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Resenha do livro de Norbert Elias : Mozart (Sociologia de um gênio) .

Por Eduardo Pereira da Silva

Nas mais de 170 páginas do livro o autor procura poetizar sobre o lado pessoal,
sombrio, da vida de um dos maiores ícones da arte e da cultura mundiais.

Tendo crescido tocando para a sociedade feudal, num intervalo de dez a vinte
anos Mozart passou a experimentar em sua personalidade aquela confusao que
se desenrolava na Europa da segunda metade do século XVIII.
A mudança de pensamento no curso real do desenvolvimento social nos
remete a uma época de transição entre a decadência da nobreza e a ascensão
da burguesia, com a aproximação do século XIX. Os valores se confundem com
o conflito de classes.

Isso não se dá de uma hora pra outra. É um processo diário, anual. Conceitos
muito arraigados de uma época naturalmente se perpetuam pra outra mesmo
perdendo seu contexto real, e no caso em questão impedem que a liberdade
da musica e da arte seja vivida, atualizada em comparação com o novo
contexto..

A infância de Mozart foi dentro de um sistema feudal absoluto. Em sua


juventude e amadurecimento ele já estava há anos luz desse sistema. A vida
econômica de um músico era estritamente dependente da corte. Apenas os
músicos que fossem mais produtivos se destacavam nesse tipo de competição
entre os 'empregados de príncipes'(era assim que os músicos eram tratados
naquela época e local).

Compor e tocar só quando seu empregador determinava era pouca coisa para
um compositor que queria dar aulas e imprimir suas partituras. Numa
sociedade que ainda bajulava imperadores, se um desses não tivesse o artista
em conta, este ficava de lado.

Os que não se bastavam mais como capachos de nobres, que estavam


antenados com a nova possibilidade de desenvolvimento social e que queriam
avançar como criadores e como pessoa, com o poder de barganhar mais com o
seu publico o musico ficaria mais respeitável, sendo elevado de artesão para
artista, com um novo publico anônimo ao invés de apenas a nobreza. Esta
criação livre já tinha sido experimentada na literatura e na pintura.

A personalidade individualizada encontrada em Mozart é precursora e


semelhante a encontrada nos músicos independentes (às grandes gravadoras)
durante o século XX. Há nessa relação com o público uma forma mais direta
entre as fantasias dos indivíduos e esses experimentos materializados em
estruturas simbólicas, o que faz com que o artista encontre e contacte um eco
em outras pessoas.

Tendo as grandes produtoras musicais se tornando as mais lucrativas ao se


colocar entre o musico e o consumidor, seria bom se o consumidor se
perguntasse: Gosto mesmo disso? O que sinto a respeito? O que estou
consumindo? O ideal é que as duas pontas desse triângulo da industria musical
estejam envoltas em auto-observação e autoconsciência.

A resposta individual do consumidor ao comportamento transgressor do artista,


inconcebível pelo publico atrasado teve esse processo inicialmente nas
sociedades diferenciadas, desenvolvidas, tolerantes ao modo individualizado
de ampliar o padrão da arte, rompendo convenções caducas, enriquecendo os
prazeres artísticos pela visão e a audição. A nova forma de se relacionar com a
arte desde o fim do século XVIII mostra que a experimentação tem valor em si
mesma, e pode não passar no processo de seleção da próxima geração, caindo
assim no mundo sombrio das obras esquecidas. Nenhum artista quer isso, mas
a maioria vai acabar assim. E não adianta sofrer por antecipação, pois o
genuino criador se basta na hora de produzir. Expressar-se é o mais importante
de tudo. Sucesso e fama são consequências.

Imagina-se que seja o gênio um ser superior, que sintetiza o conflito humano
em querer se afastar dos instintos animais, sublima-os e os transforma
culturalmente em suas obras ovacionadas. Acredita-se que satisfazer ou
regular os impulsos animais momentâneos é o diferencial para sobrevivermos
em comunidade. Mas essa percepção é para poucos. Ou pelo menos não se
ensina a todos a desenvolverem essa prática. O produto final da fusão entre a
fantasia e a consciência do artista se apresenta como aplausos ou vaias.
Instinto e consciência se misturam naturalmente, se não for feita autocrítica o
tempo todo (o que cansa).

Interessante notar que as relações sociais que forçavam o artista a disfarçar


seus sentimentos para se deslocar dentro dos círculos dominantes continuam
até hoje. A sociedade se desenvolveu, mas pelo visto não evoluiu muito.

O pai de Mozart demostrava ser uma pessoa subserviente, tendo portanto


melhor trato com a corte. O filho precisou sofrer muito para tentar se livrar da
chantagem emocional que parece ser objeto do progenitor desde a infância
deste menino prodígio.

O autor do livro se assusta com a revelação de que é um homem mais do que


normal Mozart no cotidiano, o que é visto a partir de suas cartas: um homem
que faz piadas e palhaçadas, que brinca com sexo e (segundo o autor)
apresenta uma puberdade tardia. Sentimentos negativos em relação a
sociedade dominante seriam um sintoma da necessidade de não ser como o
pai. Mozart era amigo de filha de pasteleiro. Essa essência humilde não se
apagou e destoava com o circulo da nobreza onde esse gênio da música
conviveu desde a mais tenra infância.

Bem humorado no trato por carta com as mulheres e profundamente frustrado


por não ser reconhecido em sua terra natal, a maturidade musical foi se dando
mesmo no meio desse conflito de um espirito revolucionário, indo além do
padrão, mas mantendo a necessidade de acolhimento por parte de um publico.
Um homem à frente de seu tempo, o responsável pela introdução do diálogo na
musica, pela simultaneidade entre vozes e instrumental. A partir de Mozart cai
a ditadura das vozes humanas, cala a sociedade de corte.
Um rapaz que cresceu com a noção de ser responsável pela libertação de seu
pai da relação de serventia com os poderosos, o sucesso de Mozart era a
solução para toda a família. Que pressão!
Casou-se mesmo sem ter alcançado o tão desejado sucesso econômico, o amor
falou mais alto do que o sonho de uma vida (incutido pelo fracassado pai).

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