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Processo: 712835
Natureza: Denúncia
Exercício/Referência: 2004 e 2005
Órgão/Entidade: Prefeitura Municipal de São Sebastião do Paraíso
Responsável(eis): Mauro Lúcio da Cunha Zanin, Prefeito Municipal 2005/2008
Marilda Petrus Melles, Prefeita Municipal 2001/2004
Denunciantes: José Aparecido Ricci, Presidente da Câmara à época e Antônio José Amorim,
Vereador à época
Procurador(es): Luciano Donizete Leite, OAB/MG 77998; Jeniffer Magalhães Castro, C.I
MG-7.313.538; Gustavo Martins de Castro Alves, Cássia Augusta Alves Amaral, OAB/MG
26.372-E; Carla Cruz Guimarães de Almeida, OAB/MG 25.977-E, Eduardo José Mourão
Moreira, OAB/MG 25.674-E, Júlio César de Oliveira, Cristina Padovani Mayrink, OAB/MG
72.570
NOTAS TAQUIGRÁFICAS
Segunda Câmara - Sessão do dia 10/10/13
I - RELATÓRIO
Tratam os autos de Denúncia formulada pelo Sr. José Aparecido Ricci, Presidente da Câmara
Municipal à época e Antônio José Amorim, Vereador à época, relatando a ocorrência de
irregularidades na Administração Municipal ocorridas nos exercícios de 2004 e 2005.
Para apurar as possíveis irregularidades foi determinada a realização de inspeção
extraordinária no Município de São Sebastião do Paraíso, relatório às fls. 411/424.
O Ministério Público junto ao Tribunal manifestou-se preliminarmente às fls. 428/429.
Foi determinada a citação da Sra. Marilda Petrus Melles, Prefeita Municipal 2001/2004 e do
Sr. Mauro Lúcio da Cunha Zanin, Prefeito Municipal 2005/2008, que se manifestaram,
respectivamente, às fls. 439/441 e 442/718.
A Unidade Técnica procedeu à análise das defesas, às fls. 724/730, e o Ministério Público
emitiu parecer conclusivo às fls. 734/735V.
É o relatório em síntese.
II - PRELIMINAR
Preliminarmente, excluo da relação processual a Sra. Marilda Petrus Melles, Prefeita
Municipal no período 2001/2004, uma vez que a única irregularidade a ela imputável,
inscrição em restos a pagar sem disponibilidade financeira, não será objeto de análise nos
presentes autos, uma vez que já está sendo apreciada nos autos do Processo Administrativo n.
719114 em trâmite nesta Corte.
III – MÉRITO
Foram denunciadas as seguintes irregularidades:
a) Inscrição de despesas em restos a pagar sem disponibilidade financeira ao final do
exercício de 2004;
b) Pagamentos irregulares, no exercício de 2005, dos débitos inscritos em restos a pagar de
2004;
c) Diferença nos registros das contas vinculadas;
d) Contratação de advogado sem devido procedimento licitatório.
Conforme mencionei na preliminar, as irregularidades relacionadas à inscrição e pagamento
de restos a pagar (itens „a‟ e „b‟) serão objeto de apreciação nos autos do Processo
Administrativo n. 719114, decorrente de inspeção ordinária realizada no Município, que se
encontra em trâmite nesta Corte.
Passo ao exame das demais irregularidades apuradas na inspeção extraordinária realizada para
verificação dos fatos denunciados:
A equipe de inspeção, conforme relatório à fls. 416, apurou que o fato denunciado, na
verdade, se refere à ocorrência de divergências entre os registros das disponibilidades
financeiras bancárias do Executivo indicadas como livres ou vinculadas, não tendo sido
encontrados registros de contabilização incorreta de receitas no exame amostral da
contabilização de créditos pela Prefeitura entre o período de 2001 a 2004.
Assim, restou demonstrada a improcedência deste item denunciado.
Isso posto, embora não tenha sido apontada a ocorrência de sobrepreço, mantém-se a
irregularidade relativa à ausência de orçamento em planilha de custos unitários dos diversos
serviços contratados.
Ausência de justificativa de preços, art. 26, § único, III, da Lei n. 8.666/93
Defesa
O Defendente alega que em momento algum o dispositivo legal menciona que nos processos
de inexigibilidade de licitação será obrigatória a justificativa de preços e que a José Nilo de
Castro Advocacia Associada S/C apresentou preço contratual razoável, justo e compatível
com a execução dos serviços e principalmente as possibilidades do erário municipal.
Análise
Este Tribunal possui vasta jurisprudência acerca da necessidade de se apresentar justificativa
de preços nas contratações públicas realizadas por inexigibilidade de licitação, destacando-se
a seguinte:
(...) Especificamente, quanto à omissão na justificativa de preço, entendo ser esta
uma exigência de caráter relevante, pois, através dela, pode-se refrear a coligação
maliciosa de qualquer interessado no intento de superfaturar o valor da
contratação. Nesse sentido, o Egrégio Tribunal de Contas da União, ao julgar o
Processo n.º 009.896/07-5, também enfatizou a observância, nos processos de
dispensa e inexigibilidade de licitação, do disposto no parágrafo único do art. 26 da
Lei n.º 8.666/93, especialmente no que se refere à exigência de justificativas para o
preço contratado, que, neste caso, viu-se severamente negligenciada. Assim, apesar
de entender que o objeto da contratação é contemplado nas hipóteses de
inexigibilidade, considero, no entanto, eivada de vícios a contratação em comento,
não por ter ferido a regra da obrigatória licitação, mas por não ter respeitado os
requisitos para o regular procedimento de inexigibilidade, conforme dispostos no §1º
do art. 25, bem como no inciso III do art. 26, ambos da Lei de Regência das
Licitações. (Processo Administrativo n. 701008, Rel. Cons. Adriene Andrade, sessão
do dia 21/08/2007)
Isso posto, em consonância com a jurisprudência majoritária desta Corte, considero que as
alegações do Defendente não são capazes de elidir a irregularidade apontada.
c) Prorrogação irregular e sem a devida
justificativa dos contratos firmados, art. 57 caput e §2º, da Lei n. 8666/93
Defesa
O Defendente argumenta que as prorrogações dos contratos firmados estão de acordo com a
norma vigente. Cita a exceção do art. 57, II, da Lei de Licitações, que dispõe sobre serviços
de natureza continuada para justificar as prorrogações.
Frisa que os contratos decorrentes de inexigibilidade de licitação podem ser prorrogados, pois
o que possibilita tal prorrogação é a natureza dos serviços contratados e não a modalidade de
licitação que a antecedeu.
Análise
Não podem prosperar os argumentos da defesa, pois não foi devidamente demonstrada a
necessidade e vantajosidade das prorrogações dos contratos para a Administração. Ademais o
argumento apresentado pelo Defendente, de que os serviços são de natureza continuada,
corrobora o apontamento da equipe técnica de que a contratação do objeto por inexigibilidade
de licitação é irregular, pois os serviços de natureza continuada são, em regra, corriqueiros e
prestados de forma habitual e, por isso, não se enquadram na hipótese de singularidade dos
serviços que permite a contratação por inexigibilidade de licitação.
Não se pode ouvidar que os serviços de natureza continuada, prestados de forma habitual, são
passíveis de prorrogação por força do disposto no art. 57, II, da Lei n. 8666/93, todavia, tais
TRIBUNAL DE CONTAS DO ESTADO DE MINAS GERAIS
SECRETARIA-GERAL E DO TRIBUNAL PLENO
COORDENADORIA DE TAQUIGRAFIA / COORDENADORIA DE ACÓRDÃO
serviços devem ser prestados, via de regra, por servidores municipais, procurador ou
contador, não havendo justificativa para contratação em caráter permanente, por longos
períodos, de tais serviços pela Administração.
Cumpre observar, ainda, que para prorrogar contratos a Administração deve sempre
apresentar justificativas, demonstrando a vantajosidade e a obtenção de preços e condições
melhores, nos termos do inciso II do art. 57 da Lei n. 8666/93, o que não foi observado no
caso sob análise.
VOTO:
Diante de todo o exposto, considero parcialmente procedente a Denúncia e julgo irregulares
as contratações por inexigibilidade de licitação e seus termos aditivos, elencados nos itens 2.1
e 2.2 da fundamentação e, com base no inciso II do art. 85 da Lei Complementar nº 102/2008,
aplico multa pessoal ao Sr. Mauro Lúcio da Cunha Zanin, Prefeito Municipal à época, no
valor global de R$3.500,00 (três mil e quinhentos reais), sendo R$1.000,00 (mil reais) para
cada contrato irregular e R$500,00 (quinhentos reais) para cada termo aditivo irregularmente
firmado, pelos fundamentos a seguir:
Não realização de procedimento licitatório, em descumprimento ao art. 2º da Lei n.
8666/93, uma vez que as contratações não se enquadram na hipótese de inexigibilidade de
licitação prevista no art. 25, II, da mesma lei;
Ausência de orçamento detalhado em planilhas, violando o art. 7º, §2º, II c/c §9º da Lei n.
8666/93;
Ausência de justificativa de preços, em afronta ao art. 26, §único, III da Lei n. 8.666/93;
Prorrogação indevida e sem justificativa dos contratos, por meio dos termos aditivos
firmados, art. 57 caput e §2º, da Lei n. 8666/93.
Cumpridas as disposições regimentais, arquivem-se os autos com fundamento no art. 176, I
do Regimento Interno.
ACÓRDÃO
MGM/dc
(Assinado eletronicamente)
Documento assinado por meio de certificado digital, conforme disposições contidas na Medida Provisória 2200-2/2001, na Resolução n. 02/2012 e na Decisão
Normativa n. 05/2013. Os normativos mencionados e a validade das assinaturas poderão ser verificados no endereço www.tce.mg.gov.br , código verificador n. 688061