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Fundamentos da Linguagem
AUDIOVISUAL Módulo 4 - Narrativa
O QUE É NARRATIVA
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Fundamentos da Linguagem
Módulo 4 - Narrativa AUDIOVISUAL
TIPOS DE NARRATIVA
Foi pensando nessas diferenças entre a narra-
tiva literária e a narrativa audiovisual que David
Bordwell, um dos mais conceituados teóricos
contemporâneos do cinema, propôs uma classi-
ficação simples para compreendar a narrativa no
cinema. Para Bordwell, a narrativa pode ser clas-
sificada quando se analisa o que o personagem
sabe e o que o público sabe. Assim, temos:
n NARRATIVA RESTRITA
O público tem seu conhecimento sobre os
acontecimentos da narrativa restritos àquilo
que o personagem conhece. O que o perso-
nagem não vê acontecer, o público não sabe.
Dentro da narrativa restrita, podemos ter uma
Vídeo
Dois exemplos de narração restrita subjeti-
sub-classificação va : no exemplo acima, acompanhamos os
acontecimentos que ocorrem quando a tenente Ripley
RESTRITA OBJETIVA: compartilha- acorda em Aliens, o Resgate (1986) e só no final da cena
mos o conhecimento daquilo que o personagem percebemos que o que vemos é na verdade um sonho dela.
No exemplo abaixo, é a imaginação da personagem de
vê ou diz
Jane Fond em A Sogra (2005) que nos “engana”: a reação
RESTRITA SUBJETIVA: compartilha-
dela ao pedido de casamento do filho surge tão esponta-
mos dos fluxos de consciência do personagem. neamente na narrativa que nos surpreende. Só mais tarde
Aquilo que ele imagina ou sonha é conhecido descobrimos que o que vimos foi, no fim das contas, um
pelo público, e isso ajuda a entendermos mais fluxo de consciência breve da personagem.
as reações e ações do personagem.
n NARRATIVA IRRESTRITA
O público sabe mais do que o personagem.
Assim, se nosso personagem está em casa e so-
mos transportados até outro lugar onde vemos
um grupo de pessoas tramando algo contra
ele, temos uma narrativa irrestrita, onde não
somos limitados a saber apenas o que ele sabe.
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O NARRADOR
Os estudos de Aristóteles apontam à existência de um
elemento fundamental para a projeção das narrativas: o
narrador. É o narrador quem “escolhe o momento em que 1
uma informação é dada e por meio de que canal isso é fei-
to” (PELLEGRINI, 2003, p.64). Ao contrário do historiador,
cuja responsabilidade com a verdade externa à narrativa
exige uma fidelidade instransponível ao fato narrado, que
teoricamente deve ser sempre real, jamais inventado, ao
narrador da ficção é concedida a permissão de transmitir
os fatos obedecendo única e exclusivamente aos próprios
impulsos criativos.
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O narrador “tanto pode interpretar, na posição de quem
assiste aos fatos, a realidade que está sendo narrada, como
também participar nessa realidade” (CARDOSO, 2001,
p.36). O segundo caso pode ser definido como narrador
em primeira pessoa, pois participa diretamente da ação e
nos relata as informações através de seu ponto de vista. Já
no primeiro caso, por manter-se no exterior da ação nar- 3
rada, meramente como um observador, a voz assume-se
como um narrador em terceira pessoa.
Há, mesmo entre os teóricos, uma distinção de posições
sobre a existência ou não do narrador em um produto au-
diovisual. Para teóricos como Gaudreault e Batista, “se há
uma narrativa, pressupõe-se a existência de um narrador.”
Ou seja: se algo é contato de alguma forma, alguém está
contando. 4
Já para Bordwell, a alfabetização audiovisual das pla-
téias pressupõe que não haja a necessidade de haver uma
narração, já que, segundo ele, “o cinema não narra, ele
mostra, e a montagem articula o que se quer mostrar.
Apesar da posição de Bordwell, a maior parte dos teó-
ricos aceita a presença de um narrador e classifica esse
narrador em parâmetros semelhantes aos da literatura.
Mesmo no audiovisual, podemos perceber a presença de O narrador em “Mad Max 2” (1981) muda ao longo
dois tipos de narradores pelo ponto de vista que vemos a da narrativa. Começamos com uma narração em
história: primeira pessoa, mas que não podemos definir entre
personagem e testemunha. Ao longo do filme, acom-
EM PRIMEIRA PESSOA panhamos tudo a partir do ponto de vista do prota-
n Narrador personagem: vemos a história pelo ponto gonista (sabemos o que ele sabe, e acompanhamos
de vista de um personagem diretamente ligado à ação. ele em todas as ações). Quando chegamos ao final
n Narrador testemunha: vemos a história pelo ponto de do filme, temos novamente uma troca de narrador,
e descobrimos que o narrador que abre o filme é um
vista de um participante, mas com importância reduzida
personagem (um menino) importante, que começa e
n Narrador protagonista: vemos a história pelo ponto encerra a história com seu depoimento
de vista do seu protagonista.
EM TERCEIRA PESSOA
n Narrador onisciente - aquele que sabe de tudo e “sobrevoa” a história com ponto de vista privilegiado
- neutro - relata fatos mas não busca a subjetividade dos personagens
- seletivo - relata os fatos e nos mostra a subjetividade dos personagens
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A IMPORTÂNCIA DO PERSONAGEM
Vídeo Uma cena aparentemente banal em “Tubarão” (1975) define a importância que um bom roteiro
dá a seus personagens. A cena acima aparentemente não é importante para a narrativa, mas ela é
importante para definir as diferentes personalidades de dois personagens centrais - um pacífico, outro bruto
e intempestivo. A famosa crítica Pauline Kael foi que chamou a atenção para essa pequena cena que ela
considerava “magnífica” para exemplificar o apurado roteiro do filme de Spielberg.
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O HISTÓRICO E A FICÇÃO
Mesmo retratando um fato real,
um filme de ficção recebe esse nome
por ser, basicamente, encenado para
a câmera e representar, então, a re-
criação de um episódio real sob um
determinado ponto de vista - se re-
tratar o episódio real, ele enquadra-
-se como um documentário.
Para que a diegese do filme seja
aceita e sua história ganhe pontos
com o espectador, o aspecto históri-
co precisa estar presente quando ele TEMA
retratar nosso mundo real. Há três Filmes históricos e biográficos apóiam sua narrativa em um tema central que
níveis de profundidade em que essa é, necessariamente, apoiado em fatos (sejam ou não esses fatos alterados
fronteira entre o histórico e a ficção pelo roteiro). JFK (1992), de Oliver Stone, não usa o assassinato de Kennedy
são trabalhados na encenação do ci- como pano de fundo. O filme É sobre o assassinato e a investigação que a
nema, dependendo do quão impor- sucedeu. Da mesma forma, Lincoln (2012) dedica-se a percorrer uma parte
tante é, para a trama, a inserção da impotante da vida do personagem título. São filmes que o próprio tema apre-
história em um contexto aparente- senta relação direta com a história, e a busca é por retratá-la da forma mais
fiel possível, mesmo que sujeita a visões dessa história.
mente “realista”:
COMPOSIÇÃO
Às vezes pequenos
detalhes compõem uma
reconstituição de época
que tem por objetivo
dar credibilidade à uma
recriação de época, para
compor o período em
que se passa a história.
É o caso da cena abaixo
em Chinatown (1975)
que mostra uma notícia
sobre o cavalo (real)
DE FUNDO Seabiscuit, famoso nos
Alguns filmes buscam retratar períodos históricos com Estados Unidos, para
fidelidade, mas apenas para servir de pano de fundo o ambientar a trama na
mais verossímeis possíveis às tramas centrais de suas época em que ele correu,
narrativas. O objetivo não é recuperar aquele evento
histórico ou personagem real, mas fazer com que eles
sirvam de apoio á trama principal. E O Vento Levou
(1939) passa-se durante a Guerra da Secessão, e alguns
eventos reais, como o incêndio de Atlanta, são ence-
nados para daem verossimilhança á história da fictícia
Scarlett O’Hara. O Poderoso Chefão 2 (1974) tem
uma longa sequência ambientada em Havana na noite
do golpe que colocou Fidel no poder, e as circunstâncias
desse acontecimento aparecem como pano de fundo.
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HISTÓRIA E ENREDO
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n exposição: (ou introdução ou apresentação) coincide geralmente com o começo da história, no qual são apresentados os fatos
inicias, os personagens, às vezes o tempo e o espaço. É onde se encontra a apresentação dos fatos, do universo diegético, das premis-
sas básicas e do estado inicial da história - não necessariamente cronológico.
n complicação: (ou desenvolvimento) é a parte do enredo na qual se desenvolve o(s) conflito(s) que moverão a trama adiante
n clímax é o momento de maior tensão, em que o conflito alcança seu ponto máximo, não necessariamente sendo resolvido aqui,
n desfecho: (desenlace ou conclusão) é a solução dos conflitos, independente de configurar um final feliz, inconclusivo, bom, etc.
Segundo a mesma Cândida Villares Gancho, há muitos tipos de desfecho: surpreendente, feliz, trágico, cômico, etc.
O final de uma trama é, ainda, um elemento que divide opiniões. Há cinestas, como Billy Wilder, que antes de
começar a filmr uma história precisava saber como ela terminaria. Era, pra ele, a chave do sucesso do filme. A com-
preensão ou aceitação de um filme, muitas vezes, passa pela aceitação do público para com o final escolhido para a
história que ele acompanhou durante duas ou três horas. É comum que algumas pessoas rejeitem um filme apenas
por seu final excessivamente feliz ou mesmo inconclusivo.
FINAL OTIMISTA
No final feliz, todos os conflitos se resolvem, e por
mais que haja perdas, o sentimento geral é de
resolução pacífica e satisfatória para todos. No final
da trilogia O SENHOR DOS ANÉIS, mesmo com
as perdas, mortes e partidas, o mal foi destruído
e mesmo diferentes, os personagens voltam para
suas vidas, restauradas à normalidade.
FINAL REALISTA
Independente de ser feliz ou pessimista, aqui temos
um filme que busca ancorar-se na realidade para
não ultrapassar, também, certos limites - como o
da suspensão da descrença. O final de ROCKY, UM
LUTADOR é otimista, mas é sobretudo realista. Ele
não vence o campeão mundial, apenas consegue
manter-se de pé até o fim, o que é uma vitória. O
filme fala sobre dois perdadores (Rocky e Adrian) e
ancora-se na realidade para encerrar sua história de
superação. Isso perdeu-se na continuação...
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FINAL PESSIMISTA
Pode ser também realista, mas sobrepõe-se o sentimen-
to de que os conflitos não foram resolvidos, e que infeliz-
mente, a história retrata a vida como ela é: nem sempre
feliz. No final de MENINA DE OURO, o personagem de
Clint Eastwood desliga os aparelhos de sua pupila e desa-
parece para sempre, sem jamais ter conseguido resolver
seus conflitos familiares e de relacionamento
FINAL INCONCLUSO
O diretor deixa para o público a resolução de parte dos conflitos,
oferecendo pistas de sua concepção, mas permitindo que o espec-
tador conceba o seu final ideal. Nenhum final é totalmente incon-
cluso, apenas aparente ser (o diretor, afinal, filme com a conclusão
de sua história definida). A forma como ela é apresentada é que
representa as opções artísticas do diretor. Cristopher Nolan tem
feito isso. Deixou o final de O CAVALEIRO DAS TREVAS RESSURGE
aberto e fez o mesmo em A ORIGEM (ao lado). Alguns especta-
dores confundem um final inconcluso com uma narrativa mais
densa - como é o caso de ILHA DO MEDO, em que Scorsese conclui
a história, mas alguns espectadores podem ficar confusos quando
ao rumo dos acontecimentos
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PISTA E RECOMPENSA
Entre as ferramentas mais usuais de um
roteiro está o uso da pista e da recompensa,
como forma de ampliar a imersão do públi-
co e oferecer a ele subsídios para que possa
participar da resolução da trama. Trata-se de
jogar, na forma de um acontecimento, fala
ou atenção especial dada a um determinado
objeto, uma pequena pista ao público de que
esse elemento poderá ter uma participação
na trama posteriormente. Quando bem usa-
da, a pista ajuda a construir um rotero bem
estruturado e faz o espectador que a tenha
compreendido ou lembre dela sentir-se re- Em LOS ANGELES - CIDADE PROIBIDA (1997) o detetive Ed Exley
compensado quando ela ressurge. Quando conversa com seu superior no início do filme. A ele é feita uma pergunta:
mal utilizada, derruba esse mesmo roteiro, “Você atiraria em um criminoso pelas costas para evitar que algum advo-
gado viesse e o livrasse?” Ele diz que não. Seu chefe emenda: “Tire esses
porque pode dar a entender que o mesmo é óculos, nenhum detetive de verdade usa”
previsível. Na recompensa o diálogo, o gesto Na cena final, em que ele confronta justamente seu chefe corrupto,
do personagem, o maneirismo, a ação ou seja esse diálogo ressoa como recompensa a quem lembrar dele, porque Exley,
lá o que for, adquirem novo significado. usando óculos como sempre, recusa-se a ser conivente com um esquema
de corrupção e mata seu chefe criminoso... atirando nele pelas costas
Em DURO DE MATAR, uma cena aparente-
mente insignificante é mantida no roteiro no
início do filme: quando a esposa do detetive
John McClane o recebe no seu trabalho e seu
colega fala ao detetive sobre o relógio Rolex
que ela ganhou. Em instantes, tudo isso é es-
quecido e a cena parece ter sido feita apenas
para mostrar como ela está bem no trabalho,
longe dele. No final do filme, quando o cri-
minoso Hans Gruber é jogado da janela por
McClane, ele a arrasta junto e fica pendurado
a ela, dezenas de andares acima do chão. O
que prende ela ao criminoso e põe sua vida
em risco é, justamente... o relógio que ela ga-
nhou e foi mencionado no início do filme. É
uma pista sutil, mas que tem um significado
até simbólico, quando McClane desprende
o relógio dela e faz o criminoso voar para a
morte.
Em LOS ANGELES - CIDADE PROIBIDA (1997) o detetive Ed Exley conversa com seu superior no início do filme. A ele é
feita uma pergunta: “Você atiraria em um criminoso pelas costas para evitar que algum advogado viesse e o livrasse?” Ele diz
que não. Seu chefe emenda: “Tire esses óculos, nenhum detetive de verdade usa”
Na cena final, em que ele confronta justamente seu chefe corrupto, esse diálogo ressoa como recompensa a quem lembrar
dele, porque Exley, usando óculos como sempre, recusa-se a ser conivente com um esquema de corrupção e mata seu chefe
criminoso... atirando nele pelas costas
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