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1. Futurismo
Constitui, em Portugal, uma das facetas do chamado «Modernismo». Derivação do Futurismo de Marinetti, cujo
primeiro manifesto saiu no Figaro em 22-11-1909, tem cariz agressivo e escandaloso, propõe-se cortar com o passado
exprimindo em arte o dinamismo da vida moderna, «a nossa turbilhonante vida de aço, de orgulho, de febre e de
velocidade». Facto curioso, assinalado por Pedro da Silveira: a 5 de agosto do mesmo ano, o Diário dos Açores (Ponta
Delgada) transcrevia aquele manifesto (e seria o único jornal a fazê-lo), publicando também uma entrevista de Marinetti –
ambos os textos em versão portuguesa do poeta Luís Francisco Bicudo (1884-1918). Anos depois, um heterónimo de
Fernando Pessoa – Álvaro de Campos, autor da «Ode Marítima» e da «Ode Triunfal» – e Mário de Sá-Carneiro, pelo
poema intitulado «Manucure», «semi-futurista com intenção de blague», na sua própria classificação, filiam-se no
Futurismo. Aquelas três composições saíram em 1915 nos n°s 1 e 2 de Orpheu. [...]
Em Fernando Pessoa observa-se a influência direta dum precursor do Futurismo, Walt Whitman, a quem Álvaro de
Campos consagra a «Saudação a Walt Whitman».
Jacinto do Prado Coelho, «Futurismo», in Dicionário de Literatura: Literatura Portuguesa, Literatura Brasileira, Literatura Galega,
Estilística Literária, 4. a ed., vol. 2, Porto, Figueirinhas, 1989, pp. 355-356.
2. Sensacionismo
O Sensacionismo foi o último ismo criado por Pessoa, na cumplicidade, uma vez mais, do seu compagnon de route,
Sá-Carneiro, à semelhança do que aconteceu com outros ismos anteriores, tais como Paulismo e Intersecionismo. Pela
sua teorização e prática deixou-se Pessoa deixar-se entusiasmar bastante, já que ele lhe pareceu ser uma hipótese feliz
de conciliação de contrários, ajudando-o a construir uma corrente literária, que era, simultaneamente, nacionalista e
cosmopolita, neossimbolista e acolhedora dos ismos de vanguarda. Tendo como princípio fundamental sentir tudo de
todas as maneiras e ser tudo e ser todos, o Sensacionismo foi para Pessoa a arte da soma-síntese, como lhe chamou,
um todo no qual as partes, mesmo as mais díspares, se harmonizavam, como se de um atanor alquímico se tratasse.
Deste modo, o Sensacionismo concedia uma abertura a Pessoa que os outros ismos não lhe tinham permitido. Nas
inúmeras páginas teóricas que nos deixou sobre esta corrente, disse Pessoa que o Sensacionismo admitia todas as
outras correntes, assim como a literatura englobava todas as artes, apresentando-se, assim, híbrido e interdisciplinar,
quanto à sua natureza.
Fernando Cabral Martins, «Sensacionismo», in Fernando Cabral Martins (coord.), Dicionário de Fernando
Pessoa e do Modernismo Português, Alfragide, Editorial Caminho, 2008, p. 786.
O IMAGINÁRIO ÉPICO
1. Matéria épica: a exaltação do Moderno
Quando Álvaro de Campos aparece no Orpheu é de imediato associado ao Futurismo. Mas a sua relação com a
Vanguarda é complexa. [...]
[Ele] é o manifesto vivo da sede do cosmopolitismo do Modernismo português. Álvaro de Campos é a Europa, mais
que Futurismo ou, até, Sensacionismo. Lisboa é só uma cidade a que vai voltando, e onde acaba por se deixar ficar.
A figura de Álvaro de Campos é assim apresentada no prefácio que Pessoa destina a uma antologia em inglês da
poesia sensacionista portuguesa:
«Há nele toda a pujança da sensação intelectual, emocional e física que caracterizava Whitman; mas nele verifica-se o
traço precisamente oposto – um poder de construção e desenvolvimento ordenado de um poema que nenhum poeta
desde Milton jamais alcançou. A «Ode triunfal» de Álvaro de Campos, whitmanescamente caracterizada pela ausência de
estrofe e de rima (e regularidade), possui uma construção e um desenvolvimento ordenado que estultifica a perfeição que
«Lycidas», por exemplo, pode reivindicar neste particular». [...]
Portanto, a «pujança da sensação», mais o poder de síntese, a mais violenta emoção a que se acrescenta a
construção, tornam Álvaro de Campos o modernista perfeito. O princípio de «desenvolvimento ordenado» que reivindica
[...] vem sublinhar a sua qualidade de protagonista do «drama em gente», como se fosse ele o melhor exemplo do supra-
Camões capaz de integrar todas as eras num grande gesto poético.
Fernando Cabral Martins, Introdução ao Estudo de Fernando Pessoa, Lisboa,
Assírio & Alvim, 2014, pp. 141-142 (texto adaptado).
2. O arrebatamento do canto
O primeiro dos poemas sensacionistas de Álvaro de Campos foi a Ode Triunfal, escrita em verso livre e amplo (num
total de 237 versos) e em estilo profundamente inovador [...], marcado pela grandiloquência (visível, nomeadamente, nas
exclamações e interjeições), pela exaltação épica (Eia! Hé-lá!), pelo ritmo esfuziante, torrencial; pelas anáforas,
apóstrofes repetidas, enumerações, exclamações, interjeições, onomatopeias, neologismos (ex: ferreando), fonemas
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substantivados (verso 5: Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno!), estrangeirismos (souteneur, music-hall – la foule),
grafismos inovadores, frases nominais e infinitivas, oxímoros, misturas semânticas ousadas: máquinas com Filósofos /
termos técnicos com referências míticas; expressões populares com expressões eruditas.
Amélia Pinto Pais, História da Literatura em Portugal, vol. III, Perafita, Areal Editores, 2004, p. 110.
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In Mensagens, 12.º, Texto Editora