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Histórias de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS
ORGANIZADO POR MARA REGINA VEIT

Histórias
de Sucesso
EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS

BELO HORIZONTE - 2003


Copyright © 2003, SEBRAE – Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS – É permitida a reprodução total ou parcial, de qualquer forma ou por
qualquer meio, desde que divulgadas as fontes.

Este trabalho é resultado de uma parceria entre o SEBRAE/NA, SEBRAE/MG, SEBRAE/RJ, PUC-Rio, IBMEC-RJ

Coordenação Geral
Mara Regina Veit
Coordenação e Concepção do Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso

Supervisão
Cezar Kirszenblatt
Daniela Almeida Teixeira
Renata Barbosa de Araújo

Apoio
Carlos Magno Almeida Santos
Dennis de Castro Barros
Izabela Andrade Lima
Ludmila Pereira de Araújo
Murilo de Aquino Terra
Rosana Carla de Figueiredo
Sandro Servino
Sílvia Penna Chaves Lobato
Túlio César Cruz Portugal

Produção Editorial do Livro


Núcleo de Comunicação do Sebrae/MG

Produção Gráfica do Livro


Perfil Publicidade

Desenvolvimento do Site
Daniela Almeida Teixeira
bhs.com.br

Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas


SEBRAE
Armando Monteiro Neto, Presidente do Conselho Deliberativo Nacional
Silvano Gianni, Diretor-Presidente
Paulo Tarciso Okamotto, Diretor Administrativo-Financeiro
Luiz Carlos Barboza, Diretor Técnico

SEBRAE-MG
Luiz Carlos Dias Oliveira, Presidente do Conselho Deliberativo
Stalin Amorim Duarte, Diretor Superintendente
Luiz Márcio Haddad Pereira Santos, Diretor de Desenvolvimento e Administração
Sebastião Costa da Silva, Diretor de Comercialização e Articulação Regional

SEBRAE-RJ
Paulo Alcântara Gomes, Presidente do Conselho Deliberativo
Paulo Maurício Castelo Branco, Diretor Superintendente
Evandro Peçanha Alves, Diretor Técnico
Celina Vargas do Amaral Peixoto, Diretora Técnica
O projeto
O Projeto Desenvolvendo Casos de Sucesso foi criado para que histórias emocionantes de
empreendedores, que fizeram a diferença em sua comunidade, em suas empresas, em suas
instituições, possam ser conhecidas, disseminadas e potencializadas na construção de novos
horizontes empresariais.

O método
O livro Histórias de Sucesso foi concebido com o intuito de utilizar o método de estudo de
caso para estruturar as experiências do Sebrae, e também contribuir para a gestão do
conhecimento nas organizações, estimulando a produtividade e capacidade de inovação, de
modo a gerar empresas mais inteligentes e competitivas.

A Internet
A concepção do Projeto Estudo de Casos para o Portal Sebrae www.sebrae.com.br pretende
divulgar e ampliar o conhecimento das ações do Sebrae e facilitar para as instituições e
profissionais que atuam na rede de ensino, bem como instrutores, consultores e instituições
parceiras que integram a Rede Sebrae, um conteúdo didaticamente estruturado sobre
pequenas empresas, para ser utilizado nos cursos de graduação, pós-graduação, programas de
treinamento e consultoria realizado com alunos, empreendedores e empresários em todo o
País.

O Site dos Casos de Sucesso do Sebrae, foi concebido tendo como referência os modelos
utilizados por Babson College e Harvard Business School , com o diferencial de apresentar
vídeos, fotografias, artigos de jornal e fórum de discussão aos clientes cadastrados no site,
complementando o conteúdo didático de cada estudo de caso. O site também contempla um
manual de orientação para professores e alunos que indica como utilizar e aplicar um estudo
de caso em sala de aula para fins didáticos, além de possuir o espaço favoritos pessoais onde
os clientes poderão salvar, dentro do site do Sebrae, os casos de sucesso de seu maior
interesse

A Gestão do Conhecimento
A partir das 80 experiências empreendedoras de todo o país, contempladas na primeira etapa
do projeto – 2002/2003, serão inseridos em 2004 outros casos de estudo, estruturados na
mesma metodologia, compondo um significativo banco de dados sobre pequenas empresas.

Esta obra tem sido construída com participação e dedicação de vários profissionais, técnicos
do Sebrae, consultores e professores da academia de diversas instituições, com o objetivo de
oportunizar aos leitores estudar histórias reais e transferir este conteúdo para a gestão do
conhecimento de seus atuais e futuros empreendimentos.

Mara Regina Veit


Gerente de Atendimento e Tecnologia do Sebrae/MG, Coordenadora do Sebrae da Prioridade
Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso 2002/2003, Concepção do Projeto Desenvolvendo
Estudo de Casos e Organizadora do Livro Histórias de Sucesso – Experiências Empreendedoras.
Pedagoga, Pós-graduada:Treinamento Empresarial/PUCRS, Administração/ UFRGS, MBA/ Marketing-
FGV/Ohio, Mestranda Administração/FUMEC-MG, autora do livro Consultoria Interna - Use a rede de
inteligência que existe em sua empresa. Ed. Casa Qualidade - 1998.
PÓLO TÊXTIL DE CARAIBEIRAS
EM TACARATU
PERNAMBUCO

INTRODUÇÃO

T eares
Anchieta Dalí, compositor e cantor, natural de Tacaratu/PE (1998),
composição criada especialmente para as tecelãs de Tacaratu.
Pra adornar os sonhos dela
Vou pintá-la numa tela
Vou bordá-la ainda
Vou tecê-la linda
No meu coração
Pra colher a flor mais bela
Nos canteiros da canção
Sapoti nos olhos dela
Dois querer, doce visão
A tecelã não me avisou
Dos poderes da paixão
Quando vi tava na renda
Da palma de sua mão
No baticum dos teares
Bate o meu peito tecendo
É como um rio crescendo
Matando a sede dos mares
Na Vila de Caraibeiras, distrito do município de Tacaratu no sertão do
São Francisco pernambucano, concentrava-se uma base produtiva de
tecelões dedicados à manufatura de produtos têxteis, tendo como produto

Sônia Jerônimo, Consultora do Sebrae Pernambuco, elaborou o estudo de caso sob a orientação
de Helene Kleinberger Salim e César Simões Salim, baseado no curso Desenvolvendo Casos de
Sucesso, realizado pelo Sebrae, Ibmec-RJ e PUC-Rio, integrando as atividades da Prioridade
Potencializar e Difundir as Experiências de Sucesso no Sistema Sebrae.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


TECELÕES EM SERVIÇO NOS GALPÕES DE TRABALHO

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

FIOS E MANTAS - EXERCÍCIO DE CORES


PÓLO TÊXTIL DE CARAIBEIRAS EM TACARATU - PE 3

final mantas, redes, tapetes, acessórios domésticos, entre outros.


O estágio tecnológico dúbio entre o artesanato e a indústria têxtil
rudimentar re p resentava um entrave para o desenvolvimento dos empre-
sários que, se, por um lado, eram tratados indistintamente e usufruíam
das prerrogativas fiscais do artesão, por outro, sofriam de sistemáticas
investidas de fiscalização fazendária, também de forma generalizada.
A falta de inovação no design dos produtos também limitava o seu
desenvolvimento. A participação na III Feira Nacional de Negócios do
Artesanato (FENNEART), realizada no Centro de Convenções de
Pernambuco, em Olinda/PE, na semana de 9 a 14 de julho de 2002,
representou um marco na identificação da necessidade de mudança.
A capacitação empresarial e a organização de espaços de pro d u ç ã o
caracterizados como distritos de desenvolvimento criariam oportunidades
de modernização dos arranjos produtivos locais, incluindo integração com
a comunidade de agricultores – potenciais fornecedores de matéria-
prima – o algodão, colorido e beneficiado, pronto para as fiandeiras.

TECENDO A HISTÓRIA1

A tradição de pólo têxtil, conferida ao município de Tacaratu/PE,


no distrito de Caraibeiras (7.015 habitantes), destacava-se pela capacidade
de produção que absorvia cerca de 85% da população economicamente
ativa. Redes, mantas, tapetes e jogos americanos de fios de algodão
eram os produtos mais representativos.
Em 2001, a competitividade dos tecelões estava baseada na concentração
de mão-de-obra especializada, em um sistema de aprendizado pelo trabalho
com poucas alternativas de modernização tecnológica de processos e produtos.

Coordenação Técnica do Projeto: Ana Paula S. Magalhães, Délcia de Castro, Flávio Valdez,
Graça Bezerra.
1
Dados extraídos dos relatórios técnicos do Sebrae/PE (2001/2002); da UFPE (2002) e do
SENAI/CERTTEX (2002).

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PÓLO TÊXTIL DE CARAIBEIRAS EM TACARATU - PE 4

As ações institucionais realizadas para a Vila de Caraibeiras, de uma


maneira geral, abordavam a comunidade de tecelões na categoria de
artesanato, minimizando a dimensão industrial da atividade, sem considerar
uma forte segmentação da cadeia produtiva, com minúsculas empresas (ou
filhos de tecelões) operando um sistema de produção descentralizado – as
peças eram produzidas nas residências – utilizando, também, serviços de
terceiros para a montagem e o acabamento das peças (confecção de
varandas, preparação de fios, punhos, serviços de costura, etc.),
caracterizando uma linha de montagem que ocupava diferentes categorias
de artesãos/empresários.
A participação de cada artesão por peça produzida girava em
torno de 14% do investimento total. Na composição de custos2, a
matéria-prima representava 54% do total, os serviços de acabamento
16% e a mão-de-obra, que poderia ser contratada ou do próprio
tecelão, 16%, totalizando 86% de custos.
Sendo a matéria-prima um dos componentes de maior participação na
composição de custos, os desperdícios declarados pelos artesãos, tanto na
produção nos teares quanto na elaboração de artigos de acabamento, redu-
ziam os ganhos dos empresários tecelões e representavam um volume consi-
derável de lixo, trazendo problemas urbanos e custos para a prefeitura.
Os preços eram variáveis de acordo com a qualidade e a
quantidade dos fios utilizados e, ainda, com a qualidade e o tipo de acaba-
mento, porém os produtos elaborados pelos tecelões de Caraibeiras
não possuíam padronização, sofrendo variações quanto às dimensões
dadas a cada peça, inviabilizando a produção em escala para comer-
cialização ou alterando os preços de uma mesma categoria de produtos.
Por outro lado, os padrões utilizados, com bordados nas redes e mantas,
representando a forma mais tradicional de agregarem-se elementos decorativos
a tais produtos, estavam saturados em função da repetição dos mesmos temas.
A aquisição da matéria-prima necessária à confecção dos produtos –
fios de algodão – ressentia-se da falta de planejamento, da limitação de
recursos financeiros no momento da compra, da escassez de determinadas
cores e da qualidade dos fios fornecidos pelos comerciantes locais.
Alguns tecelões, ainda, adquiriam os fios através da troca de
produtos não comercializados por bobinas novas, limitados por cores
e qualidade de fios disponíveis nos armazéns dos comerciantes.
2
Planilha de custos de produção da Associação Ativa dos Tecelões de Caraibeiras (2001).

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A habilidade de fiar, tingir e preparar os fios de algodão para a


tecelagem não era utilizada como vantagem para minimizar os problemas
de aquisição da matéria-prima e, mais do que isso, para agregar valor
ao produto por suas características culturais.
Apesar das terras vocacionadas para a produção de algodão,
segundo mapeamento da EMBRAPA, não havia registro, nas estatísticas
do IBGE, de produção de algodão no município no ano de 2000.

PROGRAMA DE FORTALECIMENTO DO PÓLO TÊXTIL DE TACARATU

E m abril de 2001, o S e b r a e, por meio do Projeto Sebrae/Xingó,3


iniciou as ações de capacitação comunitária em Tacaratu, utilizando
métodos de Desenvolvimento Local Integrado e Sustentável (DLIS).
Em dezembro de 2001, técnicos do Sebrae realizaram uma reunião com
tecelões das associações “Ativa de Tecelões de Caraibeiras” e dos “Tecelões
da Rua Euzébio Quirino”, de Caraibeiras/Tacaratu/PE, para um levantamento
de informações e necessidades que viessem a estruturar um plano de ação
para o fortalecimento da atividade têxtil desenvolvida no município.
Em janeiro de 2002, o Sebrae elaborou o Programa de Fortalecimento
do Pólo Têxtil de Tacaratu em que identificou, a partir da atividade têxtil
local, a possibilidade de integração com os demais agentes econômicos
do município, por meio de uma visão global de desenvolvimento da
cadeia produtiva do turismo de negócios e da cotonicultura.
O conhecimento da realidade local era definido:
• Pelos tecelões, na identificação de suas prioridades.
• Pela avaliação dos técnicos do S e b r a e das reais possibilidades de
t r a n s f o rmação do ambiente em um núcleo de desenvolvimento de
negócios modernos.
• Pelos eixos estratégicos de desenvolvimento identificados pela
comunidade.
Esse conhecimento orientou o Sebrae na organização das seguintes ações:
• Pa rceria com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) para
3
www.sebrae.com.br

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PÓLO TÊXTIL DE CARAIBEIRAS EM TACARATU - PE 6

a estruturação e a realização de um plano de capacitação em


d e s e n v o lvimento e modernização de produtos, abordando os
temas “design têxtil”, “moda” e “comunicação visual” para os tecelões
de Caraibeiras.
• Parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial /
Centro Regional de Tecnologia Têxtil (SENAI/CERTTEX) para a
estruturação e a realização de um plano de capacitação em
tecnologia têxtil, abordando os temas “mecânico de manutenção
de tear plano”, “tecnologia da tecelagem”, “técnica de
etiquetagem” e “qualidade”, “serigrafia têxtil” e “corte e costura
industrial” para tecelões e empreendedores do município.
• P a rceria com a Empresa Pernambucana de Pesquisa
Agropecuária (IPA) para a estruturação e a realização de um
plano de capacitação e assistência técnica em manejo e
beneficiamento do algodão para os agricultores locais.
• P a rceria com o Serviço Social do Comércio (SESC) para a elabo-
ração de roteiros de caravanas de visitantes aos pontos turísticos de
Tacaratu e potenciais compradores dos produtos têxteis de Caraibeiras.
• Parceria com a Prefeitura Municipal de Tacaratu para a
mobilização e a convocação da sociedade e a alocação de
recursos humanos e materiais para o apoio aos parceiros.
• Parceria com o Fórum de Desenvolvimento Local Integrado e
Sustentável de Tacaratu (Fórum de DLIS) na mobilização e
representação da comunidade, elaboração de propostas e
acompanhamento das atividades.
Para o S e b r a e, além da gestão e integração das ações dos parceiros,
coube o desenvolvimento das seguintes atividades de gestão e
empreendedorismo:
• Capacitar grupos de produtores, empresários e empreendedores
locais no desenvolvimento de habilidades gerenciais e tecnológicas,
considerando as atividades de prestação de serviços dentro das
cadeias produtivas da cultura, turismo e artesanato, como pousadas
domiciliares, restaurantes etc.
• Estimular, organizar e capacitar grupos de empreendedores e
empresários em formas associativas de organização do trabalho.
• Inserir grupos de jovens adolescentes nas atividades produtivas
desenvolvidas no município.
• Apoiar as ações de comercialização de serviços e produtos.
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NOVAS TRAMAS, NOVAS CORES

E m maio de 2002, iniciou-se uma parceria com a Universidade


Federal de Pernambuco (UFPE), implementando um Programa de
Modernização de Texturas, na experimentação de novas composições
de cores, padronagens e tramas.
A assistência tecnológica da UFPE foi desenvolvida por meio de
oficinas e treinamentos, contemplando a criação de produtos, passando
por aspectos concernentes ao processo produtivo até os mecanismos
para o escoamento da produção, em busca de produtos de melhor
qualidade e maior competitividade para os mercados local e externo.
Foram realizadas 90 horas de capacitação.
O maior rigor nos aspectos técnicos, como dimensões, qualidade
do fio e do tingimento, padronizou os artigos já produzidos pelos
tecelões de Caraibeiras no conceito de qualidade e de acesso a novos
públicos consumidores em diferentes lugares e épocas do ano.
A criação de novos elementos para os produtos desenvolvidos na
oficina deu-se por intermédio da apreensão dos conteúdos repassados
durante as palestras – cor, padronagem, síntese gráfica – e a prática, na
confecção de protótipos produzidos pelos próprios tecelões em
conjunto com a equipe técnica.
Aos novos produtos desenvolvidos, foi dado o tamanho que cada
produto e suas variações exigiam, segundo as suas características, como
função e consumidor final. A partir desse planejamento, foi gerado um
catálogo que, além das medidas, possui o registro das padronagens
desenvolvidas durante a oficina.

O TESTE DE MERCADO – CONTRIBUIÇÃO TECNOLÓGICA E ECONÔMICA

O estudo das cores e das escalas cromáticas, a síntese gráfica


e os grafismos foram temas abordados durante as palestras com a
prática de confecção de protótipos que, posteriormente, puderam ser
p roduzidos em número representativo para serem comercializados na
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III Feira Nacional de Negócios do Artesanato (FENNEART), ocorrida


no período de 5 a 14 de julho de 2002, no Centro de Convenções de
Pernambuco, viabilizada pelo Sebrae, Prefeitura Municipal de Tacaratu
e UFPE a todos os participantes da oficina.
A participação na FENNEART representou uma oportunidade
para a prática dos aspectos abordados nas oficinas, tais como: criação
de novos produtos e novas padronagens, de melhor acabamento e de
e x e rcício da padronização de produtos, uma vez que as metas
estabelecidas exigiam a integração e o trabalho conjunto.
Mas o medo do “novo” fez-se presente: todos recuaram para produzir
os velhos temas. A intervenção da equipe institucional envolvida –
Sebrae, UFPE e Prefeitura, para apoiar o investimento nos novos padrões
e minimizar os riscos antevistos pelos tecelões, envolveu negociação
com o Banco do Nordeste (BN) para financiar em tempo recorde o
capital de giro necessário para a compra dos fios nas cores definidas
pela UFPE, que também negociou metas de novos e velhos produtos.
A criação de uma marca e de material de identificação visual –
etiquetas de origem e embalagens para os produtos – representou,
também, um investimento para reforçar a confiança.
Essa ação permitiu uma avaliação de mercado dos novos padrões
para os produtos. A meta estabelecida de apresentar 2.000 peças,
sendo 60% dentro dos novos padrões, foi aceita pelos tecelões em
uma demonstração de confiança.
Cumprida a meta, melhorou a auto-estima:
“Era como formiguinha, uns apoiando e acompanhando os outros”,
relatou Iracema da Associação de Tecelões da Rua Euzébio Quirino.

O NOVO E O TRADICIONAL

“E ita desainizinho bom!”


Essa foi a frase do tecelão Severino, da Associação dos Tecelões da
Rua Euzébio Quirino, de Caraibeiras, sob o impacto das vendas dos
produtos na III FENNEART.
A frase re p resentou quase um suspiro de alívio. Desde a decisão de
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participar da feira, iniciou-se um processo de organização do trabalho;


planejamento da produção para atender às metas; aprovação da marca
Caraibeiras, dos cartões de visitas e sacolas de embalagens; acabamentos
de última hora “sob os olhos suspeitos” dos técnicos da UFPE; eleição dos
representantes que participariam do evento; acomodação de fardos de
redes, mantas e materiais; reuniões, telefonemas; negociação de espaços de
estocagem; forças para acomodar estoques, preparar e decorar o estande
e, finalmente, atender o cliente com o ar de quem não passou por isso.
As estratégias de vendas para apoiar a exposição e dar visibilidade aos
novos padrões, escondidos nos estandes, foram criativas. Aos pares, os
tecelões abriam e fechavam redes e mantas, simulando a organização de
produtos abertos por clientes. Deu certo. Os transeuntes invariavelmente
paravam para observar os movimentos e os produtos. Começava o
momento da venda.
Aos dez dias da feira, foram vendidas 720 peças, gerando o
faturamento de R$ 11.336,00 – uma média de R$ 453,44 por tecelão
participante na feira.
Os resultados de comercialização obtidos na III FENNEART
demonstraram a aceitação do público consumidor aos novos padrões
e cores dos produtos.
Tabela 1 – Produtos expostos na III FENNEART, segundo o padrão
tecnológico novo ou tradicional – Tecelões de Tacaratu.
PRODUTOS EXPOSTOS NA III FENNEART (TABELA 1)
Produtos Expostos Produtos
Comercializados
Novos Tradicionais Total Peças (%)
Vendidas
Redes 617 441 1.058 215 20
Mantas de solteiro 330 136 466 150 32
Mantas de casal 0 65 65 43 66
Cortinas 17 0 17 10 59
Tapetes 5 55 60 40 67
Toalhas de mesa 51 0 51 17 33
Peças de jogos
americanos 180 63 243 232 95
Outros 0 13 13 13 100
Total 1200 760 1.973 720 36
Fonte: Relatório técnico da UFPE/Patme/Caraibeiras (setembro de 2002).

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


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PADRÃO TECNOLÓGICO E MODELO DE GESTÃO

E m s e t e m b ro de 2002, o SENAI/CERTTEX apresentou o plano de


trabalho após a realização de uma visita diagnóstica ao município.
A filosofia do plano do CERTTEX mantinha a versão tradicional
dos teares elétricos utilizados, em respeito ao caráter rudimentar da
indústria existente e criava espaços para o aproveitamento eficiente da
capacidade instalada, por meio da capacitação de profissionais de
manutenção dos teares e de aperfeiçoamento da tecnologia têxtil.
“Depois desse curso, ninguém em Caraibeiras fica sem trabalhar”,
declarou o tecelão Aldenir da Associação Ativa de Tecelões de Caraibeiras.
A implementação do programa do SENAI/CERTTEX, priorizando o
curso de Mecânico de Manutenção de Tear Plano, com 80 horas/aula, criava
um impasse, em função das agendas de trabalho, pela sazonalidade
das vendas e pelo interesse em participar da capacitação. Era tempo de
produzir para não perder os melhores meses do ano e realizar viagens
para o transporte e a comercialização dos produtos, mas era, também,
preciso aprender e se capacitar, dando continuidade ao programa.
O esforço dos técnicos do SENAI, para compatibilizar horários e
realizar o treinamento nos finais de semana, considerava também a
capacidade física dos seus clientes. O ritmo de trabalho intenso e
sistemático, sem repouso semanal, não atendia aos preceitos pedagógicos
para a garantia do aprendizado. As negociações continuariam com
provável realização do curso no futuro.
A situação criada para a implementação do plano de capacitação
do SENAI revelava a fragilidade do sistema associativo, a baixa confiança
e a cooperação na divisão de tarefas em um ambiente em que as
pessoas estavam ocupadas.
Em Caraibeiras, o sistema de trabalho era intenso na lida individual
de cada tecelão, microempresário por conceito, elaborando, executando,
comercializando e gerindo um pequeno negócio.
As ações de organização e gestão das associações implementadas
pelo S e b r a e consistiam de reuniões sistemáticas de avaliação dos
projetos implementados e de apoio às ações de comercialização.
Dentro dessa ótica, foram realizadas oficinas para a elaboração do
regimento interno das associações Ativa e da Rua Euzébio Quirino, a

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PÓLO TÊXTIL DE CARAIBEIRAS EM TACARATU - PE 11

fim de sistematizar as relações de comercialização, de contribuição dos


sócios, de recepção e distribuição de encomendas, de elaboração de
catálogos de acordo com o padrão comercial de cada produto. Essa
necessidade veio à luz em função dos movimentos dos tecelões na
organização social de distribuição de atividades, sem base de referência
que trouxesse o mínimo de autonomia às entidades associativas.

INTEGRAÇÃO DE ATIVIDADES ECONÔMICAS

E m outubro de 2002, a Empresa Pernambucana de Pesquisa Agro-


pecuária (IPA) realizou um seminário para 50 agricultores do município
de Tacaratu, focando a cotonicultura, oportunidades e nichos de mercado,
novas tecnologias de manejo e de padrão cultural.
O IPA apresentou, ainda, modelos de organização e de equipa-
mentos de beneficiamento da pluma para o desenvolvimento de alguns
elos da cadeia produtiva.
Na oportunidade, uma tecelã, que também possuía propriedade
rural, mostrou uma muda de algodão colorido, tecnologia da EMBRAPA
já introduzida com sucesso na Paraíba. Do algodão que ela tinha
plantado algumas sementes, mostrou, também, o fio elaborado por sua
avó, fiandeira do município de Tacaratu, e uma amostra de tecido
tramado por ela, tecelã de Tacaratu. Naquele momento, transpareceu
para os presentes a possibilidade concreta do fechamento da cadeia
cliente/fornecedor de matéria-prima e serviços.
O sucesso do seminário do IPA resultou na motivação para a
capacitação técnica.
Em novembro de 2002, foi realizado o “dia de campo”, com 32
agricultores de Tacaratu instalados durante dois dias na Estação Expe-
rimental do IPA, em Serra Talhada/PE.
Os desdobramentos da atividade implicaram alguns procedimentos
burocráticos na parceria Sebrae/IPA e na organização dos agricultores para
a elaboração de um plano de trabalho que definiria a quantidade de área
disponível para plantio, a conseqüente quantidade de sementes necessárias,
a programação de preparação das terras e a disposição de formalizar-se
HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003
PÓLO TÊXTIL DE CARAIBEIRAS EM TACARATU - PE 12

enquanto associação ou de atuarem sob o guarda-chuva do Fórum de DLIS.


A partir da iniciativa dos agricultores, o Sebrae e o IPA estariam elabo-
rando seus respectivos planos de ação para o desenvolvimento da atividade.
Paralelamente, também no mês de novembro, ocorreu a capacitação
de 33 jovens protagonistas, com 32 horas/aula, no desenvolvimento
e na sensibilização para a atividade turística.
Na seqüência, seria elaborado um cadastro de pontos de atração para,
com o apoio do SESC, implementar roteiros de visitação e realização
de negócios.

CONCLUSÃO

O s tecelões de Caraibeiras não dispunham dos meios de produção


e comercialização necessários. Existia uma ociosidade de cerca de 50%
dos teares por falta de capital de giro, e o esforço de comercialização
se realizava na venda da mão-de-obra para o escoamento da produção.
Os investimentos realizados para atrair turistas e dar visibilidade ao
município como destino de compras e lazer possibilitariam mudanças
da característica da Vila de Caraibeiras de pólo produtor e distribuidor
para pólo de comercialização de produtos têxteis, com padrão único
na região, desenvolvido pelo esforço conjunto de agricultores, prestadores
de serviços e tecelões.
Os resultados obtidos pelo Programa de Fortalecimento do Pólo
Têxtil de Tacaratu indicaram ganhos expressivos na renda, na inserção de
famílias, na integração dos empresários e na organização dos empresários
participantes nas atividades já desenvolvidas.
O teste de mercado, realizado na participação de tecelões na III
F E N N E A RT, resumido a partir da análise do produto rede, de maior valor
financeiro e de maior volume absoluto de produção e de comer-
cialização, atestou a preferência do público consumidor pelos novos
padrões e texturas, indicada pela comercialização de 98% das peças novas.
Com relação aos preços de venda, para uma avaliação comparativa
dos negócios realizados, uma rede tradicional, destinada ao mercado
HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003
PÓLO TÊXTIL DE CARAIBEIRAS EM TACARATU - PE 13

convencional, era comercializada por R$ 25,00. Na FENNEART, uma


rede com o mesmo padrão mercadológico, diferenciada por novas tramas,
padronização e cores, foi comercializada por R$ 35,00, apresentando
um incremento de 40% por unidade comercializada.

RELAÇÃO DE VENDAS DOS TECELÕES DE TACARATU/PE


(Redes novas versus Redes tradicionais) III FENNEART (9 a 14 de julho de 2002)

Comparação de redes NOVAS versus TRADICIONAIS vendidas


2%

Novas
Tradicionais

98%

Fonte: UFPE – Relatório Técnico/Patme/Caraibeiras (setembro/2002).

PROPORÇÃO DE VENDAS DOS TECELÕES DE TACARATU/PE


(Produtos Novos) III FENNEART (9 a 14 de julho de 2002)

Produtos NOVOS

48%
Não vendidos
Vendidos

52%

Fonte: UFPE – Relatório Técnico/Patme/Caraibeiras (setembro/2002).

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PÓLO TÊXTIL DE CARAIBEIRAS EM TACARATU - PE 14

PROPORÇÃO DE VENDAS DOS TECELÕES DE TACARATU/PE


(Produtos Novos) III FENNEART (9 a 14 de julho de 2002)

Produtos TRADICIONAIS

20%
Não vendidos
Vendidos

80%

Fonte: UFPE – Relatório Técnico/Patme/Caraibeiras (setembro/2002).

A integração das famílias de agricultores (32 famílias participantes


do programa de manejo da cultura do algodão) e de adolescentes
protagonistas (33 adolescentes em processo de capacitação para a
atividade de receptivo turístico), nas atividades de desenvolvimento da
cadeia produtiva, indicou a possibilidade de inserção econômica
dentro de um plano global de desenvolvimento sustentável, refletindo
a Vila de Caraibeiras como um distrito industrial integrado pelas
atividades de turismo e cotonicultura a uma unidade territorial – o
município de Tacaratu, no sertão do São Francisco pernambucano.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003


PÓLO TÊXTIL DE CARAIBEIRAS EM TACARATU - PE 15

PONTOS PARA DISCUSSÃO


• Que benefícios teriam os tecelões na passagem de artesãos para
empresários da indústria têxtil, mantendo um padrão tecnológico
rudimentar?

• Que modelos tributários se aplicariam às atividades de artesanato e


produção artesanal?

• Que cuidados deveriam ter as instituições na introdução de conceitos


que rompessem com a cultura, relacionamentos e práticas tradicionais
de organização comunitária?

• Que modelo de gestão associativa deveria ser considerado quando os


membros da associação fossem pequenos empresários?

• Que tempo será necessário para uma comunidade desse porte alcançar
a sua maturidade e responsabilidade pelo auto-desenvolvimento?

Diretoria Executiva do Sebrae Pernambuco (2002): José Oswaldo de Barros Lima Ramos,
Matheus Guimarães Antunes e Renato Brito de Góes.

Agradecimentos:
Anchieta Dali, Cantor e compositor de Tacaratu; Ana Andrade – Diretora de cultura da Pró-
Reitoria de Extensão da UFPE; Antônio Carlos Maranhão de Aguiar – Presidente regional
SENAI/PE; Associação Ativa dos Tecelões de Caraibeiras; Associação de Tecelões da Rua
Euzébio Quirino; Cléber Carlos Costa de Araújo – Prefeito do município de Tacaratu; Evandro
Nascimento – Coordenador geral do Projeto Sebrae/NA; Fórum de DLIS de Tacaratu; Ivan Souto
Júnior – Especialista em cotonicultura do IPA; Larissa Barros – Coordenadora regional do
Projeto Sebrae/NA; Paulo Roberto Félix – Secretário de planejamento do município de
Tacaratu; Walquíria Tavares – Secretária da Unidade de Negócios Recife Sebrae/PE.

HISTÓRIAS DE SUCESSO - EXPERIÊNCIAS EMPREENDEDORAS EDIÇÃO 2003

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