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1 - António Pinto, responsável da Comissão de Festas de S. João de Sobrado


2 e 3 - Preparativos de adereços para a festa
- Imagens para ilustrar (várias) sem legenda

No S. João de Sobrado todos são protagonistas


Bugiadas e Mouriscadas: esta festa é nossa
Está em contagem decrescente a preparação da festa maior do concelho, a celebração do S. João
com os Bugios e Mourisqueiros. De caraterísticas únicas, esta festa não tem público, todos
participam e todos são protagonistas, porque só assim faz sentido, diz a tradição
Margarida Almeida
António Pinto é o presidente da Comissão de Festas de S. João do Sobrado, a entidade responsável
pela preparação da festa que decorre, todos os anos, a 24 de Junho, no dia de S. João, e é ele que
tem boa parte da responsabilidade de velar pelo bom andamento dos preparativos . Uma tarefa que
começa a partir do dia 25 de Junho, porque há que angariar verbas, preparar as roupas, fazer a
manutenção dos adereços e voltar a transformar o largo do Passal num campo de batalha, colorido e
vibrante, onde não há vencidos nem vencedores, mas muito ritmo, dança e humor.
“Angariar fundos para custear as despesas é uma tarefa que começa mal a festa termina. Temos
algumas receitas próprias, nomeadamente o aluguer do espaço aos feirantes e donos dos
divertimentos, uma negociação que começa, normalmente, no mês de Abril. Temos ainda, no início
de Junho, um peditório que resulta numa receita mais ou menos segura. Entretanto, vamos
promovendo, na Casa do Bugio, atividades para obtenção de verbas, a próxima será a Noite da
Mulher, em Março, já tivemos a Noite de Fados, a Sarrabulhada, os Cantares ao Desafio; fizemos
um cabaz de Natal e as rifas foram vendidas em toda a freguesia e na Páscoa também vamos fazer
um sorteio. Temos que ser criativos para conseguirmos as receitas necessárias”, explica António
Pinto.
Há também apoios, da Câmara, que o ano passado atribuiu uma verba de 9000 euros à festa das
Bugiadas, “A festa foi em Junho mas só recebemos o subsídio no Natal do ano passado”, esclarece
este responsável, que chama a atenção para o orçamento que está em causa: “São entre 70 a 80 mil
euros, para garantirmos a festa e toda a logística que envolve. Temos de garantir o policiamento de
toda a área, um serviço que implica uma despesa de cerca de cinco mil euros; temos de adornar o
espaço, temos de contratar um sistema de som muito eficaz; temos de fazer uma sessão de fogo de
artifício, contratar os artistas para os espetáculos à noite”, enumera António Pinto. Mas as despesas
com a festa não se ficam por aqui, é oferecido um almoço a todos os participantes, é chamada uma
banda de música e têm de se enfeitar os andores da procissão e a igreja, uma tradição de que a
Comissão de Festas não prescinde.
Os fatos dos Bugios são comprados pelos próprios, os Mourisqueiros são vestidos pela Comissão de
Festa e as roupas fazem parte do seu espólio, embora seja necessário, com regularidade, atualizar o
«guarda-roupa», “o ano passado choveu muito e muitos adereços dos fatos dos Mourisqueiros
estragaram-se”, recorda António Pinto.
Na organização dos grupos, este responsável explica que Bugio pode ser quem quiser, e cada vez há
mais quem queira, bastando-lhe comprar o fato e a máscara, porque têm que participar,
obrigatoriamente, com a cara tapada. Já vestidos de Mourisqueiro só podem integrar a festa os
rapazes solteiros, que têm de ir de cara descoberta. As figuras do Reimoeiro (rei moiro) ou do Velho
da Bugiada são centrais na festa e são escolhidos pelo envolvimento que vão demonstrando ao
longo dos anos, são estatutos muito requisitados, mas, explica, António Pinto, “há uma hierarquia a
cumprir e há que dar provas para se atingir aquele estatuto”.
Mas a caraterística mais distintiva desta festa é o facto de envolver toda a comunidade, “não há
atores nem espetadores, não há barreiras, todos participam e os vários momentos da festa são
acompanhados por toda a gente”, é por isso, refere António Pinto, que é difícil, por vezes, explicar
aos de fora toda a complexidade das Bugiadas. Embora as lutas entre cristãos e mouros integrem
muitas festividades por esse mundo fora, as Bugiadas e Mouriscadas de Sobrado constituem um
caso ímpar; não há vencidos nem vencedores, nem bons nem maus e a comunidade envolve-se com
todos os momentos da festa, “num processo de identificação que começa desde a meninice”.
No dia de S. João, Sobrado acorda com Bugiadas e adormece com elas, todo o comércio fecha e
cada família prepara-se para viver o dia porque se esperou durante o ano inteiro. “Há um fio
invisível que liga toda a comunidade, não é preciso dar indicações nem chamar as pessoas para irem
aqui ou ali, todos sabem o que vai acontecer e onde”, explica o responsável da Casa do Bugio.
Mas quando nasceu esta celebração? Não se sabe, há muitas teorias, algumas das quais sem sentido,
garante António Pinto. Até porque, não há muita documentação escrita sobre as Bugiadas, embora a
tradição oral tenha preservado os vários rituais da festa. O irmão do presidente da Comissão de
Festas de S. João do Sobrado, Manuel Pinto, professor na Universidade do Minho, é talvez o maior
estudioso deste fenómeno, sendo responsável pelos conteúdos do blogue «Bugios e Mourisqueiros»,
onde é possível ficar a conhecer em pormenor a festa e obter um conjunto de informações úteis.
António Pinto não quis falar sobre o processo de candidatura das Bugiadas a Património Imaterial
da Humanidade, que deveria acontecer até finais de Março. “Já se falou muito, agora é tempo de
decidir e não quero estar a fazer declarações sem ter nada de concreto para dizer. Estou convencido,
contudo, que dentro de pouco tempo haverá novidades, relativamente ao andamento do processo”,
referiu.
Com ou sem candidatura, as Bugiadas são já uma imagem de marca do concelho, tendo
representado Valongo na BTL, Bolsa de Turismo de Lisboa, que decorreu entre 25 de fevereiro e 1
de Março. Foram levados dois manequins, um Bugio e um Mourisqueiro, para espicaçar a
curiosidade dos visitantes, que foram à principal mostra de turismo nacional, relativamente às
Bugiadas. Por cá, com candidatura à UNESCO ou sem ela, a festa vai continuar, porque ela é nossa
e estão todos convidados.

Caixa
Uma lenda de mouros e cristãos
A festa da Bugiada tem por base uma lenda, transmitida oralmente de geração em geração, que
remonta ao tempo em que os muçulmanos ocuparam o território. Essa lenda relata a disputa de uma
imagem milagrosa de São João, detida pelos Bugios, a que os Mourisqueiros pretenderiam também
recorrer para salvar a filha do seu rei. O santo fez o milagre, os mouros recusam devolver a imagem
e a guerra estala. Na manifestação telúrica de Sobrado a lenda desenrola-se sob a forma de danças.
Os Bugios, conduzidos pelo Velho da Bugiada, vão mascarados, vestidos com roupas garridas,
penachos de fitas na cabeça, guizos por todo o corpo e castanholas nas mãos. São, habitualmente,
em número de várias centenas, de todas as idades, e fazem uma enorme algazarra. Os
Mourisqueiros, comandados pelo Reimoeiro, são rapazes solteiros, em número de algumas dezenas,
usam fato colorido e listado, na cabeça levam uma barretina cilíndrica, ladeada de espelhos e
encimada de plumas, usam polainas e, na mão direita, transportam uma espada.
Depois das danças, que têm início pela manhã, a "Festa da Bugiada" atinge o seu auge ao fim da
tarde, quando cada uma das formações sobe ao respetivo castelo e tem início a guerra,
acompanhada, de trocas de "embaixadas" e de "negociações diplomáticas". Não havendo acordo, os
Mourisqueiros atacam o castelo bugio e prendem o Velho, o chefe dos Bugios. A guerra parece
perdida mas os Bugios recorrem a uma gigantesca serpe, libertam o seu chefe e cada formação faz a
respetiva dança final.
Paralelamente, a festa integra outras manifestações da cultura popular, nomeadamente um conjunto
de cenas de crítica da vida local e nacional, típicas da época carnavalesca; o ritual da lavra da praça,
em que as operações de lavrar, gradar e semear são feitas por ordem inversa; e a mais espetacular, a
chamada Dança do Cego ou Sapateirada - uma cena de teatro popular, em que se evoca a
perturbação causada numa comunidade pela chegada de um cego que viaja de terra em terra, guiado
pelo seu moço.

Dicionário das Bugiadas e Mouriscadas


Do blogue «Bugios e Mourisqueiros»
Barretina - Objeto cilíndrico que os Mourisqueiros usam na cabeça, decorado com fitas e com
espelhos e encimado de plumas. O Velho da Bugiada usa uma com um design ligeiramente diferente
(termina em bico na parte anterior).
Bugiada - Refere-se ao agrupamento e danças dos Bugios, representa os cristãos e contrapõe-se à
Mouriscada. Quando organizada, estrutura-se em duas filas paralelas, lideradas pelo Velho da
Bugiada. O número e exuberância bugia tem levado muitos a designar a Festa de S. João por Festa
da Bugiada, se bem que, em rigor, a Bugiada seja apenas uma parte da Festa.
Bugio - Integrante da Bugiada. Não existe controlo relativamente a quem pode aceder ao estatuto de
Bugio, havendo na Bugiada novos, idosos e crianças, homens e mulheres. Em épocas passadas, até
aos anos 60-70 do século passado, era socialmente mal visto as mulheres irem de Bugio. Não se
pode esquecer um importante elemento de identificação do bugio: a máscara. Nas mãos, são
obrigatórias as castanholas.
Casa do Bugio - Associação criada em Sobrado em 1993, com a finalidade de preservar e promover
a Festa de S. João de Sobrado e tudo o que com ela se relacione. Cabe-lhe realizar a Festa, sempre
que não surgir uma Comissão com Juiz e Mordomos, e, por norma, de cinco em cinco anos. No
âmbito das suas atribuições, a Associação é detentora do bem patrimonial imaterial da Festa, em
nome dos Sobradenses, cabendo-lhe igualmente os direitos de imagem, devidamente registados. A
designação Casa do Bugio refere-se igualmente ao edifício que foi construído fora da povoação, na
estrada municipal que liga Sobrado a Alfena. De dimensões avultadas, destina-se, entre outras
funções, a acolher os Mourisqueiros e os Bugios no 'jantar' do dia 24 de Junho.
Castelos - Também conhecidos por palanques. São estruturas de madeira construídas «ad hocno
sábado anterior à Festa, e constituídas por um esqueleto de toros de pinho cortados na ocasião,
encimados por um estrado à altura de uns 2,5 metros. São instalados no Passal, perto do coreto: o
dos Bugios junto à estrada principal e, na direção da igreja, a cerca de 50 metros, o dos
Mourisqueiros. É nestes castelos que decorre a Prisão do Velho, altura em que o castelo Bugio
acolhe igualmente a Serpe, por debaixo do estrado, por entre a folhagem.
Cuca Macuca - designação que toma a serra de Santa Justa, na lenda que está subjacente à Festa de
S. João de Sobrado. A origem do nome não se encontra devidamente estudado. É conhecido quer do
lado de Valongo quer do lado de Gondomar. Na serra de Cuca Macuca habitavam, segundo a lenda,
os mouros, dedicando-se à extração de ouro.
Dança de Entrada - Em rigor deve dizer-se Danças de Entrada, já que correspondem à
apresentação sequencial quer dos Mourisqueiros quer dos Bugios na zona principal da festa e têm
passos distintos nuns e noutros. Têm lugar ao fim da manhã e partem da zona da capela das
Alminhas. A Banda de S. Martinho de Campo conduz cada agrupamento até Camelo, após o que os
Mourisqueiros são acompanhados pelo rufar da caixa e os Bugios pelo toque da 'orquestra' de
rabeca e violas, até junto da entrada do adro, onde os respetivos reis os abençoam com água benta.
Dança do Cego - Também conhecida por Sapateirada. Apesar do nome, não se trata de uma dança,
mas de uma representação de cunho primitivo que põe em cena dois grupos de personagens: o
Sapateiro, a sua Mulher (fiandeira) e o moço, e, do outro lado, o Cego e o seu Moço. Todos vão
mascarados.
Dança do Doce - Dança que Mourisqueiros e Bugios executam no átrio da residência paroquial, a
meio da tarde, após o que o pároco é obrigado por tradição a dar um copo de vinho e um doce típico
local a cada participante.
Dança do Santo - Dança que Mourisqueiros executam em frente ao adro da igreja paroquial, ao
fundo do Passal, ao fim do dia, após a Prisão e libertação do Velho da Bugiada.
Dança do Sobreiro - Dança que Mourisqueiros e Bugios executam depois das Danças de Entrada,
ao cimo do Passal, do lado Sul. Todas as danças aqui referidas têm a mesma estrutura e morfologia,
demorando cada agrupamento de 30 a 45 minutos.
Estardalhadas - São mais uma componente da Festa de S. João de Sobrado e a única que varia de
ano para ano. É constituída por indivíduos ou grupos de mascarados que procuram satirizar e pôr a
nu acontecimentos e peripécias da vida local (com a influência dos media, passou a ser frequente
caricaturar também acontecimentos de âmbito nacional e internacional). Surgem de livre iniciativa e
constituem sempre uma surpresa para todos, visto que não carecem de fazer qualquer inscrição
prévia.
Juiz - É alguém que se dispõe a organizar a Festa no ano seguinte, constituindo uma comissão de
colaboradores e presidindo aos respetivos trabalhos. A lista dessas pessoas é, por norma, anunciada
no final da missa de festa do ano anterior e as funções de juiz cessam formalmente ao transmitir o
cargo à Comissão seguinte, simbolizada na entrega de um ramo, acompanhado pela banda de
música, no adro da igreja paroquial. Nos últimos tempos, tem havido um sobradense há décadas
radicado no Brasil - Generoso Ferreira das Neves - que, por promessa, tem sido o Juiz de cinco em
cinco anos, nos anos terminados em zero ou em cinco.
Mouriscada - É o conjunto dos Mourisqueiros, sob o comando do Reimoeiro. Está estruturada em
duas filas, com dois Guias à cabeça, dois Rabos na extremidade e dois Meios, como o nome indica,
a meio. O facto de serem apenas jovens solteiros, de usarem espada, polainas e uma barretina
semelhante à que usavam as tropas napoleónicas confere aos Mouriscos um ar militar e de tropa
bem organizada.
Roubo ritual - Surge este termo associado à Festa em dois contextos. O primeiro é o da lenda: na
posse da imagem de S. João, os Mouriscos procuraram apropriar-se dela, tendo nascido aí o conflito
com os Bugios. O outro contexto refere-se à aceitação social de pequenos roubos (de doces, por
exemplo) que alguns Bugios executavam recorrendo a dispositivos como o Sardão.
Serpe - É uma figura central e decisiva no desfecho do conflito entre Bugios e Mourisqueiros e da
própria festa. Trata-se de uma espécie de dragão, de tons esverdeados, língua vermelha e longa
cauda, com um comprimento que andará entre os 3 e os 4 metros. Quando os Bugios se vêem
derrotados pelos Mourisqueiros e com o seu rei levado prisioneiro, recorrem à Serpe e
surpreendendo os Mouros no caminho, conseguem que eles, aterrorizados, abram brechas,
permitindo a libertação do Velho, no meio de grande correria.

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