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Introdução

Ca e e e ç
Esta é a quarta edição do su-
plemento "Património" sobre
capelas, em Esposende, o que
para cristianizar povoado castrejo
mostra a grande tradição do
povo cristão esposendense,
"plantando" capelas pelos
montes e vales do concelho.
As capelas, do aumento do
património arquitectónico e
religioso, permitem também
uma grande vivência de tradi-
ções populares nas localida-
des, ligadas aos padroeiros.
Esta edição "Capelas IV" é
centrada nas capelas das fre-
guesias de Belinho e Vila Chã.
Em Belinho, temos a Senhora
da Guia, com o seu santuário,
a história e a tenda. Na capela
de Santo Amaro, Igualmente
de grande devoção, além da
história, também não poderia
faltar a sua lenda. Estas tradi-
ções lendárias, fruto de imagi-
nação ou até de fé dos nossos
antepassados, estudiosos ou
simples guardiões de mitos e
historietas, ajudam a enrique-
cer a cultura dos povos das
localidades.
Na histórica e riquíssima, em
termos patrimoniais, fregue-
sía de Vila Chã, abordamos
apenas uma capela, a capela
de São Lourenço, num dos
pontos mais altos do conce- i
1
lho de Esposende. Este pe- 1
-l
queno templo, já referenciado
no século XVI, encima o famo-
so Castro de S. Lourenço, já
tratado aqui nestas páginas.
A actual capela é fruto de
antiguidade da capela de hipótese, de que a erecção de cape- fiando apenas a memória fotográfi- capela-mor arredondada possui,
uma série de.remodelações
S. Lourenço, na freguesia las e ermidas na maioria dos castros ca da capela primitiva. numa peanha também em granito,
ao longo dos séculos. Da
de VHa Chã, é inquestio- deva a sua origem ao propó_ sito de- Na altura, afirma Manuel Albino a imagem do patrono e um peque-
quinhentista capeta, restarão
nável, não se sabendo, liberado de fazer esquecer um deus Penteado Neiva, «Manuel de Boa- no altar. Os outros dois elementos
pouco mais que o espaço e a
no entanto, quando terá sido edi- ou deusa, que ali dominou, por um ventura lutou contra a sua demo- são duas sacristias, uma a Sul e ou-
memória.
ficada. Os historiadores acreditam taumaturgo de religião nova», sus- lição pois tratava-se, segundo ele, tra a Norte, esta construída» mais re-
que a sua construção poderá estar tenta o arqueólogo. de um monumento românico». O · centemente, descreve o historiador.
relacionada com a cristianização de Segundo Manuel Albino Penteado historiador conta ainda que Manuel Ainda segundo Penteado Neiva,
antigos povoados castrej~s, onde Neiva, o documento mais antigo . de Boaventura chegou mesmo a quando esta sacristia do lado Norte
outrora se adoraram deuses pagãos. que se conhece referente a este apresentar uma maqueta da autoria foi edificada terá desaparecido «um
No seu livro"Vila Chã- uma terra . pequeno templo é o Tombo da fre- do arquitecto Vilaça, onde se previa precioso elemento que marcava a.
milenar'~ Manuel Albino ~enteado guesia de Vila Chã, elaborado em 24 a ampliação da capela sem, no en- arquitectura primitiva, que era um
Neiva afirma que «não_se rnnhecem de Fevereiro de 1549. «A sua·leitura . tanto, a destruir. A dúvida colocada nicho, talvez o que servia de suporte
documentos que nos permitam é clara e esclarecedora dos limites por Penteado Neiva é se, realmente, a S. Lourenço, em granito e que, par
1
1 inferir sobre a data da fundação da desta freguesia afirmando a dado este pequeno templo, na sua ar- falta de informação foi desmantelado
f capela de S. Lourenço». passo que"... disseram que o limite · quitectura primitiva, apresentava e incorporado na nova parede».
1 «Como escreveu o professor doutor . da dita igreja começava na ermida elementos românicos. «Queremos O historiador chama também a
!
Franquelim Neiva Soares, "estranha- do Bem-Aventurado São Lourenço referir que num postal datados dos atenção para um outro vestígio que
r se, à primeira vista, a fafta de registo que está sobre o monte que se cha- primeiros anos deste século [século foi reutilizado e que se encontra na
1
t
da capela': Tal facto poderá vir ma de S. Lourenço"». XX] e fotografado pela objectiva fachada da capela de S. Lourenço,
!
confirmar"a sua origem antiquís- Assim, salienta o historiador que, de Soucasaux não nos parece que tratando-se de uma mó romana, so-
sima, _sinal·de que se terá querido «desse mesmo documento pode- o seu estilo apresente motivos ro- bre a qual se encontra gravada uma
cristianizar qualquer santuário de mos deduzir que a capela já existia mânicos mas, infelizmente, a capela data já gasta pelo tempo e, por isso,
culto pagão, seja pré-histórico _ ou pois nele se afirma que".. .isto ouvi- não aparece fotografada de frente, imperceptível.
romano"», acrescenta. ram sempre dizer a seus pais e avós'~ onde, naturalmente estes indícios Outros elementos destacados por
Sobre esta cristianização de lugares logo estamos perante uma constru- seriam mais notórios», afirma. este investigador e que se ericon-
onde outrora foram praticados cul- ção pelo menos do século XVI, em- Actualmente, a capela de S. Lou- tram na zoha envolvente da capela
tos a divindades, Martins Sarmento bora profundamente alterada». · renço é um pequeno templo, com são, em primeíro lugar, um bloco
escreveu no·seu livro "Dispersos" torre sineira, cuja porta principal é . granítico, com a inscrição da data
que «erguia-se muita vez um monu- Capela reconstruída formada por um arco ogival simples, 1673, e um outro bloco granítico
mento cristão onde um monumen- nos anos 30 do séc. XX existindo uma escadaria exterior no decórado, com uma inscrição que
to, ou a memória dum monumento A grande alteração da capela de lado Norte que dá acesso ao coro. tem suscitado polémica. Uns afir-
pagão, se obstinava a conservar-se». S. Lourenço aconteceu nos anos 30 «0 edifício é constituído por três mam tratar-se de uma data e outros
«Isto é um facto provado, que tira do século XX, quando o pequeno elementos, ou seja, o corpo da ca- dizem ser uma cipo, talvez da época
_toda a pecha de arbitrário à nossa tempJa foLtuta1meate reconstr.uído,. pela, com púlpito em granito e cuja __ romana, reutilizado.
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para curar dor de dentes
crença popular em Vila A par destas crençasr a capela de
Chã, e até no concelho de S. Lourenço também tem associa-
Esposende, diz que, quan- da a si algumas lendas populares,
do se tem dor de dentes é uma das quais comum aos vários ·
a S. Lourenço que se deve recorrer, locais onde existiram povoados
dando-lhe em troca telhas que de- castrejos. Segundo conta o povo,
vem ser roubadas. existe aqui uma moura encantada
.Segundo o historiador Manuel Albi- que, quem tiver a infelicidade de
no Penteado Neiva, «não vai longe a ver, fica arrepiado para o resto
o tempo em que se viam pessoas a da vida.
cumprirem a sua promessa carre- Outra lenda conta ainda que,
gando, à cabeça, o tradicional mo- quando os mouros foram batidos .
lho de .telhas». deste lugar, os velhos, as mulhe-
Num trabalho elaborado sobre este res e as crianças refugiaram-se
pequeno templo, o investigador nos bosques. Quando regres . .
lembra mesmo «que o retelhar da saram e viram as suas casas in-
capela era feito com a telha ofere-
cendiadas e destruídas e os seus.
cida como paga das promessas».
soldados dizimados, procuraram '
No entanto, acrescenta, «para que
abrigo numa chã situada a Norte,
a cura se efectuasse era imposta
dando início ao que é hoje Vila
uma condição», ou seja, «as telhas
Chã. -
que iam ser oferecidas deviam ser
roubadas».
Festa
Manuel Penteado Neiva afirma de s. Lourenço
ainda que, relacionado com o cul-
Em relação às festas de S. lou- ·
to a S. Lourenço, existia a poucos
renço nesta capela, é importante
metros da capela «a célebre e tão
assinalar que estas são festivi-
miraculosa upia da virtude"», tra-
dades muito antigas, havendo
tando-se de «um penedo bastante
registo delas já no século XVIII.
eolizado, como muitas "marmitas
Nas Memórias Paroquiais, trans-
de gigante': que possuía o dom de
critas por José Viriato Capela, no
curar».
livro "As freguesias do distrito de
As covas, explica, permaneciam
Braga nas Memórias Paroquiais de
cheias de água e, segundo aquilo em
1758 - A construção do imaginário
que as pessoas acreditavam, esta
minhoto setecentista'~ o pároco de
subia rnnforme as marés do mar.
então afirma que, no dia do santo,
«Era numa dessas covas, mais pre-
«que hé a dez do mez de Agosto,
cisamente a maior, que tinha lugar
concorre gente das freguezias ve-
o "banho santo~ As mães, muitas
zinhas e se tai hum feirão em que
vezes vindo de longe, carregavam
se vendem frutas e couzas que
os seus filhos doentes com "ma- ,' Imagem de S. Lourenço
pertencem ao uzo das lavradei-
leitas" e, retirando-lhes as roupas,
ras». «E no mesmo dia concorrem
lavavam-nos com a água» que
prociçoins das freguezias vezinhas
acreditavam ser''milagrosa': conta
o historiador, acrescentando ainda e veira do mar e a capella hé ve-
que, após este banho, as crianças nerada pellos freguezes desta fre-
eram vestidas com roupas novas guezia», acrescenta o pároco.
e as velhas eram abandonadas·ao Segundo Manuel Albino Penteado
redor do penedo. Neiva, «também no Real Arquivo
«Mas podia acontecer o caso da da Casa de Bragança existe um do-
mãe ser de muito longe e estar im- cumento de 1823» que menciona
possibilitada de vir a S. Lourenço · a festa de S. Lourenço.
então, através de alguém conheci- Na opinião do historiador, «para
do, pedia "pelas almas" que lhe le- Vila Chã, esta capela e S. Louren-
vassem um garrafão com água da ço sempre constituíram, motivo
pia e, em casa, procedia ao banho de grande orgulho e.devoção e,
da criança», conta ainda Manuel disso dá-nos conta uma célebre
~lbíno Penteado Neiva. procissão realizada em Agosto
Para além deste poder de limpar de 1933 que, saindo da igreja pá-
as "maleitas das crianças, esta roquial, se dirigiu para a capeli-
água também tinha o dom de ser nha». «Nela tomaram parte, para
refrescante nos momentos de além da população da freguesia,
sede. Segundo o historiador, este muita gente das vizinhas, muito
local situado perto da capela de ·clérigos e autoridades civis», tra-
S. Lourenço «era ponto obrigatório tando-se de um procissão peniten- /
i -
de passagem, e momento para cial, onde se pediu a S. Lourenço
saciar a sede, para todas as pes- «alguma frescura para as searas,
soas que se dirigiam para a feira que à míngua de chuva estão a
de Esposende». _ enfra,quecer» ..
PADRE LEAL FEZ DO NICHO UM SANTUÁRIO COM VISTA PRODIGIOSA .

vp '
1

é antiga mas a capela é recente


capela da Senhora da Intervenções sucessivas
Guia, em Belinho, é re- e crescimento do santuário
cente. Foi construída no A partir dessa altura e com o local a
século XX e tem vindo a ser cada vez mais procurado, pros-
ser sucessivamente melhorada ao seguiram-se os melhoramentos, por
longo dos anos, transformando-se forma a dar maior comodidade aos
_ num grande santuário, com uma romeiros da Senhora da Guia.
vista panorâmica prodigiosa. A brochura "Senhora da Guia" faz
No entanto, se o templo é recente, o um elenco das principais inter-
mesmo.não se pode dizer da devo- venções, sempre com a extrema
ção à padroeira, cuja invocação na- dedicação do saudoso padre Leal.
quele monte é antiquíssima. Aliás, Assim, no dia 16 de Maio de 1976,
a Senhora da Guia é venerada um foi benzido o cruzeiro e um ano
pouco por todo o País, mormente depois foi inaugurado e benzido o
na costa portuguesa. _ monumento em honra da Virgem.
Segundo a publicação "Senhora da É uma estátua com 1,60 metros de
Guia': edição do Conselho Pastoral altura, assente sobre colunas de 3,5
Paroquial de Belinho - Esposende, metros, também em granito, uma
«a actual capela foi antecedida de homenagem dos emigrantes de Be-
um nicho sobre o qual se encon- linho. Em 1979, a luz eléctrica che-
tram referências desde tempos an- gou ao santuário. No ano seguinte,
tigos. Segundo algumas tradições, começaram a ser construídos os
no tempo das invasões de bárbaros . primeiros degraus do escadório,
e muçulmanos, os cristãos refugia- que vai desde o sopé do monte até
ram-se no monte da Guia, trazendo à capela. No entanto, houve um
consigo uma imagem de Nossa Se- interregno e só em 1988 é que os
nhora, que esconderam na cova de trabalhos começaram em força. «O
um penedo. E, ao longo dos séculos, escadório consta de aproximada-
a invocação dos cristãos foi sempre mente 400 degraus, intervalados
a mesma: Nossa Senhora da Guia, por algumas dezenas de pátios. a enorme e imponente imagem de
abençoai a nossa freguesia». S. Cristóvão, capaz de olhar não só
Acompanha a encosta do monte
Ora, a acreditar na tradição, a invo- pa-ra os seus protegidos, os automo-
e, para além de proporcionar fácil
cação será, aproximadamente, des- bilistas, mas também as freguesias
acesso à capela, permite apreciar
de o século IV. Isto tendo em conta de Belinho, S. Bartolomeu do Mar,
em toda a sua extensão uma magní-
a baliza temporal das primeiras S. Paio de Antas, e ainda algumas
fica paisagem (... ) onde se conjuga ·
invasões bárbaras. de Viana do Castelo. Allás, Senhora
harmonicamente com o pinhal, o
No início do segundo quartel da Guia e Santa Luzia saúdam-se
monte e o mar>>, lê-se na publicação.
do século XVIII, aquando do le-. mutuamente.
A par do escadório fizeram-se outras
vantamento do património de A imagem de S. Cristóv~o foi ali co-
obras. Por exemplo, aquando da su·a
todo o país, inquérito que viria a locada no dia 12 de Agosto de 1979,
construção, a capela não dispunha
consubstanciar-se nas "Memórias depois de ser benzida na igreja
· de qualquer edifício de apoio, e era
Paroquiais de 1758'~ os vigários de
uma necessidade. Assim, foi cons- paroquial.
Belinho dessa época não fizeram
truída a casa de apoio, por forma a Em 2002 foi realizada a primeira
qualquer referência à devoção no
que a capela fosse exclusivamente peregrinação arciprestal ao monte
Monte da Guia. Üm lapso ou terão
para repouso, recolhimento e ora- da Senhora da Guia. Em 2005, os
simplesmente ignorado aquele
ção. paroquianos de Belinho, que não
pequeno nicho.
A estatuária foi sendo enriquecida: são ingratos, homenagearam o
Na brochura "O Monge da Senhora
Além da imagem da Senhora de Fá- grande obreiro do santuário, com
da Guia, Lendas e Narrativas~ é
tima com os pastorinhos, sobressai uma estátua.
contada a extravagante estória de
um monge, filho de um cabreiro
de Belinho, que residiu na gruta.
Estória que se terá passado no sé-
culo XIX. Fala-se no toque de uma
sineta, mas em momento algum se
fala em capela. ·
De facto, só com a chegada do
padre Manuel José da Costa Leal,
é que o santuário ganhou vida e,
sobretudo, atingiu uma notável mo-
numentalidade, com a construção,
em primeiro lugar da capela, substi-
tuindo o antigo nicho, e, posterior-
.mente, a construção do escadório.
As obras da capela tiveram início
em Abril de 1.972 e, no dia 19 de
Maio do ano da Revolução dos
Cravos, 1974, foi benzida e nela foi
celebrada a primeira eucaristia.
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RENEGADO, CAUTELEIRO, FRADE E PEREGRINO QUE FOI AROMA VER OPAPA

ol· e ·.st( a o e"·


descendente do cabreiro ·de Belinho
uase todas as capelas
têm, à volta da sua cons-
trução, histórias, lendas
e mitos, uns mais acre-
ditáveis, outros mais romanceados
e mirabolantes. Nas páginas deste
suplemento"Património': desde que
feita a devida distinção entre aquilo
que é lenda e o que é história, toda
"'.
\1;
a tradição oral ou escrita é levada
em consideração. Isto porque estas
histórias são interessantes patrimó-
nio imaterial das freguesias e fazem
parte da cultura das populações.
Registámos que, entre as centenas
que reproduzimos ao longo destes
quase seis anos de "Património'~
no distrito de Braga, esta história à
volta do monte da Senhora da Guia
será das mais mirabolantes e ricas.
Curiosam·ente, é apresentada como
«verdadeira e hodierna». -
Sa~u no jornal "O Povo Esposenden-
se'~ edição de Maio de 189-6, e foi
contada por Manuel Boaventura, ilus-
tre escritor e historiador de Esposen-
de, patrono da Biblioteca Municipal.
No ano 2000, o "conto" foi transcr~to
na brochura "O Monge da Senhora da
Guia - Lendas e Narrativas': Aqui só
vamos contar alguns episódios, mas é
digna de s·er lida na íntegra.
Tudo terá começado em Maio de
1820, tempos conturbados com a
Revolução liberal em Portugal. Um
cabreiro de Belinho, encontrou um
recém-nascido envolto em farrapos.
«Mal podia mover-se e respirar». O .
bondoso homem pegou no menino,
mostrou-o à mulher e decidiram
ficar com ele. Afortunadamente, ela
estava a amamentar um filho e foi
fácil alimentar o renegado.
A notícia espalhou-se, revoltando a
população, que não compreendia
como é que alguém abandona um
recém-nascido na rua, ao mesmo ·
tempo que louvava a atitude do
casal. Passado o reboliço, o pobre
cabreiro de Belinho passou a cuidar
do menor como um filho, mas este
tinha vocação para "vagabundo':
«Mas há-de causar estranheza que " Gruta onde o monge ou o ''joia' esteve escondido durante mui to tempo

tão boas almas não pudessem incu-


tir ânimo daquela criança a sua tão
má índole, pois que saiu, no decurso que lhe rendia avultadas esmolas. imitação dos verdadeiros monges na ingenuidade e bondade dó povo, acabou premiado. Com dinheiro co-
da sua vida, o mais descarado intru- · Alguns anos mais tarde, o filho beneditinos». Estava «no meio da gru- - descuidou-se e um dia foi visto. Pe- meçou a fazer negócios com ouro,
jão que se criou nestes sítios», conta adoptivo do cabreiro de Belinho, ta, ajoelhado, com braços em cruz e rante a ira dos residentes, foi corrido mas o sonho era regressar à "sua"
Manuel Boaventura. qual filho pródigo, regressou à terra - olhos fixos no tecto». da freguesia e regressou a Lisboa. · gruta no monte da Senhora da Guia.
natal. Foi avistado por crianças que Foi tomado como um monge, que Por ocasião do aniversário nata- Em Março de 1878, reapareceu na
Cauteleiro em Lisboa por ali pastavam as suas ovelhas. só se sustentava a pão e água e até lício do Papa Pio IX, fez-se uma gruta, parecia um meliante e o povo
e monge em Belinho Terá ameaçado os pastorinhos. Estes, tinha marcas de chicote de auto- peregrinação a Roma. Com astúcia não o magoou. Instalou-se defini-
Aos 19 anos, foi procurar a vida em ao contarem aos pais, desencadea- -flagelação. A esperteza e malícia do integrou-se na comitiva, mas não tivamente na covà dos monges.
Lisboa, onde esteve entre 1840 e ram uma vigorosa busca pelo monte, "jóia"contrastava com a ingenuidade viu o Papa e voltou mais tarde que Depois saiu e foi viver num casebre
1852. Era o cauteleiro de\ longas à procura do intruso. Foi encontrado e ignorância do povo, que até lhe atri- os restantes peregrinos. junto à montanha.
bar~as do bairro Mouraria, onde era na gruta vestido de hábito de monge, buiu milagres. Lá ia tendo uma boa Regressou a Lisboa e à profissão Em 1999, o padre Leal encomendou
conhecido como "o jóia': Além de num quadro verdadeiramente dramá- vida. Se de dia era santo, à nQite des- de cauteleiro. Aconteceu-lhe uma ao jovem João Filipe de Sá, uma es-
cauteleiro, também era «mendican- tico e semi-fantástico: «trazia longas cia das montanhas para casa de uma vez não conseguir vender algumas cultura do profeta Elias, o Santo do
te-gotoso», muito convincente, o barbas naturais e usava sandálias à senhora.Terá confiado demasiado cautelas e teve que ficar com elas e sono, e colocou-a na gruta.
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FESTAS COM MUITAS PARTICULARIDADES

origem na alta Idade Média


capela de Santo Amaro,
em Belinho, é mais uma
em que já só restam o es-
paço e a memória daquela
que seria a original. Investigadores
apontam no sentido de ser «con-
tinuadora de uma das primitivas
"villas-ecclesias"», extintas com a
Reforma Gregoriana. Ou seja, na alta
Idade Média, entre a queda do Im-
pério Romano dó Ocidente, 476, até
ao ano 1000.
Segundo Teresa Ricou, no livro "San-
to Amaro de Belinho': se a capela
data da segunda metade do século
XVII, «a sua origem poderá ser
muito mais remota, possivelmente
continuadora de uma das primitivas .
"Villas-ecclesias~ aquelas que com
a Reforma Gregoriana e a reestru-
turação do quadro paroquial ao
longo do século XII/XIII». Terão sido
extintas, acabando por desapãrecer,
em certos casos, ou por transformar
nas capelas dos lugares onde estão
inseridas.
A autora admite que esta terá sido a
situação da capela de Santo Amaro,
até pela sua localização, isto é, «no
centro de um antigo territ6rio».
A tradição diz que a capela ou pre-
sumivelmente uma antiga igreja pa-
roquial, pequenina, estaria algures
mais para sudoeste da actual, na en-
costa do monte. Teresa Ricou acreçli-
ta nessa possibilidade, uma vez que
atrás da arruinada Quinta da Boavis-
ta, reconstruída na primeira metade
do século XVIII por Miguel Aranha
Pita, apareceu o pé.de um altar, com
características moçárabes. Também
foram encontrados restos de tégula
[telha romana], como avança o ar-
queólogo Carlos Alberto Brochado
de Almeida.
A autora da publkação pergunta se
Santo Amaro não seria o epicentro
de uma das duas ecclesias pré-
-românicas que viriam a formar-se
na actual freguesia de Belinho.
Como já foi dito, a capela é hoje
um imóvel sem estilo definido,
fruto das imensas alterações nela -;. A s1ne1ra será uma réstia da capela do século XVII

realizadas ao longo dos tempos. A


mais próxima da actual capela data
do segundo quartel do século XVII, Festa para solteiros O que mostra a popularidade da festa uma sineira de pedra, constituída por ro é para os casados, no domingo
como testemunha a data de 1671, casados e viúvos não só na freguesia de Belinho, mas · um arco de volta perfeita, assente em anterior à festa é para os solteiros,
. perpetuada, ainda que pouco visí- À época, os vigários de Belinho, também nas circunvizinhas. toros quadrangulares». enquanto que o domingo a seguir
vel, na base da cruz sobre a empena João de Araújo Silva e João Dias Falando ainda dos aspectos arquitec- Nos últimos anos, a capela voltou a. a prioridade é para os viúvos. Se
ocidental. Outro elemento impor- Cardoso, informaram os autores do tónicos da capela, Teresa Ricou refere sofrer várias intervenções tanto no antigamente a distinção era para
tante que mostra a antiguidade da inquérito da presença da capela ,que se trata de um edifício de arqui- interior, designadamente no altar- levar a sério, hoje é apenas uma
capela é a imagem do padroeiro, de Santo Amaro, pertença dos mo- tectura «extremamente simplista, sem mor, como no exterior. Recentemen- curiosidade e memória. A festa,
em madeira estofada, com traje dos radores. «Em quinze de Janeiro se características individualizadoras de te, no dia 28 de Agosto de 2007, o essa continua, com devoção. Muitas
beneditinos, «atribuível à parte final festeja e algumas pessoas vêm de qualquer estilo», reflexo das inúmeras adro ganhou outra dignidade com pes~oas fazem e pagam promessas,
do século XVII, o que, aliás, e~tá de romaria à ditta capella, como são da adulterações sofridas ao longo dos uma i·ntervenção de fundo. como se pode ver pela quantidade
acordo com a cronologia da capela». villa de Espozende, Sam Miguel das tempos. «Como único atributo, uma Uma das particularidades das festas de ex-votos acumulados.
Mas o documento mais concreto Marinhas, Sam Bartholomeu do Mar, janela ras§ada sobre a porta principal, de Santo Amaro tem que ver com a Os antigos fazem referência a uma
que existe .chega-nos das "Memórias Sam Joam de Villa Cham, Sam Paio rectangular formada por cantarias de divisão em estados civis, isto é, ex- série de doces típicos da festa, entre
Par.qqutajs_q~ .1].~~,~ ~ _ _. _ ~ Dantas. e Castehdo bJeiva>> _ granito....e,..sobr.e a.beiral,.au centro,. . ._ pJi.cater,esaJUcou,.o.dia..do.padroei-. • .eles.as chamadas.padas• .
ao caçador de Belinho
capela de Santo Amaro que a pregou ao chão. Preparou o . vando as mãos às pernas percebeu
está envolta numa lenda arco para a que deveria sair pela quetinha sido Santo Amaro que o
segundo.a qual, este.pe- porta do poente e saltou para arriba . tinha curado, exclamandó _depois:
queno templo terá sido dum penedo traiçoeiro, que parece "Bendito sejas tu à milagroso·san-
construído por um caçador de Be- um pião. Mas inesperado repiôlo tinho':
li nho, em reconhecimento por este . de vento desequilibrou o pobre «0 jubiloso caçador perante a ma- .
santo lhe ter salvo a vida depois de "Caçador" e arrebolou-o ao fundo ravilha do anoitecer, sentia-se poeta
uma queda em que deixou de sentir do fisgão, à profundidade de três pela primeira vez na vida e cantava
as pernas. ou quatro braças. Coitado do pobre! · louvores a Deus e aos santos da sua
Esta lenda é contada por Manuel de Não morreu, mas partiu as duas per- devoção, a par e passo que ia des-
Boaventura e reproduzida no livro nas!», conta Manuel de Boaventura. cendo as andurrinhas do pendor, a
"Santo Amaro de Belinho'~ da auto- Assim, o caçador, cheio de dores, soca irar por entre 'fragosos penhas-
ria de Teresa Riçou. começou a gritar e a pedir socorro cos»1 conta Manuel de Boaventura. .
Segundo conta, «noutros tempos, no meio do monte, sem que nin- Pelo caminho, o homem decidiu ir
na era dos afonsinos, vivia aí, em guém o ouvisse. Já rouco e com a .na manhã seguinte ào convento de
Belinho, um famoso caçador que garganta seca, recorreu em pensa- · São Romão~ onde fizera o noviciado,
tinha sido noviço no.convento de menta a Deus, por intermédio do para agradecer a Santo Amaro a gra-
São Romão, ao da riba do Neiva, que Santp Amaro Abade, a quem tantas ça que lhe tinha concedido. Assim,
além de abater lambareiras raposas, vezes no convento de São Romão . . na madrugada seguinte pôs~se a
lobos, texugos, tourões e martas, venerou no seu altar, para que o caminho e, quando chegou ao con-
conseguia frechar nédios porcos salvasse daquela aflição. Pediu que vento, ajoelhou-se junto à imagem
bravios, coelhos e lebres. lhe desse pernas com que pudesse ·de Santo Amaro, perc~bendo, logo
Uma das curiosidades desta história caminhar, ou que o levasse para de seguida, que aquelas feições
é o facto desta personagem não ter si, para o libertar das dores que o eram tal e qual as da sombra amiga
nome e, pelo facto de ser um gran- consumiam. que o tinha salvado;
de manejador do arco e flecha, ape- Erguendo-se, beijou a peanha e cor-
nas ficou conhetido pelo "Caçador Milagre -- reu até Belinho, ~om o objectivo de
de Belinho~ · de Santo Amaro contratar um mestre canteiro para
A determinada altura, continua a Entretanto, atormentado pelas do- construir uma capela.
lenda, o monte circundante encheu- res e muito cansado, o caçador de «Meses depois, o D. Abade de São
-se de «bichos bravos» que começa- Belinho adormeceu, quando subita- Romão benzia a capela e entro-
ram a atacar os galinheiros dos ha- mente sentiu o toque suave da asa nizava nela a própria imagem do
bitantes de Belinho. Perante a situa- de uma andorinha, que o acordou. convento que, com prazer, oferecia
ção, as pessoas alarmadas, sabendo Segundo a lenda, o caçador viu jun- ao antigo noviço. O desastre na ma-
da fama do caçador, pediram-lhe to a si uma sombra de um homem drigueira das raposas aconteceu no
que as livrasse dos lobos e raposas que se prestava a dar-lhe ajuda. Era dia 15 de Janeiro de remotas eras,
que infestavam o monte. «um frade que envergava cógula de dia consagrado ao Abade Santo
O bom homem aceitou o pedido S. Bento, com braços e mãos de divi- Amaro. Era crença, entr~ os caçado-
e, pegando no seu arco e nas suqs na alvura» que lhe disse:"Ergue-te! res e o povo da região, que no sítio
flechas, foi pelo monte acima para Levanta-te! Caminha!': . onde o caçador visionara a sombra
dizimar os animais que faziam pre- Já não sentindo dores, o caçador salvadora as flores montesinas e
juízos nos galinheiros. pôs-se de pé, vendo a sombra par- as erv-ilhas rasteiras nunca s~cam
«A primeira raposa que lhe saiu, tir em direcção ao céu, tentando, e estão sempre floridas e verdi-
que devia ser rapazão finório,. ao mesmo tempo, perceber de nhas», conclui Manuel de Boa-
atravessou-a com tão afiada seta, quem era aquele rosto. Assim, le- ventura.
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