSORIENTADORES..........................................................................52
4.1Alunos .....................................................................................................................61
viii
4.3 Pessoal não- docente...............................................................................................62
ÍNDICE DE QUADROS
x
INTRODUÇÃO GERAL
A nossa dissertação tem como objeto de estudo o teatro medieval como ferramenta de
interiorização dos valores humanos. Com base na moralidade inglesa Todo-o-Mundo1 (1495),
pretendemos desenvolver a prática dos valores humanos no meio escolar, uma vez que a escola é
um espaço de excelência para o desenvolvimento pessoal e social.
Este estudo pretende uma análise aos valores humanos existentes entre os alunos da Escola
EB1 nº.6 de Vila Real. Este trabalho foi desenvolvido no ambito do estágio curricular realizado na
Escola EB1 nº.6 de Vila Real pertencente ao Agrupamento Vertical de Escolas Diogo Cão, sob a
orientação da professora Maria José Cunha e o professor cooperante João Paulo Miranda. O nosso
estágio é realizado em dois momentos – aulas observadas 2 – e as aulas de responsabilização
individual3.
No entanto, para além do trabalho referido, o grupo de estágio, para que conseguisse ter as
atividades e as aulas bem estruturadas, necessitou de horas extras. Nestas horas incluímos trabalho
de pesquisa individual, trabalho de preparação para planificações e discussões de grupo, trabalho de
interajuda com o professor cooperante e reuniões com a professora orientadora.
No decurso do período de estágio tivemos a autonomia necessária para propor e desenvolver
atividades várias, atribuindo maior enfoque aos recursos explorados pelo teatro uma vez que, em
nosso entender, possibilitam a expressão e a troca de experiências. Além disso liberam a
criatividade e humanizam a criança, pois o aluno é capaz de reconstruir em si aquilo que observou
nos outros. Isso significa o desenvolvimento progressivo na área cognitiva e afetiva do ser humano.
Advertências
Nos dias de hoje a maior adversidade que o ser humano pode enfrentar é uma crise de
valores, pois essa afeta a humanidade, que passa a viver de forma mais egoísta, cruel e violenta.
Assim, é necessário enfatizar a importancia de bons exemplos na escola, pois a transmissão de
indispensáveis valores humanos consiste na base de um futuro mais pacífico e sustentável.
Partimos do princípio que é pertinente, em primeiro lugar, identificar e valorizar o conceito
de valores humanos nas escolas portuguesas, neste particular, na escola EB1 nº.6 de Vila Real. Os
professores também cumprem um papel relevante na educação dos valores, pois, principalmente
hoje em dia, as crianças passam cada vez menos tempo com os pais e mais tempo na escola. A
1 Veja-se em anexo.
2 Aulas em que o grupo de estágio observou a professora cooperante a lecionar.
3 Aulas planificadas e de lecionadas individualmente.
1
verdadeira educação consiste em praticar os valores no dia-a-dia e não apenas em dizer às crianças e
adolescentes o que deve ser feito. As artes, particularmente o teatro, têm uma grande importancia na
sala de aula. A dramatização no espaço escolar é uma forte aliada para que estes valores possam ser
transmitidos e interiorizados, pois, segundo Courtney 4 (2003), a imaginação dramática está no
núcleo da criatividade humana e, assim sendo, deve estar no núcleo de qualquer forma de educação
que aponte ao desenvolvimento das características essencialmente humanas.
A nossa proposta pretende assim dotar as crianças de uma disponibilidade mental para que
possam desenvolver competências físicas, pessoais, relacionais, cognitivas, estéticas e técnicas, de
forma a que sejam, sozinhas ou em grupo, capazes de inventar e de transformar aquilo que as
rodeia, com sentido crítico e positivo.
Em nosso entender o teatro na educação favorece a compreensão do aluno em discutir,
questionar, pensar e repensar acerca de assuntos como por exemplo: a cidadania, a solidariedade, a
ética etc. de modo a que possam decidir, por si mesmas, sobre os seus próprios valores.
O Ponto de partida
Pretendemos neste dissertação demonstrar que através de práticas teatrais, e com base nas
moralidades do teatro medieval, é possível desenvolver os valores humanos no meio escolar.
Philippe Perrenoud e Monica Gather Thurler5 consideram que: “(...) a preparação do futuro
não se faz sem ousadia e imaginação, não apenas no campo dos conhecimentos e da produção mas
também no campo da sensibilidade e dos valores” (Perrenoud; Thurler, 1994:12).
Jacques Copeau6 afirma que através da associação do jogo da criança com a representação
teatral:
4 Richard Courtney (1927-1997) foi um ator inglês, pesquisador e professor de teatro. Foi uma das mais importantes
personalidades do teatro para a infancia e juventude.
5 Philippe Perrenoud e Monica Gather Thurler são professores de Ensino e Pesquisa na Faculdade de Psicologia e de
Ciências da Educacão da Universidade de Genebra.
6 Jacques Copeau (1879-1949) de nacionalidade francesa, foi um importante diretor, autor, dramaturgo e ator de
teatro.
2
pois a criança é uma fonte incrível de informação artística. O trabalho com jogos teatrais pode gerar
uma afetividade maior no grupo, unindo-o para realizar a atividade proposta, permite-se o
reconhecimento do grupo, o conhecimento das afinidades e diferenças, unindo-o assim cada vez
mais, traçando através da arte uma boa base educacional de valores.
A Singularidade
A pesquisa e análise de vários estudos existentes sobre esta temática permite-nos afirmar que
apesar de alguns desses estudos abordarem conceitos como expressão dramática versus teatro, jogo
dramático, valores humanos, não existem, investigações que se debrucem efetivamente sobre a
análise do processo e metodologia do teatro medieval como ferramenta para a interiorização dos
valores humanos. Daí que nos pareceu este assunto uma temática relevante e de interessante
abordagem no ambito do Mestrado em Ensino do Teatro da UTAD.
A proposta
Como foi exposto anteriormente o teatro na educação permite que os alunos construam um
crescimento cultural que vai além da sala de aula, por intermédio do discurso espontaneo da
linguagem teatral, motivando e despertando uma aprendizagem prazerosa, construindo o desejo de
aprender. O teatro e o texto teatral podem ser tomados como instrumentos de desenvolvimento
integral da criança. E, por esta ótica, o processo é mais importante que o resultado, o jogo teatral, as
dramatizações, as improvisações devem ser a base. Os problemas pessoais podem ser colocados nas
improvisações e as diferenças entre cada elemento podem ser trazidas como símbolo de respeito.
A metodologia
O nosso estudo é composto por duas partes. O nosso trabalho encontra-se organizado, de
acordo com a seguinte esquematização:
• I Parte – Parte teórica de caracter dissertativo
• II Parte – Parte prática
3
ensino básico. Tencionamos, em conformidade com a opinião de vários autores consultados, inserir
uma componente e fundamentação teórica essencial referente aos conceitos que serão considerados
no decorrer de todo o nosso trabalho.
No 2º capitulo abordamos os valores humanos. Elaboramos uma reflexão sobre os valores
humanos com base na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Declaração dos Direitos da
Criança. Fazemos também uma abordagem aos valores humanos no 1.º ciclo do ensino básico; ao
teatro e ao seu valor pedagógico no 1.º ciclo do ensino básico e, por fim, ao contributo do teatro
para o desenvolvimento dos valores humanos no 1.º ciclo do ensino básico.
No 3º capitulo analisamos o caso da moralidade inglesa anónima Todo-o-Mundo. Fazemos
referência ao teatro medieval; às moralidades e à moralidade de Todo-o-Mundo como ferramenta de
interiorização dos valores humanos. Fazemos também uma breve sinopse da obra e uma breve
referência à autoria da mesma. Referimo-nos ainda ao tratamento dos temas na moralidade de Todo-
o -Mundo.
No 4º capitulo fazemos uma abordagem à análise dramatúrgica da cena por nós escolhida de
forma a tratar este tema. Justificamos a escolha do texto de partida, partindo depois para a análise
da estrutura básica da intriga da cena. Ainda no capítulo 4 analisamos as personagens da cena, bem
como os elementos paratextuais nela presentes. Finalmente debruçamo-nos na identificação dos
valores humanos presentes na cena e analisamos os mesmo.
Na segunda parte estruturamos o trabalho de maneira diferente uma vez que esta figura o
relatório de estágio na íntegra. Assim sendo, optamos por uma divisão por pontos e não por
capítulos.
Iniciamos a segunda parte com a caracterização do meio envolvente da nossa prática
educativa, onde se insere o Agrupamento de Escolas Diogo Cão, ou seja, o concelho de Vila Real.
Em seguida caracterizamos o Agrupamento Vertical de Escolas Diogo Cão e também a escola EB1
nº. 6 de Vila Real, onde realizamos a nossa prática.
Em terceiro lugar elaboramos uma breve síntese dos documentos orientadores do
agrupamento, mais concretamente do Projeto Educativo de Agrupamento, o Projeto Curricular, o
Regulamento Interno, o Plano Anual de Atividades e por fim, o Projeto Curricular de Turma.
No quarto ponto fazemos uma breve fazemos uma breve caracterização dos recursos
humanos do agrupamento, partindo das informações obtidas através do projeto de intervenção do
Agrupamento Vertical de Escolas Diogo Cão.
Posteriormente, no ponto cinco, apontamos algumas características das quatro turmas onde
trabalhámos e apresentamos também as plantas de cada sala de aula.
4
Por fim, no sexto ponto, apresentamos algumas planificações do estágio e as suas respetivas
reflexões. As restantes planificações bem como imagens e outros recursos utilizados, seguem em
anexo.
Em resumo optamos por uma metodologia que analisa em primeiro lugar:
5
I PARTE – PARTE TEÓRICA DE CARÁCTER DISSERTATIVO
6
CAPÍTULO 1º- BREVE REFLEXÃO SOBRE A EXPRESSÃO DRAMÁTICA, O JOGO
DRAMÁTICO, A IMPROVISAÇÃO, A DRAMATIZAÇÃO, O TEATRO INFANTIL E O
TEATRO PARA A INFÂNCIA NO 1.º CICLO DO ENSINO BÁSICO
A Expressão Dramática
A palavra “expressão” deriva do verbo latino “exprimere” que significa “fazer sair”,
“revelar-se”, “manifestar-se exteriorizando-se” (Guerra, 2007:2). No caso da expressão dramática,
trata-se de expressar sentimentos e ideias, num contexto de jogo, através do uso da linguagem
dramática. Por sua vez, a etimologia grega da palavra “Drama” significa ação ou representação da
ação. A sua principal relevancia é a ação de alguém num determinado espaço. De acordo com o
dicionário de teatro português de Sousa Bastos 7 o termo teatro significa “a arte dramática, a arte de
representar” (Bastos, 1994:141).
Léon Chancerel8 define expressão dramática como os:
Como podemos constatar a expressão dramática possui teor lúdico e inclui teor educacional
e pedagógico, o que permite à criança desenvolver a sua personalidade. A expressão dramática é
valorosa pois através do jogo dramático, a criança faz descobertas em relação a si própria, em
relação aos outros, e partilha experiências em grupo.
Alberto Sousa9 considera que a expressão dramática:
7 António Sousa Bastos (1844-1911) foi um autor dramático, empresário, cronista e memorialista teatral, foi uma das
personalidades mais ativas e influentes da vida teatral portuguesa no último quartel do século XIX. REBELLO, Luiz
Francisco. 100 anos de teatro Português (1880-1980). Brasilia editora, 1884, p.47.
8 Léon Chancerel, sempre se mostrou interessado pelo teatro desde a infancia, centra os seus objetivos na expressão
corporal, mas também na voz. E autor, ator e diretor francês e em 1957, fundou a Associação de Teatro para a
Infancia e Juventude.
9 Alberto B. Sousa é doutorado em Ciências da Educação pela Universidade de Evora, possui mestrado em Psicologia
da Educação pela Universidade de Bristol e outro pelo Instituto de Psicologia Aplicada. E Licenciado em Psicologia
Clínica pela Universidade de Lisboa, em Educação pela Arte pelo Conservatório Nacional e em Educação Física
pela Universidade de Macolin (Suíça). Foi educador, professor do ensino básico e do secundário, tendo-se dedicado,
posteriormente, no ensino superior, a formação de educadores, professores e psicopedagogos.
7
“Em relação à criança, ajuda-a eficazmente no seu processo de
desenvolvimento bio-psico-sócio-motor, pondo em jogo a sua
expressividade, a sua criatividade e a sua consciência de valores ético-morais
e estéticos, ao mesmo tempo que a ajuda na sua relacionação social, dado
que as actividades de expressão dramática em grupo implicam a cooperação
de todos os membros, unindo as suas acções para conseguirem o fim
comum” (Sousa, 2003:33).
O Jogo Dramático
A palavra “Jogo” deriva do termo latino “jocus” que significa gracejo, brincadeira,
divertimento. Jogar é uma prática que ultrapassa os tempos e; entre outras funções, apresenta-se
como uma oportunidade para ampliar os conhecimentos. Além de melhorar a capacidade de
trabalhar em grupo, o jogo auxilia na integração social e é ainda considerado um dinamizador no
aprendizado individual e coletivo.
Entre as diversas formas de jogar e inúmeras possibilidades reais de atividades lúdicas,
temos os jogos dramáticos, que podem ser utilizados como um recurso importante na Educação
Infantil, atribuindo sentido às ações pedagógicas. A individualidade, o coletivo, os relacionamentos
interpessoais, a afetividade e a inteligência são aspectos que caminham no sentido do
desenvolvimento do ser humano de forma integral que podem ser trabalhados no jogo dramático,
unindo a imaginação, a dramatização, o lúdico com o pensamento e a fala, por meio da capacidade
aprendida de inverter completamente a posição inicial do sujeito em relação a elas. O jogo
dramático é então, uma atividade que visa a aprendizagem e o desenvolvimento por meio das
vivências de situações quotidianas, recriadas, problematizadas e repensadas.
8
De acordo com Paul Rooyackers10, através do jogo dramático, “vive-se num mundo
diferente do nosso e usamos a nossa imaginação para representar algo através das nossas acções”
(Rooyackers, 2003:15).
Peter Slade11 considera que “(...) o jogo dramático é uma forma de arte por direito próprio,
não é uma atividade inventada por alguém, mas sim o comportamento real dos seres humanos”
(Slade, 1978:17). Ele expressa-se na maneira como a criança pensa, comprova, relaxa, trabalha,
lembra, ousa, experimenta, cria e absorve.
Como método educacional, os jogos dramáticos garantem a aquisição do conhecimento
intuitivo e intelectual, levando também a uma participação maior do aluno (ativo) e à utilização do
seu corpo.
Léon Chancerel defende que os
10 Paul Rooyackers é professor de dança e teatro com grande experiência no ensino de crianças e jovens e em terapia
criativa.
11 Peter Slade (1912-2004) foi um escritor e drama terapeuta inglês e um dos pioneiros no estudo do teatro para
crianças, com alguns livros editados sendo o mais emblemático “Child drama”.
9
sensibilizando à utilização de sons, de silêncios e de palavras (...) A
utilização simultanea da dimensão verbal e gestual ganha, aqui, o seu pleno
significado (...)”.
Como podemos constatar o jogo dramático tem um forte valor educativo a vários níveis. Ele
é, na vida de uma criança, uma representação de ações, realizadas com base na observação das
diversas e diferentes situações que ocorrem no dia-a-dia.
E uma exploração intuitiva de personagens do mundo da fantasia e do mundo real em ação,
o que permite à criança recriar vivências projetadas para o campo imaginário de sensações,
emoções, jogos, movimentos e atitudes que por sua vez desencadeiam uma organização de ideias,
ações e desenvolvem a capacidade de imaginação e oralidade.
A Improvisação
12 Gérard Faure e Serge Lascar são autores do livro “O Jogo Dramatico na Escola Primaria”. Lisboa: Editorial
Estampa, 1982.
13 Patrice Pavis é professor de Estudos de Teatro da Universidade de Kent em Canterbury. Ele tem escrito
extensivamente sobre performance, focando o seu estudo principalmente em semiologia e interculturalidade no
teatro.
10
“[...] uma peça improvisada (a l’improvviso), pelo menos que se dá como tal,
isto é, que simula a improvisação a propósito de uma criação teatral, como o
músico improvisa sobre determinado tema. Os atores agem como se
tivessem que inventar uma história e representar personagens, como se
realmente estivessem improvisando” (PAVIS, 1999:206).
11
(Sousa,2003:67).
Na mesma linha de pensamento Faure e Lascar afirmam que:
A Dramatização
12
objectivo de revelar a pessoa humana” (Bento Ilda; Avelino, 1989, cit in
Sousa, 2003:68,69).
Del Hoyo, Dorrego e Ortega 18 referem que: “(...) los juegos de dramatización (…) son actividades,
por lo general, con un potente nivel lúdico, de forma que permiten romper bloqueos y fomentar la
integración mediante la confianza (...)” (Del Hoyo; Dorrego; Ortega, 2006:14).
A dramatização ou apresentação teatral na escola é de grande valia, isso porque possibilita
uma melhor compreensão dos conteúdos, além de promover uma socialização, aumento da
criatividade, memorização entre outros fatores positivos na construção do conhecimento. As
atividades de dramatização são uma forma de desenvolver a competência comunicativa e para além
disso contribuem para a motivação.
O Teatro Infantil
No teatro infantil os protagonistas são as crianças. Como é de conhecimento geral são várias
as opiniões e controvérsias no que respeita à representação e interpretação feita pela criança.
De acordo com Slade:
Slade alerta-nos que quando trabalhamos com a criança devemos fazer uma cuidadosa
distinção entre expressão dramática e teatro.
Em contrapartida Viola Spolin19 defende que “as apresentações públicas, quando as crianças
estiverem preparadas, irão elevar o seu nível de compreensão e desenvolver suas habilidades”
(Spolin, V. 2007:251).
O grupo Institut Cooperatif de L ́Ecole Moderne20, em França, salvaguarda que comunicar é
18 L. Dorrego, Maria A. del Hoyo e M. Ortega são autores do livro “Propuestas para dinamizar la clase de E/LE: mas
de 80 juegos y actividades teatrales”. Madrid: Edelsa, 2006.
19 Viola Spolin iniciou o seu trabalho com as crianças, em 1924 como aluna de Neva Boyd e depois como supervisora
do Recreacional Project em Chicago. Foi professora na Brandeis University e em 1975 fundou o Splin Theatrer
Games Center, em Los Angeles. Com uma vida dedicada ao teatro-educação, recebeu, entre outras distinções, o
título de doutor honoris causa em Artes, em 1978, pela Eastern Michigan University.
20 Institut Coopératif de L ́Ecole Mordern, é uma associação criada em 1947por Celestin Freinet. O instituto inclui
professores, formadores e educadores que seguem os princípios da pedagogia Freinet.. Celestin Freinet desenvolveu
uma proposta pedagógica centrada na observação cuidadosa da natureza e nas necessidades e interesses das crianças.
13
partilhar com os outros, é esperar que os outros mostrem interesse por aquilo que lhes temos para
apresentar, que observem e tentem compreender, ou seja, o espetador deve também ter um papel
pedagógico neste processo.
O teatro infantil responde à necessidade de partilhar, de comunicar, de mostrar,
estabelecendo relações entre as crianças e dando-lhe a oportunidade de se envolverem num grupo.
O teatro infantil constitui uma atividade recreativa de grande valor educativo.
Como podemos verificar estas apresentações, representadas por adultos e crianças para um
público também constituído por adultos e crianças, destinavam-se à integração social.
O teatro para a infancia é interpretado por adultos e os destinatários são as crianças. Glória
Bastos salienta que o teatro para crianças é um “produto artístico da actividade concertada de várias
pessoas adultas” (Bastos, 2006:27), ou seja, um produto criado por adultos, dirigido principalmente
ao público infantil.
Relativamente à participação do público no espetáculo Brecht22 defende que não devemos
distinguir o espetador adulto do infantil. Senão vejamos, “a experiência demonstra que as crianças
compreendem, tão bem como os adultos, tudo o que merece ser compreendido” (Brecht, cit. in
Kramer, S. 2007:44).
21 Juan Cervera (1928-1996) foi professor, escritor e diretor de teatro em Espanha. Doutorado em Filosofia e Letras
pela Universidade de Valencia, dedicou-se especialmente ao estudo de teatro e da literatura infantil.
22 Bertolt Brecht (1898-1956). Poeta y hombre de teatro alemán, una de las personalidades que más han influído en la
teoria y en la praxis del teatro del siglo XX. DIETERICH, Genoveva. Diccionario del teatro. Espana: alianza
editorial, 2007, p.51.
14
A implementação da pedagogia ao teatro é fundamental para estimular a imaginação e o
entusiasmo das crianças. Como é do conhecimento geral as crianças que frequentemente assistem a
espetáculos e ouvem histórias detêm uma maior capacidade para discursar e para processar
acontecimentos da sua própria vida. O contacto com o teatro permite à criança engrandecer os seus
conhecimentos e construir valores estéticos.
“(...) desde há alguns séculos que tanto vários pedagogos como homens do
teatro têm chamado a atenção para a valiosa contribuição que o teatro
poderia proporcionar à educação.
Em Portugal, no tempo do reinado de D. José I, um grande homem
do teatro, Manoel de Figueiredo, é um dos pioneiros na defesa desta
perspectiva, escrevendo a sua obra - «Theatro» -, dirigida ao Marquês de
Pombal, sugerindo que incluísse o teatro na sua reforma educativa, no que é
secundado por um dos maiores pedagogos portugueses, António Ribeiro
Sanches (não tendo sido, porém, atendidos por aquele primeiro ministro)”
(Sousa, 2003:81).
23 Na mitologia grega, Dionísio era o deus do vinho, pois possuía os conhecimentos e segredos do plantio e colheita da
uva. Era também associado às festas e atividades relacionadas ao prazer material. O culto a Dionísio ocorreu em
várias regiões da Grécia Antiga, chegando até Creta. Eram grandes festas ou encenações teatrais. A alegria, os
prazeres da vida e os efeitos do vinho eram temas recorrentes nas festividades dionisíacas.
15
O teatro tem uma importancia fundamental na educação, este pode contribuir para que a
criança tenha oportunidade de atuar efetivamente no mundo, opinando, criticando e sugerindo e,
também permite conduzir o aluno a desenvolver alguns aspectos: criatividade, coordenação,
memorização e vocabulário. O teatro e as técnicas teatrais podem ser tomados como instrumento de
desenvolvimento integral da criança.
Ryngaert24 afirma que “as relações entre jogo dramático e o teatro não devem apoiar-se num
mal-entendido: o primeiro não tende para a imitação do segundo, o jogo dramático não é nem teatro
profissional enfezado, nem uma coisa completamente diferente do teatro” (Ryngaert, 1981:53). A
fronteira que separa a expressão dramática e o teatro nem sempre é fácil de identificar e
compreender. A razão para a confusão pode ser explicada pelo uso dos mesmos elementos
expressivos, da partilha de linguagem e pela semelhança de processos criativos. Neste sentido,
Leenhardt25 define o objectivo da expressão dramática como a oportunidade de dar à criança uma
“ocasião para exprimir uma sensibilidade pessoal, de levá-la a adquirir os meios dessa expressão
através de uma disciplina do corpo, da voz, da emoção, por uma disciplina social também, enfim, de
lhe dar acesso, por uma percepção vivida, à linguagem teatral” (Leenhardt, 1997:26).
Davis e Evans26 afirmam que “o teatro apresenta a vida humana simbolizada por meio de
pessoas vivas, comprometidas na ação direta de experiência humana” (cit in Terra, 2009:6). Para
Freud27 a arte teatral equipara-se a um jogo, “é a continuação e um substituto para o jogo das
crianças” (cit. in Terra, 2009:4).
Autores como Motos28 e Tejedo29, esclarecem algumas diferenças existentes entre a
expressão dramática e o teatro. Assim, para os autores “Es lógico que la dramatización cumpla su
24 Jean-Pierre Ryngaert (1945), autor francês, é professor de estudos teatrais na Universidade de Caen, especialista na
relação teatro/educação e encenador. Autor de múltiplas obras e artigos, nomeadamente sobre a representação teatral
e sobre a dramaturgia barroca e contemporanea.
25 Pierre Leenhardt, francês e autor da obra “A criança e a expressão dramática”, onde apresenta resultados de quase
vinte anos de atividade no ambito da expressão dramática infantil e para a infancia.
26 Autores do livro “Theatre, Children and Youth”, editora Anchorage Press, 1987.
27 Freud, de nacionalidade Austríaca, estudou medicina na universidade de Viena, sendo atualmente reconhecido como
médico neurologista e criador da psicanalise.
28 Tomás Motos, doctor en Filosofia y Ciencias de la Educación y Premio Extraordinario. Licenciado en Pedagogia y
Psicologia. Profesor titular de Universidad. Director del postgrado “Teatro en la Educación”. Professor del Marter
Internacional de Creatividad. Ha impartido numerosos cursos, talleres y conferencias y publicado una veintena
libros y numerosos artículos sobre Expressión Corporal, Dramatización y Didáctica de la lengua y Literatura.
MOTOS, T. TEJEDO, F. Prácticas de Dramatización. Espana: editora naque, 2007.
29 Francisco Tejedo, licenciado en Filologia. Catedrático de Lengua y Literatura Espanola de Educación Secundaria.
Dramaturgo: lleva casi cuarenta anos dedicados a la puesta en escena de teatro escolar, para cuyo público infantil y
juvenil ha realizado versiones de los clássicos castellanos y ha adaptado en prosa y verso a los clássicos
grecolatinos. MOTOS, T. TEJEDO, F. Prácticas de Dramatización. Espana: editora naque, 2007.
16
objetivo simplemente al utilizar dichas técnicas como apoyo lúdico, pedagógico o didáctico”
(Motos; Tejudo, 2007:19). Ou seja, a expressão dramática é um processo de criação onde o
essencial é utilizar técnicas de linguagem teatral com o objetivo de beneficiar o interveniente.
Brian Way30 afirma que:
30 Brian Way (1923-2006), orientou em 1946 um grupo de professores que considerarão a relação entre o teatro para
crianças no contexto educativo. Peter Slade foi uma das pessoas que influenciou o seu pensamento.
31 Jean-Claude Landier e Gisèle Barret são autores do livro “Expressão Dramatica e Teatro”. Edições ASA, 1994.
17
Podemos concluir que a atividade teatral serve para educar moralmente e transmitir
conhecimentos. O teatro tem um papel importante no desenvolvimento da criança, pois através do
brincar ao “faz-de-conta”, e principalmente através da imitação, a criança tem a possibilidade de
interiorizar o conteúdo observado.
2.1 Reflexão sobre os Valores Humanos com base na Declaração Universal dos Direitos do
Homem e da Criança
As mudanças sociais trouxeram grandes avanços, mas, por outro lado, também trouxeram
retrocessos, principalmente no que diz respeito os valores humanos. Deteriorando desta forma, o
inter-relacionamento, o convívio social, o espaço do próximo e a paz e união de uma forma geral.
Os valores humanos são fundamentos morais e espirituais da consciência humana. Todos os
seres humanos devem tomar conhecimento dos valores que a eles se encontram ligados de modo
íntimo e necessário. Não é possível encontrar o propósito da vida sem esses valores, eles são a
reserva moral e espiritual reconhecida da condição humana.
Manuel Patrício33 afirma que:
32 Keith Vivian Thomas nasceu em 1933 e é um historiador britanico. È o autor do livro “O homem e o mundo
natural”. São Paulo: Companhia das Letras, 1988.
33 Manuel Ferreira Patrício, é um pensador português, professor Catedrático Aposentado da Universidade de Evora e
18
“Os sujeitos que possuem os valores são os indivíduos, se se trata de valores
vitais, intelectuais, morais e religiosos e as coisas, se se trata de valores
económicos, estéticos etc.. Os valores não se conhecem, estimam-se pois a
faculdade para apreendê-los não é a inteligência, mas a estimativa (intuição
emocional)” (Patrício, M. 1997:283).
O artigo 29º da Declaração estabelece que: “Todo ser humano tem deveres para com a
Doutor Honoris Causa pela Universidade do Porto (2013). E uma referência inolvidável no domínio da Educação,
Pedagogia, Filosofia e Cultura em Portugal.
34 Veja-se em anexo.
19
comunidade, na qual o livre e pleno desenvolvimento de sua personalidade é possível”. Como
podemos confirmar o direito à educação é um direito social, um bem social e uma responsabilidade
da sociedade como um todo. A educação baseada em valores tem um papel de grande importancia
neste sentido. A educação oferece ao indivíduo os recursos para desenvolver a sua personalidade,
que representa o objetivo da vida humana e o fundamento mais sólido da sociedade.
A Declaração Universal dos Direitos da Criança 35 promulgada pela Organização das Nações
Unidas, em 1959 considera que:
“A criança tem direito à educação, que deve ser gratuita e obrigatória, pelo
menos nos graus elementares. Deve ser-lhe ministrada uma educação que
promova a sua cultura e lhe permita, em condições de igualdade de
oportunidades, desenvolver as suas aptidões mentais, o seu sentido de
responsabilidade moral e social e tornar-se um membro útil à sociedade. O
interesse superior da criança deve ser o princípio directivo de quem tem a
responsabilidade da sua educação e orientação, responsabilidade essa que
cabe, em primeiro lugar, aos seus pais. A criança deve ter plena oportunidade
para brincar e para se dedicar a actividades recreativas, que devem ser
orientados para os mesmos objectivos da educação; a sociedade e as
autoridades públicas deverão esforçar-se por promover o gozo destes
direitos” (Declaração Universal dos Direitos da Criança, 1959: Princípio 7º).
Os direitos humanos não são aprendidos de cor, mas praticados, caso contrário desvanecem
da consciência da humanidade. A tarefa de humanizar deve manifestar-se nas nossas iniciativas
educativas.
De um modo geral, os valores morais começam a ser transmitidos às pessoas nos seus
primeiros anos de vida, através do convívio familiar. Com o passar do tempo, estes valores vão-se
aperfeiçoando a partir de observações e experiências obtidas na vida social. Por vezes os valores
podem entrar em conflito com as ações, palavras ou comportamentos. Quando as ações não estão
em sintonia com os valores, um sentimento desconfortável apodera-se do ser humano, uma
sensação desagradável, é como um alerta de que algo está errado.
Vivemos tempos críticos, violentos e desesperados devido ao facto de grande parte da
humanidade ter esquecido os seus valores. Verificamos que, sem o exercício dos valores intrínsecos
ao ser humano, a qualidade de vida no planeta vai-se deteriorando. O resgate dos valores humanos é
35 Veja-se em anexo.
20
essencial, pois neles reside o grande instrumento de aprimoramento e o traço de união dos povos,
sem distinção. Os valores promovem a verdadeira felicidade do homem e do mundo.
Nos dias que correm, uma das maiores preocupações dos pais, da escola e da sociedade
como um todo, tem sido de oferecer às crianças e adolescentes conhecimentos e profissionalização
para atingir espaço no mercado de trabalho, visando ascensão social e profissional, e ainda
enfatizando a individualidade e a competitividade. Conserva-se, assim sendo, esquecida, a base de
valores humanos, tão essenciais para a vida, que conferem uma realização e felicidade verdadeira. A
vivência dos valores cimenta o carácter e reflete-se na conduta do ser humano.
De acordo com Manuel Patrício:
Entende-se que a educação transcende os muros da escola, sendo influenciada por todos os
espaços onde os alunos convivem. Não basta que só as crianças sejam educadas em valores, é
preciso que esta educação seja estendida aos pais, professores, comunidade escolar e sociedade.
Contudo, os valores não podem ser impostos às crianças de forma a sufocar a sua personalidade,
mas percebidos por elas nas atitudes de todos que educam.
Sathya Sai Baba36 considera que os cinco valores humanos essenciais são: Verdade, Retidão,
Paz, Não-Violência e Amor (que deve expandir-se dentro de nós e alimentar todos os outros
valores). Nas palavras de Sathya Sai Baba, a educação voltada para a aquisição da consciência
sobre os valores humanos deve conduzir ao seguinte resultado:
36 Sathya Sai Baba (1926-2011) nasceu no sul da Índia e foi um guru líder espiritual, místico, filantropo e educador,
considerado por muitos como um Avatar (encarnação na forma humana de um ser divino). Criou a Organização
Sathya Sai na década de 1960, que visa a purificação mental - através do Serviço, da Devoção e da Educação em
Valores Humanos - com a finalidade de alcançar a percepção da Divindade. Também fundou um grande número de
escolas, universidades, hospitais e outras instituições de caridade na Índia e em outros países. A mensagem de Sai
Baba tem inspirado a criação de milhares de Centros Sai em todo o mundo, além de colégios, escolas técnicas,
centros de educação em Valores Humanos, universidades, hospitais, centros de assistência médica, etc., tendo
bastante influência na política indiana e todas prestam atendimento totalmente gratuito e são muito conhecidas na
Índia e em diversos Países.
21
“Quando os pensamentos emanarem de uma mente purificada pelo amor,
eles resultarão em retidão. Quando o amor se torna parte de sua experiência,
de seu pensamento e de sua ação, você consegue a paz. Quando você
compreende o amor claramente, isso resultará automaticamente em não
violência. Então, o amor é a invisível corrente subterranea, unindo a todos os
quatro valores humanos. Ele pode ser resumido assim: Amor no pensamento
é Verdade; Amor como sentimento é Paz; Amor na ação é Retidão; Amor
com compreensão é Não-violência. O amor é o denominador comum para
todos esses valores”.37
As novas gerações possuem uma nova visão do mundo, os interesses são outros e a forma de
aprendizagem e crescimento também é outra. A educação deve, portanto, acompanhar essa evolução
sem deixar de exibir a importancia e a necessidade de se conservar “valores base”, que,
independente da evolução do mundo, são indispensáveis para haver convívio e relacionamento entre
as pessoas.
E de extrema importancia formar as crianças com a capacidade de lutar pelos seus direitos e
pelos direitos dos outros e sem dúvida que esta é uma tarefa essencial da escola e, portanto, ela deve
empenhar-se em transmitir aos seus alunos uma educação que os leve a agir de acordo com os
princípios éticos e morais.
Assim, constatamos que a formação da personalidade das crianças/adolescentes está
comprometida pelo desequilíbrio social, onde não se valoriza o amor pelo próximo, o respeito
mútuo; onde se concede mais valor ao ter que ao ser.
37 Site oficial da Organização Sri Sathya Sai no Brasil: http://www.sathyasai.org.br, pensamento para o dia 10/07/2006.
22
Segundo Olga Reverbel38 (1979), o teatro é a arte de manipular os problemas humanos,
ponderando-os. Ela defende a função eminentemente educativa e ressalta que a instrução ocorre
através da diversão. Para a autora, a importancia da diversão justifica-se porque imitar a realidade
através do “brincar” aprofunda a descoberta. Defende ainda que as crianças têm a necessidade de
brincar/jogar para se orientar no espaço, pensar, comparar, compreender, perceber, sentir para
descobrir o mundo, integrar-se com o meio, construir o conhecimento e a socialização.
O teatro na escola, objetiva que o aluno desenvolva um maior domínio do corpo, tornando-o
expressivo, um melhor desempenho na verbalização, uma melhor capacidade para responder às
situações emergentes e uma maior capacidade de organização de domínio de tempo.
2.4 O contributo do Teatro para o desenvolvimento dos valores no 1º Ciclo do Ensino Básico
“Pelo seu grande valor de envolvimento emocional, pelo seu poder de contar
histórias e acontecimentos, de comunicação social, de crítica, de formação e
de informação, desde há alguns séculos que tanto vários pedagogos como
homens do teatro têm chamado a atenção para a valiosa contribuição que o
teatro poderia proporcionar à educação” (Sousa, 2003:80-81).
38 Olga Garcia Reverbel (1917-2008) foi uma teórica, autora e professora brasileira. Pioneira nos estudos e práticas das
relações entre teatro e educação no Brasil e autora de diversas publicações sobre o tema, Olga é considerada
nacionalmente uma das precursoras do movimento conhecido como Teatro e Educação, alinhado às questões da cena
e da educação contemporaneas, presentes nos debates sobre ensino de teatro.
23
a educação para os valores na escola esteja presente em qualquer disciplina
curricular. E então necessário que todos os professores estejam alertados
para a presença dos valores e apetrechados com métodos que promovam nos
alunos a descoberta que eles mesmos tiveram que fazer” (Patrício, M.
1997:146).
Origem e evolução
Durante a Idade Média, que vai desde a queda do Império Romano do Ocidente, em 395, até
a queda do Império Romano do Oriente, em 1493, o teatro quase desapareceu na Europa. Os únicos
vestígios eram espetáculos de rua em que indivíduos faziam palhaçadas, utilizavam mímica e
pantomimas. Isto até o seu ressurgimento a partir da liturgia da Igreja.
A maior parte da informação de como era o teatro na época medieval provém sobretudo dos
países da Europa culturalmente mais desenvolvidos, onde o teatro conseguiu ganhar importancia e
daí espalhar-se para outros países vizinhos. Nesse contexto cabe o que afirma Jonh Gassner39, ou
seja, que:
39 John Waldhorn Gassner (1903-1967) foi um crítico e historiador do teatro norte-americano, um dos mais
importantes do século XX.
24
que se refere a uma dramaturgia significativa e durante seis séculos o teatro
esteve, por assim dizer, trancado a sete chaves” (Gassner, 1974:157).
O teatro religioso
No diz respeito ao teatro religioso, vale ressaltar outra observação feita por Jonh Gassner, a
de que: “O traço mais marcante do teatro medieval é que começou como uma comunhão na igreja e
terminou como uma festa comunal” (Gassner, 1974:155).
As únicas provas de como teria sido o teatro religioso medieval provêm dos países onde
ocorreu um grande surto de desenvolvimento cultural, como a Inglaterra, França e outras nações
europeias. Nesta modalidade de teatro existiam espetáculos que eram representados mesmo dentro
das igrejas, como os mistérios e os milagres, e outros que eram em geral apresentados em espaços
exteriores a ela, como as moralidades.
Obtém-se uma visão mais ampla do universo teatral que se configurou na Idade Média
através do que aponta Margot Berthold40, quando afirma:
Embora estas formas teatrais fossem muito mais desenvolvidas do que os primeiros esboços
40 Autora do livro “História Mundial do Teatro”. São Paulo, Editora Perspectiva, 2001.
25
dos jograis, elas ainda se apoiavam muito mais na linguagem gestual que na verbal (salvo as
moralidades) e, nos primeiros tempos, eram representados por membros do clero que usavam como
veículo de expressão o latim. Os fiéis, quando conseguiam algum tipo de participação, atuavam
apenas como figurantes. Pouco a pouco, porém, a situação foi-se modificando, os atores passaram a
ser gente do povo, o local de representação deixou de ser a Igreja e a língua usada passou a ser a do
país.
“(...) uma vez que a dramaturgia conquistara um tema rematado nas
narrativas bíblicas e se tornara flexível, bem como compreensível para
aqueles que não conheciam o latim, dela podiam se encarregar laboriosas
classes médias das cidades. Ademais, as representações transcenderam os
limites físicos das catedrais e tiveram de ser encenados no adro, finalmente
foram transferidos para as ruas e praças públicas. Mais uma vez, como na
Grécia, o drama deixou a Igreja” (Gassner, 1974:162).
Para que possamos compreender melhor todo o contexto no qual está inserido o teatro
religioso, é importante que façamos uma breve referência do que foram os misterios, milagres e
moralidades.
Os misterios, também conhecidos como dramas litúrgicos, tinham como principal tema as
festividades religiosas descritas nas Sagradas Escrituras da Bíblia. O Natal, a Paixão e a
Ressurreição na Páscoa, eram alguns dos episódios mais frequentemente representados. Eram
constituídos por quadros mais ou menos soltos e numa fase mais avançada, cada um deles era
representado por uma corporação, fazendo num dia, os armeiros por exemplo, a expulsão do
paraíso; noutro, os padeiros a última ceia; noutro os pescadores e marinheiros o dilúvio; e por aí
adiante. A ordem das cenas era extremamente desorganizada. Só mais tarde é que se começou a
ordená-las devidamente. No início da Idade Moderna, a abusiva mistura do litúrgico e do profano
levou a Igreja a proibir os mistérios.
A respeito dos milagres, podemos dizer que estas representações retratavam a vida dos
servos de Deus (a Virgem, os Santos e etc.) e nelas, por vezes, apareciam as pessoas a quem os
santos ajudavam. Com o correr do tempo os milagres (ao contrário dos misterios e das moralidades)
não sofreram alterações e quer o conteúdo, quer a forma de os representar mantiveram a forma
original, o que acabou por gerar o seu progressivo abandono. Quem escrevia os misterios e
milagres ocasionalmente conseguia despertar emoções nas pessoas que observavam as suas peças,
26
embora não pudesse modificar muito a história na qual se baseara, pois a Igreja defendia que as
escrituras deviam ser representadas de maneira verídica diante do povo, dando assim pouca
liberdade para a invenção.
As moralidades são representações que se desenvolveram mais tarde que os outros dois
géneros. Tal como estes, estavam repletas de ensinamentos cristãos, mas tinham um carácter mais
intelectual e em vez de utilizar personagens da Bíblia, serviam-se de figuras que personificavam
defeitos, virtudes, acontecimentos e ações.
As moralidades tinham sempre intenção didática, pretendiam transmitir lições morais e
religiosas, e até, por vezes, políticas. Por isso, mais do que a mímica e a movimentação, mais do
que o espetáculo que apela principalmente ao ambito visual, nelas as palavras são o que há de mais
importante. As lições que delas eram provenientes eram edificantes, pois mostravam bons exemplos
que deviam ser seguidos e só muito raramente continham sátiras ou pretendiam causar polémica.
A moralidade pode ser considerada um grande passo em direção ao teatro moderno, mais até
que todas as outras formas do teatro medieval, já que o autor tem autonomia para desenvolver os
assuntos, embora mantendo-se dentro do tema principal destas representações: a luta entre o bem e
o mal existente na alma humana. Aqui surge a oportunidade de analisar qualidades e defeitos e dar
relevo a determinadas características psicológicas das figuras.
O teatro profano
Durante a Idade Média, além do teatro religioso, existiu um teatro profano derivado do
teatro litúrgico, mas representado nos palácios ou nos seus pátios por jograis, em ocasiões não-
relacionadas ao culto religioso. Associadas às festas populares, limitavam-se a vistosos desfiles de
personagens das novelas de cavalaria, brincadeiras jocosas, arremedilhos (imitações cómicas e
satíricas), pantomimas alegóricas (atores mascarados, por meio de gestos e contorções, quase sem
palavras, davam a ideia das personagens e das suas ações, à maneira da palhaçada circense) e outras
modalidades das quais quase não há registro. Os principais géneros eram a farsa, a sotie, o momo, o
entremez, o sermão burlesco e o auto pastoril.
As farsas
Eram sátiras que só pretendiam representar os defeitos, as fraquezas, os acontecimentos
cómicos da vida das pessoas e rir-se deles despreocupadamente, de um modo grosseiro até.
Histórias de clérigos e feiras eram muitas vezes aproveitadas para pequenas farsas. Utilizavam o
exagero para suscitar o riso e caracterizavam-se por um livre jogo de ideias satíricas, por elementos
27
burlescos e intensidade de ação.
Os momos
Representações mascaradas e pomposas de pessoas e animais com, às vezes, centenas de
figurantes; assemelhavam-se às pantomimas pela prevalência da mímica sobre a fala. Especialmente
apreciados em Portugal, misturavam cavaleiros, nobres e mascarados representando gigantes,
dragões, demónios ou animais insólitos. Alguns contavam com o patrocínio e a participação do
próprio rei D. João II41, por exemplo, foi o ator principal de momos, em Evora, em 1490.
Os entremezes
Consistiam em encenações breves de jograis ou bufões, realizadas originalmente entre um
prato e outro, nos banquetes fidalgos, na Idade Média. A função do entremez era preencher os
intervalos da função teatral mais importante, era como uma pausa que desanuviava com o riso
alegre a seriedade e a comoção da peça principal.
Os sermões burlescos
Eram monólogos breves recitados por atores ou jograis mascarados com vestes sacerdotais
ou pequenas farsas sobre histórias de clérigos e freiras, com imitações jocosas de atos religiosos,
como sermões, ladainhas etc.
41 João II de Portugal (1455-1495) foi o décimo-terceiro Rei de Portugal, cognominado O Príncipe Perfeito pela forma
como exerceu o poder. Filho do rei Afonso V de Portugal, acompanhou o seu pai nas campanhas em África e foi
armado cavaleiro na tomada de Arzila. Enquanto Afonso V enfrentava os castelhanos, o príncipe assumiu a direcção
da expansão marítima portuguesa iniciada pelo seu tio-avô Infante D. Henrique.
28
o ideal de vida simples ao de regeneração do cristianismo, de volta à pureza primitiva dos apóstolos
de Cristo.
Na Idade Média, muito embora a Igreja tivesse proibido os espetáculos profanos, estes não
perderam sua força e eram realizados dentro dos castelos feudais. Por serem clandestinos, a sua
documentação é mínima.
Embora a era medieval seja um longo período da história (século V ao século XV) que aos
poucos se foi modificando, as principais características do teatro medieval eram:
• Tradição oral
• Carácter popular
• Espaço cénico: igrejas e praças
• Temas sagrados e profanos
• Usos de máscaras
• Personagens alegóricos
• União da dança, música e teatro
No final da Idade Média e no começo do século XVI surgiram dois dramaturgos que, sem
abandonar a técnica medieval, introduziram ideias que misturavam o humanismo e o renascimento:
Fernando de Rojas42 e Gil Vicente43.
29
fundamentavam no princípio universal decorrente da Queda e da Redenção da Humanidade, ou
seja, o homem é destinado a morrer em pecado, a menos que seja salvo pela intervenção divina.
Assim, os temas tinham sempre intenção didática, pretendiam transmitir lições morais e
religiosas, e até, por vezes, políticas. Por isso, as personagens eram abstrações personificadas de
vícios ou virtudes do homem, onde o protagonista era sempre a humanidade.
Assim sendo, podemos afirmar que as palavras eram muito mais relevantes que o próprio
espetáculo, repleto de alegorias, pois, delas retiravam-se as lições de bons costumes a ser seguidos.
As Moralidades também visam despertar o interesse do público através do riso. O cómico ficava
geralmente a cargo dos vícios, do Diabo ou da figura do indivíduo tolo, os quais, em contraste com
as personificações do bem, se mostravam como criaturas divertidas capazes de seduzir o ser
humano.
A mais famosa Moralidade é Todo-o-Mundo, uma obra prima anónima, em língua inglesa,
redigida no final do século XV. Nesta Moralidade, a personagem Todo-o-Mundo é chamada pela
Morte, para prestar conta da sua vida no seu momento final.
Na literatura portuguesa, Gil Vicente é o dramaturgo mais representativo deste género
dramático. A produção de Gil Vicente (autos de devoção), pela sua estrutura ou temática, poderia
enquadrar-se no ambito dos Mistérios, Milagres ou Moralidades Medievais. O próprio dramaturgo
designa genericamente por Moralidade todo o conjunto das suas peças de inspiração religiosa, das
quais se destacam a trilogia das Barcas e o Auto da Alma.
Pavis define a Moralidade como:
30
3.3 A Moralidade Inglesa de Todo-O-Mundo como ferramenta de interiorização dos Valores
Humanos
31
3.3.1 Sinopse da Moralidade de Todo-o-Mundo
A peça medieval que serviu de base para o nosso estudo, intitula-se Todo-o-Mundo (The
Summoning of Everyman44) e é considerada por John Gassner a única obra prima entre as
moralidades.
A peça Todo-o-Mundo, inicia-se com a chegada de um mensageiro, cuja missão é introduzir
ao espetador a árdua peregrinação que travará o seu protagonista Todo-o-Mundo. Em seguida,
temos o discurso de Deus que, insatisfeito com a humanidade, convoca a Morte para uma conversa.
A Morte é enviada por Deus para perguntar a Todo-o-Mundo se este se tinha esquecido do
Senhor, escolhendo ter uma vida mundana em relação à fidelidade e aos preceitos da Igreja e da
Religião (Católica). Sentindo-se culpado, Todo-o-Mundo é convocado para realizar uma longa
peregrinação para a remissão dos seus pecados. Sozinho, o protagonista pede à Morte que não o
deixe só. Esta informa-o que poderá levar consigo alguma companhia, mas que ninguém o quer
acompanhar durante a travessia, que determinará a sua condenação ou a sua salvação. Todo-o-
Mundo procura desesperadamente apoio na Amizade, Parentes e Bens, personagens alegóricas que
cruzam o seu caminho, mas todos se recusam a acompanhá-lo. Então, Todo-o-Mundo volta-se para
Boas Ações, Entendimento, Confissão, Beleza, Discrição, Força e Cinco Sentidos. Esse grupo de
alegorias acompanhará Todo-o-Mundo ao longo do caminho, ajudando-o a arrepender-se e
incentivando-o a praticar a caridade. No entanto, ao verem a Morte à porta do túmulo de Todo-o-
Mundo, vão embora com medo. Por fim, Boas Ações é a única personagem que o acompanha até o
final.
32
concedem prioridade à primeira edição inglesa, surgida em 1509, ou à
publicada em Delft, na Holanda, em 1495 [...], o teatro conserva-se fiel a ela
há quinhentos anos” (Berthold, 2005:266).
Podemos perceber que a peça Todo-o-Mundo, embora conhecida na literatura inglesa dos
séculos XV e XVI, traz em si uma temática universal, sendo a base ancestral das Moralidades
europeias. Isto porque, embora existam outras moralidades precedentes, Todo-o-Mundo foi a
primeira moralidade a ser considerada a obra-prima do género.
Vejamos a opinião de John Gassner em relação à temática da peça:
33
da vida e a busca de bens materiais, as pessoas esquecem-se de pedir a Deus para receber o perdão
pelos seus pecados, os quais Ele está pronto para conceder. Deus chama a atenção para essa falha
humana perto do início da peça;
Julgamento Final: nenhum ser humano pode escapar do julgamento final. Deus diz à Morte
que chegará o dia em que cada pessoa deve empreender uma viagem final e prestar contas da sua
vida diante do Senhor. Ninguém pode escapar a esta lição; cada pessoa terá de enfrentar um dia de
ajuste de contas.
A simplicidade com que o tema é exposto, acaba por aproximar a obra à plateia. Todo o
julgamento de valores morais que ocorre na peça é de fácil entendimento. O espectador identifica-se
com Todo-o-Mundo e passa a temer o julgamento divino tanto quanto ele. A dramaturgia medieval
traduz o pensamento do período, é uma exaltação da virtude e o repúdio dos vícios de modo a
possibilitar a redenção da alma humana.
45 Segundo a informação contida na plataforma DeGóis, Rita Gisela Martins de Azevedo concluiu, em Junho de 2010,
o Doutoramento na Universidade de Salamanca com a Tese "Teatro, Educação e Género: Análise Dramatúrgica das
Osmias publicadas em Portugal. 1788-1818." E Professora Auxiliar na Universidade de Trás-os-Montes e Alto
Douro. Atua nas áreas de Humanidades com ênfase em Artes, Ciências Sociais e Ciências da Comunicação, e mais
particularmente no Teatro e/ou Estudos de Género. Paralelamente, desenvolve investigação na área do Gentle
Teaching International e privilegia o trabalho voluntário em diversas instituições ou associações na área do Teatro,
Expressão Dramática e Caracterização facial/ corporal. Atualmente é investigadora no Centro de Investigação das
Tecnologias e das Artes da Universidade Católica e colabora com o Centro de Estudos de Teatro da Faculdade de
Letras da Universidade de Lisboa.
34
Partindo deste pressuposto, neste último capítulo iremos analisar a cena de referência.
TODO-O-MUNDO
35
BOAS-ACÇÕES
TODO-O-MUNDO
BOAS-ACÇÕES
TODO-O-MUNDO
BOAS-ACÇÕES
TODO-O-MUNDO
36
BOAS-ACÇÕES
TODO-O-MUNDO
BOAS-ACÇÕES
TODO-O-MUNDO
BOAS-ACÇÕES
37
TODO-O-MUNDO
BOAS-ACÇÕES
Fá-lo-ei de boamente:
Já que não posso andar pelo meu pé,
Tenho um irmão disposto a acompanhar-te:
Conhecimento é o seu nome e não
Te faltará na hora do ajuste.
[Entra o Conhecimento.
CONHECIMENTO
TODO-O-MUNDO
BOAS-ACÇÕES
38
TODO-O-MUNDO
Decidimos escolher esta cena porque é nela que Todo-o-Mundo começa a entender que as
boas-ações – valores – são o que é mais importante durante a vida do ser humano e, por isso,
começa a tentar corrigir aquilo que durante a vida não o preocupou.
Concluímos que esta cena poderá despertar nas crianças a consciência de que os valores
humanos são absolutamente necessários na vida do ser humano.
A intriga:
“consiste em colocarmo-nos no coração da ficção e desenrolar os seus fios
para descobrir a mecanica que subentende. A intriga visa a construção dos
acontecimentos, as suas relações de causalidade, onde a fábula se limitava a
encarar uma sucessão temporal de factos” (Ryngaert, 1992:73).
39
“todos os indivíduos postos em scena n ú ma obra dramática, todos os que
tomam qualquer parte na acção imaginada pelo autor (...) cada personagem é
confiado a um actor ou a uma actriz, que fica assim encarregado de o
personificar (...) e de sustentar o seu carácter com toda a naturalidade e toda
a verdade possível” (Bastos, S. 1994:112).
Motos e Tejedo afirmam que: “sin personajes y sin conflicto no hay drama, no hay teatro”
(Motos, T; Tejedo, F. 2007:20).
Para Ryngaert “o actor é um intérprete que não se confunde com a ficção, que o público não
identifica imediatamente como a encarnação da personagem textual” (Ryngaert, 1992:136).
Constantin Stanislavski47, na sua obra A Construção da Personagem, afirma que a
“caracterização externa explica e ilustra e, assim, transmite aos espectadores o traçado interior do
seu papel” (Stanislavski, 1986:27), a caracterização é “a mascara que esconde o individuo-ator.
Protegido por ela, pode despir a alma até o último, o mais íntimo detalhe” (Stanislavski, 1986:53).
Analisemos então as personagens do texto dramático de partida.
Todo-o-Mundo
Ser humano típico que tem negligenciado a sua vida espiritual, esquecendo-se da
importancia da caridade e da ameaça potencial do fogo eterno do inferno, mas se arrepende dos seus
pecados a tempo de ser salvo. Esta personagem representa todos os homens. Ele veste-se com
roupas finas e parece ter levado uma vida selvagem e pecaminosa. Durante toda a peça, é lhe dito
que ele vai morrer (e, portanto, ser julgado) sofre, então, uma peregrinação na qual ele se absolve
do pecado. Esta personagem é abandonada por todos os seus amigos, com a exceção de Boas-
Ações.
Boas-Ações
O único amigo disposto a acompanhar Todo-o-Mundo na vida após a morte. E a única
personagem que não desampara Todo-o-Mundo, e no final da peça, o acompanha ao seu túmulo.
Boas-Ações simboliza os atos de caridade e bondade realizados por Todo-o-Mundo. Quando o
público tem a primeira visão de Boas-Ações, esta está deitada no chão, gravemente enfraquecida
pelos muitos pecados de Todo-o-Mundo.
47 Constantin Stanislavski (1863-1938) hombre de teatro russo. Actor, director y maestro de actores, una de las figuras
más importantes del teatro del siglo XX. DIETERICH, Genoveva. Diccionario del teatro. Madrid: alianza editorial,
2007, p. 333.
40
Conhecimento
E uma personagem amigável que irá fornecer um bom conselho a Todo-o-Mundo.
Conhecimento serve como um importante guia para Todo-o-Mundo, é a personagem que lhe diz o
que ele deve fazer para obter a salvação. O conhecimento leva Todo-o-Mundo à Confissão, que, por
sua vez, representa a melhor oportunidade do homem para a salvação, já que reconhecer os pecados
de Todo-o-Mundo e pedir perdão a Deus é um elemento importante do catolicismo. Apesar de
Conhecimento poder acompanhar Todo-o-Mundo durante parte da sua jornada, este não pode
completar a viagem com ele.
Os elementos paratextuais, ou as didascálias, são “textos que não são destinados a ser
pronunciados em palco, mas que ajudam o leitor a compreender e a imaginar a ação e as
personagens” (Ryngaert, J. 1992:54). Mesmo que não se cumpram as suas indicações, são de grande
utilidade nos ensaios, quer para o encenador, quer para o ator. Vejamos a opinião de Patrice Pavis
sobre as didascálias:
“contienen más bien informaciones sobre las obras, sus fechas y lugar de
composición y representación, el resultado de certámenes dramáticos, etc.
En las didascálias están tan ausentes las acotaciones concretas sobre la
manera de actuar, que no se sabe claramente quién pronuncia las réplicas
cuando estás aparecen recortadas por un trazo distintivo” (Pavis, 1990:136).
Em nosso entender, as didascálias são importantes, não só para situar os alunos na ação, mas
também para auxiliar na encenação, pois dão indicações sobre a forma de atuar. As didascálias são
fundamentais para complementar o texto teatral, uma vez que compõem a ação falada.
Analisemos então as didascálias presentes na cena de referência por nós escolhida de Todo-
o-Mundo.
41
Após a análise do quadro podemos verificar, vejamos a função das didascálias de acordo
com os exemplos apresentados:
1) As didascálias de cenário indicam uma ação que deve fazer o ator em cena.
2) Didascálias de movimentação indicam ao ator para onde se deve movimentar em
palco.
Como temos vindo a constatar, na peça Todo-o-Mundo encontramos valores que são
importantes para os dias de hoje, e nomeadamente, para as crianças do 1º Ciclo do Ensino Básico,
uma vez que, valorizam outros aspetos da vida em sociedade, deixando, muitas vezes, para segundo
plano o que realmente é importante - os valores.
42
significado dos seguintes valores abordados na cena:
Amizade – afeição por uma pessoa; estima, simpatia.
atitude nobre.
Justiça – virtude moral que inspira o respeito pelos direitos de cada pessoa e a atribuição do
Piedade – amor e respeito pelas coisas religiosas; devoção; religiosidade; compaixão; dó;
misericórdia.
quem é grato.
Ao analisar os valores presentes na cena de referência, constatamos que todo o ser humano
devia ser portador dos mesmos e aplicá-los no seu quotidiano de forma assídua.
As boas ações que praticamos hoje ser-nos-ão retribuídas no futuro, pois as boas ações
geram boas ações. O conjunto de valores, representados pela personagem Boas-Ações, fazem ver
que o que pode ser melhor do que se sentir bem é praticar o bem e, quando alguém recebe esse
positivismo, também vai querer transmiti-lo e sentir esse bem estar em dobro.
As ações simples, que muitas vezes passam despercebidas na correria do dia-a-dia, fazem
toda a diferença para a boa vida em sociedade. Então, o ser humano deve espalhar sorrisos, abraços,
amabilidades, afim de deixar o mundo mais feliz e bonito.
Nas palavras de Sathya Sai Baba:
“Existe uma só lei que guia e protege este mundo: a lei do amor. Cada
comunidade ou cada nação tem a alegria ou o sofrimento, a vida boa ou
difícil que tenham sido determinados pelas suas atividades e que delas
43
derivem. O “mal” visto um ponto de vista diferente é, de facto, também um
“bem”: serve para ensinar aquilo que deve ser evitado; nunca será mau ou
negativo para sempre, pois a sua existência será sempre breve. Nem o “bem”
nem o “mal” podem ser julgados como estados absolutamente irremediáveis.
O conhecimento revela e esclarece que tanto o bem como o mal não são
senão reações provocadas por faltas ou sentimentos da mente humana”.49
Ao analisar as palavras de Sathya Sai Baba, constatamos que o ser humano, desde o seu
nascimento, deve ser ensinado e estimulado a praticar o bem. A transmissão de valores humanos
dignos é relevante, e não apenas na vida individual, mas também na vida coletiva, uma vez que
vivemos em sociedade.
O conhecimento auxilia o ser humano a aproxima-se dos valores e, deste modo, a adquirir a
capacidade de compreender o outro. A ignorancia do ser humano, faz com este não respeite o outro;
não estime o próximo; não tenha atitudes nobres; não tenha misericórdia; não reconheça um
beneficio que recebeu; não se predisponha a desejar o bem a alguém.
Como podemos verificar, no geral, vivemos num mundo egoísta e, sem percebermos,
tornamos-nos ignorantes e carecemos de um objetivo neste mundo. Existem ações simples e fáceis
que podemos fazer para tornar o lugar que vivemos num lugar melhor e mais feliz. A inveja
consome as boas ações. O ser humano que pratica boas ações, provará boas ações, elas elevam o
espírito e desencadeiam a prática de outras.
44
CONCLUSÃO
Chegados a este ponto, cabe-nos agora refletir sobre o resultado do nosso trabalho final no
ambito do Mestrado em Ensino de Teatro da Universidade de Trás-Os- Montes e Alto Douro.
Iniciamos o nosso estudo com o objetivo de esclarecer conceitos-base que julgamos serem
fundamentais para o desenvolvimento da temática do teatro medieval como ferramenta de
interiorização dos valores humanos, como, expressão dramática, jogo dramático, dramatização,
improvisação, teatro infantil, teatro para a infancia e claro, teatro.
Na nossa fundamentação teórica pudemos constatar que o teatro é uma expressão artística a
ser apreciada, onde inúmeras linguagens se reúnem para discutir o Homem. E a única arte onde se
vê o drama acontecer diante dos olhos. No teatro presenciamos - é a grande diferença entre o contar
e o mostrar, que o teatro tem como único.
Como já assinalamos, o teatro na escola pode colaborar para que as crianças se relacionem
melhor com os colegas e com o meio onde vivem. Também permite que construam o seu
conhecimento e se tornem mais participativas e responsáveis nas atividades dentro da sala de aula,
projetos e dinamicas; formando assim indivíduos críticos que opinam e sugerem, que valorizam as
experiências e sabem lidar com as diferenças sociais. Os professores, familiares e a comunidade,
devem conhecer a importancia do teatro na formação dos alunos e dos seus valores, a fim de
contribuírem oferecendo a sua participação aos mesmos. À criança, deverão ser oferecidos vários
conhecimentos, para que ela amadureça a sua visão e contraponha o que conhece com o que
desconhece e para que, principalmente, ela desperte a sua sensibilidade para se perceber, para
perceber o outro, ou seja, para perceber o mundo que a rodeia.
Assim, o teatro e as técnicas teatrais incentivam a discussão de problemas rotineiros, ao
considerarem a melhor forma de lidar com eles e conservarem o que aprenderam, levando
conhecimentos escolares para a vida, pois eles não se desintegram nesta situação, são unidos e por
isso, as atividades recebem mais significado e valor.
Numa educação de cariz humanista, o teatro é considerado como pedagogia em si mesmo,
porque é composto por um coletivo de valores, regras, princípios, preceitos, modelos e pressupostos
teóricos e práticos. O teatro possibilita que a aprendizagem se realize, usando um caminho que
privilegia os sentidos e as emoções e que, ao mesmo tempo, suscita o desenvolvimento da
sensibilidade estética e artística.
Aristóteles50 afirma que “desde a infancia os homens têm, inscritas na sua natureza, ao
50 Aristóteles (Estagiros, 384 – Eubeia 322 a.C) foi um filosofo grego. Escreveu sobre diversas áreas: politica, lógica,
moral, ética, teologia, pedagogia, metafísica, didática, poética, retórica, física, antropologia, psicologia e biologia.
45
mesmo tempo uma tendência para representar (...) e uma tendência para ter prazer nas
representações”. (cit. in Costa, I. 2003:17).
Nesta linha de pensamento, também defendemos que as crianças têm a necessidade de
representar, sendo essencial para tal que o professor tenha em consideração uma metodologia que
permita à criança usufruir de um processo de trabalho lúdico e pedagógico que a favoreça de forma
global.
Parece-nos importante salientar que é possível combinar aos variados contextos escolares a
prática teatral como ferramenta do desenvolvimento humano, não só para a leitura, mas para
auxiliar em conteúdos como a cidadina, a convivência em grupo, a ética, a tolerancia, entre outros
valores desejáveis.
A nossa experiência permite-nos afirmar, que a causa dos conflitos que inquietam a
humanidade está na negação dos valores como apoio e inspiração para o desenvolvimento integral
do potencial individual e consequentemente social. A consciência de que o respeito ao próximo
deve ser um imperativo na convivência social, pode ajudar a evitar uma das consequências mais
desagradáveis e negativas que o conflito de diferentes valores morais pode provocar: a
discriminação e o preconceito.
46
II Parte – PARTE PRÁTICA
47
INTRODUÇÃO
48
1. CARATERIZAÇÃO DO MEIO ENVOLVENTE
Vila Real é uma cidade da província de Trás-os-Montes e Alto Douro situada a uns 450
metros de altitude, sobre um alongado e pitoresco promontório, voltado a sul, sobranceiro à
confluência do rio Cabril com o rio Corgo, um dos afluentes do Douro. Localiza-se num planalto
rodeado de altas montanhas, em que avultam as serras do Marão e do Alvão.
Dista aproximadamente 85 quilómetros, em linha reta, do Oceano Atlantico, que lhe fica a
Oeste, 15 quilómetros do rio Douro, que lhe corre a Sul, e, para Norte, cerca de 65 quilómetros da
fronteira com a Galiza, Espanha.
Vila Real é sede de concelho e capital de distrito. E limitado a Norte pelos concelhos Vila
Pouca de Aguiar e de Ribeira de Pena, a Sul pelo concelho de Santa Marta de Penaguião e Peso da
Régua, a Oeste pelo concelho de Mondim de Basto e a Este pelos concelhos de Sabrosa e Alijó.
Relativamente aos distritos, é limitado a Leste por distrito de Bragança, a Oeste pelo distrito do
Porto e de Braga, a Sul com o distrito de Viseu e a Norte com Espanha.
O concelho é constituído por 20 freguesias: Abaças, União das Freguesias de
Adoufe/Vilarinho de Samardã, Andrães, Arroios, União das Freguesias de Borbela/Lamas de Olo,
Campeã, União das Freguesias de Constantim/Vale de Nogueiras, União das Freguesias de
Nogueira/Ermida, Folhadela, Guiães, União das Freguesias de São Tomé do Castelo/Justes, União
das Freguesias de Mouçós/Lamares, Lordelo, Mateus, Mondrões, União das Freguesias da Cidade,
Parada de Cunhos, União das Freguesias de São Miguel da Pena/Quintã/Vila Cova, Torgueda e Vila
Marim.
A população residente do concelho ronda os 52.000 habitantes, para uma área de cerca de
370 km2. O Concelho de Vila Real, sem prejuízo da feição urbana da sua sede, mantém
características rurais bem marcadas. Dois tipos de paisagem dominam: a zona mais montanhosa das
Serras do Marão e da Alvão, separadas pela terra verdejante e fértil do Vale da Campeã, e, para o
Sul, com a proximidade do Douro, os vinhedos em socalco. Por toda a parte existem linhas de água
que irrigam a área do Concelho, com destaque para o Rio Corgo, que atravessa a Cidade num
pequeno mas profundo vale, originando um canhão de invulgar beleza. Revela indícios de ter sido
habitada desde o Paleolítico, existem vestígios de povos como os romanos, os bárbaros e
muçulmanos. Em 1289, o rei D. Dinis concede carta de foral e é fundada Vila Real com o nome de
Vila Real de Panóias. Desde então a cidade terá evoluído muito principalmente pela sua localização
entre as cidades de Bragança e Porto e também pela sua proximidade com o litoral.
Em 20 de julho de 1925, Vila Real é elevada a cidade. Hoje em dia, a cidade passa por uma
49
fase de crescente desenvolvimento, a nível industrial, comercial e dos serviços, com relevo para a
saúde, o ensino e o turismo.
Miguel Torga52 apresenta o esplendor do douro nas suas palavras:
Segundo os dados fornecidos pelo AVEDC, em 2009, este é constituído por 23 Jardins de
Infancia, 25 Escolas do 1º Ciclo e 1 Escola do 2º e 3º Ciclo. E formado por 49 edifícios escolares e
acolhe 2779 alunos.
52 Miguel Torga (1907-1995) foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX. Destacou-se
como poeta, contista, memorialista, escreveu também romances, peças de teatro e ensaios.
50
“geográfica, abrangendo a sua rede escolar as freguesias de: Torgueda,
Adoufe, Borbela, Campeã, Lamas de Olo, Lordelo, Mondrões, Pena, Quintã,
Parada de Cunhos, Vila Cova, Vila Marim, Vilarinho da Samardã e ainda as
freguesias urbanas de Nª Sr.ª da Conceição, S. Dinis e S. Pedro.”
Esta grande dispersão acaba por ser uma desvantagem, pois existe uma fraca oferta de
serviços de transportes públicos e onde a rede viária apresenta fragilidades estruturais (vias
estreitas, mal conservadas e com traçado irregular), dificultando os acessos aos estabelecimentos de
ensino. Desta realidade surgem alguns constrangimentos como a dificuldade de estabelecer uma
relação de proximidade necessária para se “operacionalizar uma eficaz articulação pedagógica,
funcional e organizativa entre o mesmo e os diferentes níveis de ensino” (AVEDC, 2009).
51
2.1 EB 1 N.º 6 De Vila Real
A EB 1 n.º 6 de Vila Real pertence ao AVEDC, situado no concelho de Vila Real, fazendo a
escola parte da União de Freguesias de Vila Real e situando-se no Bairro das Flores.
A escola é constituída por cinco salas de aula, pertencendo quatro ao Ensino Básico – uma
por turma e uma ao Ensino Pré-Escolar. Também é composta por instalações sanitárias para alunos
e para adultos, tem um pequeno gabinete para reuniões de professores e atendimento aos
encarregados de educação.
Para além destes espaços, existe ainda, uma sala polivalente que é um espaço multiuso onde
as turmas realizam atividades complementares das áreas curriculares e outras lúdicas. Possui, ainda
um refeitório onde as crianças almoçam.
Este ano letivo a escola desenvolveu os seguintes projetos: Eco-Escolas; Projetos Rios;
Crescer a Ler.
3. DOCUMENTOS ORIENTADORES
52
anual de atividades).
Antúnez54 afirma que o PEE constitui “uma proposta integral que permite dirigir
53 Angelina Carvalho e Fernando Diogo são autores do livro Projecto Educativo. Porto: edições afrontamento, 1999.
54 Serafin Antúnez é doutorado em Pedagogia, pela Universidade de Barcelona. Participou em inúmeros congressos
nacionais e internacionais sobre os temas de Organização e direção de centros educativos e formação de professores.
53
coerentemente o processo de intervenção educativa numa instituição escolar.” (cit in Leite, 2001:9).
Na opinião de Carlinda Leite 55:
54
Encontramos assim no PE do AVEDC uma caracterização e análise do agrupamento, tanto
dos espaços institucionais, como da comunidade escolar, constituída por alunos, pessoal docente e
pessoal não docente.
Este documento, após analisar e diagnosticar os problemas inerentes ao agrupamento,
apresenta medidas que possam ultrapassar ou minimizar as limitações que este patenteia, como a
dispersão dos estabelecimentos de ensino e o seu isolamento, a inadequação e insuficiência de
espaços, a existência de alguns comportamento desajustados sobretudo por parte dos alunos que
provêm de famílias que revelam problemas de disfuncionalidade, os fracos resultados obtidos no 3.º
CEB e a fraca adesão das famílias na participação da vida escolar.
Realizado este diagnóstico, o PE apresenta objetivos gerais e específicos, atividades a
desenvolver, e delineia estratégias de modo a colmatar as deficiências detetadas. Estabelecem ainda
metas que o agrupamento se propõe a cumprir.
Este PE está sujeito a uma monotorização e avaliação que incide “não apenas sobre os
resultados mas também sobre os processos (...)” e no final de cada ano letivo é realizada um
reflexão critica “de forma a avaliar a necessidade de promover alterações e/ou ajustamentos ao
plano elaborado (...)” (AVEDC, 2009:78).
55
cada unidade curricular.
Ao analisar o PCA do AVEDC, observamos que este delineia o processo de ensino-
aprendizagem em conjunto com o PE constituindo:
1. Prioridades educativas;
56
7. Avaliação do projeto curricular.
Como podemos verificar o PCA define um esquema de organização que será posteriormente
(através do projeto curricular de turma) adaptado a cada turma tendo em consideração os aspetos
característicos e aprendizagens de cada uma.
Deste modo, ao consultar o PCA, são definidas metas e objetivos, comuns a todos os níveis
de ensino, que visam uma intervenção pedagógico-didática mais eficaz. Assim como no PEA, o
PCA apresenta planos de ação com o objetivo de minimizar as adversidades e podemos aceder à
organização curricular de cada ciclo de ensino, onde são delineadas competências gerais e
específicas, que os alunos deverão desenvolver aquando a conclusão de cada ciclo.
Tal como o PE, também este documento é submetido a uma avaliação para que em função
das exigências dos intervenientes se possam fazer as alterações necessárias.
57
“a composição e as competências dos diversos órgãos de administração e
gestão, das estruturas de coordenação educativa e supervisão pedagógica e
dos serviços, bem como um conjunto de normas, regras e procedimentos que
visam contribuir para um bom funcionamento do agrupamento, para a defesa
dos bens comuns e para o desenvolvimento de atitudes de respeito mútuo, de
convivência tolerante, justa e autónoma”(AVEDC, 2014:5).
58
do RI e outras disposições finais.
Com base na informação do decreto-lei n.º75/2008 de 22 de Abril, no artigo 9º, n.º1, alínea
c), o plano anual de atividades (PAA) é o documento de “planeamento, que define, em função do
projeto educativo, os objectivos, as formas de organização e de programação das atividades e que
procede à identificação dos recursos necessários à sua execução”.
Desta forma, podemos concluir que este documento é um instrumento de organização e
gestão do agrupamento, que elabora um plano das atividades a desenvolver ao longo do ano letivo,
tendo em conta os recursos necessários e os respetivos orçamentos, visando a concretização dos
objetivos do PEA.
1. Introdução;
3. Promotores / Parceiros;
4. Calendário Escolar;
5. Avaliação;
O projeto curricular de turma (PCT) é feito de acordo com a especificidade de cada turma,
ou seja, este operacionaliza o PCA em função do perfil da turma e dos alunos, adequando as opções
curriculares da escola, ao grupo a que se destina e tem uma dimensão temporal mais curta
comparativamente ao PCA.
59
A autora Leite [et. al.], afirmam que o PCT:
Os autores defendem ainda que na elaboração do PCT devem-se ter em consideração conteúdos
como a caracterização da turma e dos alunos, a identificação de problemas e a definição de
prioridades, a definição de uma estratégia educativa global para a turma, a planificação de
atividades letivas e não-letivas, a planificação da ação a desenvolver pelo conselho de turma e por
fim os critérios de avaliação do PCT.
Após analisarmos os documentos orientadores do AVEDC, podemos concluir que o PEA, o
PCA e o PCT têm como objetivo melhorar a conduta educativa. Segundo Leite:
60
4. CARATERIZAÇÃO DOS RECURSOS HUMANOS
De acordo com o RI, cada grupo tem um conjunto de direitos e deveres, assim como outras
funções, associadas ao seu estatuto.
4.1 Alunos
61
4.2 Pessoal docente
De acordo com o Projeto de Intervenção do AVEDC, no ano letivo 2013/ 2014 o corpo não
docente do agrupamento conta com:
De acordo com o relatório de Avaliação Externa das Escolas realizado ao AVEDC, no que
respeita aos indicadores referentes à formação académica dos pais e/ou encarregados de educação
dos discentes, verifica-se que 42% têm formação secundaria e superior e 24% formação superior.
Em relação à ocupação profissional 22% desempenham atividades profissionais de nível superior e
intermédio (MEC, 2012).
62
5. PRÁTICA EDUCATIVA SUPERVISIONADA
No presente ponto iremos realizar uma pequena caracterização das turmas com as quais
desenvolvemos o estágio I e II, que ao longo do ano letivo decorreu de terça-feira a quinta-feira
(terça-feira das 10h00 às 11h00, quarta-feira das 14h00 às 15h00 e à quinta-feira das 9h45 às
12h00), salvo os dias em que para combater a falta de tempo, foi necessário marcar e estabelecer
horários extra para enriquecer as atividades a serem desenvolvidas com os alunos.
63
5.1 Caracterização das turmas
A nível comportamental a turma tem alunos muito sociáveis, meigos e relacionam-se bem
com os adultos, embora alguns sejam bastante irrequietos, faladores e apresentam dificuldades no
cumprimento de regras estabelecidas.
Neste sentido procura-se diferenciar o trabalho relativamente aos alunos que demonstram
diferentes ritmos de trabalho. Os alunos que avançam mais depressa têm à sua disposição trabalhos
diversos, das várias áreas curriculares, para aprofundarem o seu conhecimento, tendo, assim os
alunos que têm um ritmo mais lento a possibilidade de beneficiarem de algum espaço para terem
uma maior atenção por parte do professor, no sentido de os ajudar a superar as suas dificuldades.
64
longo do ano, mas é vantajoso que estes alunos continuem a beneficiar de algumas medidas de
apoio, no próximo ano letivo.
A maioria dos alunos revela capacidades, são muito ativos, participativos e o aproveitamento
global da turma é considerado bastante satisfatório. Os alunos são bastante astutos e perspicazes,
demonstrando interesse nas atividades propostas.
A nível comportamental a turma tem alunos muito sociáveis, meigos, relacionam-se bem
com os adultos, respeitam as regras estabelecidas e faltaram apenas em caso de doença e tendo as
faltas devidamente justificadas.
As plantas das salas de aula apresentadas foram elaboradas em conjunto, pelo grupo de
estágio. E do nosso interesse fazer uma caracterização das salas de aula de cada turma, para termos
a perceção do espaço e dos recursos materiais que tivemos à disposição.
65
5.2.1- Sala de aula da turma do primeiro ano:
66
5.2.2 Sala de aula da turma do segundo ano:
67
5.2.3 Sala de aula da turma do terceiro ano:
68
5.2.4 Sala de aula da turma do quarto ano:
De acordo com Paulo Freire 57 (1991:58) “Ninguém nasce educador ou marcado para ser
57 Paulo Freire foi um educador, pedagogista e filosofo brasileiro. E considerado um dos pensadores mais notaveis na
historia da Pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.
69
educador” mas “a gente se faz educador, a gente se forma como educador, permanentemente, na
prática e na reflexão sobre a prática” sob este ponto de vista, o processo formativo pelo qual a
estagiária passou, representa o centro da evolução enquanto profissional da educação.
Conteúdos:
• Reconhecimento;
• Psicomotricidade;
• Libertação;
• Memória;
• Criatividade;
Atividade / Estratégia:
• Aquecimento;
• Relaxamento
70
Recursos: Não há.
Conteúdos:
• Concentração;
• Psicomotricidade;
• Imaginação;
• Improvisação;
• Respiração;
• Cooperação.
• Promover a concentração.
Atividade / Estratégia:
71
• Jogo “Campo Energético”;
• Jogo “A Jangada”;
Conteúdos:
• Concentração;
• Psicomotricidade;
• Respiração;
• Memória.
• Desenvolver a memória;
• Desenvolver a concentração;
Atividade / Estratégia:
72
6.2.1 Reflexão da Planificação Semanal nº2
As turmas têm mostrados um grande interesse nas atividades propostas. Houve por parte dos
alunos uma boa organização no início da aula. Os alunos, apesar de mostrarem muita vontade de
aprender, distraem-se com facilidade ao fim de pouco tempo, de modo que por vezes, é necessário
dinamizar as atividades planeadas para lhes prender a atenção e mantê-los empenhados nos
exercícios. E de salientar que alguns alunos têm dificuldade de interação com a restante turma
devido à timidez. Outros, não respeitam as ordens nem os colegas de turma, sendo que por vezes, é
necessária uma intervenção individual, de forma a fazer o aluno compreender que está a ter uma
atitude errada e a incentivá-lo a corrigi-la. São alunos que precisam de constante incentivo e
dedicação por parte do professor. No entanto são alunos empenhados, e esforçam-se para conseguir
realizar as atividades.
As dificuldades encontradas nesta semana, foram superadas, uma vez que os alunos
mostraram bastante motivação.
Conteúdos:
• Concentração;
• Habilidades expressivas;
• Psicomotricidade;
• Sincronização;
• Expressão corporal.
• Desenvolver a imaginação;
• Desenvolver a concentração.
73
Atividade / Estratégia:
Conteúdos:
• Concentração;
• Psicomotricidade;
• Expressão corporal.
• Desenvolver a criatividade;
• Fomentar a concentração;
• Promover a cooperação.
Atividade / Estratégia:
74
6.3.1 Reflexão da Planificação Semanal nº3
Nesta semana a aula foi conduzida de modo a fomentar a interação da turma, bem como a
sua cumplicidade subjacente. Os valores humanos foram enfatizados, a ação correta foi valorizada,
afim de obter um ambiente harmonioso na turma.
As atividades realizadas permitiram motivar os alunos para o desenvolvimento da
concentração, da memorização e da cooperação. As atividades também permitiram estimular a
participação dos alunos mais tímidos e identificar as suas dificuldades. Mostraram-se empenhados,
participativos e entusiasmados no decorrer da aula.
A aula foi conduzida estrategicamente não havendo falhas de comportamento por parte dos
alunos, sendo rentável e participativa.
75
CONCLUSÃO
76
CONCLUSÕES GERAIS E PERSPETIVAS FUTURAS
Após o estudo baseado no tema teatro medieval como ferramenta de interiorização dos
valores humanos: o caso da moralidade inglesa anónima Todo-o-Mundo (1495), e das reflexões
sobre as atividades desenvolvidas em ambito de estágio, chegamos à conclusão que a o teatro e as
práticas teatrais podem constituir ferramentas fundamentais ao desenvolvimento da criança,
tornando-a num ser que tem no mundo um lugar a melhorar. A implementação destas práticas no
sistema educativo apresentam muitas vantagens para a criança, sendo um meio de integração social
que promove o seu desenvolvimento afetivo e cognitivo.
Neste estudo encontramos uma grande diversidade de conceitos e teorias sobre a expressão
dramática e o facto de as crianças beneficiarem, ou não, com a prática do teatro. Contudo, podemos
afirmar que a atividade teatral serve para educar moralmente e transmitir conhecimentos. Através da
imitação, a criança tem a possibilidade de interiorizar o conteúdo observado.
Por todas estas razões e outras que mencionamos ao longo do estudo, entedemos que a
educação ultrapassa os muros da escola, sendo influenciada por todos os espaços onde os alunos
convivem. Não basta só que as crianças sejam educadas em valores, é preciso que esta educação
seja alongada aos pais, professores, comunidade escolar e sociedade. Contudo, os valores não
podem ser impostos às crianças de forma a abafar a sua personalidade, mas percebidos por elas nas
atitudes de todos que educam. Ao mostrar o benefício que os valores humanos trazem no
desenvolvimento social, percebe-se que os valores deixam de ser algo que se possa escolher possuir
ou não, para se tornarem essenciais à vida. São os valores que permitem a convivência humana; e
portanto, não podem ser considerados como alternativa.
Os alunos são o alvo quando se luta por um ensino de qualidade, que visa à formação de
alunos contemplativos, críticos. Assim sendo, deve-se ter em atenção a forma como são
influenciados a aprender. A criança é um ser esponjoso, que absorve tudo o que a rodeia, aprendem
através das ações adultas, sem que o adulto perceba que está a transmitir-lhe um ensinamento. Posto
isto, como já referimos, o papel do professor, dos pais e de toda a comunidade é preponderante.
Ambicionamos de futuramente poder exercer a função de professor(a), para poder dar
continuidade à investigação sobre este tema, que consideramos não ter a devida atenção pelas
instituições escolares. O teatro é uma expressão artística a ser apreciada, onde numerosas
linguagens se fundem para discutir o ser humano.
77
inteligência em vez de ser apenas resultado da ação de uma pessoa dedicada
à tarefa de ensinar e preparar para os exames de maneira meramente
repetitiva. O exemplo, e não o preceito, é a melhor ajuda para o ensino”.58
78
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WEBGRAFIA
LEGISLAÇÃO
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ANEXOS
(em CD)
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