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artigo de revisão
FORMAÇÃO DE COMUNIDADES DE
LEITORES-AUTORES VIA WEB
** Departamento de Comunicação e
Palavras-chave: Biblioteca Escolar. Comunidade de Leitores-autores. Leitura. Artes - Universidade de Aveiro. Pes-
quisadora do Cetac.media.
Escrita. E-mail: lidia@ua.pt
A
sociedade contemporânea é marcada pela enorme descontinuidade. Poderíamos
até chamar-lhe uma “singularidade” -
naturalização das tecnologias nas rotinas
um acontecimento que muda as coisas
cognitivas e sociais dos indivíduos, de de tal modo que não há absolutamente
tal modo que se torna habitual e intuitivo o uso nenhuma ligação com o passado. O que
das mesmas, em particular, das tecnologias da designo de “singularidade” é a chegada
informação e da comunicação. Neste contexto, e a rápida disseminação da tecnologia
digital nas últimas décadas do século XX.
deve-se repensar o papel da biblioteca escolar na
(PRENSKY, 2001, p.1-2, tradução nossa/
formação de leitores, levando em consideração grifo nosso).
que seus usuários se caracterizam por serem
nativos digitais e têm novas expectativas acerca
da biblioteca e novas competências centradas no Só tendo em mente esta singularidade/
uso da tecnologia. descontinuidade geracional (nativos/imigrantes
digitais) e as implicações que isso provoca
É incrível que em todos os debates na forma como os jovens encaram a leitura, a
sobre o declínio da educação nos E.U.A. questão da partilha e a geração de comunidades é
ignoramos o mais fundamental das suas
causas. Os nossos alunos mudaram que se poderá aspirar a reflectir sobre o fenômeno
radicalmente. Os estudantes de contemporâneo da leitura.
hoje não são mais as pessoas que Dessa forma, é fundamental trazer para
o nosso sistema educativo foi o processo de investigação e de construção
concebido para ensinar. Hoje em dia reflexiva de conhecimento os próprios jovens,
os estudantes não apenas mudaram de
forma incremental relativamente ao pois, eles têm um olhar situado a partir de um
passado, não mudaram simplesmente as prisma e de uma praxis diversa do investigador
suas gírias, roupas, adornos de corpo, adulto, imigrante digital.
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Cassia Cordeiro Furtado; Lidia Oliveira
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A biblioteca escolar na formação de comunidades de leitores-autores via WEB
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Com essa estratégia, escola, biblioteca e família do livro de literatura com as tecnologias de
estarão estabelecendo um elo essencial no informação e comunicação.
desenvolvimento da prática da leitura. Uma vez que a biblioteca escolar tem como
Foucambert (1994) enfatiza que a leitura público alvo as crianças e jovens deve atentar
literária não deve ser ensinada, mas sim, facilitada que a “geração net” nasceu e vive num contato
através do acesso a vários tipos de textos e do habitual e intenso com a tecnologia (TAPSCOTT,
desenvolvimento de atividades inseridas em uma 2009). Nesse sentido, deve desenvolver serviços
prática social e cultural. Assim, é fundamental a e atividades unindo o texto literário impresso e
participação das crianças em eventos culturais, digitalizado, objetivando, assim, conquista de
visitas frequentes as bibliotecas, feiras de livros, seus usuários, visibilidade e espaço na Sociedade
museus, teatro, cinema, contato com escritores, da Informação.
etc.
A biblioteca escolar, inserida no 3 COMUNIDADE DE LEITORES-AUTORES
sistema educacional, também coaduna com a
responsabilidade pela formação de leitores. O Observando a história da humanidade,
Manifesto da IFLA/UNESCO para Biblioteca verifica-se que a leitura já foi considerada uma
Escolar (2008) estabelece os objetivos das mesmas, prática coletiva, onde os letrados usavam a
em relação à leitura: Desenvolver e manter oralidade e, lendo em voz alta, transmitiam
nas crianças o hábito e o prazer da leitura e da aos outros o conteúdo dos livros. Depois, com
aprendizagem, bem como o uso dos recursos da a leitura em silêncio, surge a leitura pessoal e
biblioteca ao longo da vida: introspectiva (CHARTIER, 1991). Assim, percebe-
se que a leitura tem forte relação com a história e
cultura, influenciando e sendo influenciada pelas
[...] Oferecer oportunidades de
transformações que afetam a sociedade.
vivências destinadas à produção e uso
da informação voltada ao conhecimento, A questão da leitura é vista por
à compreensão, imaginação e ao estudiosos, como Chartier e Bourdieu (1996),
entretenimento; em uma perspectiva sócio-antropológica,
uma vez que, a leitura é muito mais do que
[...] decodificação de signos lingüísticos, realizada
de forma mecanicista. Considera-se a leitura
um processo de atribuição de significados e
Promover leitura, recursos e serviços da
biblioteca escolar junto à comunidade sentidos, incorporados na prática humana, com
escolar e ao seu redor. [...] (IFLA,2008). base na família e sendo fortemente influenciada
pelas instituições e organizações, que os
Assim, percebe-se a importância da indivíduos fazem parte ao longo de suas vidas,
biblioteca escolar no incentivo a leitura, não como escola, classe e grupo social, formação
só da leitura didática, mas também, a leitura profissional, etc.
como entretenimento e prazer. Não se trata Chartier (1991, 1999) chama atenção para
somente de complemento à aprendizagem a dimensão plural da leitura, entendida como
formal realizada na sala de aula, mas também, e diversas maneiras de praticá-la, modelos e
principalmente, trabalhar num contexto dinâmico modos que variam de acordo com os tempos, os
e interativo, proporcionando acesso à literatura e lugares e as comunidades. O autor ainda contesta
oportunizando a leitura prazerosa. as classificações que restringem e simplificam a
Através do texto literário, a biblioteca leitura em categorias, como: leitores e não-leitores
escolar pode ser o portal de ligação com o mundo ou alfabetizados e analfabetos. Explica Chartier,
da criança, aproximando escola e cultura lúdica “cada leitor, a partir de suas próprias referências,
infantil, pois, segundo Brougère (2006) “há uma individuais ou sociais, históricas ou existenciais,
enorme distância - quem sabe uma oposição dá um sentido mais ou menos singular, mais ou
-, que não se pode subestimar, entre a cultura menos partilhado, aos textos de que se apropria”
infantil contemporânea e a escola”. Para tanto, (1996, p.20).
deve valer-se de estratégias originais e atividades Dessa maneira, a leitura é um ato social e
lúdicas com o texto literário, através da união uma prática geradora de socialização, já que
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No Brasil, percebe-se que a introdução das As escolas são lugares que podem
tecnologias de informação e comunicação nas promover um claro senso de comunidade
envolvendo funcionários, professores,
escolas tem se reduzido a aquisição e distribuição alunos e pais. Não há melhor tema para
de elementos tecnológicos, desacompanhados a construção da escola-comunidade
de infra-estrutura física e humana e de projetos do que a alegria e a emoção de ler.
eficientes de modo a gerar resultados positivos (Tradução nossa)
e relevantes na área educacional do país. Na
grande maioria dos casos, o computador vem Nesse sentido, observa-se que existe uma
sendo usado simplesmente como um recurso lacuna no espaço web, onde as crianças possam
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trocar impressões, interpretações sobre textos vendas de seus livros impressos aumentaram
literários, discutir a obra, permutar informação consideravelmente após serem publicados
sobre autores, trocar sugestões de livros, divulgar gratuitamente, em formato digital” (ALMEIDA,
suas recriações e, ainda, considera-se que esse 2008, p.37). Assim sendo, a leitura de livros
espaço deve ser criado em torno da biblioteca. digitais, em sua totalidade ou somente de alguns
A biblioteca escolar, por não estar inclusa capítulos, poderá impulsionar a presença de
nas exigências da legislação educacional, com crianças e jovens na biblioteca.
relação a currículo, disciplinas, horas de aula e Nas comunidades online o usuário
outras, se enquadra como o ambiente ideal para participa ativamente de sua construção com
o incentivo à prática da leitura e escrita literária, a edição de textos, dessa forma, a publicação
em grupo e comunidade, quer no espaço web ou na web pode ser usada como estímulo para
no recinto da mesma. Trabalhando assim com a escrita das crianças e jovens. Mesmo
a imaginação coletiva, promovendo interesse reconhecendo que há especificidade na leitura
mútuo e repertório compartilhado, tendo como e escrita na Internet, destaca-se que pode
instrumento a literatura. haver “uma mediação entre o formalismo
Alguns autores e organizações já da escrita para a comunicação em qualquer
disponibilizam na web sites com temática espaço” (AMARAL, 2008, p.31), aqui incluso
envolvendo a literatura infanto-juvenil, mas o ciberespaço, pois, com base em Freire (2008,
pesquisas mostram que os mesmos não são p.70), “não há razão para se temer que o
conhecidos e poucos utilizados pelas crianças. internautês domine a língua”. Além do mais,
percebe-se que nos textos colocados dos sites
No que se refere aos hábitos na web,
pudemos verificar que a Internet é
de fanfic ou nos blogs construídos pelos jovens
usada para “jogos”. Foi mencionado a escrita se apresenta, em quase sua totalidade,
também o acesso a chats, a diversos sites com gramática e grafia formal.
para realização de pesquisas e a visita Enfim, a formação de comunidade de
a sites como de desenhos animados, leitores-autores pela biblioteca escolar poderá
de personagens, etc. Não é comum o
acesso a páginas educativas ou a histórias
contribuir para melhorar o aprendizado da
infantis. (AREND; RAMOS, 2007) linguagem e da língua portuguesa, já que
“nenhuma criança [ou jovem] gostaria de
A biblioteca escolar ao oferecer um serviço apresentar um texto na internet com erros”
nesse contexto, tem a possibilidade de trabalhar (AMARAL, 2008, p.32).
o acervo de literatura disponível nas escolas e Com base nos argumentos apresentados,
bibliotecas e somar a estes os livros digitalizados. considera-se que as mudanças e inovações devem
Pois, considera-se que o livro em papel, mesmo ser vistas como uma oportunidade de (r)evolução
com todo avanço tecnológico, continua a exercer do papel da biblioteca e incentivo para novos
o fascínio e encantamento nas crianças. O serviços e produtos, para fins de atração de seus
que se recomenda é uma sinergia entre varias usuários e presença no cotidiano de crianças e
textualidades. jovens.
Com o advento da web 2.0 tem-se a
possibilidade de oferecer maior motivação para a
literatura infanto-juvenil, devido à convergência 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
de múltiplas linguagens e oportunidade de Pesquisas recentes apontam que as
espaço para criação em torno do texto literário. bibliotecas escolares brasileiras ainda configuram
É função da escola e dos meios de uma realidade que precisa ser transformada.
comunicação [e da biblioteca escolar] Campello (2009, p.100) destaca “a noção da
manter o conceito do que é uma criação precariedade da biblioteca escolar no Brasil,
intelectual e valorizar os dois modos de situação que vem sendo, há bastante tempo,
leitura, o digital e o papel. É essencial
fazer essa ponte nos dias de hoje. excessivamente mencionada na literatura”,
(CHARTIER, 2009) como resultado de pesquisa com bibliotecários
de escolas do município de Belo Horizonte.
A propósito, a editora Baen Books, que Pesquisadores constataram, em investigação
publica livros de ficção “constatou que as envolvendo escolas públicas de São Paulo, que:
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A biblioteca escolar na formação de comunidades de leitores-autores via WEB
Abstract The article makes an indentation in the scientific literature on the importance of reading in
today’s society and emphasizes the responsibility of the school and library in encouraging the
practice of literary reading. It recommends the formation of a hybrid reader-writer community
for the school library, not only through the digital platform, but also with alliance and interaction
among the various textualities. It considers that with the use of interactive technologies, the
school library can get children and young people close to literature, once the school library main
users are digital natives who habitually and intuitively live with the technological apparatus that
permiates humanity.
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Cassia Cordeiro Furtado; Lidia Oliveira
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A biblioteca escolar na formação de comunidades de leitores-autores via WEB
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