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abril/maio 2016 Oncologia para todas as especialidades


Ano 6 • n º 31

apoio:

Entrevista
Especialista em uro-oncologia, Leonardo Atem
destaca mudanças radicais no tratamento
do câncer de próstata metastático graças a
fármacos como abiraterona e enzalutamida

Panorama
Acompanhar a doença,
sem tratá-la, pode ser a
melhor opção

Do bem
Pacientes apelam para o testamento vital
e definem limites para as terapias de
prolongamento da vida

Medicina de precisão no
câncer de mama, do diagnóstico
à abordagem mais eficaz
especial San Antonio | ca de testículo | gestão
Conselho I – Cancerologia clínica Andresa Lima Melo (DF)

editorial Oncologia clínica:


Aline A. Porto Rocha Lima (SP)
Gustavo Bettarello (DF)
Joana Curi (PE)
Ana Carolina Leite (CE) João Glasberg (SP)
Antonio Carlos Barcellos Bassani (SP) José Lucas Pereira Junior (DF)
Antonio Evandro de Araújo Jr. (TO) Renata Lyrio Rafael Baptista (RJ)
Bruno Carvalho Oliveira (DF) Paulo Henrique A. Soares (DF)
Editores clínicos nacionais Bruno de Araújo L. França (RJ) Roberto Penello (SP)
André Moll Bruno Pinheiro Costa (RJ) Vitor César da Silva Sforni (DF)
Anderson Silvestrini Carlos Eduardo Sampaio dos Santos (RJ)
Carlos Gil Ferreira Claudio Calazan do Carmo (RJ) III – Patologia
Daniel Herchenhorn Cristiane Amaral dos Reis (TO) Alessandra F. Nascimento (RJ)
Juliane Musacchio Daniel Herchenhorn (RJ)
Paulo Sérgio Perelson Davimar M M Borducchi (SP) IV – Cuidados paliativos e dor
Rodrigo Abreu e Lima Duilio Rocha Filho (CE) Lisiana Wachholz Szeneszi (RJ)
Eduardo Cronemberger (CE)
Eduardo Jorge Medeiros (RJ)
Editores clínicos regionais V – Radioterapia
Fabiane Kellem O. S. Cesário (SP)
Onco& Brasília Carlos Manoel M. Araújo (RJ)
Fernando Correia Cruz (RJ)
Lucianno Henrique P. dos Santos Celia Maria Paes Viegas (RJ)
Gilberto Luiz da Silva Amorim (RJ)
Denise Magalhães (RJ)
Glauber Leitão (PE)
Onco& Rio de Janeiro Leonardo Atem (CE)
Felipe Erlich (RJ)
Andréia Melo Markus Gifoni (CE)
Maria Feijóo (RJ)
Robson Ferrigno (SP)
Onco& Nordeste Henrique Zanoni (SP)
Markus Gifoni Jacques Bines (RJ)
Jayme José Gouveia (PE) VI – Qualidade
Onco& São Paulo Jose Eduardo de Almeida Lamarca (RJ) Adriana Crespo (RJ)
Caetano da Silva Cardial Luiz Alberto Mattos (PE) Edivaldo Bazilio (DF)
Carlos Frederico Pinto Maria de Lourdes Lopes de Oliveira (RJ) Stela Maris (SP)
Martha Tatiane M. dos Santos (DF)
Revisão Médica Múcio de Alcantara Leister (RJ) VII – Gestão
Ana Carolina Nobre de Mello Patricia Maira C. A. de Sousa (DF) Carlos Loures (DF)
Rogerio Pastore Bassit (SP) Flavio José Reis (DF)
Valeska Marques de Menezes Machado (DF) Helio Calabria (RJ)
Leonardo Nunes (RJ)
II - Onco-hematologia: Sergio Cortes (RJ)
Adriana Alves de Souza Scheliga (RJ)
Andrea Farag Lago Martinez (RJ)

Ano 6 • número 31
abril/maio 2016

Publisher Simone Simon Impressão: Ipsis Gráfica A revista Onco& – Oncologia para todas as especiali-
simone@revistaonco.com.br dades, a partir de 2015 é uma realização da Associação
Tiragem: 20 mil exemplares de Pesquisa Clínica (APC), com apoio da Oncologia D’Or.
Traz informações sobre oncologia a profissionais de
Editorial Jiane Carvalho
todas as especialidades médicas. De circulação Trimes-
jianecarvalho@revistaonco.com.br ISSN: 2179-0930 tral, tem distribuição nacional e gratuita por todo o
território nacional. A reprodução do conteúdo da re-
Jornalista Sofia Moutinho Jornalista responsável: Jiane Carvalho vista é permitida desde que citada a fonte. A opinião
sofia@revistaonco.com.br (MTb 23.428/SP) dos colaboradores não reflete necessariamente a
Colaboraram nesta edição: Ana Carolina Nobre de Mello, posição da revista.
Direção de arte/Prepress Ione Franco Anderson Silvestrini, Daniela Barros, Elizangela Eugênio, realização:
ionefranco@revistaonco.com.br Gilberto Amorim, José Alexandre Pedrosa, Marlene Oliveira, Associação de
Pesquisa Clínica
Martha San Juan França, Rodrigo Frota, Viviane Santos
Comercial Bruno Lima apoio:
bruno@revistaonco.com.br Errata: Diferentemente do que consta na reportagem “Inteligência
Artificial”, publicada na Onco& edição 30, o e-mail correto do entre- www.oncologiador.com.br | www.revistaonco.com.br
vistado Rodrigo Frota é rodrigofrotaf@gmail.com (21) 2126 0150
Revisão Patrícia Villas Bôas Cueva

4 abril/maio 2016 Onco&


sumário

entrevista 07 Leonardo Atem fala sobre os avanços nos tratamentos para a uro-oncologia
e sobre drogas que chegam a evitar a quimioterapia

capa 12 Avanços genéticos impactam tanto no diagnóstico quanto na abordagem


terapêutica escolhida

mama 18 Estudo de caso clínico para paciente com Her-2 positivo metastático
Anderson Silvestrini

especial San Antonio 24 O encontro San Antonio Breast Cancer Conference apresenta estudos que
reforçam a imunoterapia
Gilberto Amorim

câncer de testículo 26 Aspectos atuais do tratamento cirúrgico na neoplasia não seminomatosa


José Alexandre Pedrosa e Rodrigo Frota

panorama 28 Vigilância ativa ajuda a evitar tratamentos desnecessários e


preserva a qualidade de vida

palavra do gestor 31 A cirurgia robótica chegou para ficar

gestão 32 Fechando as contas da saúde suplementar

farmácia 35 Drogas orais, riscos e benefícios associados – Elizangela Eugênio e


Vacinas contra o HPV: riscos x benefícios – Rodrigo Luis Taminato

curtas 40 Novidades sobre pesquisas, parcerias e eventos: um giro pelo mundo


da oncologia

do bem 45 Cresce no Brasil, o testamento vital, lavrado em cartório, dispondo sobre


os limites para a manutenção da vida em casos de doenças terminais

especial Hospital 48 Integração é a palavra-chave


Johns Hopkins
especial NEOTÓRAX 50 I Simpósio de Diagnóstico de Câncer de Pulmão Oncologia D’Or Neotórax reuniu
especialistas para debater rastreamento, diagnóstico e tratamento da doença

holofotes 52 Veja quem se destacou nos principais eventos da área

mundo virtual 55 Sites e aplicativos que ajudam médicos a se manter sempre atualizados
para o diagnóstico e tratamento de seus pacientes

campanhas 56 Fique por dentro das ações sobre câncer que ganharam destaque na mídia
e nas redes sociais

acontece 57 Acompanhe as novidades de congressos, simpósios, encontros de atualização


e outros tantos eventos da área

calendário 58 Programe-se: eventos e congressos que estão por vir


Visões multifacetadas ganham espaço

A
ONCO& CHEGA À SUA 31ª EDICÃO COM NOVIDA- descreve as alternativas de manejo da doença e o
DES PARA VOCÊ, LEITOR. COM O OBJETIVO DE AM- desenrolar da neoplasia. Também destacamos
PLIAR AINDA MAIS O OLHAR MULTIFACETADO DA o texto dos oncologistas José Alexandre Pedrosa e
publicação sobre os diversos aspectos envolvendo Rodrigo Frota, que uniram forças para apresentar
a doença oncológica, a revista traz como novidade as novidades no tratamento do câncer de testículo
o espaço Panorama, cujo foco será o acompanha- não seminomatoso, em especial os resultados pro-
mento de temas amplos e atuais. A reportagem inau- missores do tratamento combinado de cirurgia e
gural destaca a discussão sobre a necessidade, ou quimioterapia, obtidos em grande parte por causa
não, de tratar alguns tipos de câncer. Idade avançada dos regimes quimioterápicos baseados em platina.
do paciente, tumor não agressivo em estágio inicial A revista traz também o Especial “San Antonio
e ausência de metástase são situações que, muitas Breast Cancer Conference – 2015”, em que Gilberto
vezes, não indicam o tratamento, mas causam ques- Amorim revela os principais estudos apresentados
tionamentos tanto nos pacientes quanto nos médi- no evento e que reforçam perspectivas positivas para
cos. Em Gestão, espaço criado para apresentar novos a imunoterapia, como ABCSG- 18 e CREATE-X
modelos de administração em saúde – setor cujos (para doença inicial) e PALOMA-3 e KEYNOTE-
custos seguem pressionados pela incorporação de 028, em caso de metástase.
novas tecnologias e coberturas dos planos –, apre- No espaço Do Bem, um tema pouco falado mas
sentamos o trabalho da Consultoria D’Or. Mapear a que vem ganhando espaço: o testamento vital. A re-
situação de saúde nas empresas e desenvolver estra- portagem mostra que vem aumentando o número
tégias para equilibrar gastos e manter benefícios as- de pessoas que se dispõem a fazer o documento la-
sistenciais é o foco de sua atuação. vrado em cartório que permite, antecipadamente,
Por fim, também como espaço fixo na revista expressar a própria vontade quanto às diretrizes de
temos a seção Farmácia, que nesta edição aborda os um tratamento médico futuro, no caso de impossi-
benefícios e os desafios no uso dos quimioterápicos bilidade diante de um acidente ou doença grave.
orais, medicamentos que apresentam risco aumen- O especialista em uro-oncologia Leonardo
tado de provocar danos significativos aos pacientes Atem, da clínica Fuji Day, em Fortaleza, é o princi-
em decorrência de falha no processo de utilização. pal entrevistado desta edição. Otimista em relação
A genética como norteadora de um tratamento aos avanços em diagnóstico e tratamento das neo-
oncológico também é tema desta edição. Na prin- plasias, o médico chama a atenção para alternativas
cipal reportagem da Onco&, promovemos o debate de manejo para o câncer de próstata e destaca duas
sobre os aspectos genéticos da neoplasia, não ape- drogas recentemente incorporadas aos protocolos
nas predispondo à maior ou à menor incidência de de tratamento, a abiraterona e a enzalutaminda, que
um câncer, mas principalmente na chamada “me- “mudaram radicalmente o tratamento de pacientes
dicina de precisão”, definindo a conduta mais acer- com câncer de próstata metastático”.
tada dependendo do tipo de mutação daquele gene
associado à doença. Boa leitura!
Entre os artigos, destacamos o texto sobre cân-
cer de mama Her-2 positivo metastático, em que
o especialista Anderson Silvestrini apresenta um Simone Simon
caso clínico de uma paciente jovem (28 anos) e Publisher

Contato: simone@revistaonco.com.br

6 abril/maio 2016 Onco&


entrevista

Novos caminhos para


a uro-oncologia
Para o diretor médico da clínica Fujiday, de Fortaleza, é importante
levar em conta a qualidade de vida do paciente e avaliar, sempre
que possível, quando o câncer deve ou não ser tratado

Por Lourdes Rodrigues

O
NCOLOGISTA CLÍNICO E DIRETOR MÉDICO DA Onco& – O senhor participou do VII Congresso
FUJIDAY DA ONCOLOGIA D’OR, EM Internacional de Uro-Oncologia, realizado no iní-
Divulgação

CLÍNICA
FORTALEZA, LEONARDO ATEM É ESPECIALISTA cio de março em São Paulo, com a presença de
em uro-oncologia e um otimista em relação aos renomados especialistas na área. O que o senhor
avanços em diagnóstico e tratamento das neopla- destaca desse evento? E quais as principais no-
sias. O médico, que participou recentemente do VII vidades em tratamento na uro-oncologia?
Congresso Internacional de Uro-Oncologia, reali- Leonardo Atem – Esse congresso internacional,
zado em São Paulo, destaca uma série de alternati- feito no Brasil, tem se consolidado como um dos
vas de manejo para o câncer de próstata, o segundo principais eventos da área no mundo. A uro-onco-
mais comum nos homens, e chama a atenção para logia tem mudado muito ultimamente, especial-
duas drogas recentemente incorporadas aos proto- mente no câncer de próstata, mas também com
colos de tratamento. “A abiraterona e a enzaluta- algumas novidades em câncer de rim e câncer de
Leonardo Atem mida são drogas que mudaram radicalmente o bexiga, que são as três principais patologias da uro-
tratamento de pacientes com câncer de próstata oncologia. A abiraterona e a enzalutamida são duas
* Diretor médico da clínica Fujiday, metastático. Elas conseguem tratar os pacientes drogas recentes que mudaram radicalmente o trata-
grupo Oncologia D'Or, com
mesmo quando eles são refratários aos hormônios”, mento de pacientes com câncer de próstata metas-
residência médica em oncologia
clínica – Fundação Antônio destaca o oncologista, lembrando que as duas dro- tático, são drogas que conseguem tratar o paciente
Prudente/Hospital AC Camargo; gas chegam a evitar a quimioterapia. Na entrevista mesmo quando eles são refratários aos hormônios.
título de especialista em à revista Onco&, Leonardo Atem mostra um pouco Praticamente todos os pacientes que têm câncer de
cancerologia clínica – Sociedade da sua experiência com neoplasias no trato uriná- próstata metastático são tratados com hormoniote-
Brasileira de Cancerologia; membro rio, como rim e bexiga, e defende cautela na escolha rapia, que é a castração com medicamento (também
titular da Sociedade Brasileira de
Oncologia Clínica; membro titular
dos pacientes a serem tratados no câncer de prós- podem ser castrados cirurgicamente). Na hormo-
da American Society of Clinical tata: “Temos algumas ferramentas para isso (esta nioterapia, o objetivo é diminuir bastante o nível de
Oncology - ASCO avaliação), e a Escala Gleason é uma delas, esse é o hormônio masculino, a testosterona. Quase 100%
caminho. No futuro, devemos tentar separar quem dos tumores respondem a esse tratamento inicial-
Contato: são as pessoas em cada situação e, assim, não tratar mente, mas após algum tempo as células aprendem
leoatem@uol.com.br
todo mundo igual”. a ficar resistentes a esse tratamento e passam a cres-

Onco& abril/maio 2016 7


cer, registrando a piora do paciente, mesmo ele es- gãos competentes. Mas novas drogas estão che-
tando castrado. É o que chamamos de resistência à gando à uro-oncologia, como nivolumabe para o
castração. Até o surgimento dessas duas drogas, os tratamento de câncer de rim.
pacientes faziam quimioterapia, que acarreta uma
qualidade de vida ruim, efeitos colaterais, sem con-
Onco& – Estimativa do Instituto Nacional de
Câncer (Inca) indica que em 2016 serão diag-
tar que muitos pacientes com câncer de próstata são
nosticados, no Brasil, 61.200 novos casos de
idosos. Atualmente, com o uso da abiraterona e da
câncer de próstata, o segundo mais comum entre
enzalutamida, é possível evitar a quimioterapia.
os homens em todo o mundo. O rastreamento do
Onco& – Quais as vantagens dessas duas medi- câncer de próstata com PSA e toque retal tem
cações? ajudado a reduzir a mortalidade?
Leonardo Atem – São drogas orais com menos Leonardo Atem – Com o surgimento do PSA
efeitos colaterais, o que proporciona uma melhor como ferramenta de diagnóstico, que avalia estágios
qualidade de vida ao paciente. Como elas são re- iniciais da doença, houve diminuição na mortali-
centes – menos de cinco anos –, ainda estamos dade por câncer de próstata, mas um instituto de
aprendendo a usá-las, o que foi muito debatido no pesquisa fez uma avaliação do PSA para saber se ele
VII Congresso Internacional de Uro-Oncologia. São realmente estava reduzindo a mortalidade, e os re-
drogas que já estão no mercado, que nós já sabemos sultados foram meio controversos. O que se sabe
que funcionam, mas precisamos saber o melhor hoje é que o PSA deve ser usado com cautela, pois
O que se sabe hoje momento de usá-las, qual a melhor sequência, qual nem todo câncer descoberto por esse exame precisa
é que o PSA deve delas vem primeiro. de tratamento. Existem muitos tipos de câncer de
próstata que são pouco agressivos e não levam à
ser usado com Onco& – A imunoterapia tem sido utilizada com morte. Com a difusão do uso do PSA, muitos ho-
êxito em vários tipos de câncer, como no de pul-
cautela, pois nem mão, por exemplo. É um tratamento indicado
mens vêm sendo tratados sem necessidade. Dessa
forma, tem crescido muito a conduta de “assistir e
todo câncer desco- também para o câncer urológico?
esperar”, que seria acompanhar esses pacientes caso
berto por esse Leonardo Atem – A imunoterapia ainda não está estejam em estágio inicial ou pouco agressivo. O
sendo usada para câncer de próstata, mas para o
exame precisa de câncer de rim sim, com medicamentos que inter-
PSA não diagnostica o câncer – se ele está elevado,
é um indicador de que o indivíduo tem risco de ter
tratamento. Existem ferem com o sistema imunológico. As células can-
um câncer de próstata.
cerígenas – e isso vale para vários tipos – têm
muitos tipos de mecanismos para frear o sistema imunológico e aí Onco& – Como os novos testes moleculares que
câncer de próstata elas podem crescer livremente. Recentemente, complementam o PSA, como o Progensa que ana-
que são pouco surgiu uma classe de drogas chamadas anti-PD-1 lisa níveis de antígenos PCA3 na urina, podem
e anti-PD-L1, que bloqueiam esse freio, permi- ajudar no diagnóstico de câncer de próstata?
agressivos e não tindo que o sistema imunológico reconheça e ata- Eles já são realidade na clínica médica no país?
levam à morte que as células cancerígenas. Essas drogas Leonardo Atem –O PSA infelizmente não é um
funcionam para vários tipos de câncer, o que tem exame perfeito, é muito sensível, porém com baixa
animado muito a classe médica. O princípio delas especificidade. Exames como o PCA3 têm especifi-
não é atacar diretamente as células, mas sim per- cidade maior e podem ajudar no diagnóstico inicial
mitir que o sistema imunológico reconheça a cé- do câncer de próstata. O PCA3 já é realidade, mas
lula doente e a ataque. Isso tem se provado muito ainda está em fase de implementação na prática clí-
eficaz, e existem muitas drogas já aprovadas. No nica devido a uma certa dificuldade na técnica de
Brasil, a primeira já está em vias de ser aprovada realização (o teste é feito em amostras de urina co-
para câncer de pulmão. Já existe aprovação para letadas logo após o exame de toque retal, no pró-
dois tipos de câncer, pulmão e melanoma, e prio consultório médico).
muito em breve a imunoterapia chegará à uro-on-
cologia, área onde existem trabalhos que compro-
Onco& – O PSA pode indicar outra doença?
vam que elas funcionam. Só faltam a confirmação
Leonardo Atem – Sim, às vezes pode ser inflama-
ção na próstata. Se o PSA estiver elevado e o toque
desses trabalhos e a aprovação do FDA e dos ór-

8 abril/maio 2016 Onco&


retal constatar alguma alteração na próstata, é necessário fazer uma lhos. Essa mutação está principalmente ligada à síndrome de mama e
biópsia, para confirmar ou não o câncer. Após a biópsia, o médico tem ovário, que aumenta o risco de a mulher ter alguns desses tipos de
conhecimento das características daquele câncer e sua agressividade câncer, como aconteceu com a atriz Angelina Jolie. Mas a mutação
por meio da Escala Gleason, que vai de 6 a 10, sendo o 10 o mais agres- desse gene também aumenta a chance de câncer de próstata, princi-
sivo e 6 o menos. Além disso, usamos a idade do paciente – a maioria palmente o BRCA1. Para esses casos existe uma droga nova, chamada
dos cânceres de próstata é diagnosticada em homens acima de 65 anos olaparibe, ainda em fase de testes, que interfere com mecanismos de
– e o tamanho do tumor, e assim podemos determinar qual o trata- reparo do DNA. Estudos de fase 3 estão em andamento para confirmar
mento a ser adotado, ou até mesmo se ele não precisa de tratamento. tais resultados. Se confirmados, poderemos ter em breve o primeiro
tratamento para um subtipo molecular específico de câncer de prós-
Onco& – Se existe esse caminho para avaliar o tumor, por que tata, como já temos para câncer de mama. Menos de 10% dos casos
são tratados homens que poderiam apenas ser acompanhados?
de câncer de próstata são ligados ao gene BRCA, mas, apesar de atin-
Leonardo Atem – Com o surgimento do PSA, muitos homens come- girem uma pequena parte da população, a descoberta de drogas como
çaram a fazer o exame e a biópsia mostrava um câncer pouco agressivo.
essa é muito importante.
Mas no início não se sabia disso, e começou-se a tratar todo mundo.
Com o passar dos anos, fomos percebendo que algumas pessoas não Onco& – Campanhas como o Novembro Azul ajudam na preven-
precisavam ter sido tratadas, o que foi uma evolução na identificação ção?
do câncer de próstata. Atualmente, temos algumas ferramentas para Leonardo Atem – Sim, porque conscientizam a população masculina
isso, e a Escala Gleason é uma delas, esse é o caminho, o futuro, tentar a procurar o serviço médico para rastreamento. Todo homem a partir
separar quem são as pessoas em cada situação, e, assim, não tratar todo de 50 anos deve fazer anualmente PSA e toque retal, essa é a recomen-
mundo igual. dação. Ainda há muito preconceito em relação ao toque retal. A cam-
panha serve para isso, para quebrar esse tabu de os homens irem ao
Onco& – A idade é um fator importante no diagnóstico? E a urologista.
genética?
Leonardo Atem – Sim, quanto mais jovem, maior o risco de o câncer
causar problemas. Por exemplo, um senhor de 90 anos tem menos pos-
sibilidade de a doença causar problemas do que um de 40 anos. A faixa
etária mais atingida pelo câncer de próstata é em torno dos 60 anos.
Para a oncologia, jovem é abaixo de 50 anos, então câncer em pessoas
abaixo de 50 anos é atípico e temos de ter uma atenção especial, e isso
se refere à maioria dos tipos de câncer. Isso ocorre porque o câncer está
ligado ao envelhecimento das células, então a maioria dos cânceres
acontece após os 50/60 anos. Em alguns casos acontece antes, e eles
são tratados de forma especial e têm tratamentos diferentes. Quando o
paciente é muito jovem, a doença pode estar ligada a síndromes gené-
ticas, alterações nos genes das células. Já o fator hereditário, que é pas-
sado do pai ou da mãe, representa apenas 5% de todos os tipos de
câncer. A maioria dos casos é uma mutação que chamamos de mutação
adquirida na célula de um órgão que gera o câncer. Às vezes sabemos
qual foi o fator. Por exemplo, o cigarro: ele muda as células do pulmão
e pode gerar câncer, assim como a hepatite altera as células do fígado e
isso pode levar a um câncer. Alguns tipos de câncer a gente sabe o que
causou, a maioria a gente não sabe, são alguns fatores, no caso de prós-
tata também existem síndromes que são hereditárias.

Onco& – Quais são as síndromes hereditárias em câncer de prós-


tata? Há tratamento específico para esses casos?
Leonardo Atem – Alguns estudos recentes mostraram que os pacien-
tes que têm câncer de próstata ligado a mutações nos genes BRCA1 e
BRCA2 (este mundialmente conhecido por estar ligado ao câncer de
mama) têm 50% de risco de passar a mutação desses genes para os fi-

Onco& abril/maio 2016 9


Onco& – Quais as formas mais modernas de manejo da dor do pa- ou bexiga, quais as novidades em tratamento para o câncer de rim?
ciente com câncer uro-oncológico? Leonardo Atem – É outro câncer que responde muito mal à quimio-
Leonardo Atem – Quando falamos de dor, estamos falando de cân- terapia – inclusive ela não é usada. Na fase inicial se usa a cirurgia.
ceres mais avançados, metastáticos, com dores ósseas. Está chegando Quando entra em metástase, o tratamento é a terapia-alvo, no qual são
ao Brasil uma nova droga que vai mudar muito o tratamento de câncer usadas drogas com efeitos um pouco melhores do que na quimiotera-
de próstata avançado. Ela já está em uso na Europa e nos Estados Uni- pia, mas também com efeitos colaterais. A quimioterapia mata as cé-
dos há três anos. Já foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância lulas de forma geral, ela interfere no processo de replicação das células.
Sanitária (Anvisa) e está em processo de precificação. Chama-se Ra- As células do câncer sofrem mais com a quimioterapia, mas outras
dium 223, um radiofármaco. O rádio é uma substância radioativa, que células do corpo também sofrem. Já a terapia-alvo tem um alvo espe-
tem uma preferência pelas células dos ossos, quando há metástase nos cífico, que foi descoberto e está mais presente na célula tumoral. Então,
ossos – uma das principais metástases do câncer de próstata e uma quando se usa a terapia-alvo, é porque ela vai atingir preferencialmente
das principais quedas de qualidade de vida dos pacientes, porque pro- as células tumorais, mas não há garantia de 100% de que não atacará
voca dor. O Radium 223 é como se fosse uma radioterapia direcionada as células normais – embora no geral seja melhor que a quimioterapia.
para o osso, é uma substância aplicada por via venosa. A molécula do A grande esperança do câncer de rim é a imunoterapia, que é a grande
rádio vai diretamente ao osso, onde tem metástase que provoca uma revolução para a oncologia atual. No ano passado, só se falava nisso
inflamação no osso, libera o rádio e a radiação mata as células, é uma durante a ASCO. Foi apresentado na plenária um trabalho de imuno-
droga específica para metástases ósseas. É uma terapia direcionada. A terapia para melanoma e pulmão.
radiação não atinge outros órgãos e o paciente não sofre com efeitos
Onco& – Dos três principais cânceres da uro-oncologia, o de rim
colaterais da radiação. É uma droga muito inteligente porque se liga
é o menos frequente. É difícil o diagnóstico?
diretamente onde está o tumor e libera a radiação bem ao lado. Os es-
Leonardo Atem – O câncer de rim se caracteriza por não apresentar
tudos dessa droga mostram que ela diminui a metástase e a dor dos
sintomas, a não ser quando está muito grande. Quando é encontrado
pacientes e aumenta a sua sobrevida.
em fase inicial é geralmente um achado acidental. Procura-se outra
Onco& – O câncer de bexiga é o nono mais comum em todo o coisa e encontra-se um nódulo pequeno, e nesses casos as chances de
mundo. De acordo com as estimativas do Inca serão registrados recuperação são maiores. O câncer de rim atinge homens e mulheres
no Brasil, em 2016, 7.200 novos casos em homens e 2.470 em na mesma proporção e não há exames preventivos.
mulheres. Quais os tratamentos disponíveis?
Onco& – O câncer de testículo é mais comum em jovens? Tem
Leonardo Atem – Tendo como principal fator de risco o tabagismo,
bom índice de cura?
o diagnóstico nesse caso é bem simples, porque o paciente geralmente
Leonardo Atem – Sim, ele é bem diferente dos outros, tem uma bio-
tem sintomas claros, como sangramento pela urina. O grande pro-
logia tumoral diferente, principalmente por ser mais comum em jovens
blema do câncer de bexiga é o alto índice de recidiva, e os tratamentos
entre 20 e 30 anos. É um câncer que atinge células germinativas, ou
de que dispomos, como cirurgia e radioterapia, não são efetivos em
seja, que são capazes de gerar outro indivíduo. Então, tem um com-
reduzir essa recidiva. Nesses casos, a quimioterapia geralmente não
portamento biológico muito diferente dos outros. Ele é curável mesmo
funciona, ele é um câncer resistente. A esperança para os portadores
quando tem metástase. Um exemplo é o ex-ciclista norte-americano
de câncer de bexiga é a imunoterapia. Estudos mostram que ela pode
Lance Armstrong, que foi muito idolatrado pela experiência de vida
ser usada. Esperamos que em breve o tratamento do câncer de bexiga
dele, porque teve câncer de testículo com metástase para o cérebro e
se modifique, pois o índice de mortalidade na recidiva é muito alto.
foi curado, ganhando alguns títulos depois disso. Esse tipo de câncer
Onco& – Há novidades no manejo da dor para pacientes com cân- é bem responsivo à quimioterapia.
cer de bexiga?
Onco& – O diagnóstico é simples?
Leonardo Atem – São medidas gerais de cuidados paliativos, remé-
Leonardo Atem – Sim, são nódulos que causam dor e inchaço. Não
dios para dor, cuidados gerais, mas não há nenhuma novidade.
existe diagnóstico por biópsia. O testículo é retirado cirurgicamente
Onco& – Com índice de ocorrência menor do que câncer de próstata e, como resta outro, não é não é necessário tomar hormônio.

10 abril/maio 2016 Onco&


capa

Medicina de precisão

Avanços genéticos podem impactar desfechos


no câncer de mama

Por Daniela Barros

O DNA da questão X e radioterapia), etnia, status socioeconômico,


O câncer de mama (CM) configura como um densidade da mama, histórico pessoal de câncer de
dos tumores mais diagnosticados nos Estados Uni- ovário, familiar de câncer de mama, nuliparidade e
dos. A probabilidade de uma mulher ter a doença genética, tal como mutações dos genes BRCA.
durante a sua vida é de 1/8, índice bastante ele- O câncer é uma doença multifatorial em que a
vado. Em 2015, estima-se que 231.840 pes- genética tem uma participação maior ou menor,
soas tenham sido diagnosticadas com CM conforme o tipo. No caso do CM, explica Gilberto
invasivo naquele país. No Brasil, dados Luiz da Silva Amorim, coordenador de oncologia
do Instituto Nacional de Câncer (Inca) mamária da Oncologia D’Or e ex-chefe do Serviço
reportaram cerca de 57.120 casos, de Oncologia Clínica do Hospital do Câncer III –
respondendo por cerca de Inca (Rio de Janeiro, RJ), “de 10% a 15% têm uma
25% das novas incidências. base genética sólida”.
As mortes em consequência Os genes mais conhecidos como relacionados
dele também são elevadas, ao CM são o BRCA1 e 2, respondendo por cerca de
perdendo apenas para o câncer 50% dos casos geneticamente determinados, mas,
de pulmão. mais recentemente, há que se avaliar também
A obesidade é um dos fatores PALB2, CHEK2 e Li-Fraumeni, entre outros mais
ligados a um risco aumentado de raros. É importante lembrar que “o surgimento de
desenvolver câncer de mama. Ou- um tumor é multicausal (fatores externos em sua
tros fatores incluem idade avançada, grande maioria) e necessita de uma alteração nos
histórico menstrual e reprodutivo, uso de genes de uma célula normal”, acrescenta o oncolo-
terapia de reposição hormonal (TRH), fatores gista clínico Lucianno Henrique Pereira dos Santos,
de estilo de vida, como abuso etílico e sedenta- coordenador médico do Grupo Acreditar Oncolo-
rismo, excesso de radiação na região peitoral (raio gia e Hematologia (Brasília, DF).

12 abril/maio 2016 Onco&


Amorim diz também que a hereditariedade é Assim, a realização do sequenciamento genô-
um peso, mas não determinante. Conforme a pre- mico para fins de diagnóstico de síndrome heredi-
sença de uma mutação de risco para um certo tipo tária de CM pode direcionar medidas personalizadas
de câncer nos pais, o risco de os filhos o herdarem de vigilância. Ela exemplifica que, se for confirmado
é de 50%. “São vários fatores existentes, e no caso o diagnóstico de câncer hereditário de mama, a pa-
do CM os hormonais podem contribuir para au- ciente será submetida a medidas de vigilância espe-
mentar o risco”, diz. cíficas que envolvem desde exames até cirurgias
Em ambos os casos – o do câncer esporádico e profiláticas, a depender do gene portador da muta-
o hereditário –, para que haja o aparecimento do ção. E, nesse caso, somente o médico com todas as
tumor, o acúmulo de alterações genéticas é neces- informações disponíveis é capaz de recomendar as
sário para que uma célula normal se transforme ad- medidas mais adequadas. O primeiro genoma
quirindo vantagens em relação às outras células do Do ponto de vista de exames relacionados a in- humano, de 2003,
órgão em que esta reside e, assim, dê início ao pro- formações genéticas relativas ao tumor, indepen-
cesso tumorigênico. Quem comenta é a pesquisa- dentemente se ele é de natureza esporádica ou levou 13 anos para
dora principal do Laboratório de Genômica e hereditária, alguns testes moleculares que orientam ser sequenciado.
Biologia Molecular e coordenadora do Laboratório
de Diagnóstico Genômico do A.C. Camargo Cancer
tratamentos para câncer de mama estão disponíveis,
sendo eles não pertinentes a sequenciamento e sim
Foram gastos
Center (São Paulo, SP), Dirce Maria Carraro. a outros métodos moleculares. US$ 13 bilhões em
É interessante recordar que o primeiro genoma pesquisa. Hoje,
Screening e diagnóstico precoce humano, divulgado em 2003, levou 13 anos para ser
A melhor estratégia de detecção precoce do CM sequenciado. Foram gastos US$ 13 bilhões e envol-
esse mesmo
é por meio do rastreamento. Com ele é possível vidos diversos centros de pesquisa em todo o procedimento pode
identificar as mulheres com sinais e sintomas ini- mundo. Atualmente, esse mesmo procedimento
ser feito em
ciais da doença. pode ser feito por um único aparelho em menos de
O rastreamento é baseado na realização de tes- 24 horas, a um custo infinitamente menor. um único aparelho
tes relativamente simples em indivíduos sadios, Nos Estados Unidos já é possível adquirir, por em menos de
com o objetivo de identificar doenças em sua fase cerca de US$ 250, um teste “caseiro” para saber se
assintomática. Tradicionalmente, a mamografia e o a pessoa é ou não portadora dos genes do câncer
24 horas a um custo
autoexame das mamas têm sido utilizados como as de mama. As interessadas compram o kit online e infinitamente menor
ferramentas mais comuns no rastreamento do CM. fornecem uma amostra de saliva, que é enviada
O CM é uma entidade extremamente complexa. para o laboratório via correio. Algum tempo depois,
Atualmente não se fala somente em estratégias de recebem um relatório assinado pelo médico acom-
screening como forma de se obter um diagnóstico panhado de um aconselhamento genético.
precoce e, quiçá, a cura. Agora as possibilidades são
muito maiores, mais intrigantes e desafiadoras. Elas Saber ou não saber, eis a questão
permitem saber se a doença irá surgir antes mesmo Mas qual seria a relevância de se saber portador
de um mínimo sinal. Isso graças às tecnologias de de uma mutação? Ao levantar essa questão, é im-
sequenciamento genético. possível não se lembrar de um caso que tomou a
Dirce explica que na oncologia pode-se aplicar mídia mundial em maio de 2013. A atriz e diretora
o sequenciamento em dois tipos de DNA: o DNA hollywoodiana Angelina Jolie se submeteu a uma
representativo das células constitutivas do indiví- mastectomia dupla seguida de cirurgia reconstru-
duo ou o DNA representativo das células tumorais. tiva após se descobrir portadora de uma mutação
“Do ponto de vista de sequenciamento de material no gene BRCA1, o que lhe conferia um risco esti-
representativo das células constitutivas, esses testes mado de 87% para câncer de mama e de 50% para
são usados para fins de diagnóstico de câncer here- câncer de ovário. Além desses fatores “escritos” em
ditário. No caso do câncer de mama, existem alguns seus genes, ela possuía como fatos concretos a
critérios clínicos que levam o médico a suspeitar de morte prematura da avó, da mãe e da tia para a
um câncer hereditário”, comenta. mesma doença. No ano passado, após um exame

Onco& abril/maio 2016 13


de sangue diagnosticar potenciais anormalidades ligadas a proteína com história pessoal e familiar de câncer que efetivamente têm uma
CA-125, ela também se rendeu à cirurgia para remoção dos ovários e mutação detectada nos exames é pequeno, mas que um exame nega-
das trompas de Falópio. tivo não quer dizer necessariamente um menor risco de câncer”, alerta.
Na opinião de Amorim, saber-se portadora de uma mutação pode Pela história pessoal e familiar do paciente, é definido o risco pré-teste.
ser determinante para oferecer à paciente um acompanhamento mais Caso o exame seja feito, após o resultado o paciente recebe os esclare-
personalizado, já que o risco a ser enfrentado por ela é maior. “Os exa- cimentos devidos, referentes ao risco para ele e para seus familiares, e
mes podem começar mais cedo, incluindo métodos que não são utili- as alternativas de prevenção, tratamento e reprodutivas. “Suporte psi-
zados em mulheres sem a mutação, como a ressonância magnética”, cológico é essencial durante todo esse processo”, lembra a geneticista.
cita. “Ela pode, ainda, optar por fazer cirurgias redutoras de risco”, Outro aspecto importante destacado por ela é que um resultado
exemplifica ele. pode ser positivo, negativo ou inconclusivo. O resultado positivo – a
Santos acredita que a importância de conhecer o prognóstico vai detecção de mutação conhecida – em uma pessoa afetada pode per-
depender do tipo de alteração genética encontrada, “pois nem toda mitir a definição do risco de neoplasia futura, em casos onde se co-
mutação genética é causadora de neoplasia”. nhece a penetrância da mutação específica. Em alguns casos, a
Mas nem todas as pessoas deverão ser encaminhadas para a ava- mutação encontrada em uma mulher com câncer de mama ainda não
liação oncogenética. No caso do CM, recomenda-se que sejam avalia- foi descrita em outras famílias, mas programas preditivos sugerem se
das todas as mulheres com diagnóstico precoce, notadamente abaixo tratar de mutação patogênica. “Nesses casos, não é possível prever com
de 40 anos, especialmente com tumores chamados “triplo negativos” precisão o risco de se desenvolver um tumor”, alerta.
(tumores que não expressam hormônios ou HER2), pacientes de qual- O resultado inconclusivo pode ser a não detecção de uma mutação
quer idade com câncer de mama bilateral, homens com CM e, eviden- em um indivíduo afetado pelo câncer, assim como o achado de uma
temente, indivíduos com histórico importante de câncer de mama e variante de significado incerto (uma mutação cujo efeito ainda não é
de ovário em parentes de primeiro grau (mãe e avó), notadamente se conhecido).
elas tiverem sido diagnosticados jovens também. E um resultado negativo pode decorrer de ausência da mutação,
Existe, ainda, a questão ética. Amorim reforça que toda relação mé- presença de mutação em um gene conhecido que não foi investigado
dico-paciente deve ser pautada em princípios éticos, e no que diz res- ou presença de mutação não detectada pelo teste específico utilizado
peito ao aconselhamento genético não é diferente. “Garantir sigilo, no gene investigado. “Para reduzir a incerteza, o ideal é que seja inves-
fornecer esclarecimento de todas as dúvidas, nunca ‘forçar’ a realização tigado o indivíduo com acometimento mais acentuado (isto é, o mais
de algo que a paciente não se vê pronta a realizar, é fundamental”, jovem ou com vários tumores, ou do sexo normalmente não afetado)
aconselha. da família e que sejam empregados os métodos moleculares (como se-
Quando encaminhada para a avaliação com o oncogeneticista, Ro- quenciamento, MLPA – amplificação de múltiplas sondas dependente
senelle Oliveira Araújo Benício, médica geneticista do Grupo Acreditar de ligação) mais adequados a cada situação”, exemplifica Rosenelle.
(Brasília, DF) e do Hospital Universitário de Brasília, detalha que ini-
cialmente é feita uma consulta clínica cuja peculiaridade é a elaboração Resultados em mãos
de um heredograma detalhado, contendo informações sobre outros Uma vez em posse de todos os resultados, Amorim descreve que
casos de neoplasia na família. “Com o uso de programas específicos, é feita a avaliação do risco e do benefício de cada uma das interven-
podemos estimar um risco empírico de desenvolvimento de câncer ções, para averiguar se é o caso de manter apenas um seguimento
de mama, bem como o risco de uma paciente específica ser portadora mais rigoroso ou partir para cirurgias preventivas. “Uma paciente já
de mutação associada a câncer de mama e ovário hereditário doente que se descobre portadora de uma mutação é diferente de um
(BRCA1/BRCA2)”, descreve. indivíduo sadio que se descobre mutado”, ressalta. “O mastologista
A partir daí, em caso de indicação e disponibilidade de um pode mudar a cirurgia de uma simples segmentectomia unilateral para
exame adequado, são esclarecidas limitações e consequências da in- uma cirurgia bilateral, sendo terapêutica de um lado e preventiva do
vestigação e, com a anuência da paciente, é feita a solicitação para outro, com reconstrução imediata bilateral, só para citar um exemplo
o sequenciamento. do impacto dessa informação, quando disponível”, complementa.
Rosenelle ressalta que, diferentemente do que indica o nome, acon- Santos destaca a importância do aconselhamento do oncogeneti-
selhamento genético não envolve “aconselhar”, mas fornecer informa- cista nessa etapa. “Caso isso não seja possível, o oncologista clínico
ções que permitam ao paciente tomar suas decisões de forma livre e deverá assumir esse papel.”
esclarecida – inclusive, a decisão de não fazer o teste genético, por No caso do screening, adota-se a prática de realizar ressonância
exemplo. “O primeiro ponto é informá-lo de que se trata de um pro- magnética nessas mulheres, muitas vezes em alternância com o clássico
cesso baseado em probabilidades e que o percentual de indivíduos esquema de mamografia associada ou não de ultrassonografia. O in-

14 abril/maio 2016 Onco&


tervalo entre essas avaliações médicas deve ser em uma paciente, e com isso, eventualmente, aju-
menor, sendo recomendada a avaliação do masto- dar na escolha do melhor tratamento. O custo do
logista semestralmente. exame ainda é alto e, por vezes, várias biópsias são
Os ovários também devem ser vigiados por meio necessárias.
de ultrassom transvaginal e Ca125. “Em outros casos Amorim diz que mutações com hiperexpressões
de mutação que não sejam no BRCA 1 ou 2, exames de determinadas vias podem ser encontradas, mas
adicionais podem ser necessários, como colonosco- ainda não há um remédio específico. “É frustrante
pia para avaliação precoce do intestino ou ainda um quando isso ocorre. E também quando descobrir-
seguimento rigoroso de nevos em razão de um pos- mos uma via e existe o medicamento – mas ou ele
sível risco de melanoma”, diz Amorim. não está disponível no Brasil, ou não foi aprovado
pelas autoridades brasileiras para aquela indicação, O sequenciamento de
Sequenciamento genômico e tratamento ou tem um custo proibitivo”, lamenta. regiões específicas do
Na opinião de Amorim, este ainda é um “work Recentemente (janeiro de 2016), o consenso
in progress”. Na doença inicial, isso é considerado para o Câncer de Mama Metastático ABC3, do
DNA representativo
experimental ou usado em casos muito selecionados grupo da oncologista Fátima Cardoso, de Portugal, das células tumorais
para avaliação prognóstica e preditiva de resposta ao e de mais 44 experts de 23 países, foi publicado na
já é uma realidade
tratamento adjuvante. Testes como Oncotype DX, revista Breast Care. 94% dos especialistas rejeitaram
Mammaprint/Symphony e o Prosigna/PAM 50 se o uso rotineiro neste momento desses testes. “Há para a decisão de
encaixam nesse perfil. “Recebemos o histopatológico muito estudo por fazer nesta área. Biópsias líquidas tratamento para
convencional com a imuno-histoquímica para re- no sangue periférico podem ser um caminho para
ceptores hormonais HER2 e o KI67. Isso é essen- diminuir o desconforto de ter de realizar biópsias
vários tumores. Entre
cial”, relata. invasivas nas pacientes”, sugere Amorim. os que mais se bene-
Algumas das pacientes com receptores hormo- ficiam estão os
nais positivos e axila negativa podem, ao realizar Taylor made
esses testes, receber uma avaliação de risco mais O sequenciamento de regiões específicas do de colon e reto, de
precisa para ajudar o oncologista a prescrever ou DNA representativo das células tumorais já é uma pulmão e melanoma
não uma quimioterapia adjuvante. “Isso já é uma realidade para a decisão de tratamento de vários tu-
realidade, embora ainda limitada pelo custo”, pon- mores. Entre os que mais se beneficiam desse tipo
dera o médico. de teste são os tumores de colón e reto, de pulmão
Já os tumores mais avançados frequentemente e melanoma. A presença de mutações em determi-
carregam mutações que nada têm de “genéticas de nadas regiões investigadas para alguns desses tu-
herança familiar”. São mutações em vias celulares mores indica maior ou menor sensibilidade a
específicas, que podem direcionar melhor a tera- tratamentos com drogas dirigidas, apoiando a de-
pêutica, indicar eventuais resistências a determina- cisão clínica.
das drogas ou, ainda, sugerir tratamentos que não Saindo um pouco dessa premissa, de que as al-
seriam usualmente indicados, muitas vezes já usa- terações devem estar presentes nas células tumorais,
dos em patologias completamente diferentes. destaca-se o caso de tumor de ovário. Dirce, do A.C.
No Brasil já existem laboratórios que realizam Camargo, comenta que existem evidências robustas
testes que avaliam essas vias moleculares usando a de que a mutação germinativa que leva à perda de
técnica de sequenciamento de nova geração, justa- função nos genes BRCA1/BRCA2, que são genes as-
mente para sequenciar o tumor metastático e en- sociados ao câncer hereditário de mama e ovário,
contrar ou não esses “veios a serem explorados”, está associada a maior sensibilidade a um tipo espe-
mas ainda são muito pouco utilizados, pelo custo e cífico de tratamento com drogas dirigidas. Como
principalmente pelo – ainda – pequeno impacto na essas mutações ocorrem na sua grande maioria nas
conduta terapêutica. células constitutivas do paciente, neste caso o teste
Em casos muitos selecionados de doença me- recomendado pode ser no material representativo
tastática, uma biópsia de uma dessas metástases das células constitutivas (sangue, por exemplo).
pode indicar quais vias estão particularmente ativas “Para câncer de mama, essa droga (droga dirigida)

Onco& abril/maio 2016 15


ainda não demonstrou benefício claro para pacientes portadoras, mas, ter um processo de composição clonal distinto, levando a comporta-
na minha opinião, isso é uma questão de tempo. Ela deve ser aprovada mentos diferentes entre pacientes submetidos ao mesmo tratamento.”
para tratamento de câncer de mama de mulheres portadoras de muta- Rosenelle complementa: “A heterogeneidade intratumoral decorre da
ção nesses genes”, afirma Dirce. instabilidade genômica, que determina a ocorrência de novas mutações
dentro das populações celulares. Pressões ambientais podem levar à
Pesquisas e realidades seleção de clones tumorais específicos. É o que ocorre quando, ao se
A genômica foi tema de destaque no San Antonio Breast Cancer administrar um quimioterápico, o tumor inicialmente responde mas
Symposium (SABCS) 2015. Samuel Aparicio, responsável pela apre- depois volta a crescer – e se torna cada vez mais resistente ao trata-
sentação da sessão plenária intitulada “Dinâmica dos clones e subtipos mento. O conhecimento dos diversos clones de um tumor e de suas
do câncer de mama”, expôs que os cânceres de mama exibem uma va- características (como resposta a quimioterápicos) poderá ajudar a guiar
riabilidade genômica interpaciente e intratumoral que sustenta a com- terapias personalizadas, aumentando as chances de sobrevida e cura.”
preensão dos drivers intrínsecos da doença.
Os padrões da heterogeneidade genômica serão importantes para Genômica para personalizar o tratamento do CM
as decisões no tratamento e também podem provar ser prognósticos. Um minissimpósio sobre o uso do sequenciamento genômico para
O sequenciamento de nova geração redefiniu o cenário dos subtipos identificar mutações driver no câncer de mama também foi tema do
primários do CM em muitos subgrupos moleculares, e agora a identi- SABCS 2015. De 10 a 20 alterações moleculares estão sendo investi-
ficação das mutações drivers em cânceres primários será importante. gadas no contexto dos estudos terapêuticos com biomarcadores diri-
Até então são conhecidos ao menos dez subtipos de CM primários. gidos (biomarkerdriven), incluindo as mutações PIK3CA, AKT1,
No CM foram identificados 40 drivers mutacionais. Essas mutações ERBB2, PTEN, BRCA1/2, ESR1. Entretanto, é importante identificar
podem ser separadas por subtipos histológicos de tumor – como re- quais das mutações são realmente drivers. Parece que existem muta-
ceptor de estrogênio, câncer de mama triplo negativo (CMTN) etc. ções no gene PIK3CA que estão associadas a menor sensibilidade à ini-
Independentemente da heterogeneidade do CM interpacientes, é bição do HER2 no cenário neoadjuvante.
aceitável que a maioria dos tumores é constituída por clones dinâmicos O próximo desafio será o desenvolvimento de testes genômicos
que evoluem juntamente com a progressão da doença. A evolução da que indiquem a sensibilidade dos tratamentos que têm como objetivo
composição clonal tem um significado particular para a oncologia. Du- vias como o mTOR ou os inibidores CDK4. Nesse contexto, a expres-
rante os últimos cinco anos, o sequenciamento de nova geração de tu- são gênica será utilizada na quantificação das vias de ativação.
mores e os métodos de análise de célula única abriram essa abordagem O desafio seguinte será predizer muito mais cedo a resistência às
para os tumores epiteliais sólidos. terapias-alvo. O desenvolvimento das biópsias líquidas (pelo DNA cir-
Para Dirce, a evolução clonal leva a modificações dinâmicas do culante), conforme adiantado por Amorim, se tornará cada vez mais
tumor ao longo do seu desenvolvimento e em resposta à exposição a importante para o diagnóstico precoce de resistência. No futuro, tam-
tratamentos. “Isso impacta a oncologia, pois o tumor inicialmente diag- bém será útil biopsiar os tecidos sólidos, assim como se tornará im-
nosticado pode não ser o mesmo ao longo do tratamento. Outro ponto portante a identificação proteica. Por fim, o desafio final será integrar
em que a evolução clonal impacta a oncologia é que cada tumor pode as imunoterapias à medicina de precisão.

O sequenciamento genômico em outros cenários


O sequenciamento genômico pode ser DNA e que estes podem ser detectados nos
utilizado em outros cenários, principal- fluidos corpóreos com ferramentas analíti-
mente no formato de teste para avaliação de cas de alta sensibilidade. “É uma prática que
mutações específicas e presentes somente já está sendo extremamente utilizada na
no DNA das células tumorais, os testes esfera científica e, mais atualmente, na prá-
chamados de detecção de DNA tumoral cir- tica clínica”, diz. Várias instituições interna-
culante. “A ideia é usar essas marcas especí- cionais e nacionais de tratamento de câncer
ficas dos tumores para serem rastreadas em (incluindo o A.C. Camargo) já estão usando
fluidos corpóreos”, descreve Dirce, do A.C. esse método em casos específicos para
Camargo. Há evidências significativas indi- auxiliar as decisões clínicas, mas ainda em
cando que os tumores liberam traços de caráter investigativo.

16 abril/maio 2016 Onco&


mama

Câncer de mama HER-2


positivo metastático

D
ADOS DAORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE mortes em 2012 (Figuras 1 e 2)1 .
(OMS) DE 2012 ESTIMARAM QUE O CÂNCER No Brasil estão estimados 596 mil casos novos
DE MAMA É O PRIMEIRO EM INCIDÊNCIA NO de câncer para 2016, sendo 295 mil casos entre ho-
mundo entre as mulheres, com uma taxa de mais mens e 300,8 mil casos entre mulheres. Estimam-
de 40 casos novos/100 mil mulheres. Foram cerca se 57.960 casos novos de câncer de mama (28,1%
de 1.671.149 casos novos e uma mortalidade de dos casos), um risco de 56,2 casos novos/100 mil
cerca de 15/100 mil mulheres, cerca de 521.907 mulheres2.
Divulgação

Idade padronizada estimada de incidência e taxas de mortalidade: Mulher

Mama
Colorretal
Anderson Silvestrini Colo do útero
Pulmão
* Médico graduado pela Universi-
dade Federal de Minas Gerais Corpo do útero
(UFMG); especialista pela Estômago
Sociedade Brasileira de Cancerolo-
gia/Sociedade Brasileira de Ovário
Oncologia Clínica; membro titular Tireoide
da Sociedade Brasileira de Oncolo-
Fígado
gia Clínica (SBOC); coordenador
de oncologia clínica da Secretaria Linfoma Não-Hodgkin
de Saúde do Distrito Federal Leucemia
(2007 a 2009); presidente do
Pâncreas
capítulo DF 2007-2009 da
Sociedade Brasileira de Oncologia Esôfago
Clínica (SBOC); vice-presidente da Rim
Sociedade Brasileira de Oncologia Incidência

Clínica (2009 a 2011); presidente Cérebro, sistema nervoso Mortalidade

da Sociedade Brasileira de 0 10 20 30 40 50
Oncologia Clínica (2011 a 2013).
ASR (W) taxa por 100.000

Contato: Fonte: International Agency for Research on Cancer


anderson.silvestrini@grupoacreditar.com.br
Figura 1

18 abril/maio 2016 Onco&


Incidência

Mortalidade

Mama
Colorretal
Pulmão
Colo do útero
Estômago
Corpo do Útero
A paciente apresen-
Ovário
Tireoide
tou reação alérgica
Liver
Outros e inespecífico
grave no primeiro
Fonte: International Agency for Research on Cancer ciclo de docetaxel
Figura 2 com trastuzumabe.
Foi suspenso o
docetaxel. Devido
Caso clínico Realizou 4 ciclos de FEC100, alcançando res-
ao alto risco de
Trata-se da paciente ACMA, de 28 anos, que em posta clínica completa. Por decisão da paciente, ela
janeiro de 2010 evoluiu com nódulo de 4 cm em foi encaminhada para cirurgia após os quatro ciclos recidiva da doença,
mama direita e linfonodo axilar de 3 cm. Realizou de FEC100. foi indicada substi-
Em maio de 2010, foi submetida à mastectomia
biópsia mamária com seguinte estudo anatomopa-
total à direita com esvaziamento axilar. Estudo ana-
tuição do docetaxel
tológico:
tomopatológico: por paclitaxel
Carcinoma ductal infiltrante de mama GII Carcinoma ductal infiltrante residual – 2 focos
IHQ: RE (80%) e RP (10%), CERB-B2 ++/ fish de 0,3 cm e 1 linfonodo comprometido.
amplificado, KI-67 60% Indicada quimioterapia adjuvante com doceta-
EC T2N2M0 xel + trastuzumabe x 4 ciclos a cada 21 dias seguida
História pregressa: G0P0A0, diabetes em uso de trastuzumabe até completar um ano, seguido de
de metformina; depressão em uso de sertralina, to- hormonioterapia adjuvante com tamoxifeno após a
piramato; dislipidemia em uso de sinvastatina. quimioterapia e a radioterapia complementar.
Indicada avaliação de fertilidade sendo realizada A paciente apresentou reação alérgica grave no
laparoscopia com retirada de um ovário e iniciado primeiro ciclo de docetaxel com trastuzumabe. Foi
Zoladex 10,8mg a cada 12 semanas suspenso o docetaxel. Devido ao alto risco de reci-
Indicada QT prévia com FEC100 x 4 ciclos se- diva da doença, foi indicada substituição do doce-
guido de docetaxel x 4 ciclos + trastuzumabe. taxel por paclitaxel. Evoluiu com nova reação

Onco& abril/maio 2016 19


alérgica grave, sendo então suspensa a quimioterapia adjuvante e man- sintomática. Em setembro de 2014, iniciou com queixa de dor lombar
tido o trastuzumabe adjuvante e iniciada hormonioterapia adjuvante irradiada para MIE e parestesia.
com tamoxifeno 20 mg VO dia. Realizou radioterapia complementar Realizou RNM da coluna torácica, que identificou lesão intrame-
de agosto a outubro de 2010. dular com sintomas de compressão medular em coluna torácica
Em agosto de 2011 iniciou com quadro de cefaleia e desequilíbrio. (Figura 5).
Realizou RNM de crânio, que evidenciou lesão cerebelar de 3,6 cm
(Figura 3).

Figura 3

Realizou também PET-CT, que foi normal (Figura 4).

Figura 5

A paciente foi reestadiada, sendo descartados sinais de outros lo-


cais de recidiva.

Figura 4

Foi submetida à ressecção da lesão cerebelar em setembro de 2011


com estudo anatomopatológico de carcinoma metastático e imuno-
histoquímica com seguinte perfil:
IHQ: RE (50%) e RP (-), CERB-B2 (+++)
Realizou radioterapia craniana após a ressecção.
Figura 6
Mantido tratamento sistêmico com trastuzumabe e tamoxifeno, as-

20 abril/maio 2016 Onco&


Devido aos sintomas de compressão, foi indicada cirurgia descom- de mama locorregionalmente avançado HER-2 positivo que, apesar de
pressiva, realizada em setembro de 2014, com ressecção da lesão, mas todo o arsenal terapêutico disponível, evoluiu com metástases à dis-
dano permanente em medula, evoluindo com quadro de hemiplegia. tância, inclusive em localização atípica.
O estudo da lesão em canal medular revelou carcinoma metastático de O risco de uma paciente evoluir com metástases cerebrais está re-
provável origem na mama com o seguinte perfil imuno-histoquímico: lacionado com a idade da paciente, o estadiamento ao diagnóstico e o
IHQ: RE e RP (-), CERB-B2 (+++) perfil imuno-histoquímico3,4.
Realizou radioterapia em coluna torácica em outubro de 2014. Em análise de 1.434 casos, a incidência de metástases cerebrais em
Depois, realizou PET-CT sem evidência de novas lesões. Iniciado cinco anos foi de 1,7%, sendo 0,1% para Luminal A, 3,3% para Lu-
T-DM1 (Kadcyla) em outubro de 2014. Na última consulta, reali- minal B, 3,2% para Luminal-Her-2 positivo, 3,7% para Her-2 positivo
zada em novembro de 2015, encontra-se em remissão completa da e 7,4% para triplo negativo4.
doença. Com a perda da expressão dos receptores hormonais e a alergia
aos taxanes, optou-se pelo tratamento com o T-DM1, conforme o es-
Discussão tudo EMILIA, que em segunda linha de tratamento alcançou 9,6 meses
Este caso demonstra uma paciente com diagnóstico de câncer de SLP e 30,9 meses de SG (p<0,001)5 (Figuras 7 e 8).

Figura 8

Figura 7

Referências bibliográficas

1. World Health Organization (WHO). GLOBOCAN 2012. Estimated câncer incidence mortality and prevalence worldwide in 2012. [Internet] Disponível em
http://globocan.iarc.fr/Pages/fact_sheets_population.aspx. Acessado em 20 de dezembro de 2015.
2. Estimativa 2016. Incidência de câncer no Brasil. INCA, Ministério da Saúde. [Internet] Disponível em http://www.inca.gov.br/wcm/dncc/2015/index.asp
Acessado em 20 de dezembro de 2015.
3. BARNHOLTZ-SLOAN, J.S; SLOAN, A.E. et al. Incidence proportions of brain metástases in patients diagnosed (1973-2001) in the Metropolitan Detroit
Cancer Surveillance System. J. CLIN. ONCOL., 2004, 22 (14):2865.
4. ARVOLD, N. D.; OH, K. S. et al. Brain metástases after breast-conserving therapy and systemic therapy: incidence and caracteristics by biologic subtype.
BREAST CANCER RES. TREAT., 2012, 136 (1):153.
5. VERMA, S.; MILES, D. et al. Trastuzumab Emtansine for HER2-Positive Advanced Breast Cancer. N. ENGL. J. MED., 2012, 367 (19):1783.

22 abril/maio 2016 Onco&


especial San Antonio Breast Cancer Conference – 2015

Por Gilberto Amorim – gilberto.oncologista@gmail.com

Coordenador de oncologia mamária do grupo Oncologia D’Or

Estudos reforçam perspectivas positivas para a imunoterapia

O
TRADICIONAL EVENTO DE CÂNCER DE MAMA aprovado para a doença metastática.
QUE OCORRE ANUALMENTE EM SAN ANTONIO,
NO TEXAS (EUA), MAIS UMA VEZ TROUXE CREATE-X:
importantes apresentações originais com estudos
0,70
já com aplicabilidade imediata e outros com 5-yr DFS
74,1 67,7
(0,53-0,93) ,00524
“perspectivas futuras” reais, como no caso da (Cap) (no Cap) HR
pvalue
imunoterapia. 89,2 83,9
0,60
5-yr OS (0,40-0,92) < ,01
(Cap) (no Cap) HR
pvalue
Na doença inicial, destaco os seguintes
estudos:
Estudo particularmente importante, pois ava-
ABCSG-18: liou o uso de capecitabina em caráter adjuvante
Um estudo prospectivo, randomizado, duplo- para pacientes que fizeram QT neoadjuvante com
cego, comparando denosumabe SC na dose de 60 antraciclinas e/ou taxanes e não obtiveram resposta
mg SC a cada seis meses versus placebo SC, mais completa. Foram 900 pacientes avaliadas e os re-
de 3 mil pacientes pós-menopausadas, RH positi- sultados foram positivos.
vos em uso de inibidor de aromatase, tendo como No entanto, a aderência ao esquema com oito
objetivo o tempo até a primeira fratura e sobrevida ciclos foi difícil e a toxicidade foi a esperada, com
livre de doença (SLD), sobrevida global. Neste alguns doentes tendo diarreia G3 e síndrome mão-
momento o destaque é para o dado de SLD, que pé, mas os resultados foram particularmente posi-
foi estatisticamente significativa, com 83,5 vs tivos em pacientes com receptores negativos (HR
80,4%, embora com p borderline positivo. Não há foi de 0,58 contra HR de 0,84 nas RH+). Mudança
relato de osteonecrose e, de fato, o denosumabe de prática? Sim, em casos bem selecionados!
diminui o risco de fratura em relação ao placebo.
Mais uma peça neste complicado quebra-cabeças BCIRG 006:
de tratamento com bisfosfonatos ou inibidor de Sobre o seguimento tardio do clássico estudo
rank em caráter adjuvante em pacientes com RH TCH ou AC-TH vs AC-T, dez anos depois, os ga-
na pós-menopausa. Ainda não temos aprovação nhos foram mantidos com vantagem para os braços
para uso no Brasil em câncer de mama, mas temos com trastuzumabe adjuvante, sendo que o TCH foi
indícios de que neste ano o denosumabe será o mais seguro do ponto de vista cardiovascular.

24 abril/maio 2016 Onco&


ExteNet: de aprovar essa opção em segunda linha. No Brasil,
Esse estudo de adjuvância tardia com nerati- esperamos palbo para o segundo semestre.
nibe (droga oral) por um ano, após o término do
trastuzumabe adjuvante, se destaca, pois temos pa- TH3RESA:
cientes de alto risco, para os quais parece “faltar Um breve relato sobre os dados finais de sobre-
algo” após a adjuvância convencional. O segui- vida desse estudo, em que o T-DM1 foi comparado O pembrolizumabe
mento, agora com três anos, mostra 94% vs 90% com a “escolha do médico” em pacientes politrata-
de intervalo livre de doença em favor do nerati- das de ca de mama metastático HER2 positivo. 22,7 teve a sua coorte
nibe, embora seja uma droga que dá bastante diar- meses vs 15,8 meses de sobrevida global é o resul- de câncer de mama
tado final em favor de T-DM1. É novo padrão para
reia. Temos um estudo aberto na clínica onde
pacientes que, além de trastuzumabe, também
mais uma vez
comparamos cape+neratinibe vs cape+lapatinibe
na doença metastática. foram expostos ao lapatinibe. apresentada.
Trata-se também
GeparSixto e CALGB 40603: JAVELIN:
A mensagem desses dois estudos mais uma vez Já que a imunoterapia é a “bola da vez”, apre- de estudo fase 1B,
apresentados é a mesma: pacientes em QT neo se sento os dados preliminares de um estudo fase 1B mas já podemos
beneficiam com o aumento de respostas patológicas com avelumabe – um anti-PD-L1. Pacientes com
da adição de carboplatina ao esquema convencional doença avançada refratária foram incluídos, mais
vislumbrar respostas
de QT com antraciclinas e taxanos, mas desde que de 160 no total. Dados foram particularmente pro- objetivas da ordem
mutadas ou com receptores negativos. Hora de missores em pacientes com imuno positiva para de 14% e doença
mudar a prática! PD-L1 (taxa de resposta de 33% vs 2,4%), aumen-
tando ainda mais naqueles triplo negativo. Estamos estável em ¼ das
Na doença metastática, chamam atenção: de olho! pacientes
PALOMA-3: KEYNOTE-028:
Mais um estudo de fase III com palbociclina Já o pembrolizumabe teve a sua coorte de câncer
(inibidor de ck 5/6), desta vez em associação com de mama mais uma vez apresentada. Trata-se tam-
fulvestranto, comparado com o F associado ao pla- bém de estudo fase 1B, portanto os resultados ainda
cebo, em segunda linha de câncer de mama metas- são preliminares. Mas já podemos vislumbrar res-
tático receptor positivo. O objetivo primário postas objetivas da ordem de 14% e doença estável
(sobrevida livre de progressão – SLP) foi precoce- em ¼ das pacientes, o que não é comum em estudos
mente alcançado, pois, com apenas nove meses de de fase 1. A realidade é que estamos atrasados em
seguimento, a SLP foi mais do que o dobro para o relação às outras doenças, para as quais a imunote-
braço com palbo (9,5 vs 4,5 meses!). O FDA acaba rapia já tem drogas aprovadas nos Estados Unidos.

Onco& abril/maio 2016 25


câncer de testículo

Aspectos atuais do tratamento


cirúrgico no câncer de testículo
não seminomatoso

A
tUALMENTE, EM TORNO DE 90% DOS PACIENTES neal é comprovadamente segura e eficaz. Publica-
Divulgação

COM CÂNCER DE TESTÍCULO NÃO SEMINOMA- ções de Donohue1 e Sweeney2 demonstram resul-
TOSO ATINGEM A CURA COM UMA COMBINAÇÃO tados que variam entre 45% e 70% de sobrevida
de cirurgia e quimioterapia. Esses números impres- livre de recorrência, dependendo do volume de
sionantes estão relacionados à excelente resposta de doença retroperitoneal (N1 vs N2). Apesar de
um tumor sólido, em grande parte, aos regimes qui- pouco utilizada, a ressecção de doença retroperi-
mioterápicos baseados em platina. Com taxas de toneal isolada pode ter aplicação em cenários es-
resposta expressivas e pouco dependentes do vo- pecíficos, como pacientes com contraindicação à
lume tumoral, o tratamento quimioterápico se con- quimioterapia, recorrências tardias e pacientes
José Alexandre Pedrosa solidou como “standard” na abordagem da doença com doença retroperitoneal limitada e exame de
* Medico urologista do Instituto disseminada e vem ganhando cada vez mais espaço imagem inespecífico. Essa estratégia tem a vanta-
Nacional de Câncer (Inca), do na abordagem de lesões localizadas e de risco ele- gem de reduzir a exposição à quimioterapia, uma
Grupo de Urologia Oncológica da vado, na forma de tratamento adjuvante. vez que em 15% a 35% dos casos não há doença
Oncologia D’Or e urologista no retroperitôneo mesmo em pacientes com está-
oncológico pela Society of Orquiectomia radical dio clínico II.
Urologic Oncology
A despeito de toda essa evolução no tratamento
Contato: sistêmico, o papel da cirurgia do câncer testicular Linfadenectomia pós-quimioterapia
jappedrosa@gmail.com não pode ser diminuído. Séries de vigilância ativa Pacientes submetidos à quimioterapia experi-
apresentam a orquiectomia radical isolada com mentam respostas completas em cerca de 70%.
taxas de cura entre 70% e 80% em pacientes com Apesar da presença de tumores residuais microscó-
Divulgação

tumores testiculares no estádio I. Esse fato demons- picos em cerca de 20% dos casos submetidos à ci-
tra que, assim como em outros tumores sólidos, a rurgia retroperitoneal, já foi demonstrado que a
ressecção local de tumores em estádio inicial está vigilância é segura nesse grupo de pacientes. Erlich
associada a menores índices de tratamentos aditivos et al2 demonstram uma sobrevida global de 97%
e a taxas de cura elevadas. em pacientes com resposta completa não submeti-
dos à linfadenectomia retroperitonal.
Linfadenectomia primária Já pacientes com massa residual, definida pela
No caso de doença no estádio II, a ressecção presença de lesão retroperitoneal superior a 1 cm
Rodrigo Frota
cirúrgica através de linfadenectomia retroperito- em método de imagem de controle após quimiote-
* Coordenador do Programa de
Tabela 1 – Estadiamento dos tumores testiculares baseado TNM 2009
Cirurgia Robótica Urológica
da Rede D’Or São Luiz, médico
urologista do Grupo de Urologia Tumor Primário Linfonodos Metástase Marcadores Tumorais
Estádio Tumoral
Oncológica e fellow em cirurgia (P) (N) (M) (S)
robótica e laparoscopia urológica O pTiS N0 Mo S0, SX
por Cleveland Clinic (EUA)
I pT1-T4 N0 Mo SX
Contato: II Qualquer T N1-N3 M0 SX
rodrigofrotaf@gmail.com III Qualquer T Qualquer N M1 SX

26 abril/maio 2016 Onco&


rapia, apresentam um risco de positividade no re- rem em cerca de 2% dos tumores testiculares. No-
troperitôneo superior a 65%. Cerca de 40% desses tadamente essas recorrências apresentam tumor
pacientes apresentam teratomas e 15% têm tumores germinativo viável, sendo tumores de seio endo-
germinativos viáveis. É importante salientar que, dérmico o subtipo mais comum. Esses pacientes
apesar de comportamento benigno, teratomas são apresentam prognóstico reservado quando compa-
resistentes à quimioterapia, podendo crescer e com- rados aos portadores de tumores germinativos
primir estruturas adjacentes, o que é conhecido iniciais. Além disso, sabe-se que em recidivas pós-
como síndrome “growing teratoma”. Estudos recen- quimioterapia a resposta a novos ciclos de trata-
tes mostram ainda que um percentual relevante mento sistêmico é limitada. Nesse contexto, o
desses tumores pode apresentar transformação para tratamento cirúrgico com ressecção completa das Embora não
neoplasias somáticas de comportamento agressivo lesões constitui a melhor alternativa terapêutica, seja a primeira
e baixa resposta à quimioterapia. É por esses moti-
vos e pela presença de tumores germinativos não
seguida por esquemas de resgate como TIP ou qui-
mioterapia de alta dose.
escolha, a cirurgia
teratomatosos residuais que está contraindicada a representa uma
realização de vigilância ou quimioterapia adicional Aspectos técnicos da linfadenectomia alternativa de
para esse grupo de pacientes. retroperitoneal
É importante salientar que a linfadenectomia
resgate em pacientes
“Desperation surgery” retroperitoneal está classificada entre os procedi- com resposta
Embora não seja a primeira escolha, a cirurgia mentos oncológicos geniturinários mais comple-
limitada a regimes
representa uma alternativa de resgate em pacientes xos, exigindo experiência no manejo de grandes
com resposta limitada a regimes quimioterápicos e vasos, alças intestinais e órgãos retroperitoneais. quimioterápicos e
marcadores tumorais persistentemente positivos. Além disso, não é raro haver tumores sincrônicos marcadores tumorais
O critério de seleção é de extrema importância envolvendo coluna vertebral, fígado e pulmão.
nesse cenário, com atenção especial para a resse- Nesses casos, pode ser necessária abordagem por
persistentemente
cabilidade da lesão e a cinética dos marcadores. diferentes equipes cirúrgicas, com neurocirurgiões, positivos
Beck et al3 demonstraram uma sobrevida global em cirurgiões torácicos e cirurgiões hepatobiliares,
cinco anos de 53,9% em pacientes selecionados além do urologista oncológico. Nesse contexto,
submetidos a esse tipo de procedimento, o que é fundamental que equipes especializadas em
mostra sua efetividade. tratamento do câncer testicular contem com múl-
tiplas especialidades cirúrgicas de forma integrada,
Cirurgia na recorrência tardia o que se torna mais fácil com a implementação
Recorrências tardias, representadas por recidi- cada vez mais recente de centros oncológicos de
vas após 24 meses do tratamento primário, ocor- alta complexidade.

Referências bibliográficas:

1. Donohue JP, Thrnhill JA, Foster RS, et al. Clinical Stage B non-seminomatous Germ cell testis cancer: The Indiana University Experience (1965-1989) Using
Routine Primary Retroperitoneal Lymph Node Dissection. Eur J Can Vol 31A, N10. 1599-1604.
2. Sweeney CJ, Hermans BP, Heilman DK, Results and Outcome of Retroperitoneal Lymph Node Dissection for Clinical Stage I Embryonal Carcinoma – Predo-
minant Testis Cancer. J Clin Oncol 2000 Jan;18(2)358-62.
3. Ehrlich Y, Brames MJ, Beck SD. Long-term follow-up of cisplatin combination chemotherapy in patients with disseminated nonseminomatous germ cell
tumors: is postchemotherapy retroperitoneal lymph node dissection needed after complete remission?. J Clin Oncol, 2010 Feb 1, 28(4):531-6.
4. Beck SD, Foster RS, Bihrle R, Outcome analysis for patients with elevated serum tumor markers at postchemotherapy lymph node dissection. J Clin Oncol,
2005 sep 1, 23(25): 6149-56.

Onco& abril/maio 2016 27


panorama

Quando apenas acompanhar é a


melhor opção ao paciente oncológico

Criada pelo uro-oncologia canadense Laurence Klotz,


a vigilância ativa seleciona quem não tratar visando
melhor qualidade de vida

Por Viviane Santos

I
DADE AVANÇADA DO PACIENTE, TUMOR NÃO AGRES- Ela diz que a exposição à toxicidade ou aos efei-
SIVO EM ESTÁGIO INICIAL (QUE LEVARÁ MUITOS ANOS tos colaterais de um tratamento (quimioterapia, ra-
PARA EVOLUIR) E AUSÊNCIA DE METÁSTASE SÃO SITUA- dioterapia e cirurgia) pode ser mais agressiva do
ções que orientam uma conduta chamada vigilância que o próprio tumor maligno. Pela vigilância ativa,
ativa. “Na área oncológica, esse termo surgiu da explica a especialista, pacientes com neoplasia de
preocupação de médicos do mundo inteiro com a baixo risco podem ser acompanhados por exames
existência de muitas doenças de baixo risco que são periódicos frequentes e só iniciar alguma terapia
supertratadas. A vigilância ativa foi aplicada pela quando houver sinais de evolução da doença.
primeira vez para o câncer de próstata”, informa a “Este método traz benefícios importantes, como
oncologista clínica Luci Ishii, do Grupo Acreditar, poupar o doente dos efeitos deletérios dos proce-
em Brasília, da Oncologia D’Or. dimentos convencionais, melhorando de forma in-
comparável a sua qualidade de vida”, avalia a
Istockphotos

médica. Ela ressalta que a vigilância deve ser reali-


zada de forma metódica, com intervalos regulares
e acompanhamento de exames específicos de san-
gue e radiológicos.

Deficiências da rede pública


Infelizmente, sustenta a oncologista de Brasília,
na rede pública brasileira nem sempre existe essa
disponibilidade. “Sem os exames adequados e no
tempo correto, podemos perder o momento certo
de iniciar o tratamento. A vigilância ativa pode
gerar uma expectativa negativa no paciente, que,
ciente do seu diagnóstico, teme a progressão rápida
da doença”, informa.
A confiança na equipe de colegas patologistas
e a disponibilidade dos exames radiológicos são

28 abril/maio 2016 Onco&


fundamentais para dar segurança ao oncologista Avanços da ciência
na condução do método, enfatiza Luci. “Dessa Vazquez conta que atualmente existe um movi-
forma, trataremos menos e ofereceremos mais mento de mobilização no mundo a favor dessa abor-
qualidade de vida ao paciente, sem, no entanto, dagem de humanização. Ele diz que, no Brasil, os
abreviar-lhe a sobrevida.” Aplicada em qualquer centros oncológicos que oferecem serviços de quali-
idade, essa opção de assistência é mais importante dade seguramente conhecem e adotam essa prática.
em pessoas com idade avançada, cujo tratamento A vigilância ativa, segundo ele, só pode gerar
poderia trazer mais malefícios do que benefícios e malefícios se não for bem empregada. “Todo trata-
até antecipar a morte. mento oferece riscos. O oncologista precisa acom-
“Acompanhamos de perto o caso de câncer panhar o caso para agir corretamente e, se houver
sem tratá-lo. Essa é uma alternativa de humaniza- mudanças nas características do tumor, alterar a
ção de assistência, que não depende da condição conduta”, frisa.
financeira do doente. A ideia é evitar intervenções O médico Carlos Dzik, responsável pelo Pro-
excessivas e desnecessárias e oferecer-lhe mais grama de Oncologia Clínica do Aparelho Urológico
conforto”, explica o oncologista Vinicius de Lima do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo
Vazquez, diretor clínico do Hospital de Câncer de (Icesp), conta que a conduta foi empregada pela
Essa é uma
Barretos. primeira vez entre homens com câncer de próstata alternativa de
Para ilustrar, ele cita o exemplo de um paciente
com dificuldades de locomoção, que reside a mil
de baixo risco por Laurence Klotz, presidente da humanização de
Federação Mundial de Uro-Oncologia.
quilômetros de um hospital. “Se a vigilância ativa, Em entrevista à última edição da revista assistência, que não
somente com a prescrição de remédios, represen- Onco&Uro, Klotz diz acreditar que os avanços da depende da condi-
tasse uma expectativa de sete meses de vida e uma ciência possibilitam diagnosticar doenças precoce-
cirurgia agressiva indicasse nove meses de sobre- mente e apontam condições que não afetam os pa-
ção financeira do
vida, em qual das duas opções haveria mais perda cientes e, por isso, não precisariam ser tratadas ao doente. A ideia é
de qualidade de vida? Nesse caso, seria mais inte-
ressante minimizar a dor e o sofrimento e aconse-
longo da vida. É o caso de vários tipos de câncer, evitar intervenções
incluindo mama, tiroide, rim e próstata.
lhá-lo a aproveitar os últimos meses de vida com a excessivas e desne-
família”, exemplifica. Melhor escolha cessárias e oferecer-
Vazquez diz que esse dilema de tratar ou não
tratar não está nos livros de medicina. Há 17 anos
Klotz criou o programa de vigilância ativa há
lhe mais conforto
quase 20 anos para selecionar quem tratar e quem
na área oncológica, ele afirma que a conduta tam- não tratar: “Se temos um paciente com um nível de
bém depende do entendimento da família e que a PSA elevado, mas com um bom prognóstico de cân-
decisão é conjunta (de médicos, paciente e seus pa- cer de desenvolvimento lento; ou se é um caso com
rentes). O Hospital do Câncer de Barretos recebe um prognóstico de crescimento rápido que neces-
11 mil novos casos oncológicos por ano. Desse sita de tratamento imediato, como fazer a melhor
total, de 10% a 20% chegam à instituição em está- escolha entre a sobremedicação que impacta a qua-
gios avançados e de 15% a 20% nas fases iniciais. lidade de vida do paciente e uma eventual morte
Na sua avaliação, a principal dificuldade da por falta de diagnóstico e de tratamento?”
abordagem da vigilância ativa entre os usuários do O uro-oncologista canadense afirma que hoje o
Sistema Único de Saúde (SUS) é a falta de conhe- cenário é certamente otimista nos casos de Gleason
cimento. “Nosso público tem pouco estudo. grau 6. Ele frisa que esses pacientes são a maioria e
Quando explicamos as vantagens dessa conduta, podem ter uma qualidade de vida maior porque
o doente apenas diz que ‘se é melhor para ele está não necessitam de cirurgia, apenas de observação
bom’. Esclarecemos o assunto para que a resolu- constante e biópsia a intervalos regulares. O pro-
ção seja tomada com bastante informação”, frisa o blema são os casos que ele chama de “zona cin-
especialista. zenta”, em que há dúvidas sobre a progressão da

Onco& abril/maio 2016 29


doença. Ele alega que essas dúvidas sempre existi- Não é fácil viver com a presença de um tumor
rão, mas o desafio é torná-las cada vez menos fre- na próstata. Muitos pacientes toleram a vigilância
quentes para evitar tratamentos desnecessários e ativa, outros não. Não há estatísticas sobre isso no
diagnósticos em excesso. Brasil, mas a receptividade depende da qualidade
Dzik, do Icesp, é oncologista clínico especiali- da conversa do médico com o paciente, que deve
zado em oncologia urológica. Ele menciona que explicar bem o porquê dessa conduta, informa.
operar tumor de próstata pode ocasionar disfunção
Uma vez que o erétil e incontinência urinária: “Nos casos selecio- Mais divulgação
câncer de próstata nados, sem a cirurgia, o câncer em estágio inicial Para discutir as vantagens dessa opção com os
só se tornaria agressivo após dez anos, provavel- familiares e o paciente, Dzik considera fundamental
em estágios iniciais mente”. Num paciente de 70 anos e com câncer de a experiência e o conhecimento do oncologista/uro-
não apresenta próstata de risco baixo, por exemplo, se sua expec- logista sobre o assunto para explicar seus benefícios
sintomas, é impres- tativa de vida for de 80 anos, não tratar o câncer com segurança.
pode ser uma alternativa bastante razoável, já que Dzik informa que, em quase 30% dos casos
cindível a adesão provavelmente não comprometerá a sua sobrevida. acompanhados durante cinco anos nas redes pri-
da pessoa a uma Isso é possível porque, mesmo aos 80 anos, existem vada e particular brasileira, o tumor permanece
periodicidade de alternativas de tratamento para um câncer de prós-
tata, garante.
com as mesmas características iniciais. Nos demais
casos (de 50% a 70%), deve-se adotar uma terapia
consultas médicas mais agressiva após dois a cinco anos de vigilância
para que não se Adesão do doente ativa devido à mudança de comportamento da neo-
Ele ressalta que no acompanhamento sem in- plasia. “Mas isso só deverá ser decidido caso a caso,
perca o momento tervenção terapêutica o paciente deve passar por à medida que apareçam evidências que exijam a
certo de mudança biópsia uma vez por ano e ressonância magnética mudança da conduta médica”, reforça.
de conduta, de da próstata antes de iniciar o programa de vigilân- Ele conceitua essa abordagem como “trata-
cia, para que se determine com clareza se é seguro mento que respeita a biologia do tumor”. Bem co-
acordo com o caso ou não acompanhar o paciente. Além disso, ele de- nhecida e adotada nas universidades americanas e
verá visitar o urologista a cada três ou quatro meses europeias, Dzik defende que a assistência seja mais
para realização de PSA e exame de toque retal. “O difundida no Brasil, em especial entre os oncolo-
programa de vigilância ativa pode ser interrompido gistas urológicos.
a qualquer momento se os exames mostrarem que “O assunto é bastante abordado em congressos,
o tumor começa a ter um comportamento mais mas os especialistas precisam obter ainda mais in-
agressivo”, alerta o oncologista do Icesp. formações dos benefícios da vigilância ativa”.
Uma vez que o câncer de próstata em estágios Como o Icesp é referência no atendimento de casos
iniciais não apresenta sintomas, ele observa que é graves de câncer de próstata, o médico diz que a
imprescindível a adesão da pessoa a essa periodici- vigilância ativa é pouco adotada nesse hospital, na
dade de consultas médicas para que não se perca o medida em que o programa, por definição, so-
momento certo de mudança de conduta, de acordo mente é indicado nos casos iniciais e de prognós-
com o caso. tico excelente.

30 abril/maio 2016 Onco&


palavra do gestor

Chegou para ficar

A
CIRURGIA ROBÓTICA JÁ É UMA REALI- Nós, da Oncologia D’Or e da Rede
DADE NA MEDICINA E SE CONCRETIZA D’Or São Luiz, estamos em consonância
COMO UM GRANDE AVANÇO NO TRA- com essa tendência mundial. Em cerca de
TAMENTO cirúrgico. A oncologia não ficou um ano, investimos 11 milhões de reais
de fora dessa tendência e podemos dizer nessa tecnologia. Nosso sistema robótico
que é uma das especialidades que mais se Da Vinci está disponível a qualquer médico
beneficiaram dela. Esse tipo de intervenção da cadeia de hospitais da rede em todo o
Rodrigo Abreu e Lima representa hoje quase a totalidade das ci- país. Desde a aquisição da plataforma de
rurgias de próstata. Não há mais como dis- cirurgia robótica pelo grupo, em meados
Diretor executivo da
sociar a uro-oncologia da robótica, e o de 2015, mais de 200 cirurgias do tipo já
Oncologia D’Or
mesmo vem ocorrendo em outras áreas nas foram realizadas em nossas instalações de
quais ela se tornou uma revolução, como São Paulo e do Rio de Janeiro. A opção pela
na cirurgia de cabeça e pescoço, torácica e, tecnologia é uma escolha conjunta do mé-
mais recentemente, em alguns casos de dico e do paciente.
gastrointestinal, ginecológica e bariátrica. Apesar de estar mais consolidada nas
Os benefícios são inúmeros tanto para áreas já citadas, em tese basicamente todos
o paciente quanto para os cirurgiões. Por os tumores podem ser operados pela téc-
serem minimamente invasivas, as cirurgias nica robótica. As limitações, como em
conduzidas com robótica proporcionam ao qualquer técnica cirúrgica, são a curva de
paciente um pós-operatório menos dolo- aprendizado e o tempo de experiência do
roso e mais curto, com menor tempo de cirurgião. O Grupo Oncologia D’Or acre-
convalescença, menor necessidade de anal- dita na importância de investir em treina-
gésicos e melhor resultado cosmético em mento médico. Temos hoje 15 cirurgiões
relação à cirurgia aberta convencional. Em- já capacitados para operar o robô. Nosso
bora a laparoscopia assistida por vídeo objetivo é fazer com que esse número
também proporcione alguns desses resul- aumente significativamente para que os
tados, a robótica confere ainda uma visão nossos pacientes possam usufruir das
mais detalhada do campo operatório ao ci- vantagens dessa tecnologia.
rurgião, além de maior liberdade de movi- Por isso mesmo, constantemente con-
mentos e menos tremor, fatores que juntos vidamos integrantes do nosso corpo clínico
inevitavelmente levam a uma cirurgia mais a participar de atualizações em robótica
segura, bem controlada e eficaz. nos melhores centros internacionais. Para
Não é à toa que esse tipo de cirurgia os próximos meses, está programado o
vem crescendo exponencialmente nos paí- treinamento de mais 20 médicos. Todas
ses mais desenvolvidos e nos principais essas inciativas confluem para a consolida-
centros europeus e norte-americanos. Nos ção de um tripé que consideramos funda-
Estados Unidos, com uma população de mental: pesquisa, educação e assistência.
aproximadamente 313 milhões de pessoas, Ao investirmos na cirurgia robótica, ga-
já existem 1.957 plataformas de cirurgia nham nossos médicos e também nossos
Contato: robótica em uso. No Brasil, temos apenas pacientes, ambos recebendo o que há de
rodrigo.lima@oncologiador.com.br 16 robôs em funcionamento para atender mais moderno na oncologia, com trata-
uma população de 200 milhões. mento eficaz e tecnologia de vanguarda.

Onco& abril/maio 2016 31


gestão

Fechando as contas da
saúde suplementar
Consultoria especializada mapeia situação de saúde nas
empresas e desenvolve estratégias para equilibrar gastos
e manter benefícios assistenciais

Por Sofia Moutinho

O
S GASTOS COM PLANOS DE SAÚDE REPRESENTAM com recente estudo encomendado pela Confedera-
HOJE A SEGUNDA MAIOR DESPESA DAS EMPRE- ção Nacional de Saúde (CNS).
SAS COM SEUS FUNCIONÁRIOS, ATRÁS APENAS O aumento se deve à incorporação de novas
dos salários. E o impacto dos benefícios de saúde tecnologias e coberturas dos planos, à descoberta
na folha de pagamento só vem crescendo – subiu de enfermidades e ao surgimento de epidemias,
de 10,38% em 2012 para 11,54% em 2015, se- mas principalmente à alta do dólar, que dita os pre-
gundo pesquisa da consultoria especializada Mercer ços de medicamentos e insumos, e às demissões,
Marsh. Na contramão da economia, os custos dos ocasionadas pela crise econômica do país. Com
planos de saúde sofrem altas de cerca de 15% ao risco de desemprego, os funcionários correm para
ano, podendo chegar a 20% este ano de acordo usar seus planos e acabam gerando mais sinistrali-
dade a seus patrões. Torna-se cada vez mais difícil
para as empresas manter os benefícios para seus co-
laboradores. “O plano de saúde tem hoje um im-
pacto muito forte na folha de pagamento e, em
momentos de dificuldade econômica, os empresá-
rios passam a avaliar todas as rubricas e modelos
de planos”, diz José Carlos Abrahão, diretor-presi-
dente da Agência Nacional de Saúde Complemen-
tar (ANS).
Para manter o equilíbrio entre benefícios assis-
tenciais e custos, ganha destaque nesse cenário a fi-
gura da consultoria especializada em gestão de
saúde. As consultorias, além de gerenciar os planos
e a contratação dos benefícios, podem atuar na aná-
lise do mercado e na definição e gestão de estraté-
gias internas que visam reduzir custos sem deixar
de lado a assistência e o bem-estar dos empregados.

32 abril/maio 2016 Onco&


“Tem empresa que fecha por causa do custo do entre os funcionários de uma empresa e a frequên-
plano de saúde, por ser uma conta muito alta e que cia com que fazem consultas de rotina. “Com esse
impacta diretamente na satisfação dos funcionários tipo de informação, conseguimos traçar ações que
e, por consequência, na produção”, aponta Bruno vão se traduzir em satisfação para os funcionários e
Blatt, CEO da D’Or Consultoria, empresa do seg- também em redução de custo a longo prazo, por
mento, criada em 2014, que vem ganhando espaço exemplo, investindo em prevenção e evitando no
no mercado. “A saúde dos trabalhadores já não é futuro procedimentos médicos mais complexos e
uma discussão somente de profissionais de recursos caros”, explica Fuji.
humanos. Pela complexidade do tema e pela gran- Foi o caso do cliente Fleury. Com os dados de
diosidade dos recursos financeiros envolvidos, pas- saúde da empresa em mãos, a consultoria identifi-
sou a ser debate de primeira pauta das lideranças cou que um número elevado de funcionárias não Com programas
de qualquer empresa”, complementa Blatt. fazia o preventivo ginecológico e o acompanha-
Em pouco mais de um ano, a consultoria capi- mento pré-natal e que havia uma quantidade signi-
de computador
taneada por Blatt atraiu 85 clientes e já atende 580 ficativa de complicações em partos das especializados e
mil vidas. A D’Or Consultoria tem como diferencial colaboradoras. A resposta foi o desenvolvimento de uma equipe de
o fato de ter como sócia a Rede D’Or São Luiz de um programa de incentivo batizado de Amor de
hospitais, o que agiliza e muitas vezes barateia o Mãe. Foi criado um hotsite em que as funcionárias médicos focada,
atendimento de saúde dos funcionários. “Aproxima- gestantes cadastradas obtêm, entre outras vanta- é possível cruzar
mos todos os pontos, possibilitamos aos nossos
clientes chegar mais perto de onde é realizado o tra-
gens, isenção da taxa de coparticipação nas consul-
tas ginecológicas, o que motiva o acompanhamento
dados como a
tamento e de onde vem 70% do gasto em saúde: a médico adequado. As mães contam ainda com o su- quantidade e o
rede hospitalar”, comenta o diretor executivo da porte de enfermeiras obstetras, que ficam de pron- custo médio de
consultoria, Jackson Fuji. “Normalmente, o cliente tidão durante a gestação e auxiliam na marcação de
não tem acesso à tabela de preços do que ele está consultas.
internações e
pagando, nós damos esse dado. Além disso, conse- O consultor de gestão em saúde do Fleury, procedimentos, até
guimos dar mais agilidade e tratamento mais perso- Thiago Tavin, conta que a medida elevou a satisfa- informações mais
nalizado para os funcionários nos hospitais da Rede ção das funcionárias e já se traduziu em economia
D’Or. As corretoras de mercado comuns não têm para a empresa. “Nossas gestantes já estão com in- detalhadas, como
esse acesso direto aos hospitais. Para fazer qualquer dicadores de pré-natal melhores e percebemos que os tipos mais
ação, precisam falar com a operadora do plano de aumentou a satisfação das pessoas atendidas. Além
saúde. Nosso trabalho e missão principal é permitir disso, estamos conseguindo um reajuste melhor no
comuns de queixas
aos clientes um entendimento sobre o fluxo dos cus- plano de saúde”, diz. “Ter um sistema robusto como médicas entre os
tos assistenciais, dando ênfase à transparência total o da D’Or Consultoria tem sido um grande benefí- funcionários
das informações e permitindo um gerenciamento fo- cio para nós”.
cado no impedimento de gastos desnecessários, bem Blatt conta que o trabalho da consultoria já pro-
como um recondicionamento do uso dos planos de porcionou uma economia de 19 milhões de reais
saúde pela população exposta.” para um de seus clientes, cujo gasto anual com
A D’Or Consultoria conta ainda com ferramen- saúde era de cerca de 100 milhões de reais – uma
tas de análise integrada de dados que permitem redução de quase 20%. “O nosso grande desafio é
fazer um verdadeiro raio X da situação de saúde possibilitar que o empregador continue financiando
dentro das empresas. Com programas de computa- o plano de saúde a um custo razoável no seu orça-
dor especializados e uma equipe de médicos fo- mento. Para isso temos estratégias de gestão, dire-
cada, eles conseguem cruzar dados como a cionamento, prevenção, redesenho de produto,
quantidade e o custo médio de internações e pro- corte e outras”, afirma o CEO. “Nosso objetivo final
cedimentos e até informações mais detalhadas, é deixar todos os atores envolvidos satisfeitos;
como os tipos mais comuns de queixas médicas patrões e empregados.”

Onco& abril/maio 2016 33


farmácia oncologia D’Or

Drogas orais, riscos e benefícios associados

U
MA PUBLICAÇÃO DE JULHO DE 1999 DO CLINICAL nidade muito maior de exercer a atenção farmacêutica,
CANCER RESEARCH DIZIA “O FUTURO PARA A QUI- mas dividindo seu tempo com as atividades relaciona-
MIOTERAPIA ORAL NUNCA FOI TÃO BRILHANTE”. DE das aos medicamentos injetáveis.
fato, estamos atualmente vivendo uma nova era no tra- Uma importante preocupação quanto aos medica-
tamento do câncer, temos uma imensidade de medica- mentos antineoplásicos orais é que eles fazem parte da
mentos orais disponíveis e essa tendência deverá lista de medicamentos potencialmente perigosos se-
continuar, com uma estimativa de 25% dos 400 novos gundo o instituto de práticas seguras no uso de medi-
medicamentos em desenvolvimento sendo formulados camentos (ISMP). São medicamentos que apresentam
para o tratamento oral de câncer. risco aumentado de provocar danos significativos aos
Em setembro 2015, o Journal of Oncology Practice pacientes em decorrência de falha no processo de uti-
publicou o artigo “Comparison of Independent Error lização, no qual o erro pode levar a consequências gra-
Divulgação

Checks for Oral Versus Intravenous Chemotherapy”, re- ves e letais. Por isso, é exigido ainda mais rigor em todo
latando que “muitos pacientes e cuidadores dizem que o processo de aquisição, guarda, conferência (dupla
preferem quimioterapia oral a IV, com vários novos me- checagem), dispensação e uso. Sem uma atenção cui-
dicamentos orais sendo usados para tratar o câncer para dadosa a esse respeito por parte das concessionárias,
o qual não existem medicamentos parenterais eficazes”. somada à relevância da adesão do paciente com os re-
A promessa para a quimioterapia oral é bem ilus- gimes de quimioterapia, essa nova rotina pode ser fonte
trada pelo uso da mercaptopurina em terapia de manu- de insucesso ou custos maiores no tratamento de mui-
tenção para leucemia linfoblástica aguda, na qual a tas doenças.
Elizangela Eugênio
administração diária via oral durante muitas semanas O estudo publicado no Journal of Oncology Practice
* Farmacêutica, membro de terapia de manutenção é um componente impor- diz, ainda, que o “maior envolvimento dos farmacêuti-
da Sociedade Brasileira tante da maior parte dos protocolos de tratamento para cos, no ambiente da clínica e da comunidade, facilitaria
de Farmacêuticos em a doença na infância. Esse modelo, contudo, não pode o aumento da verificação sistemática, o que poderia me-
Oncologia (Sobrafo) e da ser convenientemente alcançado com terapia IV. A ci- lhorar a segurança dos pacientes quanto à quimiotera-
International Society
clofosfamida oral é outro exemplo que tem sido um im- pia oral”. Para tanto, há uma enorme oportunidade para
of Oncology Pharmacy
Practitioners (ISOPP); portante componente da terapia adjuvante para câncer os farmacêuticos ao assumir um papel mais amplo den-
coordenadora do grupo de de mama há mais de uma década. tro das suas atribuições.
estudos de farmacêuticos E, neste cenário, está em vigor desde 2 de janeiro Precisamos nos lembrar de que o tratamento oral é
em oncologia (GEFO) de 2014 a resolução normativa (RN) 338, que regula- mais fácil sob o ponto de vista de que o paciente não
e gerente de farmácia
menta a quimioterapia oral na saúde suplementar ge- precisa ir ao serviço para o tratamento, mas é também
e do fluxo de informações
do Instituto de Oncologia rando a obrigatoriedade da cobertura desse tratamento um tratamento sistêmico como os EV e vai gerar reações
do Vale (IOV) pelos convênios. A RN disponibiliza uma lista de 37 adversas importantes, tais como náuseas, vômitos, diar-
princípios ativos entre quimioterápicos e hormônios reia, perda de cabelo, mudanças na pele e alterações no
para o tratamento de diferentes tipos de tumores sólidos sangue, que precisam ser manejadas pelo médico, tor-
e neoplasias hematológicas, além de classes de medica- nando obrigatória a visita do paciente ao serviço. De
mentos de suporte para dor e náuseas, entre outros, que acordo com a publicação Identificação de riscos da dis-
o paciente tem direito de receber gratuitamente. pensação de medicamentos orais, na ausência de atenção
A publicação da RN se tornou um desafio para as farmacêutica em uma clínica oncológica privada, os autores
E-mail:
operadoras de planos de saúde, que precisaram se reor- farmacêuticos detectaram que, 13% dos pacientes ape-
elizangela.eugenio@iov.med.br
ganizar para atender o usuário; para o paciente, que, nas receberam seus medicamentos via correio entregue
nessa terapia, precisa participar mais do seu tratamento; pela concessionária em suas residências.Destes, 93%
e para os farmacêuticos, que se deparam com a oportu- não tiveram oferta de atenção farmacêutica, contra os

Onco& abril/maio 2016 35


100% de atenção farmacêutica para os pacientes que retiram seus me- explicação verbal, entregue por escrito tudo que foi informado. Se ne-
dicamentos na instituição onde passam em consulta. O estudo eviden- cessário, use recursos visuais para que o paciente entenda claramente
cia que pacientes sem reconciliação medicamentosa acabam expostos a forma e o horário de tomada.
a riscos como efeitos de reações indesejáveis de interações medicamen- Oriente sobre a importância de não tocar no medicamento, usando
tosas e um sério comprometimento do tratamento. luvas ou mesmo copinhos descartáveis para levar o medicamento à
É de extrema importância que as concessionárias garantam a com- boca. Realize a reconciliação medicamentosa todas as vezes que o pa-
pra do produto de um fornecedor idôneo, qualificado, para evitar me- ciente visitar o serviço para retirar nova caixa, garanta que ele entenda
dicamentos falsificados ou de má procedência. Esses medicamentos sobre o risco da automedicação e que não esteja tomando outros me-
devem ser cuidados para que durante todo o seu trajeto sejam manti- dicamentos que possam interagir. Use sites como drugs.com e meds-
dos na temperatura ideal, garantindo assim sua eficácia. Existem rela- cape para complementar sua avaliação técnica em relação às interações
tos de medicamentos que são entregues via correio e que são medicamentosas.
consumidos inadvertidamente por outra pessoa que não seja o pa- Não banalize as queixas dos pacientes, trabalhe em conjunto com
ciente, além de embalagens danificadas por animais quando, por des- a equipe de enfermagem e o médico para minimizarem os efeitos ad-
cuido, a entrega é apenas deixada na residência sem nenhum controle versos e melhorar a adesão do paciente ao tratamento oral. Realize a
de registro do recebimento pelo destinatário. farmacovigilância e contribua com suas notificações à Anvisa ou ao
Para absorver essa demanda com sucesso, o farmacêutico precisará centro de vigilância sanitária.
se empenhar ainda mais para promover a saúde e o uso racional dos Explique sobre o descarte correto de medicamentos vencidos, que
medicamentos. Assim, reforço que o profissional deve conhecer as não deve ser no lixo comum, mas devolvido à instituição que o distri-
doenças, os protocolos de tratamento e como os fármacos agem; ela- buiu. Esta, por sua vez, deve realizar o direcionamento a empresas es-
borar fichas de consulta contendo as apresentações disponíveis, o po- pecializadas em incineração conforme RDC 306. Deve-se incentivar a
tencial emetogênico, orientações de como agir no caso de esquecimento doação daqueles medicamentos que não serão mais usados pelo pa-
de tomada, intoxicação, posologia, as reações adversas comuns e inco- ciente, desde que eles não estejam vencidos.
muns e o manejo delas, assim como em que condições o paciente de- A quimioterapia e a hormonioterapia oral só serão eficazes se a
verá receber esse medicamento na sua residência e o posterior adesão do paciente puder ser otimizada. Elas representam uma mu-
armazenamento; e interações medicamentosas. dança fundamental na prática da oncologia contemporânea, impulsio-
Na oportunidade ideal de entregar o medicamento diretamente ao nada por questões de farmacoeconomia, conveniência do paciente e
paciente ou cuidador/familiar, peça a ele que seja dito o nome com- no potencial para a melhoria da qualidade de vida do paciente. Com
pleto de quem irá usar e o nome do medicamento que vai retirar. Ga- o compromisso de exercer a assistência, o farmacêutico contribuirá
ranta que o paciente tenha entendido suas orientações e, além da para uma efetividade desta nova era de tratamento.

Referências bibiográficas:

1. http://jco.ascopubs.org/content/16/7/2557.short
2. http://jop.ascopubs.org/content/early/2015/09/29/JOP.2015.005892.abstract
3. Pôster publicado SBOC 2015 – Daniel e Edwiges
4. http://www.cancer.org/treatment/treatmentsandsideeffects/treatmenttypes/chemotherapy/oral-chemotherapy
5. http://clincancerres.aacrjournals.org/content/5/10/2669.short

36 abril/maio 2016 Onco&


farmácia apoio Sobrafo

Vacinas contra o HPV: Riscos x Benefícios

O
CÂNCER DE COLO DO ÚTERO, TAMBÉM CONHECIDO mentar as chances de cura. O método de rastreamento
COMO CERVICAL, É PRINCIPALMENTE PROVOCADO mais eficiente e utilizado atualmente é o exame citoló-
POR INFECÇÕES PERSISTENTES DE ALGUNS SUBTIPOS gico oncoparasitário da cérvice uterina, também conhe-
de diferentes genótipos oncogênicos do papilomavírus cido como Papanicolau.
humano (HPV) que provocam alterações malignas nas A persistência da infecção pelos principais tipos on-
células causando a hiperproliferação desordenada do cogênicos do HPV (16 e 18) poderá provocar lesões
epitélio de revestimento do colo uterino, comprome- progressivas no colo do útero, como neoplasia intrae-
tendo o estroma e podendo invadir estruturas, órgãos pitelial cervical de grau 1 – NIC 1 (displasia leve), que
adjacentes e até provocar a metástase. tem uma tendência a regredir e ser resolvida pelo sis-
A infecção pelo HPV é considerada a doença sexual- tema imune. As lesões de alto grau, NIC 2, NIC 3 e ade-
mente transmissível (DST) mais comum dos últimos nocarcinoma in situ (AIS) são consideradas lesões
Divulgação

tempos. Estima-se que, em média, 75% da população precursoras pré-malignas do carcinoma de células es-
mundial sexualmente ativa entre em contato com o camosas invasivo e do adenocarcinoma cervical inva-
vírus em algum momento da sua vida. sivo. Diversas pesquisas concluíram que, se as lesões
O HPV é um pequeno vírus DNA circular perten- precursoras forem detectadas precocemente e tratadas,
cente à família Papoviridae e que apresenta mais de 200 removendo-as, evitam-se a evolução e o agravamento
genótipos diferentes, sendo que 12 deles são conside- para o câncer invasivo.
rados oncogênicos e associados ao câncer de colo ute- Dados recentes da International Agency for Re-
rino, sendo os tipos HPV 16 e 18 os principais search on Cancer (IARC) relatam que o papilomavírus
Rodrigo Luis Taminato
responsáveis pelas lesões neoplásicas malignas no Brasil, humano (HPV) é responsável por 610 mil casos de cân-
* Pesquisador clínico da enquanto os tipos HPV 6 e 11 são relacionados às lesões cer por ano no mundo, sendo que 87% deles afetam o
Rede de Pesquisas e verrugas anogenitais e cutâneas. colo do útero, 9,5% a região anal-genital e 3,5% a região
em Farmacogenética e É um tipo de câncer de evolução lenta, com tempo da orofaringe. Além disso, vários estudos comprovam
Farmacogenômica do de latência longo. Algumas pesquisas mostram que pos- que praticamente 100% dos casos de câncer de colo
Estado de Goiás
sivelmente outros fatores também podem contribuir uterino são provocados pelo HPV.
(ICB-UFG) e da Rede
Goiana de Pesquisa em para o início e a progressão das lesões, como predispo- No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer
Mastologia (HC-UFG); sição genética, múltiplos parceiros, tabagismo, deficiên- (Inca), são estimados 16.340 novos casos de câncer
membro da Comissão cias no sistema imunológico, virulência viral e de colo do útero em 2016, sendo o terceiro tipo mais
Assessora de Educação simultaneidade com outras DSTs. frequente de câncer em localização primária em
da Sobrafo e professor
Na maioria dos casos, tanto lesões pré-cancerígenas mulheres, excetuando-se os cânceres de pele não me-
universitário
como cancerígenas apresentam-se assintomáticas em lanoma, ficando atrás do câncer de mama e colorretal,
praticamente todos os estágios, podendo provocar sin- sendo a terceira em mortalidade por câncer em mu-
tomas como ciatalgia, dor pélvica, corrimentos e san- lheres no país. Em 2013, foram registradas 5.430
gramentos vaginais em casos mais avançados. mortes no Brasil.
Se detectadas precocemente, elas têm um potencial
de cura que chega a 100%, tanto lesões precursoras pré- HPV x Vacinas imunobiológicas bivalentes e
malignas como neoplasias malignas em estágio inicial. quadrivalentes
No Brasil, existem estratégias para o diagnóstico de Devido às altas taxas de morbimortalidade provo-
E-mail:
detecção precoce e rastreamento que visam identificar cada pelo HPV, o Food and Drug Administration (FDA),
rodrigo.luis.japa@gmail.com
lesões precursoras pré-malignas e tratá-las, impedindo nos Estados Unidos, e a Agência Nacional de Vigilância
que evoluam para a neoplasia maligna ou para diagnos- Sanitária (Anvisa), no Brasil, aprovaram a comercializa-
ticar o câncer em estágio inicial, com a finalidade de au- ção das vacinas imunobiológicas:

Onco& abril/maio 2016 37


– Bivalente: recombinante contra HPV 16 e 18. lesões vaginais, vulvares, perineais e cervicais associadas ao HPV. O
– Quadrivalente: recombinante contra HPV 6, 11, 16 e 18 . registro foi de efetividade de 100% para prevenção de verrugas ano-
Por ser uma doença sexualmente transmissível, os métodos de pre- genitais, neoplasias vulvar e vaginal, NICs 1, 2 e 3 e adenocarcinoma
venção primária baseiam-se no uso do preservativo no ato sexual, em in situ. Quando avaliada com a intenção de tratar, ocorreu a redução
educação e orientação sobre as DSTs e nas vacinas preventivas admi- para 62% para lesões intraepiteliais de baixo grau e não se mostra
nistradas pela via intramuscular. significativa para lesões intraepiteliais de alto grau (NIC 2 e NIC 3)
Ambas são desenvolvidas pela tecnologia conhecida como VLP e adenocarcinoma in situ.
(Virus Like Particle), em que não possuem o DNA viral, somente as – Females United Unilaterally to Reduce Endo/Ectocervical Di-
proteínas estruturais do capsídeo viral que possuem epítopos especí- sease II: Study Group II – FUTURE II (publicado no New England
ficos e altamente imunogênicos. Sendo assim, não são infectantes (não Journal of Medicine): avaliação da vacina quadrivalente em 12.167
se replicam). O mecanismo de ação ocorre pelo estímulo da produção mulheres de 15 a 26 anos de idade, randomizadas, tendo como des-
de anticorpos neutralizantes contra as proteínas do capsídeo viral, pro- fecho principal o aparecimento ou não da lesão neoplásica intraepi-
movendo uma resposta imunológica de memória, tendo a capacidade telial cervical de alto grau, adenocarcinoma ou carcinoma invasor
de neutralizar as possíveis infecções subsequentes. associado ao HPV 16 e/ou 18. Os resultados apresentaram redução
A vacina bivalente tem principal indicação em mulheres na faixa de 98% a 100% de prevenção de NIC 2, NIC 3, adenocarcinoma in
etária de 10 a 25 anos, preferencialmente que não iniciaram a atividade situ ou câncer de colo do útero.
sexual, para prevenir possíveis lesões que possam evoluir para o câncer – PApilloma TRIal against Cancer In young Adults – PATRICIA
de colo do útero, como infecções persistentes, alterações citológicas (publicado na Lancet): avaliação da vacina bivalente em 18.644
como células escamosas atípicas de significância indeterminada (ASC- mulheres de 15 a 25 anos de idade, randomizadas, tendo como des-
US), neoplasia intraepitalial cervical 1 (NIC I) e lesões pré-malignas fecho o desenvolvimento de lesões intraepiteliais cervicais de alto
de NIC 2 e NIC 3, causadas por infecção persistente e lesiva pelo HPV grau ou câncer. O resultado demonstrou que a vacina bivalente apre-
oncogênico 16 e 18. sentou eficácia de 93% na prevenção de casos NIC 2 e NIC 3, ade-
A vacina quadrivalente possui os sorotipos 6, 11, 16 e 18, que são nocarcinoma in situ ou câncer de colo do útero.
os tipos virais causadores de verrugas genitais (6 e 11) e de lesões pre-
cursoras e cancerígenas do colo uterino (16 e 18). Vacinas imunobiológicas bivalentes e quadrivalentes x
A vacina imunobiológica quadrivalente é indicada para mulheres Reações adversas
entre 9 e 26 anos de idade, preferencialmente que não iniciaram a ativi- Os estudos clínicos que avaliaram a segurança da vacina demons-
dade sexual, para prevenir infecções persistentes pelo HPV 6 e 11 – que traram alguns eventos adversos de graus leves e moderados, na maioria
podem provocar as lesões de condiloma acuminado (verrugas genitais) reversíveis e raramente acentuados ou graves e irreversíveis, o
e as lesões precursoras pré-malignas do câncer de colo do útero como que demonstra segurança tanto na vacina bivalente quanto na vacina
NIC I, II e III, lesões de alto grau (HSIL), adenocarcinoma do colo do quadrivalente.
útero in situ (AIS) – e, consequentemente, impedir as lesões progressivas Algumas reações na vacina bivalente foram classificadas como
que levariam ao câncer de colo do útero invasivo, potencialmente letal. frequência:
No Brasil, desde 2014 a vacina quadrivalente contra o vírus HPV – Reações muito comuns (1/10): cefaleia, mialgia, reações no local
está sendo distribuída pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e adminis- da administração intramuscular (dor, vermelhidão e inchaço)
trada, atualmente, em meninas que, preferencialmente, ainda não te- e fadiga.
nham tido contato com os fatores de risco para a infecção pelo HPV, – Reações comuns (1/100 a 1/10): náusea, vômito, diarreia, dor ab-
entre 9 e 13 anos de idade, em duas doses, sendo a segunda seis meses dominal, coceira, prurido, rash, urticária, artralgia e febre (> 380 ºC).
após a administração da primeira. – Reações incomuns (1/1000 a 1/100): infecção do trato respiratório
Os estudos clínicos científicos duplos-cegos, randomizados, mul- superior, tontura e outras reações no local da administração intra-
ticêntricos e controlados por placebo mais importantes foram: muscular (induração e parestesia local e linfadenopatia).
– Females United Unilaterally to Reduce Endo/Ectocervical Di- – Reação rara (1/10.000 a 1/1000): reações alérgicas (incluindo rea-
sease: Study Group I – FUTURE I (publicado no New England Jour- ções anafiláticas e anafilactoides), angioedema e resposta de síncope
nal of Medicine): avaliação da vacina quadrivalente em 5.455 ou vasovagal à injeção, por vezes acompanhadas de movimentos tô-
mulheres de 16 a 24 anos de idade, randomizadas para análises de nico-clônicos).

38 abril/maio 2016 Onco&


O estudo americano conduzido pelo Centers for Disease Control Vacinas contra o HPV: riscos x benefícios
and Prevention (CDC) demonstrou que, de 2006 a 2013, 57 milhões Os estudos clínicos e as metanálises atuais concluem que tanto a
de pessoas foram vacinadas, o número de casos relatados de reações vacina bivalente como a tetravalente são eficazes na prevenção de le-
adversas foi de 21 mil (0,03% do total), sendo que 19 mil foram sões precursoras e que poderiam evoluir para o câncer de colo do útero
de reações leves e reversíveis. Os outros 2 mil relatos (0,003%) foram em mulheres que não tenham infecções prévias pelos subtipos virais
reações consideradas moderadas ou acentuadas, como náuseas, vômi- dos imunobiológicos estudados (HPV 6, 11, 16 e 18). Entretanto, os
tos, mal-estar, cefaleia, tonturas, queda de pressão, febre, desmaios mesmos estudos reforçam que, para concluir a eficácia na prevenção
e fraqueza. do câncer de colo do útero como desfecho final, há a necessidade de
O mesmo grupo CDC conduziu outro estudo entre 2006 e 2012: estudos de longo prazo, visto que na história natural da doença o efeito
após 1,4 milhão de doses da vacina quadrivalente contra o HPV, a taxa da imunização na incidência da neoplasia maligna só poderá ser ob-
de novos casos de ocorrência da síndrome de Guillain-Barré em mu- servado após um período de latência superior a 10–20 anos após o
lheres vacinadas foi a mesma taxa de mulheres não vacinadas. início de um programa de vacinação, e os estudos clínicos e o próprio
Outros resultados de estudos que avaliaram a segurança e as pos- tempo de registro das vacinas não ultrapassam 10 anos, o que dificulta
síveis reações adversas das vacinas não estabeleceram uma relação di- também a análise da necessidade de doses de reforço. Observam-se
reta das reações adversas com as vacinas, inclusive com as 34 mortes ainda poucos estudos e publicações relacionados ao tema.
relatadas até 2011. Também não houve conclusão sobre a relação da Vale ressaltar, também, que as vacinas disponíveis atualmente não
vacina com as referidas mortes. protegem contra outros subtipos de HPV também carcinogênicos,
No estudo envolvendo voluntários monitorados por meio do le- como HPV 31, 33, 35, 45, 52 e 58, que são responsáveis por 20% a
vantamento auxiliado pelo cartão de vacinação foram incluídos 6.160 30% dos casos de câncer de colo do útero, embora os mais frequentes
voluntários (5.088 mulheres de 9 a 26 anos de idade e 1.072 homens no Brasil sejam os subtipos HPV 16 e 18 (70%).
de 9 a 16 anos de idade na admissão) que receberam a vacina quadri- Até o momento, não existem resultados que demonstrem a eficá-
valente e 4.064 voluntários que receberam placebo. As experiências cia das vacinas na intenção de tratar. Ou seja, mulheres já expostas
adversas relatadas por aproximadamente 1% dos voluntários que re- ao HPV necessitam realizar exame preventivo de Papanicolau com a
ceberam a vacina quadrivalente recombinante foram: finalidade da detecção precoce de lesões precursoras ou sugestivas de
– Dor, inchaço, eritema, prurido, hematoma no local da administração câncer do colo uterino para o tratamento imediato e o impedimento
intramuscular da progressão e agravamento da doença.
– Febre sistêmica (a partir de 37,8º C) Por fim, a conclusão dos estudos clínicos atuais, das revisões sis-
Outras experiências adversas sistêmicas relatadas em voluntários va- temáticas e das metanálises sobre as vacinas bivalentes e quadrivalentes
cinados foram raras, inclusive em resultados percentuais muito pró- é que elas são extremamente eficazes para a prevenção de lesões pre-
ximos dos relatados no grupo placebo, como: pirexia, diarreia, cursoras (pré-malignas) do câncer de colo do útero, extremamente se-
vômitos, mialgia, tosse, mal-estar, artralgia, insônia. guras, com poucas reações adversas de leves a moderadas e reversíveis.

Referências bibiográficas:
1. Araújo SCF, Caetano R, Braga JU, Silva FVC. Eficácia das vacinas comercialmente disponíveis contra a infecção pelo papilomavírus em mulheres: revisão sis-
temática e metanálise.
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Informe técnico sobre a vacina contra o papilomavírus humano (HPV). Brasília: Dez 2013.
3. CDC. Quadrivalent human papillomavirus vaccine. Recommendations of the advisory committee on immunization practices (ACIP). MMWR 2007;56
(RR-2):1-24.
4. FUTURE I/II Study Group; Dillner J, Kjaer SK, Wheeler CM, Sigurdsson K, Iversen OE, et al. Fouryear efficacy of prophylactic human papillomavi- rus qua-
drivalent vaccine against low grade cervi- cal, vulvar, and vaginal intraepithelial neoplasia and anogenital warts: randomised controlled trial. BMJ 2010; 20:c3493.
5. Inca: http://www.inca.gov.br/estimativa/2016/tabelaestados.asp?UF=BR;
6. http://www2.inca.gov.br/wps/wcm/connect/agencianoticias/site/home/noticias/2016/esquema_de_vacinacao_hpv_duas_doses
7. Nunes CBL, Arruda KM, Pereira TN. Apresentação da eficácia da vacina HPV distribuída pelo SUS a partir de 2014 com base nos estudos FUTURE I, FUTURE
II e Villa et al. Acta Biom Brasil, 2015; 6:1-9.
8. Paavonen J, Naud P, Salmeron J, Wheeler CM, Chow SN, Apter D, et al. Efficacy of human papil- lomavirus (HPV )-16/18 AS04-adjuvanted vaccine against
cervical infection and precancer caused by oncogenic HPV types (PATRICIA): final analysis of a double-blind, randomised study in young wom- en. Lancet
2009; 374:301-14.

Onco& abril/maio 2016 39


curtas

Rede D’Or inaugura novo Centro de


Divulgação

Mama e apoia mães da Casa Ronald


com mamografias gratuitas
No Dia Internacional da Mulher, 8 de março, o Hospital Quinta D’Or, em São
Cristóvão (RJ), inaugurou o seu Centro de Mama, o primeiro do tipo localizado dentro
de um hospital geral no Rio de Janeiro, facilitando a detecção precoce do câncer de mama.
O centro conta com uma área total de 200 metros quadrados e capacidade média de
atendimento de 540 procedimentos/exames por mês, englobando ultrassonografias,
mamografias e biópsias. Para tal, dispõe de aparelho para mamografia digital com to-
mossíntese, que gera um exame de imagem sob vários ângulos e um diagnóstico precoce
mesmo para tumores menores. O novo espaço já estreou oferecendo dez mamografias por mês durante todo o ano de 2016 às mães
cujos filhos com câncer são hóspedes da Casa Ronald McDonald, na Tijuca (RJ). O intuito da ação é garantir que essas mulheres deem
a atenção necessária à própria saúde, além da dos filhos.

IDOR e UFRJ vão estudar potencial genotóxico


Divulgação

do café
O aroma de um café recém-preparado é a primeira sensação prazerosa do dia para mais de
1 bilhão de pessoas no mundo. A composição química do grão de café está fortemente relacionada
com as práticas agrícolas adotadas nas lavouras. O Brasil utiliza, muitas vezes, técnicas de colheita
inadequadas. Cerca de 50% do total da produção brasileira correspondem a grãos imperfeitos e
que, incorporados ao mercado interno, comprometem a qualidade e a segurança alimentar, uma
vez que levam à formação de compostos nefrotóxicos e possivelmente cancerígenos. No entanto, é
importante destacar que ainda não há estudos conclusivos sobre os riscos de tais compostos para a
saúde. Por isso, pesquisadores do IDOR e da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) irão
iniciar estudos relacionados ao potencial genotóxico desses grãos.
Os defeitos que têm maior influência na qualidade do grão são oriundos de frutos imaturos e passados, conhecidos como PVA (preto,
verde e ardido). Frutos passados são suscetíveis à contaminação por micotoxinas, principalmente ocratoxina A (OTA), que em torras
excessivas são degradadas. Entretanto, a torra acentuada, independentemente da qualidade dos grãos, pode levar à formação de hidro-
carbonetos aromáticos policíclicos (PAHs), cloropropanóis e furanos, dos quais alguns são compostos mutagênicos e cancerígenos e
outros potencialmente genotóxicos, os quais podem ser transferidos para a bebida. Ao mesmo tempo, cafés nessas torras mascaram
aromas indesejáveis e eventuais adulterações, apresentando acentuado amargor e corpo, características apreciadas entre os brasileiros.
Considerando a complexidade do processo, dado o alto consumo diário no Brasil, e a ausência de dados científicos sólidos, seria razoável
assumir, por ora, que o consumo moderado de cafés especiais em torra média seria a prática mais recomendada para mitigar os possíveis
riscos e maximizar os efeitos benéficos do café na saúde e bem-estar.

40 abril/maio 2016 Onco&


curtas

Xalkori (crizotinibe) é aprovado Medicamento para tratamento da


no Brasil para o tratamento de mielofibrose já está disponível no
câncer de pulmão país
Utilizado em mais de 80 Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (An-
Divulgação

países, o medicamento é re- visa) no final do ano passado, o ruxolitinibe é a nova alternativa
conhecido como droga órfã para tratamento dos pacientes com mielofibrose (MF) de risco in-
pelo Food and Drug Admi- termediário ou alto. Produzido pela Novartis, o ruxolitinibe é o
nistration (FDA), órgão re- único tratamento disponível especificamente para o combate da
gulatório norte-americano. mielofibrose, um tipo raro de neoplasia no sangue provocado pelo
O medicamento Xalkori (crizotinibe), produzido pela Pfizer, mau funcionamento da medula óssea, que deixa de produzir quan-
foi aprovado no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância tidades normais de células sanguíneas, levando a um aumento
Sanitária (Anvisa). A terapia é indicada para o tratamento acentuado do baço. A mielofibrose também causa sintomas debili-
em primeira e segunda linha de câncer de pulmão de não tantes como emagrecimento, febre, sudorese noturna, prurido e
pequenas células (CPNPC) positivo para a alteração gené- cansaço extremo, que acabam por comprometer a qualidade de
tica ALK (linfoma quinase anaplástico), que acomete geral- vida do paciente. A média de sobrevida geral de um paciente com
mente pessoas não fumantes, em uma faixa etária mais MF sem tratamento é de cinco a seis anos, caindo para 1,3 ano em
jovem. O Xalkori é o primeiro medicamento de adminis- pacientes classificados como de alto risco. Com o tratamento,
tração oral indicado para o tumor de pulmão do tipo houve melhora significativa da sobrevida desses pacientes, com re-
CPNPC com uma alteração genética específica (fusão dução de até 42% do risco de morte pela doença. “Além de aumen-
EML4-ALK). O Xalkori age inibindo uma enzima produzida tar a sobrevida, o ruxolitinibe melhora muito a qualidade de vida
pela fusão dos genes ALK e EML4 que favorece a multipli- do paciente, compensando eventos adversos”, comenta o hemato-
cação das células tumorais no pulmão. De acordo com a logista Renato Tavares, do Banco de Sangue Hemolabor, que já tra-
Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2012 a doença tou de 27 pacientes com mielofibrose usando o fármaco, dentro do
matou 1,6 milhão de pacientes no mundo. No Brasil, todos protocolo de pesquisa. Entre os efeitos indesejados do ruxolitinibe
os anos, aproximadamente 27 mil pessoas são diagnostica- estão anemia, queda de plaquetas, neutropenia, tontura, dor de ca-
das com esse tipo de câncer e outras 16 mil morrem por beça e hematomas. No Brasil, aproximadamente 150 pacientes já
causa do tumor. foram beneficiados com o tratamento com ruxolitinibe por meio
dos programas de uso compassivo e acesso expandido.

FDA aprova nova opção de primeiro tratamento para um tipo de leucemia


O Food and Drug Administration (FDA), órgão regulatório americano, acaba de aprovar o uso de ibru-
Divulgação

tinibe para pacientes com leucemia linfoide crônica (LLC) sem tratamento prévio. Com isso, o medicamento
pode agora ser usado nos Estados Unidos também como opção de primeiro tratamento para a doença. A
nova indicação baseia-se em dados do estudo fase 3 RESONATE-2 (PCYC-1115), que comparou ibrutinibe
com clorambucil. Os resultados, de um período de seguimento mediano de 18,4 meses, mostraram que o
medicamento prolongou significativamente a sobrevida livre de progressão, reduzindo em 84% o risco de
progressão da doença ou de morte. Ibrutinibe melhorou significativamente a taxa de resposta global,
chegando a 86% versus 35% de clorambucil em pacientes com 65 anos de idade ou mais com LLC sem
tratamento prévio, e prolongou significativamente a sobrevida global, reduzindo o risco relativo de morte em 84% comparado ao clorambucil
em 24 meses. No Brasil, o medicamento foi lançado em novembro de 2015, após aprovação em regime de priorização pela Anvisa, e é in-
dicado para pacientes que não responderam a um tratamento inicial ou que apresentaram recaída da doença. O medicamento é desenvolvido
em uma parceria entre Janssen Biotech, Inc. e Pharmacyclics LLC.

42 abril/maio 2016 Onco&


conhecimento de excelência na área de saúde.

O Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) é uma instituição privada, sem fins
lucrativos, que contribui para o desenvolvimento da ciência brasileira e formação de Saiba mais. Visite:
profissionais de excelência na área de saúde. Dispõe de robusto capital intelectual
e infraestrutura equipada para desenvolver pesquisas clínicas e translacionais
em diversas áreas como: biologia molecular, biologia celular, www.idor.org
neuroimagem, neuropsiquiatria, medicina intensiva, oncologia,
pediatria e medicina interna. O instituto também coordena oito
programas de residência médica da Rede D’Or São Luiz: Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino
Cardiologia, Medicina Intensiva, Clínica Médica, Pediatria, Rua Diniz Cordeiro, 30
Radiologia, Urologia, Cirurgia e Anestesiologia, e oferece
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diversos cursos de especialização e atualização nas
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áreas de Medicina Intensiva Pediátrica, Clínica /DOrInstitute
Médica, Ortopedia, Farmácia, Cardiologia e /Institutodor
Imagem.
curtas

Divulgação
Identificados “pontos
fracos” em tumores de
pulmão e pele
Um grupo internacional de pesquisadores da
Universidade Harvard, da Universidade College
London e do MIT observou que tumores de pele
Riscos associados à fosfoetanolamina
e pulmão carregam uma espécie de “sinal” para o
O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI) divulgou os
sistema imune que facilita a sua destruição. Trata-
resultados preliminares das primeiras pesquisas financiadas pelo governo
se de proteínas encontradas apenas na superfície
federal sobre a fosfoetanolamina, substância que até então vinha sendo
dos tumores e que podem vir a ser alvos para
produzida e distribuída na USP de São Carlos (SP) via ações judiciais e
novas terapias. A imunoterapia, que se vale das
ficou conhecida como a “pílula do câncer”. O relatório aponta que as cáp-
células T do sistema imune para atacar as células
sulas têm uma concentração de fosfoetanolamina menor do que o espe-
cancerosas, tem se mostrado uma grande pro-
rado e que somente um dos componentes da cápsula, a monoetanolamina,
messa contra algumas formas de câncer, como o
apresentou alguma atividade citotóxica e antiproliferativa, ou seja, capa-
melanoma, mas não para todos os tumores. A des-
cidade de destruir células tumorais e inibir seu crescimento. Testes feitos
coberta dessas proteínas, compartilhadas por
com os componentes da cápsula em células humanas de câncer de pân-
todos os pacientes de câncer examinados no es-
creas e melanoma apontaram que a fosfoetanolamina não apresentou efeito
tudo, abre caminho para a melhoria das estraté-
contra os tumores. Somente a monoetanolamina demonstrou potencial
gias de imunoterapia. Os cientistas verificaram
antitumoral, ainda assim “várias ordens de magnitude menos potente” do
que os pacientes estudados tiveram uma resposta
que medicamentos antitumorais já disponíveis no mercado.
imune contra os tumores, embora não intensa o
O presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC),
suficiente para destruir o câncer. Biópsias dos
Gustavo Fernandes, alerta para os riscos da Lei 4639/2016, que libera, sem
tumores revelaram células imunes no interior dos
critérios, a fosfoetanolamina. Para Fernandes, “é fácil entender que os pa-
tumores, algumas das quais reconheceram as pro-
cientes com câncer e seus familiares busquem quaisquer soluções, mas não
teínas nas células malignas. A expectativa dos pes-
podemos aceitar que as instituições também se curvem ao desespero e à
quisadores é de que essas células imunes possam
irracionalidade”. Sobre a aprovação da lei pela presidência da República,
ser isoladas, artificialmente multiplicadas em la-
ele é taxativo ao afirmar que “desprezando a necessidade de realizar pes-
boratório e combinadas com drogas para atacar
quisas clínicas antes de se liberar um medicamento, a liberação faz o Brasil
todas as células cancerosas no organismo.
regredir décadas em sua escalada civilizatória”.
A SBOC, assim como o Conselho Federal de Medicina e a Associação
Médica Brasileira, se posicionaram contra essa lei, que entendem como
um risco à saúde pública e um agravo ao poder constituído das entidades
médicas e da autoridade sanitária brasileira (Anvisa).

44 abril/maio 2016 Onco&


do bem

Por uma morte digna

Segundo o Colégio Notarial do Brasil, no ano passado


682 pessoas se dispuseram a fazer o testamento vital,
dispondo sobre os limites para a manutenção de sua vida,
em casos de doenças terminais

Por Martha San Juan França

N
“ INGUÉM QUER A MORTE, SÓ SAÚDE E SORTE”, quer ser submetida em caso de doença incapaci-
JÁ DIZIA GONZAGUINHA NA CANÇÃO O QUE É, tante. A decisão foi resultado da experiência terrível
O QUE É?. MUITO MENOS A MORTE NA IMPES- de ver o pai, que morreu em 2013, mantido em es-
soalidade dos hospitais, longe das pessoas queridas tado vegetativo por oito anos devido a um acidente
e cercado de um arsenal terapêutico que só vai pro- de moto. “Ele sofreu muito sem ter chance de re-
longar o sofrimento na fase final da vida. Por isso cuperação”, afirma Ariane. “É uma coisa que eu não
mesmo, aumenta o número de pessoas que se dis- gostaria que acontecesse comigo.”
põem a fazer o testamento vital, documento lavrado Como Ariane, a maior parte das pessoas que
em cartório que permite antecipadamente expressar buscam fazer o testamento vital já passou por expe-
a própria vontade quanto às diretrizes de um trata- riências desse tipo. Há também aqueles que rece-
mento médico futuro, no caso de impossibilidade bem um diagnóstico de doença grave evolutiva,
diante de um acidente ou doença grave. como neoplasia em estado avançado, e se dispõem
Segundo o Colégio Notarial do Brasil, 682 pes- a planejar o tempo que ainda lhes resta. “O diagnós-
soas se dispuseram a fazer o documento no ano tico de câncer, mesmo que não seja fatal, provoca
passado, a maioria em São Paulo (574), mas tam- uma experiência de fragilidade. A consciência da
bém em todos os outros estados da federação. mortalidade faz a pessoa repensar muitas coisas”,
Desde 2012, quando o Conselho Federal de Me- considera o advogado Marcos Coltri, especialista em
dicina (CFM) aprovou a Resolução 1995/2012, direito médico. “Compreensivelmente, o testamento
que dispõe sobre as diretivas antecipadas de von- vital pode ser uma das decisões a serem tomadas.”
tade dos pacientes, até março deste ano foram la- Diferentemente do testamento clássico, que dis-
vrados 2.280 testamentos. Esse número só tende põe sobre o patrimônio depois da morte, o testa-
a crescer. mento vital atua no momento em que o limite entre
“Recebo uma média de dez e-mails por semana a vida e a morte é alcançado. Ele permite que o
de pessoas interessadas nesse tipo de documento”, autor, maior de 18 anos e em plena consciência,
atesta a advogada Luciana Dadalto, administradora disponha sua vontade quando não tiver mais capa-
do site www.testamentovital.com.br, que disponi- cidade para explicitá-la. O registro é facultativo e
biliza informações sobre o tema. É o caso da publi- pode ser feito em qualquer momento da vida, po-
citária gaúcha Ariane Flávia Cardoso, de 20 anos. dendo ser modificado ou revogado. Diferentemente
Mesmo jovem e saudável, Ariane fez o testamento de outros países, no entanto, no Brasil não há le-
vital especificando os procedimentos aos quais não gislação específica sobre esse tema.

Onco& abril/maio 2016 45


A resolução do CFM não obriga o registro da di- o testamento vital e veio a falecer. “Esse documento
retiva antecipada de vontade em cartório. A opção protege o paciente e o médico quando a família se
do paciente pode ser anotada pelo médico assistente posiciona contra esse direito”, afirma. “Mas não é
em sua ficha médica ou no prontuário, desde que necessário se houver um acordo resultante de uma
Desde 2012, quando expressamente autorizada por ele. Nesse registro, se conversa franca, sem constrangimento, sobre os li-
considerar necessário, o paciente pode nomear um mites do tratamento e da medicina.”
o Conselho Federal representante legal para garantir o cumprimento de Segundo Fernandes, cabe ao médico dar ao pa-
de Medicina (CFM) sua vontade, que pode ser um familiar ou amigo. ciente e sua família informações corretas sobre a
aprovou a Resolução Segundo o CFM, independentemente da forma – se doença, possíveis complicações e a evolução clínica
em cartório ou no prontuário –, a decisão não po- para que eles participem das decisões e seja estabe-
1995/2012, que derá ser contestada por outros familiares. lecido um consenso sobre a melhor forma de trata-
dispõe sobre as mento e em que nível ele deve ser realizado. “A
medicina evoluiu muito, a estimativa de vida do-
diretivas antecipa- brou, o que deve ser comemorado”, pondera. “Por
das de vontade dos outro lado, esses avanços trouxeram a sensação de
pacientes, até que se pode tudo, de que a morte é uma derrota
que deve ser evitada a qualquer custo. Não é assim.
março deste ano O médico tem que passar essa mensagem sem cons-
foram lavrados trangimento, tem que ter a coragem de lidar com a
2.280 testamentos, terminalidade e os limites da ciência.”
A base em que se assenta o testamento vital é o
número que só respeito à autonomia do indivíduo. Por isso mesmo,
tende a crescer o CFM aconselha aos que assim o desejarem fazer
um testamento genérico, sem especificar exatamente
o que não se deseja. A definição deverá ser feita caso
a caso, dependendo da situação, concorda a médica
Maria Goretti Sales Maciel, do Hospital do Servidor
Público Estadual de São Paulo. “Experimentamos na
prática o quanto é importante o diálogo com todos
– o paciente, seus familiares, os outros profissionais
envolvidos. Esse diálogo deve ser realizado de forma
delicada, mas franca, e, na dúvida, o melhor árbitro
é o próprio doente.” Maria Goretti é presidente da
Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP),
prática que reconhece e cuida com respeito de pes-
soas que enfrentam problemas associados a doenças
que ameaçam a vida.
Algumas questões devem ser levadas em consi-
deração antes de fazer o testamento vital. Em pri-
meiro lugar, o documento não é um apelo à
eutanásia (a indução intencional da morte a pedido
“É um direito do paciente não querer ser sub- do paciente), prática proibida no Brasil. “É impor-
metido a tratamentos fúteis que apenas adiam a tante ter em mente que o médico só estará obrigado
morte sem promover alívio e conforto e sem modi- a cumprir os termos do documento se eles não es-
ficar o prognóstico da doença”, afirma Gustavo Fer- tiverem em desacordo com a legislação brasileira e
nandes, presidente da Sociedade Brasileira de os preceitos do Código de Ética Médica”, frisa a ad-
Oncologia Clínica (SBOC). Em sua prática como vogada Luciana Dadalto. Nesse sentido, a resolução
oncologista, Fernandes já tratou de um paciente é um desdobramento de outro preceito do CFM re-
com tumor de estômago metastático que tinha feito ferente à ortotanásia, ou seja, a não utilização de

46 abril/maio 2016 Onco&


meios extraordinários para manutenção da vida fora de possibilidades digna segue os princípios constitucionais da dignidade da pessoa e é
terapêuticas. garantia de que ninguém será submetido a “tratamento desumano ou
degradante”.
Diretivas antecipadas de vontade (DAV) – testamento vital “Esses dilemas são muito novos, e os médicos – bem como a nossa
UF/Ano 2012 2013 2014 2015 2016 Total estrutura jurídica – ainda não têm pleno conhecimento e segurança
AC – 1 – – – 1 para adotar um procedimento relacionado a essa fase final da vida”,
observa Reinaldo Ayer de Oliveira, professor de bioética da Faculdade
AL – 1 – 1 1 6
de Medicina da USP. Para ele, o testamento vital é importante, mas
AM 1 – 1 1 – 3
deve ser considerado parte de uma discussão mais ampla. “Até recen-
BA – 4 1 – – 8 temente, as faculdades de medicina direcionavam o estudante para ser
CE 2 – 1 1 – 6 um superespecialista em alguma parte do organismo. Ele aprendia a
ES 3 4 3 4 – 18 técnica e os últimos avanços nos tratamentos. Só agora, tardiamente e
GO 2 4 1 – – 8 motivados pelo que é feito em outros países, estamos começando aqui
MA – 2 3 1 – 9 a falar sobre qualidade de vida e de morte.”
MG 12 8 7 19 – 78 Para Ayer de Oliveira, a sociedade ainda está alheia a essa discus-
são. “Em nossa cultura, o tema ainda é tabu, diferentemente de Espa-
MS 1 3 – 1 – 16
nha, Portugal e Uruguai, onde a autonomia quanto aos procedimentos
MT 8 77 86 – – 171
médicos no final da vida e a instituição do testamento vital já são uma
PA 1 2 – 1 – 5 realidade”, afirma. Nos Estados Unidos, o Patiente Self-Determination
PB – 1 1 1 – 3 Act (PSDA), lei aprovada em 1990, reconhece o direito das pessoas à
PE 4 2 1 – 1 21 tomada de decisões referentes ao cuidado da saúde, aí incluídos os di-
PI – 4 – – – 4 reitos de aceitação e recusa do tratamento. “Com o envelhecimento da
PR 16 16 4 1 – 41 população e o crescimento do movimento hospice [movimento vol-
tado para a assistência de pacientes com doenças avançadas e termi-
RJ 2 – 3 9 1 18
nais] e de cuidados paliativos, o testamento vital tornou-se muito
RN 1 – – – – 1
disseminado, sendo aprovado pelo governo federal, pelos 50 estados
RO 4 1 – 1 – 14 e pela Suprema Corte”, afirma o brasileiro Fernando Kawai, diretor do
RS 56 53 53 54 8 399 programa Cuidados Paliativos Multidisciplinar do Hospital Presbite-
SC – 6 4 11 – 23 riano de Nova York.
SE – 1 2 2 – 5 Inevitavelmente a discussão deve se ampliar no Brasil, à medida
SP 62 298 377 574 100 1.417 que aqui também a população está envelhecendo e exigindo seu direito
TO – 1 2 – 2 5
de ser tratada com dignidade. O exemplo parte de pessoas como dona
Elza Muniz Barreto de Carvalho, aposentada de 85 anos que deixou
Total geral 175 489 550 682 113 2.280
seu testamento vital com as orientações do que deve ou não ser feito
A resolução 1805/06 do CFM permite a suspensão do tratamento quando sua vida estiver perto do fim. Há cerca de dois anos, dona Elza
nesses casos, desde que sejam garantidos “os cuidados necessários para acompanhou a morte de seu marido, que tinha metástase. Ele próprio,
aliviar os sintomas que levam ao sofrimento, na perspectiva de uma enquanto ainda estava consciente, não quis ser levado para o hospital
assistência integral, respeitada a vontade do paciente ou de seu repre- e preferiu ser tratado em uma casa de repouso para idosos. “Consegui
sentante legal”. A Justiça reconheceu a constitucionalidade da ortota- que meu marido morresse em paz e, para garantir que o mesmo seja
násia, embora ela também não tenha sido regulamentada, à espera da feito comigo, resolvi formalizar a minha vontade nesse documento”,
aprovação pelo Congresso do novo Código Penal. O mesmo ocorreu conta. “É o meu desejo, e meus cinco filhos têm a mesma opinião.
com a resolução 1995/2012, que trata do testamento vital. Nos dois Agora, gostaria de encontrar médicos que, quando chegar a hora, con-
casos, considerou-se que o direito do cidadão de escolher uma morte cordem comigo.”

Onco& abril/maio 2016 47


especial Hospital Johns Hopkins

Por Ana Carolina Nobre de Mello – dra@anacarolinanobre.com.br


Oncologista do Grupo Oncologia D’Or

Integração é a palavra-chave

O
TRATAMENTO DO PACIENTE COM nando aqueles que carecem mais de rádio, químio ou cirurgia. De
CÂNCER TEM SE TORNADO CADA acordo com essa seleção, os pacientes são encaminhados para consultas
VEZ MAIS COMPLEXO COM A IN- individuais com os especialistas. Após essa fase, colhidas as informa-
trodução de novas tecnologias diagnósticas, abordagens terapêuticas ções de cada paciente, todos os profissionais médicos se reúnem para
e o avanço na compreensão da doença. Poucos pacientes hoje são tra- analisar caso a caso e discutir o tratamento. Terminado o debate, os
tados com apenas uma modalidade terapêutica. Frequentemente, o médicos conversam com cada paciente. Mesmo que o paciente seja ci-
paciente passa por uma combinação de cirurgia, quimioterapia e ra- rúrgico, ele será atendido por um oncologista. Ao final, o paciente sai
dioterapia. Essa realidade reforça a tendência de um tratamento com de lá com uma visão ampla do tratamento e os médicos com a conduta
abordagem multidisciplinar e integrada, em que diversos especialistas definida. O paciente pode optar por seguir o tratamento na clínica ou
trabalham juntos para chegar a um consenso sobre a linha de cuidado levar a conduta para seguir em outra clínica. Se o paciente não tem
e os protocolos adotados para cada indivíduo. A abordagem multidis- exame, já faz lá. Toda a conduta é definida em um só dia e com um
ciplinar é hoje o padrão ouro na oncologia. olhar multidisciplinar.
Recentemente, tive a oportunidade única de participar ativa e imer- Ter um centro focado na doença com médicos especialistas nisso
sivamente em um projeto modelo nessa linha, na Clínica Multidisci- faz toda a diferença. Além da agilidade, o paciente ganha na qualidade
plinar de Câncer de Pâncreas, no Hospital Universitário da Johns do atendimento integrado. Em média, 24% dos pacientes atendidos
Hopkins, em Baltimore, nos EUA, onde estive por seis meses como na clínica em busca de uma segunda opinião têm mudança na con-
médica visitante, sob orientação do médico Lei Zheng e em contato duta recomendada para seu caso depois da análise da equipe multi-
com grandes especialistas como Luiz Alberto Diaz e Daniel Laheru. O disciplinar.
hospital da universidade é um dos melhores do mundo, classificado Esse modelo de atenção integrada, apesar de reconhecido como
por dez anos entre os três melhores dos EUA e referência no trata- uma prática ideal em todo o mundo, ainda é exclusividade de poucos
mento de câncer. centros de excelência de hospitais universitários nos Estados Unidos.
Baltimore é uma cidade pequena, distante 30 minutos de Washing- Mas a ideia está viva aqui no Brasil na Rede D’Or São Luiz e no grupo
ton, DC, e grande parte da atividade local gira em torno da universi- Oncologia D’Or. Temos na rede equipes de alta qualidade em cirurgia,
dade e do hospital, que recebe pacientes vindos de todos os países, radioterapia, imagem e oncologia e a possibilidade de replicar aqui
especialmente do Oriente Médio, em busca de uma segunda opinião esse sistema. Na tentativa de implementar o atendimento integrado e
médica. A oncologia possui um prédio próprio, com emergência on- mais ágil possível, o grupo criou a chamada linha verde, uma linha de
cológica, atendimento ambulatorial, setor de químio e radioterapia, cuidado que vai da suspeita da doença e segue durante todo o trata-
cirurgia e internação – toda essa infraestrutura em um só local, dese- mento com apoio e assistência completa ao paciente.
nhada para atender os pacientes de forma integrada e ágil. O projeto cria um fluxo contínuo entre as unidades do Grupo
Durante minha visita, atuei no ambulatório gastrointestinal, acom- Oncologia D’Or e os hospitais da rede. Do mesmo modo que na clínica
panhando pacientes com câncer de pâncreas, colorretal e neuroendó- da Johns Hopkins, o paciente atendido pela linha verde recebe o acom-
crino, além de participar das sessões multidisciplinares de câncer de panhamento de um hematologista e um oncologista clínico atentos a
pâncreas, realizadas semanalmente. Nessas sessões, profissionais de todo seu histórico e tratamento. O paciente conta ainda com um con-
diferentes especialidades, entre oncologistas, radiologistas, patologis- cierge que marca seus exames, consultas e procedimentos no menor
tas, cirurgiões e médicos da dor, se reúnem para analisar e debater os tempo possível, agilizando o atendimento. O tempo entre o primeiro
casos dos pacientes que procuram a clínica em busca de tratamento atendimento, o diagnóstico e o início efetivo do tratamento é funda-
ou segunda opinião. mental para o paciente com câncer, e a linha verde tem conseguido
A rotina se inicia pela manhã com o trabalho fundamental da en- encurtar essa janela, que normalmente é de três meses no Brasil, para
fermeira especialista (nurse practitioner), que junto com os residentes 30 dias. É mais uma forma de atendimento integrado que abraça o pa-
recebe os pacientes, colhe a anamnese e faz uma triagem já selecio- ciente no momento em que ele mais precisa.

48 abril/maio 2016 Onco&


apoio Lado a Lado

O empoderamento e a
relação médico-paciente

Por Marlene Oliveira

O diagnóstico de um câncer traz em si uma série de


Divulgação Instituto Lado a Lado

dúvidas que podem avolumar-se ao longo do trata-


mento. As informações que hoje estão disponíveis em
diversas mídias, em especial na internet, confundem
mais do que informam adequadamente. E a qualidade
da informação e da orientação é fundamental para ter
um quadro real da doença, seus desdobramentos e as
opções disponíveis para restabelecer a saúde.
A área oncológica, por tratar o câncer, uma doença
que ainda é cercada de estigmas e tabus, requer um cui-
dado maior nessa relação médico-paciente. E esse cui-
dado não engloba apenas a qualidade da informação,
mas a forma como ela é transmitida. Há que se ter uma
sensibilidade para entender a pessoa, que muitas vezes
chega ao consultório com informações preconcebidas,
com impressões, medos e angústias que só o profissio-
nal médico poderá auxiliar.
Buscar desenvolver um novo olhar para o paciente
pode ser a diferença para uma relação mais aberta, con-

E
mpoderamento é o ato de ter conhecimento fiante, transparente e humana.
sobre determinado assunto e/ou situação. No Quando a relação médico-paciente se torna mais
caso do diagnóstico de um câncer, é propor- acolhedora e menos impositiva, apesar do tema tra-
cionar ao paciente o conhecimento acerca da doença, tado, a condução do tratamento torna-se mais leve. O
seu tratamento, suas opções, orientá-lo sobre como paciente tem a impressão de que pode respirar livre-
lidar com a situação, de forma que ele tenha domínio mente, entender e enfrentar a doença, tendo ao seu
sobre essa fase. Poder tomar decisões e assumir o pro- lado uma equipe médica que o trata de forma diferen-
tagonismo sobre a sua vida é fundamental e um di- ciada e próxima.
reito do paciente. Quando se tem um diagnóstico de câncer, ser pro-
Quando pensamos na relação médico-paciente, o tagonista é respeitar a si mesmo e ter a certeza de que
empoderamento é de extrema importância para que na vida tudo são fases e que, tendo-se consciência sobre
haja uma troca maior de informações, sentimentos e es- cada uma delas, as escolhas poderão ser mais assertivas,
clarecimento de dúvidas entre ambas as partes. mais humanas e com menos sofrimento.

Onco& abril/maio 2016 49


especial NEOTÓRAX

Câncer de pulmão em foco


Fotos: Divulgação Rede D’Or

Carlos Gil Ferreira e Paula Ugalde

C
OM MAIS DE 500 INSCRITOS E REALIZAÇÃO DO NEOTÓRAX – NÚCLEO DE EXCE-
LÊNCIA EM ONCOLOGIA TORÁCICA, O I SIMPÓSIO DE DIAGNÓSTICO DE CÂNCER DE
PULMÃO ONCOLOGIA D’OR NEOTÓRAX REUNIU ESPECIALISTAS PARA DEBATER RAS-
treamento, diagnóstico e tratamento da doença, no Centro de Convenções Prodigy,
no Rio de Janeiro, nos dias 1 e 2 de abril.
Estiveram presentes renomados médicos e especialistas nacionais e internacionais
em câncer de pulmão e farmacoeconomia abordando questões como tratamento mul-
tidisciplinar, novas técnicas de diagnóstico molecular, projetos de rastreamento e
custo-efetividade de drogas-alvo e tratamentos.
O evento contou ainda com um curso pré-simpósio no dia 31 de março, quando
foram transmitidas ao vivo, diretamente do Hospital Copa D’Or, duas cirurgias de
pulmão conduzidas por Paula Ugalde, do Instituto Universitário de Cardiologia disso”, disse. “Contudo, ainda precisamos avan-
e Pneumologia de Quebec (Canadá). çar muito no diagnóstico precoce da doença e no
Segundo o coordenador do encontro, Carlos Gil Ferreira, o evento teve por ob- maior acesso da população às novas tecnologias
jetivo impulsionar a discussão sobre importantes temas que ainda merecem atenção de diagnóstico e tratamento. Reunir especialistas
no tratamento e no diagnóstico da doença, com o rastreamento. “O Brasil avançou com um olhar multidisciplinar é fundamental
bastante nos programas de combate a esse tipo de câncer e devemos ter orgulho para isso.”

50 abril/maio 2016 Onco&


Rastreamento na era da genética
As novas tecnologias de diagnóstico molecular
foram um dos destaques do simpósio. A farmacêu-
tica Cecilia Schott, representante global de medi-
cina personalizada da AstraZeneca, abordou as
novas metodologias de diagnóstico genético, como
a biópsia líquida, que já é uma realidade na clínica
Cecilia Schott em países como EUA, Japão e China. “Esse tipo de
teste já está revolucionando o diagnóstico do cân-
cer de pulmão, pois é mais simples de coletar, permite monitorar a progressão da
doença, pode ser usado para fazer o rastreamento e sai mais em conta do que a bióp-
sia de tecido, se levarmos em conta todos os custos envolvidos”, disse Schott, res-
saltando, porém, que a biópsia líquida ainda tem sensibilidade inferior ao teste de Rosana Rodrigues
DNA realizado com biópsia de tecido.
O oncologista e pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) Mar-
Velhos e novos usos para exames
celo Reis também abordou os testes moleculares, mais especificamente os métodos
A radiologista Rosana Rodrigues, do IDOR,
de next generation sequencing (NGS), que possibilitam identificar mais de um bio-
falou sobre o impacto das novas tecnologias de
marcador de câncer em uma só amostra. Para Reis, a tecnologia é promissora e mais
imagem no rastreamento e estadiamento de
custo-efetiva do que a análise sequencial, mas ainda carece de dados sobre utilidade
cânceres e destacou o potencial da ressonância
clínica. “É uma oportunidade entusiasmante, mas, para saber se deve ser rotina, pre-
magnética, que pode se tornar em breve um
cisamos de avaliações sistemáticas que nos mostrem resultados como ganho de so-
excelente método de imagem na avaliação do
brevida livre de progressão e controle da doença”, pontuou.
câncer de pulmão. Em pesquisas conduzidas
no IDOR, a especialista tem observado que a
RM por difusão pode ser usada para determi-
Farmacoeconomia e preferências em saúde nar se uma massa é câncer ou não. “Já existem
O simpósio contou com um módulo sobre inclusive trabalhos com ressonância de difusão
economia da saúde, levando em conta a custo-efe- de corpo inteiro mostrando boa acurácia,
tividade de rastreamento e tratamentos, mas tam- semelhante à da tomografia”, disse. “Estamos
bém as preferências dos pacientes. Os convidados caminhando muito rápido com a RM e já é
internacionais Jeffrey Hoch, economista da Univer- possível fazer diagnóstico de câncer de pulmão
sidade de Toronto (Canadá), e Natasha Leighl, on- com exame de imagem.”
Jeffrey Hoch cologista do Princess Margaret Hospital de Toronto Já a cirurgiã oncológica Paula Ugalde re-
(Canadá), apontaram a importância de realizar es- forçou o uso da mediastinoscopia, que ainda
tudos de custo-efetividade de novas drogas. Natasha contou sua experiência com um é considerada o padrão ouro para o câncer de
projeto que tenta tornar os testes moleculares mais baratos e acessíveis. “Tivemos bons pulmão. “O pet scan, a tomografia e o EBUS
resultados investindo em testes mais simples para rastreamento mais amplo, deixando acabaram levantando uma questão: será que a
os testes mais caros para a parcela da população que tem maior risco de câncer”, disse. mediastinoscopia ainda é necessária? Na ver-
“Precisamos sentar com as indústrias farmacêuticas e com os governos e conversar dade, o que a gente vê é que ela é sim insubs-
sobre o que pode ser feito e as estratégias de compartilhamento de despesas.” tituível e absoluta”, afirmou. “Hoje, no meu
Hoch abordou os experimentos de escolha discreta, que revelam atributos que instituto, exceto aquele paciente que tenha um
os pacientes consideram importantes em uma determinada estratégia de saúde. “Cos- tumor t1n0, todos vão para a investigação do
tumamos focar muito no resultado de uma ação em saúde, mas o processo, como mediastino antes da cirurgia.”
essa ação se dá, é muito valioso para o paciente”, explicou. “A redução de morte por
câncer não é a única coisa em que os pacientes pensam quando consideram um pro-
grama de rastreamento. Eles se importam com detalhes como o tempo, o custo e o
conforto, e tudo isso junto pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma estratégia
em saúde.”

Onco& abril/maio 2016 51


holofotes

MAMA Encontro de Mastologia (RJ)


Confira mais fotos online:
https://goo.gl/CsvCSf
N o dia 06 de abril, oncologistas e mastologistas da
Oncologia D'Or se reuniram para trocar conheci-
mentos no Restaurante Vieira Souto, em Ipanema, Rio
de Janeiro.

José Ricardo Conte de Souza, Maria Helena Vermont,


Selene Gomes Roberto Vieira,
e Gilberto Amorim Elyette Canela
e Gilberto Amorim

Luis Augusto F. Santana Cecilia Daemer,


e Gilson Gusmão Gilberto Amorim,
Antonio Carlos Jardim,
Ernesto Rymer,
Roberto Vieira,
Marconi Luna,
Alexandre Villela
e Maria Helena Vermont

IMUNO & Lançamento da Revista no Acreditar Grupo Oncologia D'Or (BSB)

O Grupo Oncologia D'Or lançou a Imuno&, uma re-


vista semestral voltada especialmente para o uni-
verso das doenças autoimunes, incluindo reumato, gastro,
pneumo, neuro e dermatologia. O evento de lançamento
da publicação ocorreu no dia 17 de março, na unidade
Asa Sul do Grupo Acreditar Oncologia D'Or, em Brasília.

Lucianno Santos, Adriana Christina Cooke,


Flávio Reis, Raquel Rodrigues,
Gustavo Paiva e Gustavo Paiva e
Rodrigo Abreu e Lima Simone Simon

Thayana de Queiroz
Thiago Soares,
Pinto Kossobudzka e
Bruno Lima,
Alessandra Ambrósio
Paulo Henrique,
Arturo Otãno,
Flávio Reis e
Rodrigo Abreu e Lima

52 abril/maio 2016 Onco&


Luiz Lobato, Jamile
Adérito Cruz e Carneiro
Almir Ventura

Carlos Loures

Edivaldo e Amanda Bázilio

NEOTÓRAX Simpósio de Diagnóstico de Pulmão NEOTÓRAX Oncologia D'Or (RJ)

N
Confira mais fotos online: os dias 01 e 02 e3 abril, o I Simpósio de Diagnós- mento da doença, no Centro de Convenções Prodigy, no
https://goo.gl/NpW0VS
tico de Câncer de Pulmão Oncologia D’Or Rio de Janeiro. O evento contou ainda com um curso no
NEOTÓRAX reuniu especialistas nacionais e interna- dia 31 de março no qual foram transmitidas duas cirur-
cionais para debater rastreamento, diagnóstico e trata- gias de pulmão ao vivo.

Mauro Zomboni e Tatiane Montella Marcelo Ibiapina e Vitorio Puntel Rui Haddad e Gil Lima

Felipe Erlich, Pedro Pinho, Patricia Matos Carlos Eduardo Lima, Caroline Andrade, Lucianno Santos, Rodrigo Abreu e Lima,
e Lilian Faroni Luiz Eduardo Nunes, Ana Israel e Ricardo Terra Guilherme Cançado, Hélio Calábria

Onco& abril/maio 2016 53


Humberto Carvalho e Alessandra Nascimento Marisa Santos, Bruna Carvalho, Rodrigo Abreu e Lima, Julia Menezes e
Luciene Schluckebier e Natasha Leigh Ricardo Sales dos Santos

Hisbello Campos Equipe de coordenação do evento e Andre Trajano, Vera Capelozzi


Marketing Oncologia D'Or e Guilherme

Tatiane Montella e Carlos Gil Ferreira Barros Franco Carlos Gil Ferreira, Mariano Zalis e
Carlos Terra

Ricardo dos Santos e Viviane Rossi Andrea Melo e Paola Perdigão Anderson Silvestrini e Paulo Sérgio Perelson

Anderson Nassar Guimarães Paulo Di Biase e Aureliano Souza Rafael Jacob

54 abril/maio 2016 Onco&


mundo virtual

Onco& recomenda
Sites e aplicativos sobre oncologia voltados tanto para médicos, com novidades e informações
sobre a área, como para pacientes, com dicas de prevenção e assistência ao doente

Apoio na palma da mão


Aplicativos para tablets e smartphones que ajudam médicos a se manter sempre atualizados e no melhor
caminho para o diagnóstico e tratamento de seus pacientes
ACEP Toxicology Section NEJM Image Challenge
Antidote App Atualização clínica com um pouco de
A maioria dos médicos já se deparou com competição é a proposta deste aplicativo. Ele
um paciente com algum tipo de overdose, su- seleciona aleatoriamente fotos de casos clíni-
permedicação ou envenenamento. Você pode cos de dermatologia, radiologia, oncologia e
até se lembrar que atropina é o antídoto para outros que são publicados semanalmente nos
organofosforados, mas qual a dose e a frequên- artigos médicos do New England Journal of
cia? Para uma resposta rápida e precisa, este Medicine (NEJM) e os usa como base para uma
aplicativo pode ajudar. Trata-se de um app gra- espécie de quiz. As imagens são apresentadas
tuito e fácil de usar desenvolvido pelo Colégio ao usuário com perguntas de múltipla escolha
Americano de Emergências Médicas, a maior sobre o caso, geralmente sobre o diagnóstico
associação médica de especialistas em emergên- ou os sintomas associados. Para auxiliar na sua
cia. Nele é possível buscar por antídotos para várias drogas, além de in- resposta, é possível ver qual delas foi mais escolhida por outros usuá-
formações sobre dose e prescrição. Disponível para iOS e Android. rios. O aplicativo está disponível na Apple por U$ 2,99.
https://itunes.apple.com/us/app/acep-toxicology-section-anti- https://itunes.apple.com/us/app/nejm-imagechallenge/
dote/id959303490?mt=8&ign-mpt=uo%3D8 id403219522?mt=8&uo=8&at=1l3v2Lr

Non-Small Cell Lung Cancer ECG Calc Lite


@Point of Care Um especialista consegue interpretar um
Com editoria de Mark A. Socinksi, trata- ECG em apenas alguns segundos, mas, para
se de uma plataforma digital com informações quem ainda não atingiu essa capacidade, uma
detalhadas sobre o diagnóstico, o tratamento dica é este aplicativo. O ECG CALC permite
e o manejo do câncer de pulmão de células que até um iniciante com apenas algumas
não pequenas, contando com capítulos de tex- horas de treino gaste 10 minutos com o apli-
tos e outras ferramentas de aprendizado, como cativo para interpretar um traçado com um
material multimídia em vídeos e áudio. Per- bom nível de precisão. O programa parte de
mite destacar segmentos de texto, adicionar uma série de perguntas baseadas na presença
notas e fazer buscas. Abarca a epidemiologia, ou ausência de alguns parâmetros do eletro-
a etiologia e a fisiologia da doença, além de in- cardiograma para ajudar no laudo. Quase 100 alterações do eletrocar-
formações sobre rastreamento, diagnóstico, prognóstico e tratamento. diograma foram incluídas para diagnóstico e podem ser identificadas
Traz notícias atualizadas sobre as últimas pesquisas relacionadas e tes- pelo app, incluindo critérios de hipertrofia, bloqueios e hemiblo-
tes rápidos de múltipla escolha. Pode ser baixado gratuitamente por queios, avaliação de ondas e intervalos, critérios para IAM, eletrólitos,
iPhone e iPad. envenenamentos, entre outras alterações clínicas. O aplicativo é gra-
https://itunes.apple. com/us/app/non-small-cell tuito e disponível para iOS e Android.
lungcancer/id494288509?mt=8 https://itunes.apple.com/br/app/ecg-calc-lite/id1059705062?mt=8

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Onco& abril/maio 2016 55


campanhas

Fique por dentro das ações sobre câncer que ganharam destaque na mídia e nas redes sociais

Para temer de verdade

Para conscientizar a população sobre o câncer infantil, o Grupo Oncologia D'Or desenvolveu uma campanha lúdica para o Dia Inter-
nacional da Luta Contra o Câncer Infantil, comemorado no dia 15 de fevereiro. Com o mote “Fique atento aos verdadeiros monstros que
fazem mal ao seu filho!”, a ação contou com peças publicitárias e divulgação nas redes sociais destacando os principais sintomas desse
tipo de câncer: perda de peso; mancha brilhante nos olhos; febre de origem indeterminada; palidez e anemia; manchas roxas sem queda;
e vômitos. Cada sintoma foi associado à figura de um monstrinho.
O objetivo da ação foi despertar a atenção da população para a detecção precoce como a melhor forma de combate à doença.

Dia Mundial do Câncer


Vale a pena viver mais
Em razão do Dia Mundial do Câncer, 4 de fevereiro, a ONG
Femama criou a campanha “Nós podemos, eu posso”, com o
O Instituto Oncoguia, em
objetivo de mostrar que todas as pessoas têm o poder de agir para
parceria com o Hospital Albert
reduzir o impacto da doença sobre indivíduos, famílias e comu-
Eisntein, está promovendo a
nidades. Foram exploradas vinte ações para salvar vidas, alcançar
campanha “Vale a pena viver
mais igualdade nos cuidados do câncer e tornar a luta contra a
mais”, para levar informação e
doença uma prioridade nos níveis políticos mais altos. Entre
esclarecimento à sociedade
as medidas estavam “falar a respeito”, “adotar hábitos de vida
sobre prevenção e detecção
saudáveis” e “melhorar o acesso
precoce do câncer de pulmão.
aos tratamentos”. Também foi
A campanha conta com diversas iniciativas que buscam in-
pedido que as pessoas escre-
centivar a cessação do tabagismo, alertando a população
vessem em uma folha de papel
brasileira sobre a existência e a gravidade dos fatores de risco
como poderiam contribuir elas
na incidência do câncer de pulmão e informando sobre a im-
mesmas para reduzir o impacto
portância da detecção precoce. No site do projeto estão
do cân-cer e compartilhassem a
disponíveis vídeos com diversos especialistas falando sobre o
foto nas mídias sociais.
assunto, além de uma ação interativa nas redes sociais que in-
As fotos foram compiladas
centiva as pessoas a contar por que vale a pena viver e enviar
para integrar o mural global no
uma mensagem personalizada aos amigos fumantes.
site worldcancerday.org

56 abril/maio 2016 Onco&


acontece

Acompanhe congressos, simpósios e encontros de atualização do mundo da oncologia.


Confira aqui os principais eventos dos próximos meses

Congresso de Radioterapia

A cidade de João Pessoa (PB) recebe, entre os dias 15 e 18 de junho, o 18º Congresso
Divulgação

da Sociedade Brasileira de Radioterapia. A programação científica médica deste ano será


dirigida a questões práticas do dia a dia, buscando a participação ativa dos congressistas,
questionando conceitos da especialidade e facilitando a troca de experiências. Espaço no
evento, também, para a Jornada de Física, o Encontro de Enfermeiros Oncologistas em
Radioterapia, o Encontro de Técnicos em Radioterapia e o Encontro de Residentes em
Radioterapia. O objetivo dessas sessões é ressaltar a multidisciplinaridade da especialidade
e integrar todos os profissionais comprometidos com a eficácia da radioterapia. Haverá
espaço os convidados internacionais, destaque para o canadense Brian O’Sullivan e os
norte-americanos Bruce Minsky e Michael C. Stauder.

Uroonco CEPON

O Centro de Estudos, Pesquisas e Ensino do CEPON – CEPE realiza, nos dias 19 e 20


Divulgação

de agosto, o II URO ONCO CEPON, evento que visa reunir especialistas de renome na-
cional de urologia, oncologia e radioterapia para discutir a melhor abordagem no trata-
mento de pacientes com tumores urológicos. No evento, que será realizado em Florianó-
polis (SC), destaque para grandes temas da uro-oncologia, como vigilância ativa em câncer
de próstata, linfadenectomia estendida, evidências científicas sobre o radium-223, além
de sessões especiais voltadas à cirurgia, radioterapia e câncer de bexiga.

Simpósio de Melanoma
A Rede D’Or promoveu nos dias 5 e 6 de julho o I Congresso de Oncologia D’Or, no
Divulgação

Rio de Janeiro, com a presença de médicos e professores do Hospital Johns Hopkins (EUA).
O evento abordou o estado da arte em tratamentos contra tumores de pulmão, mama, gas-
trointestinais, geniturinários e melanomas.
Entre os médicos convidados, destaque para os brasileiros Antonio Carlos Wolff e Mario
Eisenberger, que pesquisam a biologia e novos tratamentos contra câncer de mama e prós-
tata, respectivamente. “O Johns Hopkins é um centro médico de vanguarda em termos de
pesquisa clínica. Eles são referência global em testes com novas terapias e testes moleculares
com a chamada personalização do tratamento”, afirmou o oncologista Daniel Herchenhorn,
organizador do evento.

Onco& abril/maio 2016 57


calendário 2016

Evento Data Local Informações

X Congresso Brasileiro de Oncologia Ortopédica 20 de abril Foz do Iguaçu – PR http://www.sbcancer.org.br

http://www.sboc.org.br/24-a-2804-gap-2016-
GAP 2016 – Challenging Cancer 24 a 28 de abril Barretos – SP
challenging-cancer/

I Simpósio de Mastologia da Sociedade


Brasileira de Mastologia e do Instituto 6 de maio São Paulo – SP http://www1.inca.gov.br/ie_eventos/
Nacional de Câncer

VIII Congresso Brasileiro de Farmacêuticos


20 a 22 de maio Florianópolis – SC http://www.crfms.org.br/eventos
em Oncologia

XVIII Congresso da Sociedade Brasileira


de Radioterapia 15 a 18 de junho João Pessoa – PB http://www.sbradioterapia.com.br

77ª Semana Brasileira de Enfermagem /


20ª Semana de Enfermagem do Instituto 17 e 19 de junho São Paulo – SP http://www1.inca.gov.br/ie_eventos/
Nacional de Câncer

IV Simpósio Internacional de Melanoma 24 de junho São Paulo – SP http://rvmais.com.br/calendario_eventos.php

I Simpósio de Uro-oncologia e
Cirurgia Robótica Oncologia D´Or 2 de julho Rio de Janeiro – RJ http://www.oncologiador.com.br/portal/

III Simpósio Gastrointestinal Oncologia D’Or 30 de julho Brasília – DF http://www.oncologiador.com.br/portal/

8º Simpósio Internacional de Atualização em


19 a 21 de agosto Salvador – BA http://www.sbcancer.org.br
Câncer de Mama

Congresso Brasileiro de Câncer do


25 a 27 de agosto São Paulo – SP http://www.sboc.org.br
Aparelho Digestivo

IV Congresso Internacional Oncologia D´Or 28 e 29 de outubro Rio de Janeiro – RJ www.congressooncologiador.com.br

IX Congresso Franco-Brasileiro de Oncologia 10 a 12 de novembro Rio de Janeiro – RJ http://www.sbcancer.org.br/home2/site

Calendário de eventos de 2016 completo e atualizado.


Datas e locais sujeitos a alteração.
58 abril/maio 2016 Onco&
Untitled-8 1 20/04/16 13:02

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