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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

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Uníntese | Uníntese Virtual

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Maria Bernardete Bechler


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Texto

Aline Madrid
Flávia Burdzinski de Souza LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA
Designers Educacionais

- 2016 -
Direitos Autorais reservados à UNÍNTESE

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

I LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

Maria Bernardete Bechler 1

1.1- Sobre as Origens dos Estudos Linguísticos

Da antiguidade ao mundo contemporâneo, a origem da linguagem


sempre suscitou o interesse e o fascínio de pensadores nos diferentes períodos
da história da humanidade. As primeiras explicações foram de cunho religioso,
mítico, presentes também em rituais de feitiçaria, em lendas, fábulas.

Em tempos remotos, as tentativas de explicar a origem do mundo por


diversas sociedades já relacionavam a palavra - o uso da linguagem verbal - ao
poder sobrenatural, fantástico, milagroso de criar. Segundo Marilena Chaui
(2000), os mitos e as religiões revelam a força criadora e realizadora da
linguagem, exemplificada ao citar a passagem da Bíblia judaico-cristã, quando, na
abertura do livro de Gênesis, Deus cria o mundo pronunciando as palavras: “E
Deus disse: faça-se! E foi feito. Porque Ele disse, foi feito”. Naquela situação, a
palavra divina tem o poder de criar. Outro exemplo foi quando Deus teria dado a
Adão uma língua e o poder de nomear tudo o que existia.

1
Possui especialização em Supervisão Escolar, em Filosofia da Educação e em Coordenação de Práticas e
Processos Pedagógicos. Graduação em Letras pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio
Grande do Sul e graduação em Letras pela Universidade Regional Integrada do Alto Uruguai e das Missões.
Atualmente é professora visitante da Universidade Tuiuti do Paraná e vice-diretora da UNÍNTESE. Tem
experiência na área de Educação, com ênfase em educação, ensino e aprendizagem e elaboração de
projetos.

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Também no livro de Gênesis da Bíblia, é narrada a legendária história da


Torre de Babel. Conta o mito que os homens do mundo inteiro falavam uma
mesma língua. Resolveram construir uma torre tão alta que chegaria a tocar no
céu e eles ficariam tão poderosos quanto o divino. Então Deus, para castigá-los,
fez com que os homens passassem a falar línguas diferentes e a partir daí,
ninguém mais se entenderia. E assim foi feito. Era tanto desentendimento que os
trabalhadores da construção foram embora, se espalharam por toda a terra e a
torre ficou inacabada. Assim, a diversidade das línguas impediu que houvesse
uma obra em comum, dando início a desavenças e guerras. A cidade dessa
história bíblica se chamou BABEL, palavra que significa confusão,
desentendimento.

Segundo Margarida Petter (2003), o encantamento que a linguagem


verbal sempre exerceu sobre o homem tem sua origem não só no poder que
permite nomear, criar e transformar a realidade, mas também por possibilitar
falar, trocar ideias e informações sobre situações presentes, passadas e projetar
o que poderá existir. A linguagem é expressão do pensamento e veículo de
comunicação social. A existência de uma linguagem é condição para a vida em
sociedade, pois não há sociedade sem comunicação.

As sociedades humanas somente foram possíveis quando o homem


deixou de expressar-se através de grunhidos, passando a usar a fala através de
um sistema formado por palavras que se combinam entre si, facilitando não só a
comunicação entre as pessoas, mas entre os povos, originando a formação de
sociedades complexas. Para o filósofo americano George Herbert Mead (1967), a
linguagem gestual antecedeu a linguagem falada, considerando que os homens
estabeleceram gestos para executarem ações durante as caçadas, nas lutas, nas
indicações de rumos. À medida que os gestos passaram a ser compreendidos,
remetendo o seu significado para uma situação já vivenciada pelos indivíduos,
converteram-se numa linguagem, onde o gesto constitui um símbolo significante
e o sentido do gesto o seu significado.

Os primeiros registros sobre estudos da língua remontam da


antiguidade, na Índia. Os povos Hindus, por temerem que os escritos sagrados
reunidos no Vedas 2 sofressem modificações no momento em que fossem
usados, passaram a estudar e descrever sua língua. Assim, os estudiosos da
língua procuravam demonstrar de modo perfeito os sons que deveriam ser

2
Vedas: escrituras sagradas associadas à religião hindu, também consideradas a espinha dorsal da cultura hindu,
conhecida como a tradição védica. “Há cerca de 3 500 anos, as comunidades na região do vale do Indo, atual norte da
Índia, começaram a organizar um dos sistemas religiosos mais antigos de que temos notícia: o hinduísmo. Suas crenças
foram transmitidas oralmente de geração em geração por muitos séculos até serem transcritas nos Vedas, compilação
de hinos e preces considerada como o primeiro livro sagrado da história”. (André Santoro e André Victor Sartorelli)
Disponível em: <http://super.abril.com.br/historia/os-vedas-um-livro-aberto>.

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emitidos nos cantos e rituais religiosos, levando a uma rigorosa descrição dos
sons da língua, criando modelos de análise que resultaram na produção da
primeira gramática, conhecida como a gramática de Pãnini, no século IV a.C. Os
estudos gramaticais de Pãnini foram profundos, resultaram na descrição do
sânscrito constituindo um tratado de quatro mil regras ou <sutras>.

Com base nos fundamentos da filosofia, os gregos em muito


contribuíram para o desenvolvimento dos estudos da linguagem, abrangendo as
áreas da morfologia, sintaxe, semântica, fonologia, destacando-se nos estudos
direcionados para explicações acerca das relações entre as palavras e o seu
significado. Os estudos de Platão (428-347 a.C.) produziram a primeira
classificação das palavras, chegando a conclusão de que as palavras pertencem a
duas classes: nomes e verbos. Mais tarde, também na Grécia, Aristóteles (384 –
322 a.C) direcionou estudos sobre a frase e ampliou os estudos sobre a
classificação das palavras: nomes, verbos e partículas, conjunções. As escolas
gregas de filosofia continuaram desenvolvendo importantes estudos sobre a
língua, a exemplo dos estóicos (corrente filosófica da Grécia Antiga) que
deixaram um legado significativo, pois além de avançarem na análise das classes
gramaticais, fizeram a distinção entre a forma e o significado das palavras.

Na antiguidade, a Biblioteca da Alexandria, localizada numa ilha grega,


notabilizou-se como o mais importante centro do conhecimento da antiguidade,
reunindo intelectuais de todo o mundo. Na Escola da Alexandria, estudiosos da
linguagem seguiram as pesquisas desenvolvidas pelos estoicos, fase que resultou
no que hoje se chama de gramática grega. Nesse período desenvolveram
análises de textos poéticos, valorizando a língua literária, afirmando que era mais
correta que a língua falada, concepção que, de certa forma, permanece até
nossos dias: a ideia de que a linguagem literária é mais correta do que a
linguagem coloquial. Segundo Lyons (1979) essa valorização tinha por objetivo
explicar a língua dos autores clássicos e preservar o grego da corrupção praticada
por ignorantes e iletrados.

Segundo os registros históricos, entre as contribuições dos latinos para


os estudos das línguas, merece destaque especial o gramático Marcos Terêncio
Varrão, filósofo que viveu entre os anos de 116 e 27 a.C. e desenvolveu estudos
acerca de diferentes áreas do conhecimento com destaque para as teorias da
linguagem, tendo produzido a mais antiga gramática latina.

Na Idade Média, os Modistas, como eram chamados os gramáticos,


acreditavam que a estrutura da linguagem estava diretamente relacionada com a
representação do pensamento, com a representação icônica das coisas do
mundo. Assim sendo, uma vez que a iconicidade dependia das coisas do mundo,

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todas as linguagens teriam a mesma estrutura profunda, concepção que motivou


a tentativa de criar uma gramática universal ou especulativa. Concluíram que
todas as línguas têm uma estrutura gramatical uma, universal, independente de
qual língua está sendo realizada.

No século XVI, os movimentos religiosos que culminaram na grande


Reforma religiosa demandaram a circulação de textos e livros sagrados para
inúmeras nações, determinando a sua tradução em diversas línguas,
possibilitando que cristãos e não-cristãos tivessem acesso a conhecimentos
sobre o cristianismo e assim pudessem interpretá-los. Mesmo com toda a
movimentação ocasionada pela circulação de viajantes, comerciantes,
funcionários do governo, e do aumento da distribuição de livros e textos em
diversas línguas, o latim conseguiu manter-se como língua universal.

O lançamento, no ano de 1502, do Dictionárium Poliglota, do italiano


Ambrósio Calepino, representou uma referência para os estudiosos do léxico
moderno, uma vez que foi reeditado e ampliado no decorrer dos séculos XVII,
XVIII, contando com importantes contribuições de eruditos europeus.

A Gramaire Génerale et Raisonnée de Port Royal, ou Gramática de Port


Royal, de Lancelot e Arnaud, no ano de 1660, serviu de base para importantes
estudos e publicações de inúmeras gramáticas no século XVII, a qual
demonstrava que a linguagem se baseia na razão, reflete o pensamento e que
os princípios para analisar uma língua em particular servem para analisar todas
as línguas (Margarida Petter, 2003).

No século XIX, o estudo comparativo entre as línguas vivas dá início ao


surgimento das gramáticas comparadas, cuja metodologia tinha por base a
análise dos fatos observados. As gramáticas comparadas em muito contribuíram
para o surgimento da Linguística Histórica. O lançamento do livro do linguista
alemão Franz Bopp, em 1816, “Sobre o sistema de conjugação da língua
sânscrita, em comparação com a do grego, latim, persa e germânico” pode ser
considerado um marco no surgimento da Linguística Histórica, uma vez que no
referido livro foram demonstradas as relações morfológicas existentes entre o
sânscrito, o latim, o grego, o persa e o germânico. A constatação das
semelhanças entre essas e outras línguas europeias vai evidenciar que existe um
parentesco entre elas, formando a família indo-europeia.

No século XIX, a compreensão de que as mudanças observadas nos


textos escritos teriam ocorrido depois de mudanças na língua falada
correspondente, representou um marco para os avanços dos estudos
linguísticos. Assim, compreendeu-se que as mudanças sofridas pelo latim no

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decorrer dos séculos deram origem a outras línguas como o português, espanhol,
italiano, francês. A linguística moderna considera a língua falada como objeto de
estudo prioritário, diferentemente de períodos anteriores de supervalorização da
expressão escrita.

No século XX, em 1916, com a publicação da obra contendo os estudos


de Ferdinand de Saussure “Curso de Linguística Geral” a Linguística passa a ser
reconhecida como uma nova ciência, inaugurando um novo período em que os
estudos da língua não mais estarão submetidos às necessidades da filosofia, da
história, ou da crítica literária. A partir desse novo marco, os estudos da
linguística serão descritos embasados em referenciais teóricos específicos da
Linguística, a ciência da língua.

1.2- Linguagem

Linguagem é a capacidade humana de expressar pensamentos, ideias,


opiniões e sentimentos por meio de signos convencionais, respondendo às
necessidades próprias do ser humano de comunicar-se com o outro. Os atos de
comunicação podem ser estabelecidos através de inúmeras linguagens, tais
como sinais, símbolos, sons, gestos e regras com sinais convencionais
constituindo a linguagem verbal oral e escrita. Assim sendo, a palavra linguagem
abrange diferentes sistemas de comunicação, desde a linguagem animal até
outras formas de linguagem como a música, a dança, a pintura, a mímica, a
informática, a matemática.

Na citação de Louis Hjelmslev (1975), é apresentada, com brilhantismo,


uma concepção da linguagem como capacidade de expressar sentidos, e por isso
mesmo, integrar um vasto campo de análise, sendo objeto de estudo de diversas
áreas do conhecimento como a linguística, a filosofia, a antropologia, a biologia,
a psicologia, a sociologia.

A linguagem [...] é uma inesgotável riqueza de múltiplos valores. A


linguagem é inseparável do homem e segue-o em todos os seus atos. A
linguagem é o instrumento graças ao qual o homem modela seu
pensamento. Seus sentimentos, suas emoções, seus esforços, sua vontade e
seus atos, o instrumento graças ao qual ele influencia e é influenciado, a
base última e mais profunda da sociedade humana. Mas é também o
recurso último e indispensável do homem, seu refúgio nas horas solitárias

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em que o espírito luta com a existência, e quando o conflito se resolve no


monólogo do poeta e na meditação do pensador. Antes de o primeiro
despertar de nossa consciência, as palavras já ressoavam à nossa volta,
prontas para envolver os primeiros germes frágeis de nosso pensamento e a
nos acompanhar inseparavelmente através da vida, desde as mais humildes
ocupações da vida cotidiana até os momentos mais sublimes e mais íntimos
dos quais a vida de todos os dias retira, graças às lembranças encarnadas
pela linguagem, força e calor. A linguagem não é um simples acompanhante,
mas sim um fio profundamente tecido na trama do pensamento: para o
indivíduo, ela é o tesouro da memória e a consciência vigilante transmitida
de pai para filho. Para o bem e para o mal, a fala é a marca da
personalidade, da terra natal e da nação, o título de nobreza da
humanidade. O desenvolvimento da linguagem está tão inextricavelmente
ligado ao da personalidade de cada indivíduo, da terra natal, da nação, da
humanidade, da própria vida, que é possível indagar-se se ela não passa de
um simples reflexo ou se ela não é tudo isso: a própria fonte de
desenvolvimento dessas coisas (1975, p. 1-2).

Para a filósofa Marilena Chaui, em seu livro “Convite à Filosofia” (2000,


p.1173), a linguagem é a forma exclusivamente humana da comunicação, da
relação com o mundo e com os outros, da vida social e política, do pensamento e
das artes. A linguagem permite ao ser humano organizar seus pensamentos,
expressar seus sentimentos, falar sobre suas reações, discernir sobre diferentes
pontos de vista, incorporar valores, compreender normas sociais, assumir
condutas, enfim, segundo Marilena Chaui (2000, p.185)

[...] a linguagem é nossa via de acesso ao mundo e ao pensamento, ela nos


envolve e nos habita, assim como a envolvemos e habitamos. Ter
experiência da linguagem é ter uma experiência espantosa: emitimos e
ouvimos sons, escrevemos e lemos letras, mas, sem que saibamos como,
experimentamos sentidos, significações, emoções, desejos, ideias.

1.2.1 Semiologia

Todas as linguagens verbais e não verbais (as quais exemplificaremos


posteriormente) possuem características que as identificam - são sistemas de
signos usados na comunicação. A ciência que analisa sistemas, códigos,
convenções de sinais, enfim, todos os sistemas de signos no seio da vida social
chama-se Semiologia. A língua é um sistema de signos linguísticos, portanto, a
língua também é estudada pela Semiologia. A Linguística é uma ciência que
pertence ao campo da Semiologia.

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Revisando: a Linguística estuda as línguas humanas; as línguas humanas


são os signos mais avançados entre outros, como a dança, a música, a pintura, a
fotografia, etc. que constituem a linguagem; a ciência mais ampla que estuda
todos os signos da vida social se chama Semiologia.

A Linguística é uma parte da Semiologia. Quando dizemos que a língua


humana é o mais avançado sistema de comunicação dentre os outros signos que
compõem a linguagem, é porque precisamos da língua para compreender e
interpretar cada um desses outros signos.

1.2.2 Linguagem verbal e não verbal

Desde os tempos mais remotos as pessoas usam a linguagem verbal e a


não verbal para a comunicação na vida cotidiana. A linguagem verbal é
concretizada pela língua, compreende a fala e a escrita usadas em diálogos,
informações transmitidas através do rádio, televisão, vídeos falados ou
legendados, jornais, revistas, livros, documentos, e todas as situações
envolvendo a fala e a escrita. A linguagem não verbal engloba toda e qualquer
comunicação em que não se faz uso da palavra para transmitir a mensagem
desejada, mas se utiliza de outros meios comunicativos, como gestos, figuras,
objetos, cores, ou seja, os signos visuais.

As representações da linguagem não verbal, de forma resumida, podem


acontecer através de signos não verbais. Signo é a representação de algo a que
atribuímos significado, sentido, valor. Podemos classificar em ícones, índices e
símbolos. Ícone - representa por força de semelhança - estátua, desenho,
fotografia; índice- indica ou sugere algo - fumaça, rastros, nuvem escura; símbolo
(representa algo abstrato, é uma convenção como cruz, bandeira).

A linguagem corporal é um tipo de linguagem não verbal, muito


expressiva e fundamental para a comunicação, pois determinados movimentos
corporais podem transmitir aspectos essenciais das mensagens e intenções.
Dentro dessa categoria existe a linguagem gestual, um sistema de gestos e
movimentos cujo significado se fixa por convenção.

Em muitas situações usamos a linguagem mista, empregando a


linguagem verbal e não verbal ao mesmo tempo. Por exemplo, uma história em
quadrinhos integra, simultaneamente, imagens, símbolos e diálogos.

Vimos que as representações da linguagem podem ser através de


ícones, índices e símbolos. Porém, para que estes outros códigos sejam

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compreendidos e aconteça a interação entre interlocutores, as pessoas utilizam


signos verbais ou de sinais, traduzindo os códigos mentalmente, tornando
possível a sua significação.

1.2.3 Linguagem Formal e Informal

Dependendo da situação em que a linguagem é usada, o falante pode


usar a linguagem formal - empregada em situações que exigem o uso da
linguagem padrão, por exemplo, salas de aula, reuniões de trabalho, palestras,
na escrita, na produção de correspondências oficiais, de trabalhos acadêmicos,
técnicos, científicos, etc. E a linguagem informal, usada quando existe intimidade
entre os falantes como a família, amigos.

As linguagens artificiais também são formais, surgem para servirem a


um fim específico, por exemplo, a lógica matemática ou a informática. A
linguagem de programação de computadores é uma linguagem formal que
consiste na criação de códigos e regras específicas que processam instruções
para computadores.

1.2.4 Linguagem simbólica e a linguagem conceitual

Com muita frequência, em nossas leituras nos deparamos com as


expressões “linguagem simbólica” ou “linguagem conceitual”. O não
entendimento do seu significado poderá dificultar inúmeras possibilidades de
comunicação.

A linguagem simbólica - expressa uma mensagem de apelo mais


emotivo, afetivo, possibilitando interpretações subjetivas, evocando
sentimentos, sensibilidades, possibilita a criação de situações imaginárias. É a
linguagem das lendas, dos romances, da poesia, do teatro, das letras de música,
entre outras expressões. No campo da psicologia, a linguagem simbólica é uma
forma de expressão do inconsciente, realiza-se, principalmente, como
imaginação; oferece sínteses imediatas (imagens); é fortemente emotiva e
afetiva; as palavras têm múltiplos significados simultâneos e diferentes; oferece-
nos um mundo a ser conhecido mais belo ou mais terrível que o nosso.

A linguagem conceitual - procura dar às palavras o sentido direto,


próprio, não figurado, é objetiva. É a linguagem dos argumentos, raciocínios,
provas, textos informativos, técnicos, acadêmicos.

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1.2.5 As Funções da Linguagem

A principal função da linguagem é comunicar. O estudo das diferentes


funções da linguagem está intimamente relacionado à teoria da comunicação e
da informação, que exerceu forte influência na linguística na década de 1950. A
teoria da informação trata de questões relacionadas à melhoria das
comunicações e da eliminação de problemas vinculados a telecomunicação,
entre outros. Diana Luz Pessoa de Barros (2003) descreve o esquema do
processo de comunicação, o qual, resumidamente, será apresentado a seguir:
emissor (que transmite a mensagem); receptor (o que recebe a mensagem);
mensagem (conjunto das informações transmitidas); canal - por onde as
informações são transmitidas: ondas sonoras, cordas vocais; TV; rádio; jornal;
código- combinações de signos utilizados na transmissão de uma mensagem;
contexto- a situação a que a mensagem se refere, também chamado de
referente. Importante lembrar que a comunicação somente acontece se o
receptor entender o código que está sendo usado pelo emissor da mensagem.

Segundo Barros (2003), Roman Jakobson (1963) expandiu o modelo da


teoria da informação, trazendo importantes contribuições aos estudos da
linguagem, sendo a mais conhecida relacionada à questão da variedade de
funções da linguagem. Na comunicação com o outro, a linguagem é usada de
diferentes formas, dependendo das necessidades e intenções: informar,
persuadir, emitir ordens, declarar emoções e tantas outras.

Assim, demonstraremos que a comunicação envolve diferentes


recursos conhecidos como funções da linguagem. As funções da linguagem são
as seguintes:

Função denotativa ou referencial: Está centrada no contexto do


referente, no assunto. Linguagem objetiva, encontrada nos textos técnicos,
científicos, jornalísticos, acadêmicos, escolares.

Função Emotiva: Centrada no emissor. Quando o falante expressa seus


sentimentos e emoções. Comumente encontrada em biografias, memórias,
declarações de amor, ódio, ressentimentos, medos, poesias líricas e outros.

Função apelativa ou conativa: Centrada no receptor. Quando o emissor


de uma mensagem tenta influenciar o ouvinte a mudanças de comportamento,
convencer ou emitir ordens. Função empregada em textos publicitários, nos
sermões, nos discursos e propagandas políticas.

Função Fática: Centrada no contato ou canal. A língua tem uma função


social chamada de comunicação fática, uma estratégia para manter contato

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social e um nível amigável. A função fática busca aproximar o ouvinte do falante,


demonstrar interesse pelo ouvinte. Por exemplo: ao falarmos com alguém, às
vezes empregamos a expressão “Você entende?” ou “Tudo bem com você?”
Também no intuito de deixar um ambiente mais agradável ou iniciar uma
comunicação com alguém: “Será que chove?”.

Função poética: Centrada na mensagem. O falante preocupa-se com a


forma de expressão da mensagem, procura atrair pela beleza, pela estética.
Usada na literatura, na poesia, com valorização das rimas, combinações de
palavras.

Função Metalinguística: Centrada no código. É um recurso de


linguagem usado para explicar a própria língua. O estudo da língua na escola
através da leitura, interpretação, vocabulário, conhecimentos gramaticais,
pesquisa em dicionários, são exemplos do emprego da função metalinguística. A
criança quando pergunta: “Mãe, o que quer dizer missioneiro?” Quando a mãe
explicar o que se entende por missioneiro, estará empregando a função
metalinguística. Na interpretação de uma poesia, de uma crônica ou de um texto
qualquer, também há o emprego da função metalinguística porque está
utilizando palavras para explicar outras palavras. Existem textos literários cuja
temática aborda o próprio ato de escrever, o que também constitui mais um
exemplo do emprego da função metalinguística.

1.3- Linguagem e Língua

No decorrer da história da humanidade, a língua serviu não só para a


comunicação e a interação entre as pessoas, mas também constituiu poderoso
instrumento de poder, de domínio de um grupo social sobre o outro. Nesse
sentido, é importante lembrar a todos nós brasileiros, usuários da Língua
Portuguesa, que muitas outras línguas eram faladas em nosso território quando
os portugueses aqui chegaram, como o Nagô, Quimbundo, Congoesa, Yorubá,
mais tarde as línguas africanas, ou mesmo a língua espanhola, por exemplo.
Evidencia-se, então, que nas disputas pelo território, hoje terras brasileiras, os
portugueses dominaram e impuseram a sua língua, sua cultura, apesar da
histórica presença de outros povos em nossa terra.

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Todos os seres humanos têm a capacidade de se comunicar através da


fala ou de sinais, independente de sua condição social ou de sua escolaridade,
salvo àqueles que apresentam problemas psíquicos ou que tenham problemas
neurológicas que atinjam áreas da fala. A manifestação da linguagem na espécie
humana não acontece de maneira natural como a fome, o sono, a dor, o prazer.
Mesmo sendo uma aptidão genética, a linguagem precisa ser aprendida. A
linguagem verbal (a fala e a escrita) será aprendida sob forma de uma linguagem
em situações comunicativas, na interação com pessoas que usam o mesmo
sistema de signos.

Para Quadros (2004), linguagem significa o sistema linguístico que é


geneticamente determinado para desenvolver-se nos humanos. Os seres
humanos podem usar uma língua de acordo com a modalidade de percepção e
produção desta: modalidade oral-auditiva (português, inglês, italiano, etc.) ou
modalidade viso-espacial (Língua de Sinais Brasileira, Língua de Sinais Americana,
Língua de Sinais Francesa, etc.).

Em português o vocábulo linguagem é mais abrangente que o vocábulo


língua, não só porque é usado para se referir às linguagens em geral, mas
também porque é aplicado aos sistemas de comunicação, sejam naturais ou
artificiais, humanos ou não.

Para Lyons (1987) refletir sobre o que é língua e linguagem traz em si a


pressuposição de que cada uma dentre as milhares de línguas naturais,
reconhecidamente distintas, é um caso específico de algo mais geral. O que o
linguista quer saber é se as línguas naturais, todas, possuem em comum algo que
não pertença a outros sistemas de comunicação, de tal forma que seja correto
aplicar a cada uma delas a palavra “língua”, negando-se a aplicação deste termo
a outros sistemas de comunicação.

Uma breve revisão da literatura contemplando alguns pesquisadores


permite apresentar diferentes definições de língua. Tais definições fornecem
subsídios para a indicação de propriedades consideradas pela linguística
essenciais às línguas naturais.

Segundo Saussure (1995, p.17),

[...] língua não se confunde com linguagem: é um conjunto de convenções


necessárias, adotadas pelo corpo social para permitir o exercício dessa
faculdade nos indivíduos, é, portanto, um produto social da faculdade de
linguagem.

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Bloch e Trager (apud JIMENEZ, 2013) afirmam que “uma língua é um


sistema de símbolos vocais arbitrários por meio do qual um grupo social
coopera”. Para Hall (1968, p.5), a língua (gem) é “a instituição pela qual os
humanos se comunicam e interagem uns com os outros por meio de símbolos
arbitrários”. Chomsky (apud Quadros & Karnopp, 2004, p.25), considera que uma
língua “é um conjunto (finito ou infinito) de sentenças, cada uma finita em
comprimento e construída a partir de um conjunto finito de elementos”,
considera ainda duas perspectivas a língua externa e a língua interna, sendo a
primeira associando som à palavra ao seu significado, a segunda a língua interna
define a “noção de estrutura” como parte estável, livre das expressões que
podem variar de falante para falante.

Fernandes (2002, p.16) dá a definição da Linguagem como sendo tudo


que envolve significação, que pode ser humano (pintura, música, cinema), animal
(abelhas, golfinhos, baleias) ou artificial (linguagem de computador, código
Morse, código internacional de bandeiras). Ou seja, “sistema de comunicação
natural ou artificial, humana ou não e “Língua” um conjunto de palavras, sinais e
expressões organizados a partir de regras, sendo utilizado por um povo para sua
interação”. Sendo assim a língua seria uma forma de linguagem: a linguagem
verbal. As línguas estariam em uma posição de destaque entre todas as
linguagens, ou seja, podemos falar de todas as outras linguagens utilizando as
palavras ou os sinais.

Na seção a seguir apresentaremos as principais propriedades da


linguagem humana conforme análise de Hocket, Lyons e Lobato (apud Quadros
& Karnopp, 2004, p 25-28).

1.3.1 Propriedades das Línguas Humanas

Entendemos por propriedades das línguas os traços comuns,


características presentes em todas as línguas naturais humanas em relação aos
outros sistemas de línguas (animais, matemática, tecnológicos).

No quadro abaixo, junto às propriedades das línguas naturais orais


apresentamos como essas propriedades se expressam nas línguas de sinais,
comprovando que as línguas de sinais são línguas naturais. A coluna à esquerda
apresenta as propriedades nas línguas – elaboradas com base na publicação de
Quadros & Karnopp (2004) e a coluna à direita reproduz o trabalho de Ronice M.
Quadros, Aline L. Pizzio e Patrícia F. Rezende (2009):

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Propriedade das Línguas Humanas e nas Línguas de Sinais


Flexibilidade e versatilidade
Segundo Lyons (1981), nenhum As línguas de sinais são usadas para
outro sistema de comunicação pensar, são usadas para desempenhar
parece ter o mesmo grau de diferentes funções.
flexibilidade e versatilidade que o Você pode argumentar em sinais, pode
humano, pode-se usar a língua fazer poesia em sinais, pode
para dar vazão às emoções e simplesmente informar, pode persuadir,
sentimentos; para solicitar a pode dar ordens, fazer perguntas em
cooperação de companheiros; sinais.
para ameaçar ou prometer; para
dar ordens, fazer perguntas ou Glosas em LIBRAS:
afirmações. É possível fazer VOCÊ GOSTAR MAÇÃ.
referência ao passado, presente e VOCÊ <GOSTAR MAÇÃ>sn
futuro; a realidades remotas em IX CASA DEFEITO EU PRECISO ARRUMAR
relação à situação de enunciação < PROJETO> to AULA EU APRESENTAR
e até mesmo a coisas que não
existem.
Arbitrariedade
As palavras e os sinais são As línguas de sinais apresentam
arbitrários entre a forma e o palavras em que não há relação direta
significado, visto que, dada a entre a forma e o significado.
forma, é impossível prever o Glosas em LIBRAS:
significado, e dado o significado é CONHECER
impossível prever a forma. AMIGO
TRABALHO
Descontinuidade
As palavras que diferem de Na língua de sinais verificamos o caráter
maneira mínima na forma, descontínuo da diferença formal entre a
normalmente apresentam uma forma e o significado. Há vários
considerável diferença no exemplos: o sinal de MORENO e de
significado. Por exemplo, a SURDO são realizados na mesma
palavra fada e faca diferem locação, com a mesma configuração de
minimamente na forma, tanto na mão, mas com uma pequena mudança
língua escrita como na falada. no movimento, mesmo assim nunca são
Esse fato tem por efeito mostrar o confundidos ao serem produzidos em
caráter descontínuo da diferença um enunciado. Tais sinais apresentam
formal entre forma e significado. uma distribuição semântica que não
permite a confusão entre os significados
apresentados dentro de um

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

determinado contexto.
Glosas em LIBRAS:
TRABALHO
VIDEO-CASSETE
TV
MORENO-SURDO
Criatividade/produtividade
Todos os sistemas linguísticos As línguas de sinais são produtivas
possibilitam a seus usuários assim como quaisquer outras línguas.
construir e compreender um
número indefinido de enunciados. Glosas em LIBRAS:
A estrutura gramatical na
produtividade é extremamente EU AMAR GISELE PORQUE ELA BONITA,
complexa e heterogênea seguindo LEGAL, ESPECIAL, 1AJUDAR2, GOSTAR
os princípios que as mantêm e TRABALHAR, INTELIGENTE ....
constituem. Chomsky coloca
ainda, que tanto a complexidade
como a heterogeneidade é regida
por regras, dentro dos limites
estabelecidos pela regra da
gramática.
Dupla Articulação
A organização da língua em duas As línguas de sinais também
camadas – a camada dos sons que apresentam o nível da forma e o nível
se combinam em uma segunda do significado. Por exemplo, as
camada de unidades maiores é configurações por si só não apresentam
conhecida como dualidade ou significado, mas ao serem combinadas
dupla articulação. Por exemplo, os formam sinais que significam alguma
sons f, g, d, o, nada significam coisa.
separadamente, já quando Exemplos em LIBRAS:
combinados eles adquirem um CM sem significado
significado, como em fogo, gado, L sem significado
dado, fado etc. As línguas M sem significado
humanas têm em torno de trinta a CM+L+M=significado (L + bochecha +
quarenta fonemas ou unidades. semicírculo para trás)

Padrão
Cada item lexical apresenta um As línguas de sinais são altamente
padrão de colocação na restringidas por regras. Você não pode
combinação ou substituição por produzir os sinais de qualquer jeito ao
outros itens, conforme ilustram os usar a língua de sinais brasileira, por

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

exemplos abaixo: O rapaz exemplo. Você deve observar suas


caminhou rapidamente; regras.
Rapidamente, caminhou o rapaz; Exemplo em LIBRAS:
O rapaz rapidamente caminhou. Obedecer às regras de formação de
As outras combinações são sinais e de sentenças.
agramaticais. Na palavra sal, por (ajudar com CM S – mostrar exemplos
exemplo, a vogal a poderia ser de sinais com CM errada, ou L errada,
substituída por o ou u, mas não ou M errado)
por z ou h. Em síntese o português
apresenta restrições na maneira
em que itens podem ocorrer
juntos e na ordem em que eles
aparecem.
Dependência Estrutural
Uma língua contém estruturas Também é observada uma dependência
dependentes que possibilitam estrutural entre os termos produzidos
entendimento da estrutura nas línguas de sinais.
interna de uma sentença, Glosas em LIBRAS:
independente do número de PAULO TRABALHAR+asp
elementos linguísticos envolvidos. *TRABALHAR+asp PAULO
SINAL BRASIL
*BRASIL SINAL

1.3.2 Linguagem humana versus comunicação animal

Algumas características que estão presentes em todas as línguas


naturais, tais como as propriedades de dependência estrutural, padrão,
dualidade, deslocamento, criatividade constituem traços únicos das línguas
humanas. Até o presente, os sistemas das línguas animais não apresentam essas
características.

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

1.4- Sobre a Linguística

Nesta seção, inicialmente faremos uma breve apresentação da


Linguística como área de estudo; a seguir o trabalho estará direcionado para as
concepções de dois linguistas que marcaram os estudos científicos da língua no
século XX: Ferdinand de Saussure e Avram Noam Chomsky.

A Linguística é considerada uma ciência da linguagem humana que tem


como objeto de estudo a língua natural humana. Analisa e descreve as línguas
como se apresentam, não tendo a preocupação em emitir juízos de valor, não
determina se é correta ou incorreta, não privilegia as formas mais cultas em
detrimento das formas mais populares. A Linguística procura explicar a
capacidade que as pessoas possuem para compreender uma língua, formar
palavras, frases, textos, produzir sons, gestos, sinais.

Considerada uma ciência descritiva, a linguística de Saussure não leva


em conta o aspecto histórico, as modificações da língua no decorrer do tempo.

Há muitos séculos a linguagem já era objeto de estudo de outras


ciências, como a filosofia, a filologia, a lógica. Foi, porém, com o mestre
Ferdinand de Saussure, nascido 1857 em Genebra, na Suíça, que a Linguística
passou a ser considerada uma ciência. Em 1916, três anos após a morte de
Saussure, seus discípulos lançaram o “Curso de Linguística Geral”, livro que
marca o início da Linguística como ciência, a partir do qual possibilitou novos
estudos sobre a linguagem e a língua, servindo de embasamento para outras
correntes da Linguística surgidas no decorrer do século XX.

Para Saussure (1995), todas as manifestações da linguagem humana


são matéria de interesse da Linguística, sejam manifestações de povos
primitivos, selvagens ou de povos civilizados, independente do período histórico,
sejam elas contextualizadas da antiguidade, medievo, moderno ou
contemporâneo.

Saussure (1995) distingue linguagem e língua. Explica a linguagem como


sendo uma capacidade humana natural, que nasce com o ser humano, porém as
línguas são aprendidas, convencionais, surgem pela necessidade de comunicação
entre as pessoas e se desenvolvem conforme o contexto cultural, geográfico,
econômico, tecnológico, de um povo. A linguagem é mais ampla que a língua, é

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

uma capacidade humana que permite que o homem produza e compreenda


todas as manifestações simbólicas como a pintura, a música, a dança, sendo a
língua uma dessas manifestações.

Para Saussure (1995) a língua é a parte essencial da linguagem,


constitui-se num sistema de signos, um conjunto de unidades que se relacionam
de forma organizada dentro de um todo. É social e convencional.

Saussure também distingue língua e fala. Desde o seu surgimento, a


análise linguística não abrangia a fala, pois a considerava muito variável. A fala é
o sistema da língua em uso, é um ato individual em que cada falante escolhe o
vocabulário, trazendo para sua fala as marcas da cultura. Para o lingüista, no
amplo campo de estudo que envolve linguagem / língua / fala, a língua é o objeto
de estudo da Linguística. A partir dessa concepção, os estudos da linguagem
dividem-se em duas áreas: a Linguística da língua e a Linguística da fala.
Saussure, no livro Curso de Linguística Geral, focalizou a sua teoria na Linguística
da Língua. Para Saussure, a língua é eminentemente social. Ao referir-se ao
aspecto social da língua, assim se pronuncia.

Trata-se de um tesouro depositado pela prática da fala em


todos os indivíduos pertencentes à mesma comunidade, um sistema
gramatical que existe virtualmente em cada cérebro ou, mais
exatamente, nos cérebros de um conjunto de indivíduos, pois a
língua não está completa em nenhum, e só na massa ela existe por
completo (SAUSSURE, 1969, p. 21).

A Linguística moderna partiu dos estudos descritivos e comparativos das


línguas históricas realizados por linguistas dos anos de 1800. Esses estudos
possibilitaram a análise das transformações e da evolução das línguas,
fundamentando conhecimentos dos linguistas do século seguinte, anos 1900.
Assim, nos nossos dias, considerando os estudos comparativos e evolutivos, a
Linguística está subdividida na Linguística Histórica e na Linguística Geral.

Saussure realiza um corte nos estudos comparativos e inaugura um


novo momento para os estudos dos fenômenos da língua. Segundo a sua teoria,
a língua deve ser estudada tal como ela se apresenta, não sendo objeto de
preocupação os seus aspectos históricos e evolutivos.

A Linguística é a ciência da linguagem. É uma ciência por ser descritiva e


explicativa (explica o que a língua é e por que é assim). Ela se diferencia da
gramática normativa, que se preocupa em prescrever como se deve dizer. Um
linguista não condena certas maneiras de falar, não as declara certas ou erradas,

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

preocupa-se em descrever e explicar as construções e as formas da língua em


uso (FIORIN, 2015, p.37).

No final da década de 1950, com a publicação do livro Syntatic


Stuctures, outra teoria linguística muito importante foi apresentada pelo
linguista e pensador americano Avran Noam Chomsky, nascido em 1928, na
Filadélfia, Pensilvânia, autor de mais de 70 livros, traduzidos em dez línguas. Essa
teoria, hoje vastamente conhecida como “Gramática Gerativa”, mudou o objeto
de estudo da linguística. Segundo a sua teoria a língua não é social, para ele, a
língua é um objeto mental. Chomsky definiu língua como

[...] um sistema de princípios conhecidos intuitivamente por qualquer


falante, princípios esses que integram, juntamente com outras capacidades
cognitivas, a mente humana, essa teoria aproximou a Linguística dos
estudos biológicos e das ciências cognitivas. A língua não é mais um objeto
social, ela é um componente central da natureza humana (apud NEGRÃO,
2015, p.76-77).

A seguir, no decorrer deste trabalho, vamos apresentar aspectos


significativos das teorias linguísticas de Ferdinand de Saussure e Noam Chomsky,
importantes para a compreensão do fenômeno linguístico.

1.4.1 Ferdinand Saussure

A língua, segundo Saussure, “é, ao mesmo tempo, um produto social da


faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, adotadas
pelo corpo social para permitir o exercício dessa faculdade nos indivíduos” (1969,
p.17).

Para explicar o que significa “produto social”, podemos dizer que a


língua é produzida e usada por toda uma comunidade, não sendo propriedade
de ninguém individualmente. Uma língua não existe individualmente, ela se
constitui no meio social e é no meio social que ela se realiza, se transforma e
evolui. Vimos, então, que a língua é social e convencional, isto é, as palavras, os
signos, devem ser conhecidos e compreendidos por todos os seus usuários.

Para Saussure a língua é um sistema formado por um conjunto


organizado de elementos; esses elementos se definem por sua relação com o
sistema e por sua relação com os demais elementos. Cada elemento da língua se
define pela diferença existente em relação a outro elemento. Para exemplificar a
questão da diferença vamos observar a palavra /bola/, se substituirmos o
fonema /b/ pelo fonema /m/, teremos outra palavra: mola. Relacionando as

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

duas palavras, veremos que a diferença entre elas são os fonemas /b/ e /m/.
Como poderemos definir o que é o fonema /b/ que aparece no início da palavra
/bola/? Não tem como definir, só dizer que o /b/ não é o /m.

3
Saussure

Assim sendo, para Saussure (1995), a língua é um sistema de signos –


um conjunto de elementos que se relacionam organizadamente dentro de um
todo. É importante lembrar que para o autor, a linguagem é uma faculdade inata
no indivíduo ao passo que a língua constitui algo adquirido e convencional.

Ao definir o objeto dos estudos da Linguística, Saussure entende que


não pode ser a linguagem, tendo em vista que ela tem características da física, da
antropologia, da fisiologia. Define então que o objeto da linguística é a língua,
que é um produto da faculdade da linguagem e que é um produto social. A
língua é social, se realiza entre pessoas de uma comunidade que conhecem os
significados dos signos.

Dicotomia Saussuriana

Na obra de Saussure encontramos a palavra dicotomia, usada na lógica,


que no novo dicionário Aurélio da Língua Portuguesa (FERREIRA, 2009, p.675),
significa “divisão lógica de um conceito em dois outros conceitos em geral
contrários, que lhe esgotam a extensão”, exemplo: animais vertebrados e
invertebrados; direito público e privado. Essa é a compreensão que devemos ter

3
Disponível em: http://newlearningonline.com/literacies/chapter-8/saussure-on-signs

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

da dicotomia saussuriana. Os conceitos dicotômicos se opõem, um só pode ser


compreendido se comparado ao outro, e juntando os dois formam um conceito
maior, muito importante para entendermos o que é a língua.

Passaremos a apresentar os quatro pares de conceitos que formam as


dicotomias saussurianas:

• língua e fala;

• significante e significado;

• sincronia e diacronia;

• paradigma e sintagma.

Língua e fala

A língua é social, um sistema de signos convencionais, não pode ser


mudado. A fala é individual, é a manifestação oral, é o sujeito falante usando o
código da língua. A fala traz muitas marcas da cultura, do modo de viver do
falante, de tal forma que uma mesma língua pode ser falada de diferentes
maneiras, dependendo do lugar, das influências a que o falante está exposto.
Enfim, a fala é a expressão individual, própria de cada pessoa. Porém,
independente do jeito de cada indivíduo falar, a língua é a mesma: no nosso caso
o português.

Significante e Significado

Para compreendermos a dicotomia “significante e significado,”


precisamos entender muito bem o que se entende por signo linguístico.

Signos linguísticos são unidades linguísticas que significam alguma coisa.


Por exemplo: livro é um signo em português. Se eu uso esse signo, todas as
pessoas que conhecem a língua portuguesa sabem a que eu me refiro. A palavra
livraria também é um signo, porém é composta por dois signos menores que têm
significação: livr (livro) mais aria (indica um estabelecimento comercial que
vende livros) forma o novo signo livraria. Frases ou textos também são signos
porque significam alguma coisa. Por exemplo: o livro A Moreninha, de José de
Alencar, é um signo.

Assim, tudo que é existente e conhecido é representado por um signo.


O signo é a associação indissolúvel de um significante e de um significado.

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

Por exemplo, árvore: o significado corresponde não ao objeto, a coisa


em si, mas a ideia, o conceito que temos de árvore (galhos, tronco, raiz). O
significante de árvore é a imagem acústica, que é a representação psíquica do
som /a/r/v/o/r/e.

O significante é a imagem acústica, ou seja, quando se pensa em algo


conhecido, é como se o som ressoasse no cérebro é um som não articulado.

Significado / Significante4

Signo5

Ex: Signo bicicleta. Significado: a ideia, o conceito, as características, o


que a bicicleta significa para o sujeito. Significante é a imagem acústica, a
representação psíquica do som.

Para resumir: Signo linguístico compreende dois termos psíquicos


unidos em nosso cérebro = significado (ideia, conceito) + significante
(representação psíquica do som).

Conceito/Imagem6

4
Disponível em: https://letransfert.wordpress.com/2013/05/15/sintoma-e-desejo-psicanalitico-uma-perspectiva-linguistica/
5
Disponível em: Referência: http://comunicacionparaadultos.blogspot.com.br/

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

Características do Signo

O signo possui duas características: a arbitrariedade e linearidade.

O que quer dizer o princípio da arbitrariedade?

Para explicar, vamos analisar o termo “mar” – o conceito de mar, a ideia


que cada um de nós tem do mar, poderia ser representado por qualquer outra
imagem acústica com “bar”, “fogão”, “cadeira”. Não existe relação entre o
significado e o significante. Assim, podemos dizer que o que une o significante ao
significado é arbitrário. Também como exemplo, para o referencial “cão” em
português, em inglês é “dog”, em espanhol é “perro”. O significado, o conceito, a
ideia de cão é o mesmo nas diferentes línguas, porém, o significante não é o
mesmo, o significante é arbitrário.

As línguas de sinais, bem mais recentes, possuem um número


significativo de sinais que representam a forma ou o modelo dos objetos ou
indivíduos a que se referem, são os chamados sinais icônicos, comprovando que
o princípio da arbitrariedade do signo não é absoluto, embora, para a maioria
dos sinais, não seja impossível compreender o significado apenas pela
representação.

O que se entende por linearidade do signo?

As palavras em um texto sempre são apresentadas em forma linear,


uma após a outra; elas não podem ficar sobrepostas, não ocorrem
simultaneamente. Também as letras na palavra sempre virão uma após a outra,
este é o princípio da linearidade. Vamos observar a frase: “O inverno chegou
trazendo as chuvas frias, provocando enchentes, obrigando muitas famílias a
abandonarem as suas casas.” Todas as palavras estão em linha, uma após a
outra, cada uma ocupando um lugar específico para constituir o significado da
mensagem. Cada palavra se relaciona com a outra, constituindo uma unidade,
um sentido.

Hoje em dia, muitos linguistas já questionam esse princípio da


linearidade porque ele não se aplica totalmente às Línguas de Sinais.

Nas línguas de sinais, a simultaneidade é um fato bastante comum: é


possível se realizar um signo com uma mão, e outro com a outra, ao mesmo
tempo. Além disso, enquanto as mãos estão realizando sinais lexicais, a

6
Disponível em: http://4.bp.blogspot.com/_zO7e6hJaq8A/Su8ahAkq6zI/AAAAAAAAAEU/VlGJlbJF0EE/s320/clip_image002.jpg

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

posição do tronco e da cabeça, a direção do olhar, as expressões faciais


estão fornecendo informações discursivas e gramaticais (VIOTTI, 2008,
p.25).

Ainda assim, segundo a autora, a linearidade se aplica nas Línguas de


Sinais em todos os níveis de análise, do fonológico ao discursivo.

Sincronia e diacronia

Para Saussure (1969), o estudo sincrônico da língua é a observação da


língua num momento delimitado, num determinado ponto do tempo, num
período, não interessando o que aconteceu antes, nem o que poderá acontecer
depois. Esta forma de analisar a língua se chama de sincronia, não se atém às
transformações históricas da língua e nem a sua possível evolução.

Na análise sincrônica, descrevem-se as relações entre os fatos existentes


em um determinado tempo do sistema linguístico.

Diacronia são as observações das ocorrências que aconteceram com a


língua através do tempo, engloba as mudanças e transformações. Para
exemplificar uma observação diacrônica podemos observar as transformações
históricas: “vossa mercê”; “vosmicê”; “você”.

Paradigma e sintagma

Vamos explicar as relações sintagmáticas e as relações paradigmáticas


ou associativas, que se referem às relações e que se estabelecem entre os
elementos que constituem o sistema da língua. Essas relações podem ser
separadas em dois grupos. Cada grupo corresponde a uma atividade mental e
são muito importantes para a língua.

O que se entende por sintagma? Sintagmas são as combinações que


acontecem dentro do contexto discursivo, uma palavra, um grupo de palavras ou
uma frase. O sintagma acontece a partir do princípio da linearidade: são
combinações consecutivas, se alinham uma após a outra, como acontece na fala.
O sintagma tem duas ou mais unidades, como por exemplo: pato= pa-to; Paulo
chegou; Se fizer tempo bom, sairemos. Vimos que num sintagma cada termo
linguístico tem um valor porque se opõe ao termo que vem antes e ao que vem
após.

Exemplo: Na palavra “parede”- pa-re-de , se deslocarmos uma sílaba,


mudará o sentido: depare – de-pa-re. Mudando uma sílaba, não comunicamos
o signo parede, é preciso que as combinações sejam lineares e consecutivas,
mantendo o significante.

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

O sintagma exige ordem de sucessão, onde cada termo linguístico tem


um valor, desde que dentro de um contexto discursivo. Usando um exemplo do
próprio Saussure (1969) com a frase: “Se fizer bom tempo, sairemos.” Todos os
termos estão alinhados, respeitando a linearidade, estão alinhados
horizontalmente, numa situação comunicativa verbal, sendo possível comunicar
a mensagem,temos um sintagma. Observe o valor de cada termo, pois o
contexto discursivo perderia o significado se a ordem fosse alterada: Tempo se
sairemos bom fizer. São as relações sintagmáticas.

Paradigma ou Relações Associativas

São associações que acontecem em nossa memória com as palavras que


têm alguma coisa em comum: ou o significado, ou a imagem acústica, a
sonorização. Exemplo: quando lemos ou ouvimos a palavra “livraria”, a essa
palavra se associam muitas outras que estão na nossa memória, como livro,
papel, arquivos, cadernos, lápis, enfim, um universo de palavras que poderão
estar associadas ao significado de livraria. Outras palavras poderão ser
associadas à sonorização de livraria: portaria, papelaria, pescaria. O eixo
paradigmático ou eixo vertical é o eixo das relações associativas.

Exemplo de paradigma ou relações associativas:

Nessa primeira parte do trabalho apresentamos, resumidamente,


aspectos da Linguística, segundo Ferdinad de Saussure.

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

A seguir, apresentaremos brevemente outra teoria Linguística criada por


Noam Chomsky, chamada de Gerativismo. As teorias de Saussure e de Chomsky
são importantes para a compreensão do funcionamento da língua.

1.4.2 Noam Chomsky

Pensador e linguista americano, Avram Noam Chomsky é o principal


teórico do Gerativismo. Quando estudamos a teoria de Saussure, vimos que a
língua é predominantemente social. Para Chomsky, na Gramática Gerativa, a
língua é um objeto mental. Para ele, a mente humana é o local onde a língua -
um sistema de princípios - está radicada. É esse sistema de princípios mentais
que é o objeto de estudo da Gramática Gerativa (Viotti, 2008).

Para Chomsky (1996), existe na nossa mente um módulo cognitivo


independente, exclusivamente associado à língua e não a outras linguagens
como a dança, a música, a pintura, etc., que permite às pessoas a compreensão e
formulação de palavras, frases, discursos. Assim sendo, a linguagem é uma
capacidade inata, transmitida geneticamente e própria da espécie humana.

Segundo Viotti (2008), a faculdade da linguagem já está formada


quando a criança nasce, é comum a toda a espécie humana, é igual para todas as
crianças, sejam surdas ou ouvintes. A faculdade da linguagem é um estado inicial
a toda a pessoa quando nasce, é inata, faz parte da genética humana, chama-se
gramática universal. A língua “é o resultado da interação de dois fatores: o
estado inicial e o curso da experiência” (Chomsky, 1996, p. 74).

7
Chomsky

7
Disponível em: Fonte:http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.virtual.ufc.br/

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

Assim sendo, se uma criança, ao nascer, passar a conviver com pessoas


que falam português, o seu estado inicial da faculdade da linguagem, em
interação com as informações linguísticas, vai se modificando e ela passará a
falar português e não outra língua. Da mesma forma, se a criança for surda e os
seus pais ou cuidadores usam a língua de sinais, a criança vai desenvolver a
língua de sinais. Evani Viotti assim explica a gramática universal:

[...] para a Gramática Gerativa, a língua pode ser comparada a um ser vivo:
ao nascer, esse ser traz em seus genes a capacidade de crescer, de se
desenvolver, de amadurecer. Se esse ser vivo recebe nutrientes, ele cresce e
se desenvolve. Se não, ele não sobrevive. O mesmo acontece com a
informação genética da faculdade da linguagem: em seu estado inicial, que
é a gramática universal, ela tem uma pré-disposição genética para crescer e
se desenvolver e se tornar uma gramática estável, como a do português, do
japonês, da Libras, da ASL. Mas, para isso, ela precisa receber nutrientes, ou
seja, ela precisa ser exposta a um ambiente linguístico; se isso não
acontecer, essa informação linguística inata não vai sobreviver (2008, p.34).

Ao referir-se à faculdade da linguagem, Chomsky a considera como um


“órgão linguístico”, como outros órgãos do corpo tais como o sistema visual, o
sistema circulatório, dado o seu caráter fundamental em todos os aspectos da
vida e da interação humana.

O Que se Entende por Gerativismo?

Segundo a teoria de Chomsky, todas as pessoas têm os mesmos


mecanismos mentais destinados à produção e compreensão da linguagem.
Vamos retomar a noção já mencionada, de que para ele

[...] existe em nossa mente um módulo linguístico constituído de princípios


responsáveis pela formação e compreensão das expressões linguísticas e
exclusivamente dedicado a língua. Esse módulo linguístico é chamado de
faculdade da linguagem. Essa faculdade da linguagem é inata, ou seja,
todos os seres humanos nascem dotados dela. “A faculdade da linguagem
é parte da dotação genética da espécie humana” (Viotti, 2008, p.33, grifo
nosso).

A essa faculdade da linguagem que é parte da dotação genética


humana, esse módulo especial, associado especificamente à língua e não às

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

outras linguagens como a dança, a música, que se constitui o centro dos estudos
da sua teoria, é chamada de GRAMÁTICA UNIVERSAL.

A Gramática Universal é o estado inicial, uma competência que toda a


criança já traz quando nasce e está presente em todas as pessoas, sejam
ouvintes ou surdas.

Todas as pessoas são portadoras da faculdade da linguagem. Logo,


todas possuem uma Gramática Universal. Porém, esse estado inicial da faculdade
da linguagem, à medida que a criança passa a conviver num ambiente linguístico,
com qualquer língua humana verbal ou a língua de sinais, a Gramática Universal
vai se desenvolver e se tornar uma gramática constante, como a espanhol, o
português, a LIBRAS.

A preocupação da Gramática Universal são os mecanismos mentais


dedicados à produção e compreensão da linguagem, em que os falantes de uma
língua têm intuições sobre como devem ser as formas das sentenças.

O se entende por intuição? Vamos observar os exemplos:

1. Todos participaram da construção do ginásio da comunidade.

2. Da construção do ginásio da comunidade todos participaram.

3. Da comunidade participaram ginásio todos construção da.

Percebe-se que a última sentença não tem sentido. Por intuição, pelos
conhecimentos que temos da língua, sabemos que a sentença nº 3 está incorreta
e que as sentenças 1 e 2 são sentenças possíveis.

O conhecimento intuitivo inicialmente era chamado de competência


linguística. É o conhecimento que o falante possui sobre a sua própria língua, é o
conhecimento interiorizado. Desempenho linguístico é o uso do conhecimento
intuitivo, chamado de conhecimento exteriorizado.

Mais tarde, o conhecimento interiorizado foi denominado Língua – I.


Para a Gramática Gerativa o que é investigado é a Língua-I (interiorizada),
capacidades mentais que nos capacitam a produzir e a compreender a
linguagem. Segundo a Gramática Gerativa, nascemos com a capacidade para a
linguagem, pois temos uma constituição biológica que permite compreender e
produzir linguagem. Essa abordagem é legitimada pelos seguintes argumentos:

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

a) Argumento da pobreza de estímulo - As informações linguísticas a


que as crianças são expostas no período de aquisição da linguagem, sozinhas,
não são suficientes para que elas criem um sistema altamente complexo como é
a linguagem humana. Os estímulos são pouco informativos sobre as
propriedades gerais da linguagem. Como conseguem desenvolver o sistema
complexo? Para Chomsky, os dados linguísticos a que uma criança está exposta
são sempre pobres, independente do grupo social a que ela pertence. Pessoas
ricas e pobres, todas são expostas a ambientes linguísticos insuficientes,
incapazes para explicar todo o conhecimento linguístico que ela tem de sua
língua (apud VIOTTI, 2008).

b) Criatividade Linguística - a linguagem é um meio finito que gera um


número infinito de sentenças. Uma criança pode produzir sozinha, uma frase que
nunca ouviu antes. Isso mostra a nossa capacidade da linguagem.

Segundo a Gramática Gerativa, a linguagem é constituída por um


número infinito de sentenças e não existe limite para o término de uma
sentença. Porém, os elementos mínimos com os quais se constrói uma sentença
são finitos, isto é, os sons distintivos de uma língua são finitos, o conjunto de
unidades significativas é finito; o conjunto de princípios que regem a construção
de uma sentença é finito (NEGRÃO, 2015).

No decorrer da história, a Gramática Gerativa tem sido revista,


adaptando-se às novas descobertas. A versão mais recente é a chamada de
Princípios e Parâmetros. Segundo Viotti (2008), esse modelo apresenta
inovações nos seguintes aspectos:

a. Propõe a divisão da gramática em módulos, cada um deles com


organização própria mas que se articulam entre si.

b. A Gramática Universal deve ser composta de dois princípios: alguns


são rígidos e invariáveis, e que são incorporados por todas as línguas; outros que
são abertos, oferecendo geralmente duas possibilidades de valores, que vão se
integrando ao longo do processo de aquisição, conforme o meio linguístico em
que a criança se desenvolve. Esses princípios abertos são chamados de
Parâmetros.

Nota: Nesta disciplina de Aspectos Linguísticos e Gramaticais de Libras o


nosso propósito é trazer para os alunos algumas informações da Linguística
Geral, visando sempre um melhor entendimento do funcionamento da língua.

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

A Teoria Gerativa constitui-se num amplo projeto de investigação da


língua. Assim sendo, os aspectos aqui abordados representam uma breve
introdução para posterior aprofundamento

1.4.3 Relações de interface da Linguística com as outras áreas do


conhecimento

Muitos avanços científicos resultam da convergência da Linguística com


as outras áreas do conhecimento, constituindo o que se denomina de relações
de interface. Assim, a sociologia também estuda a linguagem, uma vez que a vida
em sociedade só é possível se houver comunicação entre os indivíduos,
precisando da língua com suas normas, com seu caráter convencional, que
possibilita a convivência social. A filosofia cada vez mais se interessa pelas
relações entre linguagem, pensamento e realidade. A psicologia busca na
linguagem humana a compreensão do funcionamento da mente. Assim, a
linguística mantém relações interdisciplinares, ora contribuindo com seus
conhecimentos, ora usufruindo dos conhecimentos das outras áreas.

A linguista Evani de Carvalho Viotti (2008) aponta algumas relações de


interface entre a linguística e outras áreas, que passaremos a apresentá-las
resumidamente por auxiliarem na compreensão de alguns aspectos em que
ocorrem relações interdisciplinares.

Entre os conhecimentos trazidos pela biologia para a compreensão e o


desenvolvimento da linguagem, encontram-se aqueles que tornam possível
conhecer o funcionamento biológico; as modificações genéticas ocorridas
através do tempo e que possibilitaram o surgimento da língua, as projeções de
possíveis mutações futuras; as dotações genéticas da espécie humana para a
linguagem.

Através dos estudos da neurofisiologia, a Linguística tem


importantíssimos estudos sobre as partes do cérebro envolvidas na produção e
compreensão da fala, bem como estudos sobre as partes atingidas por
traumatismos cranianos, acidentes vasculares cerebrais. Estuda a estrutura do
aparelho fonador, responsável pela produção dos sons; as características e
funcionamento dos ouvidos. Quanto à língua de sinais, estudos linguísticos já
investigam a articulação das mãos na produção dos sinais.

Os estudos da Psicolinguística apresentam relações entre língua e


cognição e procuram entender o aprendizado de línguas. Estudos nessa área têm
mostrado a importância das crianças surdas estabelecerem contato com a língua

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

de sinais desde recém-nascidas. Demonstram, também, a importância da


fluência na língua de sinais para a aprendizagem da escrita em português.

A Sociolinguística analisa as relações entre língua e cultura, as variações


linguísticas, as transformações da língua. Percebe a língua como um fenômeno
social, que nasce e emerge através do contato entre as pessoas, que começa de
forma rudimentar e vai evoluindo até formar um sistema complexo, a exemplo
das línguas de sinais, que nasceram com o uso de poucos sinais e foram
evoluindo, criando suas regras e sua gramática, até atingirem o reconhecimento
de língua de sinais.

1.5- A Linguística e as Línguas de Sinais

A Linguística como ciência procura entender e descrever as línguas, bem


como as teorias que possam explicar a fantástica possibilidade de uma pessoa se
comunicar com a outra através das línguas orais ou de sinais.

Os estudos linguísticos das Línguas de Sinais iniciaram com o Dr. William


C. Stokoe, Jr. (1919-2000), um linguista escocês que vivia nos Estados Unidos. Em
1955, assumiu o departamento de inglês e literatura inglesa numa escola para
surdos, chamada de Gallauddet College, hoje conhecida como Gallauddet
University, importante centro acadêmico de pesquisas e ensino para surdos. Ele
era ouvinte e desconhecia o mundo das pessoas surdas. Na escola empregava-se
a oralização, a leitura labial. Através das suas observações sistemáticas, percebeu
que nas situações informais, no pátio e nos corredores, os alunos usavam um
conjunto de sinais para se comunicarem entre si, bem diferentes dos sinais de
instrução usados nas aulas. Procurou aproximar-se dos alunos para conhecer os
sinais que tinham maior força comunicativa, pois, na época, nem a língua de
sinais americana era ensinada na escola. A partir das suas observações, passou a
constatar que a sinalização usada pelos surdos era uma língua autônoma, com
uma gramática própria. Apresentou uma análise descritiva da Língua de Sinais
Americana, revolucionando a linguística da época, período em que todos os
linguistas se dedicavam aos estudos da língua oral. Pela primeira vez um linguista
estava apresentando elementos linguísticos de uma língua de sinais. Hoje, ainda
temos poucos linguistas surdos pesquisando as línguas de sinais.

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

Assim, os estudos linguísticos das línguas de sinais partem dos mesmos


pressupostos básicos, válidos tanto para as línguas orais como para as línguas
visuoespaciais: as línguas são constituídas por um conjunto de princípios que
fazem parte do conhecimento humano e determinam a produção oral ou viso-
espacial, dependendo da modalidade das línguas, se faladas ou sinalizadas, da
formação das palavras, da construção das sentenças e da construção dos textos.

Para o entendimento dos diferentes aspectos da linguagem humana, os


estudos linguísticos de todas as línguas abrangem as seguintes áreas: a fonologia,
a morfologia, a sintaxe, a semântica e a pragmática. Cada uma dessas áreas será
estudada na última unidade.

A LIBRAS, por ser uma língua natural, possui os mesmos fenômenos


linguísticos comuns a todas as línguas orais, podendo ser analisada nos níveis
fonológico, morfológico, sintático, semântico e paradigmático. Por sua
característica espacial, os níveis fonológico, morfológico e sintático se realizam
espacialmente, uma vez que o espaço é um importante canal de constituição da
língua de sinais.

1.6- As Variações Linguísticas

A expressão “variações linguísticas” remete à existência de uma língua


viva, pulsante, que revela os diferentes sentidos e formas com que os falantes
percebem o mundo. O Brasil não é um país de uma única língua. Embora a Língua
Portuguesa seja o idioma oficial no país, há manifestações de muitos outros
idiomas e variações da própria Língua Portuguesa no nosso território. Segundo
Oliveira, os dados demonstram que o plurilinguismo está presente nas diferentes
regiões do país.

[...] no Brasil de hoje são falados por volta de 200 idiomas. As nações
indígenas do país falam cerca de 170 línguas (chamadas de autóctones), e as
comunidades de descendentes de imigrantes outras 30 línguas (chamadas
de línguas alóctones). Somos, portanto, como a maioria dos países do
mundo - em 94% dos países do mundo é falada mais de uma língua - um
país de muitas línguas, plurilíngue (2009, p.83-84).

A língua é social e se realiza num determinado momento histórico e


geográfico. Assim como a sociedade muda, a língua que usamos também sofre

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

transformações. É muito comum, num mesmo país, as pessoas falarem a mesma


língua de formas diversas, múltiplas. As variações são ocasionadas por diferentes
fatores tais como a época, as condições econômicas, os ambientes sociais, a
região geográfica, o uso das tecnologias e das redes sociais. Essas diversidades
linguísticas normalmente iniciam na fala, aparecendo depois na escrita.

As línguas naturais nascem espontaneamente da necessidade de


comunicação e interação entre as pessoas, são dinâmicas e estão sempre se
modificando. Essa capacidade de transformação da língua chama-se variação
linguística. As variações linguísticas refletem as diferentes formas das pessoas se
comunicarem, muitas vezes o uso de gírias e regionalismos cumprem muito bem
a função de comunicar, outras vezes há a necessidade de optar pela norma
padrão da língua.

As línguas de sinais também apresentam as mesmas variações que a


Língua Portuguesa e as demais línguas orais. A seguir, veremos alguns tipos de
variações que a língua sofre no decorrer do seu uso:

Variação Histórica – São as modificações da língua no decorrer do


tempo, por exemplo: as palavras antes escritas com ph como pharmácia -
farmácia; as reduções: vosmece – você; etc.

Variação Regional (os chamados dialetos) - São as variações ocorridas de


acordo com a cultura de uma determinada região, diferentes Estados e
diferentes áreas geográficas dentro de um mesmo Estado, como por exemplo, a
palavra mandioca, que em certas regiões é tratada por macaxeira ou aipim.
Outro fator importante para a variação linguística é a origem rural ou urbana da
pessoa usuária da língua.

Variação Social - É aquela pertencente a um grupo específico de


pessoas. Neste caso, destacam-se as gírias, originadas em grupos de surfistas, ou
adolescentes. Os jargões, que pertencem a uma classe profissional mais
específica, como é o caso dos médicos, profissionais da informática, dentre
outros. O grau de escolarização: o acesso maior ou menor à educação formal e,
com ele, à cultura letrada, à prática da leitura e aos usos da escrita, é um fator
muito importante na configuração dos usos linguísticos dos diferentes
indivíduos.

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

1.7 Uma reflexão sobre a Gramática e a Linguística no ensino da língua

Por estarem intimamente associados aos estudos da língua, muitos


confundem a Gramática normativa, tradicional com a Linguística. Por outro lado,
a Linguística ainda é pouco conhecida nos meios acadêmicos, gerando
insegurança ou mesmo rejeição, fruto do desconhecimento e também por
distorções veiculadas de que a Linguística pode representar uma ameaça ao
padrão culto da língua. Assim sendo, é oportuna uma abordagem sobre
Gramática e Linguística.

Inicialmente, é interessante deixar claro que toda a língua tem uma


gramática. A Gramática tem como objetivo regular o uso da língua, constituindo
um conjunto de normas que orientam o uso padrão-culto da língua, contribuindo
para a constituição de uma identidade.

A origem da Gramática remonta do século IV a.C. com os gregos da


Escola de Alexandria. Nessa época, os sábios gregos desenvolveram estudos no
sentido de que as línguas passam por três fases em seu desenvolvimento: um
período em que a língua está em formação, usada por pessoas simples,
camponeses e pastores; o segundo período é marcado pelo surgimento dos
primeiros autores, até chegar ao seu apogeu, revelando seus cientistas e
escritores clássicos; o terceiro período é marcado pela decadência, quando a
língua começa a empobrecer e a produção de seus escritores e intelectuais tem
sua qualidade reduzida. Seguindo essas fases, toda língua passaria por três
estágios: arcaico, clássico e tardio. Por seu caráter social, o apogeu de uma
língua, o seu período clássico, normalmente está relacionado ao ápice do
desenvolvimento do Estado em que a língua é usada. Seguindo essa lógica, no
século V a.C., a Grécia vivia um momento de progresso econômico e de prestígio
político, a língua usada pelos escritores clássicos, passou a ser o modelo de
língua a ser seguido. A Gramática passou a ser concebida como a “arte de
escrever com elegância” e constituía um conjunto regras que normatizavam
como a língua deveria ser usada.

Assim sendo, os primeiros estudos da Gramática tinham o objetivo de


estudar e preservar a língua escrita grega, preservando as formas consideradas
elegantes, corretas, usadas por escritores clássicos, tornando-os padrões que
seguiam a risca a linguagem grega (LIMA, 2006).

A regularização da Gramática que iniciou pela língua escrita, com a


literatura, com o tempo atingiu a língua falada. Como o uso do modelo padrão da
língua escrita era restrito a uma minoria, aos considerados respeitáveis e cultos
da época, o uso da língua pela grande maioria dos usuários não correspondia à

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

norma culta estabelecida. A língua falada passou então a distinguir as pessoas,


refletindo as diferenças de sua classe social. A Gramática surgiu e passou a
controlar e difundir uma linguagem formal, aristocrática, usada por poucos, a
exemplo de escritores como Homero, Camões.

O entendimento das origens da Gramática tradicional é muito


importante porque vem daí a dificuldade de as escolas aceitarem a linguagem
trazida pelo aluno, a linguagem os jovens, mais popular, a linguagem de quem
vive no meio rural e em diferentes regiões, vem desde os gregos e romanos as
concepções puristas, ainda presentes nas escolas onde se cultiva o
distanciamento, que poderíamos chamar de preconceito de linguagem.

Até as últimas décadas do século XX, os estudos da língua que


predominavam nas escolas, principais instituições de difusão da língua escrita e
oral, ainda eram baseados nos fundamentos da Gramática tradicional. Luiz
Fernando Fischer assim se refere ao ensino da língua nesse período:

Quer dizer: o que importava não era saber como funcionava a linguagem, e
sim estabelecer e perpetuar as formas tidas como corretas, socialmente
prestigiadas. O exemplo brasileiro mais saliente dessa visão é o de Ruy
Barbosa, o jurista e político cujos textos, até a metade do século passado,
foram tidos como um exemplo de português culto (2003, p.5).

Arraigado às concepções da Gramática normativa, o ensino da língua


nas escolas brasileiras esteve, ou ainda está, guiado pela separação do que é
certo ou do que é errado, em relação ao uso da língua oral ou da escrita. Na
escola impera o predomínio do estudo das classes gramaticais em detrimento de
trabalho com a apropriação da língua através da leitura, da compreensão, da
produção e escrita do texto.

No final do século XX, a Linguística trouxe novos ares, revolucionando os


estudos da língua. Nos círculos acadêmicos veicula-se que a língua deverá ser
estudada como se apresenta, sem os julgamentos de certo e errado. A partir dos
estudos de Saussure, todas as manifestações linguísticas passaram a ser
reconhecidas, as diferenças linguísticas trazidas pelos alunos para a sala de aula
deveriam ser entendidas como as variações que a língua sofre, não constituindo
erro em relação ao padrão culto da língua.

A língua passa ser entendida como social, viva, múltipla, valorizando os


diferentes falares, entendidos como expressões dos ambientes e dos acessos de
circulação a que os falantes estão expostos. Como consequência, no ensino
escolar, iniciam as discussões sobre as necessidades de mudança no ensino da
língua, desencadeando também um processo de insegurança, quase uma

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

rejeição ao ensino da língua alicerçado na Gramática tradicional, sem, no


entanto, uma sustentação teórica que instrumentalizasse uma prática
pedagógica diferenciada.

Esse período é marcado por certa confusão no ensino da língua nas


escolas. Se a Gramática tradicional deixou de ser o centro das preocupações no
ensino da língua, ficou o vazio sobre o que deveria ser trabalhado em
substituição à gramática normativa. Esse período foi caracterizado por
interpretações equivocadas, originadas na falta de formação teórica dos
professores, dificultando o entendimento das novas concepções de língua e
linguagem, resultando em propostas de ensino improvisadas e baseadas em
modismos pouco consistentes. Essa falta de formação teórica relacionada às
novas concepções de linguagem e língua era agravada por dificuldades na
escolha de material didático adequado, até porque as publicações disponíveis
eram reduzidas.

Desde o final do século XX até esta segunda década do século XXI,


diferentes concepções fundamentam o ensino da língua, repercutindo nas
Diretrizes Curriculares que orientam as práticas pedagógicas no País, na busca
por uma unidade nacional que privilegie o estudo da língua numa perspectiva
contextualizada. O nosso ponto de vista não é pelo abandono da Gramática, mas
pela busca de estratégias de como ensiná-la. Na prática da análise Linguística,
importa é respeitar e valorizar o sujeito que aprende, considerando as suas
relações sociointeracionistas, pois o “(...) domínio de uma língua é o resultado de
práticas significativas, contextualizadas” (POSSENTI, 1996, p. 47).

Para demonstrar alguns aspectos do trabalho com a língua a partir da


Gramática Tradicional em relação à análise Linguística, apresentamos o quadro
organizado por Mendonça (2006, p. 207):

Análise da Gramática
Análise Linguística
Tradicional
Concepção de língua como Concepção de língua como ação
sistema, estrutura inflexível e interlocutiva situada, sujeita a
invariável. interferências dos falantes
Ensino de gramática Prática de análise linguística

Concepção de língua como Concepção de língua como ação


sistema, estrutura inflexível e interlocutiva situada, sujeita a
invariável. interferências dos falantes.
Fragmentação entre eixos de Integração entre os eixos de ensino: é
ensino: as aulas de gramática ferramenta para a leitura e a produção

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LINGUAGEM, LÍNGUA E LINGUÍSTICA

não relacionam de textos.


necessariamente com as de
leitura.
Metodologia Transmissiva, Metodologia reflexiva, baseada na
baseada na exposição dedutiva indução (observação dos casos
(do geral para o particular, isto particulares para a conclusão das
é, das regras para o exemplo) + regularidades/ regras).
treinamento.
Ênfase nos conteúdos Ênfase nos usos como objetos de ensino
gramaticais como objetos de (habilidades de leitura e escrita), que
ensino, abordando remetem a vários outros objetos de
isoladamente e em sequência ensino (estruturais, textuais, discursivos,
mais ou menos fixa normativos), apresentados e retomados
sempre que necessário.
Centralidade na norma padrão Centralidade dos efeitos de sentido

Ausência de relação com as Fusão com o trabalho com os gêneros,


especificidades dos gêneros, na medida em que contempla
uma vez que a análise é mais de justamente a intersecção das condições
cunho estrutural e, quando de produção dos textos e as escolhas
normativa, desconsidera o linguísticas.
funcionamento desses gêneros
nos contextos de interação
verbal.
Ausência de relação com as Fusão com o trabalho com os gêneros,
especificidades dos gêneros, na medida em que contempla
uma vez que a análise é mais de justamente a intersecção das condições
cunho estrutural e, quando de produção dos textos e as escolhas
normativa, desconsidera o linguísticas.
funcionamento desses gêneros
nos contextos de interação
verbal.
Preferência pelos exercícios Preferência por questões abertas e
estruturais, de identificação e atividades de pesquisa, que exigem
classificação de comparação e reflexão sobre adequação
unidades/função e efeitos de sentido.
morfossintáticas e correção.
A partir desta seção, passaremos a estudar aspectos das áreas da
Linguística. As áreas da Linguística são as seguintes: Fonética e Fonologia,
Morfologia, Sintaxe, Semântica e Pragmática. Iniciaremos pela Fonética e pela
Fonologia.

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