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Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ

Anelise Martins de Barros

Conjuração Baiana
Debates historiográficos

Rio de Janeiro
2016
Sumário

Resumo....................................................................................................................... 3
Introdução................................................................................................................... 3
Debates historiográficos............................................................................................. 4
Reflexos dos debates historiográficos no ensino básico............................................ 7
Conclusão................................................................................................................... 8
Notas.......................................................................................................................... 9
Referências................................................................................................................. 9

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Resumo

No presente trabalho será discutida de forma comparativa a conjuração baiana dentro da


proposição de autores que trazem visões semelhantes em alguns pontos e distintas em outros.
A discussão também será encaminha para o reflexo do debate historiográfico da conjuração
baiana no ensino de história para os estudantes do ensino básico.

Introdução

A conjuração baiana se deu em um contexto tido por alguns historiadores como de crise do
sistema colonial, pois nesse período houve a alta dos impostos cobrados pela coroa, além de a
um nível mundial estarem ocorrendo revoluções que visavam a igualdade entre todos, o que
feria a estratificação presente no Brasil colônia onde o lugar dos pardos e dos negros era
claramente demarcado na sociedade como o espaço da escravidão, do trabalho manual e dos
baixos postos de serviço no exército, por exemplo. Esse espaço demarcado leva a uma grande
revolta da parte desses com pouca ou nenhuma participação política ativa, e tendo como guia
a revolução francesa e algumas outras, essa camada social vai buscar seus direitos se aliando a
revolucionários que tem por fim a queda da relação com a metrópole e a consequente
independência na Bahia. A conjura tem por fim o enforcamento, esquartejamento e a
exposição dos corpos mutilados de quatro homens pardos considerados líderes do movimento.
Para minimizar os danos dessa conjuração pouco se comentou ou escreveu acerca dela em
diários de notícias e documentos oficiais, dentre outros meios, o que leva a uma reflexão
sobre a sua importância e o quanto ela pode ter ameaçado e abalado às estruturas coloniais e
da metrópole para ser tão suplantada. Dentre as poucas fontes acerca da conjuração, o Auto da
Devassa foi o mais consultado e através do qual uma diversidade de teses foi levantada e, por
conseguinte, foi o que de certa forma permitiu aos historiadores levantarem hipóteses sobre o
ocorrido.
Essa diversidade levantada por historiadores será o foco deste trabalho onde essa discussão
comparativa visará entender em qual medida toda essa questão chega a nós na atualidade por
meio de livros didáticos e programas que visam ao público infanto-juvenil e adolescente, além
de expor se alguma visão em específico é mais usada na transmissão de conhecimento aos
alunos.
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1. Debates historiográficos

A conjuração passa a ter um debate mais aprofundado no século XX onde é levemente


mencionada dentro de produções que debatem a colonização, a crise da colônia ou a resposta
do povo as investidas de aumento dos impostos pela metrópole.
A autora Patrícia Valim¹ traz em sua tese de doutorado um panorama do que se passava entre
os contemporâneos da conjuração e os historiadores ao longo do século XX. Esse momento
inicial de análise da conjuração pelos oitocentistas traz interpretações sobre a punição dada
aos quatro homens tidos como lideres do movimento que é visto por esses autores como “uma
anomalia social e manifestação da barbárie habilmente abortada pelas autoridades régias”
(Valim, 2012. p.4), tal barbárie claramente foi uma forma de se criar um exemplo para que
movimentos do tipo não voltassem a ocorrer. Nesse momento oitocentista encontra-se
também a presença de autores que diminuem o movimento e o qualificam enquanto “tentativa
“ilegítima” de a população livre citadina invadir os espaços políticos circunscritos aos homens
virtuosos” (Valim, 2012. p.5), tais homens considerados os que visavam invadir o espaço
político eram os homens de baixa renda, negros e pardos.
Dentre os grandes clássicos sobre Brasil colônia é Caio Prado Jr., o qual traz todas as questões
coloniais como situações que giram em torno do comércio brasileiro voltado para o exterior e
daí pode-se entender as conjurações do fim do século XVIII enquanto uma resposta a
problemas internos decorrentes de uma economia “agrário-exportadora” (Valim, 2012. p.8)
em tempos de desenvolvimento de “um capitalismo comercial” (Valim, 2012. p.8).
Fernando Novais é um acadêmico que segue uma análise mais econômica semelhante à de
Caio Prado quanto à formação da colônia e define a Conjuração Baiana enquanto a
“audaciosa e infeliz tentativa de 1798”, em um trecho de “Portugal e Brasil na crise do antigo
sistema colonial” discorre sobre os livros encontrados na posse dos autores da Conjura e
como os ideais franceses estavam presentes e foram disseminados para os mais diversos
públicos através das cópias que se realizavam de tais documentos. Na continuação o autor
também levanta a questão dos movimentos do século XVIII enquanto “movimentos
precursores da emancipação política” (Novais, 1989. p. 170), ou seja, as conjurações enquanto
movimentos que expõem a falência em curto prazo do sistema colonial que culminara na
independência do Brasil em 1822 devido à mudança da mentalidade que perpassa pela
população onde até o papel da igreja deixa de ser de ordenador, no sentido de contenção, e se
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torna libertador no ponto que remete a uma liberdade vinda da posição da Bíblia acerca do
poder do rei para com os vassalos e dos vassalos para com o rei. Na mudança de mentalidades
a coroa passa a ser não mais uma espécie de pátria mão, segundo Novais, mas se torna uma
sugadora das potencialidades da pátria que se não estivesse relacionada a ela se tornaria um
grande Império.
No âmbito econômico, Novais expõe a crise enquanto uma espécie de resposta a toda essa
mudança de mentalidade, ou seja, “entendida como o conjunto de tendências políticas e
econômicas que forcejavam no sentido de distender ou mesmo desatar os laços de
subordinação que vinculavam as colônias ultramarinas às metrópoles europeias” (Valim,
2012. p. 10). A crise se dá devido ao modo como a colônia é posta em relação à coroa, um
suporte que tem por base manter a relação de monopólio para garantir que a coroa possa
competir de igual para igual com as outras metrópoles, conforme o seguinte trecho onde o
autor afirma que “Elas [as colônias] se devem constituir em retaguarda econômica da
metrópole” (Novais,1989. p.67) e ser retaguarda é ser o suporte que alavanca tais países
enquanto sua riqueza é sugada.
As ideias de Novais foram base do trabalho de alguns historiadores, como István Jancsó³ que
discorre sobre a visão da crise do antigo sistema colonial enquanto um fator eminente que se
expõe através das conjurações e visam à separação da coroa, como se pode notar no trecho em
que Jancsó afirma que “os ensaios sediciosos do final do século XVIII anunciam a erosão de
um modo de vida” (Jancsó,2012. p. 389). Outro ponto que Jancsó tem embasado em Novais é
a importância da circulação dos livros iluministas no compartilhamento de ideias que
embasariam a conjuração, o autor afirma em determinado trecho que “os livros circulavam e,
por essa via, as ideias que continham” (Jancsó, 2012. p. 406).
O ponto onde Jancsó se aprofunda usando as bases de Novais é a pluralidade de personagens
na conjuração, os quais não se resumem a alfaiates, conforme o nome que se deu a revolução,
pois a crise não afetava apenas aos mais humildes, mas sim a todos os setores da sociedade, o
que significa que tanto a elite quanto os pardos com baixo salário participavam da busca pela
separação da colônia. Como afirmado por Patrícia Valim “os trabalhos de István Jancsó
procuram comprovar uma maior abrangência social com a participação de homens brancos e
proprietários na trama política ocorrida na Bahia de 1798” e esse novo ponto de vista é trazido
diferente dos pontos levantados nos debates iniciais acerca da conjuração, Jancsó traz ela para
além de um movimento de base onde se buscava um espaço dentro da sociedade, mas sim um
movimento amplo que atingia da base às altas camadas e até mesmo contava com o apoio da
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França, apesar de não se ter certeza desse contato e tendo-se encontrado apenas algumas
correspondências entre baianos e franceses, diversos autores admitem um intuito francês em
ajudar aos baianos na luta pelo desligamento com a coroa e a oferta de um navio francês para
dar suporte, no entanto tal navio nunca chegou a Bahia.
Em 1990, Marco Morel² para a obtenção do grau de mestre em história social pela UFRJ fez
sua tese baseada na vida do jornalista Cipriano Barata, o qual passou por diversos momentos e
movimentos da sociedade brasileira, incluindo a conjuração baiana que é discutida em um
subcapítulo de aproximadamente cinco páginas, o que muito fala da questão das fontes pra se
discutir a conjuração.
Nas poucas páginas de debate o autor expõe inicialmente a falta de fontes primárias, havendo
apenas o auto da devassa e interpreta essa ausência de fontes como a presença de uma forte
tensão sobre a questão, posteriormente inicia um debate acerca da presença e da contribuição
de Cipriano na conjuração, o que inclui a menção das inconsistências apresentadas por
Cipriano em suas declarações a polícia aonde em determinado momento ele chega a afirmar
ser contra a conjuração, sendo ele um homem branco e os homens brancos totalizando 23% os
detidos, se pode concluir que a conjura não se tratava apenas dos alfaiates como há a
tendência de denominar como conjuração dos alfaiates ou conspiração dos alfaiates. A maioria
dos homens presos eram pardos ou negros livres e os quatro enforcados eram pardos, mas isso
não demonstra a presença apenas de pardos. Nesse ponto a tese de Morel tem grandes
semelhanças com os textos e as pesquisas de Jancsó, pois, apesar de ser curto, mostra a
participação de todas as camadas sociais devido a insatisfação geral com a coroa.
O autor finaliza realizando um apanhado da conjuração baiana enquanto movimento
influenciado pela revolução francesa que visava liberdade, igualdade e fraternidade, mas
impedido de ocorrer pelas estruturas coloniais brasileiras baseadas numa forte hierarquização
das camadas sociais, onde a mobilidade era possível, mas não acessível a todos.
A visão de Morel e Jancsó traz as conclusões mais atuais que se tem acerca da conjuração,
onde todas as camadas tem participação no movimento em busca de respostas a uma
insatisfação com a coroa, a qual deixa de ser vista enquanto ponto de apoio e proteção.
Todas as visões discutidas acima se relacionam de diferentes formas, onde podemos notar
continuidades e descontinuidades de acordo com o momento em que as ideias se passam.

2. Reflexos dos debates historiográficos no ensino básico

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Ao longo do tempo várias visões acerca da Conjuração
Baiana foram trazidas a tona e divulgadas no meio acadêmico, mas pouco se reflete sobre o
quanto dessas visões foram passadas aos alunos de ensino básico, afinal o conhecimento que é
ofertado a eles sai do meio acadêmico para o grande público.
O primeiro ponto que se torna interessante refletir é o motivo de tão grande conhecimento
acerca de a Conjuração Mineira ser disseminado, enquanto de modo geral pouco se fala na
Conjuração Baiana. Isso leva a questões como “será que a conjuração mineira foi mais
importante que a baiana?”, “a conjuração baiana foi apenas reflexo da vontade de uma
minoria e por isso ela não é tão importante?” ou “ela é conhecida como revolta dos alfaiates
por todos os participantes exercerem a profissão?” as respostas a tais perguntas são dadas nos
livros de história de forma rápida e trazendo no geral uma visão, onde se explica o nome
como revolta dos alfaiates por dois participantes de quatro vistos como líderes serem alfaiates,
os livros também passam uma visão de ser uma revolta onde as pessoas de mais baixa renda
serem a maioria esmagadora do movimento, o que não é verdade, como podemos ver no
tópico anterior acerca da participação de Cipriano Barata, por exemplo. Outro ponto de
grande importância é notar que apesar da conjuração mineira ter ocorrido anteriormente à
baiana, é a baiana que leva o título de uma revolta que abarca as mais diversas classes sociais
e isso a torna mais geral, no sentido de não ser uma busca de uma classe por melhorias, mas
de diversas camadas por igualdade.
Uma demonstração da pouca importância que é dada a revolução baiana se mostra no fato de
apenas em 2009 o deputado Luiz Alberto Silva Dos Santos ter entrado com uma proposta para
que o nome dos quatro líderes mortos na revolução fosse inscrito no Livro dos Heróis da
Pátria e em 2011 teve seu projeto de lei aprovado, tal ato apesar de simbólico demonstra o
reconhecimento que se dá a morte de determinados indivíduos por uma causa enquanto herói
e não como um violador de regras que buscava interferir na estabilidade da pátria.
Esse debate deve ser levado à sala de aula da forma mais plural possível, onde se exponha que
uma determinada interpretação não é a descoberta de uma verdade absoluta, mas sim que vai
de encontro ao lugar de fala de cada historiador, como exposto por Foucault em A Ordem do
discurso ao discutir a verdade dentro dos discursos, onde ele expõe que dentro de cada regime
há uma verdade aceita. Se esse conceito de verdade de Foucault for levado ao ensino básico,
os alunos poderão enfim compreender o que é a conjuração, a existência de vários aspectos
sobre ela de acordo com o período em que esse conhecimento foi construído e que a história é

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uma construção do historiador, com isso se traduz em uma constante dinâmica de hipóteses
que conversam e debatem entre si para se chegar à construção de um conhecimento.

Conclusão

Debater diferentes regimes históricos sobre um determinado objeto é sinônimo de debater


diferentes regimes de verdade acerca do mesmo.
Num momento onde se tem a Independência do Brasil o discurso é voltado para as
conjurações enquanto movimentos positivos e de grande valor por lutarem pela liberdade
nacional, enquanto no momento em que o movimento ocorre é suprimido ao máximo através
até mesmo de não se comentar sobre para não se divulgar o evento.
Isso mostra o quão sensível ao ocorrido a população poderia ficar se viesse à tona a visão do
movimento de se desprender da colônia em busca de tornar a região um grande império com
potencial para negociar por si e angariar inúmeras riquezas.
Ao longo do século XX, o debate recai para os participantes do movimento e com isso surge
uma visão onde o movimento não teve por líderes apenas os quatro enforcados, mas sim
pessoas de melhores condições sociais e financeiras que tiveram suas imagens retiradas da
revolução até mesmo para que não se alastrasse a participação da população como um todo
nos movimentos de desligamento da coroa portuguesa. Ampliar a visão acerca dos
participantes traz um movimento mais plural e não apenas a ideia disseminada de apenas
negros e pardos participando em busca de crescimento nessa sociedade estratificada.
O debate historiográfico para além do meio acadêmico deve ser um dos focos para que o
historiador possa cumprir seu papel além de pesquisador, como um mediador entre o público
em geral e o conhecimento específico, pois apenas através da mediação com o conhecimento
ao público geral, a própria produção do conhecimento poderá se diversificar e crescer.

Notas

¹ Patrícia Valim é Doutora em História Econômica (2013) pela Universidade de São Paulo e
atua principalmente nos seguintes temas: História da Bahia; Produção, Circulação e Consumo
no Brasil Colonial, Conjunturas Insurgentes e Cultura Política no Brasil Colonial;

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Administração Colonial; Conjuração Baiana de 1798; Lutas pela Independência Política na
Bahia.
² Marco Morel possui graduação em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro
(1985), mestrado em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (1990),
mestrado em História - Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne) (1992), doutorado em
História - Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne) (1995) e Pós-Doutorado (IEB \ USP)
(2005). É professor Associado da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e
pesquisador associado sem vínculo à - Université Paris 1 (Panthéon-Sorbonne). Atua na área
de História, com ênfase em História do Brasil Império, principalmente nos seguintes temas:
história política, brasil império, história cultural, história da imprensa e história do brasil.
³ István Jancsó possuía graduação em História pela Universidade de São Paulo (1963). Tendo
experiência na área de História, com ênfase em História Moderna e Contemporânea, atuando
principalmente nos seguintes temas: república, crise do antigo regime, império brasileiro,
historiografia brasileira e Europa do leste. Faleceu em março de 2010.
Referências

Câmara dos deputados. PL 5819/2009. Disponível em:


<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=445891>.
Acesso em: 16 de mar. 2016.

Foucault, Michel. A ordem do discurso. Aula inaugural no Collêge de France, pronunciada em


2 de dezembro de 1970. 5ª Ed. São Paulo: Edições Loyola, 1999.

Jancsó, István. A sedução da liberdade: Cotidiano e contestação política no final do século


XVIII in: História da vida privada no Brasil. 12ª Ed. São Paulo: Companhia das letras, 1997.

Novais, Fernando A. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777 – 1808). 5ª
Ed. São Paulo: Editora Hucitec, 1989.

Plataforma Lattes. Disponível em: < http://lattes.cnpq.br/>. Acesso em: 16 de mar. 2016.

Prado Jr., Caio. Formação do Brasil contemporâneo. 6ª Ed. São Paulo: Brasiliense, 1942.

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Valim, Patrícia. Corporação dos enteados: tensão política, contestação e negociação na
Conjuração Baiana de 1798. São Paulo, 2013.

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