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O regime federativo no Brasil e as relações

intergovernamentais
Vitor Luis Colli Jordão*

Resumo
Este trabalho se configurou como um estudo dos mecanismos de poder
presentes ao longo da constituição do federalismo brasileiro. Dessa forma,
primeiramente tratou-se do desenvolvimento histórico do federalismo no
Brasil, com ênfase à influência regional e nacional dos coronéis (proprietários
de latifúndios rurais destinados ao cultivo de café, cana de açúcar e criação de
rebanhos), posteriormente tratou-se da descentralização e das relações
intergovernamentais, analisando-se as relações intergovernamentais num setor
especifico: as Regiões Metropolitanas.
Palavras-chave: Políticas Públicas, Federalismo, Regiões Metropolitanas
Abstract
This work is configured as a study of the mechanisms of power present along
the Brazilian Constitution federalism. This way, first it was the historical
development of federalism in Brazil, with emphasis on national and regional
influences of colonels (owners of rural estates was intended for the cultivation
of coffee, sugar cane and creation of herds), later it was decentralization and
intergovernmental relations, analyzing intergovernmental relations in a specific
sector: Metropolitan regions.
Key words: Políticas Públicas, Federalism, metropolitan regions

*
VITOR LUIS COLLI JORDÃO é Mestrando em Ciências Sociais: Sociedade e Políticas
Públicas pela UEM – Universidade Estadual de Maringá/PR.

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1. Introdução arranjos pelo fato do governo central
Na busca pela definição do que vem a incorporar as unidades regionais nos
ser federalismo, Rodden (2005) explica seus procedimentos decisórios, por
que federalismo remete-se à palavra força de determinação constitucional.
foedus, no latim, que significa Já na compreensão de Elazar (1987) o
“contrato”, passando a palavra a ser federalismo pode ser definido como um
utilizada para descrever acordos formais sistema que busca garantir a unidade na
e contratos entre estados, geralmente diversidade, ou seja, busca manter a
para finalidades de obrigação mútua. estabilidade social e a convivência entre
Costa (2007) esclarece que existem dois a identidade nacional e regional por
significados atribuídos ao conceito de meio da articulação das partes em um
federalismo, “de um lado podemos conjunto coeso, tendo como base a
utilizar essa palavra para designar uma parceria, estabelecida e regulada por
ideologia política, isto é, um conjunto pactos, cujos objetivos seriam a
de idéias sobre como se deve governar regulação da divisão de poder entre as
um Estado” (COSTA, 2007, p.211) e partes. No entanto, conforme enfatiza
por outro, federalismo também pode Souza (2003), esses pactos não se
indicar o conjunto de leis, normas e configuram como um sistema
práticas que definem como um estado consensual e harmonioso, em virtude da
federal deve ser “construção e
governado. O autor manutenção de um
esclarece ainda, que sistema político
em relação ao voltado para a divisão
conceito de ideologia de poder territorial,
política, este também tanto político como
pode apresentar dois tributário, sem
significados: promover
indicando uma desequilíbrio entre os
organização política entes constitutivos”,
que centraliza o poder num estado se configurar como uma “tarefa
resultante da união de unidades políticas intrinsecamente contraditória, gerando,
preexistentes (concepção preponderante portanto, conflitos e tensões” (SOUZA,
entre os fundadores do federalismo nos 2003, p. 142).
Estados Unidos), ou então, uma forma
de descentralizar o poder em Estados Essa divisão do poder, na maioria das
centralizados (unitário), como ocorre na vezes contraditória e tensa, de acordo
Alemanha, Argentina e Brasil. com Lijphart (1999), ocorre em alguma
extensão, em praticamente todas as
Na concepção de Souza (2003) em democracias como uma forma de
sentido amplo, o federalismo refere-se à coordenação do governo central, sendo
associação de pessoas e instituições, por diretamente influenciada e decorrente
consentimento mútuo e com propósitos das dinâmicas e circunstâncias
específicos sem o sacrifício das históricas e econômicas do país. No
identidades individuais. Dessa forma, caso do federalismo dos Estados
do ponto de vista do estado-nação, as Unidos, no final do século XVIII, onde
federações se configuram como arranjos os governos autônomos das treze
institucionais dentro de um estado colônias rejeitavam a opção de um
soberano que se distinguem de outros estado unitário, o poder foi dividido em

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três órgãos independentes (executivo, coronéis, proprietários de imensos
legislativo e judiciário), divisão válida latifúndios rurais destinados ao cultivo
de forma independente, tanto para a da cana de açúcar, café ou criação de
união como para os estados. Já no caso rebanhos, “os latifúndios dão á classe
do Brasil, a partir da Constituição de fazendeira uma fortuna immensa1 e um
1988, ficou estabelecida a organização prestigio excepcional. Habituam-n’a,
da federação em união, estados, distrito demais, a exercer um poder
federal e municípios, com poder considerável sobre uma grande massa
legislativo bicameral (câmera e senado) de homens” (VIANNA, 1938, p. 53).
e um poder judiciário independente. Dessa forma, os coronéis pela riqueza e
respeitabilidade exercida junto à
O Brasil possui um território com mais
comunidade local, representavam as
de 8,5 milhões de Km², o que exigiu
forças política e administrativa
desde o período colonial (1500-1822)
regionais.
certa divisão de poder, uma
descentralização política e Só á sombra patriarcal deste grande
administrativa que permitisse governar senhor de engenhos, de estâncias,
um território com essa dimensão e de cafesáes vivem o pobre e fraco
tamanha heterogeneidade regionais. com segurança e tranqüilidade. Pela
sua riqueza, pelo seu poder, pelo
Nesse contexto, o presente artigo
seu prestigio, mesmo pela força
buscará compreender como ocorreu o material, só elle é capaz, neste
desenvolvimento histórico do regimen de pilhagem e
federalismo brasileiro, quais as bases prevaricações geraes, de reagir
constitucionais e políticas que o contra as arbitrariedades e as
embasaram e seus atuais problemas injustiças. Só elle no mundo rural,
num enfoque de políticas públicas. tem meios para dar á sua
patronagem uma efficiencia pratica,
2. O desenvolvimento histórico do que nem a patronagem do cura, do
federalismo no Brasil medico, ou do advogado, ou mesmo
Como uma forma de ocupar e manter o da autoridade local possuem
controle político sob o território do (VIANNA, 1938, p. 195).
Brasil colônia, a Coroa portuguesa É possível compreender que frente a
adotou o procedimento de conceder instituições sociais de tutela e justiça
títulos de propriedade a particulares, os inexistentes e/ou ineficientes também
denominados capitães donatários, que acabava ficando sob responsabilidade
ficaram incumbidos de administrar as dos coronéis a prática das obras de
capitanias hereditárias em nome do Rei solidariedade e defesa da população,
de Portugal. Mas, conforme esclarece sendo que em troca, acabavam sendo
Costa (2007, p. 213): eleitos pelo povo como representantes
Apesar dos constantes esforços de nas câmaras municipais.
centralização política e O coronel era o centro do
administrativa, a dispersão da microcosmo da política local
população e a dificuldade de brasileira porquanto o município
estabelecer um controle político era dependente dos recursos do
direto sobre o território obrigou o governo estadual e federal e
governo central a estabelecer pactos encontrava-se isolado do resto do
informais com os poderes regionais.
Esses poderes regionais eram 1
Mantida a ortografia gramatical presente na
representados basicamente pelos obra editada em 1938.

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país, com a escassa estrutura de economicamente durante o Segundo
meios de comunicação. Por isso Reinado (1841-1889), como São Paulo,
mesmo a alternativa ao coronel era Minas Gerais e Rio Grande do Sul pelo
outro coronel e não um personagem direito de exercer maior influência
político diferente (ANDRADE, direta sobre o governo central. Esses
2007, p. 248).
representantes da política regional eram
A atuação política dos coronéis eleitos pela população e chegavam aos
ampliou-se do âmbito regional e cargos de maior prestígio, como
estadual para uma atuação nacional a governador, graças ao estabelecimento
partir da chegada da família real ao de acordos informais de poder.
Brasil, pois conforme explica Vianna
Como não havia um processo
(1938) os coronéis, juntamente com a representativo democrático, o
burguesia comercial, originária da princípio de soberania popular não
abertura comercial dos portos e os exercia sua influência modeladora
aristocratas lusitanos, que sobre os interesses regionais [...],
acompanharam a família real, nessas condições, o federalismo
configuraram as três classes que funcionava, na prática, como
passaram a frequentar a Corte: potencializador das oligarquias
estaduais, que limitavam bastante o
papel do governo federal como
Essas três classes se defrontam, agente do desenvolvimento
inconfundiveis e hostis, nas econômico e social do país
intimidades da Corte, junto do Rei. (COSTA, 2007, p. 213-214).
Os nobres da terra, opulentados de Esse processo se perpetuou ate a década
engenhos e fazendas, com seu
de trinta do século XX, quando assumiu
histórico desdém pelos peões e
mercadores. Os mercadores, o poder o Governo Provisório de
conscientes da sua riqueza e da sua Getúlio Vargas, reduzindo pela
força, susceptibilizados por esse intervenção, a atuação dos governos
desdém offensivo. Os lusos estaduais, iniciando-se um processo de
transmigrados, com a prosápia das centralização do poder nas mãos do
suas linhagens fidalgas e o entono governo federal. As eleições
impertinente de civilisados presidenciais foram marcadas para
passeiando em terra de bárbaros. 1938, mas em 1937, ocorreu o golpe e
Ora, enfrentando estes e aqueles, os instituição do Estado Novo (1937-
nossos ricos potentados territoriais 1945), durante o qual “o governo
vencem, simultaneamente, uns e central aumentou tanto a concentração
outros. Insinuam-se no paço, de poder que até as bandeiras estaduais
acercam-se do Rei e depois do foram queimadas numa cerimônia
Príncipe Regente. De tal maneira pública como que simbolizando o fim
agem junto de um e outro, que, do regime federativo” (COSTA, 2007,
antes mesmo de proclamar-se a
p. 214).
independência, estão inteiramente
senhores do poder nacional Governadores e prefeitos das capitais e de
(VIANNA, 1938, p. 31-32). cerca de 150 cidades de médio e grande
porte não tinham autonomia política, pois
Dessa forma, quando ocorreu a eram selecionados, de fato, mediante
proclamação da república, em 1889, indicação da cúpula militar, isto é, sua
concomitantemente surgiram, por parte autoridade política não derivava do voto
das elites regionais das províncias que popular direto. Além disso, governadores e
mais haviam se desenvolvido prefeitos detinham escassa autonomia fiscal

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[...] e não tinham autoridade sobre suas A Constituição de 1988 passou a
bases militares, uma vez que as polícias definir, em seu artigo 18, “que o Brasil
militares estaduais foram colocadas sob é uma República Federativa composta,
controle do Exército Nacional obrigatoriamente pela União, pelos 26
(ARRETCHE, 2002, p. 28-29).
Estados, pelo Distrito Federal e pelos
Com os militares assumindo o poder a mais de 5.500 municípios” (COSTA,
partir de 1945, restabeleceu-se o regime 2007, p. 215), e também fixou sobre o
federativo, até 1964, quando se funcionamento do sistema tributário e
instaurou a ditadura militar, que ao das transferências fiscais entre União,
contrário do Estado Novo, não fechou o Estados e municípios. Assim, o Imposto
Congresso, nem impôs interventores aos sobre Circulação de Mercadorias e
Estados, sendo os governadores eleitos Serviços (ICMS) e o Imposto sobre a
indiretamente pelas assembléias Propriedade de Veículos Automotores
estaduais, “os governadores passaram a (IPVA) ficou sobre arrecadação
ser designados não tanto em função do exclusiva dos Estados, ficando aos
prestígio e popularidade que municípios o Imposto sobre Propriedade
desfrutavam nos estados, mas em Territorial Urbana (IPTU) e o Imposto
função da proximidade e afinidade com sobre Serviços (ISS). Dessa forma,
os detentores do poder do centro” conforme esclarece Costa (2007, p.
(ANDRADE, 2007, p. 248). A 216):
redemocratização ocorre somente na o potencial arrecadador desses
década de 1980 com eleições diretas em impostos está diretamente
todos os níveis de governo e as relacionado com o nível de
deliberações da Constituição Federal de atividade econômica de estados e
1988. municípios. Desse modo, apenas os
estados e os municípios mais
Ao longo dos anos de 1980, desenvolvidos – principalmente os
recuperaram-se as bases do Estado das regiões Sudeste e Sul –
federativo no Brasil. A sustentam-se exclusivamente com
democratização – particularmente a seus impostos.
retomada de eleições diretas para
todos os níveis de governo – e a Já os municípios de regiões mais pobres
descentralização fiscal da continuaram a depender das
Constituição de 1988 alteraram transferências de recursos da União para
profundamente as bases de realização de funções básicas. Os
autoridade dos governos locais. A artigos 157 a 159 da Constituição de
autoridade política de governadores 1988 também estabeleceram sobre os
e prefeitos voltou a ser baseada no procedimentos de repartição das receitas
voto popular direto. Paralelamente, tributárias da União com os Estados e
estes últimos também expandiram
municípios, por meio dos Fundos de
expressivamente sua autoridade
sobre recursos fiscais – uma vez Participação dos Estados (FPE) e dos
que se ampliou a parcela dos municípios (FPM),
tributos federais que é
no total, a União é obrigada a
automaticamente transferida aos
transferir cerca de 47% do que
governos subnacionais –, assim
arrecada com o Imposto de Renda –
como passaram a ter autoridade
IR e com o imposto sobre Produtos
tributária sobre impostos de
Industrializados – IPI para esses
significativa importância
fundos, além dos fundos
(ARRETCHE, 2002, p. 29).
constitucionais para o

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desenvolvimento das regiões Norte, conduzir suas políticas de saúde,
Nordeste e Centro-Oeste (COSTA, educação, meio ambiente, etc., mas
2007, p. 216-217). poucos conseguem realizar medidas
Por fim, os Estados são obrigados a consistentes sem o apoio ou
transferir para os municípios 25% do concordância dos governos estadual e
que arrecadam com o ICMS, federal, “deste modo, as relações
proporcionalmente ao nível de atividade intergovernamentais são o “sistema
industrial e comercial dos municípios. circulatório” do federalismo” (COSTA,
Numa análise dessa distribuição das 20007, p. 218).
receitas entre União, Estados e 3. Descentralização e relações
municípios, Costa (2007) afirma que intergovernamentais
existe uma vantagem evidente para os
Estados e municípios (favorecendo uma De acordo com Riker (1987) a
organização regional no país), resultado descentralização diz respeito à
da aprovação pelos governadores de distribuição das funções administrativas
reformas que beneficiam seus interesses entre os diferentes níveis de um
regionais e da sanção, por parte do governo, nesse sentido, está relacionada
governo federal dessas reformas, como com as formas de transferência e
uma maneira de garantir coalizões entre delegação de recursos e o desempenho
as bancadas, assegurando o total de das funções de gestão política frente à
votos necessários para aprovação de autonomia política e fiscal. Nesse
determinados projetos. sentido, uma das características básica
do federalismo seria a autonomia
Na concepção de Andrade (2007) a política dos governos locais, que
reforma tributária melhorou passaram a responder diretamente pela
substancialmente a situação financeira aplicação de recursos.
dos municípios, mas não representou a
carta de alforria para a crônica Na visão de Andrade (2007), contribui
dependência de recursos estaduais e para a correta aplicação desses recursos
federais: pelos governos locais a fiscalização e a
cobrança por parte do Ministério
Estatísticas da Secretaria do Público e da Defensoria Pública, a
Tesouro Nacional para o ano de atuação da mídia e da população
1997, abrangendo um total de 5.046
(principalmente por meio de
municípios, mostraram que as
transferências federais e estaduais organizações e associações populares)
constituíram mais de 50% da e, as regras impostas pela Lei de
receita corrente de 4.876 cidades. Responsabilidade Fiscal que prevê
Dados de estudo do BNDES para punições, inclusive com prisão, aos
1999, com amostras de 1.404 administradores e governantes que não
prefeituras, revelaram que, entre os cumprirem as regras de transparência
municípios com população abaixo fiscal e planejamento orçamentário.
de 30 mil habitantes, a receita
tributária própria não representou A Lei de Responsabilidade Fiscal
mais que 3% da receita disponível e procurou atacar um dos problemas
em 36% (dos 412 municípios) esta centrais do federalismo, que é a
mesma relação situou-se entre 3 e tendência de estados e municípios
10% (ANDRADE, 2007, p. 253). transferirem os custos de suas
atividades para a União [...]. Pela
Pode-se dizer então, que em princípio nova lei, desde 2001, governos
os municípios são autônomos para municipais, estaduais e federal têm

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de apresentar seu planejamento metropolitanas do Brasil, sendo elas São
orçamentário anual e comprovar Paulo, Belém, Belo Horizonte, Curitiba,
que suas receitas anuais são Fortaleza, Porto Alegre, Recife, Rio de
suficientes para cobrir todos os seus Janeiro e Salvador, “com o objetivo de
gastos (COSTA, 2007, p. 220).
promover o planejamento integrado e a
Já em relação às relações prestação de serviços comuns de
intergovernamentais, Costa (2007) interesse metropolitano, sob o comando
explica que podem ser definidas como do estado-membro e sob financiamento
as relações estabelecidas e coordenadas federal” (SOUZA, 2003, p. 137).
entre os diferentes níveis de governo. De acordo com as regulamentações de
Na visão do autor, em razão de algumas funcionamento das Regiões
características do sistema político Metropolitanas, a gestão dessas regiões
nacional (como a fragmentação do deveria ocorrer por dois Conselhos: um
sistema partidário), as relações Deliberativo e outro Consultivo. O
intergovernamentais no Brasil Conselho Deliberativo deveria ser
dependem da disposição dos governos constituído por seis membros nomeados
em cooperar, mas principalmente, da pelo governador do estado, devendo um
capacidade e do interesse o governo ser indicado a partir de uma lista tríplice
federal em estimular (ou impor) regras e organizada pelo prefeito da capital e o
programas que impliquem alguma outro, pelos demais municípios
forma de coordenação entre as integrantes da unidade regional, ficando
atividades de estados e municípios. assim o Conselho “sob a hegemonia do
Um exemplo de relação Estado – assegurada pelo estatuto –,
intergovernamental seria o Fundo de uma vez que era representado por
Valorização do Ensino Fundamental quatro membros, num total de seis”
(Fundef) onde o governo federal (HOTZ, 2000, p. 92).
transfere 15% das receitas tributárias de Já o Conselho Consultivo, deveria ser
estados e municípios para uma conta e composto pelo prefeito (ou seu
redistribui esses recursos dentro de cada representante) de cada um dos
estado em função do número de alunos municípios contemplados na
matriculados em cada rede municipal de circunscrição da região, ficando sob a
ensino. direção do presidente do Conselho
Um outro exemplo, que exige Deliberativo.
articulação e cooperação entre as três Para Souza (2003) durante o regime
esferas de governo é o caso das Regiões militar as Regiões Metropolitanas
Metropolitanas. estiveram associadas aos objetivos de
centralização e controle do território
4. Regiões Metropolitanas nas
nacional, desempenhando um papel de
relações intergovernamentais
braços avançados do governo federal
Compreendendo que as Regiões nos territórios mais dinâmicos da
Metropolitanas são constituídas por Federação, tanto do ponto de vista
municípios que, independentemente de político como econômico.
sua vinculação administrativa, integram Assim, a criação das Regiões
a mesma comunidade sócio-econômica; Metropolitanas, a sua dependência
na década de 1960, nas esteiras dos dos recursos federais e das ações
ditames constitucionais, foram criadas executivas estaduais, aliado ao
as primeiras nove regiões formato de gestão que constrangia o

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papel dos municípios que as inexistência de incentivos para a
integravam e à ausência de eleições cooperação entre o estado e os
diretas para governador e para municípios e entre os municípios de
muitos prefeitos, marcaram a sua uma região metropolitana (SOUZA,
trajetória e a associaram a formas 2003).
centralizadoras e autoritárias de
gestão (SOUZA, 2003, p. 149). Dessa forma, frente à inexpressiva
Com a promulgação da Constituição de relação intergovernamental presente na
1988, além de Regiões Metropolitanas questão das Regiões Metropolitanas
foram instituídas as categorias de pode-se dizer, que os mecanismos de
Aglomerações Urbanas e Microrregiões, coordenação intergovernamental ainda
dessa forma, ampliou-se o número de não estão consolidados nessa área, ou
figuras correspondentes às unidades sofrem resistências (ou esquecimento)
regionais, “tornou-se possível, assim, por parte das três esferas de governo, o
reservar, para a qualificação dentro que evidencia a necessidade de estudos
dessa categoria, apenas aquelas regiões e debates referentes à legislação,
dotadas de funções e estruturas políticas públicas, princípios
claramente metropolitanas” (HOTZ, democráticos, relações e cooperação
2000, p. 93). Com a Constituição de intergovernamentais, conduta ética dos
1988 também ficou instituído que os gestores públicos e partilha de recursos
estados teriam o direito de instituir públicos, de forma que população possa
Regiões Metropolitanas (antes de compreender a quem compete
competência exclusiva da esfera responsabilidades e a quem recorrer.
federal), no entanto, conforme enfatiza 5. Considerações finais
Souza (2003, p. 149):
A Constituição de 1988 delegou aos
O federalismo brasileiro não se
estados competências sobre as caracterizou, nem se caracteriza, como
Regiões Metropolitanas sem criar algo estático e invariável, mas sim,
mecanismos de cooperação entre as cabível de adaptações, principalmente
três esferas de governo e sem em função da forma de governo vigente
prover recursos financeiros em determinado período histórico no
específicos, como no modelo país: mais centralizado nas épocas
anterior, a ausência de estruturas ditatoriais e mais descentralizada pós
políticas e administrativas nas Constituição de 1988, com delegação
Regiões Metropolitanas nos últimos dos municípios a entes federativos.
quinze anos transformou questões
de governança Apesar dos municípios se configurarem
urbana/metropolitana em questões como entes autônomos e passarem a
de governança local, deixando os conduzir suas políticas públicas a
temas metropolitanos em um vazio
maioria ainda não se tornou
político e administrativo.
independente em relação à questão
Este vazio político e administrativo tributária e por isso depende, para
também estaria relacionado com a falta manter suas ações básicas, de recursos
de uma consciência coletiva, ou um provenientes do estado e da união.
senso de identidade regional, em torno Dessa forma, é possível dizer que as
da importância das questões relações estabelecidas e coordenadas
metropolitanas, escassez de recursos por entre os diferentes níveis de governo
parte dos estados para incentivar o (relações intergovernamentais) são uma
fomento de gestões metropolitanas e a forma de garantir à população, direitos

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básico como saúde, educação e COSTA, V. Federalismo. IN: AVELAR, L.;
habitação. CINTRA, A. O. Sistema político brasileiro:
uma introdução. São Paulo: Editora Unesp,
O estudo evidenciou que em algumas 2007, p.211-223.
áreas as relações intergovernamentais já ELAZAR, D. Exploring federalism.
se consolidaram, enquanto em outras, Tuscaloosa: University of Alabama Press, 1987.
como o caso das Regiões HOTZ, E. F. Organização metropolitana pós-
Metropolitanas, ainda não se sabe quais constituição de 1988. São Paulo em
as responsabilidades da esfera Perspectiva, v.14, n.4, 2000, p.91-98.
municipal, estadual e federal, nem como LIJPHART, A. Patterns of democracy:
promover essas relações. government forms and performance in
Thirty-Six Countries. New Haven: Yale
University Press, 1999.
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ANDRADE, L. A. G. D. O município da federalism. Norwell: Kluwer Academic, 1987.
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enxada e voto. IN: AVELAR, L.; CINTRA, A. em perspectiva comparada: sobre significados e
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introdução. São Paulo: Editora Unesp, 2007, 9-27, jun. 2005.
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ARRETCHE, M. Federalismo e relações condicionantes do regime político. Revista Lua
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Ciências Sociais, Rio de Janeiro. v.45, n.3, VIANNA, O. Populações meridionaes do
p.431-458, 2002 . Brasil: história, organização e psycologia. São
Paulo: Companhia Editora Nacional, 1938.

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