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Fausto (1994) chama a atenção para o fato de que mesmo a oligarquia cafeeira
tendo perdido o poder nas movimentações do cenário político brasileiro, não significou que
ela foi substituída por uma burguesia industrial nacional formada e concisa. A situação
política e social no Brasil, após a revolução, era de intensos embates entre diversos grupos
sociais. O Tenentismo, que havia ganhado espaço e vinha se estruturando ideologicamente,
expressava, em parte, os interesses das camadas médias, que não podiam ser representadas
apenas neste movimento, devido à sua heterogeneidade; o mesmo acontecia com o
proletariado, ainda nascente, influenciado por idéias dos imigrantes europeus e a massa
rural abandonada num contexto de intensa urbanização.
Assim, mesmo com um governo provisório, o que aconteceu foi uma verdadeira
lacuna. A política brasileira não acolheu nenhuma classe efetivamente hegemônica com um
projeto próprio político ou econômico. Fausto (1994, p. 113) chama o momento de “vazio
de poder”, afirmando que este “governo representa mais uma transação no interior das
classes dominantes”.
Foi preciso esperar a instituição do Estado Novo, mais efetivamente depois de 1942,
para que se implantasse de forma planejada uma política de substituição das importações
paralela ao incentivo às indústrias de base. No momento ditatorial, o governo centralizado
não se afastou da sociedade. Fausto (2002) sintetiza o Estado Novo, pelo aspecto social,
numa aliança entre a burocracia civil e militar e a burguesia industrial, todos ligados a
interesses nitidamente industriais; salienta-se que a burguesia industrial se aproximou do
governo pela organização da Fiesp e nas suas reivindicações não havia nenhum repúdio ao
capital estrangeiro, mas apenas medidas protecionistas de câmbio e tarifas sobre
importações.
A importância dada por Getúlio Vargas à industrialização se manifestou na Lei
Orgânica do Ensino Industrial aprovada em janeiro de 1942, pelo ministro Capanema, na
qual se incentivava a qualificação do operariado. A movimentação relacionada à
modernização já havia começado um pouco antes com a criação do Senai, nascido para
atender a formação secundária do operário.
Com base nas análises de Xavier (1990) e Zotti (2004), pretendo relacionar o
sistema educacional brasileiro ao processo de industrialização nacional, sem perder de vista
a importância de outros âmbitos igualmente relacionados, como a questão cultural,
representada por projetos educacionais e o âmbito social, ainda, explicitamente marcado
pelas diferenças de classes. Chamando a atenção para a questão de que,
O início do século XX, foi marcado pelo fortalecimento das indústrias brasileiras e
um crescente e definitivo processo de urbanização, ocupação dos espaços urbanos tanto
para o trabalho quanto para moradia e um crescimento das cidades. Juntamente com a
cidade, a escola representou o espaço de modernidade. Nunca aprender foi tão importante
como naquele momento, a industrialização demandava conhecimento, instrução, e
começava, assim, a procura por profissionais que sabiam ler, contar, escrever. A estrutura
agrária brasileira nunca exigiu instrução de sua força de trabalho, mas, naquele momento,
com o novo processo de produção aliado às fábricas, a procura pela educação aumentou
nitidamente.
Uma espécie de “ilusão liberal de ascensão social pela escolarização” se fortaleceu,
o que para Xavier (1990), surgiu com a crescente imigração formando a força de trabalho
para as fábricas. A autora sustenta que apesar dessa corrida pela educação, por parte destes
imigrantes, o atendimento foi muito mais para as elites e classes em ascensão do que
trabalhadores, representados no contexto urbano pelos imigrantes. A atitude das elites
dirigentes que se deparavam com o alto índice de analfabetismo brasileiro, ficava num
discurso liberal de reconhecimento do atraso e a necessidade de romper com esta lógica
para a busca do progresso da nação. O discurso liberal defendia que a escola era o meio de
acesso ao trabalho e, conseqüentemente, para a ascensão social, mas não buscava, como já
foi tratado, nenhum projeto original para romper com a perpetuação das desigualdades
sociais que impediam grande parte do povo brasileiro de ascender ao ensino público.
Segundo Xavier (1990), a divulgação de idéias liberais – democracia, progresso,
educação, trabalho – evidentemente não vinha somente das elites dirigentes, mas vinha
também das camadas médias que absorviam tais ideais e aspiravam viver um rompimento
do tradicionalismo e ascender a outros degraus sociais.
A década de 1930 foi, então, palco do debate entre vários campos de interesses. De
um lado, existiu uma frente católica que defendia um ensino tradicionalista expressado na
educação religiosa e elitista, sobretudo porque era privado e concedido pelas próprias
instituições confessionais. De outro lado, estavam intelectuais-educadores encabeçando um
projeto liberal, no qual representavam a pedagogia da Escola Nova.
A solicitação do governo Vargas por um programa pedagógico nacional inspirado
na revolução foi concretizada na elaboração pelo ministro da Educação e Saúde, Francisco
Campos. Esta solicitação estendida aos intelectuais da área de educação e ao representante
oficial da área da educação, demonstra o caráter relacional de Vargas com os vários setores
sociais, inclusive intelectuais.
O Decreto-Lei n° 19.980, de 18 de abril de 1931, voltou-se para o ensino
secundário, profissionalizante e superior, ficando conhecido como Reforma Francisco
Campos. A novidade foi o interesse do poder central por uma renovação, organização do
ensino secundário e estabelecimento do currículo seriado. A referida reforma expressou o
ideal liberal, com crítica ao o ensino secundário brasileiro da época, por ter se reduzido a
um sistema preparatório para a entrada em universidades, pela aprovação de alunos em
exames e provas, além de rejeitar o caráter propedêutico tradicional, alegando que retirava
do ensino a “[...] função propriamente educativa, moral e intelectual”. (XAVIER, 1990, p.
85).
Para Xavier (1990), este questionamento pela falta de qualidade do ensino
secundário representou o embate do renovador contra o tradicional, mas um embate muito
mais representativo do que efetivamente renovador em suas mudanças. Por exemplo, a
idéia renovadora em questionar a qualidade e a preocupação por melhores professores e
métodos acabou se dando num discurso que defendia a “seleção natural”, a hierarquia das
capacidades implantadas pelo ideal liberal-burguês que legitimava a desigualdade social
justa, partindo da premissa que o cidadão era livre e tinha condições de ascender
socialmente. Segundo a autora, as Reformas e Conferências, a partir de 1930, vieram
acentuaram a seletividade e discriminação no sistema educacional do país, impedindo até
que alunos de curso técnico conseguissem chegar ao curso superior.
Nesse momento, o ensino secundário seriado passou para sete anos e foi dividido
em dois ciclos – o fundamental e o complementar (dividido em humanidades, biológicas e
técnicas). A busca por novas metodologias e técnicas, a inclusão de novos conteúdos e
mesmo o aumento do tempo do curso marcaram a tendência inovadora. De acordo com
Xavier (1990), ocorreu uma conciliação entre a função formativa e a especialização, com a
permanência do caráter propedêutico no ciclo fundamental e a iniciação a novas disciplinas
no ciclo complementar. A autora considera que, mesmo após a Reforma Francisco Campos,
o ensino secundário continuou humanístico, tradicional e formador de uma cultura geral.
(XAVIER, 1990).
Sabe-se que o ensino de humanidades está ligado ao “espírito literário”, às línguas
clássicas grega e latina (e, portanto, já nesse momento histórico, mortas) e às línguas
modernas, tendo como característica
A escola secundária que, por toda a década de 1920, passou incólume, começou a
receber atenção especial por parte de educadores em inquéritos e conferências a respeito de
seu caráter “ultrapassado”. A observação de Nagle (2001) relaciona este formato do ensino
brasileiro com a realidade de crescente industrialização e ajustes da economia do país aos
países mais desenvolvidos e ideologicamente maduros em termos capitalistas. Até porque
as influências do capital já tinham se estendido à estrutura educacional dos países europeus
e dos Estados Unidos. Os grupos que influenciavam o sistema educativo brasileiro
questionavam, naquele momento, a validade do tipo de ensino secundário, voltado para
“[...] vaudellistas, romancistas, poetas, críticos ou jornalistas [...]”, segundo Gustavo
Lanson, anotado por Nagle (2001, p. 157, grifo do autor).
O mais novo embate era o das humanidades literárias contra as humanidades
científicas. O processo de industrialização demandava uma força de trabalho diferenciada e
o ensino técnico-profissionalizante era necessário, portanto, neste contexto, sendo que este
tipo de ensino se diferenciava de uma escolarização formadora, que era o das humanidades
clássicas.
A elitização do ensino humanístico brasileiro observada acima, pelas considerações
de Xavier (1990) e Nagle (2001), é analisada da seguinte forma:
Questionar esta tradição adotada pelo Brasil, desde o século XIX, remete à questão
da influência francesa na educação brasileira, particularmente no secundário. O sistema
educacional da França vivia as mesmas contradições em relação às diferenças sociais e o
tipo de ensino oferecido a cada uma dessas clientelas.
Segundo Chervel (1999), a tradição humanística se justifica porque, por ela se
estuda as línguas para uma boa comunicação, para a capacidade de persuasão e para o
desenvolvimento do pensamento e para o contato com uma literatura histórica, pois a língua
permite a integração, a formação da identidade de uma nação e uma aculturação, de modo a
permitir repassá-la de geração a geração. Além disso, o ensino secundário tinha como
missão a formação moral cristã de “[...] fazer homens e não somente bacharéis [...]”, não
tendo o compromisso de formação profissional. (CHERVEL, 1999, p.152). Daí, uma
literatura constituída de lições de moral e civismo. Embora tenha sido concebido para a
formação dos filhos das elites francesas, o ensino humanístico acabou se generalizando e
adquirindo um caráter hegemônico neste sistema de ensino.
O surgimento do Colégio Pedro II, em 1837, marca fortemente a influência francesa
sobre a educação brasileira, pois adotou padrões europeus vindos do Collège Henri IV, de
Paris. De acordo com Chervel (1999, p.166-7), a partir do início do século XX, ocorreu
uma ‘modernização’ das humanidades, sendo que o caráter clássico dessas humanidades foi
substituído pelo ensino das línguas vivas, encabeçado pela língua francesa. Seria este o
caminho para a resposta às perguntas a respeito da importância da Língua Francesa para o
currículo brasileiro?
Dessa forma, as humanidades estavam presentes no currículo brasileiro desde o
século XIX e continuaram com a Reforma Francisco Campos, pois o primeiro artigo
determinava como referência nacional o ensino secundário do Colégio Pedro II. O decreto
N° 133, do Liceu Cuiabano, determinava, no artigo 4°, que “[...] o ensino e os programas
do Liceu Cuiabano deverão ser os adotados no Collégio Pedro II”. (CUIABÁ, 1938, p.154).
Com o intuito de relacionar o caráter humanístico da Reforma à presença da Língua
Francesa no novo currículo secundário brasileiro, complemento algumas questões
anteriormente apresentadas, com outros pontos para a reflexão: De que maneira a Língua
Francesa aparece nas determinações da Reforma Francisco Campos? Como foi delineado o
programa de Língua Francesa, uma vez que foi expoente das línguas estrangeiras modernas
(ou vivas)?
Estas questões remetem o estudo para o currículo prescrito e, baseado em Goodson
(2003), entendo que o currículo deve ser estudado a partir de sua concepção e produção, e
que a Língua Francesa é tratada aqui como uma disciplina escolar, a qual reflete na história
do currículo o entendimento de conhecimento escolar. Embora as disciplinas escolares não
tenham tanto poder para conduzir as mudanças curriculares, elas aportam informações
importantes a respeito do currículo.
O estudo do currículo permite relacionar a história da educação com a história do
conhecimento e perceber as forças político-sociais que determinam a construção do
conhecimento, as disciplinas, os conteúdos, os exercícios, os procedimentos pré-
determinados.
Ao situar a presença da disciplina escolar de Língua Francesa nas legislações
educacionais, penetro na forma e no conteúdo do currículo, imersos em uma situação
histórica, em movimentos sociais e políticos específicos que incidem sobre a sociedade
estudada, pois dessa forma é possível entrever “[...] entendimentos em relação a aspectos de
controle e operação da escola e sala de aula”. (GOODSON, 1995, p.27).
Se observada a definição das disciplinas por séries, no artigo 3° da Reforma
Francisco Campos, o Francês passou a constar nas 1a, 2a, 3a e 4a séries do curso
fundamental, e não estava presente, portanto, apenas na 5ª série.
Os dois ginásios públicos de Mato Grosso, o Liceu Cuiabano e o Liceu
Campograndense, confirmam essa orientação. Segundo constam no Decreto N° 133, de
21/01/1938 do Liceu Cuiabano e no Decreto N° 229, de 28/12/1938 da criação do Liceu
Campograndense, os números de aulas de francês em cada uma das séries foi assim
determinado: 1a série, 3 aulas semanais; 2a série, 3 aulas semanais; 3a série, 2 aulas
semanais e 4a série, 1 aula semanal; na 5a série, a língua estrangeira passava a ser o latim.
(CUIABÁ, 1938, p.154; CAMPO GRANDE, 1938, p.12).
Pelo artigo 10º da Reforma Francisco Campos, definiu-se que os programas de
ensino secundário e as instruções sobre os métodos de ensino seriam expedidos pelo
Ministério da Educação e Saúde Pública e as propostas submetidas pela Congregação do
Colégio Pedro II. A importância concedida às línguas estrangeiras pela Reforma Francisco
Campos é ressaltada por Casemiro (2005, p.62), por ter a referida Reforma “[...]
reformulado, repensado e devidamente valorizado [...]” o ensino de línguas, no que tange a
qualidade do ensino com um método científico específico para as línguas estrangeiras, além
de preocupar-se com a atualização e apropriação do método para a realidade educacional do
país.
O Programa de Ensino de Francês ficou assim designado em séries, horas de
trabalho e conteúdo:
[...] Assim compreendido, o ensino tem por fim dotar os jovens brasileiros de três
instrumentos praticos e eficientes, destinados não somente a extender o campo de
sua cultura literaria e de seus conhecimentos científicos, como tambem a coloca-
los em situação de usar, para fins utilitarios, da expressão falada e escrita dessas
línguas. (LEÃO, 1935, p. 262).
Nota-se que o próprio ensino de línguas estrangeiras se comprometia, a partir de
então, a formar um jovem ligado à vida prática, absorvendo uma língua que lhe desse
instrumentalização para a vida moderna, não somente envolvida com a literatura, mas
também com os conhecimentos científicos.
Na edição da Revista Educação, de março de 1932, foi publicado um documento,
encabeçado por Fernando de Azevedo, com o título “A Reconstrução Educacional no
Brasil: ao povo e ao governo”, que ficou conhecido por Manifesto dos Pioneiros da
Educação Nova. Em solicitação do governo revolucionário, de 1931, à IV Conferência
Nacional de Educação, evento organizado pela Associação Brasileira de Educação, com o
intuito de expressar a tomada de posição desse grupo de educadores liberais naquele
momento político.
A característica mais marcante do Manifesto dos Pioneiros, relacionada à análise
deste texto, é seu caráter liberal e seu pensamento escolanovista, influenciado por
intelectuais internacionais. O discurso difundido pelo documento se pautou pela renovação,
otimismo, entusiasmo. O texto difundia a idéia de que seria um novo tempo de acordo com
a realidade de progresso na qual estava inserido o país e, nele, se percebia um país em
processo de industrialização, tentando articular-se com outros países mais desenvolvidos,
“[...] expressando a preocupação com a ‘mecanização’ do homem, típica das sociedades
industriais avançadas”. (XAVIER, 1990, p.70, grifo da autora).
É importante salientar que os pioneiros admitiam que a escolarização fosse elitista, e
que até o momento, a igreja católica havia coordenado a educação brasileira, privatizando-
a, o que fez com que somente uma pequena camada da população tivesse o acesso ao
ensino. Aliás, o embate situava-se justamente na questão do tradicionalismo expressado
pela Igreja, com o ensino religioso e privado. Para os pioneiros, a escola moderna tinha que
ser laica, gratuita, obrigatória e única, de modo que todos pudessem estudar, como é
demonstrado abaixo:
[...] mas antes como a escola oficial, única, em que todas as crianças, de 7 a 15,
todas ao menos que nessa idade, sejam confiadas pelos Paes á escola pública,
tenham uma educação comum, igual para todos. [...] A laicidade, gratuidade,
obrigatoriedade e coeducação são outros tantos princípios em que assenta a escola
unificada. (GUIRALDELLI JUNIOR, 1990, p.68).
Constata-se o discurso de igualdade social, mas, por outro lado, a defesa das
aptidões vitais, hierarquia democrática e hierarquia das capacidades. Ao Estado, caberia a
responsabilidade da educação a todos os cidadãos, e ao cidadão, o esforço e a capacidade
individual. Na visão de Xavier (1990), esta forma de ver a realidade social é reducionista,
porque as questões estruturais econômicas de desigualdade social não seriam suplantadas
essencialmente pela educação.
Quanto ao ensino secundário brasileiro, tipicamente humanístico e científico, foi
extremamente criticado pelos pioneiros, que o consideravam um ensino elitista, sem
condições de acesso às camadas populares, além de não conduzir e nem formar o aluno
para o campo de trabalho. A proposta ora apresentada era inovadora e democrática porque,
segundo o próprio Manifesto, a educação brasileira deveria sofrer mudanças.
A escola secundaria deixará de ser assim a velha escola de ‘um grupo social’,
destinada a adaptar todas as intelligencias a uma forma rijida de educação, para
ser um apparelho flexível e vivo, organizado para ministrar a cultura geral e
satisfazer ás necessidades práticas de adaptação á variedade dos ‘grupos sociais’
[...] se devem introduzir, no systema, as escolas de cultura especializada, para as
profissões industriais e mercantis, propulsoras de nossa riqueza econômica e
industrial. (GUIRALDELLI JUNIOR, 1990, p.68).
ao lado dos estudos científicos e técnicos para os quais elas constituem elemento
auxiliar de primeira necessidade, [...] dada a importância desses dois últimos na
cultura universal e pelos vínculos de toda sorte que eles nos prendem. (Exposição
de Motivos do decreto-lei n° 4.244, de 09/04/1942).
Por mais que esteja o nosso país voltado para a modernidade e para o futuro, não
lhe é possível desconhecer a irremovível vinculação de sua cultura com as
origens helênicas e latinas. [...] Os Estudos antigos não revestem apenas de um
valor de erudição. Eles constituem uma base e um título das culturas do Ocidente.
[...] O ensino secundário das nações cultas dá em regra o conhecimento de uma
ou duas (no caso, as línguas vivas estrangeiras). (Exposição de Motivos do
decreto-lei n° 4.244, de 09/04/1942 - comentário meu).
Se o Método Direto era colocado em prática ou não, Chagas (1957) não faz um
estudo para confirmá-lo, mas este questionamento a respeito da exigência e das finalidades
das disciplinas escolares expostas em Instruções, remete a um futuro passo para
apontamentos sobre o ensino da Língua Francesa no cotidiano escolar. O estudo de
currículo e da história das disciplinas permite a interseção entre o que é prescrito e o que é
realizado. Aqui, não será abordada a etapa das práticas escolares vividas no cotidiano
escolar, concentrando-me em reflexões acerca das legislações.
Na portaria N° 114 de 29/01/1943, que expediu as instruções metodológicas para a
execução do programa de francês do curso ginasial, estão expostas as finalidades do estudo
da Língua Francesa, que buscava garantir ao estudante o acesso aos “bons escritores”,
capacidade de escrever, falar e compreender esta língua, ter conhecimento da civilização e
“[...] contribuir para a formação de sua mentalidade, desenvolvendo hábitos de observação
e de reflexão, dando-lhe a capacidade de compreender tradições e ideais de outros povos”.
(p. 176).
Também apresentava a estrutura do curso de francês: “[...] buscar-se-á alcançar
essas finalidades mediante um ensino pronunciadamente prático, isto é, método direto”. (p.
177). Constata-se, mais uma vez, o Método Direto aparecendo como metodologia científica
para o ensino das línguas estrangeiras modernas.
Somado ao ensino secundário, a Reforma Capanema instituiu o ensino técnico-
profissional, equiparando-os ao ensino secundário, garantindo que as três áreas da
economia (primária, secundária e terciária) fossem oficialmente representadas, para a
formação do trabalhador. Dessa forma, assim como a outra Reforma de 1931, esta veio ao
encontro da estrutura capitalista, ajustando a estrutura educacional nesta realidade e
permitindo um tipo de educação para diferentes classes da sociedade brasileira.
No pós-guerra, a Constituição de 1946 abriu um período democrático no país, já
consolidado no caráter liberal-burguês da ideologia dominante. Segundo Vieira (2003), o
Estado retomou, em parte, a responsabilidade da educação, concedendo à iniciativa privada
a possibilidade de financiá-la, além de oficializar o ensino pela oferta de escolas
particulares, o que foi chamado de “ensino oficial”, caráter, a partir de então, não mais
exclusivo do Estado. Nesta Constituição, o Estado se responsabilizaria pelo ensino primário
gratuito, porém, para os níveis restantes, o cidadão deveria comprovar a falta de condições
para pagar uma escola privada. Mas foi a discussão das diretrizes e bases da educação que
marcou a novidade na Constituição a respeito da educação nacional. Segundo Zotti (2004),
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
LEÃO, A. C. O ensino das línguas vivas – seu valor, sua orientação científica. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1935.
ZOTTI, S. A. Sociedade, Educação e Currículo no Brasil: dos jesuítas aos anos de 1980.
Campinas: Autores Associados; Brasília: Plano, 2