Sei sulla pagina 1di 76

See

discussions, stats, and author profiles for this publication at: https://www.researchgate.net/publication/321527230

Análise da Performance Desportiva

Chapter · December 2017

CITATIONS READS

0 88

3 authors, including:

José Afonso Mesquita Isabel


University of Porto University of Porto
98 PUBLICATIONS 627 CITATIONS 165 PUBLICATIONS 1,166 CITATIONS

SEE PROFILE SEE PROFILE

Some of the authors of this publication are also working on these related projects:

Learning and Professional Development of High Level Coaches in Brazil (Formação e


Desenvolvimento Profissional do Treinador de Alto Nível ) View project

Alongamento e Flexibilidade, Força e Mobilidade View project

All content following this page was uploaded by José Afonso on 05 December 2017.

The user has requested enhancement of the downloaded file.


3
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III

ANÁLISE DA

INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE //


PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES
PERFORMANCE
DESPORTIVA
Afonso Neves
Isabel Mesquita
Jaime Sampaio

1. ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

2. MODELOS DE ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

3. EFICÁCIA INSTRUCIONAL NA ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

IPDJ_2017_V1.0
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III

Índice
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

CAPÍTULO I.
1. ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA 3
1.1 CONHECER A ATIVIDADE E O DESPORTISTA 6
1.2 AVALIAÇÃO TÉCNICA 6
1.3 AVALIAÇÃO TÁTICA 7
1.4 CONTEXTUALIZAÇÃO DA ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA NO PROCESSO DE TREINO 14

CONCLUSÕES 63
AUTOAVALIAÇÃO 68
GLOSSÁRIO 70
BIBLIOGRAFIA 71

1. ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

2. MODELOS DE ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

3. EFICÁCIA INSTRUCIONAL NA ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

2
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
n Descrever o modelo de organização do processo de
análise da Performance Desportiva.
n Conhecer a sua modalidade desportiva do ponto de
vista da identificação e descrição dos indicadores da
performance e dos efeitos dos fatores situacionais na
performance desportiva.

A ANÁLISE DA
1.
PERFORMANCE DESPORTIVA
O desporto de alto rendimento é um fenómeno de expressão mundial com
acentuada importância económica e social, que atualmente se equipara às maiores
organizações mundiais, e que se encontra sustentado por desportistas capazes de
desafiar os limites da performance humana. Neste domínio, as diversas ciências
do desporto (e.g., biomecânica, fisiologia, medicina, pedagogia, psicologia) têm
identificado e interpretado o perfil de exigências específicas de cada modalidade
desportiva, bem como os fatores que constituem a estrutura multidimensional des-
ANÁLISE DA
tas performances, contribuindo para a crescente qualidade dos processos de seleção PERFORMANCE

dos desportistas, o desenvolvimento de métodos e meios de treino mais qualificados DESPORTIVA

e uma minuciosa preparação das competições. Nos tempos mais atuais, verifica-se
uma tendência para utilizar modelos de investigação centrados numa compreensão
integrada e contextualizada das variáveis presentes em situação de treino e de com-
petição, que corporizam uma área emergente das ciências do desporto, designada
de Análise da performance desportiva (O’Donoghue, 2010).
O processo de análise da performance desportiva constitui-se como um fator
de grande importância para regular o treino e as competições. Na realidade, trata-
-se de recolher informação relevante nestes dois contextos (treino e competição),
no sentido de ser utilizada para melhorar a performance desportiva individual ou
coletiva a vários níveis, e permitir configurar modelos da atividade dos desportis-
tas, identificar os traços da atividade que se associem à eficácia de processos e à
obtenção de resultados positivos; promover o desenvolvimento de métodos de
treino que garantam uma maior especificidade e indiciar tendências evolutivas das
diferentes modalidades desportivas (Garganta, 2001).

3
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Desde sempre que os treinadores observam e analisam a performance no


treino e nas competições de forma subjetiva e, posteriormente, tomam impor-
tantes decisões consubstanciadas nessa subjetividade. A investigação nestes
domínios esclarece que, mesmo os treinadores mais experientes, só são capazes
de se recordarem entre 45% a 59% dos pontos-chave das competições (Franks
e Miller, 1991; Laird e Waters, 2008). De facto, a informação disponível durante
uma sessão de treino ou uma competição é muito diversa e extensa. As ações
que se podem observar são continuas e decorrem num ambiente dinâmico e
complexo, facto que torna qualquer recolha de dados mais difícil de realizar, rela-
tivamente a outras situações mais controladas (e.g., em laboratório ou por ques-
tionários). Neste sentido, surge a necessidade de recorrer a sistemas de análise
de dados organizados, capazes de melhorar a qualidade das sessões de treino e
da competição. De facto, a intervenção profissional no processo de treino requer,
cada vez mais, que se conheçam profundamente a atividade e o desportista. A
natureza atual das modalidades desportivas implica o recurso a processos orga-
nizados com elevado rigor, particularmente ao nível da recolha de informação e
da sua transformação em conhecimentos e competências (ver Figura 1).

FIGURA 1 - Modelo de organização


do processo de análise da performance
desportiva.

A Figura 1 apresenta um modelo que pode ser utilizado para organizar o


processo de análise da performance desportiva. Nesta organização, o trabalho a
realizar centra-se numa primeira fase de recolha de informação através de um
processo de medição, registo e tratamento de dados. O início é determinado pelo
processo de medição, que consiste na recolha de dados que constituem variáveis
que devem medir aquilo que se propõem medir (validade) com o mínimo pos-
sível de erro (fiabilidade), independentemente da apreciação pessoal de quem
mede (objetividade). De seguida, os dados recolhidos necessitam ser registados
ou pelo recurso a métodos mais tradicionais de papel e lápis, ou pelo recurso
a aplicações informáticas que permitam armazenar esses dados e possibilitar
rápidas comparações entre diferentes momentos e variáveis. Ou seja, o método
de registo tem consequências evidentes no processo seguinte de tratamento, que
consiste em transformar grandes quantidades de dados em informação útil.

4
Análise da performance desportiva

A segunda fase consiste em interpretar a informação produzida para lhe dar o


sentido adequado, dentro do contexto da atividade ou do desportista em causa.
Posteriormente, integra-se a informação interpretada no sentido de perspetivar o
significado que o desportista lhe poderá atribuir, através do planeamento de tare-
fas para implementar nas sessões de treino. É então um processo para transformar
a informação em conhecimento.
O conhecimento é o combustível da competência. Na terceira fase, procurar-
-se-á que que o desportista seja o protagonista num processo de interação entre
as competências que já possui e o conhecimento que recebeu de novo, através da
sua integração nas tarefas das sessões de treino e na própria competição.

ANÁLISE DA
PERFORMANCE
DESPORTIVA
EVOLUÇÃO DA ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

Os métodos de observação direta foram gradualmente substituídos por sistemas informáticos capazes de recolher e
tratar os dados em tempo real. A evolução deste processo decorreu em várias fases:

1ª Fase - o início... 2ª Fase - o passado...


O registo era manual através de métodos de observação Surgiram os métodos de observação indireta. Os video-
direta, que condicionavam a quantidade de indicadores gravadores possibilitaram um aumento da quantidade
a recolher e obrigava os treinadores a pré-selecionarem de dados a recolher, que passaram a ser mais exaustivas,
o conjunto de variáveis a observar e registar. O trata- mas também mais fiáveis e permanentemente dispo-
mento dos dados era feito a posteriori, e por insuficiência níveis. No entanto, a capacidade de tratamento desta
de meios, absorvia bastante tempo aos treinadores. No informação permanecia ainda muito reduzida.
anos 70, estimava-se que eram necessárias 40 horas para
analisar um jogo de squash. 3ª Fase - a revolução informática...
Surgiram os computadores e tornaram-se cada vez

5
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

mais poderosos e acessíveis. As recolhas de dados são quais vai sendo possível combinar vários tipos de meios
cada vez mais exaustivas, todavia, estes sistemas são (registo em vídeo, variáveis quantitativas,...).
ineficazes pelo facto de faltarem referenciais concetuais
delimitadores das categorias e indicadores a selecionar 5ª fase - o futuro...
(Garganta, 1996). A opinião dos treinadores deixou de O desenvolvimento do desporto depende do rápido
ser utilizada como elemento referencial para passar a acesso a todo o tipo de informação existente sobre uma
elemento complementar conjugando as objetividades imensidão de variáveis relacionadas, direta ou indireta-
da informação com a subjetividade. mente, com a sua prática, no sentido de se registarem e
contextualizarem todos os comportamentos passíveis
4ª fase - o presente... de quantificação e se relacionarem variáveis de todas
Todo o processo de recolha e tratamento de dados as dimensões da performance (físicas, técnicas, táticas,
passou a ser dominado pelos meios informáticos, com psicológicas). Esta evolução irá permitir que os treina-
possibilidade dos treinadores poderem intervir no treino dores tenham acesso em tempo real à performance dos
e competição em tempo real. A qualidade e a quanti- desportistas no treino e na competição e que a possam
dade de informação gerada permite a construção de comparar com todos os registos passados.
bancos de dados cada vez mais poderosos, a partir dos

1.1 Conhecer a atividade e o desportista


Apesar da ausência de modelos teóricos que permitam identificar e descrever
a estrutura multidimensional da performance desportiva, é possível perceber algu-
mas diferenças nas atividades desportivas mais populares, que têm consequências
posteriores no processo de formação e de treino dos desportistas. Por exemplo,
nos desportos individuais, a análise deve incidir preferencialmente nos aspetos
técnicos da execução dos movimentos. Neste tipo de atividades, as análises
biomecânicas e fisiológicas são utilizadas para descrever a atividade e o comporta-
mento dos desportistas e, neste sentido, estes dados são essenciais para regular a
intervenção no treino e na competição. Por outro lado, nos jogos desportivos cole-
tivos, o comportamento requerido ao desportista é regulado fundamentalmente
pelos constrangimentos do meio, ou seja, o comportamento adaptativo é especi-
ficado pela informação do ambiente e esta relação complementar entre ambiente
e indivíduos pode determinar as várias oportunidades de ação, no sentido de lhes
permitir atingir o objetivo. É neste sentido que surgem as análises táticas como a
melhor forma de caraterizar estes comportamentos situacionais.

1.2 Avaliação técnica


Decorrente destes dois diferentes modelos de estrutura da performance, a
avaliação da técnica desportiva, que permita uma descrição detalhada do movi-
mento, assume diferentes protagonismos no processo de preparação. No caso
dos desportos individuais, procura-se uma estabilidade funcional para formar

6
Análise da performance desportiva

uma estrutura, relativamente normalizada no espaço e no tempo (Schmidt,


1985). Desta forma, os movimentos inicialmente inconsistentes vão sendo
repetidos até alcançar padrões de movimento precisos e consistentes, através
da redução do erro. No caso dos desportos coletivos, procura-se uma adap-
tação às novas situações mediante a aplicação das habilidades já adquiridas,
modificando a estrutura da habilidade já adquirida e sua posterior reorganiza-
ção num nível superior de complexidade (Tani, 2000). Algumas destas novas
situações são facilmente integradas na estrutura adquirida, contudo, outras
existem que exigem uma reorganização da própria estrutura e uma mudança
qualitativa do sistema (Tani, 2000). No primeiro caso (desportos individuais),
a aprendizagem motora é vista mais como um processo de estabilização da
performance em que a aleatoriedade e a variabilidade necessitam ser redu-
zidos ou eliminados. Neste sentido, a performance técnica é descrita a partir
de procedimentos biomecânicos e fisiológicos. No segundo caso (desportos
coletivos), a aprendizagem motora é vista mais como um processo adaptati- 1
Um indicador de performance é uma
vo em que esses fatores de desordem devem ser reconsiderados (Tani et al., ação, ou combinação de ações, que descre-
1992; Davids et al., 2003). Ou seja, a avaliação da performance técnica é muito vem total ou parcialmente a performance
direcionada para a realização de testes que sejam validos para medir ações desportiva. A sua utilidade é medida pela
relação com as performances de sucesso ou
técnicas entendidas como determinantes de uma atividade desportiva, através com o desfecho das competições (Hughes e
da utilização de indicadores de performance1. Por exemplo, para o jogo de Bartlett, 2002).
basquetebol, os indicadores da performance mais úteis são a percentagem
efetiva de lançamentos de campo, o rácio de perdas de bola por posses de
bola, a percentagem de ressaltos ofensivos e o rácio de lançamentos livres
convertidos por lançamentos de campo tentados (Kubatko et al., 2007). Estes
indicadores de performance não apresentam a estabilidade que, por exemplo,
se encontram nas variáveis antropométricas, porque existem muitas fontes de
ANÁLISE DA
variabilidade na performance desportiva que configuram contextos de atuação PERFORMANCE

tática muito particulares e dificilmente repetíveis. DESPORTIVA

1.3 Avaliação tática


Para que melhor se descrevam estes contextos de atuação tática e se possa en-
tender a performance nestes domínios, a avaliação tem recorrido sistematicamente
ao controlo dos efeitos dos fatores situacionais, tais como o local do jogo (jogar em
casa ou fora), o status do jogo (estar a ganhar, a perder ou empatado) e a qualidade
do adversário (Pollard e Gómez, 2009; Taylor et al., 2008; Lago e Martín, 2007).

LOCAL DO JOGO
O local do jogo é um dos fatores que mais influencia o desfecho final das com-
petições desportivas, particularmente se o contexto social específico de cada local
apresentar grande tradição, identificação local e orgulho e se o recinto desportivo

7
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

tiver uma localização central nessa comunidade (Mizruchi, 1985). A sua importân-
cia e consistência popularizaram-se de tal forma que os jornalistas realizam mais
referências à dificuldade em vencer os desportistas que competem em casa do que
a qualquer outro fator (Edwards e Archambault ,1989).
As teorias que procuram dar o melhor enquadramento a este fenómeno
baseiam-se em explicações do tipo biológico (e.g., teorias da territorialidade),
psicológico-social (e.g., teoria da facilitação social) e cognitivo-social (e.g., teoria da
perceção do apoio social). A ideia subjacente à teoria da territorialidade é a de que os
indivíduos se identificam com determinados locais protegendo-os contra qualquer
intrusão (Altman, 1975). É neste sentido que se considera que a vantagem em casa
pode ser um reflexo de defesa de um território muito particular e esta ideia é susten-
tada pelos valores de testosterona mais elevados nos jogos em casa e particularmen-
te contra adversários de maior qualidade (Neave e Wolfson, 2003). Neste sentido, é
também expetável que os desportistas mostrem mais comportamentos associados
a níveis elevados de assertividade nos jogos em casa (Varca, 1980). A teoria da facili-
tação social estuda as alterações de comportamento nas tarefas que são provocadas
pela presença de observadores (Zajonc, 1965). Nesta situação particular, pretende-se
explicar a vantagem em casa pelos efeitos provocados pela presença e participação
do público no jogo. A teoria da perceção do apoio social aborda este fenómeno a
partir das perceções generalizadas de apoio dos indivíduos (Dunkel-Schetter e Ben-
nett, 1990). Ou seja, o facto das equipas disputarem os jogos em casa provoca nos
indivíduos (jogadores, treinadores,...) uma perceção de apoio social extremamente
positiva. Existe também um modelo explicativo dos efeitos do local do jogo (Carron
et al., 2005), que coloca em evidência os efeitos do público, da familiaridade com
todo o ambiente da competição e das viagens em determinar diferentes estados
psicológicos, fisiológicos e comportamentais dos jogadores e treinadores.
O contributo do apoio do público no aumento da vantagem em casa é tão im-
portante que muitas vezes nos jogos desportivos coletivos é designado como mais
um “jogador em campo”. O apoio do público afeto à equipa da casa é um fator que
influencia positivamente a performance destas equipas (Agnew e Carron, 1994) e o
inverso é igualmente verdadeiro, ou seja, as manifestações do público contra a equi-
pa visitante influenciam negativamente a sua performance (Bray e Widmeyer, 2000).
Estes efeitos são mais pronunciados em recintos fechados (Zeller e Jurkovac,) e, mais
importante que o número, é a densidade de espetadores no recinto desportivo
(Schwartz e Barsky, 1977). Foram também identificadas mais infrações (e.g., faltas e
perdas de bola em jogos de basquetebol) nas equipas visitadas durante os períodos
de comportamentos antissociais (Thirer e Rampey, 1979), pelo que se sugeriu que
estes comportamentos têm efeitos negativos nas performances.
A familiaridade com as instalações desportivas parece contribuir para
aumentar os efeitos do local da competição. O tamanho dos campos, a
distância entre os limites do campo e o público, a iluminação do campo, as
condições gerais dos balneários são as variáveis tidas como mais importan-

8
Análise da performance desportiva

tes (Courneya e Carron, 1992). Adicionalmente, a familiaridade com o clima


e a altitude local também parecem favorecer os desportistas que competem
em casa (Seckin e Pollard, 2007; McSharry, 2007).
Apesar de atualmente as viagens serem realizadas de forma mais rápida,
os desportistas visitantes podem ser afetados por algum tipo de fadiga física
e/ou mental ou pelo simples facto da viagem poder quebrar as suas rotinas
diárias e influenciar negativamente as suas performances (Courneya e Carron,
1992). A vantagem casa nas equipas portuguesas profissionais de futebol pa-
rece estar a diminuir consideravelmente nos últimos anos (Gómez e Pollard,
QUADRO 1. Resultados da vantagem
2009); no entanto, o efeito das viagens já foi bem identificado, por exemplo, casa ajustados para as diferentes
nos resultados das equipas algarvias cujos estádios eram os mais distantes e qualidades das equipas (Adaptado de
Gómez e Pollard, 2009).
as vias de comunicação terrestre de pouca qualidade (ver Quadro 1).

EQUIPA LOCAL ÉPOCAS ANALISADAS VANTAGEM CASA (%)


SC Farense Faro 23 71,3%
SC Olhanense Olhão 15 70,9%
Boavista FC Porto 50 68,6%
Lusitano Évora Évora 14 68,1%
SC Covilhã Covilhã 15 67,9%
Leixões SC Matosinhos 22 67,9%
FC Penafiel Penafiel 12 67,9%
CS Marítimo Funchal (Madeira) 27 67,5%
FC Porto Porto 73 67,4%
Rio Ave FC Vila do Conde 14 66,9%

ANÁLISE DA
PERFORMANCE

STATUS DO JOGO DESPORTIVA

O status do jogo é caraterizado pelo resultado instantâneo no momento INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA


em que são registados os comportamentos a analisar (Taylor et al., 2008; Lago APLICADA
e Martín, 2007), tomando por hipótese que a estratégia pode ser determinada Local do jogo, dos 17 países que rece-
beram as olímpiadas modernas (1896 -
por esse mesmo resultado. Por exemplo, no futebol, as estratégias de manu-
2000), 14 obtiveram nessa altura os seus
tenção da posse da bola são influenciadas pelo status do jogo, porque quando melhores resultados de sempre (Clarke,
as equipas estão a ganhar têm valores inferiores relativamente aos momen- 2000). No voleibol, equipas que jogam
em casa têm performances superiores
tos em que estão a perder e necessitam ter a posse da bola para recuperar o
na receção, serviço e ataque e que essa
resultado desfavorável. Lago e Martín (2007) verificaram que sempre que o vantagem parece mais pronunciada no
jogo esteve empatado, a equipa da casa teve um aumento na posse da bola de primeiro, quarto e quinto sets dos jogos
(Marcelino et al., 2009). No basquetebol,
0,04% por cada minuto de jogo. Por outro lado, as equipas quando estiveram a
as equipas que jogam em casa assumem
perder aumentaram em 1% a posse de bola em cada 11 minutos de jogo. Ain- mais riscos nos seus comportamentos
da no futebol, identificaram-se menores percentagens de atividades realizadas - mais roubos de bola e desarmes de lan-
çamento e mais lançamentos exteriores
a intensidades elevada nas equipas que estão a ganhar, sugerindo que estas
(Sampaio et al., 2008).
equipas realizam uma gestão do esforço (O’Donoghue e Tenga, 2001).

9
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

QUALIDADE DA OPOSIÇÃO
A qualidade da oposição determina fortemente o contexto em que decor-
rem os comportamentos observados. Lago e Martín (2007) verificaram que a
posse de bola no futebol sofre modificações em função do adversário defron-
tado. Identificou-se também que cada posição de diferença na classificação
do campeonato espanhol fez variar a posse da bola em 0,2%, com valores
superiores para as equipas melhor classificadas (Lago, 2009).

OUTROS FATORES
A investigação científica nestes domínios tem permitido contrastar as
variáveis técnicas e táticas em função de outros fatores, que permitem traçar
perfis de contraste capazes de ajudar a descrever modelos de performance.
Estão nestes casos, por exemplo, os contrastes entre diferentes desfechos das
competições (Figura 2) ou os contrastes entre diferentes desportistas (Figura
3). As caixas de texto seguintes apresentam também resultados de investiga-
ção aplicada onde foram considerados outros fatores para contraste.

FIGURA 2 - Representação gráfica das


variáveis que melhor discriminam a
vitória e a derrota em jogos de basque-
tebol (Adaptado de Sampaio, 1998).

Legenda:
%LL percentagem de eficácia nos
lances-livres;
%L2 percentagem de eficácia nos
lançamentos de dois pontos;
FC faltas cometidas;
%L3 percentagem de eficácia nos
lançamentos de três pontos;
RD Ressaltos defensivos.

10
Análise da performance desportiva

FIGURA 3 - Representação gráfica da performance normativa de duas jogadoras de ténis (Adaptado de O’Donoghue, 2005).
Legenda:
V1 Média de velocidade do primeiro serviço; DF percentagem de serviços com dupla falta;
V2 Média de velocidade do segundo serviço; BP_Per_Set média de pontos de break por set;
%1stIn Percentagem de primeiros serviços jogados; %BPW percentagem de pontos de break convertidos;
%1stWon percentagem de pontos ganhos quando o primeiro %NetPts percentagem de pontos em que o jogador atacou a rede;
serviço entrou; %NetWon percentagem de pontos ganhos em situação de ataque
%2ndWon percentagem de pontos ganhos depois do segundo serviço; à rede;
%Ace percentagem de ases; % %Winners percentagem de winners.

INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA

O SUCESSO A CURTO E A LONGO PRAZO


ANÁLISE DA
O sucesso na competição está dependente do comportamento de um conjunto PERFORMANCE

de variáveis que pode diferir quando se perspetiva a curto ou a longo prazo. No DESPORTIVA

caso do basquetebol, pode-se verificar que o sucesso a curto prazo está mais
dependente de variáveis associadas à performance ofensiva, enquanto que o
sucesso a longo prazo está mais associado à performance defensiva das equi-
pas (Ibáñez et al., 2008), facto que parece confirmar uma expressão frequente-
mente utilizada pelos treinadores que “o ataque vence os jogos e a defesa vence
os campeonatos”.

SEXO
O contraste entre ambos os sexos tem permitido perceber que, por exemplo
no Voleibol, o sucesso nas equipas masculinas está dependente da performan-
ce nas ações terminais, enquanto que nas femininas está mais dependente
das ações de continuidade (João et al., 2010), facto que expressa bem o efeito
que têm as diferenças nas variáveis antropométricas e fisiológicas no perfil de
performance no jogo.

11
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

ESCALÃO COMPETITIVO
Aos desportistas é requerido que recolham informações sobre o contexto (e.g.,
a bola, companheiros e adversários) e decidam por uma resposta apropriada
com pressão de tempo e de espaço (Williams, 2000). Provavelmente, os senio-
res são mais rápidos e precisos a reconhecer padrões da comportamento, an-
tecipam melhor as ações dos adversários, possuem mecanismos de reconheci-
mento visual mais rápidos e eficientes e são mais realistas nas suas expetativas
relativamente ao desfecho de determinadas situações (Helsen & Starkes, 1999;
Williams, 2000). É neste sentido que, por exemplo no Basquetebol, são as ações
de passe e as perdas de bola que melhor discriminam jogadores seniores de
jogadores juniores (Sampaio et al., 2004).

RITMO DA COMPETIÇÃO
As competições em que o desfecho se traduz na conquista de pontos a
acumular (e.g., campeonatos regulares ao longo de uma época desportiva)
apresentam caraterísticas diferenciadas no que à performance desportiva diz
respeito, relativamente às competições cujo desfecho final implica a passagem
para uma fase seguinte ou uma eliminação definitiva. Nestes últimos casos,
por exemplo no Basquetebol, têm sido identificados ritmos de jogo mais
lentos (menores valores de posses de bola e de pontos marcados), associados
a comportamentos táticos ofensivos e defensivos de menor risco. Verificou-se
também que, sempre que os jogadores são ultrapassados na defesa, recorrem
mais sistematicamente às faltas (Malarranha e Sampaio, 2007).

12
Análise da performance desportiva

INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA APLICADA

OS JOGADORES
A construção de equipas de sucesso está também dependente da eficácia do
processo de recrutamento de jogadores, pelo que é essencial que se formule
uma estratégia na procura de candidatos possuidores de atributos comple-
mentares, capazes de produzir de acordo com as exigências das suas posições
específicas. Estes contrastes entre jogadores de diferentes posições específicas
são bem evidentes nos valores do somatótipo, composição corporal e respostas
fisiológicas e têm repercussões claras na performance desportiva. Por exemplo,
no basquetebol, as solicitações variam em consequência da distância a que os
jogadores jogam do cesto. Verifica-se que nas equipas de nível superior, os joga-
dores postes e bases são mais discriminados pelas tarefas ofensivas, enquanto
que nas equipas de nível inferior, os jogadores postes e bases são mais discrimi-
nados pelas tarefas defensivas (Sampaio et al., 2006a).

É provável que diferentes posições específicas dos jogadores impliquem


diferentes performances nos jogos disputados em casa e nos jogos dispu-
tados fora. A vantagem casa pode ser mais evidente nos jogadores que
atuam em posições que impliquem a execução de tarefas mais complexas
(bases no basquetebol, médios centro no futebol, centrais no andebol).
Nos bases que jogam em casa identificam-se comportamentos mais asser-
tivos relativamente aos bases que jogam fora. Acontece o contrário com os A escolha dos
extremos, ou seja, os comportamentos mais assertivos identificam-se nos
extremos que jogam fora.
jogadores que vão ANÁLISE DA
PERFORMANCE

A escolha dos jogadores que vão constituir a equipa no início dos jogos é constituir a equipa no DESPORTIVA

um processo orientado e pode ser decisivo para o sucesso das equipas. Estas
decisões são normalmente tomadas pelo recurso à observação de caraterísti-
início dos jogos é um
cas motoras e psicológicas, interações sociais e sua relação com a expetativa processo orientado e
global da equipa (Case, 1998). Os jogadores titulares estão mais satisfeitos e
pode ser decisivo para o
confiantes com a sua performance, são mais conscientes das tarefas a realizar
e valorizam mais o facto de pertencerem à equipa (Petlichkoff, 1993). Este sucesso das equipas.
conjunto de diferenças reflete-se na performance e verifica-se que as ações
defensivas discriminam melhor os jogadores titulares dos jogadores suplen-
tes. Por outro lado, as melhores equipas parecem perder mais jogos quando
a performance dos jogadores suplentes é pior, ao passo que as piores equipas
parecem perder mais jogos quando a performance dos jogadores titulares é
pior (Sampaio et al., 2006b).

13
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III

1.4 Contextualização da análise da performance


INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

desportiva no processo de treino


O conhecimento produzido pelo processo de análise da performance
2
Mais informações acerca do modelo de de- desportiva é utilizado no sentido de transformar o perfil de competências
senvolvimento do atleta a longo prazo podem dos treinadores e desportistas. É tarefa com alguma complexidade, já que se
ser encontradas no seguinte endereço: trata de incorporar novos conhecimentos das diferentes dimensões do treino
http://www.canadiansportforlife.ca/
numa organização que já é funcional. É então requerido que se construam
e desenvolvam cenários que repliquem, com elevado grau de similaridade,
a aptidão que se pretende melhorar. Esta aplicação apresenta-se diferencia-
damente quando enquadrada numa perspetiva de preparação desportiva
QUADRO 2. Valores referenciais para
a frequência de utilização do processo a longo prazo, com objetivos centrados no desenvolvimento das aptidões
de análise da performance desportiva
dos desportistas tendo em conta as diferentes fases do processo e numa
nos desportos coletivos (e desportos
individuais) nas sessões de treino e perspetiva de treino e direção das competições, ao qual se acrescentam os
competições. objetivos direcionados para o resultado desportivo2 (ver Quadro 2).

ETAPA APRENDER A TREINAR TREINAR A TREINAR TREINAR PARA COMPETIR TREINAR PARA GANHAR
IDADES M 9-12 // F 8-11 M 12-16 // F 11-15 M 16 - 23+- // F 15-21+- M +-19 F // +-18
TREINO: COMPETIÇÃO 70%:30% 60%:40% 40% : 60% 25% : 75%
Aprender a lidar com as
CARATERÍSTICAS
Coordenação motora solicitações competitivas Performance no treino Performance em competição
MAIS DETERMINANTES
do treino
Técnica 3 (4) 3 (4) 2 (3) 1 (2)

Análise do Motora 1 (2) 2 (3) 2 (3) 1 (3)


treino... Tática 2 (1) 3 (1) 4 (2) 3 (2)
Mental 1 (1) 1 (2) 2 (2) 2 (3)
Técnica 1 (1) 2 (3) 3 (4) 3 (4)

Análise da Motora 1 (1) 2 (3) 3 (4) 3 (4)


competição... Tática 1 (1) 2 (1) 3 (2) 4 (2)
Mental 1 (1) 1 (2) 2 (3) 4 (4)

14
Índice
CAPÍTULO II.
2. MODELOS DE ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA 16
2.1 ANÁLISE QUANTITATIVA 16
2.1.1 Validade, fiabilidade e objetividade 16
2.1.2 Procedimentos, seleção e construção de testes 18
2.1.3 Avaliação dos resultados 21
2.2 ANÁLISE QUALITATIVA 23
2.2.1 O papel da análise qualitativa no estudo da performance desportiva 23
2.2.2 Tipos e meios de análise qualitativa da performance desportiva 26
2.2.2.1 Análise qualitativa da performance a partir da observação: fases e procedimentos 26
2.2.2.2 Análise da performance desportiva numa perspetiva holística 32
2.2.2.3 Fatores que interferem na capacidade de análise da performance desportiva 34
2.2.3 Validade e fiabilidade na análise qualitativa da performance desportiva 36

CONCLUSÕES 63
AUTOAVALIAÇÃO 68
GLOSSÁRIO 70
BIBLIOGRAFIA 71
ANÁLISE DA
PERFORMANCE
DESPORTIVA

1. ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

2. MODELOS DE ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

3. EFICÁCIA INSTRUCIONAL NA ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

15
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
ANÁLISE QUANTITATIVA ANÁLISE QUALITATIVA
• Ter uma perspetiva holística e heurística relativa ao fun- • Reconhecer o papel da análise qualitativa da performance
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

cionamento dos modelos de performance desportiva que desportiva na otimização da intervenção do treinador no
lhe permite identificar e utilizar, transversal e longitudi- treino e na competição.
nalmente, a informação proveniente dos indicadores da • Identificar os tipos e meios de análise qualitativa da
performance nas sessões de treino e nas competições. performance desportiva, reconhecendo a importância da
• Construir ou selecionar testes de medição, de acordo pluralidade de procedimentos na otimização de recursos.
com procedimentos que assegurem maior validade, • Identificar e selecionar os métodos de análise qualitativa
fiabilidade e objetividade nos resultados. Interpretar os da performance desportiva que se apresentam mais ade-
resultados de acordo com procedimentos de avaliação quados às necessidades das particularidades situacionais,
normativa ou criterial. correntes no treino e competição.
• Estruturar o processo de análise da performance ao longo
da época desportiva, considerando ainda os princípios de
um modelo de preparação desportiva a longo prazo.

2. MODELOS DE ANÁLISE
DA PERFORMANCE
DESPORTIVA
2.1 Análise quantitativa

2.1.1 VALIDADE, FIABILIDADE E OBJETIVIDADE


A validade é a caraterística mais importante de um teste (ou variável)
e pode ser dividida em vários tipos. A validade de conteúdo carateriza-se
pela relação entre este mesmo conteúdo com os assuntos acerca dos quais
as conclusões têm de ser retiradas (Baumgartner e Jackson, 1995) e assenta
fundamentalmente em critérios subjetivos. A validade concorrente é um
processo de determinação de validade de um novo teste através da relação
que se estabelece entre os valores obtidos por um desportista nesse novo
3 teste e os valores obtidos num critério, que pode ser um teste já validado ou
Um constructo é uma variável latente
impossível de ser medida diretamente. É o juízo de um grupo de peritos (Safrit, 1990). A validade preditiva significa
representada por um conjunto de indicadores que o teste em questão é capaz de prever adequadamente o desenvolvi-
indiretos que expressam, tanto quanto possível,
mento subsequente da capacidade testada (Baumgartner e Jackson, 1995).
as suas diferentes caraterísticas (Baumgartner
e Jackson, 1995). A validade de constructo3 refere-se à testagem de aptidões que não são
possíveis de serem medidas diretamente.

16
Modelos de análise da performance desportiva

EXEMPLO

VALIDADE DE CONTEÚDO
Um teste de 30 m de corrida é um teste obviamente válido para a medição da velocidade dos desportistas.
VALIDADE CONCORRENTE
Os resultados do teste de corrida intermitente yo-yo apresentam grande relação com os resultados do consu-
mo máximo de oxigénio medido em laboratório.
VALIDADE PREDITIVA
Os resultados de uma medição das pregas de adiposidade subcutânea podem ser utilizados para prever a
percentagem de gordura corporal.
VALIDADE DE CONSTRUCTO
A bateria de testes de AAHPERD para o basquetebol pode ser utilizada para medir a performance técnica (que
neste caso é o constructo), através de testes de drible, deslizamento defensivo, passe e lançamento.

O estudo da fiabilidade centra-se na identificação e análise das fontes


de erro, por forma a maximizar a consistência das medidas realizadas. Na
generalidade, se as capacidades de um desportista permanecerem inalterá-
veis e ele for sujeito a duas medições com instrumentos fiáveis, os resulta-
dos obtidos devem ser idênticos. A variabilidade nos resultados pode ser
originada pela:

(i) falta de concordância entre os avaliadores;


(ii) inconsistência na performance do indivíduo testado;
(iii) inconsistência do instrumento de avaliação, e;
ANÁLISE DA
(iv) incumprimento do protocolo do teste (Baumgartner e Jackson, 1995). PERFORMANCE
DESPORTIVA

17
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

O método do teste-teste de repetição consiste no cálculo das diferen-


ças entre duas séries de resultados de um grupo de desportistas quando
submetido, em duas ocasiões diferentes (dias diferentes), ao mesmo teste
(Safrit, 1990). Os resultados fiáveis expressam que os desportistas tendem
a manter a sua posição relativa no seio do grupo a que pertencem e é
expressa a ideia de estabilidade nas respostas. O método de consistência
interna implica sujeitar os desportistas a, pelo menos, duas aplicações do
teste no mesmo dia.
Um teste diz-se objetivo quando os resultados que apresenta estão
isolados de qualquer interferência da atitude ou da apreciação pessoal do
avaliador. Neste sentido, a objetividade (ou fiabilidade do interavaliador)
depende da clareza dos sistemas de pontuação e da precisão no atribuir
dessas pontuações. Qualquer variação nos resultados deverá ficar a dever-
-se às modificações nas performances dos desportistas e não às modifica-
ções dos procedimentos.

EXEMPLO

TESTE-TESTE DE REPETIÇÃO
Realizar duas repetições, em dias diferentes, de um teste de corrida intermitente ioiô.
CONSISTÊNCIA INTERNA
Realizar duas repetições, no mesmo dia, de um teste de 30 m de corrida.
OBJETIVIDADE
Comparar os resultados de dois avaliadores que estão a recolher dados através de observação da mesma situa-
ção desportiva, tendo segurança que um deles produz resultados válidos.

2.1.2 Procedimentos, seleção e construção de testes


O conhecimento das caraterísticas mais importantes dos testes, permite
ao treinador melhorar a qualidade da informação de que vai dispor. Os testes
a realizar devem ser construídos e selecionados em função dos pressupostos
apresentados a seguir (Safrit, 1990; Baumgartner e Jackson, 1995).

↘ Poder discriminatório: o teste deve discriminar os desportistas


segundo as suas performances, deve ser suficientemente difícil para que
ninguém consiga atingir um resultado perfeito e suficientemente fácil
para que todos o consigam realizar.

↘ Especificidade: quando um teste mede apenas um atributo especí-


fico é possível que o treinador identifique a causa do sucesso/insucesso
nos resultados obtidos. Se o teste medir mais do que um atributo, os
resultados obtidos são mais difíceis de discriminar.

18
Modelos de análise da performance desportiva

↘ Medidas não correlacionadas: as medições da performance


desportiva podem compreender vários testes organizados nas designa-
das baterias de testes. As medidas realizadas nos diferentes testes que
constituem uma bateria devem apresentar independência entre si no
sentido de economizar tempo.

↘ Caraterísticas dos desportistas: a performance é muito


influenciada pela idade, maturação, sexo, experiência. Deste modo, a
validade e a fiabilidade dos testes varia segundo as caraterísticas especí-
ficas da população alvo.

EXEMPLO

No voleibol, num teste de medição da eficácia do remate, se o proto-


colo do teste considerar que o jogador a testar está dependente de
um passe a realizar por um companheiro, os resultados da medição
vão depender sempre da qualidade desse passe, independentemente
da boa ou má prestação no remate.

↘ Individualidade: os resultados de um teste devem expressar a(s)


capacidade(s) e/ou habilidade(s) de um desportista. Neste sentido, os
protocolos dos testes devem ser construídos de modo a medir as capaci-
dades/habilidades individuais e retirar a influência de outros desportistas.
ANÁLISE DA
PERFORMANCE

↘ Motivação: se os desportistas perceberem os objetivos dos testes DESPORTIVA

expressarão níveis de motivação mais elevados, facto que conduzirá à


obtenção de resultados que representam melhor o máximo das suas
capacidades. Neste sentido, o teste tem de ser interessante e constituir
um desafio para os desportistas, também porque estes, quando têm
hipóteses de conseguir boas prestações, esforçam-se mais e sentem-se
mais motivados.
EXEMPLO
↘ Segurança: todas as medidas de segurança devem ser tomadas
em consideração. É imprescindível ser realizada uma análise cuidada Nos testes de velocidade deve
aos protocolos dos testes, no sentido de identificar possíveis causas de ser assegurado um espaço de
lesões. Os treinadores devem, sobretudo, tomar precauções na seleção e desaceleração. O material a
posicionamento do material a utilizar. utilizar nos testes de agilidade
deve ser inquebrável e macio.

19
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III

↘ Medições em grupos: quando se testam grupos de desportistas


INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

em curtos períodos de tempo o planeamento e a administração dos


testes devem ser alvo de cuidados especiais, no sentido de diminuir o
tempo de espera entre testes ou intratestes e também de modo a evitar
problemas de indisciplina e/ou motivação. Apesar da validade e fiabilida-
de dos resultados poder ser afetada, é aconselhável que os desportistas
cooperem na administração dos testes.

↘ Familiarização com o teste: os desportistas devem estar fami-


liarizados com o teste e devem ter oportunidade para realizarem uma ou
duas tentativas prévias. No sentido de rentabilizar o tempo disponível,
os treinadores devem selecionar testes cuja instrução prévia seja de fácil
compreensão e rápida experimentação.

↘ Equipamento e recursos humanos: os testes que exigem de-


masiados equipamentos e/ou recursos humanos são pouco exequíveis. A
aquisição e manutenção do equipamento comportam demasiadas despe-
sas adicionais. Por outro lado, os recursos humanos de apoio pressupõem
tempo para os “treinar” nas técnicas de medição e registo. Se este requisito
não for cumprido a objetividade dos testes é comprometida.

↘ Procedimentos dos testes: após o avaliador estar familiarizado


com o teste, torna-se necessário planear a sua implementação. Nesta
fase, deve ser decidido se os desportistas vão ser testados individual-
mente ou em grupos e quantas pessoas vão administrar os testes. Se a
bateria de testes for realizada no mesmo dia, os testes devem ser orga-
nizados de modo a minimizar a fadiga. Do mesmo modo, os testes que
exijam grande esforço (e.g., Teste de Cooper) devem ser realizados no
final da bateria. Posteriormente, devem ser decididas as medidas a ado-
tar no caso dos desportistas cometerem erros de execução no protocolo
(e.g., num teste de agilidade - 5x18m - o desportista não toca nas linhas
pré-definidas pelo protocolo). No sentido de economizar tempo devem
ser construídas fichas de registo individuais para cada desportista, no
sentido de poderem ser testados simultaneamente e não ser necessário
seguir nenhuma ordem pré-determinada.

↘ Aquecimento: ajustado às caraterísticas do teste melhora a fiabilida-


de dos resultados. Neste sentido, o tempo e o conteúdo do aquecimento
devem ser cuidadosamente preparados e supervisionados pelo avaliador
para que seja assegurado a todos os desportistas circunstâncias seme-
lhantes. O realizar de tentativas prévias do teste subsequente é uma boa
estratégia para o aquecimento específico.

20
Modelos de análise da performance desportiva

2.1.3 AVALIAÇÃO DOS RESULTADOS


Após a medição das variáveis, o processo de avaliação pode ser EXEMPLO
realizado com procedimentos de referência à norma ou ao critério. Com
a avaliação normativa, pretende-se elaborar um conjunto de valores de Se um desportista saltou 72 cm
referência que caracterizem um dado estrato populacional, utilizando num teste de impulsão vertical
frequentemente normas percentílicas e t-scores, por forma a poder traçar que corresponde a um percen-
perfis de comportamento da aptidão de um desportista e posicioná-lo no til de 70%, este resultado indica
seio do seu grupo. que 70% dos desportistas
analisados obtiveram piores
resultados.

PERCENTIL IMPULSÃO VERTICAL ½ AGACHAMENTO AGILIDADE


(cm) (kg) (s)
99 78 330 11,29
95 77 324 11,38
90 76 318 11,46
85 75 311 11,55
80 74 305 11,64
75 73 299 11,72
70 72 293 11,81
65 71 287 11,90
60 70 280 11,98
55 69 274 12,07
50 68 268 12,16
45 66 262 12,24
40 65 256 12,33 ANÁLISE DA
PERFORMANCE
35 64 250 12,42 DESPORTIVA
30 63 243 12,50
25 62 237 12,59
20 61 231 12,68
15 60 225 12,76
10 59 219 12,85
5 58 212 12,94
1 57 206 13,02

LEGENDA:
Percentil – é calculado pela fórmula P(A)=((x+0,5y)/n)×100, onde x é igual ao número de
resultados abaixo de A, y é igual ao numero de resultados iguais a A e n é igual ao número
de resultados.

21
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

EXEMPLO

T-Scores, o desportista número 2 foi o que conseguiu mais pontos (245), no entanto necessita melhorar as
pontuações mais baixas (testes 3 e 4). O desportista número 3 foi o que teve pontuações mais baixas, particu-
larmente nos testes 1 e 4.

Desportista T1 t T2 t T3 t T4 t T5 t Total
(cm) (kg) (kg) (s) (kg)
Número 1 64 45 160 38 280 47 12,80 40 80 56 226
Número 2 66 48 200 45 270 44 11,29 64 60 44 245
Número 3 56 32 245 53 300 53 13,12 34 60 44 216
Número 4 64 45 220 49 270 44 12,54 44 60 44 226
Número 5 65 46 195 44 260 41 12,80 40 90 62 233
… … … … … … … … … … … ...

LEGENDA:
T1 - Teste de impulsão vertical; T2 - Teste de 1/2 agachamento; T3 - Teste de força (gémeos); T4 - Teste de agilidade (5 x 18 m); T5 - Teste de força
supino); t – é calculado pela fórmula t-score = 50 + 10(x-y)/z, onde x é o resultado do teste, y é o valor médio do grupo e z o desvio padrão.

Com a avaliação criterial, pretende-se produzir uma medida que é direta-


mente interpretada em termos de um determinado padrão de performance,
necessitando que se descreva a performance do sujeito numa base estritamen-
te individual e que se atribua graus de proficiência numa medida critério.

EXEMPLO

Nas fases em que se pode decompor o treino do ressalto defensivo, o


jogador de basquetebol número 4 necessita de treinar o bloqueio e a
manutenção da posição e a localização da bola.

Antecipação ao Bloqueio e Localização da Conquista e


Jogador lançamento manutenção da bola proteção da
posição bola
Número 1 6 5 4 5
LEGENDA: Número 2 5 4 5 6
6. Sempre; Número 3 4 5 3 4
5. Muito frequentemente;
4. Ocasionalmente; Número 4 5 1 2 5
3. Raramente;
Número 5 6 3 3 2
2. Muito raramente;
1. Nunca. ... ... ... ... ...

22
Modelos de análise da performance desportiva

2.2 Análise qualitativa


2.2.1 O PAPEL DA ANÁLISE QUALITATIVA NO ESTUDO DA PERFORMANCE
DESPORTIVA
A utilização de uma pluralidade de métodos (Feyerabend, 1993), mostra
ser crucial para atender à natureza complexa do comportamento humano,
percebendo-se que o método não é senão um ato de dúvida que origina
perguntas e coloca problemas (Barthes, 1997).

Todavia, devido à força dos paradigmas metodológicos provenientes ANÁLISE DA

das ciências ditas exatas, persiste, ainda hoje, uma ênfase na abordagem
PERFORMANCE
DESPORTIVA

baseada em dados quantitativos no contexto da análise da performance


desportiva, tanto por investigadores como por especialistas no terreno,
como sejam os treinadores.
Embora estes aportem dados de inegável valor, não conseguem capturar
toda a complexidade e essência do comportamento humano (Feyerabend, 1993).
Acresce que, no processo de ensino-aprendizagem, a esmagadora maioria das
avaliações são de índole qualitativo, servindo-se o treinador prioritariamente de
avaliações baseadas em análises subjetivas no decurso da sua atuação pedagó-
gica (Knudson & Morrison, 1997). Embora a subjetividade seja uma caraterística
inegável das análises qualitativas, dado se situarem no paradigma interpretativista,
não deixam por isso de ser menos sérias. Até porque a análise do comportamen-
to humano está impregnada de assunções acerca da natureza do mesmo e de

23
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

conceções acerca da realidade social (O’Donoghue, 2010), o que significa afirmar


que o mesmo ato externo do ser humano pode corresponder a sentidos de ação
diferenciados (Gréhaigne, Godbout & Bouthier, 2001). De resto, a objetividade ob-
servacional pura não é alcançável nem desejável, sendo que os próprios conceitos
de sujeito e objeto são relativos e têm vindo a mudar, pelo que a observação deve
ser repensada como um contexto de interação (Angrosino & Pérez, 2000).
Reforcemos, no âmbito dos Jogos Desportivos (JD), a importância da possibili-
dade oferecida pelas estatísticas de jogo em determinar percentagens de eficácia
individuais e coletivas, obtendo-se um panorama global da prestação. Porém, essa
avaliação quantitativa deixará passar em claro a importância de eventos que de
facto foram determinantes no rumo dos acontecimentos e, concomitantemente, no
desfecho do resultado. Ou seja, a deteção das regularidades do jogo, não deixando
de ser importante para se obter um perfil de rendimento desportivo, não acede às
idiossincrasias, apanágio de momentos particulares e críticos do jogo. Do exposto,
é evidente que a análise da performance desportiva deve também ser orientada no
sentido de indicadores qualitativos, buscando eventos que, embora estatisticamente
mais raros, possam ser mais relevantes (O’Donoghue, 2010). Ou seja,

(...) ações estatisticamente não significativas podem ser


substancialmente significativas.

Todavia, a qualificação da análise qualitativa depende, em grande medida,


do recurso a procedimentos capazes de salvaguardar, por um lado, a sua natu-
reza heurística conferindo-lhes, por outro, robustez metodológica na análise e
interpretação dos fenómenos correntes, mesmo quando nos referimos às aná-
lises mais terrenas realizadas pelo treinador no âmbito da sua atividade. Ora,
uma das áreas que se encontra ainda na atualidade sedenta de fundamentos
metodológicos é, sem dúvida, a análise qualitativa da performance desportiva,
a qual tem sido entendida, não raramente, como algo que se infere baseado
sobretudo na experiência e intuição do analista, neste caso o treinador, sem
qualquer sistematização e controlo do tipo de lentes utilizadas.

24
Modelos de análise da performance desportiva

Neste sentido, os métodos qualitativos que emergiram sobretudo nas


ciências sociais mas atravessam diferentes disciplinas, campos e matérias
de pesquisa (Denzin & Lincoln, 2000), afiguram-se de enorme relevância,
possibilitando o acesso a informações negligenciadas pelas análises quanti-
tativas. Com efeito, dentro de certos limites, é possível pela análise qualitativa
aceder aos próprios motivos e crenças que norteiam a ação intencional dos
praticantes. A natureza da análise qualitativa, onde se destaca a sua indepen-
dência (pelo menos parcial) de conjuntos pré-definidos de eventos, constitui,
em si mesma, a sua maior vantagem (O’Donoghue, 2010). Ou seja, a análise
qualitativa, mais do que a análise quantitativa, potencia a existência de fases
exploratórias de observação, que permitem treinar o observador, reduzir a
sua exagerada reação ao fenómeno e, ainda, perceber parâmetros emergentes
de interesse para a análise em questão (Blanco et al., 2003). Mais se acrescenta
o facto da análise qualitativa otimizar o estudo dos fenómenos no seu contex-
to natural (Denzin & Lincoln, 2000), aspeto crucial, mormente no processo de
ensino-aprendizagem e de preparação desportiva.

A realidade profissional do treinador impõe, diariamente, a


necessidade de proceder à apreciação da qualidade de desempenhos
motores, para os quais não existem instrumentos de avaliação, sendo que
a maior parte das competências e habilidades só pode ser avaliada pelo
recurso a critérios de caráter qualitativo.
ANÁLISE DA
PERFORMANCE

Interessa assim que os treinadores sejam capazes de aceder a essa infor- DESPORTIVA

mação tanto pela observação, direta ou indireta, de comportamentos (onde a


construção de sistemas e instrumentos que permitam analisar a performance
desportiva assume papel de destaque), como pelo acesso ao pensamento dos
treinadores/jogadores (ex: estudos de caso, experiências pessoais, introspeção,
histórias de vida, entrevistas), atendendo, assim, à natureza complexa e dinâ-
mica que é a realidade da intervenção quotidiana deste profissional.
Especificamente, se o propósito do treinador se basear na compreensão da
conduta/ performance dos atletas, a partir dos seus próprios pontos de vista,
para além da análise do comportamento, será importante aceder aos seus
pensamentos, intenções, crenças, requerendo uma análise em profundidade
de estudo de casos reais pelo recurso a uma observação naturalística (natu-
ralmente, mais subjetiva mas ao mesmo tempo mais interpretativa, mais rica,
mais contextualizada e holística). Este procedimento é extensivo à análise dos
diferentes componentes da performance desportiva (técnicos, táticos, físicos,

25
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

psicológicos, sociais, etc.) já que usualmente há uma tendência para questio-


nar os jogadores em aspetos mais associados às emoções e conhecimentos e
menos a aspetos físicos, como seja, a perceção do esforço, da fadiga, etc; aliás,
é da interação e análise dos diferentes componentes que resulta um aporte
informacional mais eclético, aspeto essencial para se aceder à natureza com-
plexa da performance desportiva. Neste ambiente, o treinador é o “instrumento”
de recolha de dados, sendo que a validade e fidelidade estão grandemente
dependentes da sua sensibilidade, conhecimento e experiência.

2.2.2 TIPOS E MEIOS DE ANÁLISE QUALITATIVA DA PERFORMANCE DES-


PORTIVA

2.2.2.1 ANÁLISE QUALITATIVA DA PERFORMANCE DESPORTIVA A PARTIR


DA OBSERVAÇÃO: FASES E PROCEDIMENTOS
A competência de análise do movimento desportivo é, sem dúvida,
uma das tarefas mais importantes, senão a mais importante, na inter-
venção pedagógica do treinador. Tal se deve ao facto da análise da ação
motora ser crucial no processo de retroalimentação, (pelo fornecimento de
elementos sobre a execução motora que serve de suporte à melhoria das
execuções seguintes), tendo na sua vertente externa (realizada por outro
sujeito que não o autor da ação motora), o papel determinante assumido
pelo treinador. No contexto da vertente externa, compete ao treinador
a resolução de problemas relacionados com a análise do movimento
desportivo, a qual pressupõe uma cadeia composta por observação, re-
solução de problemas e tomada de decisão, suportada grosso modo em
duas tarefas cognitivas, o diagnóstico e a prescrição (Hoffman, 1977).
No contexto da análise qualitativa da performance, Denzin & Lincoln
(2000) destacam a observação, realizada de forma informal e espontânea
ou ainda formal e sistemática (pelo recurso a sistemas de análise/avaliação)
pelo treinador no treino e na competição. No entanto, existem outros mé-
todos mais sofisticados, no sentido de se considerar a análise de aspetos
particulares que estes procedimentos não permitem. Obviamente que
estes recursos não raramente exigem apoio de especialistas, atendendo
às elevadas exigências de performance no desporto de alto nível. É o caso,
entre outros, do estudo das estratégias visuais, de grande importância nos
JD onde é realizado o seguimento ocular dos jogadores (eye tracking, no
original inglês), o recurso a modelos biomecânicos e as avaliações funcio-
nais, através de testes que aportam dados qualitativos de interesse para o
controlo do processo de preparação desportiva e, concomitantemente, a
melhoria da performance desportiva.
No contexto da análise qualitativa da performance desportiva a ser
realizada pelo próprio treinador, Knudson & Morrison (1997) propõem um

26
Modelos de análise da performance desportiva

modelo de quatro fases: Preparação, observação, avaliação/diagnóstico


e intervenção. Estas quatro fases sucedem-se, num ciclo contínuo e, por
vezes, a ordem pode ser alterada, consoante as necessidades situacionais
específicas. Assim, por exemplo, a avaliação pode induzir uma nova obser-
vação, antes mesmo de ser conduzida uma intervenção. Mais se acrescenta
que a sua interdependência é elevada, porquanto a qualidade de realização
de cada uma delas está dependente da anterior. Por exemplo, não raramen-
te, erros de diagnóstico ocorrem por deficiente aquisição de informação.
A figura 4 apresenta o ciclo das quatro fases propostas por Knudson &
Morrison (1997).

FIGURA 4. Modelo de quatro fases


da análise qualitativa da performance
desportiva proposto por Knudson &
Morrison (1997).

ANÁLISE DA
PERFORMANCE

PREPARAÇÃO Na fase de PREPARAÇÃO, importa construir um profundo conhecimen- DESPORTIVA

to da atividade, identificando aspetos críticos4 e definindo os objetivos do


4
movimento. Paralelamente, torna-se necessário conhecer profundamente Os aspetos-chave ou críticos de um mo-
vimento são aqueles que são estritamente
os praticantes. Isto, porém, revela-se insuficiente, pois a enorme quantidade necessários para uma boa performance,
de itens a observar torna complexa a tarefa do treinador. Acresce que, sem sendo geralmente invariantes, mesmo entre
um esforço consciente de atender a um determinado objeto/alvo, os nossos diferentes praticantes (Knudson & Morrison,
1997); todavia, na análise qualitativa é
olhos irão vaguear pelo campo visual. Neste sentido, afigura-se relevante o
importante atender a aspetos idiossincrá-
desenvolvimento da capacidade percetiva, a qual se define como a compe- ticos, que variam de atleta para atleta, por-
tência de identificar a presença ou ausência de um fenómeno específico do quanto podem assumir elevada relevância
na explicação da performance desportiva
movimento na execução visualizada. Para tal, concorre o conhecimento do
individual, bem como na identificação dos
modelo correto de execução, a capacidade analítica versus global na análise meios e procedimentos para a alcançar.
da ação motora, as condicionantes do meio na execução, os pontos críticos
para o (in)sucesso da execução e, obviamente, o conhecimento das caraterís-
ticas dos praticantes.

27
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

2º Daqui decorre uma segunda fase, OBSERVAÇÃO, na qual se implemen-


OBSERVAÇÃO
tam estratégias observacionais, que devem ser sistemáticas e pertinentes. A
realização de uma observação pressupõe a existência de expetativas, sendo
através dela que as mesmas se confirmam ou infirmam; por isso, é portadora
de intencionalidade na resolução de problemas. O controlo de algumas
variáveis mostra ser importante, de onde se destaca o local de observação, a
estratégia de pesquisa visual, a distância relativamente ao executante, o ân-
gulo de observação, a estratégia de pesquisa visual, entre outras. Destaca-se,
ainda, a focalização da atenção em sequências particulares do movimento
e/ou aspetos significativos da tarefa, bem como o relacionar sistemático do
movimento com o resultado da observação e a identificação dos aspetos
que são importantes para reincidir na instrução e no feedback. Entre os aspe-
tos mais destacados na literatura como essenciais, destacam-se os vantage
points (pontos de observação mais favoráveis para observar certos aspetos
do movimento), bem como o número de observações a realizar (Knudson
& Morrison, 1997), estando, no entanto, dependentes de constrangimentos
associados ao sujeito, tarefa e envolvimento que importa considerar. Dentro
da observação em análise qualitativa, importa ainda considerar o conceito
de gestalt, o qual se baseia no entendimento de que mais importante do
que observar um aspeto específico da habilidade isoladamente, importa
procurar compreendê-lo no contexto do todo. Isto implica a adoção duma
ajustada distância do observador, que deverá permitir, simultaneamente, a
observação do todo e a captura de detalhes importantes do movimento.
A literatura aponta diferentes estratégias de observação da ação
motora, destacando-se as seguintes (Morrison & Knudson, 1997):

a) por fase do movimento (preparação, ação, continui- b) por equilíbrio do movimento, associado ao binómio
dade ou follow-through; ou, alternativamente, pré-con- economia de esforço/rentabilização da performance;
tacto, contacto e pós-contacto, na definição de Kluka c) por importância dos indicadores analisados;
(1997); d) e tendo em consideração os aspetos gerais e específicos.

28
Modelos de análise da performance desportiva

Um aspeto deve ser considerado na análise qualitativa que se prende


com a natureza das habilidades técnicas, sendo que quanto mais abertas5
5
maior é a necessidade de serem observadas em situações reais ou então, Habilidades abertas são aquelas
quando simuladas, que repliquem o envolvimento competitivo (Knudson que variam em função das exigências
situacionais, sendo, por isso, flexíveis, de
& Morrison, 1997), onde a especificidade da velocidade e o timing dos modo a responderem a uma diversidade
movimentos importa particularmente acautelar. Neste tipo de habilidades, de solicitações diferenciadas (Mesquita,
apanágio dos JD, a proficiência técnica é multidimensional porquanto, Marques & Maia, 2001).

para além da necessária eficiência (realização da técnica de acordo com os


padrões biomecânicos pré-estabelecidos), para se obter eficácia (resultado
obtido) é fundamental a adaptação (uso oportuno e ajustado da habilida-
de técnica), estando esta dependente dos constrangimentos situacionais
(Mesquita, 2009).
Quanto ao momento a observação pode ser direta, pela análise em
tempo real da ação motora ou indireta, realizada posteriormente como seja
pelo vídeo. Esta diferenciação é particularmente importante porque nem
sempre a observação direta é suficiente. Caso surjam dificuldades de análise,
poderá ser ponderada a observação estendida ou alargada. Esta pode re-
correr a múltiplos sentidos (não se limitando, portanto, à visão), a múltiplos
observadores (para cruzar opiniões) e à utilização de vídeo que, com as suas
funções de avanço frame-a-frame, pausa e câmara lenta, aumenta o poder
observacional (Knudson & Morrison, 1997).

ANÁLISE DA

A utilização do PERFORMANCE
DESPORTIVA

video promove um
aumento do poder
observacional.

Num terceiro momento, procede-se à AVALIAÇÃO E DIAGNÓSTICO



AVALIAÇÃO da performance, definida como a competência em determinar a amplitu-
de de variação na descrição do movimento em análise em referência aos
critérios de realização presentes no modelo de representação (i.e., mode-
lo considerado “ideal”). Neste aspeto, é fundamental definir a amplitude
de correção admitida no movimento (margem dentro da qual o movi-
mento é considerado adequado, admitindo variações interpessoais e/ou
situacionais), pelo menos no que diz respeito aos seus aspetos críticos.

29
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

As forças e fraquezas são avaliadas, fazendo-se um diagnóstico que irá


hierarquizá-las e estabelecer prioridades de intervenção.
A forma ‘ideal’ do movimento pode induzir em erro, pois esta pode não
se ajustar a todos os praticantes. Sobretudo em habilidades abertas, é difí-
cil definir modelos ideais da técnica, o que realça a pertinência do conceito
de amplitude de correção. Significa reconhecer que os aspetos críticos de
qualquer habilidade são dinâmicos, interagindo com uma multiplicidade
de fatores, entre os quais se destacam as caraterísticas dos praticantes e os
constrangimentos ditados pelo envolvimento situacional.
Por outro lado, nem todos os erros ou diferenças nos movimentos se
relacionam com a performance, pelo que a questão da interpretação e
hierarquização dos erros se torna de enorme relevância. Hoffman (1977)
considera a tarefa de determinação das causas dos erros particularmente
difícil, em virtude de ser mais fácil detetar os seus sintomas, ou seja, o efei-
to do que propriamente a origem da sua ocorrência. Um exemplo prático
pode ser facilmente reconhecido na correção de uma habilidade técnica,
como seja, o caso do serviço tipo ténis em voleibol onde, não raramente, o
batimento da bola num plano baixo é descrito como um erro de execução
(i.e., efeito) sendo a sua causa não indicada (relacionado, por exemplo, com
a altura de lançamento ou, ainda, com o movimento do membro domi-
nante, entre outros possíveis). Assim, é determinante o reconhecimento da
discrepância entre a resposta motora e a padrão de referência da execu-
ção, contemplando dois passos: o reconhecimento da natureza e extensão
da discrepância e a definição da causa da discrepância.
Na fase de INTERVENÇÃO, também identificada como prescrição, o

INTERVENÇÃO modo como esta é efetuada assume enorme importância. Esta poderá
ser realizada em dois contextos: o simulado ou o contexto real. Ambos
apresentam vantagens e desvantagens, sendo que enquanto o primeiro
oferece maior controlo (porquanto os estímulos são preparados anteci-
padamente, as condições padronizadas e o envolvimento controlado),
o segundo é portador de maior validade ecológica. Na escolha das si-
tuações simuladas é importante o controlo de quatro aspetos: o meio (a
situação escolhida ser o mais próximo possível do real sem comprometer
as vantagens do controlo); o sujeito que executa o erro (ser capaz de
reproduzir da forma mais fidedigna possível); a seleção dos erros a serem
visualizados (discriminação do que de facto é erro bem como da sua
quantidade); a validação dos erros (utilizar o slow-motion, por exemplo,
ou identificar o grau de concordância nas observações entre especia-
listas independentes). O recurso a cada um dos contextos está depen-
dente da natureza dos problemas existentes, decorrendo da aplicação
conjugada de ambos (i.e., simulado ou real) a otimização dos processos
de intervenção.

30
Modelos de análise da performance desportiva

O feedback extrínseco ou pedagógico é, sem dúvida, o meio mais


comummente utilizado no contexto do treino (que se pauta por ser um
contexto real), dado ser um ato pedagógico de elevada autenticidade e
riqueza informacional. Neste âmbito, o domínio dos princípios meto-
dológicos para aportar feedback e a tradução dos aspetos críticos do
movimento em pistas ou sugestões verbais, ou de outra natureza, são de
elevada importância para auxiliar o praticante no seu processo de apren-
dizagem. Particularmente, esta técnica instrucional será alvo de estudo
mais à frente, dada a sua inegável importância na análise qualitativa da
performance no contexto do treino. Existem, todavia, outros meios, como
sejam o recurso a modelos visuais (por comparação de contraste ou se-
melhança com a performance obtida pelo atleta), a orientação manual ou
mecânica do movimento, o condicionamento físico e, mesmo, a manipu-
lação das tarefas de aprendizagem.
A complexidade da intervenção remete para a possibilidade de um
mesmo erro ter múltiplas causas, sujeitas a variações consoante a especi-
ficidade de cada situação, o que obriga a uma análise cuidadosa de cada
uma delas. Importa, assim, construir estratégias de hierarquização da
intervenção, que podem ser diversas:

a) estabelecer a relação do erro com ações prévias e, d) corrigir em sequência (respeitando a sequência do
dessa forma, intervir nas ações iniciais; movimento);
b) selecionar a intervenção que mais poderá aportar e) corrigir primeiro a base de suporte do movimento e
benefícios à performance – maximizar a melhoria; só depois os aspetos que dela dependem;
c) intervir por ordem crescente de dificuldade; f) corrigir primeiro os aspetos críticos, depois os secundários.
ANÁLISE DA
PERFORMANCE
DESPORTIVA

A intervenção está sobretudo ao serviço da melhoria da performance,


mas também pode, e deve, estar associada à correção de determinados
movimentos que, embora não prejudiquem o desempenho, podem
aumentar o risco agudo ou crónico de lesão (Knudson & Morrison, 1997).
O treinador deverá estar particularmente sensível para esta necessidade
no sentido de salvaguardar a saúde física do atleta. Nomeadamente, a
bateria de testes criada por Gray Cook, designada Functional Movement
Screen® (FMS) cumpre este propósito; é constituída por oito testes físicos
funcionais, que permitem aferir limitações físicas que poderão aumentar
o risco de lesão durante a prática desportiva. A avaliação é essencial-
mente qualitativa e possibilita a prescrição de exercícios específicos de
treino que corrigem e/ou diminuem certos desequilíbrios funcionais do
praticante.

31
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

2.2.2.2 ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA NUMA PERSPETIVA


HOLÍSTICA
Numa abordagem mais holística, onde não se pretende analisar
tão-somente a performance desportiva em si, pela análise do movimento
desportivo, mas a sua emergência no contexto situacional que lhe con-
fere significado, pertinência e propriedade, é exigido o recurso a técnicas
diferenciadas. Imaginemos, num jogo de futebol, o quanto a natureza
da interação relacional estabelecida pelos jogadores pode influenciar
As entrevistas o desempenho individual e coletivo destes, não devendo, por isso, ser
ignorada pelo treinador. Neste nível, existe um comprometimento em
são um veículo analisar os acontecimentos, ações, normas, valores a partir da perspetiva
importante para das pessoas estudadas (ex. atletas/jogadores), sendo a ênfase colocada
no processo e na dinâmica da vida social. Os procedimentos utilizados
aceder ao pensamento para a recolha e análise da informação deverão, por isso, ser flexíveis
dos atletas/jogadores, pelo recurso à observação, à realização de entrevistas, à recolha de notas
de campo e, ainda, à análise de documentos, no sentido de se obter
permitindo identificar, descrições ricas e detalhadas sobre atividades, comportamentos, ações,
na primeira pessoa, as conversas, interações interpessoais, processos organizacionais ou de
comunidades ou qualquer outro aspeto de experiências humanas obser-
perceções acerca dos
váveis. Saber o que o praticante pensou ou sentiu durante a execução do
fatores explicativos movimento é de enorme relevância para a análise que fazemos da sua
da performance ação (McPherson, 1999). Imagine que pretende corrigir um aspeto técni-
co de uma ação motora – essa correção pode ser ineficaz se, como pano
desportiva (...) de fundo, existir um receio profundo em errar, um medo que irá inibir os
processos percetivos e comprometer a eficiência do movimento.
As entrevistas são um veículo importante para aceder ao pensa-
mento dos atletas/jogadores, permitindo identificar, na primeira pessoa,
as perceções acerca dos fatores explicativos da performance desportiva,
descriminando pontos fortes e fracos, a influência das suas crenças, valores,

32
Modelos de análise da performance desportiva

conhecimento, experiência, entre outros, na perspetiva que denotam, o que,


concomitantemente, fornecerá pistas ao treinador no trabalho a desenvolver
com o atleta/jogador e equipa. Neste alcance, as entrevistas deverão conter
questões de natureza aberta, bem como pedidos adicionais de esclareci-
mentos que possibilitem relatos verbais detalhados relativamente às expe-
riências, motivos, atitudes, opiniões, crenças, sentimentos e conhecimento
dos entrevistados. Os dados recolhidos deverão ser transcritos na íntegra,
salvaguardando-se a sua contextualização (mesmo as hesitações contidas
no discurso devem ser consideradas), no sentido de permitirem interpreta-
ções autênticas, substantivas e ricas. A título exemplificativo apresentamos
o trabalho desenvolvido por Mesquita & Graça (2002) sobre o estudo de
caso com um distribuidor português de alto nível acerca da análise do seu
conhecimento estratégico operante em competição. Embora este estudo
tenha sido realizado com fins de pesquisa científica, o tipo de informação
recolhida mostrou indicadores cruciais acerca das estratégias utilizadas pelo
distribuidor, atendendo à natureza circunstancial da oposição do adversá-
rio bem como às condições momentâneas da sua equipa. Revelou ser de
elevado interesse para o treinador na definição de planos estratégicos de
desenvolvimento tático do jogador/equipa, ao mesmo tempo que expandiu
horizontes para o desenvolvimento dos processos de reflexão do jogador,
base do desenvolvimento da metacognição (McPherson & Kernodle, 2007).

Para o treinador aceder e compreender esta realidade, terá de


recorrer a técnicas de natureza mais indutiva (isto é, não fundada em
teorias ou esquemas concetuais prévios mas partindo dos dados para ANÁLISE DA
PERFORMANCE

construir o seu significado), no sentido de lhe permitir realizar uma análise


DESPORTIVA

profunda e detalhada referenciada a contextos/eventos concretos.

Obviamente que estes procedimentos, quando aplicados no âmbito da


investigação, revestem-se de níveis de sofisticação e pormenor elevados,
não se revelando adequados nas práticas do treinador. Todavia, qualquer
treinador carente de uma atitude investigatória estagna e não se apropria
de informação-chave sobre as circunstâncias explicativas da performance
desportiva dos seus atletas/jogadores, a qual é em grande medida de natu-
reza implícita. Para conseguir retirar dos dados recolhidos riqueza informa-
cional, o treinador deve utilizar estratégias capazes de gerar significados
como sejam: imergir nos dados lendo-os cuidadosamente; realizar análises
informais sem expetativas antecipatórias nem pré-juízos, no sentido de
manter a sua genuinidade e autenticidade; anotar pensamentos e ideias

33
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

que emergem da leitura, os quais o ajudam a sistematizar ideias e a perceber


o sentido e fluxo do discurso; focalizar-se em descobrir temas e padrões,
agrupando-os em famílias, que o auxiliem na interpretação dos significa-
dos dos “dizeres” do entrevistado (sublinhando, escrevendo nas margens);
atender aos detalhes e não apenas ao discurso dominante, porquanto neles
não raramente está o “diamante por lapidar”; ter flexibilidade de análise
capaz de considerar a interação entre temas, na medida em que desta pode
emergir informação relevante; mapear os temas emergentes, no sentido de
sistematizar a informação recolhida e perceber o seu significado, construin-
do cadeias de evidência lógica; produzir coerência concetual, a partir do
confronto das conceções dos jogadores/atletas com as suas, mormente
acerca do modelo de preparação desportiva, possibilitando assim a estrutu-
ração de planos estratégicos de intervenção optimizadores da performance
desportiva individual/equipa.

2.2.2.3 FATORES QUE INTERFEREM NA CAPACIDADE DE ANÁLISE DA


PERFORMANCE DESPORTIVA
A análise da performance desportiva, por mais objetiva que seja,
constitui sempre um ato impregnado de subjetividade, envolvendo cren-
ças, expetativas e juízos de valor, aspetos que vão, consequentemente,
determinar a natureza das perceções, o tratamento da informação e as
decisões. Daí se intentar fortalecer o processo de análise da performance
desportiva, através do recurso a procedimentos metodológicos que
minimizam a interferência desses aspetos e procuram aportar a análise
de maior rigor e precisão.

A análise da
performance desportiva,
por mais objetiva que
seja, constitui sempre
um ato impregnado de
subjetividade, envol-
vendo crenças, expetati-
vas e juízos de valor (...)

34
Modelos de análise da performance desportiva

Todavia, existem outros aspetos, extrínsecos à própria análise, tanto do


foro contextual como pessoal, que interferem com a capacidade de análise,
devendo o treinador estar consciente da sua existência. Mormente, algumas
variáveis do foro psicológico podem influenciar a capacidade de observa-
ção, como seja, a atenção, a memória de curto prazo, a competência de des-
criminação visual. A atenção é indicada como uma das mais importantes,
pois é ela que permite existir mentalmente os objetos percecionados para
que a memória possa dispor deles, influenciando, assim, a competência de
processamento e seleção; para além disso, é crucial para uma boa memória
visual e para a otimização da memorização dos detalhes.

Outro tipo de variáveis relacionadas com o analista/observador


mostram também interferir na capacidade de observação, de onde se destaca
a experiência observacional, o conhecimento e a experiência de ensino/treino.
O nível de conhecimento assume elevado potencial explicativo na
competência de observação, uma vez que observar implica a captação de
informação a partir de um determinado ponto de vista, o que significa a
presença de cognição em qualquer forma de perceção (Downey, 1979).
Todavia, parece ser o conhecimento procedimental (referenciado ao como
fazer, como sejam, as estratégias de resolução de problemas) que mais afe-
ta a capacidade de diagnóstico; por sua vez, o conhecimento declarativo
(referenciado ao saber factual), sem evidenciar uma relação tão pronun-
ciada com a capacidade de diagnóstico, não deixa de constituir a base, a
ANÁLISE DA
partir da qual se constrói o conhecimento procedimental. PERFORMANCE

Existe uma relação entre este último tipo de conhecimento (i.e. proce- DESPORTIVA

dimental) e a experiência profissional, já que se constata que os treinado-


res mais experientes são melhores “no modo de fazer as coisas”, aspeto
vertido na capacidade de melhor filtrar a informação e de se concentrar
nos aspetos críticos da execução motora; de uma forma algo simplista,
pode-se afirmar que para estes treinadores, a quantidade de informação
disponível é proporcional à sua competência para a tratar. Esta mais-valia
deve-se, em grande medida, ao facto da experiência como treinador apro-
fundar o conhecimento dos padrões de execução das ações motoras, bem
como dos seus desvios o que, concomitantemente, aumenta a proficiência
de diagnóstico. Não obstante, a experiência por si só não é sinónimo de
maior competência de análise/observação, já que é o treino de observa-
ção que mostra ser determinante. Assim, e apesar do treino de observação
estar usualmente otimizado nos treinadores mais experientes, é necessário
que estes adotem uma atitude deliberada e sistemática para o praticar.

35
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Por validade
entende-se a capacida-
de que um sistema de
análise possui para medir
aquilo que efetivamente
pretende medir, garanti-
da pela adequação entre
os dados recolhidos e as
valorizações ou interpre-
tações produzidas.

2.2.3 VALIDADE E FIABILIDADE NA ANÁLISE QUALITATIVA DA PERFORMANCE


DESPORTIVA
Pretende-se que a análise qualitativa aporte informações que permitam
tomar decisões conducentes a um aumento da qualidade do processo de prepa-
ração desportiva. Para que tal aconteça, importa aferir da qualidade dos dados,
nomeadamente da sua validade e fiabilidade.
Por validade entende-se a capacidade que um sistema de análise possui para
medir aquilo que efetivamente pretende medir, garantida pela adequação entre
os dados recolhidos e as valorizações ou interpretações produzidas. Um primeiro
pré-requisito radica no conhecimento dos modelos teóricos sobre o domínio dos
6 aspetos em análise, complementado por informação sobre a realidade onde a
A validade lógica tende a afirmar verdades
lógicas, ou seja, aquelas nas quais as conclu- avaliação se desenrola e sobre os fatores que podem afetar a sua validade.
sões derivam natural e racionalmente das Existem variadíssimos tipos de validade, sendo no âmbito deste capítulo
premissas. Neste contexto, tendem a merecer o
desenvolvidos aqueles que mais se apropriam ao trabalho desenvolvido pelo
consenso de opiniões ao nível da literatura da
especialidade, bem como dos peritos na área. treinador na análise qualitativa da performance desportiva. A validade lógica6 é
estabelecida por consenso da literatura e por opiniões de peritos. Contudo, cada
perito tende a ver a causa do erro, de acordo com a sua especialidade – assim,
um biomecânico, um psicólogo e um fisioterapeuta verão aspetos distintos do
treinador (Knudson & Morrison, 1997). Mais ainda, os autores alertam para a
mutabilidade temporal e contradições exibidas nas opiniões dos peritos; neste
âmbito, recorre-se, não raramente, ao método consensual, onde os peritos
discutem entre si os seus pontos de vista, resultando dessa interação um con-
senso. Tuckman (1994) assinala, ainda, erros comuns gerados pelos analistas
(neste caso, treinadores), onde se destaca o efeito de halo, na tendência que
existe em se avaliar mais positivamente as pessoas de quem mais gostamos.

36
Modelos de análise da performance desportiva

Existem, ainda, outras fontes de erro, como sejam a tendência central, a bran-
dura ou generosidade e o efeito das impressões iniciais ou mais recentes. O
treinador deve estar ciente da possível interferência destes aspetos na análise da
performance desportiva, principalmente do foro qualitativo, onde a interferência
da sua impressão subjetiva é superior em todas as partes do processo.
A validade pode ser ainda referida à norma ou ao critério, como anterior-
mente foi definido no capítulo de análise quantitativa; no primeiro caso, sujeita-
-se a comparação do indivíduo com um padrão e, no segundo, os requisitos de
realização são equacionados tendo em conta um nível de domínio desejável.
Por seu turno, a validade interna representa a coerência interna do sistema/
protocolo ou do instrumento de análise/avaliação, o que significa afirmar que o
treinador deverá garantir que os resultados encontrados não são afetados por
variáveis estranhas à própria recolha de dados, constituindo-se fonte de distor-
ção interna. A validade externa representa a concordância com outras realida-
des similares, permitindo a representatividade e generalização dos dados.
Ora, no contexto da análise qualitativa da performance desportiva levada
a cabo pelo treinador, a validade referenciada ao critério e a validade interna
devem ser as mais consideradas, porquanto as análises são sobretudo realizadas
em meio natural (isto é, durante o treino e competição) e onde as idiossincrasias
do envolvimento, da tarefa e do sujeito coexistem e interagem, conferindo às
observações validade ecológica. No âmbito da análise qualitativa da perfor-
mance desportiva, este conceito assume suma importância, ao considerar na
conceção dos sistemas de análise e na interpretação dos dados a natureza do
contexto, a complexidade das interações, a pluralidade e diversidade de culturas
e necessidades, as representações, a imprevisibilidade de acontecimentos e a
dinâmica dos processos e da sua influência (Rosado, 1998).
ANÁLISE DA
O treino dos observadores é uma forma de minimizar as fontes de erro que PERFORMANCE

derivam do observador. No entanto, a fiabilidade é uma qualidade fundamental DESPORTIVA

de qualquer instrumento de medida, porque dela depende a confiança que po-


demos ter nos resultados obtidos. Obviamente que, no âmbito da atividade do
treinador, não faz sentido exigir um elevado grau de rigor relativamente à fideli-
dade dos sistemas de análise/avaliação aplicados, até porque a natureza mutável
e dinâmica da performance desportiva exige o recurso constante à criatividade
e originalidade, para atender às circunstâncias de cada caso, num compromisso
entre rigor metodológico, condições reais dos recursos disponíveis e exigên-
cias impostas pelos constrangimentos situacionais. No recurso a sistemas de
análise/avaliação será importante, sempre que possível (ex. análise posterior da
performance em competição quer pela estatística do jogo ou pelo desempenho
nos desportos individuais), realizar mais do que um momento de avaliação pelo
mesmo observador (intraobservador: de forma a aferir da consistência de cada
observador) e por mais que um avaliador (de forma a garantir a objetividade da
observação).

37
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Pelo referido anteriormente, torna-se inequívoco que análise qualitativa não é sinónimo de desorganização ou
arbitrariedade, de falta de validade ou fiabilidade (Knudson & Morrison, 1997). Como referem os autores, o concei-
to de validade refere-se, geralmente, à habilidade do analista em identificar corretamente forças e fraquezas numa
performance, enquanto a fiabilidade se reporta à consistência dessas avaliações com elevado grau de subjetivida-
de, ficando, por isso, dependente da sua sensibilidade, conhecimento e experiência.

No âmbito de análises mais heurísticas, sem o recurso a sistemas de análi-


se ou qualquer procedimento fechado, onde as análises partem de condições
mais informais e imprevisíveis (registadas por exemplo em notas de campo,
em diários de reflexão, em vídeo, ou qualquer outra forma de registo), onde
as particularidades do contexto situacional são particularmente equaciona-
das, será relevante a discussão aberta entre treinadores sobre a problemática
em questão, de forma a serem gerados consensos resultantes do confronto
de ideias e perspetivas. Como refere O’Donoghue (2010), por vezes, mesmo
usando definições imprecisas, é possível chegar-se a um acordo total nas
codificações, sobretudo quando os codificadores têm experiência nesse
domínio, fundado num conhecimento tácito elevado. Até porque a existência
PROPOSTA DE TRABALHO de definições operacionais precisas e mensuráveis não garante por si só boa
fiabilidade na recolha dos dados, nem a sua ausência garante pobre fiabilida-
de (O’Donoghue, 2007); é do rigor e da apropriação dos métodos utilizados,
n Filme situações de treino e consoante a natureza do problema em análise, que se garante a objetividade
convide outros treinadores a e o rigor dos dados em análise (quer sejam observações de comportamentos,
analisarem e debaterem em análises de entrevistas/relatos verbais ou documentos).
conjunto acerca de indica-
dores da performance (ex:
tático-técnicos) referenciados
a propósitos específicos.
n De tempos a tempos, reobser-

ve você mesmo essas situa-


ções, procurando perceber se
as avalia da mesma forma ou
se as contextualiza e interpre-
ta diferentemente.
n Mostre os registos que faz da

sua própria atuação a tutores


e/ou a outros treinadores,
para que efetuem uma crítica
construtiva acerca da sua
intervenção.

38
Índice
CAPÍTULO III.
3. EFICÁCIA INSTRUCIONAL NA ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA 40
3.1 DAS ESTRATÉGIAS INSTRUCIONAIS EXPLÍCITAS ÀS IMPLÍCITAS 40
3.2 DEMONSTRAÇÃO: CARATERÍSTICAS, CONSTRANGIMENTOS E ESTRATÉGIAS 42
3.3 FEEDBACK PEDAGÓGICO: CARATERÍSTICAS, CONSTRANGIMENTOS E ESTRATÉGIAS 47
3.4 O RECURSO ÀS TECNOLOGIAS RELACIONADAS COM O FEEDBACK 58
3.4.1 O vídeo como fonte de feedback 58
3.4.2 O recurso a tecnologias sofisticadas de feedback 60

CONCLUSÕES 63
AUTOAVALIAÇÃO 68
GLOSSÁRIO 70
BIBLIOGRAFIA 71

ANÁLISE DA
PERFORMANCE
DESPORTIVA

1. ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

2. MODELOS DE ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

3. EFICÁCIA INSTRUCIONAL NA ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA

39
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
n Compreender a natureza idiossincrática, circunstancial e adaptativa da instrução emitida pelo treinador nos diferentes
momentos do processo de treino (como seja, na apresentação das tarefas, na reinstrução, no feedback) e na competição.
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

n Reconhecer a apropriação do nível de explicitação da instrução (estratégias implícitas versus explícitas) emitida pelo
treinador em função de fatores de diferente índole como seja a natureza, complexidade e propósitos das tarefas e o nível
de habilidade dos praticantes.
n No recurso à demonstração e feedback, considerar as suas caraterísticas, constrangimentos e estratégias de utilização,
procedimento concorrente da otimização da eficácia pedagógica.
n Reconhecer tecnologias relacionadas com o feedback, sendo capaz de distinguir a sua apropriação de acordo com o
problema específico em análise.

3. EFICÁCIA INSTRUCIONAL NA
ANÁLISE DA PERFORMANCE
DESPORTIVA
3.1 Das estratégias instrucionais explícitas
às implícitas
A instrução relaciona-se com a informação emitida pelo treinador, referen-
ciada especificamente ao conteúdo de treino, o que significa que os aspetos,
mormente de âmbito organizativo, não fazem parte desta categoria (Mesquita,
2005). A sua importância reside no facto da informação fornecida aos atletas/
jogadores acerca do desempenho motor, constituir uma das variáveis que
mais afeta, embora indiretamente, a aprendizagem e performance das habili-
dades desportivas (Franks, 2004). Assim, a instrução, por ser o principal meio
externo através do qual os atletas/jogadores recebem indicações acerca da sua
performance é uma ferramenta pedagógica a ser constantemente melhorada;
para isso contribuem os resultados da investigação bem como as reflexões
constantes do treinador, acerca da própria experiência e de outros.
Por sua vez, a instrução pode ocorrer em diferentes momentos do
treino, como sendo na apresentação das tarefas (ou exercícios), durante os
mesmos (para reforçar a instrução ou para emitir feedback) ou, ainda, após o
ser término ao longo do treino e no seu final. A instrução situada em dife-
rentes momentos do treino induz, no praticante, uma ideia simultaneamente
global (pelo acrescentar de informação recebida) e específica (referenciada a
contextos situados) da ação pretendida (Hodges & Franks, 2004).

40
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

Atendendo aos dados provindos da investigação sobre a eficácia pedagó-


gica, algumas caraterísticas da informação foram sendo associadas ao perfil de
“instrução eficaz”, a qual se tem regido por ser explícita, descritiva/prescritiva
e específica. Neste âmbito, a informação detalhada dos recursos informacio-
nais que o atleta deve integrar, bem como a prescrição dos movimentos, são
pormenorizadamente verbalizados ou demonstrados pelo treinador ou, em al-
guns casos, por outro colega de equipa que, usualmente, é um bom executan-
te (Williams & Hodges, 2005). Obviamente que esse perfil esteve (e ainda está),
associado ao estilo de treinador autoritário, dominante a partir de meados do
século passado e, ainda, vigente no contexto da prática desportiva, mormente A possibilidade
no treino dos mais jovens (Pereira, Mesquita & Graça, 2009).
Todavia, do confronto entre estilos de ensino diretivos (ensino explícito, de-
do praticante proble-
matizar torna-o,
ANÁLISE DA
composto em partes, progressão na aprendizagem definida passo a passo e ati- PERFORMANCE

vidade do aluno altamente monitorizada) (Rosenshine, 1979) e estilos de ensino DESPORTIVA


consequentemente,
não diretivos (baseados nas teorias construtivistas e sociais da aprendizagem,
tem vindo a emergir a importância do papel exercido pelo praticante no proces- construtor ativo da
so de aprendizagem, particularmente, das relações estabelecidas com a tarefa e sua aprendizagem e
o envolvimento. A possibilidade do praticante problematizar torna-o, conse-
quentemente, construtor ativo da sua aprendizagem e um autorregulador um autorregulador da
da mesma, libertando-o, em certa medida, dos feedbacks fornecidos pelo seu mesma (...)
treinador. Por exemplo, a utilização de determinada habilidade pelo praticante,
ou mesmo aspetos particulares da sua execução, decorrente estritamente do
comando do treinador, no decorrer do jogo, pode obviamente produzir sucesso;
contudo, isso não significa que o jogador seja capaz de a replicar autonomamen-
te e, muito menos, se as condições de aplicação se alterarem.
Estas evidências têm vindo a demonstrar a existência de alguns mitos
relativamente ao perfil de instrução ideal, quer na apresentação das tare-
fas, quer na reinstrução ou no feedback, os quais deverão ser questionados,

41
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

porquanto é a natureza da situação que legitima a apropriação da técnica


instrucional aplicada e do tipo de informação emitida.
Os dois pontos seguintes abordam duas estratégias de maior impor-
tância na análise qualitativa da performance, comummente aplicadas pelo
treinador, os casos da demonstração e do feedback pedagógico. Aqui, serão
confrontadas perspetivas diferenciadas em relação ao teor da tipologia de
informação vinculada em cada uma das duas técnicas instrucionais à luz de
resultados oriundos da investigação, bem como dos desígnios, impostos
pela experiência profissional na atividade de treinador.

Sendo que a atividade do treinador é iminentemente de natureza


pedagógica, não se rege por normas (logo as “receitas“ devem
ser evitadas) mas por princípios, os quais devem ser percebidos
enquanto tal
ou seja, a legitimação da sua aplicação, mormente no cariz da instrução
emitida pelo treinador, reivindica a sua apropriação à especificidade das
situações onde se aplicam.

3.2 Demonstração:
caraterísticas, constrangimentos e estratégias
Parte-se, não raramente, da assunção de que a demonstração é sempre
efetiva para transmitir informação ao atleta/jogador. Com efeito, a demons-
tração tem revelado ser vantajosa para o processo de aprendizagem (Hayes
et al., 2006), sobretudo se acompanhada de informação (McMorris & Hale,
2006). Uma vez que as pessoas podem aprender pela observação de outras
pessoas, a demonstração assume um papel pertinente, operando como re-
ferencial para a intencionalidade da ação e meios de alcançar esse propósito
(Hodges et al., 2007).
Embora esta técnica instrucional se apresente como uma ferramenta
pedagógica de elevado relevo pode, contudo, nem sempre ser apropriada.
A principal razão para se utilizar a demonstração é proporcionar ao atleta/jo-
gador um modelo visual em relação aos movimentos desejados (Williams &
Hodges, 2005). Todavia, a sua efetividade parece ser superior quando a estra-
tégia definida para alcançar o propósito da ação é passível de ser claramente
delineada (abordagem algorítmica) e, claro, o praticante está motivado e
tem capacidade para a realizar. Contrariamente, quando o objetivo é auxiliar
o praticante a realizar uma ação que não está diretamente relacionada com
a utilização de uma técnica específica (abordagem heurística), a demonstra-
ção pode não ser efetiva (Williams & Hodges, 2005). Tal acontece porque a

42
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

demonstração pode constranger as opções possíveis, obrigando o prati-


cante a escolher uma que, face à natureza aberta e dinâmica da situação, se
pode oferecer como limitativa ou, mesmo, inapropriada. Particularmente nos
JD, onde a solução está, não raramente, dependente de constrangimentos
situacionais que ditam a oportunidade e ajustabilidade da solução motora,
a abordagem heurística mostra-se apropriada; acresce, ainda, a mais-valia de
incrementar a responsabilidade do praticante sobre a sua própria aprendiza-
gem. Neste âmbito, uma técnica avançada como eficaz consiste em questio-
nar os praticantes, no sentido de se concentrarem nos propósitos da tarefa
encorajando-os, assim, a descobrirem soluções para os alcançarem. Na medida
em que existem diferentes caminhos para se alcançar o mesmo resultado, os
ANÁLISE DA
praticantes devem explorar as oportunidades, promotoras do desenvolvimen- PERFORMANCE

to de padrões motores flexíveis e adaptativos (Williams & Hodges, 2005). DESPORTIVA

Contudo, em todo o tipo de modalidades desportivas, a fase inicial


de aquisição de uma habilidade técnica requer demonstração, dada a
importância de se adquirir os fundamentos da execução; mas, mesmo nesta
situação, parece ser indicado experienciar a realização da ação antes de se re-
correr à demonstração, assim como acoplar esta aos efeitos desejados (isto é,
ao resultado), no sentido de encorajar os praticantes a resolverem problemas
e a relacionarem os processos desenvolvidos com o produto a ser alcançado.
Por exemplo, no voleibol, quando o treinador refere ao jogador: “coloca o
pé em cima da linha” se ele não referir o porquê, ou seja a pertinência deste
comportamento em relação à situação concreta e ao resultado desejado,
o praticante executa mas não percebe a importância da sua realização.
Contrariamente, se o fizer vai, não só, permitir ao praticante compreender o
significado da sua ação, fornecendo-lhe ainda indicadores para ele decidir
oportuna e ajustadamente noutras situações.

43
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Outra questão prende-se com o modelo de demonstração, isto, é de


aprendizagem ou de representação. O primeiro, onde se salientam os erros
comummente cometidos e o segundo, onde é apresentado o modelo corre-
to de execução à luz dos padrões de referência técnica pré-estabelecidos. O
uso combinado dos dois é recomendado, sendo que o modelo de aprendiza-
gem é particularmente pertinente para auxiliar o praticante a tomar parte na
deteção de possíveis erros, ajudando-o a melhor os representar e, concomi-
tantemente, a aumentar a possibilidade de correção.
Relativamente a quem realiza a demonstração, tem emergido recente-
mente a ideia de que poderá ser benéfico visualizar diferentes demonstra-
ções acerca da mesma situação, possibilitando ao praticante a perceção de
distintos indicadores especificadores de variantes de execução, fator crucial
para lhe possibilitar liberdade procedimental na seleção e execução motora.
Até porque as demonstrações podem colocar constrangimentos que podem
operar negativamente, caso os praticantes as tentem reproduzir mecanica-
mente, gerando padrões de movimento inadequados (Reid et al., 2007). Pode
assim, ser realizada pelo treinador ou jogador/atleta ou, ainda, apresentada
em vídeo dependendo do que importa salientar bem como dos seus propó-
sitos. Alguns aspetos a considerar:

1. escolher quem faz a demons- 2. libertar o treinador para desta- 3. apresentar em vídeo quando se
tração em função da sua capacidade car informação acerca da demons- pretende focar aspetos específicos e
para replicar o modelo desejado tração se isso é importante, sendo críticos que importa analisar várias
(seja para salientar erros ou executar esta realizada por um atleta desde vezes, manipulando a velocidade de
corretamente); que este replique o desejado; análise.

Durante a demonstração, consoante as caraterísticas da situação, poderá


ser necessário demonstrar a partir de diferentes ângulos (indicam aspetos
distintos da execução do movimento) e/ou com diferentes velocidades
(permite visualizar aspetos que à velocidade normal de execução são im-
percetíveis) (Mesquita, 1997). Relativamente à velocidade da demonstração,
importa salientar que em habilidades que requerem acelerações, as demons-
trações em velocidade reduzida podem desvirtuar o movimento; bem como
provocar o efeito contrário, ou seja, realçar detalhes do movimento que
seriam impercetíveis na velocidade normal (McMorris & Hale, 2006). Daí ser
importante que a alteração da velocidade de execução seja equacionada em
função dos propósitos que a legitimam.
A demonstração pode ser ainda parcial ou global, consoante os propósi-
tos a que se destina. A investigação tem vindo a sugerir a pertinência da de-
monstração global da tarefa quando é colocada a ênfase na sua parte terminal,

44
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

pois é esta que contem mais informação acerca do efeito e, por isso, é a que
vai condicionar mais fortemente a prestação dos praticantes e a forma como
irão organizar a sua ação (Hodges et al., 2007; Reid et al., 2007); todavia, em
etapas inicias da aprendizagem e/ou em situação de refinamento, a demons-
tração deve realçar aspetos de todo o curso do movimento. Por sua vez, a
demonstração parcial pode ser benéfica na fase em que é necessário atender
a aspetos críticos e particulares de execução, depois da compreensão do
movimento global estar adquirida.

ANÁLISE DA
PERFORMANCE

A demonstração pode ser dirigida a título individual, a pequenos grupos ou DESPORTIVA

à equipa consoante os seus propósitos.

Importa perceber que só se deve demonstrar o necessário e só para


quem necessita, o que elucida acerca do recurso das diferentes situações;
individual quando apenas um atleta/jogador mostra necessitar particular-
mente de uma informação visual adicional em relação a um aspeto ou vários
aspetos, relevantes apenas para ele; a um grupo, quando particularmente
resulta de alguma necessidade específica por serem, por exemplo, jogadores
especialistas da mesma função, por estarem relacionados nos eventos cor-
rentes do fluxo do jogo e, por isso, ser relevante a demonstração para todos;
à equipa, quando são aspetos normalmente mais gerais que importa a todos
os atletas/jogadores ou, então, ao nível da iniciação em aspetos basilares
relacionados com os fundamentos técnicos e táticos ou, ainda, físicos.

45
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

A figura 5 apresenta de forma esquemática as diferentes dimensões e


respetivas categorias da demonstração.

Figura 5. Esquematização da tipolo-


gia da demonstração.

SUGESTÕES
DE ATIVIDADES
n Peça a um colega mais experiente O timing da demonstração é um outro aspeto variável, de acordo com
para observar os seus momentos de
instrução e de demonstração, para o a situação. Em determinadas situações de aprendizagem, pode ser impor-
poder ajudar a melhorar neste âmbito. tante colocar, desde logo, os praticantes nas suas posições, fornecendo-lhes
as instruções em simultâneo com a demonstração; esta estratégia é parti-
n Discuta em grupo (com outros treina-
dores) dilemas que possui em relação
cularmente ajustada quando o exercício apresenta elevada dinâmica com
ao recurso desta técnica, contextuali- variações de posições e funções no seu decurso. Esta conjugação permite,
zando-os, o mais possível, em situações- nestes casos, uma melhor compreensão da situação de aprendizagem, além
-problema.
de possibilitar poupança do tempo consumido na explicação do exercício.
n Observe outros treinadores no recurso Contudo, perante uma nova habilidade técnica ou conteúdo tático,
a esta técnica instrucional no sentido exigindo a focalização em componentes críticas de execução, é preferível
de obter um referencial de aplicação
realizar a demonstração antes da explicação funcional do exercício, com o in-
mais vasto que lhe permite refletir a sua
prática e a de outros. tuito de otimizar a atenção dos praticantes e consequentemente a retenção
da informação.
n Filme episódios de instrução e/ou
demonstração, tentando perceber se
todos os atletas tiveram bom acesso a
ângulos relevantes de observação, bem
como se a atenção destes foi captada
de forma eficaz, para além de outros as-
petos pertinentes que apenas a análise
em deferido, por vídeo, permite.

46
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

3.3 Feedback pedagógico: caraterísticas,


constrangimentos e estratégias
O feedback pedagógico ou extrínseco constitui um meio imprescindível
à aprendizagem, ao constituir-se como a principal forma de intervenção na
maioria das análises qualitativas do movimento e por servir três grandes
funções de ensino (Knudson & Morrison, 1997):

ORIENTAÇÃO
↘ ↘ REFORÇO ↘MOTIVAÇÃO
ANÁLISE DA
Mostra possuir elevada influência na aquisição e aperfeiçoamento das PERFORMANCE

habilidades e no aumento dos níveis de motivação, apesar de nem sempre DESPORTIVA


Um treinador
ser utilizado da melhor maneira, bem como na quantidade apropriada.
A quantidade de feedback emitida constitui um aspeto que oferece demasiado interven-
controvérsia uma vez que dela depende, em grande medida, a eficácia tivo, emitindo
desta estratégia instrucional. Tradicionalmente, verifica-se a tendência dos
treinadores emitirem grandes quantidades de feedback, talvez em resultado constantemente
do elevado valor pedagógico conferido a esta técnica instrucional assentan- feedbacks, induzirá
do no princípio de “quanto mais melhor”, para ajudar a adquirir/refinar as
habilidades (Williams & Hodges, 2005).
nos praticantes
Knudson & Morrison (1997) defendem que o feedback deve ser frequen- uma inibição do seu
te, sobretudo com iniciantes. Porém, um treinador demasiado interventivo,
emitindo constantemente feedbacks, induzirá nos praticantes uma inibição
processo reflexivo.
do seu processo reflexivo (Williams & Hodges, 2005; Vickers, 2007). Esse
excesso pode provocar, ainda, exagerada dependência de estímulos infor-
macionais extrínsecos, limitando a sua capacidade de resolver problemas.

47
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Até porque, demasiada dependência do feedback pedagógico diminuirá a


possibilidade de resolver eficazmente problemas na ausência dele o que,
naturalmente, acontece em competição; assim, o treinador, em vez de estar
progressivamente a autonomizar os atletas/jogadores para decidirem à
luz das suas próprias análises e perspetivas, gera dependência funcional,
podendo-se constituir limitativo da otimização da performance desportiva.

A quantidade de feedback pedagógico emitido deve


estar ainda dependente de fatores, como sejam, a
etapa de formação do praticante e a complexidade da
tarefa sendo que nas etapas iniciais os praticantes ne-
cessitam de mais quantidade de feedback e de nature-
za descritiva/prescritiva.

Progressivamente, deve ser diminuído, no sentido de encorajá-los a diag-


nosticar e a corrigir os erros, o que não significa que o treinador não forneça
pistas que os auxiliem a orientarem a atenção para pistas apropriadas. Mais
se acrescenta da possibilidade de se sumariar aspetos, sendo emitidos todos
numa só vez, assim como conferir aos atletas/jogadores a iniciativa de serem
eles a determinar quando sentem necessidade de mais informação; mas,
para isso, os atletas/jogadores têm de ser capazes de compreender e assimi-
lar a quantidade e a complexidade da informação emitida o que, provavel-
mente, é mais fazível nos níveis elevados de prática.
Por outro lado, o feedback intrínseco está disponível, como conse-
quência natural da realização de uma ação, devendo ser ativado, o que
não sucede tão facilmente se o treinador constantemente emitir feedbacks
extrínsecos. Tal significa que nenhum dos dois deve substituir o outro, sendo
recomendável dar tempo ao praticante para utilizar o feedback intrínseco (via
sensorial), aspeto fundamental para desenvolver a capacidade de autoanáli-
se e, com isso, desenvolver competências que o vão autonomizar e respon-
sabilizar. O problema que se coloca com os feedbacks intrínsecos na relação
com a execução do movimento, prende-se com o perigo da excessiva
orientação interna sobre si mesmo, esquecendo a interação com a tarefa e,
sobretudo, com o envolvimento (Davids & Araújo, 2005). Por exemplo, numa
situação eminentemente tática, onde importa analisar as ações de colegas
de equipa e de adversários, um foco exageradamente interno da atenção
inibirá a análise de informações externas pertinentes (Davids & Araújo, 2005;
Vickers, 2007). Erros derivados de um foco interno da atenção incluem aten-
der a preocupações que não são relevantes para o contexto situacional ou
refletir demasiado sobre incidentes prévios, sobre os quais o atleta/jogador

48
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

já não pode exercer qualquer controlo (O’Donoghue, 2010); em última análise,


um foco interno exagerado poderá induzir a “asfixia”, ou seja, incapacidade to-
tal para analisar o meio externo (Vickers & Williams, 2007). Entre o foco externo
distal e proximal parece ser o primeiro o mais eficaz, embora ambos revelem
maior eficácia que o interno, como se comprovou no golfe (Bell & Hardy, 2009).
Embora concordando com a generalidade destas assunções, Ehrlenspiel
(2001) alerta para a importância de focos internos nas fases iniciais de aprendi-
zagem de determinadas ações e, ainda, para a possibilidade deste tipo de feed-
back se poder ajustar melhor a certos estilos de aprendizagem, estando, por isso,
fortemente dependente da individualidade de cada praticante. A assunção de que
à medida que os praticantes evoluem libertam-se mais das informações externas,
entre as quais as visuais, confiando de modo mais intenso em informações cinesté-
sicas (Ford et al., 2006), devem ser aspetos a considerar pelo treinador.

Mais se acrescenta que, estando a informação disponível no contexto,


é importante que o treinador, mais que prescrever, auxilie o praticante,
nomeadamente através do questionamento, na captação e seleção da
informação pertinente para resolver o problema em questão, ajudando-o a
confiar no feedback intrínseco.

No caso de praticantes iniciantes, acresce que estes são incapazes de lidar com
muita informação, pelo que será melhor fornecer-lhes pequenas quantidades de
ANÁLISE DA
feedback (Khasawneh et al., 2008). Neste âmbito, é importante construir situações PERFORMANCE

de prática que apresentem ajustadas interações entre indivíduo, tarefa e envol- DESPORTIVA

vimento; com isto, o treinador dará menos feedbacks, na medida em que a própria
situação irá apelar à emergência de determinados comportamentos por parte
dos praticantes (Mesquita, 2005). Deste modo, o praticante aprenderá a melhor
‘escutar’ e interpretar o seu feedback intrínseco (Reid et al., 2007). Apesar destes
considerandos, importa salvaguardar que a quantidade de informação aportada
dependerá sempre, e em última análise, das caraterísticas do praticante, da natu-
reza da tarefa e dos seus propósitos (Hodges & Franks, 2004).
Outra questão emergente prende-se com o timing de emissão de feedbacks.
Ao emitir o feedback concorrentemente com a tarefa ou imediatamente após
a conclusão desta, o treinador atua prontamente e o praticante pode, sem de-
mora, corrigir o erro em causa. Porém, isto acarreta os mesmos riscos colocados
pelo excesso de feedback – ausência de tempo de reflexão (autocorreção) e de-
pendência do treinador (Mesquita, 1997; Hodges & Franks, 2004). Recentemente,
tem vindo a revelar-se vantajosa a emissão de feedback retardado (dando algum

49
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

tempo de reflexão ao praticante), no sentido de estimular o feedback intrínseco


(Reid et al., 2007; Vickers, 2007); no entanto, o feedback concorrente, mormente
em ginástica, mostrou ser eficaz na correção de movimentos complexos e não
pareceu gerar dependência da informação, independentemente da frequência
de administração do feedback (Baudry et al., 2006).
Na atualidade, a natureza do feedback, como já anteriormente se aflorou
neste capítulo, tem encontrado espaço de discussão entre treinadores, espe-
cialistas e investigadores. Cada vez mais, como resultado da importância do
recurso a abordagens mais construtivistas, optimizadores da estimulação
dos sistemas cognitivo e percetivo dos praticantes e, consequentemente, da
autonomia funcional, o recurso a estratégias de instrução de caráter implícito
assume relevância de aplicação no contexto do treino, nomeadamente no alto
rendimento; afastam-se das tradicionalmente aplicadas, de caráter explícito
(ex. método expositivo, instrução direta, prescritiva com a definição hierarqui-
zada dos passos da tarefa, etc.) e dão espaço para a interpretação individual
do jogador (ex. visionamento de vídeos, questionamento, imagética, etc.),
promovendo o funcionamento percetivo, requisito da ação em antecipação,
ou seja, do comportamento prospetivo e não reativo.
No âmbito das estratégias implícitas situa-se o feedback interrogativo, o
qual apela à ativação da consciência do praticante, induzindo-o a refletir sobre
a situação e a solucionar o problema por si próprio, estimulando a sua auto-
nomia (Vickers, 2007). Aqui, o tipo de pergunta deve ser referenciado à ação e
não aos efeitos do resultado obtido, onde um sentido crítico (ex. estás a fazer
pior!) frequentemente emerge, limitando procedimentalmente a capacidade
de reflexão e, concomitantemente, o estabelecimento da relação entre cogni-
ção e ação (Stark & Jensen, 2000).
Contrariamente, o feedback explícito, de natureza descritiva/prescritiva,
mostra ser menos resistente aos efeitos do stress psicológico e mais propício à
perda, ao longo do tempo, no domínio das habilidades aprendidas, em relação
ao feedback interrogativo, o qual predomina durante mais tempo e é promo-
tor da descoberta guiada (onde o treinador aponta pistas e não dá soluções)
(Abrams & Reber, 1988). Complementarmente, através de um apelo preferen-
cial à observação e pela contextualização da instrução nos cenários concretos
de prática, os treinadores promovem o desenvolvimento da capacidade
percetiva no ambiente ecológico da tarefa. Tal não significa que a instrução
do treinador deixa de ser importante; antes se reconfigura, tacitamente, de
forma a conduzir o praticante a pensar no que faz e na forma como o faz,
adquirindo contornos de autorregulação, potenciadores de uma prática
mais autónoma e efetiva. No caso dos JD em particular, ao serem portadores
de elevada imprevisibilidade, obviamente que quando o treinador fornece
informação deve fomentar nos jogadores autonomia decisional, pois só esta
lhes permitirá liberdade processual para perceber, decidir e agir eficazmente.

50
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

“Construo situações
de treino para os levar
por um determinado
caminho. Eles começam
a sentir isso, falamos,
discutimos e chegamos
a conclusões.“

Um excerto do livro escrito por Luís Lourenço (2005, pp. 24) sobre a atividade
profissional de José Mourinho, é elucidativo desta abordagem através de um
exemplo concreto do futebol:

“…O trabalho tático que promovo não é um trabalho em próprias. Muitas vezes parava o treino e perguntava-lhes o que
que de um lado está o emissor e do outro o recetor. Eu chamo- eles sentiam em determinado momento. Respondiam-me, por
-lhe a ‘descoberta guiada’, ou seja, eles descobrem segundo exemplo, que sentiam o defesa direito muito longe do defesa
ANÁLISE DA
as minhas pistas. Construo situações de treino para os levar central. OK, vamos então aproximar os dois defesas e ver como PERFORMANCE

por um determinado caminho. Eles começam a sentir isso, funciona. E experimentávamos uma e duas, três vezes até lhes DESPORTIVA

falamos, discutimos e chegamos a conclusões. Mas para tal voltar a perguntar como se sentiam. Era assim até todos em
é preciso que os futebolistas que treinamos tenham opiniões conjunto chegarmos a conclusões.”

Contudo, nem sempre o praticante está capaz de solucionar os problemas


através do questionamento e/ou pelo recurso ao feedback intrínseco; isso verifica-
-se particularmente nas etapas de formação de base, quando o praticante não
é capaz de detetar as origens dos erros, nem tampouco as caraterísticas do
erro cometido (Mesquita, 2009). Nesta situação, o feedback extrínseco auxilia
o praticante a rever o movimento executado, no caso do descritivo, apoiando-
-o, não só na compreensão das razões que conduziram ao erro, como também
na focalização nos movimentos desejáveis (no caso do prescritivo). Embora se
apele mais à utilização do feedback prescritivo em detrimento do descritivo,
é necessário considerar que se o praticante não possui uma ideia concreta
da forma como realiza a ação, de pouco lhe serve saber como a deve fazer.

51
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Assim, o feedback descritivo assume particular importância tanto nas fases


elementares em situações simples (por exemplo, correção de aspetos elemen-
tares da técnica) como em níveis de prestação elevados, quando o praticante já
é capaz de encontrar as soluções para corrigir os seus erros e precisa de algum
apoio para discriminar mais concretamente o erro cometido (Williams & Hodges,
2005; McMorris & Hale, 2006).
Outro aspeto importante do feedback consiste na natureza do conteúdo, sen-
do comummente referenciados dois grandes tipos: conhecimento do resultado
(CR) e conhecimento da performance (CP) (Hodges & Franks, 2004). Enquanto o
primeiro se reporta ao resultado pretendido através da realização da ação motora
(ex: colocar a bola atrás do bloco), o segundo refere-se à forma de execução da
ação motora (ex: contactar a bola no ponto mais alto) (Maslovat & Franks, 2008).
Tendencialmente, tem-se vindo a advogar que o CP tende a produzir efeitos
benéficos durante a fase de aquisição de uma habilidade, no sentido de apoiar
o praticante no reconhecimento das fases do movimento bem como nos pontos
críticos de realização. Contrariamente, o uso abusivo do CR nesta fase poderá
induzir resultados negativos como seja: certas ações poderão permitir a obtenção
de sucesso imediato servindo-se de movimentos errados, acarretando a médio e
longo prazo consequências nefastas para a evolução e performance dos pratican-
tes. Por exemplo, na iniciação do voleibol um atacante de elevada estatura pode
obter sucesso rematando com o membro superior fletido, dada a altura da rede ser
relativamente baixa para ele. Contudo, a prazo, a subida da altura da rede e do blo-
co adversário irá condicionar a eficácia desse tipo de movimento. Por outro lado,
Hodges & Franks (2004) receiam que o recurso reduzido de emissão de CR no
decorrer do processo de ensino-aprendizagem, principalmente nas modalidades
onde dominam as habilidades técnicas abertas, como é o caso dos JD, possa limi-
tar a exploração das possibilidades de ação para alcançar o propósito desejado.
Assim, o feedback orientado para o conhecimento da performance, ou
seja, sobre a execução motora, mostra ser benéfico na aprendizagem das
habilidades técnicas e mais ainda quando associado ao feedback orientado
para o conhecimento do resultado (Konttinen, Mets & Lyytinen, 2002).

Dado o caráter idiossincrático do processo de


ensino-aprendizagem, os treinadores devem
estar conscientes da panóplia de tipos de
feedback que têm à sua disposição bem como
na forma como funcionam separadamente e em
conjunto e, ainda, pela conjugação com o recurso
a outras técnicas instrucionais.

52
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

A exatidão com que é proferida a informação de conteúdo constitui outro


aspeto em debate já que tradicionalmente tem sido advogado que “quanto mais
preciso melhor”. Mais recentemente, tem-se vindo a defender que demasiada
exatidão retira graus de liberdade ao praticante na escolha da solução, para
além de poder produzir um excesso de afunilamento na perceção de indicadores
disponíveis no meio para consumar eficazmente a tarefa (Maslovat & Franks, 2008).
Obviamente que algumas tarefas exigem maior precisão de feedback do que
outras mas, em todo o caso, excesso de precisão na emissão de feedback poderá
prejudicar a performance (Hodges & Franks, 2004). Regra geral, o feedback deve
ser mais preciso à medida que o atleta evolui (Maslovat & Franks, 2008).
Ao considerarmos estratégias que incrementam a performance através do
feedback, não podemos negligenciar a relação entre estas e a atenção. Com efeito,
Obviamente que
todo o feedback pretende canalizar a atenção do praticante numa determinada algumas tarefas exigem
direção, seja isso feito intencionalmente ou não. Portanto, um feedback que orien-
maior precisão de ANÁLISE DA
te o foco atencional numa direção não desejada terá efeitos prejudiciais sobre a PERFORMANCE

performance e sobre a aprendizagem (Memmert & Furley, 2007). A título de exem- feedback do que outras DESPORTIVA

plo, sabe-se que o servidor, no voleibol, deve restringir o seu foco de atenção de
mas, em todo o caso,
modo a excluir estímulos irrelevantes para o jogo (p.e.: claque); porém, se restringir
demasiado o seu foco, perderá o acesso a informações potencialmente relevantes excesso de precisão na
para a execução da sua ação (por exemplo: não detetar uma zona desprotegida emissão de feedback
pelo sistema de receção do adversário).
A carga emocional associada ao feedback é um aspeto que nunca pode ser poderá prejudicar a
descurado, porquanto razão e emoção misturam-se, sendo que os processos performance (Hodges &
cognitivos estão associados a emoções (Damásio, 1995). As emoções podem,
então, adulterar a forma como os feedbacks são interpretados e mesmo a alocação
Franks, 2004).
da atenção (Rosado, 1998; Pijpers et al., 2006). Por este motivo, o praticante tenderá
a reagir ao conteúdo do feedback não apenas na sua componente de conteú-
do, mas igualmente na sua componente motivacional (Hodges & Franks, 2004).
Regra geral, o feedback positivo gera efeitos mais poderosos do que o feedback
negativo, uma vez que faz emergir estados emocionais positivos, promotores da

53
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

continuidade e persistência na prática (Mesquita et. al, 2008), bem como do


incremento da autoestima, ajudando a ultrapassar o medo de errar (Martens,
1999). Knudson & Morrison (1997) realçam ainda a importância da congruên-
cia da linguagem corporal com aquilo que é verbalizado. A carga emocional
positiva do feedback tem vindo a mostrar ser eficaz no incremento da motiva-
ção e dos níveis de participação dos praticantes, tanto na formação (Mesquita
et al., 2008; Mesquita et al., 2009) como no alto rendimento (Potrac et al., 2007).
Não obstante, existem momentos nos quais o feedback negativo mostra
ser adequado. O tipo de personalidade do praticante pode influenciar particu-
larmente o impacto da carga emocional veiculada no feedback (por exemplo,
os que possuem níveis de autoestima elevados reagem melhor, por vezes,
a um feedback negativo, crítico e não elogioso do que a um positivo, pois o
seu ego exige meios mais agressivos de interação verbal) (McMorris & Hale,
2006). Todavia, é necessário que o treinador reconheça os possíveis efeitos
que podem advir da carga emocional do feedback, a qual deve ser considera-
da tendo em conta as caraterísticas do praticante, os propósitos da tarefa
e o envolvimento circundante bem como a sua interação (ex. o atleta estar
sozinho ou acompanhado).
Uma questão adicional prende-se com a possibilidade do feedback positi-
vo se tornar, ele próprio, negativo.

O abuso do feedback positivo apresenta certos efeitos nefastos, na


medida em que quando se tende a elogiar ações e situações não relevantes
e/ou de forma rotineira, pode gerar dessensibilização do praticante e, assim,
perder o seu valor pedagógico (Rosado, 1998).

54
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

(...) o feedback corretivo


poderá induzir ainda
maior perda de confiança
ou sensação de não
estar a cumprir com a
performance esperada.
Nestes casos, uma palavra
de estímulo pode ser mais
importante e ajustada.

Relevante é, igualmente, o facto de os praticantes preferirem o treinador que


fornece feedback substantivo, isto é, relacionado com os conteúdos de treino, do
que aquele que tem uma abordagem positiva mas mostra não saber o suficiente
para lhes ensinar o que eles desejam (Martens, 1999).
A carga emocional do feedback poderá, ainda, produzir distintos efeitos con-
soante aspetos psicológicos estáveis (traços de personalidade, por exemplo como
já foi referido) ou momentâneos (estado de humor). De facto, perante um mesmo
feedback, as pessoas não reagem de forma idêntica no tempo (O’Donoghue,
2010). Um feedback corretivo que, em condições normais, produziria um efeito
benéfico num praticante, poderá desencadear reações negativas e quebra de per-
formance sob certos constrangimentos. Exemplo: o praticante está a falhar imen-
ANÁLISE DA
sas vezes na realização de uma determinada ação de jogo; o feedback corretivo PERFORMANCE

poderá induzir ainda maior perda de confiança ou sensação de não estar a cumprir DESPORTIVA

com a performance esperada. Nestes casos, uma palavra de estímulo pode ser mais
importante e ajustada. Esta modificação dos estilos atencionais, em situações de
pressão, está bem descrita na literatura (Janelle, Singer & Williams, 1999).
A clareza do feedback tem sido desde sempre um dos aspetos consi-
derados como mais importantes, partindo-se da premissa de que “quanto
mais claro e concreto for maior a probabilidade de ser eficaz”. Embora esta
assunção não deixe de ser verdadeira, por vezes é necessário utilizar algumas
estratégias que consigam aumentar a clareza da informação, mesmo que
esta não veicule o que literalmente se pretende. É o caso do feedback por
exagero e o recurso a metáforas. No feedback por exagero, o treinador
dá informação antagónica ao erro, exagerando no que pretende que seja
consumado, no sentido de se obter uma resposta que está entre o erro e a
informação fornecida (ex: no voleibol, na execução da manchete quando
os praticantes não unem as mãos, o treinador pode referir: “separa as mãos

55
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

apenas quando a bola chega ao passador”). Com efeito, a incompreensão da


sensação de um movimento e/ou a automatização de um movimento errado
podem requerer o exagero de feedback para quebrar com o padrão antigo e po-
tenciar o novo. Porém, a dado momento, o praticante deverá ser informado desse
exagero, para que tome consciência daquilo que realmente se pretende. No recur-
so a metáforas, o praticante por vezes consegue perceber melhor o movimento
pretendido através do recurso a imagens alusivas (ex. “quando tocas a bola no
passe sentes que estás a espremer uma laranja”) (Knudson & Morrison, 1997).
A forma como o feedback é emitido pode também induzir efeitos distin-
tos. Tendencialmente, o feedback mais utilizado é de natureza verbal, apor-
tando valiosas informações, até porque a audição poderá ser o melhor meio
de recolher informação temporal (tempo, ritmo e timing) da execução dos
movimentos (Knudson & Morrison, 1997). Contudo, a sua utilização quase
exclusiva, como não raramente ocorre, coloca limitações que não podemos
ignorar. Primeiramente, tal como existem diversos tipos de inteligências,
também existem diferentes estilos de aprendizagem e formas preferenciais
de captar informação; para além dos fatores individuais, também a natu-
reza da tarefa e os seus propósitos podem interferir substancialmente na
apropriação da forma de emissão do feedback. Nomeadamente em situações
que a natureza do movimento/tarefa é complexa ou possui elevado nível de
organização, bem como na presença de estímulos espaciais em múltiplos
planos, a presença do feedback visual é imprescindível (Knudson & Morrison,
1997). Tal decorre do facto da visão criar um mapa espacial, na qual as
informações auditivas são enquadradas, enriquecendo a qualidade da
informação.
Adicionalmente, perante a necessidade de compreender sensorialmente
determinado movimento o recurso ao feedback cinestésico é essencial; já que,
por exemplo, o sentido de equilíbrio resulta da combinação de estímulos visuais,
vestibulares (ouvido interno) e propriocetivos. Por vezes, colocar a mão em certos
locais do corpo do atleta, em pontos e momentos-chave do movimento, ajuda-o
a perceber melhor a execução da ação, sobretudo quando não dispõe de controlo
visual sobre esta, apelando aos recursos sensoriais hápticos (toque e pressão)
(Knudson & Morrison, 1997).
Todavia, é do recurso a formas distintas de emissão de feedback (visual,
cinestésico, auditivo, entre outras) que se gera informação rica e diversificada,
aumentando as possibilidades de estimular a aprendizagem nos praticantes (Mc-
Morris & Hale, 2006). Um exemplo comum no voleibol consiste na marcação (com
palmas) do ritmo adequado na chamada de ataque ao mesmo tempo que emite
informação verbal. O recurso conjugado e simultâneo de informação de múltiplos
âmbitos, permite ao treinador formar uma imagem coerente do problema e mais
facilmente atuar sobre diferentes jogadores, com diferentes formas e estilos de
aprendizagem (Knudson & Morrison, 1997).

56
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

FIGURA 6. A figura 6 esquematiza


a tipologia de feedback atendendo
às diferentes dimensões e respetivas
categorias que comporta.

Uma questão interessante, mas ainda não devidamente explorada,


consiste no passado educativo e desportivo do praticante. Este é exposto
durante a sua vida a determinados tipos de ensino e, ele próprio, desenvolve
determinadas estratégias de aprendizagem. Os níveis de ensino, de desen- SUGESTÕES
volvimento cognitivo e de prática dos praticantes determinam possivelmen- DE ATIVIDADES
te eficácias diferentes para distintos modos de emissão de feedback (Rosado,
n Usando um microfone, grave os seus
1998). No processo de treino importa, assim, considerar a forma como cada treinos. Analise depois os momentos
praticante reage ao feedback – o histórico pessoal deve ser considerado - de instrução, tentando perceber
qual o seu estilo instrucional e carga
bem como o contexto e momento de prática.
emocional associada. ANÁLISE DA
Knudson & Morrison (1997) apontam outros dois tipos de constran- PERFORMANCE
n Procure conversar com alguns atletas
gimentos, comuns quando se procura modificar o padrão de movimento no sentido de perceber quais as suas ne-
DESPORTIVA

de um atleta. Ao corrigirmos um atleta que tem sucesso nas suas ações, a cessidades, desta forma poderá ajustar
melhor o feedback a cada praticante.
tendência será este resistir às mesmas, questionando a necessidade da mu-
n Reflita sobre a sua intervenção após o
dança do seu movimento; ou ainda, na possível comparação com um atleta
treino ou mesmo no seu decurso com
campeão, servindo-se o praticante da desculpa ‘mas o campeão faz assim’. um sentido de autoanálise, equacio-
Ora, é sabido que a forma utilizada pelo campeão pode não se ajustar ao nando a sua perceção em relação aos
erros cometidos pelos praticantes, à
jovem praticante. Mais ainda, o campeão pode sê-lo apesar dessa forma de
natureza da sua intervenção pelo feed-
execução do movimento, e não por causa dela. Assim, a consciencialização back e ao desempenho subsequente
por parte do praticante dos motivos que justificam a mudança é essencial e, do atleta/jogador.
sobretudo, a compreensão dos benefícios da mudança; implicar o prati- n Observe outros treinadores, em espe-
cial os mais experientes, focalizando
cante no seu próprio processo de formação irá permitir-lhe gradualmente
a sua atenção nas caraterísticas do
aprender a “tomar conta de si” e, concomitantemente, a prospetar planos feedback que emitem atendendo aos
de ação e a monitorizar a própria aprendizagem, em suma, em ser mais constrangimentos situacionais (de
todo o âmbito) onde se inserem.
autónomo pessoal e funcionalmente.

57
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

3.4 O recurso às tecnologias relacionadas com


o feedback
3.4.1 O VÍDEO COMO FONTE DE FEEDBACK
Conforme verificamos, o feedback auditivo é o habitualmente mais utiliza-
do pelos treinadores, aliado, muitas vezes, a feedbacks visuais e/ou cinestési-
cos. Porém, os feedbacks visuais raramente se reportam ao próprio praticante,
ou seja, este não se vê a si mesmo a executar a ação, o que coloca algumas
questões importantes. O esquema corporal dos praticantes nem sempre está
correto e, por isso, o sujeito pensará que está a realizar o movimento de forma
correta quando, na realidade, isso não sucede. A utilização do vídeo permite
ao praticante observar-se a si mesmo e à sua execução, fornecendo-lhe
importantes informações que poderão mesmo interferir com o seu esquema
corporal (Franks, 2004; Vicente-Rodríguez et al., 2006).
O vídeo feedback, quando apresentado em câmara lenta, pode ser útil na
deteção de pequenos erros, mas requer, para o efeito, a utilização de câmaras de
alta velocidade de filmagem, para que não haja ‘saltos’ nas imagens (o que pode-
ria ocludir partes decisivas da ação) (Knudson & Morrison, 1997; McMorris & Hale,
2006). Da mesma forma, uma pausa com boa qualidade de imagem possibilita a
análise de certos pontos críticos do movimento (Knudson & Morrison, 1997).
Para ser eficaz, porém, o vídeo feedback deve ser apresentado e interpreta-
do por alguém conhecedor, capaz de orientar a atenção dos praticantes para
os pontos críticos da execução (Franks, 2004; McMorris & Hale, 2006; Vickers,
2007). Quando os praticantes observam as suas performances em vídeo,
geralmente não conseguem regular o feedback que recebem e, por vezes,
a informação disponível pode exceder a capacidade de processamento dos
praticantes.

Assim, compete aos treinadores orientarem a visualização das imagens


realçando a informação mais pertinente (Liebermann & Franks, 2004).

58
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

Também aqui se coloca a questão da distância temporal entre a apre-


sentação deste tipo de feedback e a execução. Para Franks (2004) esta deverá
ser curta, implicando meios de gravação e edição em tempo real. Contudo,
pensamos que é possível realizar sessões de vídeo feedback com distâncias-
-temporais (delay, no original inglês) superiores, realçando aspetos-chave da
execução dos movimentos ou ações táticas.
Por consumir muito tempo, o vídeo feedback poderá não ser uma estra-
tégia benéfica para uso corrente, podendo, antes, ser adotado em situações
pontuais e/ou com praticantes mais necessitados (Vickers, 2007). Durante a
visualização, é possível ver a ação de modo contínuo e, depois, recorrer ao
frame-a-frame para destacar transições ou momentos críticos da execução
(Liebermann & Franks, 2004).
Uma estratégia interessante na utilização de vídeo feedback consiste em di-
vidir o ecrã a meio, exibindo, simultaneamente, duas gravações (do inglês, split-
-screens): a execução do praticante e a de um praticante-modelo (Liebermann
& Franks, 2004). Porém, os autores alertam para os perigos desta estratégia, pois
aquilo que funciona bem com um praticante pode não funcionar com outro;
assim, deverão ser relevados aspetos gerais da execução, ou seja, invariantes, Uma estratégia
acautelando-se as variantes porquanto estas dependem de aspetos individuais.
interessante na
Todavia, é importante não esquecer que o vídeo é apenas uma represen-
tação bidimensional de uma realidade tridimensional, o que implica caute- utilização de vídeo
las com a escolha do ângulo de filmagem para realçar os aspetos pretendidos feedback consiste
(Knudson & Morrison, 1997). Em alguns movimentos, o ideal será filmar de
dois ou mais ângulos distintos. em dividir o ecrã
De acordo com Knudson & Morrison (1997), o recurso ao vídeo poderá a meio, exibindo,
permitir ainda quantificar aspetos qualitativos. Com efeito, certos programas
de edição de vídeo (p.e.: Kinovea®) permitem seguir trajetórias da bola e dos
simultaneamente, ANÁLISE DA
PERFORMANCE

jogadores, calcular ângulos e distâncias e, assim, tornar possível a quantifica- duas gravações (do DESPORTIVA

ção da qualidade.
inglês, split-screens): a
execução do praticante
e a de um praticante-
SUGESTÕES modelo (Liebermann &
DE ATIVIDADES Franks, 2004).
n Filme regularmente treinos e com- Peça a profissionais de outras áreas para
n

petições. Depois, selecione certas observarem a ação dos seus praticantes,


sequências relevantes e compile-as para obter informações complementa-
num vídeo de curta duração. Veja es- res. Exemplo: um fisioterapeuta pode
ses vídeos em conjunto com os seus facilmente detetar erros de movimento
atletas, realçando os aspetos mais que, mesmo não comprometendo a
pertinentes. eficácia do atleta, possam induzir risco
aumentado de lesão.

59
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

3.4.2 O RECURSO A TECNOLOGIAS SOFISTICADAS DE FEEDBACK


Existem outras técnicas mais sofisticadas que, não estando disponíveis para
utilização na prática quotidiana do treino, podem ser aplicadas pontualmente
pelo treinador, com apoio de especialistas. Tal permite obter informação detalhada
e específica acerca de aspetos críticos relacionados com a performance, os quais
não são acessíveis pela análise direta ou por vídeo. Neste âmbito, destaca-se a
utilização do seguimento ocular (do inglês, eye tracking) o qual permite obter
dados acerca das estratégias visuais usadas pelos atletas/jogadores (Liebermann
& Franks, 2004; McMorris & Hale, 2006). Ao analisarmos, numa situação simulada,
as estratégias de seguimento visual dos praticantes, poderemos compreender
melhor quais são as pistas visuais que a visão está a seguir. Com um estudo de eye
7
tracking, poderemos ajudar o praticante a reorientar a sua atenção para indica-
De acordo com Vickers (2007), o quiet
eye consiste na fixação final, geralmente
dores mais interessantes, do ponto de vista da sua tomada de decisão.
de maior duração que as restantes fixações Para efeitos da análise qualitativa, os indicadores mais interessantes são os
oculares, revelando que, nesse momento, o locais de fixação ocular e a ordem (sequência) desta fixação, bem como o mo-
praticante está a processar muito informa-
ção e irá atuar em breve.
mento de iniciação do quiet eye7 e sua duração (Vickers, 2007). Aos conhecermos
os locais de fixação e a ordem pela qual estes são fixados, podemos compreender
quais os indicadores de análise mais relevantes para os praticantes, bem como
as suas estratégias observacionais. A compreensão do quiet eye permite, por sua
vez, perceber se o indicador fixado por último é o mais ajustado à situação, além
de potenciar um programa de intervenção no sentido de disciplinar o olhar no
momento imediatamente precedente à entrada em ação.
Tecnologias de âmbito fisiológico também poderão ser úteis na perspetiva da
análise qualitativa do movimento. Recuperemos o exemplo da chamada de ataque,
no voleibol: a compreensão da fisiologia do praticante poderá ajudar a perceber se es-
tamos perante alguém explosivo ou lento, sendo possível proceder a ajustes técnicos
para melhor potenciar as caraterísticas do praticante em questão. Com efeito, dados
fisiológicos qualitativos, ao apontarem para um determinado perfil do praticante,
poderão auxiliar o treinador a potenciar modelos técnicos e táticos que favoreçam
a tipologia de cada um. O facto de certos jogadores serem mais explosivos do que
outros pode ter implicações para o tipo de técnicas ou estilos técnicos que utilizarão,
bem como para os seus posicionamentos e movimentações em campo.
Na senda desta problemática, as análises biomecânicas são de conside-
rável interesse. Quando aplicadas a filmagens, poderão permitir quantificar a
qualidade do movimento, permitindo discernir, por exemplo, se os ângulos e
EXEMPLO distâncias se ajustam às exigências situacionais.

Por exemplo, a identificação de gamento Encurtamento (CAE) longo,


ângulos acentuados de flexão das ou seja, com tempos de contacto
articulações tíbio-társica, do joelho e com o solo superiores a 200 ms. In-
coxo-femural são indicativos de um versamente, ângulos mais reduzidos
trabalho acentuando um Ciclo Alon- indiciam CAE curto (inferior a 200ms).

60
Eficácia instrucional na análise
da performance desportiva

Este tipo de dados sugere tipologias de ação e/ou dos praticantes, auxilian-
do o treinador na construção de um programa de treino adequado. De igual
modo, análises biomecânicas poderão mostrar oscilações excessivas em certos
movimentos articulares, facilitando a deteção de potenciais indicadores de lesão
(o FMS visa, justamente, esta questão).
Além dos aspetos cinemáticos do movimento, as análises biomecânicas
oferecem a possibilidade de analisar a cinética do movimento, percebendo-
-se melhor o jogo de forças e, no caso da análise qualitativa, se os timings de
aplicação de maiores potências se adequam às exigências do gesto desportivo.
Existem sistemas de análise do movimento baseados em vídeo que permitem
realizar este tipo de análises (p.e.: APAS, da Ariel Inc., e Vicon, da Oxford Metrics).

EXEMPLO

Por exemplo, no andebol, para que a inércia. Contudo, alguns atletas não
ANÁLISE DA
um remate seja potente, importa aplicam acelerações eficientes nesta
PERFORMANCE
aplicar grande quantidade de força na fase do gesto, comprometendo a sua DESPORTIVA

fase inicial do movimento, superando eficácia.

A medição de forças, aliada a processos de biofeedback, poderá ajudar o


praticante a adquirir a sensibilidade dos timings adequados para a aplicação
de fortes acelerações. Já existe tecnologia passível de ser utilizada em algumas
situações de terreno relativamente próximas das situações reais, entre as quais
destacamos, a título de exemplo, o Athletic Edge®, para análise biomecânica
tridimensional, cinética e cinemática, do movimento; e o Qualisys®, para captu-
ra do movimento em situações concretas de treino ou competição.
Por sua vez, as movimentações de uma equipa como um todo (de forma
a se perceber a dinâmica desse organismo vivo que é a equipa, bem como a
sua organização, os seus padrões e as interações estabelecidas) é possível pelo
recurso a softwares sofisticados. Um desses sistemas é o AMISCO®, muito em
voga para a realização de análises táticas em futebol. Para tal, é necessário

61
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

recorrer a um conjunto de 4-6 câmaras, cujo sinal é sincronizado e combina-


do de modo a oferecer dados detalhados dos eventos de jogo.
A observação de sequências de interações comportamentais, visando
estabelecer sequências temporais nas ações e/ou movimentos, nem sempre
percetíveis ao olhar destreinado, é outro aspeto de elevada importância na
análise qualitativa da performance desportiva. Recorrendo a tecnologias
computorizadas, Magnusson (2000) propõe o recurso aos T-patterns, por-
quanto os métodos tradicionais de quantificação das performances despor-
tivas são limitados na sua capacidade de descrever as interações complexas
entre eventos que decorrem no tempo (Borrie, Jonsson & Magnusson,
2002). Originalmente pensados para a compreensão de interações diáticas
entre pessoas, via reconhecimento de micro-expressões faciais e corporais,
têm vindo a ser utilizados com maior frequência no âmbito do desporto.
Paralelamente aos T-patterns, existem outras técnicas que procuram aceder à
sequencialidade das interações e seu enquadramento contextual, com des-
taque para a Análise Sequencial de Retardos, cuja análise estatística pode ser
realizada com recurso ao software GSEQ®, desenvolvido por Bakeman & Quera.
Existem ainda tecnologias disponíveis que providenciam biofeedback,
fornecendo dados derivados, por exemplo, de eletromiografia de superfície,
para aprendizagem de relaxamento e controlo do stress, bem como conscien-
cialização das tensões musculares produzidas por grupos musculares como
seja, cabeça, pescoço e região lombar. Possibilita, ainda, o treino de relaxamen-
to voluntário de grupos musculares específicos. A avaliação de condutância
da pele também ajuda a tomar consciência de respostas aprendidas de stress,
ensinando-se, a partir destes dados, habilidades de autorregulação. Meios
adicionais concorrentes para estas finalidades consistem na avaliação da
temperatura periférica, respiração abdominal e torácica, variabilidade da fre-
quência cardíaca, entre outros. O conceito subjacente consiste em aportar à
consciência certos comportamentos ou reações inconscientes dos pratican-
tes, ajudando-os a melhor controlarem certos aspetos fisiológicos passíveis de
interferirem com a performance. Existem já várias empresas oferecendo estes
serviços, entre as quais a Thought Technology Ltd. ® e a Avazzia®.
SUGESTÕES Finalmente, apontamos a possibilidade de treino em ambientes tri-
DE ATIVIDADES dimensionais virtuais. Estes possuem a grande vantagem de recriaram o
n Ocasionalmente, convide investi- automovimento e seus efeitos sobre a informação circundante. É possível
gadores ou outros interessados a concretizar este propósito conjugando sincronização de filtros e/ou óculos
realizarem estudos científicos junto
polarizados e um monitor (p.e.: 3d-video®). Alternativamente, existem
da sua equipa. Os dados obtidos,
diferentes daqueles que recolhemos sistemas nos quais bastam os óculos, que já proporcionam um televisor que
habitualmente e mais objetivos, passa uma imagem ligeiramente diferente para cada olho (p.e.: i-Glasses®).
poderão aportar informações Nestes ambientes, o treinador pode modificar diversos fatores passíveis de
interessantes para uma melhoria do
processo de preparação desportiva. influenciarem a perceção, observando o modo como o atleta se ajusta e
adapta a estas mudanças.

62
Análise da performance desportiva

Conclusões
O processo de análise da performance desportiva é um fator de grande
importância para regular o treino e as competições, ao nível da recolha
de informação e da sua transformação em conhecimentos e compe-
tências. Nos desportos individuais, a análise incide nos aspetos técnicos
da execução dos movimentos, pelo que as análises biomecânicas e
fisiológicas são utilizadas prioritariamente para descrever a atividade
e o comportamento dos desportistas. Nos jogos desportivos coleti-
vos, o comportamento adaptativo é especificado pela informação do
ambiente e esta relação complementar entre ambiente e indivíduos
pode determinar as várias oportunidades de ação. É neste sentido que
surgem as análises táticas como a melhor forma de caraterizar estes
comportamentos situacionais.

A utilização do conhecimento proveniente da análise da performance


desportiva permite construir e desenvolver cenários que repliquem,
com elevado grau de similaridade, a aptidão que se pretende melhorar.
Esta aplicação apresenta-se diferenciadamente quando enquadra-
da numa perspetiva de preparação desportiva a longo prazo, com
objetivos centrados no desenvolvimento das aptidões dos desportistas,
tendo em conta as diferentes fases do processo numa perspetiva de
treino e direção das competições, ao qual se acrescentam os objetivos
direcionados para o resultado desportivo.

Na análise quantitativa, o conhecimento das caraterísticas mais


ANÁLISE DA
importantes dos testes permite ao treinador melhorar a qualidade da PERFORMANCE

informação de que vai dispor. Os testes a realizar devem ser construídos DESPORTIVA

e selecionados em função de vários pressupostos: poder discriminató-


rio, especificidade, medidas não correlacionadas, caraterísticas dos
desportistas, individualidade, motivação, segurança, medição em
grupos, familiarização com o teste, equipamento e recursos huma-
nos, procedimentos e aquecimento.

Na análise quantitativa, o processo de medição consiste na recolha de da-


dos que constituem variáveis que devem medir aquilo que se propõem
medir (validade) com o mínimo possível de erro (fiabilidade), indepen-
dentemente da apreciação pessoal de quem mede (objetividade).

A riqueza do fenómeno de ensino-aprendizagem inibe a adoção de


métodos fechados, estanques e unilaterais, incongruentes com uma
realidade multifacetada e plural. Nessa medida, o treinador deve usar

63
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

uma diversidade de métodos, fazendo face a problemas distintos e pers-


petivando cada um de vários ângulos, o que lhe permite construir uma
imagem mais completa e autêntica da situação. Surge, neste âmbito, a
análise qualitativa como fonte de métodos complementares aos deriva-
dos da análise quantitativa.

O quotidiano da atividade dos treinadores baseia-se na avaliação quali-


tativa, pontuada em determinados momentos por avaliações quantita-
tivas. Afigura-se assim relevante que o treinador domine as ferramentas
de que se serve todos os dias, aperfeiçoando o uso que faz de avaliações
subjetivas, no sentido de as qualificar. Mormente, aprender a olhar para
lá de eventos pontuais, sabendo contextualizá-los num todo coerente
e significante, e saber discernir ações reais, percebendo que mesmos os
comportamentos “aparentemente errados” não são, necessariamente,
8
sinónimos de desvios, é crucial para qualificar a capacidade de análise.
O resultado final dum jogo ou ação pode
ser determinado por um pequeno número
de incidentes críticos ou perturbações, e A análise qualitativa visa qualificar observações subjetivas de eventos
focarmo-nos nestes pode ser o mais impor- regulares (repetidos no tempo), mas também de eventos que, sendo
tante na obtenção de dados relevantes na
singulares, assumem particular relevância em função da sua natureza e/
análise da performance (Lames & McGarry,
2007; O’Donoghue, 2010). ou timing de ocorrência8. Para efetuar tal tarefa com a qualidade que se
impõe, o treinador deve compreender e aceitar que a sua experiência,
por si só, raramente é suficiente.

Mesmo as análises subjetivas precisam de ser desenvolvidas e, para isso,


o treinador terá de refletir sobre a sua prática, mas também estudar,
colaborar com peritos da sua área e de outras áreas, realizar treinos de
observação, discutir com colegas de trabalho, enfim, submeter-se a
todo um processo de preparação que irá conduzir a qualificação do seu
desempenho, vertendo essa mais-valia num aumento qualitativo do
processo de preparação dos atletas e equipas.

Os métodos qualitativos, no seu conjunto, permitem abordar o


movimento, a ação, mas também, em certos casos, as intenções por
detrás das ações. A variedade e plasticidade de tais métodos possibi-
litam a sua adaptação a um vasto conjunto de situações-problema.
No cerne deste tipo de análise, encontra-se um profundo respeito
pela ecologia situacional, aportando dados de enorme interesse para
o processo de preparação desportiva. Estes dados permitirão uma
mais rica intervenção prática, particularmente no que concerne à
construção das tarefas de treino (manipulando os seus constrangi-
mentos) e à emissão de feedbacks, aspeto nuclear de todo o processo
de ensino-aprendizagem.

64
Análise da performance desportiva

Na análise qualitativa da performance são identificadas quatro fases do


processo: preparação, observação, avaliação/diagnóstico e interven-
ção. Estas fases não são lineares, sendo que qualquer uma delas pode
preceder ou suceder qualquer uma outra. Cada uma destas fases exige
treino, apelando a conhecimentos específicos e, em boa parte, contex-
tualizadas a situações-problema e a praticantes específicos. Nos JD, a
situação complexifica-se, fruto da natureza aberta das habilidades, da
sua elevada componente tática. A problemática aqui relevada impõe a
utilização de uma abordagem holística, capaz de enaltecer o contexto, o
todo, corporizando o significado que deverá nortear a nossa ação.

Na problemática da qualidade dos dados obtidos pela via de análises qua-


litativas, emergem questões relacionadas com a validade e fiabilidade
das observações e suas conclusões. A consulta aturada de bibliografia, a
frequência de ações de formação e de reciclagem, as conversas infor-
mais com os pares, a observação de treinos e jogos de outras equipas, a
formação em áreas complementares (biomecânica, fisiologia, anatomia
funcional, entre outras), são tudo ferramentas que permitirão ao treinador
aumentar a sua base de conhecimentos, contextualizar melhor a prática e
assumir uma perspetiva mais crítica da sua própria atuação.

O treinador pode ainda recorrer a métodos mais sofisticados de análise


da performance, entre os quais o vídeo feedback, o eye tracking, a análise
biomecânica e funcional dos movimentos, entre outros. Estes meios
integram a chamada observação estendida, podendo constituir-se
como poderosos auxiliares da ação do treinador. Se alguns poderão ser
ANÁLISE DA
utilizados com alguma regularidade (e.g.: vídeo feedback), outros colocam PERFORMANCE

maiores problemas em termos tecnológicos, técnicos, temporais, e mes- DESPORTIVA

mo financeiros, aconselhando uma utilização mais pontual e seletiva.

O papel da instrução na análise qualitativa da performance desportiva é


inquestionavelmente um aspeto de maior valia, porquanto se referencia
ao ato de ensino-aprendizagem, o qual se pauta por ser autêntico e
idiossincrático.

O treinador deve ultrapassar determinados dogmas criados ao longo


do tempo acerca da existência de perfis ideais de feedback, porquanto
induzem a utilização preferencial e, não raramente, acriterial de deter-
minados perfis em detrimento de outros. O treinador deve, assim, ser
capaz de saber usar oportuna e apropriadamente o feedback, atuando
em consequência da compreensão dos princípios pedagógicos que
legitimam o seu recurso. Particularmente, encontrar o equilíbrio entre

65
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

providenciar feedback suficiente para facilitar a aprendizagem e


não o emitir tão frequentemente é crucial para permitir que os prati-
cantes estejam proativamente envolvidos na tarefa, conseguindo eles
próprios gerar soluções para os problemas encontrados.

Nos dias de hoje emerge com elevada consistência a importância


das abordagens mais implícitas, ao nível dos processos instru-
cionais, onde é conferido ao praticante maior espaço de proble-
matização e onde as aprendizagens são baseadas sobretudo em
problemas. Pretendem, em grande medida, responder às prerro-
gativas de competência de formação vinculadas na atualidade, as
quais exigem para além do conhecimento técnico, a capacidade do
indivíduo ser autónomo responsável e comprometido com a ati-
vidade. O treino não foge à regra e, por isso, não chega os atletas/
jogadores serem bons executantes: é preciso que sejam capazes de
pensar por si próprios, de participarem nas decisões tomadas a seu
respeito, de agir prospetiva e não reactivamente.

O acesso à forma como os praticantes entendem e interpretam


as diferentes situações de prática constitui uma preciosa fonte de
informação, capaz de auxiliar o treinador a melhor individualizar o
processo de ensino-aprendizagem e criar mais eficazmente con-
dições de prática capazes de estimularem uma adequada evolução
dos seus praticantes. Entram em cena, nomeadamente, os métodos
interrogativos. Esta janela para a mente dos praticantes, embora
plena de contradições e de dificuldades, oferece o melhor acesso
de que dispomos para compreendermos os processos internos que
subjazem à performance dos atletas.

O treinador deve ser capaz de distinguir o que é, de facto, um erro,


daquilo que é uma mera variação ajustada à situação. A tomada
de decisão no desporto tem de ser “corporalizada”, porquanto ainda
que um atleta compreenda um feedback poderá não ter condições
de realizar a ação pretendida. Assim, o feedback será tanto mais efi-
caz quanto mais a abordagem for baseada nos constrangimentos
afetos ao indivíduo, ao meio e à tarefa, mormente pela modifica-
ção das condições de prática. A ênfase deverá ser, assim, colocada
no feedback concernente ao conhecimento dos resultados da
tarefa, ou seja, ao seu objetivo final, pois este parece possibilitar
melhores oportunidades para a busca de soluções, não rejeitando
todavia a importância do conhecimento baseado na performance
(como foi anteriormente referido).

66
Análise da performance desportiva

A relação entre feedback e performance não é linear até porque os


eventos no seio do desporto pautam-se por uma causalidade comple-
xa e sistémica. Com efeito, nem todos os praticantes possuem a mesma
capacidade de compreensão do feedback. Tal alerta para a necessidade de
entender os postulados oriundos da teoria como elementos norteado-
res de princípios de atuação, e não como verdades irrefutáveis, possibili-
tando ao treinador a adaptação dos seus comportamentos às situações
idiossincráticas emergentes no processo de treino e de competição.

De seguida, é apresentado um referencial sinótico dos principais aspetos a considerar pelo analista (neste caso, o
treinador) no âmbito da análise da performance desportiva.

PARA ANALISAR A PERFORMANCE...


1. CONHECER A ATIVIDADE
O analista deve procurar ser um especialista na atividade a que se dedica, percebendo com profundidade
todo o envolvimento ao nível dos conceitos e estratégias fundamentais da atividade.

2. CONSTRUIR UMA RELAÇÃO DE CONFIANÇA


A análise da performance ainda é muitas vezes utilizada com fins exclusivos de criticar a performance dos
desportistas. Deve ser entendida, como qualquer outra ferramenta do treinador, importante para identificar
aspetos a melhorar, mas também para reforçar os aspetos positivos.

3. REFINAR AS APRESENTAÇÕES
ANÁLISE DA
A apresentação de um relatório com a informação e o conhecimento devem ser cuidadosamente preparadas. PERFORMANCE

O relatório deverá estar centrado em grandes ideias e factos, evitando o excesso de informação e detalhe. DESPORTIVA

4. ANÁLISE TÁTICA, TÉCNICA, MOTORA E MENTAL


A análise da performance pode ajudar a compreender melhor aspetos da performance desportiva nestes quatro
fatores. Por exemplo, a utilização de sistemas de medição do posicionamento dos desportistas, além de poder
permitir realizar uma análise tática, também permite medir distâncias percorridas e velocidades que podem
variáveis de grande importância para caraterizar o padrão de atividade motora. A biblioteca de vídeos pode ser
também utilizada para produzir vídeos motivacionais tendo em conta procedimentos organizados do treino
mental. As filmagens das sessões de treino podem também cuidar particularmente de identificar aspetos da
execução técnica dos movimentos.

5. INFORMAÇÃO E CONHECIMENTO
Cada recolha de dados produz grande quantidade de informação, que apesar de fazer parte das bases de
dados do analista, tem que ser cuidadosamente filtrada do ponto de vista da sua utilidade no sentido de
contribuir para tomar decisões diferentes.

67
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

6. NEM TUDO O QUE CONTA, PODE SER CONTADO


Apesar de tentarmos medir tudo o que diz respeito ao evento ou atividade, existirão sempre aspetos determi-
nantes que são difíceis de quantificar.

7. A TOMADA DE DECISÃO TERÁ SEMPRE COMPONENTES SUBJETIVAS


A organização do processo de análise da performance desportiva permite construir conhecimento muito ob-
jetivo, contudo não pode ser utilizado como único suporte para as decisões a tomar. A influência dos fatores
situacionais na performance é sempre bastante forte, facto que promove bastante variabilidade nos aconteci-
mentos do treino e da competição e cria oportunidade para se tomarem algumas decisões mais subjetivas.

8. ESTILOS DE APRENDIZAGEM
Os desportistas, os treinadores e os diretores aprendem de forma diferenciada. Na generalidade, a informação
a apresentar deve procurar a forma auditiva, visual e a cinestésica.

9. PREPARADO PARA AS CONTINGÊNCIAS...


Fazer uma lista de eventuais tarefas a cumprir para cada etapa do processo, tais como: carregar baterias das
câmaras de vídeo e computadores, ter pilhas suplentes de tudo o que possa ser necessário, várias fichas de
registo e esferográficas, criar cópias de reserva de tudo o que for recolhido e analisado.

10. APRENDIZAGEM CONTÍNUA...


Os analistas devem acompanhar a contínua evolução que se identifica nos treinadores e nos desportistas. O
processo de análise da performance desportiva é muito recente e tem muitos aspetos a melhorar. Neste senti-
do, a procura de conhecimento em interação com outras áreas (fisiologia, biomecânica, psicologia, estatística,
a inteligência artificial,...) pode permitir o desenvolvimento de diferentes dimensões de análise com recurso a
diferentes instrumentos, no sentido de acompanhar as crescentes exigências do processo.

Autoavaliação
1. Descreva o modelo de organização do processo de análise da
performance desportiva.

2. Identifique e descreva os indicadores da performance de uma moda-

?
lidade desportiva e refira-se aos potenciais efeitos dos fatores situacio-
nais na performance desportiva dessa modalidade desportiva.

3. Refira-se à importância de construir ou selecionar testes de


medição, de acordo com procedimentos que assegurem maior
validade, fiabilidade e objetividade.

4. Descreva duas situações do processo de análise da perfor-


mance desportiva em que numa seja mais adequado utilizar

68
Análise da performance desportiva

procedimentos de avaliação normativa e noutra utilizar proce-


dimentos de avaliação criterial.

5. Descreva o processo de análise da performance ao longo da


época desportiva com objetivos de preparação desportiva a
longo prazo.

6. Descreva o processo de análise da performance ao longo da


época desportiva com objetivos de resultado desportivo.

7. Em relação às fases do processo de análise qualitativa da per-


formance, indique e justifique, através de um exemplo da sua
modalidade, os procedimentos a adotar em cada uma delas.

8. Justifique a importância do recurso a estratégias implícitas


na análise qualitativa da performance, nomeadamente
pelo recurso ao feedback pedagógico. Apresente um cenário
situacional de treino no qual se reveste de grande importância
o recurso a estratégias implícitas (por exemplo, o feedback

?
interrogativo) justificando a sua pertinência.

9. Descreva, justificando, em que tarefas e/ou momentos da for-


mação do praticante as tarefas explícitas são mais indicadas.
Apresente um cenário situacional de treino no qual se reveste
de grande importância o recurso a estratégias explícitas (por
exemplo, o feedback prescritivo) justificando a sua pertinência. ANÁLISE DA
PERFORMANCE

10. Em referência ao recurso da demonstração por representação DESPORTIVA

(um cenário) e aprendizagem (um cenário), apresente um cená-


rio situacional de treino para cada uma delas, justificando.

11. Referencie, justificando, em que situações a demonstração e/


ou feedback constituem ferramentas instrucionais insubstituí-
veis. Utilize exemplos para contextualizar a sua resposta.

12. Justifique a importância da utilização de tecnologias avan-


çadas de feedback para a construção de exercícios de treino e
regulação do processo instrucional.

13. Identifique algumas possibilidades tecnológicas relacionadas com


o feedback e discorra sobre as suas vantagens e desvantagens.

69
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III

GLOSSÁRIO
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

A F I
ADAPTAÇÃO FEEDBACK INTRÍNSECO INDICADOR DE PERFORMANCE
Uso oportuno e ajustado duma Deriva do próprio praticante, das É uma ação, ou combinação de
habilidade técnica atendendo aos suas próprias fontes de informação ações, que descrevem total ou par-
constrangimentos situacionais. (visuais, auditivas, cinestésicas, entre cialmente a performance desportiva.
outras). A sua utilidade é medida pela rela-
ção com as performances de sucesso

E
FEEDBACK PEDAGÓGICO OU ou com o desfecho das competições.
EXTRÍNSECO
Fornecido por agentes exteriores ao
praticante, normalmente o treina-
EFICIÊNCIA dor, com o propósito de potenciar os
Realização da técnica de acordo com processos de aprendizagem.
os padrões biomecânicos pré-esta-
belecidos para ação motora.

EFICÁCIA
Resultado obtido através da realiza-
ção de determinada ação.
H
HABILIDADE ABERTA
EYE TRACKING Habilidades abertas são aquelas
Seguimento ocular, nomeadamente que variam em função das exigên-
do ponto de fixação da fóvea, indi- cias situacionais, sendo, por isso,
cativo da visão central. Pretende es- flexíveis, de modo a responderem
tudar os locais, tempos e estratégias a uma diversidade de solicitações
de fixação dos atletas, com recurso a diferenciadas.
tecnologia própria para o efeito.

70
Análise da performance desportiva

SUGESTÕES DE LEITURA REFERÊNCIAS


Carling, C.; Reilly, T.; Williams, A. (2008). Abrams, M.; Reber, A. (1988). Implicit Bray, S., & Widmeyer, W. (2000). Athletes’
Performance Assessment for Field Sports: learning: robustness in the face Perceptions of the Home Advantage: an
Physiological, Psychological and Match of psychiatric disorders. Journal of Investigation of Perceived Causal Factors.
Notational Assessment in Practice. London: Psycholinguistic Research, 17, 425-439 Journal of Sport Behavior, 23, 1-10
Routledge
Acker, J. (1997). Location variations in Case, R. (1998). Leader member exchange
Hugues, M.; Franks, I. (2007). The Essentials Professional Football. Journal of Sport theory and sport: possible applications.
of Performance Analysis: An Introduction. Behavior, 20, 247-259 Journal of Sport Behavior, 4, 387-396
Londres: Routledge
Agnew, G.; Carron, A. (1994). Crowd Effects Clarke, S. (2000). Home advantage in the
Knudson, D.; Morrison, C. (1997). and the Home Advantage. International Olympic games. In G. Cohen and T. Langtry
Qualitative Analysis of Human Movement. Journal Sport Psychology, 25, 53-62 (Eds), Proceedings of the Fifth Australian
Champaign: Human Kinetics conference on Mathematics and Computers
Al-Abood, S., Bennett, S., Moreno in Sport, pp.76-85. Sydney: University of
Mesquita, I. (1997). Pedagogia do treino. Hernandez, F., Ashford, D., & Davids, K. Technology Sydney
A formação em jogos desportivos coletivos. (2002). Effect of verbal instructions and
Lisboa: Livros Horizonte image size on visual search strategies in Courneya, K, & Carron, A. (1992). The
basketball free throw shooting. Journal of Home Advantage in Sport Competitions:
Mesquita et al, ( 2009). Modelos Sports Sciences, 20(3), 271-278 a Literature Review. Journal of Sport and
instrucionais no ensino do Desporto. Exercise Psychology, 14, 13-27
In Pedagogia do Desporto (A.Rosado & Altman, I. (1975). The Environment and
I.Mesquita, Eds.), 165-184. Cruz Quebrada: Social Behaviour: Privacy, Personal Space, Damásio, A. (1995). O Erro de Descartes.
Edições FMH Territory. California: Crowding Brooks/Cole Emoção, razão e cérebro humano (2ªEd.).
Publishing Company Mem Martins: Publicações Europa-América
Mesquita, I. (2005). A contextualização
do treino no voleibol: a contribuição Angrosino, M.; Pérez, K. (2000). Rethinking Davids, K., & Araújo, D. (2005). A abordagem
do construtivismo. In D. Araújo (Ed.), O observation. From method to context. baseada nos constrangimentos para o treino
Contexto da Decisão. A Ação Tática no In Handbook of Qualitative Research – 2nd desportivo. In D. Araújo (Ed.), O Contexto da
Desporto (pp. 355-378). Lisboa: Visão e Ed (N.Denzin & Y.Lincoln, Eds.), 673-702. Decisão. A Ação Tática no Desporto (pp. 35-60).
Contextos Thousand Oaks: Sage Publications Lisboa: Visão e Contextos

O’Donoghue, P. (2010). Research Methods Barthes, R. (1997). Crítica e Verdade. Lisboa: Davids, K., Glazier, P., Araújo, D., & ANÁLISE DA
for Sports Performance Analysis. Oxon: Edições 70 Bartlett, R. (2003). Movement systems as PERFORMANCE
Routledge dynamical systems: the functional role of DESPORTIVA
Baudry, L., Leroy, D., Thouvarecq, R., & variability and its implications for sports
Choller, D. (2006). Auditory concurrent medicine. Sports Medicine, 33(4), 245-60
feedback benefits on the circle performed
in gymnastics. Journal of Sports Sciences, Denzin, N.; Lincoln, Y. (2000). The discipline
24(2), 149-156 and practice of qualitative research. In
Handbook of Qualitative Research – 2nd Ed
Baumgartner, T., & Jackson, A. (1995). (N.Denzin & Y.Lincoln, Eds.), 1-28. Thousand
Measurement for Evaluation in Physical Oaks: Sage Publications
Education and Exercise Science. Madison:
Brown & Benchmark Publishers Dunkel-Schetter, C., & Bennett, T.
(1990). Differentiating the Cognitive and
Bell, J., & Hardy, J. (2009). Effects of Behavioral Aspects of Social Support. In I.
attentional focus on skilled performance Sarason, B. Sarason & G. Pierce (Eds.), Social
in golf. Journal of Applied Sport Psychology, Support: an Interactional View, pp. 267-296.
21(2), 163-177 New York: Wiley

Blanco, Á., Losada, J., & Anguera, M. T. (2003). Edwards, J., & Archambault, D. (1989).
Data analysis techniques in observational The Homefield Advantage. In J. Goldstein
designs applied to the environment- (ed.), Sports, Games, and Play: Social and
behaviour relation. Medio Ambiente y Psychological Viewpoints, pp. 333-370.
Comportamiento Humano, 4(2), 111-126 Hillsdale: Erlbaum

71
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Ehrlenspiel, F. (2001). Paralysis by analysis? Hoffman, S. (1977). Competency based Land, W., & Tenenbaum, G. (2009). The role
European Journal of Sport Science, 1(5), 1-11 training in skill analysis: designing of attention and movement variability in
Feyerabend, P. (1993). Contra o Método - assessment systems. In R.Stalidus (Ed.), the production of skilled performance. In D.
Ed.Revista. Lisboa: Relógio D’Água Research and Practice in Physical Education, Araújo, H. Ripoll & M. Raab (Eds.), Perspetives
3-12. Champaign, IL: Human Kinetics on cognition and action in sport (pp. 207-
Ford, P., Hodges, N., Huys, R., & Williams, 222). New York: Nova Science Publishers
A. M. (2006). The role of external action- Ibañez, S., Sampaio, J., Feu, S., Lorenzo, A.,
effects in the execution of a soccer kick: a Gómez, M. & Ortega, E. (2008). Basketball Liebermann, D.; Franks, I. (2004). The use of
comparison across skill level. Motor Control, game-related statistics that discriminate feedback-based technologies. In Notational
10(4), 386-404 between teams’ season-long success. Analysis of Sport – 2nd Edition (M.Hughes &
European Journal of Sport Science, 6, 369-372 I.Franks, Eds.), 40-58. Oxon: Routledge.
Franks, I. (2004). The need for feedback. In
Notational Analysis of Sport – 2nd Edition Janelle, C., Singer, R., & Williams, A. M. Lourenço, L. (2005). José Mourinho. Um
(M.Hughes & I.Franks, Eds.), 8-16. Oxon: (1999). External distraction and attentional ciclo de vitórias (16ªEd.): Prime Books
Routledge narrowing: visual search evidence. Journal
of Sport & Exercise Psychology, 21(1), 70-91 Malarranha, J. & Sampaio, J. (2007). O ritmo
Franks, I., & Miller, G. (1991). Training do jogos das finais das competições europeias
coaches to observe and remember. Journal Kubatko, J., Oliver, D., Pelton, K., & de Basquetebol (1988-2006) e as estatísticas
of Sports Sciences, 9, 285-297 Rosenbaum, D. T. (2007). A Starting Point que discriminam os jogos mais rápidos dos
for Analyzing Basketball Statistics. Journal of jogos mais lentos. Revista Portuguesa de
Garganta, J. (2001). A análise da Quantitative Analysis in Sports, 3(3), Article 1 Ciências do Desporto, 2, 202-208
performance nos jogos desportivos.
Revisão acerca da análise do jogo. Revista Khasawneh, A., Salameh, I., Akor, A., & Marcelino, R., Mesquita I.,Palao, J., &
Portuguesa de Ciências do Desporto, 1 (1), Al-Sheshani, A. (2008). The assessment Sampaio, J. (2009). Home advantage in
57-64 of feedback effort on the performance of high-level volleyball varies according to
serving and reception skills in volleyball. set number. Journal of Sports Science and
Gibson, E. J., & Schmuckler, M. (1989). International Journal of Applied Educational Medicine 8(3), 352-356
Going somewhere: an ecological and Studies, 3(1), 61-73
experimental approach to development of Martens, R. (1999). Os grandes treinadores
mobility. Ecological Psychology, 1(1), 3-25 Kluka, D. (1997). Observation skills. The são grandes comunicadores e motivadores.
Coach(3/97), 24-27 Seminário Internacional Treino de Jovens
Gréhaigne, J.-F., Godbout, P., & Bouthier, - Comunicações 1998 (pp. 5-15). Lisboa:
D. (2001). The teaching and learning of Knudson, D.; Morrison, C. (1997). Centro de Estudos e Formação Desportiva
decision-making in team sports. Quest, Qualitative Analysis of Human Movement.
53(1), 59-76 Champaign: Human Kinetics Maslovat, D.; Franks, I. (2008). The need
for feedback. In The Essential of Performance
Hayes, S., Hodges, N., Scott, M., Horn, R., & Lago, C. (2009). The influence of match Analysis. An Introduction (M.Hughes &
Williams, A. M. (2006). Scaling a motor skill location, quality of opposition, and I.Franks, ), 1-7. Oxon: Routledge
through observation and practice. Journal match Status on possession strategies in
of Motor Behavior, 38(5), 357-366 professional association football. Journal of McMorris, T., & Hale, T. (2006). Coaching
Sports Sciences, 1–7 science. Theory into practice. Chichester,
Helsen, W., & Starkes, J. L. (1999). A West Sussex: John Wiley & Sons
multidimensional approach to skilled Lago, C., Martin, R. (2007). Determinants
perception and performance in sport. of possession of the ball in soccer. Journal McPherson, S. (1999). Tactical differences
Applied Cognitive Psychology, 13, 1-27 of Sports Sciences, 25, 969-974 in problem representations and solutions
in collegiate varsity and beginner female
Hodges, N.; Franks, I. (2004). The nature Laird, P., & Waters, L. (2008). Eye-witness tennis players. Research Quarterly for
of feedback. In Notational Analysis of Sport recollection of sport coaches. International Exercise and Sport, 70(4), 369-384
– 2nd Edition (M.Hughes & I.Franks, Eds.), 17- Journal of Performance Analysis in Sport,
39. Oxon: Routledge 8(1), 76-84 McPherson, S., & Kernodle, M. (2007).
Mapping two new points on the tennis
Hodges, N., Williams, A. M., Hayes, S., & Lames, M., & McGarry, T. (2007). On the expertise continuum: tactical skills of
Breslin, G. (2007). What is modelled during search for reliable performance indicators adult advanced beginners and entry-level
observational learning? Journal of Sports in game sports. International Journal of professionals during competition. Journal
Sciences, 25(5), 531-545 Performance Analysis in Sport, 7(1), 62-79 of Sports Sciences, 25(8), 945-959

72
Análise da performance desportiva

McSharry, P. (2007). Altitude and athletic Mizruchi, M. (1985). Local Sport Teams and Reid, M., Crespo, M., Lay, B., & Berry, J.
performance: statistical analysis using Celebration of Community: a comparative (2007). Skill acquisition in tennis: research
football results. British Medical Journal, 335, analysis of the Home Advantage. The and current practice. Journal of Science and
1278-1281 Sociological Quarterly, 26, 507-518 Medicine in Sport, 10(1), 1-10

Memmert, D., & Furley, P. (2007). ‘I spy Newell, K., & Barclay, C. (1992). Rosado, A. (1998). Observação e reação
with my little eye!’: breadth of attention, Developing knowledge about action. In à prestação motora como competência
inattentional blindness, and tactical J. Kelso & J. Clark (Eds.), The development pedagógica. In A. Marques, A. Prista & A.
decision making in team sports. Journal of of movement control and coordination (pp. Faria Júnior (Eds.), Educação Física: Contexto
Sport & Exercise Psychology, 29(3), 365-381 175-212). Michigan: UMI - Out-of-Print e Inovação (Vol. 2, pp. 35-49). Porto: FCDEF-
Books on Demand UP & FCEFD-UPM
Mesquita, I. (1997). Pedagogia do treino.
A formação em jogos desportivos coletivos. O’Donoghue, P. (2005). Normative Profiles of Safrit, M. (1990). Introduction to
Lisboa: Livros Horizonte Sports Performance. International Journal of measurement in physical education and
Performance Analysis in Sport, 5(1), 104-119 exercise science. Saint Louis: Times Mirror/
Mesquita, I. (2005). A contextualização Mosby College
do treino no voleibol: a contribuição do O’Donoghue, P. (2010). Research Methods for
construtivismo. In D. Araújo (Ed.), O Contexto Sports Performance Analysis. Oxon: Routledge. Sampaio, J. (1998). Los indicadores
da Decisão. A Ação Tática no Desporto (pp. estadísticos más determinantes en
355-378). Lisboa: Visão e Contextos O’Donoghue, P., & Tenga. A. (2001). The el resultado final en los partidos de
Effect of Score-line on Work Rate in Elite Basquetbol. Lecturas: Revista Digital de
Mesquita, I. (2009). O ensino e treino Soccer, Journal of Sports Sciences, 19, 25-26 Educación Física y Deporte, 11.
da técnica nos jogos desportivos. In
Pedagogia do Desporto (A.Rosado & Oudejans, R., & Nieuwenhuys, A. (2009). Sampaio, J., Ibáñez, S., & Feu, S. (2004).
I.Mesquita, Eds.), 165-184. Cruz Quebrada: Perceiving and moving in sports and other Discriminative power of Basketball game-
Edições FMH high-pressure contexts. Progress in Brain related statistics by level of competition
Research, 174, 35-48 and sex. Percetual and Motor Skills, 32,
Mesquita et al, ( 2009). Modelos 1231-1238.
instrucionais no ensino do Desporto. Pereira, F., Mesquita, I., & Graça, A. (2009).
In Pedagogia do Desporto (A.Rosado & Accountability systems and instructional Sampaio, J., Ibañez, S., Gómez, M.
I.Mesquita, Eds.), 165-184. Cruz Quebrada: approaches in youth volleyball. Journal of & Lorenzo, A. (2008). Game location
Edições FMH Sports Science and Medicine, 8 (3), 366-373 influences Basketball players’ performances
ANÁLISE DA
across playing positions. International
PERFORMANCE
Mesquita, I., & Graça, A. (2002). Probing Petlichkoff, L. (1993). Relationship of Journal of Sport Psychology, 39, 205-216.
DESPORTIVA
the strategic knowledge of an elite player status and time of season to
volleyball setter: a case study. International achievement goals and perceived ability in Sampaio, J., Janeira, M., Ibañez, S., &
Journal of Volleyball Research, 5(1), 13-17 interscholastic athletes. Pediatric Exercise Lorenzo, A. (2006a). Discriminant analysis
Science, 5, 242-252 of game-related statistics between
Mesquita, I., Marques, A., & Maia, J. Basketball guards, forwards and centres
(2001). A relação entre a eficiência e Pijpers, J., Oudejans, R., Bakker, F., & Beek, in three professional leagues. European
a eficácia no domínio das habilidades P. (2006). The role of anxiety in perceiving Journal of Sport Science, 6, 173-178.
técnicas em voleibol. Revista Portuguesa de and realizing affordances. Ecological
Ciências do Desporto, 1(3), 33-39 Psychology, 18(3), 131-161 Sampaio, J., Ibañez, S., Lorenzo, A., &
Gómez, M. (2006b). Discriminative game-
Mesquita, I., Sobrinho, A., Rosado, Pollard R., & Gómez M. (2009). Home related statistics between Basketball
A., Pereira, F., & Milistetd, M. (2008). advantage in football in South-West starters and non-starters when related
A systematic observation of youth Europe: Long-term trends, regional to playing standard and game outcome.
amateur volleyball coaches behaviours. variation, and team differences. European Percetual and Motor Skills, 103, 486-494.
International Journal of Applied Sports Journal of Sport Science, 9, 341 - 352
Sciences, 20(2), 37-58 Schmidt, R. (1985). The search of invariance
Potrac, P.; Jones, R.; Cushion, C. (2007). in skilled movement behavior. Research
Mikulecky, D. (2007). Causality and Understanding power and the coach’s Quarterly for Exercise and Sport, 56, 188-200.
complexity: the myth of objectivity in role in professional English soccer:
science. Chemistry & Biodiversity, 4(10), a preliminary investigation of coach Schwartz, B., & Barsky, S. (1977). The Home
2480-2491 behavior. Soccer & Society, 8, 33-49 Advantage. Social Forces, 55, 641-661.

73
MANUAL DE CURSO DE TREINADORES DE DESPORTO //
GRAU III
INSTITUTO DO DESPORTO DE PORTUGAL //
PROGRAMA NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES

Seckin, A., & Pollard, R. (2007). Home Vickers, J. (2007). Perception, cognition and
advantage in Turkish professional soccer. decision training. The quiet eye in action.
Journal of Sports Sciences and Medicine, Champaign, Illinois: Human Kinetics.
Suppl 10, 203-204.
Vickers, J., & Williams, A. M. (2007).
Stark, S., & Jensen, P. (2000). Para formar Performing under pressure: the effects of
atletas confiantes e empenhados. Treino physiological arousal, cognitive anxiety,
Desportivo - 3ª Série, II(9), 11-21. and gaze control in biathlon. Journal of
Motor Behavior, 39(5), 381-394.
Tanaka, K., Hasegawa, M., Kataoka, T., &
Katz, L. (2010). The effect of self-position Williams, A. M. (2000). Percetual
and posture information on reaction time. skill in Soccer: Implications for talent
international Journal of Computer Science in identification and development. Journal of
Sport, 9(3), 4-14. Sports Sciences, 18, 737-750.

Tani, G. (2000). Processo adaptativo Williams, A. M., & Hodges, N. (2005).


em aprendizagem motora: o papel da Practice, instruction and skill acquisition
variabilidade. Revista Paulista de Educação in soccer: challenging tradition. Journal of
Física, Suppl 3, 55-61. Sports Sciences, 23(6), 637-650.

Tani, G., Bastos, F.C., Castro, I.J., Jesus, Williams, A.; Reilly, T. (2000). Talent
J.F., Sacay, R.C., Passos, S.C.E. (1992). identification and development in soccer.
Variabilidade de resposta e processo Journal of Sports Sciences, 18, 657-667.
adaptativo em aprendizagem motora.
Revista Paulista de Educação Física, 6, 16-25. Zajonc R (1965). Social Facilitation. Science,
Taylor J.B., Mellalieu S.D., James N., & 149, 269-274

Shearer, D. (2008). The influence of match


location, qualify of opposition and
match status on technical performance in
professional association football. Journal of
Sports Sciences, 26, 885-895.

Thirer, J., & Rampey, M. (1979). Effects


of Abusive Spectator Behavior on the
Performance of Home and Visiting
Intercollegiate Basketball Teams. Percetual
and Motor Skills, 48, 1047-1053.

Tuckman, B. (1994). Manual de Investigação


em Educação. Fundação Calouste
Gulbenkian (4ªEd.).

João, P., Leite, N., Mesquita, I., &


Sampaio, J. (2010). Gender differences in
discriminative power of volleyball game-
related statistics. Percetual & Motor Skills,
111(3), 893-900.

Vicente-Rodríguez, G., Gómez, J., Sala, A.,


Mesana, M., Rey-López, J., & Fernández-
Alvira, J. (2006). Aprendizaje del saque en
voleibol con la utilización del video feed-
back. EfDeportes - Revista Digital, 11(97).

74
FICHA TÉCNICA
PLANO NACIONAL DE FORMAÇÃO DE TREINADORES
MANUAIS DE FORMAÇÃO - GRAU III

EDIÇÃO
INSTITUTO PORTUGUÊS DO DESPORTO E JUVENTUDE, I.P.
Rua Rodrigo da Fonseca nº55
1250-190 Lisboa
E-mail: geral@ipdj.pt

AUTORES
AFONSO NEVES, ISABEL MESQUITA e JAIME SAMPAIO
ANÁLISE DA PERFORMANCE DESPORTIVA
ANTÓNIO VASCONCELOS RAPOSO
PLURIDISCIPLINARIDADE E TREINO DESPORTIVO
JOSÉ GOMES PEREIRA
FISIOLOGIA DO TREINO
JOSÉ LOPES
GESTÃO DO DESPORTO
JOSÉ MANUEL BORGES
TEORIA E METODOLOGIA DO TREINO DESPORTIVO - MODALIDADES INDIVIDUAIS
LUÍS HORTA
LUTA CONTRA A DOPAGEM
OLÍMPIO COELHO
PEDAGOGIA DO DESPORTO
PAULO CUNHA
TEORIA E METODOLOGIA DO TREINO DESPORTIVO - MODALIDADES COLETIVAS
SIDÓNIO SERPA
PSICOLOGIA DO DESPORTO

COORDENAÇÃO DA PRODUÇÃO DE CONTEÚDOS


António Vasconcelos Raposo

COORDENAÇÃO DA EDIÇÃO
DFQ - Departamento de Formação e Qualificação

DESIGN E PAGINAÇÃO
BrunoBate-DesignStudio

© IPDJ - 2017

View publication stats

Potrebbero piacerti anche