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SOCIEDADES COMERCIAIS – PROF.

FRANCISCO BARONA FDUCP

INICIAÇÃO À DISCIPLINA DE SOCIEDADES COMERCIAIS

Que tipo de empresas se podem constituir como sociedades comerciais?

Quando às empresas agrícolas é necessário atender ao art. 230º primeiro


paragrafo do C.Com e ao art. 1º CSC.

Quanto às empresas civis, não existe a obrigatoriedade de se constituirem como


sociedade comercial, ao contrário do que sucede nas sociedades comerciais em
que vigora o Princípio da Tipicidade: têm de adoptar um dos tipos previstos no
art. 1º/2 CSC (para as sociedades civis esta constituição é facultativa). Nos
termos do art. 1º/2 CSC vigora um numerus clausus: só podem ser adoptados
um destes tipos.

Quem é titular de uma sociedade civil e a constitui sobre a forma comercial é


comerciante?

A lei permite que as partes optem por uma determinada forma jurídica, para
beneficiarem deste tratamento, mas isso não quer dizer que seja assim
substancialmente.

ELEMENTOS A CONSTAR DO CONTRATO DE SOCIEDADE – ART. 9º

1. DEVE SER ADOPTADA UMA FIRMA – art. 9º/1 al. c)

Nas SQ é necessário atender ao art. 200º que consagra que nestas sociedades
tem de constar a abreviatura ‘’Lda. ou limitada’’.

Nas SA é necessário atender ao art. 275º que consagra que nestas sociedades
deve constar a abreviatura SA.

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Qual a importância das abreviaturas que devem constar nas SA e SQ?

Para apurar a responsabilidade dos sócios pelas dívidas da sociedade.

Quanto aos tipos de responsabilidade é possível distinguir entre:

 RESPONSABILIDADE LIMITADA: os sócios só respondem até ao limite


das suas entradas;

 RESPONSABILIDADE ILIMITADA: responde o património da


sociedade e, solidariamente e ilimitadamente, o património dos sócios.

Enquanto nas SQ há registo do valor de cada acção e de quem é o seu titular


(isto nos estatutos), mas não se sabe se são sócios fundadores, só o sabendo
através do registo comercial, nas SA nem nos estatutos nem no registo
comercial se sabe quem são os sócios.

2. SEDE – art. 9º/1 al. e)

A sede é onde a sociedade tem a sua direcção efectiva. É importante para efeitos
de comunicação, para efeitos fiscais, para saber qual a nacionalidade da pessoa
colectiva (art. 3º).

No art. 12º/2 consagra-se a deslocação da sede. Quanto a filiais, sucursais, etc se


não estiver previsto nos estatutos existe o art. 13º.

Pretendendo mudar a sede para outro país é necessário atender ao art. 3º/5.

Nos termos do art. 4º, uma sociedade estrangeira poderá, a qualquer tempo,
estabelecer em Portugal uma agência, mas se quiser exercer aqui actividade por
mais de um ano tem de instituir representação permanente sob pena de se
verificar a consequência prevista no nº2.

NOTA: O contrato social possui (1) uma vertente de constituição de uma


sociedade; e (2) um conteúdo normativo: estatutos (na prática encontra-se
separado do contrato de constituição). Existem elementos obrigatórios e
elementos facultativos.

3. OBJECTO CONTRATUAL – art. 9º/1 al. d)

O objecto contratual assenta no conjunto de actividades que a sociedade pode


vir a desenvolver. É diferente do objecto efectivo constante no art. 11º/3 que
consagra que os sócios é que vão deliberar quais é que são as actividades que o
sócio virá, efectivamente, a desenvolver.

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A lei não admite que a sociedade desenvolva uma actividade que não esteja
compreendida no seu objecto contratual: isto é um problema de capacidade. O
objecto serve para delimitar a capacidade da sociedade. Se o acto praticado não
se encontrar compreendido no objecto social, a sociedade está a agir para além
dos poderes que tem (mas há quem questione este entendimento e siga a teoria
do fim).

Uma sociedade só poderá adquirir participações sociais noutras sociedades se


tiver um objecto idêntico ao da sociedade adquirente e tem de ser uma
sociedade de responsabilidade limitada. Se assim não for é necessária uma
autorização no contrato: não faria sentido que, sem autorização, a gerência
comprasse uma sociedade com responsabilidade ilimitada e a sociedade se
responsabilizasse por esta.

4. CAPITAL SOCIAL – art. 9º/1 al. f)

O capital social é necessário para a sociedade se poder desenvolver; é o


resultado da soma do valor nominal das participações de cada sócio; é uma
cifra numérica, sendo necessário analisar o valor de cada entrada. É diferente
do património social.

Subscrição é diferente de realização. Entende-se por subscrição o valor da


participação de cada sócio na sociedade. Mas é preciso saber se for realizado: se
entregou em dinheiro ou bens com valor à sociedade (espécie). Pode acontecer
que se subscreva uma quota de 25 mil euros, mas só se entregue 20 mil euroos:
neste caso ocorreu um diferimento no valor de 5 mil euros da entrada na
constituição: subscrição a crédito.

A regra é que as entradas têm de ser realizadas no momento da constituição da


sociedade, mas admite-se que assim não o seja. Tal coloca o problema se não se
chegar a entregar o montante da entrada diferida e de se pode ocorrer um
diferimento total.

Diferente das entradas em dinheiro são as entradas em espécie em que para se


garantir que o valor do bem entregue corresponde ao valor nominal da entrada
é necessário um relatório realizado por um revisor oficial de contas
independente nos termos do art. 28º. O valor do bem pode superar o valor
nominal, mas nunca poderá ser inferior, sob pena de se ter de pagar o difencial
em dinheiro.

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5. MODELO ORGÂNICO

Nas SQ existe uma gerência e uma assembleia geral (dentro desta um órgão de
fiscalização, sendo que este poderá ser facultativo). Quem faz a fiscalização da
sociedade é o ROC (realizada a revisão de contas), sendo diferente do TOC
(orgão contablistico).

A gerência, nas SQ, pode ter um só gerente ou vários, nos termos do art. 252º,
sendo estes ou designados no contrato social ou designados por deliberação dos
sócios. Os gerentes não têm de ser sócios. Se o contrato nada disser ou os sócios
nada deliberarem, nos termos do art. 253º, todos os sócios são gerentes. A razão
de ser de tal assenta no facto de as SQ serem sociedades fechadas (‘’as pessoas
contam’’) existindo um caracter pessoal, ao contrário do que sucede nas SA em
que o capital sobrepõe-se ao elemento pessoal.

Nas Sociedades de Pessoas, o elemento que prevalece são os sócios, o que


levaria a que estes respondessem solidaria e ilimitadamente (SNC). Nas
Sociedades de Capital o elemento que prevalece é o capital, não respondendo os
sócios (SA). As SQ são um misto.

Nos termos do art. 261º consagra-se a gerência plural nas SA: por exemplo,
existindo 5 gerentes, a sociedade só se vincula com a assinatura de 3.

Nos termos do art. 262º/6, a sociedade só poderá constituir mandatários para


actos pontuais, sem necessidade de tal constar no contrato social.

NOTA: amortizar a quota é igual a extinção da quota.

Quanto um sócio morre é necessário atender ao art. 225º que consagra a


proibição dos pactos sucessórios, sendo necessário atender à existencia de
clausulas absolutas ou relativas de instransmissibilidade.

MODO DE CONSTITUIÇÃO DE UMA SOCIEDADE

i. MÉTODO CLÁSSICO

PASSO 1 - PEDIDO DE CERTIFICADO DE ADMISSIBILIDADE DE FIRMA: é


preciso identificar o objecto, ou seja, qual a actividade a prosseguir. Se o pedido
for deferido é concedido o certificado e os constituintes têm 90 dias para
constituir a sociedade, antes de caducar – art. 45º do Registo Nacional de
Pessoas Colectivas. Ser-lhes-á atribuido um número provisório de identificação
de pessoa colectiva – art. 15º RNPC.

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PRINCÍPIOS QUANTO À ADMISSIBILIDADE DE FIRMAS E


DEMONOMINAÇÕES:

 PRINCÍPIO DA VERDADE (art. 32º RNPC): não pode induzir em erro


quanto à sua actividade, dimensão desta e dos seus titulares;

 PRINCÍPIO DA NOVIDADE (art. 33º RNPC): a lei nãi quer que duas
firmas que se dediquem à mesma actividade num mesmo ambito
geográfico sejam confundidas. É preciso ver em concreto. Se o âmbito
geográfico for diferente, podem ter o mesmo nome, porque não existirá
confusão. Se o ambito geográfico for diferente mas entretanto começarem
a disputar o mesmo mercado (tendo nomes iguais) estamos face a um
acto de concorrência desleal.

 PRINCÍPIO DA EXCLUSIVIDADE

PASSO 2 – ELABORAR O PROJECTO DE CONTRATO DE SOCIEDADE:


incluir as menções obrigatórias (art. 9º CSC, acrescido das menções obrigatórias
de cada tipo societário).

Nas SQ já não existe capital social (leia-se valor nominal do valor das acções
subscritas por cada sócio) minimo obrigatório. Já só há capital social minimo
obrigatório nas SA (50 mil euros). Nos termos do art. 202º/4 consagram-se as
entradas de capital social.

Tem de existir um documento com reconhecimento presencial de assinaturas de


todos os sócios fundadores nos termos do art. 7º se forem entradas em dinheiro.
Se a entrada for em espécie, sendo um bem imóvel é necessária escritura
pública ou documento particular autenticado. Este último caso, nos termos do
art. 28º, é necessário um relatório de avaliação do bem por um ROC
independente. Se for uma SA, quanto ao capital social enquanto menção
obrigatória, ou se declara que o dinheiro já deu entrada na sociedade ou que
dará até ao fim do primeiro exercício social. Nestas sociedades há um
comprovativo de depósito do capital social e uma declaração dos sócios
conforme este está depositado numa numa instituição de crédito (com o
contrato de constituição da sociedade, esta ainda não se encontra constituída).
Têm-se de se encontrar mencionados os órgãos sociais.

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PASSO 3 – REGISTO (art. 3º CSC): Poderá ser em qualquer conservatória


comercial, uma vez que já não existe o princípio da teritorialidade.

Não sendo feito o registo, a sociedade pode começar a trabalhar?

Sim, se houver uma cláusula estatutária que preveja tal: a sociedade assume
todos os negócios que efectuar nesse período de tempo, são assumidos ipso
iure. Se não constar tal cláusula dos estatutos, só a Administração pode
assumir, um a um, cada negócio celebrado pela sociedade nesse período de
tempo. E, neste segundo caso, existe responsabilidade ilimitada daqueles que
agem em representação da sociedade – art. 19º RNPC. Só com o registo é que a
sociedade adquire personalidade jurídica (o registo é constitutivo!).

PASSO 4 – DEFERIMENTO DO REGISTO: o conservador vai mandar publicar


cópia e vai registar. Irá ainda comunicar tal ao RNPC e ao Fisco.

ii. EMPRESA DE CONSTITUIÇÃO ONLINE

De um conjunto de firmas já cerificadas e minutas já pré estabelecidas pode-se


escolher. Depois submete-se o pedido a verificação online. Indicam os sócios
fundadores. É constituída em 24 horas, sendo disponibilizado o código de
acesso à certidão online. Quando haja entradas em imóveis não pode ser,
porque tal exige maiores formalidades.

iii. EMPRESA NA HORA

Online, loja do cidadão, RNPC. Existe liberdade quanto ao objecto e quanto à


firma. Se não quiserem nenhuma das firmas pré formatadas terão de seguir o
modelo clássico. É necessário apresentar uma declaração quanto às entradas
para o capital social (se forem em espécie têm de apresentar o relatório do
ROC). As entradas têm de ser realizadas até 5 dias depois disto. Vão receber um
código de acesso à certidão permanente. Para saber qual a situação de uma
sociedade é necessário recorrer à certidão do registo comercial (pede-se no
Registo Comercial). A certidão do registo comercial é um documento cópia do
que consta de livros públicos passada por uma autoridade com fé pública,
tendo a mesma força que o documento verdadeiro. Com o Simplex, as certidões
do registo comercial, passaram a estar disponíveis online, mas no entanto é
preciso possuir um códifo de acesso. Quer o número de segurança social, quer
as declarações para o fisco, são entregues na hora.

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RESOLUÇÃO DE HIPÓTESES PRÁTICAS

HIPÓTESE PRÁTICA I

António, Bernardo e Carlos, tendo decidido abrir um ginásio fitness, sob a


formajurídica de uma sociedade comercial com um capital social de € 60
000,00, pretendemsaber:

a) Quais os requisitos e formalidades que têm de respeitar no processo de


constituição da sociedade? Qual a forma mais rápida para poderem
iniciar aactividade social?

Em primeiro lugar é necessário pedirem um ceritificado de admissibilidade de


firma. Nos estatutos da sociedade devem constar as menções obrigatórias (art.
9º) e menções facultativas (se o quiserem). Para iniciarem a sua actividade mais
rápido, teriam de estabelecer uma cláusula nos estatutos que dissesse que
determinados actos eram possíveis de praticar antes do registo. A sociedade
assume ipse iure a responsabilidade desses actos.

b) Terão que realizar algum capital mínimo, admitindo que as entradas


serão todasem dinheiro?

No presente caso estamos face a uma SQ, uma vez que se fosse uma SA, nos
termos do art. 273º, seriam necessários pelo menos 5 sócios, salvo as excepções
previstas na lei (art. 273º/3 e art. 488º).

Nos termos do art. 201º consagra-se o capital social quanto às SQ: o capital
social, no que respeita às entradas terá de ser realizado ou no momento da
constituição ou até ao fim do primeiro exercício; quanto às quotas, nos termos
do art. 199º al. b) o valor mínimo será igual ao valor das quotas.

As entradas podem ser realizadas no momento da celebração da constituição da


sociedade (podem ser realizadas até ao fim do primeiro exercício) ou podem ser
diferidas (nos termos do art. 203º, sendo o regime diferente).

Porque é que actualmente as SQ podem ser constituídas por 1euro e antes existia a
obrigatoriedade do capital social ser 5 mil euros?

O balanço representa o património da sociedade, e é isto que interessa aos


credores (depositadas na conservatória do registo comercial). Se não
apresentarem dentro de 9 meses existe um indicio de insolvencia. Aproveita à
sociedade aprovar as contas a tempo e depositá-las. O exercício coincide com o
ano civil, portanto após aprovação das contas devem ser depositadas até Março.

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A exigência de um capital social mínimo era um entrave à constituição de


sociedades. Agora pode ser livremente definido, de acordo com o que a
sociedade necessitará para desenvolver a sua actividade. Se estabelecerem um
valor muito baixo, os credores ficariam muito desconfiados e não lhes
concederiam crédito. As SQ são o tipo societário mais frequente em Portugal.

c) A que regime de responsabilidade estarão sujeitos pelo capital não


realizado epelas dívidas sociais?

Tendo em consideração o disposto no art. 197º é necessário distinguir duas


realidades diferentes:

 DÍVIDAS DA SOCIEDADE: a REGRA é que só responde, perante


terceiros, o património social (art. 197º/3). A EXCEPÇÃO assenta no
facto de a lei admitir que no contrato de sociedade os sócios estipulem
que os sócios respondem pelas dívidas sociais. Podem estipular como é
que isto ocorrerá. Mas não se trata de uma responsabilidade ilimitada. É
obrigatório que seja estipulado um plafond, sendo que só assim haverá
responsabilidade. Caso o plafond não seja delimitado, não haverá
responsabilidade.

 DÍVIDAS DO SÓCIO PARA COM A SOCIEDADE: as entradas podem


ser realizadas no momento do contrato de sociedade ou ser diferidas.
Neste último caso, os demais sócios podem ser chmados a responder
pela entrada em falta de um sócio.

Como funciona a responsabilidade nas SA?

Nas SA só aprecem os sócios fundadores na celebração do contrato de


sociedade, pelo que havendo transmissão deixa de existir tal menção.

Nos termos do art. 271º o sócio limita a sua responsabilidade ao valor das
acções que subscreveu. Não se responsabiliza nem pelas dívidas sociais nem
pelas entradas dos outros sócios.

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HIPÓTESE PRÁTICA II

José Firmino pretende constituir a sociedade “Joaquim Firmino- Agricultura


biológica,Unipessoal, Limitada”. Para este efeito, elaborou uma minuta de
documentoconstitutivo, contendo as seguintes estipulações:

Cláusula Primeira
O capital social é de €500.000

CAPITAL SOCIAL: nos termos do art. 9ª/1 al. f) o capital social constitui uma
menção obrigatória do contrato de sociedade, consistindo na cifra numérica de
valor constante, em dinheiro, expresso em euros, correspondente ao património
de constituição da sociedade, isto é, à soma de todas as participações sociais dos
sócios (art. 14º).

Nos termos do art. 202º/1, nas SQ não admitidas participações de indústria


(indústria enquanto qualquer serviço, de caracter económico, só podendo tais
constituir objecto de entrada nas SNC (art. 178º), estando excluidas nas SQ (art.
202º/1) e nas SA (art. 277º/1).

Nas SQ, o capital social forma-se exclusivamente com as entradas dos sócios
sendo representado unicamente por quotas nos termos do art. 197º/1. Nos
termos do art. 201º a lei estabelece relativamente às SQ um capital puramente
simbólico, de apenas 1 euro/sócio.

Nos termos do art. 199º, no contrato de SQ constará sempre o montante das


quotas e a identificação dos respectivos titulares. O contrato tem de especificar
o montante das entradas efectivadas com a celebração do contrato e das
entradas diferidas. As entradas deverão concretizar-se em dinheiro ou em
espécie.

Nos termos do art. 270º - A e ss estamos face a uma sociedade unipessoal por
quotas, pelo que atendendo ao art. 270º - G remete para o regime das
sociedades por quotas, salvo as que pressupõem a pluralidade dos sócios, mais
concretamente para o art. 199º.

Cláusula Segunda
A entrada do sócio é constituída pelo montante de €100.000 em dinheiro e por
umprédio rústico descrito na Conservatória do Registo Predial de Portalegre
sob o nº 1234e inscrito na respectiva matriz predial sob o nº 5678.

Tendo em consideração já o disposto nas cláusulas seguintes, o sócio fez uma


entrada de 50 mil euros e diferiu os restantes 50 mil euros, além de uma entrada
em espécie (prédio rústico) no valor de 400 mil euros.

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Coloca-se a questão de saber se pode um sócio fazer uma entrada em dinheiro e


em espécie e ficar com uma só quota – art. 219º/1. Ora, as entradas em espécie
têm mesmo de ser realizadas no momento da constituição da sociedade. Nos
termos do art. 25º/1 a entrada ou corresponde ao valor em dinheiro ou ao valor
atribuído aos bens no relatório do ROC. Não pode haver uma quota mista. Tem
de ter duas quotas mas, posteriormente, poderá unificá-las. Além disso, o
momento da entrada é diferente para dinheiro e em espécie nos termos do art.
26º. Deste modo seria impossível saber quando é que a entrada foi feita.

Cláusula Terceira
O sócio declara, sob sua responsabilidade, ter depositado já o montante de
€50.000,00em conta aberta em nome da sociedade na Caixa de Crédito Agricola
de Portalegre,comprometendo-se a completar a sua entrada assim que a
sociedade necessitar.

Nas SQ ou se realiza a entrada no momento da constituição da sociedade ou se


estipula quando é que se o fará: art. 202º. Quanto às últimas, nos termos do art.
203º, tem de ficar claro a data ou um facto determinado que tem de se verificar
para que o sócio realize a entrada. Tem até 5 anos para isso acontecer, se isto
não acontecer é lhe exigida. Actualmente pode ocorrer o diferimento de todo o
montante. Já não existe montante mínimo. No caso, o facto (‘’assim que a
sociedade necessitar’’) não é certo, pelo que a cláusula seria nula.

Cláusula Quarta
O prédio rústico referido supra tem o valor de €400.000 e será transferido para
asociedade no prazo de 30 dias a contar da presente data.

Nos termos do art. 202º/4 e do art. 26º as entradas em espécie têm de ser
realizadas no momento da constituição da sociedade, não podendo ser
diferidas. Não pode sequer ser até ao fim do primeiro exercício social.

Quanto aos bens que podem ser dados como entradas em espécie, têm de ser
bens susceptíveis de penhora nos termos do art. 20º. Mas só estes? Se um sócio
quiser fazer de entrada um mero gozo de um prédio? Este é penhorável? Em
rigor, o art. 20º devia estipular bens avaliáveis em dinheiro. O gozo de um
prédio é avaliavel em dinheiro, mas a propriedade continua a ser do
proprietario do prédio. E se lhe vir a ser impedido o gozo do prédio (por
exemplo, atraves de uma acção de reinvindicação do bem intentada por
terceiro)? Nos termos do art. 25º/4 consagra-se a consequência de tal. Assim,
parece que pode haver uma entrada em espécie como esta do gozo de uma
coisa. O sócio irá repor o dinheiro, se a sociedade ficar privada deste, portanto,
isto não afecta a sociedade.

No acto de constituição, o bem tinha de integrar o património da sociedade.


Assim, o contrato de sociedade tinha de ser feito atraves de formalidade
especial: escritura pública ou documento particular autenticado.

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Cláusula Quinta
A cessão de quotas é livre.

Nos termos do art. 229º/2 permite-se que, no contrato de constituição da


sociedade, se afaste o regime (supletivo) do art. 228º. Deste modo, os sócios
podem estipular que a cessão de quotas é livre.

Cláusula Sexta
A sociedade dissolve-se no prazo de dez anos a contar da presente data.

Nos termos do art. 141º al. a) e do art. 15º, a sociedade pode ser temporária, ou seja no
contrato de sociedade as partes podem indicar uma duração para a sociedade e, findo o
prazo, a sociedade dissolve-se.

a) Aprecie a pretensão de José Firmino, designadamente a procedência de


umdocumento exclusivamente com este conteúdo.

No presente caso estamos face a uma sociedade unipessoal por quotas, nos
termos do art. 270º- B, podendo ser constituída, nos termos do art. 270º-A nº1
por um sócio único, podendo este ser uma pessoa singular ou colectiva, caso em
que estamos face a uma constituição originária, ou nos termos do nº2 quando
ocorra a concentração na titularidade de um único sócio das quotas de uma
sociedade por quotas, caso em que estamos face a uma constituição
superveniente.

No presente caso, estamos face a uma constituição originária da sociedade,


sendo que para tal se constituir é suficiente um documento particular escrito,
com reconhecimento presencial de assinaturas do seu subscritor, se a obrigação
de entrada não for realizada em bens que só sejam transmissíveis por escritura
pública, caso em que o contrato deve revestir essa forma (art. 7º/1).

A análise das cláusulas foi realizada anteriomente, pelo que se remete para lá.

Em conclusão, com base no que foi exposto e na análise das cláusulas, o


conservador deveria recusar o registo.

b) José Firmino contraiu, em nome pessoal, uma dívida no valor de


€5000,00, quenão pagou na data do vencimento. Poderá ele oferecer
produtos biológicoscomo pagamento da dívida?

Nos termos do art. 270º- F, os negócios celebrados entre o sócio único e a


sociedade devem servir a prossecução do objecto da sociedade. Quanto aos
requisitos formais devem ser, pelo menos e a não que a maior formalidade seja
exigida, celebrado por escrito. Se este e outros requisitos forem violados, o
negócio é nulo.

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Ou seja, o art. 270º- F relaciona-se com a auto contratação, na medida em que


salvaguarda a base patrimonial da sociedade unipessoal por quotas, impondo
uma certa transparência nas relações contratuais entre o sócio único e a
sociedade, a fim de os terceiros melhor podem fazer valer eventuais direitos
contra aquela.

Os negócios jurídicos entre o sócio e a sociedade unipessoal por quotas são


possíveis uma vez que esta, tratando-se de uma pessoa jurídica distinta e em
princípio autónoma, não se confunde com o sócio único, devendo obeceder a
certos requisitos.

Os Requisitos são de três tipos:

 DE CARACTER MATERIAL: compatibilidade com a prossecução do


objecto da sociedade;

 DE CARACTER FORMAL: imposição de forma escrita, se outra forma


mais solene não for prescrita por lei para o contrato em causa;

 DE CARACTER PUBLICITÁRIO: apresentação conjunta dos


documentos de que consta o contrato com o relatório de gestão e dos
documentos de prestação de contas para consulta, a todo o tempo, por
qualquer interessado, na sede da sociedade.

Na hipotese há prossecução do objecto social? Ora a dívida é contraída em


nome pessoal. A sociedade não pode pagar dividas contraidas em nome
individual dos sócios, nos termos do art. 197º/3. O Princípio da Autonomia do
Património Social leva a que o património social só responda por dívidas sociais
e que o património individual dos sócios não responda por dívidas sociais. Se
assim não fosse, estariamos a violar o Princípio da Personalidade das Pessoas
Colectivas. Admite-se uma excepção a isto nas Sociedades Unipessoais, porque
se admite uma maior confusão entre estas entidades (sociedade e sócio), mas,
apenas, se for para prosseguir o objecto da sociedade.

Note-se que quando às sociedades unipessoais por quotas, o legislador criou


um regime especial de apertado controlo e transparência que visa permitir aos
credores sociais a verificação do respeito pelo Princípio da Separação de
Patrimónios, visando precaver possíveis abusos ou favorecimento do sócio
único em detrimento da sociedade, sancionando a sua violação com a
responsabilidade ilimitada do sócio.

O risco que se pretende acautelar é o da confusão do património pessoal do


sócio com o património da sociedade, uma função de protecção das sociedades
unipessoais por quotas e dos seus credores relativamente a possíveis actos
prevaricadores do sócio único.

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Promove-se a separação de patrimónios entre a sociedade e o sócio e garante-se


a cognoscibilidade desses actos por terceiros, que poderão aceder a elementos
de informação sobre a situação patrimonial da sociedade.

HIPÓTESE PRÁTICA III

Aníbal, Bruno, Carlos, Dionísio e Ernesto pretendem constituir a


sociedadedenominada “Velocidade, SA” que se dedica à comercialização de
veículos automóveis,com um capital social de 15.000,00, constituído por três
mil acções, cada uma comvalor nominal de 5€, sendo Aníbal e Bruno titulares
de 1.000 acções, cada, Carlos de500 acções e Dionísio de 500 acções. A entrada
de Ernesto será constituída pelo seutrabalho como vendedor. Por não terem
disponibilidade imediata, foi diferida arealização de €12.000 do valor
nominal das entradas em dinheiro, sendo, todavia, ocapital totalmente
realizado no prazo máximo de cinco anos. De todo o modo, ficoudeterminado
que Aníbal e Bruno responderiam pelas obrigações sociaissubsidiariamente
em relação à sociedade. Acordaram ainda que a sociedade seriaorganizada
com um conselho de administraçao e um conselho geral.

a) Perante estas estipulações, como deve proceder o conservador do


registocomercial?

No presente caso estamos face a uma SA, nos termos do art. 271º e ss, mais
concretamente do art. 275º/1. A atribuição das acções aos sócios é feita através
da subscrição de cada um.

Nos termos do art. 277º/1 consagra-se que - tal como sucede nas SQ (art.
202º/1) e ao contrário do que sucede nas SNC (art. 178º) – não são admitidas
contribuições de indústria, apenas se admitindo entradas em dinheiro ou em
esécie.

RAZÃO DA EXCLUSÃO DE CONTRIBUIÇÕES DE INDÚSTRIA ENQUANTO


FORMA DE ENTRADA NAS SA: seria muito dificil aferir o seu valor
patrimonial. Para além disso, estas entradas de indústria não contam para a
formação do capital social, porque sendo as SA de cariz capitalista e anónimas,
a lei resolveu abolir por completo as entradas de indústria. É uma razãos mais
prática do que dogmática. É claro que um dos sócios poderá realizar funções de
trabalhador ou administrador na sociedade, mas não contam como entradas.

Nas SA permite-se um diferimento (desde que haja acordo de todos os sócios)


de até 70% do valor das entradas.

QUERELA: Cada sócio tem de realizar 30% da sua entrada ou é do global que
se pode diferir 70%? E se o sócio que diferiu não fizer, depois, a entrada? Nas
SA não há responsabilidade solidária..

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Não existindo uma disposição legal igual ao art. 277º, é necessário saber se é
possível haver um diferimento de apenas uma entrada na sua totalidade e os
outros sócios realizam as suas entradas ou se quando se difere uma entrada
também têm de se diferir todas? O diferimento da entrada de um dos sócios não
pode ser imposta aos outros sócios, tem que ser uma solução acordada entre
eles.

O valor dos 70% calcula-se sobre o valor total do capital social ou calcula-se
sobre cada participação social subscritra por cada accionista? A lei não é clara:
os credores, em certa medida, estão salvaguardados, na medida em que a
sociedade tem ou dinheiro ou outro tipo de activos. O que a lei exige é que só
pode servir de entrada para a sociedade algo que seja penhorável, mas sendo
este diferimento um crédito da sociedade, os credores estão assegurados.
Aquilo que o legislador quis foi conferir alguma agilidade e liberdade aos
sócios, porque a lei apenas diz 70% do valor nominal das acções, mas fora isso
não há qualquer limitação.

PROF. FRANCISCO BARONA: acha que não faz sentido que um sócio não faça
nenhuma entrada. Se desse para o torto, ele não teria nenhum incentivo para
fazer a entrada. Acha que se deve entender que os 70% previstos no 277º devem
ser face a cada sócio.

O diferimento das entradas nas SA pode ser feito em que circunstâncias?

A única limitação é a de ter de ser feito dentro de um prazo de 5anos (art.


285º/1), ao contrário do que acontece com as SQ, onde o diferimento tem de
ficar dependente de um acontecimento certo ou data certa.

A tutela dos credores é levada tão longe que no art. 20º admite-se que os
credores se possam subrogar à sociedade na exigência dos créditos ainda não
realizados.
Quanto ao tema da responsabilidade, para as SQ, há um regime especial no art.
198º (norma excepcional, portanto, não se pode fazer aplicação analógica) que
estabelece a possibilidade de, nas SQ, o património pessoal dos sócios poder
responder até um certo plafond pelas dívidas da sociedade. Nas SA não há um
art. igual ao 198º e, por isso, não é possível responder solidariamente pelas
dívidas da sociedade - –rt. 271º - e não podiam acordar o contrário. Pelas
dívidas sociais só responde o património social.

A SA tem uma estrutura taxativa (modelos imperativos mínimos) – art. 278º e


art. 272º al. g). Não é admitida a combinação de modelos. Mas, tendo os sócios
adoptado um destes modelos, podem, nos estatutos, criar mais órgãos que não
tenham previsão legal (ex: órgãos consultivos), mas que não possam colidir com
os outros. Na vida da sociedade, os sócios podem alterar o modelo, mas só de
entre os modelos previstos – art. 278º/6.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 14


SOCIEDADES COMERCIAIS – PROF. FRANCISCO BARONA FDUCP

Uma SA constituída com o capital social mínimo (50 mil euros) pode ter as suas
entradas diferidas?

Nas SQ previa-se 5 mil euros como capital social minimo e dizia-se que se
permitia o diferimento de entradas, desde que estivesse cumprido o capital
social minimo obrigatório. Havia quem entendesse que devia aplicar-se
analogicamente o disposto para as SQ às SA. Mas isto desapareceu e, assim
sendo, já não há muito apoio na lei para continuar a defender isto.

b) Imagine que depois de formalizarem esta sociedade e antes do


respectivoregisto, Aníbal comprou, em nome da sociedade, 3 veículos
automóveis aErnesto, devendo o preço ser pago em cinco prestações de
€500.000 cada.Entretanto foi constituída e registada a sociedade; esta
responde pelo preçoperante Ernesto? Se a compra tivesse dio feita
antes da celebração do contratode sociedade a sua resposta seria a
mesma?

A hipótese em análise versa sobre o problema das sociedades irregulares. As


sociedades irregulares não têm personalidade jurídica, mas constituem
património autónomo. A questão é saber se este património pode assumir as
obrigações anterior à sua própria personificação. As sociedades irregulares
estão sujeitas a um regime muito especial, porque podem ser liquidadas.

A lei trata as sociedades que não existem e as sociedades irregulares de forma


distinta. Quanto às sociedades irregulares, os actos não são imputáveis à
sociedade, porque esta não vai existir? Então a quem se imputam?

Sob a designação genérica de sociedade irregular abarcam-se realidades muito


distintas, podendo existir as seguintes situações:

 Em que os sócios não quiseram constituir sociedade nenhuma e


quiseram começar a actividade comercial;

 Os sócios que já celebraram o contrato, mas não fizeram o registo e já


começaram a dar alguns passos para a actividade comercial;

 Os sócios já acordaram na constituição da sociedade, já pediram o


certificado de admissibilidade de firma, mas ainda não fizeram o
contrato de constituição de sociedade, mas já iniciaram a actividade.

Os casos de sociedades irregulares estão sujeitos ao art. 970º e ss CC. Uma


sociedade irregular está sujeita a liquidação, porque não foi observada a forma
legal. O que é que se faz a essas obrigações que vão sendo criadas quando ainda
não há, pelo menos, o contrato de sociedade celebrado?Nos termos do art. 36º/2
consagra-se a situação em que já existe acordo dos sócios quanto à constituição
da sociedade e já existe acordo para iniciarem a actividade.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 15


SOCIEDADES COMERCIAIS – PROF. FRANCISCO BARONA FDUCP

A sociedade já tem certificado de admissibilidade de firma e número provisório


de pessoa colectiva. Esta norma imputa os negócios aos sócios. No art. 36º/2 a
lei manda aplicar as regras das sociedades civis: os sócios respondem solidária e
ilimitadamente pelos actos praticados pela sociedade – todos os negócios, não
distinguindo a lei aqui, entre os que representam a sociedade e os que não.
Contudo, podem opor ao credor o beneficio de excussão prévia, ou seja, só
respondem os seus bens depois de responderem os bens da sociedade. Este
artigo é diferente do art. 172º que manda liquidar a sociedade. Pode suceder
que os sócios já tenham dado mais um passo em frente e já tenham celebrado o
contrato mas ainda não tenham feito o resto: mesmo tendo existindo inicio de
actividade, a sociedade só se constitui verdadeiramente com o registo, pelo que
ainda não há sociedade e, nesse caso, rege o art. 40º.

Verdadeiramente só temos uma sociedade irregular nos casos do art. 172º, nos
outros casos temos uma sociedade preliminar (art. 36º) e no outro, uma
sociedade em formação (art. 40º).

As sociedades irregulares podem surgir ou porque desenvolvem uma


actividade em comum que devia, de acordo com o Princípio da Tipicidade,
revetir a forma de uma actividade comercial ou porque não cumpriu a
obrigação de adoptar um dos tipos de sociedades comerciais. A consequência é
a de entrada em liquidação, nos outros casos temos uma situação materialmente
diferente, porque os sócios querem, de facto, constituir a sociedade e, por isso,
temos de saber como é que esses contratos de sociedade, celebrados antes do
contrato ou do registo, vão ser regulados.

Pode até acontecer que os sócios querem, de facto, constituir a sociedade e


inciiam logo a actividade, mas iniciam-na e vêem que vai dar mau resultado e
não chegam sequer a celebrar o contrato de sociedade e abandonam o projecto
de constituição da sociedade ou nem registam: a quem se vão imputar os
negócios celebrados a uma sociedade que nunca existiu? A resposta não é
simples, mas a lei prevê no art. 19º a forma de imputar os negócios que vão
sendo praticados ao longo do processo se formulação da sociedade à mesma.
Ou seja, imputam-se à sociedade.

No caso, temos um contrato de sociedade que foi celebrado entre o contrato e o


registo. O Anibal comprou ao Ernesto, em nome da sociedade; o Ernesto sabe
que a sociedade não existe, porque não está registada e não pode constituir
direitos e obrigações sem mais. O legislador equilibra estas duas posições.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 16


SOCIEDADES COMERCIAIS – PROF. FRANCISCO BARONA FDUCP

Nos termos do art. 19º consagram-se duas formas de assumpção:

 ASSUMPÇÃO AUTOMÁTICA (art. 19º/1 al. c)): imputa-se à sociedade,


com o registo dos negócios do contrato de sociedade. Se no contrato de
sociedade estivesse previsto uma autorização aos administradores para
celebrar aquele negócio, a sociedade quando fosse registada iria assumir
automaticamente e liberava os responsáveis, nos termos do art. 40º.

 ASSUMPÇÃO VOLUNTÁRIA: se não for feita a assumpção automática,


a sociedade tem a alternativa de fazer uma assumpção voluntária,
através de deliberação da Administração para assumir o negócio nos 90
dias seguintes. Nos termos do art. 40º respondem pessoal, solidária e
ilimitadamente. No fundo, o legislador diz que alguém tem de responder
por isto.

Os negócios celebrados antes do contrato de sociedade só podem ser assumidos


automaticamente com o registo se se verificarem o que está previsto na al. c) do
art. 19º/1. Nao tendo sido feito, coloca-se o problema de saber se pode haver
assumpção voluntária. Se olharmos para o art. 19º/3 o problema está aqui,
porque o registo tem dois efeitos, ou seja, o efeito assumptivo e tem ainda uma
eficácia liberatória, no sentido que exonera de responsabilidade as pessoas do
art. 40º. Mas as pessoas do art. 40º são precisamente as que agiram depois da
celebração do contrato por isso não poderia abranger os negócios antes do
contrato de sociedade, porque a responsabilida das pessoas antes da celebração
do contrato de sociedade é regida pelo art. 36º e não pelo art. 40º. O art. 19º/3 só
libera as pessoas do art. 40º e não as do art. 36º, no entando há uma dificuldade
dogmática porque a lei diz que a assumpção dos negócios tem efeitos
retroactivos.

A sociedade pode, voluntariamente, assumir um negócio que tivesse sido celebrado antes
do contrato de constituição?

Nos termos do art. 19º/2, o período antes do registo abrange tal. Mas isso seria
assumir negócios de quando a sociedade ainda nem administração tinha nem
tinha capital social. Era como antecipar a personalidade jurídica. Não faz muito
sentido. Isto, porque, este artigo confere efeito retroactivo ao registo. Neste
artigo o legislador não distinguir nem parece ter querido distinguir. Parece ter
deixado para que os sócios autorizassem, no momento da constituição ou que o
órgão de Administração decidisse. O legislador optou por um criterio pratico:
cabe aos sócios e à Administração ver o que é mais vantajoso para a sociedade.

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SOCIEDADES COMERCIAIS – PROF. FRANCISCO BARONA FDUCP

Há aqui um problema de antecipar para um momento em que neme xistia um


contrato de sociedade e imputar uma personalidade. Esta norma de retroacção
dos efeitos existe para proteger os credores que já estão a contar que nesse
negócios vão responder não os sócios, mas sim a sociedade, por isso, tem de ser
estendida a solução não só aos casos do art. 40º, mas tambem aos do art. 36º/2
(sociedade preliminar).

A lógica do art. 19º/3 é a de exonerar as pessoas, desde que a sociedade venha a


assumi-las. E se se aplicar ao art. 40º não há nenhuma razão para não se aplicar
ao art. 36º/2: há que fazer uma interpretação extensiva.

Nas Sociedades em Formação (art. 40º) há ou não essa responsabilidade subsidiária ou


há beneficio de excussão prévia?

Há um aspecto importante, porque as sociedades civis têm responsabilidade


ilimitada e sem personalidade jurídica aqui não há sociedade, há um
património autónomo. Nas sociedades em formação, para haver um
património, tem de haver, também, um património autónomo já formalizado e,
portanto, faz sentido que se para a sociedade preliminar existe uma
responsabilidade autónoma, por maioria de razão, também há para a sociedade
em formação.

O contrato de sociedade é diferente da sociedade preliminar, uma vez que nesta


há acordo para a sua constituição e já podem ter entrado em acordo. Casos em
que a sociedade se vem a constituir, mas não foram cumpridos os requisitos do
art. 19º.

PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA: admite o benefício de excussão prévia ao


art. 40º.

As sociedades irregulares podem existir quando:

 Os sócios acordam a sua constituição, mas mudam de ideias;


 Os sócios iniciam a sua actividade, mas mudam de ideias;
 Os sócios fazem o contrato, mas por alguma razão desistem (ex: recusa
do registo).

Quando é certo que a sociedade não se irá constituir a sociedade torna-se


irregular!

Aplica-se o art. 36º/2 e o art. 40º, fazendo aqui sentido dizer que, tanto no art.
36º/2 como no art. 40º, os sócios têm o benefício de excussão prévia. Nesta
altura, as entradas já foram realizadas.

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SOCIEDADE PRELIMINAR SOCIEDADE EM FORMAÇÃO


art. 36º/2 art. 40º
Actos praticados antes do contrato de
constituição. Tanto se aplica quer não Actos praticados depois do contrato
venha a haver sociedade, quer venha e de constituição e antes do registo.
haja assumpção voluntária.

c) Aníbal alienou as suas acções a Bruno e abandonou a sociedade em


Outubro de2009. QuidJuris?

Anibal pode alinear as suas participações sociais? Sim. Livremente? Sim. Em


qualquer momento? Se não tiver havido registo, é necessário que todos os
sócios concedam a sua autorização – art. 37º/2. Se já tiver havido registo da
sociedade, então, pode transmitir as suas acções livremente (nas SA vigora o
Princípio da Livre Transmissibilidade, em contraposição com o que se passa nas
SQ). Nos termos do art. 464º/3 (concretização da regra geral do art. 142º)
quando se fala em ‘’via administrativa’’ tal cabe à Conservatória do Registo
Comercial.

HIPÓTESE PRÁTICA IV

António Terras, sócio da Sociedade “Durasempre” transmitiu à sociedade, a


título de
entrada, em suporte digital, os seus conhecimentos técnicos sobre silicones
emateriais de impermeabilização para imóveis. No pacto social tinha
ficadoestabelecido que “sempre que fosse necessário” ele faria
demonstrações aostrabalhadores da empresa. Porém, quando a sociedade o
instou a fazê-lo, ele nãocumpriu. Quid iuris?

No presente caso estamos face a uma entrada em espécie, ou seja não se trata de
uma entrada em dinheiro, mas sim avaliável em dinheiro (≠ contribuição de
indústria).

A especificidade das entradas em espécie assenta no facto de não poderem ser


diferidas, terem de ser realizadas até à constituição da sociedade e terem de ser
avalidas através de um relatório elaborado por um ROC independente (art.
28º/1), ou seja, quem não trabalhe na sociedade nem venha nesta a trabalhar
durante dois anos (art. 28º/2).

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Nos estatutos poder-se-ia consagrar esta estipulação (“sempre que fosse


necessário ele faria demonstrações aos trabalhadores da empresa’’), sendo esta
uma obrigação acessória (= negócio pluricausal) e não principal (a obrigação
principal do sócio é a obrigação de entrada). As obrigações acessórias têm o
conteúdo que os sócios estipularem e seguem o regime do negócio que estiver
na sua base, independentemente de um regime que exista para estas. Neste
caso, trata-se de uma prestação de serviços.

Coloca-se a questão de saber como é que a sociedade renumera o sócio por esta
prestação. Independentemente dos lucros da sociedade, a prestação do sócio
tem de ser remunerada, mas existem limites.

Quando o sócio não cumpre esta obrigação, o incuprimento pode dar a


possibilidade, à sociedade, de exigir a sua prestação (via judicial), mas isso não
afectará a posição do sócio na sociedade, ou seja, não será excluído da
sociedade (o que acontece quando o sócio não realiza a sua obrigação de
entrada).

Se o sócio emprestar dinheiro à sociedade (segue o regime dos suprimentos,


apesar de ser uma obrigação acessória) o conteúdo pode seguir o regime dos
suprimentos ou das obrigações suplementares. É precivo ver qual o conteúdo
para ver qual o regime que seguirá.

Nas Sociedades por Quotas em cada momento sabe-se quem são os sócios da
sociedade, portante, sabe-se que tem de cumprir as obrigações acessórias. Nas
Sociedades Anónimas só se sabe quem são os sócios da sociedade no momento
da sua constituição, pelo que nestes casos nos termos do art. 299º/2 a lei obriga
a que as acções sejam nominadas quando: (1) o titular esteja obrigado a realizar
prestações acessórias à sociedade; (2) quando há restrições à transmissibilidade
das acções; e (3) quando as entradas são diferidas.

Note-se que as acções nominativas traduzem o facto de nelas constar o nome do


sócio; na transmissão têm que existir o endosso. Para além da entrega e do
endosso, tem de constar do livro de registo das acções da sociedade, sabendo-se
em cada momento quem é o sócio.

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HIPÓTESE PRÁTICA V

A sociedade Infosoft- Serviços e Produtos Informáticos, S.A. contém a


seguinte cláusulanos estatutos:

“Um- As acções da classe A deverão ser integralmente realizadas no prazo de


três anos.

Dois- As acções da classe B deverão ser integralmente realizadas no prazo de


cinco ano

Três- As entradas respeitantes às acções da classe C (acções ordinárias)


deverão ser
integralmente cumpridas em sete anos, conforme as disponibilidades dos
respectivos
titulares “

Admitindo que a sociedade foi constituída há cinco anos, e que os accionistas


serecusam a realizar o capital subscrito, o que deverá fazer a administração e
o quepoderá suceder aos accionistas que se recusarem a realizar o capital
subscrito.

No presente caso estamos face a uma Sociedade Anónima nos termos do art.
271º e ss, mais concretamente do art. 275º/1.

Quanto ao regime das Sociedades Anónimas, de acordo com a lei, as entradas


em dinheiro estipuladas no contrato de sociedade não podem ser diferidas por
um prazo superior a 5 anos (art. 285º/1). Na cláusula 3 da hipótese em análise
estipula-se que as acções em causa deverão ser cumpridas em 7 anos, pelo que
como a lei preve um maximo de 5 anos, estacláusula não seria possível. Assim
sendo, quando passassem 5 anos da celebração do contrato de sociedade, esta já
podia exigir as entradas dos sócios.
Note-se que as categorias de acções encontram-se consagradas no art. 302º e ss:
os direitos podem ser gerais ou especiais. Se só forem atribuídos direitos gerais
então as acções são ordinárias; quando existam direitos diferentes é preciso
formular uma categoria autónoma

Se os sócios se recusarem a realizar as suas entradas ao fim de 5 anos possui os


seguintes mecanismos a fim de ver a sua pretensão satisfeita:

 MECANISMO 1: Pela via judicial, até porque, muitas vezes, é feita a


entrada através de um título ou de uma livrança e, assim sendo, a
sociedade já tem um título executivo para intentar a acção.

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 MECANISMO 2: nos termos do art. 285º/2, sendo regra geral tanto para
as Sociedades Anónimas como para as Sociedades por Quotas (art. 204º),
o sócio só entra em mora quando a sociedade o interpela para o
cumprimento da obrigação. Esta interpelação tem de ser feita através de
um anúncio em que a sociedade fixa um prazo entre 30 a 60 dias para o
cumprimento, sendo que a partir do qual o sócio, se não tiver realizado a
sua prestação, entra em mora (é diferente de não ter realizado a sua
entrada em tempo devido), tendo consequências no seu estatuto na
sociedade: não poderá receber os lucros da sociedade nos termos do art.
27º/4, podendo existir compensação em relação aos lucros devidos de
um exercício, mas não quando o sócio tenha outro direito quanto aquela
sociedade nos termos do art. 27º/5. O sócio fica privado dos direitos aos
lucros (art. 21º/1 al. a)). Não tendo cumprido no prazo estipulado pela
sociedade, e consequentemente, estando o sócio em mora, coloca-se a
questão de saber o que poderá a sociedade fazer: nos termos do art.
285º/4 a sociedade concede ao sócio em mora um novo prazo para que
este efectue o pagamento da entrada acrescida dos juros, sob pena de
perder as suas acções para a sociedade (interpelação admonitória). Aqui,
passa a ser considerado um sócio remisso, ou seja, ou paga ou fica sujeito
a ser excluído. Note-se e relembrando os conhecimentos adquiridos em
Direito das Obrigações: remissão enquanto perdão de dívida e remição
enquanto resgatar. Passado o prazo sem cumprir a sociedade delibera a
sua exclusão, sendo precisos os três actos referidos para que venha a ser
excluido. Contudo, continuando a entrada por realizar o que é que a
sociedade poderá fazer para recuperar a parte do capital social que ainda
não foi realizada? Nos termos do art. 286º existe uma responsabilidade
solidária daqueles sócios que antecederam aquele na titularidade das
acções, pois não há responsabilidade solidária dos sócios nas Sociedades
Anónimas. Prevê-se, assim, as situações em que durante os 5 anos do
prazo do diferimento da entrada haja a transmissão das acções, pois não
pode ser a sociedade a ficar com o prejuízo. Se os antecessores não
tiverem património suficiente ou se não existirem antecessores procede-
se à venda das acções o que consubstancia um mecanismo extra judicial
(art. 286º/4). Atente-se ainda à hipótese consagrada no art. 286º/5

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SOCIEDADES COMERCIAIS – PROF. FRANCISCO BARONA FDUCP

Imagine-se agora que em vez de se tratar de uma Sociedade Anónima


estavamos face a uma Sociedade por Quotas: se o sócio não cumpriu as suas
entradas o que poderá a sociedade fazer?

MECANISMO 1: via judicial.

MECANISMO 2: nos termos do art. 203º/3 e 204º consagra-se uma via


interjudicial, ou seja o sócio só entra em mora depois de ser interpelado pela
sociedade. A sociedade exige a realização da entrada num determinado prazo
que pode variar entre 30 a 60 dias. Se o sócio pagar a sua entrada nesse prazo,
não existe qualquer problema. Se o sócio não realizar a sua entrada nesse prazo
a sociedade faz uma nova interpelação para pagar até mais 30 dias, sob pena de
ficar sujeito à exclusão e à perda total ou parcial da quota em favor da
sociedade tornando-se sócio remisso.

Nos termos do art. 251º al. c) e d) o sócio remisso não poderá votar na
deliberação assente na sua exclusão ou na perda total ou parcial da sua quota:
encontra-se impedido de votar, uma vez que existe um conflito de interesses.
Pode participar na Assembleia, mas não pode votar ou o seu voto não pode ser
compatiblizado.

Sendo o sócio excluido da sociedade coloca-se então a questão de saber como é


que a sociedade vê realizada aquela entrada que se encontra em falta. Para
responder a esta questão será necessário analisar o art. 205º e as soluções que ele
consagra quanto a este problema:

 SOLUÇÃO 1: poderá ocorrer a venda da quota do sócio excluído em


hasta pública

 Se alguém pagou o valor integral, não arremata o valor total e


ainda há parcela em divida ou não aparece ninguém o que poderá
a sociedade fazer? Há responsabilidade solidária dos antecessores
titulares da quota. Se tal, mesmo assim, não for o suficiente
demanda-se os outros sócios nos termos do art. 207º. A
responsabilidade solidária dos antecessores e dos demais sócios é
um meio complemantar. Sendo a responsabilidade solidária, os
outros sócios podem, a seguir, ir demandar, em via de regresso, o
sócio que não cumpriu a sua entrada. O que interessa é que a
sociedade não saia prejudicada. Note-se que tanto o art. 206º
(responsabilidade do sócio e dos anteriores titulares da quota) e o
art. 207º (responsabilidade dos outros sócios) são meios
complementares à venda da quota.

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SOCIEDADES COMERCIAIS – PROF. FRANCISCO BARONA FDUCP

 SOLUÇÃO 2: poderá ocorrer a venda da quota do sócio excluído de


outra forma que não em hasta pública, a terceiro mediante acordo do
sócio remisso

 SOLUÇÃO 3: poderá ocorrer a venda da quota do sócio excluído aos


outros sócios da sociedade.

HIPÓTESE PRÁTICA VI

Asdrúbal é o accionista maioritário da sociedade “Alto Douro SA” e, por isso,


oaccionista “Barcos e Companhia, Lda” propõe aos restantes accionistas que
se adopteuma medida que reforce a sua união contra aquele. Para tal, sugere
que David, Ema eFranscisca assumam a obrigação de se comportar no âmbito
da sociedade de acordocom as suas instruções.Dispõe ele de algum
mecanismo jurídico para realizar aquele objectivo?

No presente caso estamos no âmbito dos acordos parassociais (acordo celebrado


entre todos ou alguns sócios; acessoriedade entre o acordo e a vida societária)

Na prática, os acordos parassociais são reduzidos a escrito (formalidade as


probationem) e há casos particulares em que é mesmo obrigatório (instituições
financeiras e de crédito), mas fora destes últimos casos, os acordos podem ser
verbais.

Os acordos parassociais são secretros?

Algumas sociedades – instituições de crédito – têm de os registar junto do


Banco de Portugal.

Os acordos parassociais podem ser celebrados no momento da constituição da


sociedade ou mais tarde!

DIFERENÇA ENTRE UMA CLÁUSULA MERAMENTE ESTATUTÁRIA E


UMA CLÁUSULA INSERIDA NUM ACORDO PARASSOCIAL

 CLÁUSULA INSERIDA NUM ACORDO PARASSOCIAL: têm natureza


meramente obrigacional e vinculam apenas os sócios que as subscrevem.
Não se opõem à sociedade nem a terceiros. Podem ser celebrados antes
ou depois da constituição da sociedade. Nos termos do art. 17º/1 podem
ser celebrados por um ou todos os sócios e até por terceiros
(‘’intervenientes’’ doutrina: os acordos parassociais podem ser
celebrados por quem não é sócio, desde que exista a possibilidade de tais
intervenientes virem a figurar como sócios, ainda que tal aquisição não
esteja garantida!), mas só os sócios estão obrigados a não desrespeitar a
lei.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 24


SOCIEDADES COMERCIAIS – PROF. FRANCISCO BARONA FDUCP

Os sócios podem obrigar-se, perante terceiros, a uma determinada


conduta. Mas os terceiros têm de ter um real interesse na vida societária
– fala-se em sócios futuros. O seu interesse é, pois, garantir a sua posição
futura. Se algum dos sócios alienar a sua participação na sociedade,
quem a adquirir não fica, logo, submetido a este acordo. PROBLEMA:
limitação de intervenientes nos acordos parassociais

 CLÁUSULA MERAMENTE ESTATUTÁRIA: vinculam não só os sócios


mas tambem os gestores que integram a sociedade naquele momento e
ainda todos os que venham a integrar a sociedade.

 ≠ CLÁUSULA FORMALMENTE ESTATUTÁRIA: na forma, são


estatutárias, mas o seu conteúdo é parassocial. Estas só vinculam
os sujeitos que, naquele momento, integram a sociedade.
Exemplo: cláusula que a lei não admite – não vale como
estatutária, mas podem fazer valer como parassocial.

Nos termos do art. 17º/2 não se pode estipular sobre o exercício de funções da
administração ou da fiscalização, uma vez que o legislador quis garantir que os
órgãos de administração e fiscalização (art. 28º) sejam independentes face aos
interesses particulares dos sócios (o legislador quis impedir que através de um
acordo parassocial não se cumprissem um dos deveres fundamentais da
sociedade: deve-se prosseguir o interesse da sociedade  o que é o interesse
societário?). Não se bastou com a exigência de que prossigam o interesse social
(art. 64º) mas declara estas clásulas nulas. E seria nula uma cláusula que
estipulasse que os sócios se empenhariam (e não que garantiriam) em que os
administradores, por si nomeados iriam seguir uma determinada política por si
designada: isto não é uma obrigação de resultado (como seria se estivesse
estipulado que se obrigavam e, nesse caso, haveria incumprimento e o sócio
teria de indemnizar os outros), mas a ratio da previsão parece englobar estas
cláusulas: obrigação de meios também é proibida (exemplo: ‘’sócios
comprometem-se a desenvolver os seus melhores esforços para (…)’’ –
obrigação de meios que é proibida)

PROF. FRANCISCO BARONA: o art. 17º/2 parece querer proibir quer as


obrigações de resultado quer as obrigações de meios. Quer-se prevenir que não
exista pressão assumida contratualmente pelos sócios quanto a estas matérias
de modo a garantir a imparcialidade do órgão de administração e de
fiscalização.

Nos acordos parassociais só se pode disciplinar sobre o direito de voto? Não,


também se pode disciplinar sobre suprimentos e outras coisas!

Nos termos do art. 17º/3 al. c) as vantagens especiais não podem ser concedidas
pela sociedade, mas podem ser concedidas por outros sócios.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 25


SOCIEDADES COMERCIAIS – PROF. FRANCISCO BARONA FDUCP

Nos termos do art. 17º/3 al. a) e b) são nulos os acordos em que os sócios se
obrigam a votar de acordo com instruções da sociedade ou um dos seus órgãos
(exemplo: ‘’sócio A vincula-se a votar positivamente todas as propostas feitas
pela Administração ou pelo órgão de Fiscalização’’: cláusula nula). Mas se as
instruções forem de outro sócio não há problema. Caso contrário, haveria uma
inversão de distribuição de competência: a função das AG ficava esvaziada de
conteúdo – o legislador quer evitar que seja o órgão de administração a mandar
na sociedade e nos próprios sócios.

Nas SA a competência para deliberar sobre matérias de gestão é do órgão de


gestão, a não ser que este órgão peça aos sócios para deliberarem, caso
contrários essas decisões são inválidas. Nas SQ os sócios podem deliberar sobre
qualquer matéria. A AG é soberana.

Ou seja, os sócios devem fiscalizar as decisões. Exemplo: em matéria parassocial


que seria proibida em matéria estatutária. Nas SA trata-se de direitos especiais
que têm de ser atribuídas às acções, mas não aos sócios. Tornavam-se as
cláusulas meramente parassociais.

CONSEQUÊNCIA DA VIOLAÇÃO DE UMA CLÁUSULA PARASSOCIAL:


Responsabilidade Civil por Violação do Contratual. Nos termos do art. 17º/1
parte final não é susceptivel de impugnação.

No caso, se existisse um acordo parassocial e eles chegassem à altura de votar e


violassem o acordo parassocial qual era a competência? Pode haver execução
específica do acordo parassocial nos termos do art. 17º/1. No entanto, no caso
do voto, o que se trata é de sócios votar num sentido contrário àquilo que estava
previsto e não se poder pedir a anulação da votação. Ora, na execução
específica o que o tribunal vai fazer é substituir-se ao sócio que incumpre na
realização da prestação devida, ou seja, o tribunal teria de considerar que o
direito de voto seria exercido no sentido que estava estipulado no acordo
parassocial, por isso, a execução específica só faz sentido antes da deliberação
ter sido tomada ou em deliberações já tomadas, mas que ainda não produziram
efeitos. Se já votou não pode ser impugnado, mesmo havendo violação do
acordo parassocial. Uma declaração só é inválida se violar ou estatutos ou à lei.

A execução específica, a ser possível, exige que o acto em causa não seja
infungivel, o voto é fungivel, mas para que o art. 830º CC possa ter lugar só
podemos pensar em deliberações que ainda não foram tomadas e não
produziram os seus efeitos, fora disso já estamos numa área de impugnação de
uma acto societárfio que o art. 17º/1 não permite.Quanto às declarações de não
cumprimento ou que ainda não produziram efeitos existe uma divergência
doutrinal:

 PROF. GRAÇA TRIGO: admite tal;


 DOUTRINA EM GERAL: equivale à impugnação.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 26


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HIPÓTESE PRÁTICA VII

Sabendo que Alfredo, titular de uma participação de 25%, havia sido


designadogerente ao abrigo de um direito especial e que a maioria pretende
agora substitui-lopor um director profissional, refira o que podem os
maioritários fazer para lograrem oseu intento e que fundamento deverão
invocar.

Estamos perante a atribuição de um direito especial: o direito à gerência, nos


termos do art. 60º e 257º. O regime geral dos direitos epseciais consta do art. 24º
(qualquer sócio pode ser gerente, mas têm de ser nomeados em AG, mas
existem também direitos especiais consagrados no contrato).

De que forma é que outros sócios podiam substituir Alfredo na gerência?

Os direitos especiais têm de estar incluidos numa cláusula do contrato de


sociedade e só podem ser suprimidos e/ou limitados com a autorização do
próprio sócio. Se não houver consentimento do sócio a sua posição não pode ser
atacada e por isso tal deliberação é ineficaz, nos termos do art. 55º. Ou seja, para
eliminar o direito especial, além do acordo do sócio gerente é necesário que, em
AG e através de uma maioria de ¾ se alterem os estatutos na parte em que se
este direito se encontra previsto

Os direitos especiais podem ter natureza patrimonial e extra patrimonial. Nas


SQ, os direitos especiais têm natureza patrimonial e transmitem-se com a quota;
os direitos especiais extra patrimoniais podem ser também transmitidos mas
autonomamente. Nas SA, os direitos especiais são atribuidos a categorias de
acções.

A destituição do sócio gerente – este tipo de cargos são meramente destituídos,


mas já direitos especiais no caso, portanto, não pode ser assim senão estaríamos
a ir contra os estatutos – só se pode dar quando haja justa causa, tendo o sócio
cumprido todos os seus deveres, a posição do sócio gerente é inatacável e os
outros não podem destitui-lo.

Havendo justa causa (art. 257º/6 – enumeração exemplificativa) a sociedade


não pode dleiberar, sem mais, a destituição do gerente, porque esta tem de ser
judicial nos termos do nº3 do art. 257º

LEGITIMIDADE PARA REQUERER A DESTITUIÇÃO DO GERENTE – art.


257º:

 Em princípio, essa destituição tem de ser deliberada pela sociedade;


 E ser intentada contra o gerente;
 Mas o nº4 permite que sejam, também, os sócios, ou mesmo só um sócio

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 27


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Pode considerar-se que existe aqui uma alternativa? Ou seja, tanto a sociedade
como o sócio sozinha têm legitimidade para intentar a acção (sendo certo que o
nº3 do art. 257º funciona não só nos casos do direito especial à gerência)? A
questão coloca-se com alguma pertinência quando a sociedade tem 4 sócios e 3
deles nomeiam ‘’E’’ para gerente, mas depois 1 quer destitui-lo. Se for para AG,
os 3 votarão contra e só depois é que se propoe a acção (meio subsidiário), isto
se for o sócio que quer a destituição do agente – tem de passar primeiro pelo
crivo da sociedade ou pode passar directamente para o nº4 e intentar a acção? O
nº4 consagra um meio subsdiário ou alternativo? – QUERELA DOUTRINÁRIA

Segundo a JURISPRUDÊNCIA MAIORITÁRIAas faculdades do nº3 e nº4 do


art. 257º são faculdades alternativas. Mas a lógica das acções dos sócios contra a
sociedade é a de só se admitir que o sócio intente uma acção contra a sociedade
uma vez que estejam esgotadas as vias societárias para resolver o assunto.
Quando o sócio intenta a acção contra a sociedade, se o tribunal lhe der razão,
isto inverte a lógica das forças de poder dentro da sociedade, porque setemos a
maioria dos sócios a votar contra a destituição do gerente, também faz pouco
sentido que o sócio (que detém a minoria do capital) por uma via externa vá
conseguir o mesmo resultado – daí dever ser entendido como um meio
subsidiário.

Se fosse um meio subsidiário, o sócio só poderia intentar a acção se a AG o


decidisse intentar. Contudo, o nº4 do art. 257º não faz depender de nenhuma
deliberação da AG. A ideia de ser um meio subsidiário faz sentido em situações
em que não há maioria na sociedade para tomar essa resolução. Se houver
maioria já não se justifica que o sócio comece, logo, a agir sozinho – lógica do
sistema.

Através da letra do art. 257º/3 e 4 parecem ser alternativas. Mas é dificil que o
sócio consiga apurar se já justa causa – isto será feito pelo tribunal. Se a
resolução for tomada em AG, define-se logo e o sócio gerente ou impugna essa
resolução (porque também é sócio) ou discute-se em tribunal.

HIPÓTESE PRÁTICA VIII

Os sócios querem conceder a Camilo, titular de uma quota correspondente a


vintecinco porcento do capital social, um direito de voto duplo. Quid juris?

Nos termos do art. 250º/1, a regra geral do voto é a de que que conte um voto
por cada cêntimo do calor nominal da quota. Nos termos do art. 250º/2 a lei
consagra que pode ser concedido o voto duplo, ou seja, o voto vale o dobro. A
participação social para votar é una: segundo o PRINCÍPIO DA UNIDADE DE
VOTO é necessário votar com a participação toda.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 28


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Quando, nos termos do art. 250º/2, a lei fala em ‘’não correspondam a mais de 20%
do capital’’ como é que tal deve ser interpretado?

 PRIMEIRA INTERPRETAÇÃO: quando a lei estabelece o limite dos 20%


podemops dizer que são 20% do valor da quota e, portanto, se ele tem
uma quota de 25% a cláusula estatutária que previsso este duplo voto é
nula!

 SEGUNDA INTERPRETAÇÃO: é possivel dizer que se ele tem uma


quota de 25% vai-se contabiulizar o voto duplo até ao limite dos 20% e,
quanto ao excedente votaria normalmente.

 TERCEIRA INTERPRETAÇÃO (na sequência da segunda): para saber se


poderia haver redução era preciso saber qual teria sido a vontade das
partes. É a quem seriam atribuidos oss5%.

O problema mais delicado está em saber se esse limite dos 20% diz respeito à
quota ou aos votos. No limite, não se pode votar com mais de 20% do capital
social.

Se se disser que os 20% é um limite à quota, significa que se ele tem 20% pode
ser-lhe atribuido um voto duplo e votava com 40. Mas se se referirem aos votos
não se pode dar voto duplo, porque senão estaba a dar-se-lhe muito mais.

PROF. FRANCISCO BARONA: a lógica do preceito é de que os 20% se


referiram ao valor dos votos e não do capital social. Isto devido ao próprio teor
da letra da lei quando diz ‘’no total’’ (no total do voto duplo) e devido à razão
de ser da norma: atribuir maior direito de voto aos sócios com menor
participação social (apesar de não ter mais lucro, têm mais peso nas AG – SÓ
NAS SQ‼), mas não levar a uma alteração da estrutura decisória da sociedade.
Nas SA o voto é político (contam-se os que estão presentes). Assim, um sócio
com uma participação social pequena passa a ter um grande peso (se os que
têm muito capital social não aparecerem) – art. 348º.Em suma, no caso, a
cláusula estatutária que previsse tal seria nula, por violação de uma norma
imperativa. Não era possível atribuir-lhe o direito especial de voto duplo,
porque ele tinha mais de 20% logo não podia ser. Ele não podia votar com 45%
porque não se pode dividir a participação social.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 29


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HIPÓTESE PRÁTICA IX

A sociedade “ Belohorizonte, Lda” com capital social de € 250.000,00 contém


umacláusula nos estatutos que determina que “os lucros líquidos apurados
pelo balançosão aplicados nos seguintes termos: 10%, no mínimo, para o
fundo de reserva legal,enquanto não estiver preenchido ou for necessário
reintegrá-lo, e o restante paradistribuição entre os sócios ou qualquer
aplicação votada pela assembleia geral, a qualpoderá deliberar a absoluta não
distribuição de lucros.

a) Calcule o lucro distribuível e diga qual é o seu destino provável se se


apurar, nascontas de exercício de 2011, que o valor do património social
é de €350.000 eque houve um aumento patrinomial de €50.000
relativamente a 2010.

CAPITAL SOCIAL: é uma cifra numérica e há-de corresponder à soma das


participações sociais. Mas pode haver sócios de indústria e pode acontecer que
um sócio tenha dado como entrada um valor superior ao valor nominal da sua
entrada. É, pois, uma cifra numérica que serve como ponto de referência para
saber se a sociedade teve lucros ou perdas, porque é por referência ao capital
social que vamos apurar se a situação liquida da sociedade ficou acima ou
abaixo do património social.

PATRIMÓNIO SOCIAL: envolve um conjun to de relações jurídicas activas e


passivas que compoe o fundo da sociedade.

PATRIMÓNIO ILIQUIDO: fala-se, outras vezes, de património para designar o


chamado património bruto ou patrimonio iliquido. Tem-se em vista o conjunto
de direito avaliaveis em dinheiro, pertencentes a uma pessoa, abstraindo,
portanto, das obrigações.

PATRIMONIO LIQUIDO/SITUAÇÃO LIQUIDA/CAPITAL PRÓPRIO: o


património por só não mede a efectiva riqueza de uma empresa. A empresa
poderá estar a um passo da falência ou totalmente endividada, embora os
números do seu património sejam elevados. Na verdade, é necessário conhecer
a riqueza liquida da pessoa ou empresa: somamse os bens e os direitos e, desse
total, subtraem-se as obrigações. O resultado é a riqueza liquida, ou seja, a parte
que sobra do patrimonio para a pessoa ou empresa.

PATRIMÓNIO LIQUIDO = BENS + DIREITOS

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 30


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LUCRO DE EXERCÍCIO: diferença entre a situação liquida no inicio do


exercicio e o valor da situação liquida no final do exercicio. Normalmente, o
lucro do balanço coincide com o lucro do exercicio. Isso pode nao acontecer
quando haja prejuizos transitados de um exercicio para o outro ou quando haja
necessidade de satisfazer a reserva legal. Nesses casos, parte do lucro de
exercício tem necessariamente de ser afectado, o que é logo uma disparidade
entre o lucro de exercicio e do balanço, porque verdadeiramente o que é
distribuivel é o lucro do balanço.

LUCRO DE EXERCICIO ≠ LUCRO DISTRIBUIVEL

LUCRO DE BALANÇO: apura-se desde o inicio da actividade da sociedade até


uma determinada data – é uma fotografia da sociedade desde o momento da
sua constituição até ao momento actual; corresponde a vários exercícios. Tem
de se ter em atenção os exercícios passados  é este o lucro distribuivel!

LUCRO DISTRIBUIVEL: só haverá lucro distribuivel quando o activo da


sociedade for superior à cifra do capital social e da reserva social, sendo que
antes disso não poderá haver distribuição de quaisquer dividendos ou entrega
de quaiquer bens aos sócios. A tal se opoe o princípio da intangibilidade do
capital social, que apenas permite distirbuir o que não for preciso para cobrir
exercicios passados, integrar reservas legais ou o capital social.

TIPOS DE RESERVAS

i. RESERVAS LEGAIS: só podem ser utilizadas ou para cobrir prejuizos ou


para aumentar o capital;

ii. RESERVAS ESTATUTÁRIAS: são aquelas que os sócios prevêem nos


estatutos

iii. RESERVAS LICRES DE LUCROS: não são distribuidas aos sócios.

PRINCÍPIO DA INTANGIBILIDADE DO CAPITAL SOCIAL: significa que não


pode haver distribuição de bens aos sócios, quando em resultado dessa
distribuição a situaçao liquida da sociedade ficasse inferior. Trata-se de uma
garantia para os credores. Claro que a intangibilidade do capital social não
impede que a sociedade tenha perdas, mas isso os credores conseguem avaliar
pelas contas da sociedade; o que não está nas mãos dos credores é obrigar os
sócios a deliberar, a meio do ano, a distribuição de bens necessários para
compor o capital social e as reservas. O Capital Social funciona, assim, como
uma cifra de retenção.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 31


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É em função do capital social que se define a estrutura de poder dentro da


sociedade, porque nas relações entre os sócios o peso de cada um deles define-
se em função da percentagem que cada um dele stem no capital social: serve
para definir a estrutura de forças dentro da sociedade.

Como são afectados os lucros?

i. PREJUÍZOS
ii. RESERVAS
iii. DISTRIBUIR AOS SÓCIOS (art. 31º a 33º)

Para serem distribuidos os lucros tem de existir uma deliberação dos sócios (em
AG – anual), mas não é logo aqui que se faz a distribuição. Todos os sócios têm
direito aos lucros nos termos do art. 21º/1 al. a) e 22º. Não se pode estabelecer
que só participem nos lucros ou que só participem nas perdas porque tal
consubstancia o pacto leonino, proibido nos termos do art. 22º/3. Contudo,
pode-se graduar em que percentagem é que cada sócio participa nos lucros e
nas perdas.

Os sócios deliberam, anualmente, em AG, a distribuição dos lucros. Passa a


chamar-se dividendos (quantia em dinheiro que o sócio pode pedir à sociedade
conforme o exercício desse ano). Forma-se, com a deliberação, na esfera de cada
sócio, um direito de crédito do sócio contra a sociedade. Trata-se de um direito
individual, logo imune às deliberações sociais. Isto quer dizer que a sociedade
não poderia depois deliberar não distribuir: direito extra corporativo. O sócio
fica com o direito e pode exigir à sociedade que cumpra o direito de crédito.
Esta terá um prazo para o fazer.

Quando a sociedade se constitui a sua cifra é 0 (activo- passivo =0). Mas quando
começa a desenvolver a sua actividade, o valor do seu património pode ir
variando, podendo acontecer existirem perdas. Estas perdas transitam para o
ano seguinte e são reflectidas nas contas do ano seguinte. O lucro do exercício
só respeita aquele ano, mas este não será distribuível porque existem
perdas/prejuízos do ano anterior que transitaram e que vão ser cobertos pelo
lucros de exercício deste ano. Deste modo, se ainda sobrar alguma coisa é que
há lucro distribuível.

ERRO: quando há lucro de exercício há lucro distribuível!

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 32


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EXEMPLO PRÁTICO

Imagine-se que uma sociedade no momento da sua constituição tem um


capital de 10 mil euros. No fim do primeiro ano de exercício tem uma situação
liquida de 7 mil euros. Qual foi o resultado do exercício?

No primeiro ano existem prejuízos de 3 mil euros, pelo que não há lucros
distribuíveis. A situação liquida é inferior ao momento do capital social: art.
33º/1.

Imagine-se que no ano 2 existe uma situação liquida de 8 mil euros? Há ou


não lucro do exercício?

A diferença entre a situação liquida no inicio do ano (7mil euros) e a situação


liquida no fim do ano (8mil euros) faz com que a sociedade tenha um lucro do
exercício de mil euros. Contudo, de acordo com as regras do art. 32º/1 os mil
euros são usados para cobrir prejuízos do ano anterior que eram de 3 mil euros.
Usando os mil euros, já só existem prejuízos no valor de 2 mil euros. Ainda não
há lucro distribuível

No ano 3 a sociedade tem uma situação liquida de 11 mil euros. Há lucro de


exercício?

Sim porque a diferença entre a situação liquida no inicio do ano (8 mil) e a


situação liquida no fim do ano (11 mil). Fica-se com mil, tendo em consideração
que dois mil foram para os prejuízos. Desses mil euros, 5% dos lucros do
exercício são para a reserva legal ate que esta perfaça 20% do capital social.
Deste modo, aos mil euros retira-se 50 euros (5%) o que significa que já só se
tem 950 que corresponde ao lucro distribuível.Os 950 euros são também o lucro
do balanço: tendo em conta a situação da sociedade desde o momento da sua
constituição so tem isto.


Basicamente é assim..

CAPITAL SOCIAL: 10. 000 euros


SITUAÇÃO LIQUIDA: 0

PRIMEITO ANO DE EXERCÍCIO: situação liquida de 7 mil euros

 O capital social é superior


 Nesse ano teve prejuizos no valor de 3 mil euros

(subtrai ao capital social e eventuais reservas)

SEGUNDO ANO: 8 mil euros – lucro de exercicio – 2 mil euros de prejuizos

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 33


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 Art. 33º/1: não existe lucro distribuivel; é necessário cobrir os prejuizos!


TERCEIRO ANO: 11 mil euros – lucro de exercicio= 3 mil euros

 2 mil euros para cobrir os prejuizos transitados (sobram mil euros)


 5% para a reserva legal (protecção de prejuizos futuros), nos termos do
art. 218º, 295º e 296º.


Como são calculados os 5%?

Existem duas vias:

i. Primeiro cobre-se a reserva legal: sendo a reserva legal correspondente a


20% do capital social, se assim estiver já nada mais é preciso fazer; se não
tiver é necessário retirar todos os anos 5% do lucro de exercicio.

ii. Primeiro cobrem-se os prejuizos: se se cobrirem primeiro os prejuizos,


neste exemplo, aos 3 mil euros retiravam-se os 2mil euros. Sendo o valor
da reserva de 50 euros existiriam 950 euros para serem distribuidos.

A reserva legal, que tem um limite de 20%, tendo de ser integrada anualmente
com 5% do resultado do exercício (até atingir os 20%).

RESULTADOS TRANSITADOS: são os valores vindos do ano anterior.

Para se saber se existirem lucros é necessário fazer a diferença entre o capital


social e o património liquido: se for inferior ao capital social temos perdas; se
for superior temos lucros!

Os sócios, na AG anual, aprovam as contas e é nessas contas que está qual é o


lucro do exercicio e qual é o lucro do balanço. Agora se há uma regra que diz
que metade do lucro é distribuivel e a sociedade chegar e disser que nao quer
distribuir o lucro, o que acontece?

JURISPRUDÊNCIA E PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA: a cláusula


contratual em que vem previsto o direito ao lucro tem de ser sempre uma
clausula para melhor, que preveja uma condiçao melhor e mais favoravel, pois
os art. 217º e 294º estabelecem imperativos/patamares minimos.

Em que circunstancia é que esta regra dos 50% dos lucros distribuiveis pode ser
afastada? Ninguem discute que metade dos lucros distribuiveis são
distribuidos. Para o PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA, tendo por base o art.
21º/1 al. a), o art. 217º e o art. 294º, 50% é um imperativo minimo e os sócios,
quer atraves de uma clausula estatutaria, quer atraves de deliberaçao de
maioria de ¾, não podem estabelecer um montante inferior.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 34


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Se existir uma deliberação que diz que não sao distribuiveis no ano X os lucros?
Por exemplo, atraves de uma maioria de ¾ é deliberado distribuir lucros abaixo
de ¾, nao existindo clausula nos estatutos em contrario. Quid iuris?

 Acção em tribunal: deliberação anulada com efeitos retroactivos. Mas se


a sociedade tiver uma razao justificativa (de acordo com o interesse da
sociedade) tal não é inválido, apesar de não haver maioria de ¾.

 Caso a deliberação seja anulada com efeitos retroactivos é convocada


uma nova AG. Se o sócio maioritario votar contra o que pode o sócio
minoritario fazer?

i. Em primeiro lugar pede a anulação parcial da deliberação, em


relação à sua parte;

ii. Em segundo lugar, requer a execução específica contra a


sociedade da parte que lhe competiria nos lucros. O sócio
maioritario nao ira receber a sua parte dos lucros. Estes ficam na
sociedade. E pode pedi-los mais tarde? Sim, num exercicio
posterior, mediante deliberação nesse sentido.


Se se pedisse a anulação da deliberação não se resolveria nada, porque o sócio
maioritário voltaria a votar da mesma maneira. A execução específica tambem
não resolve, porque não se pode obrigar a receber quem não quer e, como há
sócios que não querem a distribuição dos lucros, não se lhes pode impor um
beneficio que não querem. Por outro lado, tambem não se pode impedir aquele
sque querem receber os dividendos de os receberem – a regra supletiva
permite-o.

É necessário pedir uma anulação parcial da deliberação social e,


simultaneamente, tem de se pedir ao tribunal a execução especifica na parcela
que cabe ao sócio que quer os lucros, ou seja, só quanto à parte que lhe
competia nos lucros distribuiveis.

Esta sentença é constituiva, porque os sócios têm o direito ao lucro, mas têm-no
em abstracto. Enquanto direito abstracto, este só se concretiza mediante uma
deliberação societária e, só aí, se forma na esfera jurídica individual do sócio um
direito de crédito ao dividendo perante a sociedade.

Esta é a única forma de resolver o problema: não pode ser a execução específica
na sua globalidade.

PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA: considera que a cláusula nos estatutos só


pode ser para melhor e, por isso, deliberações destas seriam nulas por violarem
o art. 217º e 294º.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 35


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PARTE DA DOUTRINA: há uma directriz no ordenamento de que, em todas as


sociedades, a regra é a do funcionamento por maioria e, por isso, se a maioria
deliberar num certo sentido, deverá ser esse o sentido a adoptar.

O único incoveniente quando à solução adoptada é o de arranjar maiorias


suficientes e dar um destino diferente aos lucros e criar situações diferentes dos
sócios perante a sociedade: uns já receberam parte do capital e outros não. Além
disso, há quem diga que pode ser mais dificil nao distribuir os tais 50% dos
lucros do que alterar um contrato de sociedade (aquilo que foi a base do acordo
de todos os sócios).

Qual a lógica de tudo isto? Normalmente os sócios maioritários impediam a


distribuição de lucros. Mas assim tambem não recebiam.. Contudo, na maioria
dos casos, os sócios maioritários desempenham funções de gestão e eram por
isso remunerados. Para evitar que os sócios minoritários tivessem de intentar
uma acção de anulação da deliberação abusiva, o legislador estabeleceu o
patamar minimo dos 50%.

ANÁLISE DO ART. 217º E 294º

 ART. 217º: os 50% dos lucros distribuiveis consubstanciam um minimo


razoavel, havendo lucros. Trata-se de um limiar da sobrevivencia do
sócio na sociedade.

 ART. 294º: quando se fala em clausula contratual o seu conteudo pode


respeitar ao estabelecimento de distribuiçao de mais de 50% dos lucros. E
pode estabelecer a necessidade de uma maioria mais reforçada para a
distribuição dos lucros? Não, uma vez que tal dificulda a tomada de
decisão e paralisa a sociedade. Mas já seria possivel estabelecer uma
maioria reforçada para nao distribuir a parte dos 50% que podia ou não
distribuir.

Exposta a teoria apliquemos agora tal ao CASO

CAPITAL SOCIAL: 250. 000 EUROS


PATRIMÓNIO SOCIAL: 350. 000 EUROS (2011)

AUMENTO= 50.000 – SITUAÇÃO LIQUIDA DO ANO DE 2010

2010 = 50. 000 EUROS; 10% (quanto à reserva legal: a lei estabelece 5% mas os
sócios podem estabelecer mais) = 5. 000 EUROS

45. 000 EUROS = LUCRO DISTRIBUIVEL E DE BALANÇO

50. 000 EUROS = LUCRO DO EXERCÍCIO

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 36


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A situação liquida no inicio do ano era de 300. 000 euros e no final do ano
passou a ser de 350. 000 euros, logo, o lucro de exercício é de 50. 000 e o lucro de
balanço é de 45. 000 e só este é distribuivel, sendo que a sociedade esta obrigada
a distribuir metade desse valor, ou seja. 22. 500 euros.

A cláusula é válida? A cláusula é inovadora, nos termos em que preve 10% para
a reserva legal, mas no que diz respeito à segunda parte não diz nada, porque a
maioria deliberativa limita-se a dizer aquilo que já resulta do art. 217º. Assim
sendo, será valida se estiver cumprida a maioria deliberativa de ¾ do capital
social.

A deliberação para a distribuição dos lucros é atraves de maioria simples. Não


se reune. Os sócios que queiram receber têm 30 dias para intenar acção de
anulação parcial da deliberação (respeitante à parte que lhes compete) e
requerer a execução específica. É preciso que o tribunal se substitua à
sociedade!

INFORMAÇÕES ADICIONAIS (QUE JÁ NÃO SE PRENDEM COM A


RESOLUÇÃO DO CASO)

A distribuição dos lucros necessita de uma deliberação em AG anual (que terá


que ocorrer até 3 meses após o fim do ano de exercício – 31 de Março). Nas
sociedades que consolidam contas (nos grupos societários além da apresentação
das contas individuais é necessário apresentar as contas delas com as
sociedades em que participam) o prazo é até 31 de Maio para a realização da
AG anual: o órgão de fiscalização elabora o relatório de contas da sociedade,
para este ser aprovado. Com a aprovação das contas existe uma segunda
deliberação (a primeira deliberação respeita à aprovação do relatório de contas)
quanto ao destino a dar aos lucros.

A deliberação dos sócios quanto aos lucros é importante porque enquanto o


lucro estiver restringido aquilo que consta das contas (destas resulta um lucro
de exercício distribuível), mas isso não faz gerar na esfera jurídica dos sócios
um direito a exigir a sociedade a distribuição dos lucros. É necessário uma
deliberação de distribuição: direito ao dividendo.

DIREITO AO DIVIDENDO: direito que se radica na esfera jurídica dos sócios,


permitindo-lhe exigir da sociedade uma determinada quantia pecuniária.

A deliberação de distribuição ira quantificar a favor de cada socio o seu direito


ao dividendo, fazendo nascer na esfera jurídica de cada socio o direito de exigir
da sociedade tal. É um direito de crédito que só nasce na esfera jurídica dos
sócios com a deliberação. Depois de tal, a sociedade não poderá revogar a
deliberação de distribuição: o direito ao dividendo, tal como o direito de
preferência, são direitos extra corporativos, ou seja, estão para lá da esfera de

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 37


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eficácia das deliberações; como são direitos individuais que se radicam na


esfera jurídica de cada sócio é como se fosse um direito pertencente a terceiro.

Será admissível uma cláusula estatutária que diga que..?

i. não são distribuíveis lucros:

ii. a sociedade só é obrigada a distribuir 25% dos lucros distribuíveis:

iii. os sócios podem não distribuir lucros desde que seja tomado por
deliberação com maioria simples:

Nos termos do art. 22º/3 consagra-se a proibição do pacto leonino; mas a lei
admite que possa ser alterada a regra da proporcionalidade nos termos do art.
22º/1 (no contrato de sociedade podem-se consagrar regras diferentes da
proporcionalidade quanto aos lucros e às perdas).

Quando no art. 217º e 294º se fala em ‘’salvo cláusula em contrário’’ uma vez
que não se está a referir às convenções para regular a proporção dos lucros (tal
resulta do art. 22º) está a referir-se a que? Admitindo que o art. 217º e 294º são
regras imperativas, os sócios terão de distribuir 50% sendo que quanto aos
restantes 50% poderá tomar uma deliberação quanto à sua distribuição ou não
por maioria simples. Os 50% são um mínimo obrigatório ou não? PROF.
PAULO OLAVO DA CUNHA: 50% são um mínimo imperativo, não sendo
possível por cláusula estatutária consagrar-se um valor inferior a este sob pena
de nulidade.

E pode-se alterar a maioria necessária para não distribuir? Isto é, tendo como
mínimo obrigatório uma deliberação tomada por ¾ pode-se consagrar que a
sociedade poderá não distribuir os lucros por maioria simples (diminuição do
número de votos necessários para aprovação de uma deliberação de não
distribuição)? A maioria de ¾ prevista no art. 217º e 294º é uma maioria mais
exigente do que aquela que é necessária para alterar os estatutos!! Em Portugal,
a maior parte das sociedades nos seus estatutos tem uma cláusula que afirma
‘’O destino a dar aos lucros será através de uma deliberação tomada por maioria
simples’’.

Quer a regra dos 50% quer a regra dos ¾, para quem vê o art. 217º e 294º como
normas de protecção dos sócios, são regras imperativas.

Adoptando a tese do PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA não se poderá nos


estatutos consagrar uma cláusula quer com valor inferior aos 50% quer com
valor inferiora ¾ dos votos correspondentes ao capital social.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 38


SOCIEDADES COMERCIAIS – PROF. FRANCISCO BARONA FDUCP

Aqueles que querem que seja distribuído parte do lucro distribuível vão pedir a
anulação parcial da deliberação na medida necessária para que o seu direito seja
satisfeito. Mas mesmo assim o problema não esta resolvido: anulando
parcialmente a deliberação, a única coisa que se vai conseguir é a destruição
retroactiva daquela deliberação, continuando a faltar o pressuposto da
deliberação de distribuição. É através da execução especifica que o tribunal se
vai substituir as partes e aprovar a deliberação de distribuição. Tratava-se de
um direito que não esteva a ser cumprido devido as maiorias que a lei exige. De
outra forma, os sócios ficariam numa situação de impasse e o desígnio da lei
ficava sem efeito pratico útil.

Se os sócios deliberarem não distribuírem o que irá suceder a esses lucros? Ficavam
retidos na sociedade e integravam as reservas livres.

PRÉMIO DE EMISSÃO AGIO: Quantia que a sociedade vai receber sem ter
de dar nada em contrapartida, sendo que o ágio dá origem às reservas especiais.

As reservas legais servem para cobrir prejuízos e para incorporarem o aumento


de capital estando cobertas pelo Princípio da Intangibilidade do Capital Social.
As reservas legais tem um limite de 20% (mínimo); sendo superior a 20% o
excesso, na perspectiva do PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA, tem o caracter
de reservas livres, sendo que estas podem ser distribuídas aos sócios.

Note-se que o art. 31º, 32º e 33º não se referem apenas aos dividendos, mas sim
de distribuição de quaisquer meios aos sócios. Nada impede que a sociedade
delibere distribuir bens que pertenciam à sociedade aos sócios. Havendo
reservas livres na sociedade estas podem ser distribuídas aos sócios desde que
se respeite o Princípio da Intangibilidade.

b) Diga quais as medidas que os sócios devem e podem adoptar se das


contas deexercício de 2011 resultar, inversamente, que o valor
patrimonial diminuiu para€125.000.

A lei admite que as sociedades possam ter perdas no exercício da sua


actividade: o problema que surge é o de saber até que montante é que pode
haver.

A partir do momento em que as perdas resultem em metade do valor do capital


social, há um alerta para os credores e é necessário tomar medida para os
proteger. O que se pode fazer a partir daqui?

i. Os sócios podem aumentar o capital social atraves de entradas para


cobertura do capital: o problema é que os sócios estão a por dinheiro
dentro da sociedade e vai ser todo consumido pelas paerdas. Os sócios
só se sentem compelidos a colocar dinheiro na sociedade a titulo de
aumento de capital se esses fundos servirem para fazer investimentos;

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 39


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ii. Ir às reservas, para aumentar o capital;

iii. Diminuir o capital social;

iv. Dissover a sociedade.

Note-se que todas as possibilidades têm de contar da convocatória.

O art. 35º/3 consagra o regime formal quando a situação patrimonial desceu


para ou abaixo de ½ do capital social. Segundo esta norma, que já foi mais
rigida na sua formulação, havendo alturas em que as cominações eram muito
mais fortes, o que é facto é que o legislador, hoje, adoptou uma solução um
quanto ambigua, porque impoe ao orgao de gestao o dever de convocar uma
AG para informar os sócios que se encontra perdido metade do capital social e
para serem tomadas medidas para solucionar esse problema. Tem de haver
uma convocatória da reunião, para que os sócios se possam pôr a par dos
assunstos e decidir o que vão fazer.

Se os sócios nada fizerem, não existe uma verdadeira sanção no cso deles não
deliberarem nenhuma das soluções. O art. 35º só surtiria efeito se os sócios
fossem obrigados a votar uma destas soluções (antigamente, uma das
consequências era a dissolução da sociedade). Não é isso que sucede, porque os
sócios são livres de tomar ou não tomas as soluções apontadas na convocatória.
Por exemplo, aumentar o capital social para cobrir prejuizos é uma solução que,
normalmente, os sócios não querem. O art. 35º nao é um artigo facil de
implementar quanto à solução que aponta, porque o legislador teve consciencia
da situaçao actual: quase todas as sociedades estão assim (isto significa que há
pouca garantia para os credores).

É necessário atender ao art. 35º/3 al. c). Antes falava-se em entradas em


dinheiro: o que o legislador queria era que os sócios ao realizarem essas
contribuições resolvessem o problema da falta de capital e liquidez da
sociedade. Deste modo, actualmente pode-se fazer por entradas que não sejam
em dinheiro. Quando se fala em entradas em espécie o socio pode entrar com
um imóvel e depois a sociedade aliena. Muitas vezes os sócios querem fazer
entradas em espécie com créditos que tem sobre a sociedade – do ponto de vista
patrimonial nada muda para a sociedade porque não há um aumento dos bens
dela. Resolve o problema do ponto de vista contablistico mas não do ponto de
vista patrimonial. A al. c) visa resolver o problema patrimonial.

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Note-se que o art. 35º/3 al. c) não consubstancia um aumento de capital, uma
vez que estes envolvem a alteração do contrato de sociedade e existem a
realização de várias entradas. Em contrapartida, é aumentada a sua quota ou o
numero de acções (aumento da participação social). Não é isto que está em
causa na al. c): nesta, os sócios fazem contribuições para a sociedade, para
cobrir prjeuizos, sem que eles tenham como contrapartida o aumento da sua
participação social. É uma contribuição gratuita e definitiva (não pode, mais
tarde, ser reembolsados). Ou seja, no caso não estamos face a um aumento de
capital porque os sócios não vao receber um aumento da sua participação social
nem se aumenta a cifra de tal. Mas também não são participações acessórias ou
suplementares porque não são reembolsáveis. São uma figura hibrica porque se
os sócios as realizarem é quase como que fundo peridido porque não recebem
nada,

Quando a situação liquida esta abaixo de ½ do capital social, aumentar o capital


social não dá jeito aos sócios. O que constumam fazer designa-se como
operação harmónico: reduzir o capital social até ao valor da situação liquida e
só depois deliberarem o aumento do capital social. Assim, já não está a acobrir
prjeuizos. É possuivel reduzir até 0, antes de aumentar o capital social? Questão
aberta!

HIPÓTESE PRÁTICA X

A “Sempreamealhar, Lda”, com um capital social de 300.000 euros,


apurou,relativamente ao ano social de 2007, um lucro de exercício de 150.000
euros,simultaneamente um lucro de balanço, encontrando-se a reserva legal
preenchida.Por 60% dos votos correspondentes ao capital social, esse valor foi
afectado ao reforçoda reserva legal e de uma reserva livre já existente. O sócio
Bernardo, detentor de 30%do capital, votou contra, na parte relativa à reserva
livre. Porém, dez dias após adeliberação, alienou a sua quota a Carlos.

a) O que pode Bernardo e/ou Carlos fazer contra a deliberação tomada?

Quando se fala em lucro de balanço tal poderá suceder em duas situações: ou a


sociedade não deu prejuizo, ou, dando, já foram cobertos. O lucro de balanço é
sempre igual ao lucro distirbuivel? Pode não ser: se nos outros anos a sociedade
teve lucros distribuiveis, mas que nao foram distribuidos tais ficam na conta de
reserva. Podem existir lucros acumulados. Quanto a estes lucros, cumprindo as
regras do art. 31º, 32º e 33º, eles poderão ser distribuidos a qualques momentos.

A sociedade tinha lucro distribuivel e, por deliberação votada por 60%, decide
afectar à reserva legal e livre e por isso não distribui os dividendos. O bernardo
votou contra a afectação à reserva livre e 10 dias depois a alienou a quota
Carlos.

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O art. 217º diz que ele tem direito a metade do lucro, mas tem direito quanto?
No caso nao houve deliberação de distribuição e a questão que se coloca é se
este art. 217º atribui este direito a todos os cósios, uma vez aprovadas as contas
ou não? Os sócios têm direito ao lucro do balanço que se apura com a
aprovação das contas. Radica-se ou não na esfera jurídica dos sócios o direito à
distribuição de lucros. A exigência de deliberaçao encontra-se no art. 31º/1
CSC. Nos casos em que não há deliberação, o sócio tem de colocar o assunto em
discussão e tem que haver uma deliberação a dizer que não vão deliberar sobre
isso, o que equivale a uma decisão de não distribuição de lucros: ou seja, gtem
de haver uma deliberação de distribuição ou não distribuição de lucros.

Quando há uma deliberação de não distribuição de lucros, o sócio que pretende


receber a sua parte nos lucros vai ter de pedir uma anulação parcial e pedir,
simultaneamente, a execução especifica. Note-se, contudo, que se o sócio tivesse
votado favoravelmente a deliberação de não distribuição de lucros não teria
legitimidade para tacar a deliberação. A participação social de Bernardo era de
30%, portanto, teria direito a 30% de 75.000 euros.

Bernardo pode, tambem, pedir uma providência cautelar de suspensão dos


efeitos da deliberação e que produza efeitos a partir do momento em que a
sociedade é citada. Consequentemente, a sociedade fica impedida de praticar
qualquer acto com ela relacionada até à decisão em primeira instância.

No caso em análise, o sujeito vendeu a quota. As participações sociais podem


ser transmitidas e negociadas cum dividendos ou ex dividendos.

i. Se se diz que o direito ao dividendo resulta da aprovação de contas e faz


parte do status do sócio, então quando se transmitem as acções,
transmite-se já com direito ao dividendo;

ii. Se, pelo contrário, se disser que só há direito ao dividendo com a


deliberação, então o direito ao dividendo vai pertencer aquele que à data
da deliberação detiver a quota – neste caso, Bernardo. O direito ao
dividendo radicou-se na sua esfera jurídica pessoal: por isso é que ele, se
quiser transmitir o direito ao dividendo já dleiberado mas ainda não
pago, a sociedade vai pagar os dividendos àquele que era sócio à data da
deliberação e por isso é que ele vende a quota já de uma forma
diminuida sem os dividendos.

O dividendo faz parte dos direitos sociais extra corporativos. Uma vez
radicados na esfera juridica individual dos sócios, estes direitos tornam-se
inatacáveis por parte da sociedadem, o que significa que se a sociedade no dia X
fizesse uma distribuição de dividendos e 5 dias depois fizesse outra deliberação
que viesse revogar a distribuição de dividendos, os dividendos distribuidos já
não seriam afectados.

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A partir do momento em que a sociedade delibera (é obrigatório que a AG se


realize até dia 31 de Março, excepto no caso especial em que deverá ocorrer até
Maio) a distribuição dos dividendos, o sócio fica com direito de crédito perante
a sociedade (o direito vence-se em 30 dias, nos termos do art. 217º). A sociedade
não poderá ir contra a deliberação que já fora tomada.

Nada impede que Bernado ceda este direito ao Carlos perante a sociedade, mas
se eles nada tiverem dito, temos de ir pelas regras gerais e então: o sujeito que
teria direito ao dividendo seria o Bernardo, porque era ele o sócio na altura em
que foi deliberada a não distribuição dos dividendos. Bernardo podia impugnar
a deliberação. Nos termos do art. 159º/2, Beranrdo teria o prazo de 30 dias a
partir da data da deliberação para a impugnar. Se Bernado tivesse proposto a
acção, com a venda, transmitia-se a sua titularidade a Carlos – isto, claro, se
tivesse vendido cum dividendo. Se, ao contrário, Bernardo tivesse vendido ex
dividendo, Carlos já não teria legitimidade, nem interesse, para estar na acção.

b) Suponha que as quotas não se encontravam totalmente liberadas. A


quem podea sociedade exigir a entrada em falta?

O sócio, apesar de não ter cumprido a sua entrada, só entra em mora depois de
ser interpelado para cumprir e não o fazer. Só estando em mora é que podia
ver-lhe recusada a distribuição de lucros, nos termos do art. 27º/4. Podia haver
compensação. Não pagando e sendo interpelado tornava-se sócio remisso.

A sociedade podia optar por uma de duas vias:

 VIA1: Via judicial através de uma acção executiva;

 VIA2: pela via extrajudicial

i. PRIMEIRA NOTIFICAÇÃO: art. 204º/1 e ss


ii. SEGUNDA NOTIFICAÇÃO: art. 206º
iii. EXCLUSÃO DO SÓCIO E VENDA DA QUOTA. Se o dineheiro
da venda não der para cobrir a entrada atende-se ao art. 207º

Se a sociedade não conseguisse recuperar a totalidade do valor haveria


responsabilidade solidária dos demais sócios e dos antecessores na titularidade
da quota, que neste caso era o Bernardo.

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HIPÓTESE PRÁTICA XI

Numa sociedade cotada na Euronext de Lisboa:

a) Poderá o Conselho de Administração Executivo deliberar o aumento de


capital por entradas em dinheiro até € 15.000.000,00? E a mudança da
sede social,deslocando-a de Matosinhos para Lisboa?

Estamos no âmbito do modelo de administração germânico (art. 431º). Neste, só


pode haver deliberações de aumento de cpaital por entradas em dinheiro
decididas pelo órgão de administração, se houver uma cláusula estatutária
nesse sentido. Essa cláusula tem de fixar o plafond máximo do aumento (art.
456º) e nela tem tambem de estar previsto o prazo, vaso contrário, assume-se
que será de 5 anos e depois caduca. Se nada for dito, só podem emitir acções
ordinárias. Se pretendessem emitir acções especiais teriam de especificá-lo.

No modelo germânico, o Conselho Geral de Supervisão tem natureza mista,


porque é um órgão de supervisão, mas também lhe são atribuidos alguns
poderes de gestão.

Há uma remissão do art. 431º/3 para o art. 406º/1 (modelo clássico): o aumento
de capital envolve sempre uma alteração do contrato de sociedade, por isso é
que o art. 87º vem previsto a proposito das alterações ao contrato. Estão, só
podia ser deliberado o aumento se estivesse prevista uma clausula estaturária
atributiva de competência ao conselho de administração executivo.

Quanto á sede, se não fosse proibido pelo contrato de sociedade, a


administração podia alterar a sede para qualquer porto do território nacional,
nos termos do art. 12º/2.

b) Poderá a assembleia geral anual convocada exclusivamente para


aprovar o relatório de gestão, o balanço e contas do exercício anterior, e
respectiva aplicação de resultados, deliberar também sobre:

i. a destituição de um dos administradores, por não comparecer há


mais de um ano em qualquer reunião da administração;

Nos termos do art. 410º/1, o conselho de administração reúne sempre que for
convocado pelo presidente ou por outros dois administrados, devendo reunir,
salvo estipulação contratual em diverso, uma vez por ano.

De cada reunião resultam actas – saber se esteve presente ou não. Mas como é
que se sabe porque é que faltou? Quando se falta como se sabe se tal é
justificada?

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 44


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Os estatutos devem fixar o número de faltas que se pode dar, mas dentro
destas podem existir faltas justificadas ou injustificadas, sendo o órgão de
administração (e não aos sócios) a quem incumbe declarar qual a qualificação
de tal falta – art. 393º/1.

Se as faltas são justificadas não existe justa causa. Os estatutos consagram qual
o número de faltas justificadas que se pode dar por exercício.

Existindo justa causa para a destituição do administrador (falta injustificada) o


administrador será destituído sem direito a indemnização (mas ele pode
sempre contestar pela via judicial); se for uma destituição sem justa causa o
administrador terá de ser indemnizado nos termos do art. 403º/5.

O ponto da ordem de trabalhos pode servir para fazer uma apreciação global
do órgão de administração ou de fiscalização, mas se a esta apreciação realizada
anualmente não for atribuída um voto de louvor tal significa que poderá ser
destituída.

Se o órgão de administração tivesse declarado a falta definitiva (=falta


injustificada) de um administrador, o que é que sucederia? Que poderes tem o
conselho de administrador? Perda de mandato por parte do administrador.
Como é que será substituído o administrador? Existe a chamada dos suplentes
nos termos do art. 393º/3.

Existe duas formas de substituição: ou através do contrato de sociedade (art.


390º/5 e 391º) ou através de listas propostas, vencendo aquela que tenha mais
votos.

Não existindo suplentes nas listas o que se faz de seguida? Pode ser cooptado
um determinado terceiro para exercer funções no conselho de administração. O
acto de cooptação só se consolida se existir uma deliberação por parte da
administração nesse sentido de a tornar definitiva. Se não existirem suplentes
nem se tiver praticado qualquer acto de cooptação terá de existir uma
nomeação ad hoc. Só em última ratio é que se irá recorrer à nomeação judicial.

Ou seja, o órgão de administração, se o seu membro não aparecer, poderá


declarar que existe uma falta definitiva – ultrapassou o limite de faltas
permitidas pelos estatutos (também se aplica se o administrador estiver em
coma) – e tal terá de ser substituido nos termos do art. 393º/3 al. a):

 os órgãos são eleitos atraves de listas, que normalmente preveem


suplentes;

 não existindo suplentes, existe a designação de um terceiro feito pelos


seus pares e tem de ser ratificada na AG seguinte – COOPTAÇÃO.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 45


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ii. a distribuição antecipada de dividendos referentes ao exercício


em curso. Em caso afirmativo, pronuncie-se sobre o
quorumconstitutivo e o deliberativo necessários para a formação
dessas deliberações.

Quanto à distribuição antecipada de dividendos, o Conselho de Administração


faz um balanço intercalar a fim de saber qual a situação actual da sociedade.

O conteúdo da AG consagrado no art. 376º é um conteúdo mínimo, nada


impedindo que os sócios requeiram a inclusão de outros pontos na ordem de
trabalho.

Nos termos do art. 297º, o adiantamento sobre lucros no decurso do exercício é


da competência exclusiva do conselho de administração ou do conselho de
administração executivo, com o consentimento do conselho fiscal, da comissão
de auditoria ou do conselho geral e de supervisão (nº1 al. a)). Só se poderá
distribuir aquilo que for distribuivel, isto é, só se a situação liquida for superior
ao capital social mais a reserva legal. Não pode haver prejuizo nem obrigação
de constituir reservas (não pode colocar em causa o Princípio da
Intangibilidade). Trata-se de uma antecipação de lucros do próprio exercício,
sendo que a acontecer deverá constar do relatório de lucros.

Na antecipação de dividendos, esta competência não será deferida à assembleia


geral, sendo uma matéria que nem pode ser deliberada pelos sócios. A lei
impede os lucros ficcionado, ou seja pretende evitar que não sejam distribuídos
no decurso do ano bens aos sócios que consoante os lucros apurados nessa data
nunca poderiam ser distribuídos.

CASO: a competência pertencia órgão de administração e não à AG, pelo que


não podia. Faz sentido que pertença ao órgão de administração, porque não
havendo já contas, cabe-lhe apurar se os meios de que dispoe são suficientes
para a continuação da actividade a prosseguir pela sociedade ou se já pode
distribuir aos sócios. Trata-se de uma actividade de gestão.

Daqui resultam as restrições impostas pela lei à distribuição antecipada de


dividendos – REQUISITOS OBRIGATÓRIOS QUANTO À DISTRIBUIÇÃO
ANTECIPADA DE DIVIDENDOS (ART. 297º)

i. balanço intercalar à data (pelo menos 30 dias de antecedência)

ii. certificado pelo ROC (que demonstre que aquela data há lucros de
exercício distribuíveis)

iii. um só adiantamento no decurso de cada exercício e sempre na


segunda metada, ou seja a partir de Junho (visa evitar que logo
em Janeiro se realizem distribuições antecipadas de dividendos)

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Quem disse isto é o órgão de administração, uma vez que é este quem faz a
avaliação do ano, e além disso porque se de acordo com a logica de distribuição
de competência nas SA entre aquilo que pode ser conhecida pelos sócios e as
matérias que são da exclusiva competência da administração, as matérias da
gestão competem a esta última.

Na logica de divisão de competência a matéria de distribuição é sempre da


competência do órgão de gestão. Tal como, mesmo na AG anual (fim do
exercício), aquilo que é dado a decidir aos sócios é uma proposta do conselho
de administração (propõe uma determinação aplicação de resultados, sem
prejuízo do patamar mínimo estabelecido pela lei quanto a 50% dos lucros
distribuíveis). O impulso para a distribuição é sempre da competência do órgão
de administração.

Para que exista a distribuição antecipada de dividendos é ainda necessário a


existência de uma cláusula nos estatutos que preveja tal. Havendo esta, tanto o
Conselho como a Administração Geral podem deliberar sobre isto? A
competência é cumulativa? A AG tem competência? Nos termos do art. 31º/1
diz-se ‘’salvo os casos de distribuição antecipada de lucros’’, pelo que a
competência é exclusiva do Conselho de Administração.

QUORUM – é necessário verificar quando a lei exige quorum constitutivo e, só


depois, é necessário verificar qual o quorum deliberativo!

 QUORUM CONSTITUTIVO: número de sócios que devem estar


presentes numa AG para que esta se constitua. Se esse número não
estiver reunido não poderá existir uma AG validamente constituida.

 QUORUM DELIBERATIVO: após a constituição da AG é necessário


analisar as maiorias necessárias para a tomada de decisões. Consiste no
número de sócios necessários para que uma decisão seja validamente
aprovada. Pressupõe que a AG já se encontre constituída e a funcionar,
sendo que para que as deliberações possam ser aprovadas é necessário
um certo número de votos, que são apurados em função do capital social
(maioria qualificada) ou em função dos presentes (neste caso, poderá
representar uma acção infíma do capital social)

QUORUM NAS SA

REGRA – ART. 383º/1: a regra é a de que não existe quorum constitutivo! O


quorum deliberativo é a maioria simples, ou seja, pela maioria dos votos
presentes que manifestaram a sua decisão, ou seja, a abstenção não conta 
voto político.

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EXEPÇÃO – ART. 383º/2: para que a AG se forme é necessario que estajam


presentes accionistas que representem 1/3 do capital social (33%). Tendo
quorum constitutivo, a AG constitui-se, sendo necessário de seguida necessário
analisar qual o quorum deliberativo. Atendendo ao art. 383º/3 é necessária a
aprovação de 2/3 dos votos emitidos, sendo que neste caso a lei exige maioria
qualificada. Por exemplo, se estiver 75% do capital representado é necessário
2/3 dos votos emitidos (o que é diferente dos votos presentes).

Nos termos do art. 294º:

 QUORUM CONSTITUTIVO: têm de estar presentes ¾ dos cotos


correspondentes ao capital social;

 QUORUM DELIBERATIVO: têm de haver maioria de ¾ dos votos


correspondentes ao capital social.

O art. 294º constitui uma excepção, sendo as regras gerais as constantes no art.
383º e 386º.

CONVOCATÓRIA: dá a conhecer aos sócios que irá ocorrer uma AG e convida-


los a participar. Dá a informação necessária (hora, local, data, matéria a
deliberar). Em regra, é na sede a não ser que esta não tenha condições. Na
convocação determina-se logo que se não for possível reunir todos os sócios
nova hora e local para a noss Assembleia (no mesmo dia ou depois) – tal visa
evitar que se realize uma nova convocatória, com o prazo exigido; a lei não quer
Assembleias surpresa: os sócios têm de se preparar; as informações
preparatórias da AG têm de ser dadas em determinado prazo. O quorum
constitutivo funciona para a primeira convocatória, mas já não funciona para a
segunda. Se assim não fosse podia ser que nunca fosse possível reunir o
quorum constitutivo necessário e a sociedade podia paralisar. Assim, torna-se
um ónus para os sócios aparecer. Convem-lhes aparecer, uma vez que há
pontos da matéria a deliberar. Antes de votar é necessário discutir todas as
propostas feitas. É dada a palavra aos proponentes e aos demais sócios que
queiram falar. Durante esta fase, faz-se a persuasão dos sócios quanto ao seu
sentido de voto. Se os sócios não estiverem presentes, não só não podem expor
os seus pontos de vista, como tem de se sujeitar ao que for decidido pelos
outros sócios. Se o sócio não conseguir à hora fixada pode passar uma carta de
recomendação, sendo que esta pode ser genérica ou estipular ‘’tim tim por tim
tim’’ o que se pretende e, neste caso, até pode ser passada a alguém que não seja
da sua confiança uma vez que este se encontra vinculado.

Os sócios, numa Assembleia, podem discutir questões jurídicas de validade de


deliberações. Quem faz o controlo da legalidade é o Presidente da Mesa da AG,
sendo que se existirem deliberações inválidas os accionistas são avisados por
este. Depois, ou retiram a deliberação ou, se insistirem, já sabem que esta pode
ser invalidada.

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HIPÓTESE PRÁTICA XII

Suponha que os estatutos da sociedade cotada Refricer, S.A. contém a


seguinte cláusula e João, accionista, pretende saber se pode delegar a
representação em assembleia geral num advogado?

Artigo Décimo

Um. Só poderão estar presentes na assembleia geral os accionistas que sejam


titulares ou representem, pelo menos, um voto, sem prejuízo do direito legal de
agrupamento.

Quatro. Os accionistas só se poderão fazer representar por outros accionistas,


por herdeiros legitimários ou por administradores.

Sete. A cada quinhentas acções corresponde um voto.

I - SA

Quem pode ir à AG? Eu só posso passar uma carta de representação a alguém


se eu lá puder estar! De acordo com os estatutos desta sociedade, é preciso ter
500 acções para ter 1 voto. Se não tiver, não tenho direito de voto, mas posso
estar presente e participar – art. 379º. Contudo, os estatutos podem limitar a
própria participação. E os estatutos das SA ppodem dizer que 1 voto equivale
equivale a 500 acções? Nos termos do art. 384º/1, a regra geral é a que cada
acção corresponde um voto.

Nos termos do art. 379º/1 ‘’Têm direito de estar presentes na AG (…)os accionistas
que (…) tiverem direito a, pelo menos, um voto’’. Uma coisa é participar na
discussão dos pontos na ordem de trabalho e outra coisa é votar.

Atendendo ao art. 384º/2 al. a) não se pode dizer que só tem um voto quem
reunir 15 mil euros do capital social, uma vez que o limite máximo é mil euros.
Na al. b) do nº2 do art. 284º o sentido é a dispersão do capital social.

Por exemplo: 1 sócio = 100; 2 sócio = 200; 3 sócio = 300  podem participar!
Mas podem juntar-se. Assim têm 600 acções, o que lhes dá direito a 1 voto. As
100 acções a mais não contam para nada.

O direito legal de agrupamento encontra-se consagrado no art. 379º e visa


proteger as minorias. Quando existam sócios que não tenham o número de
acções necessárias para votar podem-se agrupar nos termos do art. 379º/5.

Se um sócio tiver 500 acções e três sócios tiverem no total 300 acções podem
juntar-se? Sim, podem agrupar-se quer para fazer o valor do voto minimo, quer
para ter uma maioria.

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II – SQ

Nos termos do art. 248º/5 nunca se pode impedir a participação dos sócios. Há
algum caso em que um sócio de uma SQ não tenha direito de voto? Só se estiver
impedido, nos termos do art. 251º.

CASO

Neste caso, atendendo ao art. 380º, nas SA quando um sócio não pode estar
presente pode ser designado um representante (através de uma carta
mandadeira) para estar presente na AG. REQUISITOS

i. representação livre: o sócio pode fazer-se representar por qualquer


pessoa;

ii. o sócio terá de escrever a carta mandadeira que irá conter a sua
assinatura e no instrumento de representante o sócio que nomeia o seu
representante poderá fazer uma de duas coisas (1) carta branca; (2)
vinculação de voto (ex: para o ponto 1 votará a favor; no ponto 2 votará
contra, etc.).

No caso diz-se que se trata de uma sociedade cotada. Ora, sociedade cotada ou
sociedade em mercado regulamentado levanta a questão de saber o que é uma
bolsa. A lei não diz bolsa cotada, diz em mercado regulamentado. Há a bolsa de
Lisboa, a Bolsa de derivados do Porto. Tudo começou com as bolsas agricolas.
Como funcionam estes mercados? Estas bolsas? De quem são? A Bolsa de
Lisboa chama-se Euronext. Têm uma base privada, mas o Estado estipulou
requisitos que se devem dar para garantir a respeitabilidade e a seriedade.
Foram criados mecanismos e organismos de fiscalização. Para participar nestes
mercados podsso faze-lo como produtor ou consumidor. Para aceder a estes
mercados é preciso pagar joias.

Nas SA o mercado primário é o das emissões. É aqui que vêm as sociedades que
querem aumentar o capital social atraves da subscrição. E o mercado
secundário assenta nas subscrições dos valores mobiliários, é neste que se
transaccionam. Aqui geram-se cotações feitas pela entidade gestora do mercado
regulado. Há que atendem ao CVM e aos regulamentos da propria Euronext.
Há varios mercados regulamentados e é por isso que a lei usa esta terminologia.
A vantagem, para uma sociedade, é atrair mais capital. Isto porque em regra o
valor de mercado tende a reproduzir o valor real.

O PSI 20 é o indice comporto pelas cotações das vinte maiores sociedades que
estão a actuar em mercado regulamentado.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 50


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HIPÓTESE PRÁTICA XIII

António e João pretendem alterar o contrato de sociedade no sentido de este


passar a autorizar a realização de prestações acessórias. Qual a maioria
necessária para esta deliberação? Pedro, titular de 20% das acções e que votará
contra, ficará abrangido por esta alteração?

Nas SA, atendendo ao art. 343º exige-se uma maioria de ¾ na primeira


convocatória para se constituir a AG. Quanto ao quorum deliberativo este
assenta em 2/3 dos valores emitidos.

Atedendo ao art. 86º/2 existe o problema da ineficácia: estabelece-se uma


protecção dos sócios. O contrato pode ser alterado, mas essas alterações, ao
fazerem mais exigências, exigem que os sócios as aprovem, para que sejam
eficazes face a esses. Não aprovando a deliberação esta deliberação é ineficaz
face a Pedro. Nos termos do art. 86º/1 o efeito retroactivo apenas poderá ser
face aos sócios já existentes e não face a terceiros.

A convocatória teria de indicar qual a cláusula que sofreria alterações e a nova


redacção (do artigo já existente, a alterar ou eliminar), sendo que se não o
fizesse assim teria de se dizer na convocatória que este novo tecto está a
disponibilidade dos sócios na sede da sociedade.

Atendendo ao art. 377º/3 a regra é a da publicação no jornal ou site do MP, mas


o contrato de sociedade pode exigir forma mais solene. Mas quando as acções
sejam tidas nominativas pode ser atraves de correio registado ou correio
electronico com recibo automático, mas só se os sócios tiverem consentido
nisso.

Quanto aos prazos, para a publicação é de 1 mes, sendo que se for por correio
electronico ou carta registada será de 21 dias. Se for uma sociedade aberta é
necessário atender ao art. 21º-B CVM e o prazo será de 21 dias.

Admitindo que a convocatória foi publica e se um sócio quiser introduzir novos


assuntos o prazo e o modo de o fazer encontra-se consagrado no art. 378º/1, 2 e
3, ou seja atraves de requerimento feito ao presidente da mesa da assembleia até
5 dias depois da publicação. Até 5 dias (carta registada) ou 10 dias (publicação)
terá de ser dado conhecimento aos outros sócios.

Só os sócios detentores de, pelo menos, 5% do capital social podem fazer isso
nos termos do art. 378º/1 que remete para o art. 375º/2. Nas Sociedades
Anónimas Abertas, atedendo ao CVM, será a partir de 2% do capital social: faz
sentido, porque as acções estão muito mais distribuidas. Estes limites visam
impedir que qualquer sócio possa usar este mecanismo só para atrasar.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 51


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HIPÓTESE PRÁTICA XIV

Na AG (anual), os accionistas deliberaram revogar a decisão do Conselho de


Administração de vender à sociedade Alfamar – Exploração Marítima, SA a
antiga sede social, impondo que a mesma fosse vendida a uma sociedade
concorrente da Alfamar. Quid juris?

A regra encontra-se expressa no art. 373º: a AG só delibera sobre matérias que


lhe estejam atribuidas por força da lei ou contrato de sociedade e que não sejam
da competência de outros órgãos. Em princípio, sobre matérias de gestão (art.
406º) delibera o conselho de administração. Contudo, se este pedir à AG já pode
ser. Mas só se o solicitar. O contrato de sociedade não pode estipular de outra
forma – norma imperativa.

Nas SQ a AG pode deliberar sobre todas as matérias.

HIPÓTESE PRÁTICA XV

Do contrato da sociedade «Monte dos Vendavais – Exploração de Energia


Eólica, S.A.»constam as seguintes cláusulas:

Artigo Quarto

1. O capital social é de € 100.000.000, encontrando-se dividido em acções


tituladas e nominativas com o valor nominal de € 1 (um euro) cada, e está
realizado em sessenta por cento.

2. As acções da classe A deverão ser integralmente realizadas no prazo de dois


anos.

3. As entradas respeitantes às acções da classe B deverão ser integralmente


cumpridas em dez anos, conforme as disponibilidades dos respectivos
titulares  cláusula inválida nos termos do art. 285º, uma vez que o prazo
máximo é de 5anos.

Artigo Sexto

Os accionistas António e Pedro têm direito a receber, anualmente, juros de


5% sobre o valor do capital investido na sociedade  ‘’juros de 5% ao ano’’
trata-se de uma obrigação fixa. Independentemente da situação líquida da
sociedade. Isto poderia por em causa o Princípio da Intangibilidade do Capital
Social. Há que olhar aos lucros. Nem ao lucro tem o sócio direito. A lei só
estabelece que havendo lucro distribuivel este tem direito a 50%. Nos termos do
art. 21º/2 a cláusula é nula.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 52


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Artigo Oitavo

As acções da classe B estão oneradas com um direito de preferência a favor


das acções da classe A e de Pedro  nas SA, os direitos especiais não podem
ser atribuidos a pessoas, mas apenas a acções. Deste modo, a cláusula é nula.
Mas pode ter um valor sucedâno: formalmente é uma cláusula estatutária, mas
materialmente é uma clasula parassocial. Assim, em vez de vincular todos os
sócios, presentes e futuros, só vincula os sócios presentes. Nos termos do art.
328º consagra-se o Princípio da Livre Transmissibilidade enquanto regra. Mas
pode haver limitações: os titulos das acções têm de conter a menção a esses
direitos especiais (caso assim não aconteça são inoponiveis a adquirentes de boa
fé); têm de ser acções nominativas (como é que estas se transmitem? Por
endosso!) e o titulo tem de ser transmitido com o endosso e tem de se pedir o
averbamento à sociedade.

Artigo Décimo

A cada mil acções corresponde um voto  atendendo ao art. 384º/1 a regra é a


que cada acção corresponde um voto, mas atendendo ao art. 384º/2 al. b) a
cláusula seria válida.

Artigo Décimo Primeiro

A sociedade é administrada e representada por um único administrador 


atendendo ao art. 290º só podia ter um administrador único se o capital social
fosse inferior a 200 mil euros. Como não era o caso, a cláusula seria nula!

1. Sabendo que o conteúdo do contrato de sociedade «Monte dos Vendavais,


S.A.»(MV, SA), para além das cláusulas acima transcritas, não diverge das
soluções previstas nas regras dispositivas que integram o Código das
Sociedades Comerciais, contendo apenas menções obrigatórias, e que os
títulos (das acções) não contemplam qualquer restrição à sua
transmissibilidade, pronuncie-se sobre a validade das cláusulas enunciadas e,
caso nem todas sejam válidas, explique oque sucede ao contrato e às
cláusulas.

Ver a análise de cada cláusula realizada anteriormente.

2. Admitindo que o artigo oitavo não tem um conteúdo legalmente


admissível, proponha uma redacção (dessa cláusula) que proporcione o
mesmo resultado e seja legal. Imagine ainda que António e João, titulares de
acções da classe B, pretendem deliberar uma alteração do contrato que
extinga o direito depreferência a que as suas acções estão sujeitas. Refira a
maioria, o quórum e outros requisitos que, eventualmente, sejam necessários
para a formação dessa deliberação.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 53


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Quanto ao quorum constitutivo tal teria de ser de 1/3 do capital social; quanto
ao quorum deliberativo teria de ser de 2/3 do capital social.

Nos termos do art. 24º os direitos especiais só podem ser eliminados com o
consentimento dos sócios afectados. O consentimento é dado em assembleia
geral (art. 389º/2) nos termos do art. 24º/6.

Na AG têm de estar presentes os accionistas com e sem direito especial para


alterar o contrato de sociedade. Na assembleia especial estão presentes as
categorias de acções (se existirem e só as que estão em causa – aquelas que serão
afectadas!) para decidir do consentimento dado por esse sócios: se estes não
derem o seu consentimento, a deliberação da AG é ineficaz nos termos do art.
55º.

3. João vende as suas acções a novo accionista (Felisberto) sem dar preferência
a Pedro. Quid iuris?

Só existe responsabilidade obrigacional. A violação de cláusulas limitadores


não determina a invalidade da transmissão. Esta é valida se foram respeitados
os modos de transmissão das acções nominativas. Mas a sociedade pode opor
ao adquirnete a cláusula violada – não produzirá efeitos. Pode-se recusar o
registo tanto nas escriturais como nas tituladas e o adquirente não pode exercer
os direitos inerentes à participação social.

A cláusula de preferência consta do contrato de sociedade com forma legal e


registado; esta transcrita nos titulos ou nas contas de registo das acções; pode se
rinvocada em processo executivo ou de liquidação do patrimonio. Assim tem
eficácia erga omnes.

CLÁUSULAS ESTATUTÁRIAS NORMATIVAS: são em tudo equivalenete a


um pacto de preferencia e se não oponiveis a qualquer terceiro – direitos reais –
coisas corporeas, mas acções não são coisas corporeas, mas como se asemelham
a um pacto de preferencia com eficacia erga omnes pode intentar acção de
preferencia.

HIPÓTESE PRÁTICA XVII

Do contrato da sociedade Movitel – Telecomunicações Móveis, S.A. constam as


seguintes cláusulas:

Artigo Sexto

A transmissão de acções nominativas está sujeita ao consentimento do


Presidente do Conselho de Administração.

Maria Luísa Lobo – 2012/2013 Page 54


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Nos termos do art. 328º consagra-se o Princípio da Livre Transmissibilidade,


mas existem limitações: o que é preciso para que está limitação conste dos
estatutos?

 Tem de estar nos estatutos a necessidade de consentimento

 Qual o órgão competente para dar o consentimento – se nada se disser é


a AG

 Art. 329º/3 - A lei estabelece como prazo maximo 60 dias, mas podem
estipular prazo inferior. O silencio vale como consentimento

 Art. 329º/3 al. c) – se a sociedade não der o seu consentimento:

 Negócios onerosos: a sociedade tem de apresentar as condições de


preço iguais às do terceiro;

 Negócios gratuitos: faz-se pelo valor real, sendo que depois o


donatário entende-se com o doador.

Artigo Décimo

Com a morte de qualquer dos sócios, a Sociedade pode amortizar as


respectivas acçõespelo seu valor nominal.

Interpretação da expressão ‘’factos’’ no art. 347º/3: o que a lei quer é que sejam
factos que escapem à vontade da sociedade. A lei quer que figura no contrato
de sociedade as situações concretas que podem conduzir à amortização, não
pode por simples e livre vontade da sociedade. Tem de ser factos exteriores à
vontade da sociedade. Se o contrato de sociedade não previr tal situação a
sociedade não pode proceder à amortização compulsiva.

No caso, fazia todo o sentido consagrar o artigo decimo com fim a evitar que
com a morte do sócio, os seus herdeiros legitimários assumissem a posição
deste. Com tal previsto no contrato de sociedade, a sociedade poderá proceder
à amortização compulsiva.
Mas pode-se em vida estabelecer um acordo sobre os destinos dos bens após a
morte? Não, tal consubstancia um pacto sucessório, sendo que estes só são
admitidos nas convenções antenupciais.

No caso na verdade não existe um pacto sucessório, uma vez que o que eles
estão a estipular é que após a morte de alguns dos sócios a sociedade pode
amortizar, ou seja com a morte do sócio as acções transmitem-se para os
herdeiros. Os herdeiros ou legatários sucedem nos bens, sendo que o problema
da amortização só surge posteriormente.

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A sociedade é obrigada a amortizar ou tem a faculdade de amortizar? A forma


como o art. 10º estava redigido parece transparecer que tal consubstanciava
uma faculdade, sendo ela que iria decidir se queria impedir a entrada de
terceiros.

Quanto ao valor da amortização importa desde já dizer que quando se falava


que a sociedade podia amortizar pelo valor nominal tal levantava um
problema: os herdeiros vão ficar privados de um valor patrimonial que
constava da herança e esse valor/bem que vai ser extinto tem um determinado
valor que pode corresponder ou não ao valor nominal. Para evitar que estejam a
ser ‘’sugados’’ bens da herança, a contrapartida que a sociedade deveria pagar
aos herdeiros deveria ser o valor real das acções e não o valor nominal
problema que resulta da conjugação do direito societário com o direito das
sucessões.

Em suma: podemos estar face a um pacto sucessório, ou seja, com a morte do


sócio, o herdeiros passam a ser sócios. Estes estatutos permitem que a sociedade
amortize, mas não impede a transmissibilidade (se assim fosse, a cláusula seria
nula nos termos do art. 328º e ss, além de ser um pacto sucessório). Isto faz-se
para evitar que terceiros entrem para a sociedade. Em caso de penhor de acções
tambem pode existir interesse em amortizar as acções. Em casos de divórcio e
insolvência tambem.

Quanto à amortização de acções é necessário atender ao art. 346º e 347º: à


partida extinguindo-se as acções deveria haver redução do capital social, mas
parece que a lei estipulou de forma diferente.

ANÁLISE DO ART. 346º: não há redução de capital social, porque não há


extinção de acções. Há é modificação dos direitos das acções. Aqui diminuem-
se os direitos das acções – acções diminuidas. Há a diminuição do valor
nominal de determinadas acções, tendo de haver reembolso dos accionistas,
portanto, do ponto de vista patrimonial, vão ficar diminuidas. Só quinham dos
valores patrimoniais numa parte. Mas a participação social não se extingue
completamente. São acções de fruição: formam uma categoria de acções
especiais: já não poque se trata de um privilégio e sim, porque estão
diminuidas. Do que se trata é de uma modificação da participação social.
ANÁLISE DO ART. 347º: aqui tem de haver extinção da participação social. A
redução do capital social dá-se na exacta medida da extinção das acções com
um certo valor nominal. A lei impõe duas formas:

i. AMORTIZAÇÃO VOLUNTÁRIA: com consentimento do titular das


acções

ii. AMORTIZAÇÃO COMPULSIVA: sem o consentimento ou mesmo


contra a vontade do titular das acçções  é complicado. Se não fosse, os
sócios maioritários poderiam deliberar a extinção da participação social

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dos sócios minoritarios sem mais. Nos termos do art. 347º/3 o contrato
deve fixar os factos em concreto para que a amortização seja possível,
uma vezque a lei quer impedir que algum órgão da sociedade pudesse,
em concreto, decidir que seria naquele caso que se poderia amortizar.
Por exemplo, não poderia deduzir que se podia se houvesse uma maioria
de ¾. Exemplo de casos em que se poderia: se morrer um sócio; se o
sócio for declarado insolvente; se houver penhora das acções. Tem de ser
um facto objectivo e relacionado com a participação social. Apesar os
factos estarem presentes nos estatutos, podem estar enquanto obrigação
da sociedade ou enquanto faculdade.

Como consequência da amortização, a sociedade terá de pgar uma


contrapartida – se assim não fosse, tratar-se-ia de uma expropriação.

Artigo Décimo Primeiro

A sociedade pode comprar acções próprias até a um máximo de metade do


seu capital social, mediante deliberação do respectivo Conselho de
Administração.

É necessário atender ao art. 316º, sendo que não é possível subscrever-se. E


adquirir, pode? Pode adquirir mas é necessário atender aos limites consagrados
na lei, nomeadamente ao art. 317º/2. Mas porque é que a sociedade não pode
deter e adquirir acções próprias? Tal deve-se ao facto de se a sociedade comprar
acções próprias terá de as comprar aos sócios, e as acções tem um valor definido
em função do património social, ou seja não tem um valor de per si. Se a
sociedade comprar acções aos sócios esta a utilizar bens do seu património para
adquirir acções que não tem um valor autónomo, sendo que estas acções no
limite não valem nada. Tal consubstanciava um perigo para os credores porque
estes iriam ver o património social a ser reduzido a zero. Além disso, tal
envolvia uma redução encoberta do capital social. Deste modo, a lei não admite
sem limitações a aquisição de acções próprias. Nas sociedade em mercado
regulamentado ao comprar acções própria faria variar a cotação das quotas:
comprando muito gera-se um efeito especulativo, porque a sociedade está-se a
desfazer do seu património, fazendo o valor da sociedade subir.

Quanto ao risco especulativo o problema assenta no facto de se a sociedade


aparecer a comprar acções poderá criar a ilusão de que se esta a tratar de uma
sociedade financeira e patrimonialmente solida, quando na verdade é uma
sociedade que se esta a esvaziar do ponto de vista patrimonial. Deste modo, não
se admite sem mais que uma sociedade possa aparecer no mercado a comprar
as acções sem qualquer limite.

Nos termos do art. 317º/2 a sociedade poderá adquirir licitamente acções


próprias até 10% do seu capital (está-se a iliduir os credores uma vez que estas
acções valem zero, há menos património), desde que a sociedade crie uma

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reserva especial em montante equivalente ao valor pago pelas acções (art. 324/1
al. b)). Tal visa atenuar o problema dos credores (se a sociedade quiser adquirir
acções no valor de 100 mil euros tem de ter disponível 200 mil euros: 100 mil
euros para pagar acções e mais 100 mil euros para a reserva). Mas de qualquer
forma

A competência quer para a aquisição quer para alienação em regra cabe à AG


(visa garantir as posições dos sócios), sendo que só excepcionalmente não o
será. Existe o prazo de 3 anos para vender as acções ou, se tiverem sido
adquiridas de forma integral o prazo é de 1ano.

STAR OPTIONS: no final do ano dá aos trabalhadores acções como forma de


remuneração. Como é que ganham? Podem vender e receber o seu valor ou
podem tornar-se sócios. Adquirir acções próprias é vantajoso, por exemplo, nos
casos de fusões.

CASO: não podia chegar aos 230% e a competência não era do Conselho de
Administração mas sim da AG.

HIPÓTESE PRÁTICA XIX

Do contrato de sociedade por quotas «Vamosávida – Organização de Festas e


Eventos,Lda», com o capital social de € 20.000,00, constam as seguintes
cláusulas:

A cessão de quotas é livre entre sócios, encontrando-se sujeita à preferência eao


consentimento da sociedade sempre que for efectuada em favor de terceiros.

Imagine que Anacleto titular de uma quota de € 7.500,00 pretende transmitir


essaquota ao seu filho varão e que os demais sócios se opõem, deliberando
em assembleiageral exercer o direito de preferência pelo respectivo valor
nominal. Quid juris?

Nos termos do art. 228º/2 consagra-se que a sucessão a favor de ascendentes ou


descendentes (forma de transmissão mortis causa – depende de simples escrito
susceptivel de substituição nos termos do art. 4º; tendo a sociedade dado o seu
consentimento há que proceder ao registo da cessão (art. 242º-A) e à
publicidade necessária) é livre, a não ser que o contrato diga outra coisa (art.
229º/3), como é o caso da hipotese.

O único caso em que a sucessão é completamente livre é entre os sócios; quanto


é a favor de terceiros fica sujeita a preferência ou a consentimento da sociedade
(nº2). A sociedade, ao não consentir, pode adquirir ou amortizar as quotas.

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Querendo amortizar terá de pagar uma contrapartida em condição iguais ou


então o valor real.

O problema assenta em saber se esse direito de preferência deve ser execido


pelo valor real ou não. Uma coisa é a sociedade dizer que quer preferir, mas
quer preferir por qual valor? O único problema que a lei resolve à falta de
consentimento da sociedade.

A sociedade tem de adquirir pelo menos preço que ela iria ser adquirida por
terceiro (se for onerosa) ou tem de oferecer o valor real da quota (se for
gratuita):

i. Se a sociedade não faz esta oferta, a cessão torna-se livre

ii. Se a sociedade faz aquela oferta e o sócio aceita  AMORTIZAÇÃO


VOLUNTÁRIA

iii. Se a sociedade faz aquela oferta e o sócio não aceita  AMORTIZAÇÃO


COMPULSIVA

Nos termos do art. 228º/3, é necessário que a transmissão seja comunicada à


sociedade e que esta a reconheça no prazo de 60 dias (art. 230º/4) tácita ou
expressamente para que se forne eficaz para com a sociedade, excepto se se
tratar de cessão entre conjuges (quanto é bem comum – art. 8º), ascendentes ou
entre sócios. Quanto ao prazo que a sociedade tem para fazer esta proposta,
uma vez que a lei nada diz, atende-se ao art. 230º/4 e tem-se entendido que o
prazo deve ser o mesmo que se encontra estipulado para que a sociedade
consinta (ou seja, 60 dias). Além disso é necessário que se registe a cessão nos
termos do art. 242º-A.

Cessão por Quotas  transmissão voluntária (cv ou doação); o negócio base da


cessão sujeita-se às vicissitudes comuns de qualquer contrato.

Sendo o consentimento recusado, a sociedade tem visto ser-lhe reconhecida


legitimidade para intentar uma acção de declaração da invalidade da cessão.
Mas não se está face a uma invalidade mas sim diante de um caso de ineficácia,
podendo surgir um assentimento superveniente.

Entre as partes a cessão é valida. Ao contrato do que tem sido sustenado, não se
vislumbra qualquer razão para se considerar que o consentimento da sociedade
constitui requisito previo da execução especifica de um contrato – promessa de
cessão de quotas. O consentimento pode ser anterior ou posterior à cessão.

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Nos termos do art. 231º/3 a sociedade so tem de fazer isto se o socio estiver ha
mais de tres anos na sociedade. Se assim não for, basta recusar o consentimento.

O consentimento é um acto juridico unilateral a prestar mediante deliberação


dos sócios – art. 246º/1 al. b). Não é porem necessaria maioria qualificada.
Admite-se a possibilidade de ele ser dado de forma expressa ou tacita. Na
eventualidade de o consentimento ser prestado pelos proprios gerentes depara-
se com uma actuação sem poderes e o mesmo sucederá se a gerencia comunicar
um consentimento que nao for dado – estes actos não vinculam a sociedade,
caso contratio estariamos a violar directrizes europeias.

A sociedade pode preferir? No caso, a quota do sócio ultrapassa 1/3 do capital


social. O art. 220º não estabelece nenhum limite maximo. Aplica-se
analogicamente o disposto para as SA e o limite é de 10%? Não há limite? Pode
adquirir a totalidade do seu capital social? Nos termos do art. 220º/4 que
remete para o art. 324º os votos fixam suspensos e é preciso constituir uma
reserva especial igual ao valor dispendido na aquisição.

Ao contrário do que sucede nas SA, nas SA existe o caracter pessoal: para quem
defende que não se aplica o limite de 10% das SA tal deve-se ao facto de existir
o limite legal de número de sócios: limiar a partir do qual a sociedade poderia
ser dissolvida seria 2 sócios: sem limite quantitativo. E defende ainda que o
regime das SA é excepcional. Não existe o risco especulativo nas SQ que existe
nas SA.

Pode haver cláusulas de intransmissibilidade absoluta? Sim, se já for sócio há


mais de 10 anos pode-se exonerar. Como se efectiva este direito de exoneração?
Nos termos do art. 240º uma sociedade pode adquirir quotas próprias? Os casos
de exoneração é um desses casos.

CASO

Se a sociedade adquirir esta quota o que sucede a esta quota? A quota em causa
vale sete mil e quinhentos euros, sendo o capital social da quota vinte mil euros.
Deste modo, se 20 000 está para 100%, 7 500 está para 37,5%. Uma sociedade
pode ter quotas próprias que representem mais de 33% do capital social?
Ou se aplica por analogia o art. 317º que consagra o limite dos 10% sustentado
que nas SQ apesar de não existir um elemento quantitativo deve ser o mesmo
que existe para as SA (sendo que mesmo para as SA consagram-se casos de
aquisição licita de acções próprias superiores a 10%). Ou, não aplicando o limite
dos 10% existentes para as SQ, a sociedade poderia adquirir participações acima
dos 10% mas com um único limite, ou seja o limite da pessoalidade inerente às
SQ, ou seja, as SQ, ao contrário do que acontece nas SA, as quotas têm uma
natureza mista (elemento patrimonial e pessoal) o que leva a que uma parte da
doutrina diga que embora possa não existir um elemento quantitativo à
aquisição das quotas próprias, devido ao elemento pessoal é sempre necessário

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que existam no mínimo dois sócios, independentemente de eles terem quotas


residuais. Existe esta dualidade de posições na doutrina, mas ninguém defende
que uma sociedade possa ser detentora de 100% do seu capital social.

E quanto à possibilidade da sociedade exercer a preferência na aquisição desta


quota? Em caso afirmativo como tal conjuga-se com o regime do
consentimento?

Se a sociedade não consentir não há transmissão, existindo apenas um


mecanismo que a lei prevê para que o sócio fique prisioneiro na sociedade.
Trata-se de uma quota que não vai ser transmitida a terceiros, pelo que o direito
de preferência a funcionar só existe nos casos em que a sociedade consente na
alienação, sendo que nesse caso diz que quer adquirir tais. Volta-se ao problema
das quotas próprias. A sociedade quando recusa o consentimento está a
impedir a alienação a terceiros, não existe qualquer manifestação do direito de
preferência. A lógica da preferência só funciona na medida em que permaneça
um terceiro interessado. O direito de preferência pressupõe sempre a existência
de um terceiro, sendo que a partir do momento em que ele deixa de existir já
não estamos no âmbito do direito de preferência. Segundo o Prof. Menezes
Cordeiro, nos termos do art. 231º/4 consagra-se implicitamente um direito de
preferência.

HIPÓTESE PRÁTICA XX

Admita que no contrato de sociedade veio a ser introduzida uma cláusula que
determinava a possibilidade de amortização de quotas em caso de insolvência
de umsócio, em que a contrapartida a pagar – em 5 prestações semestrais –
seria o valor daquota apurado nos termos do último balanço anual aprovado.
Sabendo que o sócio minoritário Bertolino tem colocado vários obstáculos ao
regularfuncionamento da sociedade, nomeadamente interrogando os gerentes
sobre osnegócios da sociedade e requerendo consulta de livros e documentos,
e foi declaradoinsolvente, a sociedade deliberou a amortização da sua quota
nos termos do contrato,mas os seus credores pessoais não estão de acordo com
a decisão. Quidjuris?
Caso de amortização da quota, regulado nos termos do art. 232º e ss.
Amortização compulsiva em que não é necessário consentimento do sócio – art.
233º/1.

A quota faz parte do património de B e pode ser penhorada pelos credores


pessoais de B e o que estes queriam era que ele recebesse o dinheiro todo de
uma vez, para assim poderem executar o seu património o mais rapidamente
possível.

O art. 235º/1 consagra um regime supletivo que pode ser afastado por
estipulação contrária do contrato de sociedade ou acordo das partes. Nas al. a) e
b) do art. 235º/1 a lei impõe que se atenda, de acordo com o art. 1021º CC, ao

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valor real da quota tendo em consideração o estado da sociedade no momento


em que ocorre. É necessário fazer um balanço daquela quota para efeitos de
determinação da contrapartida, porque é com esse valor que os credores podem
contar: os credores satisfazem-se com o valor real e não nominal da quota. A
sociedade paralisa o processo de venda da quota a um terceiro com fim a evitar
que um terceiro entre para a sociedade, pagando uma contrapartida aos sócios,
contrapartida essa que assenta no valor real da quota apurado à data mais
recente. Tal permite a satisfação dos interesses da sociedade e a tutela das
expectativas do credor. O art. 235º/2 consagra casos que quando figurem nos
estatutos como causa de amortização, a sociedade se quiser disciplinar a
contrapartida nos estatutos só o pode fazer se estabelecer uma contrapartida
menos favorável à própria sociedade. No caso o que estava previsto nos
estatutos era um regime mais favorável para a sociedade, pelo que não era
permitido pelo nº3 do art. 235º. Para os casos que não sejam os previstos no art.
235º/2, a sociedade teria alguma autonomia para consagrar o que quisesse nos
estatutos.

Ou seja, a deliberação tem de obedecer as regras do art. 235º/2 que remete para
o nº1 al. a) e b). O valor da contrapartida a ser paga ao sócio não podia ser
calculada contablisticamente: o valor tinha de ser pago em duas prestações uma
ao fim de 6 meses e outra ao fim de 1ano. Mas o inicio da contagem do prazo
poderá ser ultrapassado, sem nisso incorrer a sociedade em qualquer
responsabilidade, no caso de o consentimento do sócio, quando necessário for
tardiamente prestado.

AMORTIZAÇÃO COMPULSIVA  a sociedade só pode amortizar


compulsivamente uma quota, isto é, sem o consentimento do seu titular,
havendo previsão legal ou estatutária que o permita. A previsão estatutária não
equivale ao consentimento do sócio: é apenas uma permissão à sociedade para,
em certas circunstancias, querendo, amortizar a quota. Ao se fazer esta
exigência impede-se, sem o consentimento do sócio, a amortização
discricionária, arbitrária e ad nutum. Caso fossem admitidas seriam uma forma
de expropriação privada dos sócios.
A simples previsão estatutária de que as quotas são amortizaveis ou de quem
podem ser compulsivamente amortizadas sempre que tal for deliberado pela
sociedade, por exemplo, com determinada percentagem de votos, não constitui
um facto permissivo de amortização compulsiva, mas apenas a manifestação de
uma vontade de amortizar. Nestes dois casos, a amortização das quotas só será
possível havendo o consentimento do sócio. Já será admissivel a previsão
estatutária da possibilidade de amortização da quota no caso de violação dos
estatutos.

LIMITAÇÃO AOS FACTOS PERMISSIVOS DA AMORTIZAÇÃO


COMPULSIVA: há limites. Desde que sejam respeitas as normas legais
imperativas, exita justificação causal e adequação aos princípios configuradores
da SQ, vigora a autonomia privada. Ex: comportamento do sócio (concorrência,

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transmissão não consentida da quota ou desejo de sair); factos relativos aos


sócios (morte, idade, estado civil, insolvencia); factos relativos aos titulares dos
direitos reais tendo-llhes sido atribuido o exercicio de direitos sociais; factos
relativos à propria sociedade (fusão, perda de licença, alteração dos estatutos).
O recurso a conceitos indeterminados é permitido sme prejuizo da necessidade
da demonstração in casu do seu preenchimento e do direito de impugnação
judicial do seu preenchimento pelos interessados.

A contrapartida tem lugar na amortização compulsiva e na amortização ao


abrigo de disposição legal, pois nestas a contrapartida é um elemento essencial
da mesma. Só se aplica o art. 235º quando a amortização for onerosa. Como se
fixa a contrapartida?

 De acordo com o estipulado nos estatutos


 Por acordo entre a sociedade e o titular da quota
 De acordo com o art. 275º - critério residual – sendo que as situações não
previstas não seguem este regime. No nº2 consagram-se casos que têm
de obedecer à lei, excepto se estipular condições menos favoráveis à
sociedade e mais favoráveis aos terceiros.

TUTELA DO DIREITO À CONTRAPARTIDA

1. EFECTIVAÇÃO DO CRÉDITO NOS TERMOS GERAIS: na falta de


pagamento tempestivo da contrapartida que não a resultante do respeito da
proibição legal do art. 236º/1, pode o sócio optar pela efectivação do seu crédito
como qualquer credor, nos termos gerais. Com este efeito, não tendo a
sociedade procedido ao pagamento da contrapartida na data do vencimento
entrará em mora, com as devidas consequências legais (art. 805º), podendo o ex
socio efectivar o seu credito – art. 817º.

2. AMORTIZAÇÃO PARCIAL DA QUOTA: na falta de pagamento tempestivo


da contrapartida pode o sócio, em alternativa à efectivação do seu crédito optar
pela amortização parcial da quota.
Esta será determinada em função dauqilo que tenha recibido e contando que
seja respeitado o valor nominal minimo da quota. Não se estabelece até quando
e que a opção pela amortização parcial pode ser feita, sustentando-se, por
aplicação analogica do prazo previsto no art. 236º/5 que o ex socio devera nos
30 dias seguintes à sociedade ter entrado em mora optar pela amortização
parcial, sob pena de, não o fazendo, apenas poder efectivar o seu credito.

3. DISSOLUÇÃO ADMINISTRATIVA DA SOCIEDADE: tratando-se de


amortização na sequencia de atribuiçao ao socio do direito à amortização da
quota, poderá o socio, no caso da contrapartida não puder ser paga em cirtude
do disposto no art. 236º/1 e não optando pela esfera do pagamento, requerer a
dissoluçao administrativa da sociedade – art. 240º/6 ex vi art. 232º/4.

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MODO DE CÁLCULO DA CONTRAPARTIDA: a determinação da


contrapartida é calculada nos termos do art. 105º/2, tendo por referência o
momento da deliberação. Remete-se, assim, para o regime da fusão que, por sua
vez, remete para o art. 1021º que, por sua vez, remete para os nº1 a 3 do art.
1018º CC. Destas sucessivas remissões reuslta que o valor da quota é fixado com
base no estado da sociedade à data da deliberação de amortização, por um ROC
designado por mútuo acordo ou, na falta deste, pelo tribunal, sem prejuizo de
qualquer das partes poder requerer uma segunda avaliação (art. 105º/2 in fine).
Resulta pois que a avaliação da quota é feita segundo o valor que esta
representa no património social efectivo, isto é, pelo seu valor real e não
segundo o valor que lhe é imputado contablisticamente. Por outro lado, a parte
final do art. 1021º/1 CC refere ainda que os sócios participarão nos resultados
dos negócios em curso, isto é, dos negócios jurídicos pendentes ou em excução,
porquanto já celebrados aquando da deliberação de amortização, mas ainda não
integralmente executados.

HIPÓTESE PRÁTICA XXI

Nos termos dos estatutos da Sociedade “Papelex- artigos de papelaria, Lda”, o


sócioFernando Papelão obrigou-se a ceder o gasóleo necessário à circulação
do veículoautomóvel sempre que tal não puder ser assegurado pela
sociedade, ficando estaobrigada a restituir ao sócio outro tanto do mesmo
género e qualidade no prazomáximo de dois anos.

a) A determinada altura, Fernando Papelão é instado, a certa altura, a


antecipar ogasóleo do veículo, mas recusa-se a cumprir. Quid iuris?

No caso estamos face a um contrato de suprimento. Quando os suprimentos


constam dos estatutos devem ser logo fixadas as condições em que devem ser
cumpridos. O suprimento em causa tem natureza de mutuo.

Só há suprimentos nos casos em que o sócio e a sociedade se atende à sua


qualidade de sócio. A questão assenta em saber se o caracter de permanência é
elemento constitutivo ou meramente presuntivo.

Se for uma mera presunção o problema é mais delicado: analisando o nº3 e 4 do


art. 243º ressalta que a lei estabelece presunções de permanência e a quem cabe
o ónus. Os créditos dos sócios de suprimento são créditos subordinados; se não
for qualificado como credito do socio entra na garantia dos créditos comuns. Se
os créditos tiverem uma prazo superior a 1 ano, existe uma presunção cabendo
ao sócio ilida-la com o facto de aquele credito não foi feito atendendo à sua
qualidade de sócio. Se o crédito não tiver 1 ano cabe aos outros créditos
demonstrar a qualidade de sócio e não obstante ter ainda 1 ano o crédito foi
feito por um sócio atendendo à sua qualidade de sócio.

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A lei diz que são suprimentos não apenas os mútuos ou empréstimos ou


créditos detidos pelo sócios, mas também o crédito que o sócio convenciona
com a sociedade o diferimento do vencimento de créditos seus sobre ela: se o
sócio comprar a um terceiro que detenha um crédito sobre a sociedade tal
crédito adquire essa qualificação de suprimento. Mas ainda há mais:
adiantamento de fundos ou diferimento de crédito. Se houver deliberação de
distribuição de dividendos e o sócio não tiver cobrado esse crédito à sociedade
e passar mais de um ano também é suprimento.

No caso, o não cumprimento não afecta a qualidade sócio (aplicação por


remissão do regime do art. 209º/4).

OBRIGAÇÕES DE PRESTAÇÃO ACESSÓRIAS

FINALIDADE  as obrigações de prestação acessórias visam reforçar os


capitais disponiveis na sociedade. Podem funcionar como alternativa ao comum
recurso ao credito bancário. Estao genericamente abrangidas pelo art. 197º/2.

As OBRIGAÇÕES DE PRESTAÇÃO ACESSÓRIAS distinguem-se:

 OBRIGAÇÕES DE ENTRADA  tipicas do status de sócio e que não são


reembolsáveis (art. 202º e 208º)

 PRESTAÇÕES SUPLMENTARES  permitdas pelos estatutos e


deliberdas pelos sócios (art. 210º a 213º)

 SUPRIMENTOS  equivalentes a um mutuo especial ou qualquer outra


circunstancia que leve a que o sócio passe a deter um credito sobre a
sociedade, celebrado entre a sociedade e algum ou alguns dos socios (art.
243º a 245º). REQUISITOS:

i. Crédito sobre a sociedade detido pr um sócio


ii. Que o faça na qualidade de sócio
iii. Que o sócio não tenha exigido por mais de 1 ano (caracter de
permanência)

Todas as figuras referidas integram ou podem integrar a constituição financeira


das SQ.

REGIME: as prestações suplementares são livremente pactuadas. Podem:

 Vincular todos os sócios ou apenas alguns, diferenciada ou


paralelamente;

 Implicar prestações pecuniárias, de dare ou facere;

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 Exigir actuações instantâneas ou duradouras, unicas ou fraccionadas,


periodicas ou irregulares, certas ou eventuais, determinadas ou
indeterminadas;

 Traduzir o conteudo de um contrato tipico, segundo o respectivo regime.

OUTROS TRAÇOS: quando não pecuniárias são intransmissiveis – art. 209º/2;


quando onerosas a contraprestação pode ser paga independentemente de lucros
de exercicio – art. 209º/2; o seu incumprimento não afecta a posição do sócio
enquanto tal – art. 209º/4; extinguem-se com a dissoluçao da sociedade – art.
209º/5.

NATUREZA

 SUPLETIVIDADE  os diversos pontos do art. 209º são, em geral,


supletivos, embora isso só seja afirmado explicitamente no nº4 e de
modo implicito no nº2.

 QUALIFICAÇÃO  as obrigações de prestações são clausulas acidentais


tipicas do contrato de sociedade. As partes podem dar-lhe outras
designações. Um suprimento obrigatório, por exemplo, é uma prestação
acessória.

b) Suponha agora que, em Setembro de 2009, Fernando adquiriu a


Gustavo,fornecedor de papel, um crédito que este detinha sobre a
sociedade no valor de€2.500.000,00 garantido por uma hipoteca sobre
um terreno. Fernandopretende que a sociedade lhe pague os
€2.500.000,00 ou, não o fazendo,executará a hipoteca. Quid iuris?

Fernando adquire um crédito ou passa a ficar submetido ao regime do


suprimento? Fica sujeito ao suprimento, nos termos do art. 243º/5, passando a
ser um crédito de suprimento. Para o suprimento ele tem de actuar na
qualidade de sócio. Se ele pratica um negócio jurídico do qual emerge um
crédito, mas esse crédito é igual ao dos credores então não tem natureza de
suprimento. O que a lei vem dizer é que há um indicio/presunção de que o
crédito tem natureza de suprimento quando tenha caracter de permanência. Ter
caracter de permanência significa que o credito tem um prazo igual ou superior
a um ano segundo o PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA, mas há quem
defenda que nada impede que o crédito possa ter um prazo menor de 1 ano e
ser um suprimento. Este credito adquirido a um terceiro por parte de um sócio
podde ficar submetido aos suprimentos desde que tenha caracter de
permanencia (apenas indicio ou presunção de que seja um suprimento)  o
sócio podia ilidir a presunção, dizendo que embora o detenha há mais de um
ano ele não detinha na sua qualidade de sócio.

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Nas obrigações acessórias pode ter na sua base uma compra e venda; quanto o
negócio que está na base da obrigação acessória consiste num empréstimo à
sociedade então nesse caso segue-se o regime dos suprimentos.

Os créditos por suprimentos são importantes porque a lei, ao qualificá-los como


suprimentos, significa que em caso de insolvencia são os ultimos a ser pagos,
pois são creditos subordinados. Consubstancia um crédito subordinado nos
termos do art. 243º/5, sendo que a garantia cai nos termos do art. 243º/6: se
quando se constitui um suprimento, se a sociedade prestar alguma garantia tal
é nula; se o crédito já existia e passa a estar sujeito ao regime dos suprimentos a
garantia caduca. Ao qualificar-se um crédito como sendo de suprimento, as
garantias caducam. Se houvesse uma garantia era uma forma de inverter a
ordem dos credores. Foi o legislador que disse que os suprimentos eram os
últimos a ser pagos e se os suprimentos fossem garantias seriam os primeiros a
ser pagos.

Os credores têm interesse em demonstrar que o crédito é de suprimento, mas o


sócio tem o interesse oposto. Se o crédito tiver 1 ano, serão os credores que terão
de demonstrar que é um credito de suprimento. O prazo de 1 ano serve para
reverter o ónus da prova.

Em que medida a disciplina dos suprimentos é ou não aplicável às SA? Os


suprimentos, não obstante poderem estar consagrados nos estatutos, também
podem ter cariz voluntário (sócio com créditos sobre a sociedade há mais de um
ano; sócio paga uma divida da sociedade a um terceiro e fica com direito de
regresso sobre a sociedade e ainda sócio empresta dinheiro à sociedade). Ou
seja, a questão que se coloca é a de saber se podem existir suprimentos
voluntários numa SA? Existem várias teorias. Um sócio numa sociedade cotada
tem uma acção nessa sociedade e tem lucros que não vai buscar há mais de dois
anos tal consubstancia um suprimento?
Existe o argumento sistemático de que os suprimentos só estão previstos para
as SQ e que se o legislador quisesse de facto que existisse este regime para as SA
teria o previsto.

O PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA, num primeiro momento considerava


inadmissível a existência de suprimentos voluntários nas SA, agora defende o
contrário.

Uma parte da doutrina entende que os suprimentos voluntários nas SA não são
admitidos em todos os casos: uma coisa é tratar de uma sociedade mais fechada
ou de cariz mais familiar e outra coisa é tratar de uma sociedade com o capital
mais disperso.

Nas SA o exercício dos direitos sociais muitas vezes é condicionado pela


existência de um certo numero de acções (direito de informação por escrito
dependente de se ser titular de um certo numero de capital social). Em rigor o

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conteúdo dos direitos sociais só é assegurado a quem seja titular de um mínimo


de 10% do capital social nas SA. É nesse patamar dos 10% que o PROF. RAUL
VENTURA defendia a admissibilidade de suprimentos nas SA desde que o
sócio fosse titular de um mínimo de 10% para poder gozar da plenitude dos
10%. Esta posição deste professor sempre foi minoritária no universo da
doutrina e da jurisprudência, sendo que esta admite a figura dos suprimentos
sem o mínimo de 10% com o argumento de que se os suprimentos forem
admissíveis nas SA são necessários certos requisitos, nomeadamente o caracter
de permanência e esses créditos que o sócio detenha sobre a sociedade o
detenha sobre a qualidade de socio.

Ou seja: Quanto á admissibilidade de suprimentos nas SA: só se encontram


previstas as prestações acessórias nos termos do art. 287º. Pode-se admitir que
estejam previstos no estatutos – segue o regime do contrato base. Isto admite-se.
Mas e quanto a estabelecer-se de forma voluntária suprimentos? Admite-se?
Não faz sentido. O regime essencial é o de o crédito ter sido constituido por um
sócio enquanto tal. Nas SA, com grande capital, dificilmente isto acontecera em
relaçao aos pequenos socios. Mas isto nao levaria a completa inadmissibilidade,
só a que fossem criadas certas exigencias.. Nem todos os sócios tem todos os
direitos a participar: há casos em que a lei faz depender o exercicio de certos
direitos à titularidade de um certo montante do capital social. Nas SA, só os
socios que detenham 10% do capital spocial e que detem todos os direitos.

 PROF. RAUL VENTURA  admite a figura dos suprimentos para os


sócios que detiverem 10% do capital associal. Assim garantia-se a
qualifade pessoal que exige nos suprimentos. Aplicação analogica SQ.

 PROF. PAULO OLAVO DA CUNHA  antes negava esta figura nas SA,
mas actualmente defende tal.

 MAIORIA DA DOUTRINA  admite, mas tem de ser observados certos


requisitos: além de se dever atender ao tipo de SA, é necessário atender à
qualidade de sócio enquanto tal. Não basta por exemplo que se esqueça
ou não queira levantar os seus dividendos.

HIPÓTESE PRÁTICA XXII

Após a celebração e registo do contrato de sociedade por quotas, foram


tomadas, em Assembleia Geral regularmente convocada, as seguintes
deliberações.. Posteriormente, Carlos, sócio fundador, a viver graves
dificuldades económicas, percebeu que não poderia pagar as prestações em
dívida e afirma que as deliberações tomadas são inválidas. Quid iuris?

a) Por maioria, exigir prestações suplementares no valor de 300.000,00


euros.

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Sim, se estivesse previsto no contrato de sociedade. E se alterassem o contrato


atraves de maioria de ¾? Atedendo ao art. 86º/2 só era exigivel aqueles que
concordassem. Se concordassem por unanimidade? Poder-se-á admitir
prestações suplementares voluntárias é o formalismo. Se um sócio, não obstante
ter concordado, não vir a cumprir, pode-se aplicar o regime do sócio remisso? A
maioria da doutrina defende que resulta de base voluntária, portanto, trata-se
do incumprimento de uma obrigação e, assim, não se podia excluir. Não se
aplica o regime do art. 202º/1. O problema poe-se para os socios futuros: se a
clausula existir nos estatutos, a exigencia é feita por simples maior; na
deliberação voluntária por unanimidade esta se face a algo semelhante a um
acordo parassocial: vincula quem ali esta, que por acaso são todos. Não ha
caracter normativo.

Ou seja: Se não existir uma clausula estatutária não é possível por maioria vir
exigir-se prestações suplementares aos sócios, mas se esta não existir se os
sócios em AG de forma unanime deliberarem a obrigação de prestações
suplementares tal é possível?

Nos termos do art. 54º a assembleia universal dispensa formalidades prévias


para que a assembleia se pudesse validamente reunir e desde que todos os
sócios estejam presentes e dêem o consentimento para a AU se constitua
naqueles termos.

As prestações acordadas nas AU seguem o regime das prestações


suplementares?

Nos termos do art. 212º/4 o que é intransmissível é o direito de exigir. Uma


sociedade não pode alienar o direito de exigir, mas uma vez que as prestações
suplementares se tenham tornando exigíveis tal é transmissível. Se os estatutos
permitirem as prestações suplementares.
Voltando ao assunto anterior: numa assembleia universal é possível efectuar
uma deliberação que exija prestações suplementares aos sócios? E além disso, se
fosse possível, o sócio passados 15 dias da deliberação pode-se recusar a prestar
a prestação suplementar?

Note-se que eles poderiam sempre alterar os estatutos uma vez que estavam
todos de acordo nos termos do art. 86º/2.

Note-se que eles poderiam sempre alterar os estatutos uma vez que estavam
todos de acordo nos termos do art. 86º/2.

Toda a gente defende que se estão todos de acordo não faria sentido tal
deliberação não seguir o regime das prestações suplementares. Agora a questão
assenta quanto ao regime. Não faz sentido aplicar a estas prestações o regime
sancionatório para a falta de prestações suplementares. Esta deliberação tem em
certa medida uma natureza quase parassocial. A doutrina de um modo geral

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aceita uma versão de que estas prestações suplementares efectuadas numa base
voluntaria são admissíveis, com excepção do regime sancionatório do art. 204º e
205º. Estas prestações suplementares ficam a meio caminho entre a obrigação de
entrada e os suprimentos: só são reembolsados em certa medida, pelo que
participam de um regime de quase capital social da sociedade (reforça os
capitais sociais próprios da sociedade). Estas prestações suplementares, na
medida que são quase capital, podem levar à exclusão do sócio mas apenas
quanto tal se encontra previsto nos estatutos. Neste caso não faz sentido aplicar
as prestações suplementares voluntarias o regime sancionatório, uma vez que
este esta pensado apenas as prestações suplementares estatutárias. Se estas
prestações não fossem consideradas como suplementares seriam qualificadas
como suprimentos que é algo que a sociedade não quer.

A razão de não serem admitidas prestações em espécie nas prestações


suplementares deve-se ao facto de depois a restituição ter tambem de ser
realizada em especie.

A finalidade das prestações suplementares assenta em colmatar da


subcapitalização da sociedade. É preciso que os sócios entrem com dinheiro, dai
que siga o regime do quase capital.

b) Por unanimidade, exonerar os sócios, para o futuro, da realização de


quaisquer prestações suplementares.

Atendendo ao art. 212º/3, se tal se encontra nos estatutos os sócios podem


alterá-los; se não os alterarem não existe nada a fazer. Trata-se de uma forma de
protecção da sociedade. Qualquer acto de exoneração do sócio é nulo, a não ser
que se se tratasse de uma prestação suplementar voluntária.

PRESTAÇÕES SUPLEMENTARES

As prestações suplementares para poderem ser exigidas, em regra, têm de


constar de uma cláusula nos estatutos (obrigatório). A lei exige o
estabelecimento de um plafond até ao qual a sociedade pode exigir prestações
nos termos do art. 213º/5 – mas não contam os eventuais reembolsos que foram
feitos – que especifique qual o montante global das prestações suplementares
que tem de la estar e são sempre prestações em dinheiro. As prestações
suplementares não são exigiveis só pelo facto de constarem do contrato de
sociedade, uma vez que ela só se tornam exigiveis a partir do momento em que
haja uma deliberação em chamada nos termos do art. 210º/1. Uma vez
realizadas as prestações suplementares não podem ser reembolsadas de uma
forma tão agil, sendo preciso que haja uma segunda deliberação de reembolso
daquelas prestações e só pode ocorrer quando desse reembolso não resulte a
violação da intangibilidade do capital social. Dai que faça sentido que os socios,
uma vez chamados a realizar prestaçoes suplementares e as que nao realizem

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aplica-se o regime do socio em mora – art. 212º remete para o art. 204º e 205º -
podendo o sócio vir a ser excluido.

O legislador estabeleceu a necessidade de consagrar um plafond porque a


sociedade poderá fazer tantas chamadas até prefazer o valor de tal – art. 213º/5,
sendo que não se computam os reembolsos. É por isso que se diz que as
prestações suplementares são quase capital. Exemplo: sendo o plafond de 5 mil;
exigindo mil mas reembolsando 500 ainda se poderá exigir 4 500  assim
nunca se esgota o plafond. Ou seja, a única condição essencial do contrato de
prestação suplementar é este fixar o plafond. Mas é também necessário a
existência de uma deliberação de chamada, desde que o montante se encontre
inserido no plafond. Estas prestações só serão reembolsadas nos termos do art.
213º, ou seja, a sociedade quando vai reembolsar não tem de reembolsar todas
as prestações que já chamou, podendo reembolsar apenas parte. Até se esgotar
o plafond pode-se sempre ir chamando, sempre que se restituir desconta-se tal
montante ao plafond para ele poder voltar a ser chamado.

Nos termos do art. 210º/3 al. b) se não estiverem os nomes aquando da


deliberação de chamada aplica-se a todos os sócios. Se não fisser como se
reparte será repartido na medida do capital detido.

Se os sócio não realizarem a prestação suplementar, os credores podem


substituir-se à sociedade? Os credores não se podem substituir aos sócios na
deliberação. Aplica-se analogicamente o art. 30º? Após se tornarem exigiveis, se
a sociedade não o fizer, os credores podem sub rogar-se.

HIPÓTESE PRÁTICA XXIII

“Artigo Quinto
Três. O capital social poderá ser elevado até dois milhões de euros, por uma
ou mais vezes, por deliberação do Conselho de Administração que fixará, nos
termos legais, as condições de subscrição, nomeadamente a supressão do
direito legal de preferência dos accionistas.”

1. Imagine que a Assembleia Geral da Movitel, S.A. decide suprimir o


direito legalde preferência dos accionistas com fundamento “na
necessidade imperiosa dediluir a participação de alguns minoritários
que constituem uma força debloqueio ao desenvolvimento da
Sociedade.”. Poderá Pedro, accionista quevotou contra esta
deliberação, reagir contra ela?

Nos termos do art. 85º com o art. 456º, a AG tem competência para deliberar o
aumento do capital social. O conselho de administração pode ser autorizado
pelos estatutos. Nestes, terá de constar o máximo permitido.

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O aumento de capital vai sempre conduzir a uma alteração do contrato de


sociedade. O aumento do capital social tem um efeito perverso para os sócios,
porque se houver sócios que não acompanham esse aumento, as participações
de alguns sócios tendem a ficar diluidas, desvalorizadas, por isso, faria sentido
que fossem os sócios a deliberar essas matérias (AG) – regra geral! Mas pode ser
o C. Adm a ter esse poder nos termos do art. 456º e só é preciso que haja uma
cláusula estatutária que permite que o conselho de administração delibere a
alteração do capital social por entradas em dinheiro, devendo essa clausula
fixar logo o valor maximo da alteraçao admitido.

OBJECTIVO  o direito de preferencia surge para preservar a posiçao de cada


socio dentro da sociedade. É assegurado a cada socio a possibilidade de
subscrever o aumento para evitar a diluiçao da sua participaçao. Assim sendo
como esta é uma materia que afecta directamente os socios, faz todo o sentido
que sejam eles a deliberar a sua alteraçao – art. 87º.

O art. 460º é uma norma imperativa. E isso resulta logo do seu nº1 (se está
estipulado que seja o conselho de administração de liberar o aumento, mas para
suprimir ou limitar o direito de preferencia, a AG tem de concordar – nº5). O
nº1 trata de uma regra geral: tem de ser os proprios socios a deliberar a
supressão ou limitação do direito de preferencia, sendo que esta competencia
nao pode, simplesmente, ser atribuida ao conselho de administraçao, nem
fixada nos estatutos.

O que a lei exige é que perante cada direito de aumento de capital, os socios (em
AG) deliberem se é ou nao de admitir. Nos termos do art. 460º/4 exige-se que a
deliberaçao seja tomada em separada (primeiro toma-se a do aumento de
capital e depois a da limitaçao ou supressao do direito de preferencia, para que
o socio nao esteja numa situaçao de tudo ou nada. Nao se pode fazer uma
clausula em branco que preveja acabar com o direito de preferencia para
sempre. Nao pode haver renunciar em branco dos socios. Se o direito de
preferencia for suprimido num aumento de capital, no proximo, o direito volta
a renascer e delibera-se outra vez se há-de ser suprido/limitado ou não.

Isto significa que é possivel atribuir competencia ao conselho de administraçao


para aumento do capital social, mas a decisao de limitaçao ou supressao do
direito de preferencia cabe aos socioe tem de ser deliberada na AG.

Podemos ter varias modalidade de aumento de capital social: um aumento de


capital reservado aos socios, em que participem os socios e no remanescente
nao subscrito pelos socios podem participar terceiros...

 Para que tenhamos um aumento de capital integralmente subscrito por


terceiros significa que a sociedade tenha de deliberar. O direito de
preferencia legal concreto exercitavel é atribuido aos socios quando a
sociedade dleibera um aumento de capital; ja o direito de preferencia

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legal em abstracto faz parte do status quo/da qualidade do socio. A


deliberaçao d elimitaçao ou supressao do direito de preferencia ou é
tomada no momento da deliberaçao de aumento de capital ou nao pode
mais ser tomada e tem sempre que ser votada pelos socios;

 É preciso que a limitação, se ocorrer, se fundamente no interesse da


sociedade, por isso, nao sao possiveis deliberaçoes que limitem o direito
de preferencia com base em interesses alheios ou interesses dos socios –
todas essas serao invalidas.

Uma vez deliberado o aumento de capital e não sendo limitado o direito de


preferencia, o socio pode subscrever o aumento com uma participaçao
proporcial à que ele tem na sociedade e mantem-se as posiçoes relativas na
sociedade. Mas pode acontecer que haja socios que não vao ao aumento e,
entao, pode acontecer que haja socios que queriram ir ao aumento com uma
participaçao superior e pode ainda acontecer, no limite, um só socio subscrever
a totalidade do aumento. A medida de participação de cada um depende de
saber quantos socios vao ao aumento e quais os pedidos de subscriçao. Este
direito de preferencia no aumento de capital é um direito elastico: uma vez
subscrito o aumento de capital forma-se um contrato de subscriçai que é o que
vai legitimar a sociedade a exigir a realização da obrigaçao e,
correspectivamente, o socio fica com o direito de exigir à sociedade as acçoes
correspondentes.

Quando a sociedade libera o aumento, o orgao de adminitraçao tem por


obrigaçao comunicar aos socios que foi deliberado um aumento de capital e
assim os socios ficam a saber que esta aberto o prazo para a subscriçao do
aumento de capital – dentro destre prazo, os socios podem fazer o pedido de
subscriçao que equivale à aceitaçao da proposta da sociedade, dai que se fala
em contrato de subscrição.

O que é que o sócio pode fazer quando existe aumento de capital?

i. Pode exercer o direito de preferencia


ii. Pode nao fazer nada e o direito caduca
iii. Pode renunciar ao direito de preferencia
iv. Pode alienar o direito de preferencia

Nas entradas em especie existe o seguinte problema: para saber se os socios


gozam ou nao do direito de preferencia. O argumento literal diz que so ha
direito de preferencia para as entradas em dinheiro – art. 458º. De um modo
geral, a doutrina diz que são em especie, se as entradas tivessem natureza
fungivel faz sentido que continue a existir o direito d epreferencia – onde a lei
diz ‘’entradas em dinheiro’’ deveria dizer ‘’bens fungiveis’’. Em que medida é
que uma entrada em especie, que consista em bens de naturez aingungivel, nao
devera cumprir os requisitos do art. 460º? Se a divisão das participações se vai

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verificar na realidade, a questao é se esse aumento de capital de entradas em


especie nao deveria ser fundamentado no interesse da sociedade.

Quando se fala em direito de preferencia, em rigor, significa que o preferente


tem direito a realizar um determinado contrato, desde que ofereça as condiçoes
iguais à do terceiro, mas neste caso em especial (neste direito de preferencia) do
que verdadeiramente se trata é de um direito de subscriçao prioritário
relativamente a terceiro. Os socios portanto subscrevem em primeira linha.

Assim sendo a clausula dos estatutos é invalida – art. 460º - na medida em que
atribui ao conselho de administraçao a competencia para deliberar a repressão
ou limitaçao do direito de preferencia. A competencia da ag esta verificada para
esta deliberaçao.

Se ha uma minoria que constantemente consegue bloquear as deliberaçoes


societárias, resolve-se atraves dos abusos de minorias, para que as deliberaçoes
abusivas tanto funcionam para as maiorias como para as minorias – art. 58º/1
al. b)). Mas note-se que tal deliberaçao só sera anulavel se se provar que a
deliberaçao nao seria tomada sem os votos do abuso. O interesse social nao tem,
obrigatoriamente, que coincidir com o da maioria.

O problema no caso é o do fundamento do aumento do capital social. Aqui a


deliberaçao esta ser tomada só com o proposito explicito da diluiçao das
participaçoes dos demais. A justificaçao da deliberaçao nao se conformava com
o interesse social.

2. Qual o quorume maioria necessários para a votação de um aumento de


capital? Existe alguma consequência para o facto de o sócio Ricardo ter
votado a favor do aumento de capital com 60% dos seus votos e de se
abster com os restantes 40%?

Quanto ao quorum constitutivo seria necessário atender ao art. 383º e este seria
de 1/3; quando ao quorum deliberativo atendendo ao art. 386º seria de 2/3 dos
votos emitidos. Deste modo, atendendo ao art. 385º/4 consideram-se todos os
votos emitidos como nulos.

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HIPÓTESE PRÁTICA XXIV

Numa sociedade por quotas – cujo contrato é composto unicamente por


mençõesobrigatórias – foi deliberado um aumento do capital por entradas em
dinheiro, mas o sócio Anastácio, não estando em condições de acompanhar o
aumento, pretende saber se pode transmitir onerosamente o seu direito de
participar no aumento do capital em favor de um consócio.

SQ & SA: o direito de preferencia segue sempre o regime da cessão de quotas


(regime legal). Se houver restrições estatutárias aà cessão de quotas, tambem se
aplica neste caso.

O direito de preferencia no aumento de capital pode ou não ser alienado? Nas


SA não ha limitações, mas nas SQ como são sociedades masi fechadas, o direito
de participar visa proteger o sócio, para evitar que a sua participação fique
dividida e, por isso, ele tenha interesse em alienar para ver protegida a sua
posiçao patrimonial. Já a sociedade, não tem interesse nessa alienação, pois
pretende evitar a entrada, para a sociedade, de terceiros estranhos, dai ser do
seu interesse que a alienaçao dos direitos de preferencia nao seja livre.

Como se conciliam esses interesses em conflito? O consentimento da sociedade


é exigido quanto a certos casos de alienação do direito de preferencia,
nomeadamente, nos casos de alienaçao a terceiros. Mas se a sociedade nao
quiser consentir o socio nao pode ficar privado pelo menos do valor do seu
direito de preferencia: se a sociedade não consente e depois não o adquire, a
alienação torna-se livtre. E se a alienação for gratuita? A sociedade vai
encontrar o valor real do direito de preferencia, que no fundo há-de
corresponder às acções que ele poderia adquirir se exercesse aquele direito de
preferencia. Quanto a consócios a transmissão é livre. A cessão de quotas
encontra-se consagrada no art. 228º sendo que a alienação a descendentes não
necessita de consentimento da sociedade.

HIPÓTESE PRÁTICA XV

A sociedade “Roupas e Calçado, S.A.” dedica-se à importação, exportação


ecomercialização de vestuário, com capital social de €50.000,00. Poderão (e em
caso afirmativo, o que será necessário) os sócios, mais tarde, fixar o capital
social em €25.000,00 para fazer face a uma inesperada acumulação de
prejuízos da sociedade?

A redução do capital social pode ser efectuada atraves de (1) baixar o valor
nominal das acções;(2) extinguir acções ou (3) reagrupar acções. Tem como
finalidade a cobertura de prejuizos e a libertaçao no excesso de capital (neste
caso há tutela de terceiros?).

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Nos termos do art. 95º é necessário deliberação da AG para reduzir o capital


social. Nos termos do art. 94º é necessário saber qual é a finalidade. É necessário
que haja discrepancia entre o capital social e a situaçao liquida.

Nos termos do art. 94º/1 al. a):

 O patrimonio abaixo do capital social – é necessario cobrir prejuizos;


 Pode haver capital social a mais para quela actividade e tem de ser
libertado – reduzir a cifra do capital social para o montante que achar
adequado. Neste caso, a sociedade é solida. O remanescente é libertado a
favor do socio.

O grande tema aqui é a tutela dos credores. A lei protege-os atraves do art. 96º,
sendo que no nº2 o credor tem de ter interpelado a sociedade e esta não ter
pago (só estes tem legitimidade). Nao é uma questao de retroactividade. Nao é
qualquer credor que pode requerer essa proibiçao ou limitação – só aqueles
cujos creditos ja sejam exigiveis. No prazo de um mes a sociedade nao podera
prosseguir – para tutela dos credores (este mecanismo é mais eficaz e, ao
contrario do que acontecia antes da Reforma de 2007, já não é necessário
autorização judicial).

Note-se que nas SA não podiam reduzir o capital social abaixo do minimo legal
que é 50 mil euros. Portanto só assim pode ser durante uns dias e depois o
capital social tem de superar os 50 mil euros – art. 205º/2.

HIPÓTESE PRÁTICA XXVIII

O administrador único tem uma remuneração de 5% dos lucros de exercício


da sociedade. O contrato de sociedade é omisso sobre este ponto. João,
accionista, pretende saber se esta situação é legal e se pode aumentar essa
percentagem para 8%. Na AG (anual) de uma sociedade anónima, foi
deliberado conceder aos membros do conselho de administração uma
remuneração que consiste no direito a receber 10% do volume de facturação
anual da sociedade ou 10% dos lucros do exercício, consoante o valor mais
elevado. Quidjuris?

A partir de 2006, no silencio do contrato, os administradores e outros memebros


são remunerados. Quem o estabelece? A AG aquando da sua nomeação. Mas
podemos estar a falar de uma remuneraçao fixa ou variavel. Com que base e
segundo que criterios é que se vai fixar esta variavel? Art. 399º/1 – funções
desempemnhadas e situação da sociedade. Nos termos do art. 399º/3 estár-se-ia
a abater nos lucros dos sócios ou nas reservas livres. Tem de haver limite
estatutário, ou seja uma % máxima dos lucros a distribuir e esta % é calculada
sobre os lucros distribuiveis. Quem sofre este encargo da remuneraçao variavel
são os sócios e não a sociedade. Quando sao pagos? Basta que os dividendos

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sejam postos à disposiçao dos sócios – depois da deliberaçao de distribuiçao


portanto.

A parte variavel pode ser fixada em funçao da factuaraçao e nao do lucro? Sim,
pode. Mas o problema é se os administradores podem participar nos lucros ou
não, porque isto entra em conflito com os oscios. De resto, esta possibilidade
encontra-se na livre disposição da sociedade e da AG, aquando da decisão
sobre a remuneração. Sendo por qualquer destas alternativas, isto leva a que
haja um incentivo para que a sociedade tenha mais lucros, para que os
administradores tambem recebam mais. É preciso é controlar, e para isso
servem os orgaos de fiscalização, para que os administradores não alterem os
valores para virem a receber mais.

HIPÓTESE PRÁTICA XXIX

O contrato de sociedade da Distrilar- Sociedade de Distribuição de Bens


Alimentares, SA contém as seguintes cláusulas:

“ Artigo Décimo

Um. A sociedade é gerida e representada por um conselho de administração


executivo composto por cinco a sete membros.

Dois. O conselho de administração poderá delegar a gestão corrente da


sociedade numa comissão executiva composta por um mínimo de dois
membros.
Artigo Décimo Quarto

Um. O conselho geral e de supervisão é composto por um mínimo de sete


membros, três dos quais independentes.

Imagine que os novos accionistas pretendem alterar o modelo de governação


societário, optando pelo modelo clássico. Refira quais os órgãos que a
sociedade passará a ter e proponha a nova redacção das cláusulas transcritas
que deverão ser modificadas e assegure que a nova administração fica com a
faculdade de deliberar aumentos de capital por entradas em dinheiro até ao
máximo de € 15.000.000,00?

No caso estamos face ao modelo de governação germanico, em que existe o


conselho de administração executivo (gestão corrente da sociedade), o conselho
geral e de supervisão (natureza mista: órgão de fiscalização e poderes de
gestão) e um ROC.

Neste modelo pode existir uma comissão executiva? Acrescentar órgãos é


diferente de criar órgãos dentro de um modelo. No modelo clássico, atendendo
ao art. 407º, qual a sua função? Pode existir uma delegação da competência para

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actos administrativos (actos delegados) ou cria-se uma comissão executiva


(passa a ter a gestão) para tratar de algumas matérias.

No Conselho Executivo são todos executivos. Não é possivel neste modelo


existirem administradores não executivos e existir uma comissão executiva. O
art. 431º/2 não remete propositamente para o art. 407º, porque o legislador não
quis que fosse possivel criar uma comissão executiva. Antes de 2006 o art.
431º/3 remetia para o art. 407º, mas depois alterou-se e já não fazia sentido que
remetesse para tal. Não se pode criar a comissão executiva nem ter
administradores delegados no conselho executivo. A cláusula seria nula.

Por fim, note-se que atendendo ao ‘’artigo décimo quarto’’ o número tem de se
encontrar sempre previsto/fixado no contrato e têm sempre de ser superior ao
número do conselho de administração. Neste caso teria de ser 7. Quanto ao
número de independentes, atendendo ao art. 434º que remete para o art. 414º/4
que remete para o art. 413º/1 al. a) tem de existir pelo menos um. Só nas
sociedades cotadas é que têm de ter a maioria como independentes.

HIPÓTESE PRÁTICA XXX

Do contrato de sociedade por quotas «Vamosávida – Organização de Festas e


Eventos, Lda», com o capital social de € 20.000,00, constam as seguintes
cláusulas:

“8ª

Um. A sociedade é administrada e gerida por dois ou mais gerentes.


Dois. A gerência poderá deliberar o aumento do capital social por entradas em
dinheiro para cem mil euros.

Três: Na falta ou impedimento de um gerente, o respectivo substituto poderá ser


designado por cooptação.

Quatro: O desempenho de funções de gerente deverá ser garantido com uma


caução de vinte cinco mil euros.

10ª

A gestão da sociedade é controlada por um Conselho Fiscal composto por três


membros, devendo um deles ter formação técnica adequada.

13ª

Em caso de litígio ou divergência entre sócios ou membros dos órgãos sociais


ou entre uns e outros, ou quaisquer deles com a sociedade, sobre os respectivos
direitos e obrigações, bem como sobre a interpretação e aplicação das diversas

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regras deste contrato, será exclusivamente competente, sem recurso a qualquer


outra jurisdição, o tribunal arbitral da Câmara de Comércio de Lisboa.

Bernardo, o gerente mais antigo da sociedade, procede à encomenda de uma


tenda para festas de valor avultado. Quando a mesma é entregue na sociedade
os dois outros gerentes recusam-se a proceder ao pagamento, bem como a
receber a tenda. O vendedor da tenda considera-se com o direito ao preço.
Quid juris? Refira em que tribunal é que ele deverá propor a acção.

O modelo clássico é constituido por um conselho de administração ou


administrador único, por uma AG e por um conselho fiscal ou fiscal único.

SOCIEDADES POR QUOTAS: Atendendo ao art. 261º estamos face a um caso


de gerência plural em que actuam conjuntamente e pela maioria. A gerência
não é um órgão colegial. Nas SQ ou existe uma gerência singular ou uma
gerência plural. A votação deste órgão é apurada segundo um critério informal.
Isto em relação a matérias para as quais a gerência tenha competência.

Nos termos do art. 246º/1 consagram-se matérias cuja competência é


imperativamente da AG, mas no nº2 consagram-se materias que podem ser
atribuidas à competencia dos gerentes se houver uma clausula nos estatutos
que assim indique. Se não houver cláusula, a competencia pertence à AG.

A matéria para a qual a gerencia pode praticar actos tem de estar munidos de
dleiberaçao da AG – quando não se integra no artigo em analise.

Relativamente a matérias da competencia da gerencia, quando existe um só


gerente a sociedade fica vinculada, mas quando estamos face a uma gerencia
plural é necessario analisar o art. 260º:

 É necessário dizer no acto que se está a agir na qualidade de gerente;


 O acto que o gerente está a praticar tem de se encontrar compreendido
dentro dos poderes que a lei lhe confere (não precisa de estar munido de
deliberação da AG).

Deste modo, quando assim seja, os actos praticados de acordo com uma
gerência plural, vinculam a sociedade para com terceiros. Isto ainda que haja
deliberação dos sócios em sentido contrário. Ou seka, estas posições resultantes,
quer da clausula estatutaria, quer do contrato, não impedem que a sociedade
fique vinculada.

NOTA: os procuradores tem de ter poderes representativos. Se o procurador


agir dentro dos poderes esta vinculado; se não, não está vinculado e estamos
face a uma representação sem poderes. Tambem pode agir no ambito dos seus
poderes mas com uma finalidade diferente pelo que neste caso estamos face a
um abuso de representação.

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Se o gerente praticar actos fora dos poderes de gerencia, ainda que haja clausula
estatutaria ou deliberação dos socios o terceiro não pode vir dizer que ignorava
a lei. Todos se submetem à lei.

SOCIEDADE ANÓNIMA: Ou o terceiro consulta os estatutos e ve que ha


gerencia plural ou a regra é a de que só há um gerente.

Basta que seja só um gerente a praticar o acto? Sim. Mas este gerente vai sofrer
sanções internas, nomeadamente justa causa para despedimento e
responsabilidade civil para com a sociedade. Isto, no caso de ser um acto
compreendido no objecto da sociedade. Sendo um acto praticado que não se
encontra compreendido no objecto da sociedade, mas ainda dentro da sua
capacidade de gozo, nos termos do art. 460º/2, a sociedade pode ipor o objecto
da sociedade se fizer prova do que dispoe esta norma. Se assim for, o negocio é
ineficaz para a sociedade porque o gerente agiu sem poderes.

TRIBUNAL: É possivel uma clausula arbitral nos estatutos, uma vez que
estamos face a matéria disponivel, ou seja refere-se a litigios internos. Se uma
das partes submeter a acção num tribunal judicial estamos face a uma excepção
(dilatória) arbitral que conduz à absolvição da instância. Mas sendo um terceiro
a intentar a acção num tribunal judicial teria de ser nos tribunais civeis. Os
tribunais de comercio são competentes quando esta em causa um direito social,
em todos os outros casos são competentes os tribunais civeis.

Nas SA ao conselho de administração cabe a gestão da sociedade. A AG tem


competencia residual – art. 373º - sendo que só delibera sobre materia de gestao
se o conselho de administração o requerer – art. 406º e 407.

Quando está em causa matéria de gestão tem de haver dleiberação do conselho


de administração. Têm de ser cumpridas todas as exigencias requiridas. Não
pode haver administradores a praticar actos sem deliberação do conselho de
administração. Não se estaria a representar a vontade da sociedade, pois só
assim, se formaria a vontade. E quanto a materias de gestao corrente da
sociedade? Não é viavel tanta formalidade: os administradores podem praticar
sem qualquer deliberação nos termos do art. 408º e 409º, mas tem de (1) indicar
que estão a agir enquanto administradores; (2) não se pode opor a terceiros
cláusulas estatutárias ou deliberações.

A SA poderá ter um administrador nos termos do art. 290º quando o capital


social não exceda 200 mil euros. Quando isso não aconteca ainda que a
sociedade tenha 20 administradores, o administrador pode agir. Esta matéria do
capital social é de conhecimento obrigatorio para terceiros. A sociedade, nesta
caso fica vinculada, desde que o acto se encontre compreendido dentro dos
poderes daquele. Se a sociedade tiver um capital social em mais de 200 mil
euros o terceiro não sabe quantos administrador é necessário ter. Só sabe que,

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pelo menos, tem de lhe aparecer dois administradores à frente (PROF. PAULO
OLAVO DA CUNHA).

REPRESENTANTE E REPRESENTADO: se o representante praticar actos que


se insira dentro dos poderes de representação mas se se afastar da finalidade
pretendida estamos face a um caso de abuso de representação. Pode acontecer
que o administrador pratique actos contigos nestes poderes, mas contrarios ao
interesse da sociedade – violação de deveres de lealdade para com a sociedade e
deveres de cuidado – pelo que neste caso estamos face ao abuso de
representação. O que é que acontece? A lei manda aplicar o regime da
representação sem poderes, pelo que se a sociedade não o ratificar, o negócio
não a vincula.

DIVERGÊNCIA DOUTRINAL

 Havendo concluio de administradores para a prática d eum acto lesivo d


o interesse da sociedade e dos sócios o negócio é nulo por violação dos
bons costumes. Há dolo conjunto (posição da Escola de Coimbra)

 Dominio dos poderes de gestão da sociedade. Não há deliberação ou


conselho e devia. Se dois administradores agirem em nome da sociedade
esta fica vinculada?

 Maioria da doutrina: a sociedade esta vinculada porque a


deliberação do conselho nao tem eficacia externa (para com
terceiros) e só interna;

 Outra parte da doutrina: caso de representação sem poderes,


porque a vontade social não se forma validamente. Se o terceiro
conhecia ou podia conhecer discute-se se há representação sem
poderes ou não.

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