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PROFESSOR
HISTÓRIA
ensino médio
1a SÉRIE
volume 1 - 2009
Coordenação do Desenvolvimento dos Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Conteúdos Programáticos e dos Cadernos dos Arte: Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque,
Professores Jéssica Mami Makino, Mirian Celeste Martins e
Ghisleine Trigo Silveira Sayonara Pereira
GESTÃO
Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas
Fundação Carlos Alberto Vanzolini
Prezado(a) professor(a),
É com muita satisfação que apresento a todos a versão revista dos Cadernos
do Professor, parte integrante da Proposta Curricular de 5a a 8a séries do Ensino
Fundamental – Ciclo II e do Ensino Médio do Estado de São Paulo. Esta nova versão
também tem a sua autoria, uma vez que inclui suas sugestões e críticas, apresentadas
durante a primeira fase de implantação da proposta.
A Proposta Curricular não foi comunicada como dogma ou aceite sem restrição.
Foi vivida nos Cadernos do Professor e compreendida como um texto repleto de
significados, mas em construção. Isso provocou ajustes que incorporaram as práticas
e consideraram os problemas da implantação, por meio de um intenso diálogo sobre
o que estava sendo proposto.
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Os ajustes nos Cadernos levaram em conta o apoio a movimentos inovadores, no
contexto das escolas, apostando na possibilidade de desenvolvimento da autonomia
escolar, com indicações permanentes sobre a avaliação dos critérios de qualidade da
aprendizagem e de seus resultados.
O uso dos Cadernos em sala de aula foi um sucesso! Estão de parabéns todos os que
acreditaram na possibilidade de mudar os rumos da escola pública, transformando-a
em um espaço, por excelência, de aprendizagem. O objetivo dos Cadernos sempre será
apoiar os professores em suas práticas de sala de aula. Posso dizer que esse objetivo
foi alcançado, porque os docentes da Rede Pública do Estado de São Paulo fizeram
dos Cadernos um instrumento pedagógico com vida e resultados.
Conto mais uma vez com o entusiasmo e a dedicação de todos os professores, para
que possamos marcar a História da Educação do Estado de São Paulo como sendo
este um período em que buscamos e conseguimos, com sucesso, reverter o estigma
que pesou sobre a escola pública nos últimos anos e oferecer educação básica de
qualidade a todas as crianças e jovens de nossa Rede. Para nós, da Secretaria, já é
possível antever esse sucesso, que também é de vocês.
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FiCHA dO CAdErnO
nome da disciplina: História
Série: 1a
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OriEntAçãO SOBrE OS COntEúdOS dO BiMEStrE
Caro(a) professor(a), relação às temáticas apresentadas. Parte-se do
princípio de que, independentemente do saber
Este Caderno tem por objetivo auxiliá-lo que tenham, esse saber pode ser a premissa a
no desenvolvimento de dois temas que os ma- partir da qual o professor pode se aproximar
teriais didáticos disponíveis, em sua quase to- dos alunos e despertar-lhes o interesse pelas
talidade, tratam de modo bastante superficial: questões tratadas. Para ambos os temas, os
a Pré-história e as civilizações do Oriente Pró- procedimentos e estratégias de avaliação pro-
ximo. Cabe a você decidir sobre a aplicação postos contemplam instâncias de pesquisa,
das sugestões a seus planos de aulas, alteran- participação e produção textual, entendidas
do-as, a partir de suas experiências docentes, como importantes formas de desenvolvimen-
desenvolvidas no contato com os alunos e nos to das competências e habilidades previstas.
ambientes em que exerce suas atividades pro-
fissionais. A forma sugerida para lidar com a grande
distância temporal entre diferentes “pré-his-
Para cada eixo apresentado, é proposto um tórias” e civilizações do Oriente Próximo e a
conjunto de Situações de Aprendizagem, nas vida dos alunos, comumente entendida como
quais foram priorizados os aspectos mais re- obstáculo para o aprendizado desses conteú-
presentativos das discussões historiográficas dos, consiste na tentativa de aproximar co-
que, atualmente, são travadas a respeito dos nhecimentos tradicionalmente separados: os
dois temas. Nessas Situações de Aprendiza- saberes dos alunos (frequentemente estereo-
gem, enfatizamos o desenvolvimento da com- tipados e baseados em referências midiáticas,
petência leitora e escritora dos alunos. Além mas que, pedagogicamente, podem ser úteis)
disso – com base nas orientações para a área de e aqueles que você possui a respeito desses te-
História, estabelecidas pela Lei de Diretrizes e mas. A aproximação permite traçar paralelos
Bases da Educação (Lei no 9.394/96), e nos Pa- entre informações veiculadas pela mídia – nos
râmetros Curriculares Nacionais –, aspectos seus mais diferentes suportes: filmes, jornais
como a heterogeneidade dos grupos sociais e a e séries televisivas, animações etc. – e outros
pluralidade dos modos de vida, em seu contex- conhecimentos de que dispõem os alunos e
to e ao longo do tempo, foram considerados aqueles acumulados por você, com o que se
em relação a ambos os temas, com a finalida- reforçaria a relação ensino-aprendizagem.
de de propiciar uma compreensão mais ampla
e menos generalizante dos fenômenos históri- No que diz respeito à Pré-história, é possível
cos que a eles se referem. Os dois temas desen- começar a Situação de Aprendizagem por uma
volvidos neste Caderno buscam contemplar o crítica ao próprio conceito, geralmente acolhi-
conteúdo previsto pelas três competências e do e utilizado para separar distintos períodos
habilidades para a área de História dos PCN da história humana, delimitados pelo desenvol-
– representação e comunicação; investigação vimento da escrita, e que acabam servindo para
e compreensão; contextualização sociocultu- hierarquizar sociedades, grupos, povos etc.
ral – procurando abranger as especificidades
de suas proposições. As estratégias de ensino- Outro aspecto importante a ser conside-
aprendizagem aqui adotadas procuram con- rado é o viés eurocêntrico que orienta o tra-
templar o conhecimento prévio dos alunos em tamento dado à Pré-história nos materiais de
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História – 1a série, 1o bimestre
ensino, o que distancia ainda mais o tema da não atenta para a diversidade e pluralidade
vida dos alunos. Visando a superar esse enfo- das culturas e dos modos de vida da região.
que, questões como o surgimento da huma- No passado ou no presente, a história dos po-
nidade e o povoamento de diferentes espaços vos dessa região carece de maior problemati-
geográficos são apresentadas nesta proposta zação. Neste Caderno você poderá encontrar
em uma perspectiva comparativa de diferentes algumas sugestões de Situações de Aprendiza-
realidades, em um mesmo ou distintos perío- gem que contemplam essas orientações.
dos históricos, abrindo-se com isso um leque
de questões muito importantes para animar os É importante considerar, também, que o
debates com os alunos, como: seres humanos e tratamento desses temas nessa fase do Ensi-
escrita surgiram ao mesmo tempo e em todos no Médio pode ser fortemente auxiliado por
os lugares? Quais as hipóteses aventadas sobre outras disciplinas do currículo, oferecendo
o povoamento do Brasil e da América? Que co- aos alunos possibilidades efetivas de reflexão
nhecimentos se têm acerca da Pré-história bra- interdisciplinar. Cabe ressaltar, ainda, que
sileira? tanto os temas tratados neste Caderno quan-
to as indicações para seu desenvolvimento na
Em relação ao Oriente Próximo, atualmen- escola podem conduzir a reflexões acerca da
te, duas questões preocupam os pesquisado- diversidade dos indivíduos, grupos e povos e
res: Qual o limite de suas fronteiras? Oriente à compreensão de seu desenvolvimento social
Próximo e Oriente Médio são a mesma coisa? e tecnológico – habilidades essas que sempre
No que se refere à Antiguidade, essas impre- podem ser trabalhadas a partir de exemplos
cisões praticamente não se aplicam. Por Anti- extraídos dos próprios ambientes cotidianos
go Oriente Próximo se entende, geralmente, o em que vivem os alunos.
conjunto de civilizações formado pelos povos
egípcios, mesopotâmicos, hebreus, fenícios e Pré-história
persas. A terminologia é utilizada corrente-
mente por estudiosos do mundo antigo e da O conhecimento científico acerca da Pré-
arqueologia oriental, os quais também se refe- história foi objeto de diferentes abordagens
rem a esses povos como civilizações do Cres- ao longo do século XX. A partir da década
cente Fértil ou hidráulicas. de 1970, sobretudo, novos estudos interdisci-
plinares enriqueceram esse campo de análise.
As sociedades do antigo Oriente Próximo, Anteriormente entendida como estudo das
com frequência, são analisadas tendo por base sociedades inferiores, por não terem desen-
estudos generalizantes, assentados em homo- volvido sistemas de escrita, essa concepção
geneizações de experiências históricas caracte- de Pré-história foi duramente criticada com o
rizadas, dentre outros fatores, pela localização avanço das pesquisas na área, principalmen-
geográfica dos povos que o compõem. Sobre te pelo fato de levar à preconceituosa hierar-
isso, é importante lembrar que, embora te- quização de grupos sociais – pré-históricos e
nham experimentado vivências semelhantes, históricos –, a partir do desenvolvimento da
esses povos também apresentaram diferentes escrita. Concebida, tradicionalmente, como
peculiaridades. Esse pressuposto também au- um marco entre sociedades desenvolvidas e
xilia uma melhor compreensão das socieda- não-desenvolvidas, civilizadas e não-civiliza-
des que, atualmente, existem no denominado das, a escrita não mais tem sido percebida des-
Oriente Médio. Representada na grande mí- ta maneira. A crítica a esse modelo analítico,
dia como região violenta e habitada por fa- em benefício de compreensões mais plurais e
náticos fundamentalistas, essa pressuposição inclusivas das experiências humanas, tem his-
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tória. Fazer chegar aos alunos alguns resul- experiência humana. Por exemplo, a análi-
tados desses estudos e contrastá-los com as se interdisciplinar de fósseis, pinturas rupes-
interpretações mais tradicionais – presentes, tres, artefatos e diferentes vestígios materiais,
inclusive, no conhecimento que, de antemão, considerando sua proveniência, datação, con-
dispõem a respeito do tema – consiste em uma texto material em que foram encontrados
etapa importante de sua formação. etc., desempenhou um papel significativo na
renovação dos estudos pré-históricos. E é jus-
A convicção de que a história tem início tamente essa abordagem multidisciplinar que
com a “invenção” da escrita e de que a Pré- pode exercer importante papel no despertar
história corresponderia ao período que a ela da curiosidade e do gosto pelo tema por parte
antecede está baseada na ideia de que só são dos alunos.
documentos históricos os escritos, entendidos
como marcos que assinalariam a passagem do Além disso, você pode desenvolver conteú-
estágio de barbárie para as sociedades civili- dos a partir das experiências dos alunos, pois
zadas. Em outras palavras, isso significa que a a Pré-história não precisa ser vista somente
humanidade teria evoluído em estados suces- pelo viés das grandes distâncias geocronoló-
sórios, de sociedades mais simples (sem escrita) gicas. As relações entre os seres humanos e a
para sociedades mais complexas (com escrita), natureza, suas formas de comunicação e so-
e são essas as referências que ainda aparecem ciabilidade, suas manifestações artísticas etc.
em diferentes produções didáticas. podem ser pensadas em uma perspectiva his-
tórica de diferentes visões espaciais e tempo-
Como aplicar, no ambiente escolar, os rais (antigas e contemporâneas), sem que com
avanços historiográficos a respeito dos estu- isso se estabeleça a criticada dicotomia entre
dos sobre a Pré-história? Inicialmente, você “civilizados” e “não-civilizados”. A Pré-histó-
não deve ignorar as abordagens tradicionais, ria brasileira, por exemplo, por muito tempo
pois é com esse conhecimento que muitos dos negligenciada nas produções didáticas, pode
alunos ingressam na 1a série do Ensino Médio, ser um instrumento útil para uma aproxima-
abraçando convicções que ligam a Pré-histó- ção mais imediata da realidade dos alunos.
ria ao atraso tecnológico e à inexistência de
sistemas de organização social, contraposta às Os frequentes avanços e descobertas a res-
sociedades entendidas como mais desenvolvi- peito da Pré-história, que acabam indo parar
das. É fundamental lembrar, aqui, que ideias nos veículos de comunicação, como notícias
como essas sustentaram, no século XIX, os de novos fósseis e vestígios humanos, novas
discursos império-colonialistas de diferentes datações sobre a origem da vida, povoamento
países, como Inglaterra e França, por exem- do globo etc. podem ser aproveitados como
plo: a ideia de grupamentos humanos supe- pressupostos a partir dos quais é possível de-
riores e inferiores, civilizados e não-civilizados senvolver a temática em sala de aula. Convém
esteve na base das missões imperiais civiliza- proceder da mesma maneira com filmes, de-
doras e conferiu aos “colonizadores” o direito senhos, jogos etc., criando espaços de crítica
de “levar a paz”, “estabelecer a ordem” e fa- e reflexão a respeito dos diversos enunciados
zer imperar aos “colonizados” os ditames do que apresentam.
“progresso”.
Nas Situações de Aprendizagem sugeridas
A crítica a esse modelo de análise abriu a seguir, são mostradas algumas possibilida-
caminho para abordagens mais plurais da des para desenvolvimento do tema.
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História – 1a série, 1o bimestre
SitUAçÕES dE APrEndizAGEM
SITuAçãO DE APRENDIzAGEM 1
PROBLEMATIzANDO A PRÉ-HISTóRIA
Esta Situação de Aprendizagem tem por líticas sobre a origem da vida e o povoamento
objetivos questionar a visão de Pré-história da Terra. As atividades previstas pressupõem
como período da barbárie humana – rompido indicação de pesquisa aos alunos e poderão
com o advento da escrita –, caracterizar os pe- ser desenvolvidas, dialogicamente, por meio
ríodos pré-históricos e discutir vertentes ana- da problematização dos temas.
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podem se reunir e levar resultados de suas pes- mens/dinossauros) atende a um grande interesse
quisas individuais para ser discutidos em grupo fictício, fantástico, e que não apresenta nenhum
e, a partir daí, produzirem um texto comum, a respaldo científico; veja-se, por exemplo, o filme
ser transcrito no Caderno do Aluno na parte Jurassic Park (direção de Steven Spielberg, 1993).
destinada para esse fim. Seria interessante que Assim, pelo viés da multiplicidade das experiên-
você solicitasse aos alunos que ilustrassem sua cias e de análises respaldadas pela diversidade ge-
pesquisa desenhando ou fixando, no Caderno ocronológica dos vestígios pré-históricos, pode-se
do Aluno, um mapa que auxilie na compreen- chegar à crítica da unidade e homogeneidade do
são da(s) hipótese(s) estudada(s). A divisão tema estudado. A escrita como marco delimita-
dos temas de pesquisa em grupos é um meio dor entre a Pré-história e a História e os distintos
de diversificar as contribuições para as aulas períodos pré-históricos podem ser explorados a
que seguirão e promover uma maior interação, partir desse momento.
pelo debate, entre os alunos, mas que também,
pode resultar na percepção da multiplicidade 2a aula
geocronológica das experiências humanas nos
períodos estudados. Você pode solicitar aos Inicialmente, pergunte aos alunos acerca de
participantes do grupo que fará pesquisas sobre possíveis conhecimentos prévios a respeito do
o povoamento da América que se incumbam, conceito de Pré-história, e se esses conhecimen-
especificamente, da Pré-história brasileira. tos mudaram após a investigação realizada.
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História – 1a série, 1o bimestre
Os seguintes exemplos podem ser reproduzidos – sem constrangimentos, você pode convidá-los
na lousa e explorados, dialogicamente, com os a falar a respeito de suas dúvidas e/ou descober-
alunos: ágrafos × letrados; bárbaros × civiliza- tas em relação ao tema pesquisado.
dos e atrasados × desenvolvidos. Na sequência,
solicite-lhes que respondam à segunda questão É desejável que você interaja com os alu-
do Caderno do Aluno, em cujas respostas po- nos ao longo das exposições, de forma a
derão expressar o conteúdo desenvolvido. instigá-los a refletir em torno dos resultados
apresentados, acrescentando informações e
Faça considerações gerais a respeito dos apresentando visões problematizadas do con-
principais aspectos desenvolvidos ao longo da teúdo tratado, por meio de explanações e sín-
aula e dê aos alunos espaço para que façam teses temáticas (na lousa).
perguntas e/ou observações a respeito do con-
teúdo ministrado. Propicie a compreensão de que as expe-
riências de vida na Pré-história variam muito
Para a próxima aula, solicite aos alunos em relação a tempos e espaços.
que tragam apontamentos da pesquisa refe-
rentes aos períodos da Pré-história e à origem Mediante caracterizações, os períodos pré-
da vida (atividade individual). históricos – referenciais para o conhecimento
do tema – podem ser mais bem explorados nes-
3a e 4a aulas se momento da aula (sugere-se a transcrição,
na lousa, de um quadro simples a esse respeito,
Solicite aos alunos que apresentem, verbal- que contemple os principais períodos – confor-
mente, resultados das pesquisas individuais me segue). As informações midiáticas, que vei-
realizadas sobre os períodos pré-históricos e a culam a convivência de homens, dinossauros e
origem da vida humana na Pré-história. A par- outros animais pré-históricos similares, pode-
ticipação espontânea nem sempre é manifestada rão, também, ser exploradas nesse contexto.
Peça aos alunos que apresentem os qua- sadas. É importante distinguir representações
dros, figuras e gravuras que representem os feitas nos períodos pré-históricos (pinturas
modos de vida na Pré-história (aqueles pes- rupestres, por exemplo) daquelas feitas em
quisados e desenhados ou afixados no Ca- contextos contemporâneos.
derno do Aluno) e proponha uma análise que
envolva a participação de todos solicitando Para a aula seguinte, lembre-se da continui-
que mostrem aos colegas as imagens pesqui- dade do tema, que se dará com a apresentação
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de algumas das principais teorias sobre o po- Com o suporte do grupo que pesquisou so-
voamento da Terra (pode-se pedir ao grupo bre o continente americano, o povoamento do
que pesquisou sobre o continente americano Brasil poderá ser analisado com mais especifi-
que faça, também, uma exposição específica cidade (esse tema será retomado na Situação
sobre a Pré-história brasileira). de Aprendizagem 3).
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História – 1a série, 1o bimestre
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c) Era primária, secundária, terciária e Europa, contestando a certeza que se insta-
quaternária. lara entre os sábios europeus. De repente, os
ocidentais ‘civilizados’ passaram a se pergun-
d) Paleolítico, Idade dos Metais e Neolíti- tar a respeito dos ‘primitivos’. Seriam eles tão
co. ‘primitivos assim’?” (PINSKY, Jaime. As pri-
meiras civilizações. 23. ed. São Paulo: Con-
Espera-se que o aluno reconheça a sequên- texto, março de 2006. p. 34. <http://www.
cia apresentada de períodos que caracteri- editoracontexto.com.br>). Considerando o
zam a Pré-história. texto, é correto afirmar que:
4. Quanto aos opostos binários, ágrafos e le- a) o século XX reconheceu que a África é
trados, bárbaros e civilizados, e atrasados e mais civilizada que a Europa.
desenvolvidos, é correto afirmar:
b) escavações arqueológicas revelaram que
a) São adjetivos que representam quais o homem surgiu na Ásia.
foram os habitantes da Pré-história e
como são, hoje, os habitantes do mundo c) com os estudos recentes, os europeus
moderno. descobriram que os africanos “não são
tão primitivos assim”.
b) Dizem respeito ao fato de que, na Pré-his-
tória, havia pessoas que não escreviam e d) os estudos que apontam para o surgi-
outras que escreviam, algumas que eram mento dos hominídeos na África têm
bárbaras e outras civilizadas, além daque- contribuído para uma reavaliação da
las que eram atrasadas em relação a ou- dicotomia “primitivos”/“civilizados”.
tras que eram desenvolvidas.
Estudos atuais colocam em dúvida velhos
c) São criações dicotômicas desenvolvidas, conceitos que postulavam a dicotomia, su-
principalmente, a partir do século XIX, postamente existente, entre primitivos e
e que expressam o pensamento científi- civilizados, sugerindo uma mudança de in-
co na Europa nesse período. terpretação, aceita durante muito tempo, a
respeito da origem do homem.
d) Esses termos são designados para fazer
referência a agrupamentos humanos do
Paleolítico e do Neolítico. Proposta de Situação de
recuperação
A visão eurocêntrica de superioridade está
presente no século XIX, inclusive no pensa- Proponha aos alunos a elaboração de um
mento científico. trabalho escrito com as seguintes caracterís-
ticas:
5. “O nosso século, ao questionar um pouco
mais a sabedoria do homem contemporâneo, 1. Peça que retomem as anotações realizadas
passou a se situar mais humildemente diante no decorrer das aulas e, em seguida, elabo-
de nossos ancestrais. Escavações sistemáticas rem respostas aos seguintes problemas: A
e cuidadosas revelaram, inicialmente, que o História começa com o surgimento da es-
hominídeo originava-se da África e não da crita? Pode-se afirmar que o homem surgiu
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SITuAçãO DE APRENDIzAGEM 2
AS FONTES DO CONHECIMENTO SOBRE A PRÉ-HISTóRIA
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História – 1a série, 1o bimestre
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Propostas de questões para avaliação no período ao qual foi identificada), do nú-
mero de cores e dos materiais utilizados, das
1. “A Arqueologia é um campo do conhe- representações (de cenas de culto religioso, de
cimento que cada vez mais caminha ao caça, de relações sexuais etc.) são alguns dos
encontro de projeto interdisciplinar, espe- diferentes aspectos passíveis de estudo. Como
cialmente no que se relaciona à realidade todo objeto, a análise de uma pintura pode
escolar. um projeto interdisciplinar é uma envolver várias áreas do conhecimento, como,
tentativa de romper com contextos fragmen- nesse caso específico, a Geografia (locali-
tários e as várias maneiras de ver o mundo zação), a Química (datação, composição),
e conceber o conhecimento” (MACHADO, a Arte (estilo, forma etc.), a Antropologia
Neli T. Arqueólogo por um dia: um projeto (sistemas pictóricos simbólicos), a Arqueo-
para aluno do Ensino Fundamental e Mé- logia (contexto arqueológico da pintura), a
dio. p. 695. In: Anais do IV Encontro Nacio- História (interpretação do documento) etc.,
nal de Pesquisadores do Ensino de História. todas elas auxiliando na compreensão mais
Ijuí, 1999, p. 695-701. Apud BESEGATTO, elaborada da referida pintura, compreensão
Mauri Luiz. O patrimônio em sala de aula. essa que dificilmente poderia ser alcançada
Fragmentos de ações educativas. Porto Ale- por qualquer uma dessas disciplinas isolada-
gre: Avangraf, 2004. p. 32). mente.
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História – 1a série, 1o bimestre
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SITuAçãO DE APRENDIzAGEM 3
A PRÉ-HISTóRIA SuL-AMERICANA, BRASILEIRA E REGIONAL
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História – 1a série, 1o bimestre
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Mapa das hipóteses relativas ao povoamento da América
Peça aos alunos que listem, no Caderno Verifique aspectos da Pré-história regional
do Aluno, características da cultura indí- (sendo possível, organize visita a um museu
gena na Pré-história e no mundo contempo- ou sítio arqueológico) e desenvolva-os nesse
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História – 1a série, 1o bimestre
2. “Há 500 anos, quando navegantes europeus a) havia uma cultura indígena muito ho-
chegaram às costas do território que mais mogênea em todo território.
tarde receberia o nome de Brasil, encon-
traram-se diante de populações indígenas b) encontraram uma única etnia indígena,
que ali viviam pelo menos há 500 séculos. na região costeira, que posteriormente
Milênios de adaptação tinham permitido difundiu-se para todo o território.
25
c) encontraram diferentes populações indí- Propostas de Situações de
genas de culturas muito diversificadas. recuperação
d) os indígenas aqui encontrados eram Proposta 1
culturalmente inferiores aos europeus.
Sugira uma pesquisa sobre a Pré-história re-
Espera-se que o aluno seja capaz de reco- gional. No caso da existência de museus em sua
nhecer a existência da diversidade cultural cidade, pode-se solicitar aos alunos que bus-
das populações indígenas que viviam em quem neles referenciais para sua pesquisa, es-
território próximo quando da chegada dos colhendo, por exemplo, um objeto ou conjunto
colonizadores. de objetos acerca dos quais poderão responder
às seguintes perguntas: onde foram localizados?
4. Sobre vestígios arqueológicos, deixados A quem são atribuídos? A que serviam? Como
por indígenas antes e depois da chegada integraram o acervo do museu? Etc.
dos europeus, pode-se afirmar que:
Proposta 2
a) tanto os que antecederam quanto
aqueles que sucederam à chegada cons- Solicite o desenvolvimento, por escrito, de
tituem parte do patrimônio cultural uma análise sobre a relação entre as culturas
brasileiro. indígenas e o patrimônio cultural brasileiro.
Pode-se pedir, nesse texto, que se considere o
b) não constituem o patrimônio brasileiro, papel da Arqueologia na relação. Neste exer-
pois não são edificados. cício podem ser contempladas as seguintes
questões: por que a cultura indígena integra o
c) só constituem parte do patrimônio bra- patrimônio cultural brasileiro? Como a Arqueo-
sileiro aqueles que se referem ao perío- logia pode auxiliar no conhecimento dos povos
do posterior ao contato entre os índios indígenas do passado?
e os europeus.
recursos para ampliar a perspectiva
d) só constituem parte do patrimônio bra- do professor e do aluno para a
sileiro aqueles que se referem ao perío- compreensão do tema
do anterior ao contato entre os índios e
os europeus. livros
É importante que os alunos reconheçam que PINSKY, Jaime. As primeiras civilizações. 23.
as culturas indígenas denominadas de pré-ca- ed. São Paulo: Contexto, 2006. <http://www.
bralinas e aquelas posteriores a este período, editoracontexto.com.br>. Livros paradidáti-
integram a nossa cultura e caracterizam-se cos como este poderão ser ferramentas úteis
como patrimônio histórico brasileiro. para trabalho junto aos alunos.
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História – 1a série, 1o bimestre
GARELLI, Paul; NIKIPROWETzKY, Va- das origens às invasões dos povos do mar. São
lentim. O Oriente próximo asiático: impérios Paulo: Pioneira, 1982.
mesopotâmicos – Israel. Tradução Emanuel
O. Araújo. São Paulo: Pioneira, 1982. Os textos de Garelli são acadêmicos e mais den-
sos, apresentando importantes instrumentos de
GARELLI, Paul. Oriente próximo asiático: pesquisa e conhecimentos a respeito do tema.
SITuAçãO DE APRENDIzAGEM 4
O ORIENTE PRóXIMO E O SuRGIMENTO
DAS PRIMEIRAS CIDADES
A frequente ausência, nos livros didáticos, intelecção de ambos os conteúdos por parte
de conteúdos que liguem/associem a transi- dos alunos. Com o objetivo de auxiliar na su-
ção da Pré-história para os primeiros núcleos pressão desse hiato, propomos a atividade que
urbanos/cidades é um fator de dificuldade da segue.
Competências e habilidades: reconhecer a diversidade dos processos históricos e das experiências hu-
manas.
27
(1990, p. 9). Cronologicamente, entende-se que cedentes e o comércio (para povos como os
tenha iniciado com o surgimento dos primeiros fenícios, por exemplo).
documentos escritos e se estendido até as cam-
panhas de Alexandre no Oriente, compreen- Em uma perspectiva generalizante, pode-se
dendo um período aproximado entre 3000 a.C. afirmar que essas características, alinhadas a
e 334 a.C. Já em relação a seus limites geográfi- emergentes Estados teocráticos centralizados
cos, o Oriente Próximo antigo abrangia o equi- e sociedades de servidão coletiva, definiram
valente a nove países atuais da África (o Egito) o modo de organização social das denomina-
e sobretudo da Ásia: Turquia, Síria, Líbano, das civilizações do Crescente Fértil.
Israel, Jordânia, Iraque, Irã e Afeganistão. (A
esse respeito ver: CARDOSO, 1990, p. 9.) O que propomos com o conjunto de ati-
vidades abaixo não consiste em um modelo
um arco geocronológico de tamanha en- fechado para tratamento de um tema tão
vergadura implica, necessariamente, a esco- amplo e tão complexo, mas sim a problema-
lha de alguns pontos e aspectos em relação tização de aspectos comumente entendidos
ao conteúdo temático tratado e, também, em como característicos das sociedades anali-
relação à sua abordagem. sadas, priorizando, sobretudo, a multiplici-
dade das experiências em lugar de promover
um aspecto importante a ser observado, generalizações, quase sempre, precipitadas.
com frequência não desenvolvido nas pro-
postas curriculares, está no negligenciar de Sondagem e sensibilização
análises que contemplem, ainda que minima-
mente, a transição da vida do Neolítico supe- As experiências da trajetória humana no
rior para aquela das primeiras comunidades mundo não deram saltos, devendo ser enten-
e agrupamentos humanos, localizados por didas como frutos de processos históricos de
estudos históricos e arqueológicos na região acumulação de vivências ao longo do tempo.
mesopotâmica.
Apresente aos alunos a atividade, chaman-
A passagem da unidade temática anterior do a atenção para o fato de que não se pode-
(no que concerne à Pré-história europeia) ria ter passado, de modo abrupto, das aldeias
para aquela das chamadas “primeiras civili- de agricultores, caçadores e coletores para ci-
zações” quase nunca é desenvolvida, levan- dades populosas e urbanizadas, dizendo-lhes
do à percepção equivocada de uma mudança que essa transição só é compreensível em uma
imediata, rápida ou geral. perspectiva processual que considere, sobre-
tudo, os enfrentamentos da humanidade para
É necessário, portanto, contextualizar controlar a natureza.
essa transição, marcada por um conjunto
de importantes mudanças de caráter socioe- uma forma de introduzir a temática pode
conômico, que possibilitaram o surgimento ser encontrada numa comparação entre mo-
dos primeiros núcleos urbanos e das cidades, delos organizacionais de cidades antigas e de
que são representativas, sobretudo, da fixa- cidades modernas. A apresentação e discussão
ção humana. Dentre essas mudanças pode-se de algumas questões irão auxiliá-lo nisso. No
citar: o desenvolvimento coletivo de técnicas passado e no presente: qual a relação dos ho-
agropastoris e de grandes sistemas de irriga- mens com a natureza nas cidades? O que se pode
ção – controle da água –, a produção para dizer de sua organização social? O público e o
consumo próprio das comunidades e de ex- privado têm a mesma significação? Com essas e
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História – 1a série, 1o bimestre
outras questões você poderá construir noções plurais, aos quais não se aplicariam à análise
conceituais a partir das falas dos alunos e es- termos como “melhor” ou “pior”. O resultado
tabelecer paralelos e comparações que os le- dessas interações poderá ser transcrito no Ca-
vem a pensar diferentes concepções de cidade derno do Aluno.
ao longo da História. É de se esperar que as
respostas a essas questões contemplem dimen- Aula
sões comparativas; contudo, é desejável que se
evite hierarquizações não problematizadas en- A compreensão do conteúdo proposto
tre modelos antigos e modernos. Por exemplo: nesta Situação de Aprendizagem requer que
na Antiguidade e hoje os homens tiram sua os alunos estabeleçam associações e relações
subsistência da natureza, que naquela época entre os distintos períodos envolvidos. Solicite
era respeitada e hoje não. É importante pro- aos alunos que tragam para esta aula a respos-
piciar aos alunos uma reflexão da história das ta, à lápis, da questão: onde e como surgiram as
cidades como processos históricos distintos e primeiras cidades?
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29
Solicite aos alunos que apresentem, verbal- compreensão desse fenômeno como um
mente, as respostas dadas à questão proposta processo de longa duração.
e arrole, no quadro, as principais respostas
oferecidas. (Essas anotações serão retomadas 2. Os agrupamentos humanos puderam se fi-
ao longo da aula.) xar e desenvolver núcleos urbanos e cidades,
sobretudo, por conta do desenvolvimento
Provavelmente, as respostas obtidas con- da agricultura de subsistência, o que só foi
templarão duas expressões: Oriente Próximo possível pelo controle da água, por meio das
e Crescente Fértil. Com base nas informações grandes irrigações. Nessa oportunidade, os
anteriores e de posse de um mapa-múndi, você alunos poderão corrigir ou adequar as res-
poderá fazer comentários a respeito da pri- postas ofertadas à questão inicial, feita em
meira, insistindo, sobretudo, na delimitação casa, e, para isso, você poderá recorrer às
do tema, no que diz respeito aos povos da An- anotações feitas no quadro. Ofereça aos alu-
tiguidade – egípcios, mesopotâmicos, hebreus, nos uma caracterização dessas sociedades,
fenícios e persas, principalmente. um paralelo que pode contemplar os seguintes aspectos:
entre os países aos quais correspondem essas
áreas na atualidade e os povos que ocuparam f surgimento no Oriente Próximo (particu-
esses espaços na Antiguidade pode ser feito larmente na região do Crescente Fértil).
na lousa: Egito: Egito; Mesopotâmia: Iraque; f desenvolvimento, principalmente, em
Palestina (hebreus): Israel, Cisjordânia e Fai- virtude das condições geográficas e cli-
xa de Gaza; Pérsia: Irã. máticas. Exemplos: Síria e Palestina –
onde a terra fértil e as chuvas de inver-
Em relação à expressão Crescente Fértil, no favoreciam o plantio; sul do Egito e
solicite aos alunos que observem no mapa do da Mesopotâmia – com poucas chuvas,
Caderno do Aluno, inicialmente, o porquê da mas muita fertilidade da terra após as
denominação. (Chame a atenção para o for- enchentes do Nilo, do Tigre e do Eufra-
mato de lua crescente que se pode observar, tes (controláveis com a construção de di-
para o Mediterrâneo e para os rios da região.) ques e reservatórios). “No caso da Me-
sopotâmia, por causa da irregularidade
Feitas essas delimitações, você pode apon- do degelo nas vertentes, as cheias eram
tar duas características em relação ao tema: surpreendentes e destruidoras. A extre-
ma fertilidade das terras às suas margens
1. O surgimento das cidades só foi possível (pelo menos ao sul de Bagdá) requeria
com a fixação humana. É essa a oportu- uma defesa contra a imprevisibilidade
nidade de revisar, brevemente, o conteúdo dos rios, o que era obtido através da
tratado sobre o sedentarismo no Neolíti- construção de valas que conduziam as
co e estabelecer sua ligação com o domí- águas para onde fosse necessário, graças
nio de técnicas agropastoris, reiterando a à topografia plana e aos canais e braços
não-necessidade do nomadismo por con- naturais”. (PINSKY, Jaime. As primeiras
tingências impostas pela necessidade de civilizações. São Paulo: Contexto, 23a edi-
sobrevivência, como ocorria no Paleolí- ção, março de 2006. p. 60 <http://www.
tico. É necessário que se estabeleça uma editoracontexto.com.br>).
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História – 1a série, 1o bimestre
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cidades da Baixa Mesopotâmia, com base Proposta de Situação de
nesse excerto pode-se deduzir que: recuperação
a) as cheias traziam períodos de dificul- Solicite aos alunos que realizem um traba-
dades consideráveis para os ambientes lho que contemple os seguintes aspectos:
urbanos, mas que eram atenuadas no
período de estiagem. 1. Caracterização dos conceitos de Oriente
Próximo e Crescente Fértil.
b) nos períodos de cheia, a agricultura de
chuva não era praticável na região, cujo 2. Localização geográfica de ambos os terri-
povoamento dependia dos rios. tórios por meio da reprodução de mapas.
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História – 1a série, 1o bimestre
SITuAçãO DE APRENDIzAGEM 5
EGITO E MESOPOTÂMIA
A prática corrente nos livros didáticos de referia-se ao regime de cheias do rio que dei-
apresentar os estudos sobre Egito e Mesopo- xavam, após sua passagem, os solos irrigados
tâmia conjuntamente demonstra a preocupa- e férteis para a agricultura, acrescentando que
ção em aproximar características similares de “Em todo mundo, ninguém obtém os frutos
experiências de povos de ambas as civiliza- da terra com tão pouco trabalho. Não se can-
ções. Neste Caderno, procedemos de modo se- sam a sulcar a terra com o arado ou a enxada,
melhante, mas procuramos oferecer, também, nem têm nenhum dos trabalhos que todos os
a compreensão de algumas variantes, diversi- outros homens têm para garantir as colheitas.
dades no espaço e no tempo, que tangenciam O rio sobe, irriga os campos e, depois de os
esse paralelo. ter irrigado, torna a baixar. Então, cada um
semeia o seu campo e nele introduz os porcos
Às sociedades egípcia e mesopotâmica para que as sementes penetrem na terra; de-
atribui-se a criação do Estado e a vivência de pois, só tem de aguardar o período da colheita.
experiências semelhantes em suas formas de or- Os porcos também lhes servem para debulhar
ganização social, nas quais política, religião o trigo, que é depois transportado para o ce-
e economia podiam ser entendidas como in- leiro”. (CAMINOS, Ricardo A. O camponês.
dissociáveis. O grande número de variações In: DONADONI, Sérgio. O homem egípcio.
– impostas por determinantes de ordem geocro- Tradução Maria Jorge Vilar de Figueiredo.
nológica – não inviabiliza, contudo, essa apro- Lisboa: Editorial Presença, 1994. p. 17-18.)
ximação. Variações étnicas, desenvolvimento
e organização socioeconômicos diferenciados, Para Caminos (1994, p. 18), essa visão de
em distintas regiões etc. não suprimem a inser- Heródoto se explica pelo fato de seu autor ser
ção dessas sociedades em um modelo maior de originário de regiões nas quais “era necessário
organização social. Dessa forma, práticas agrí- trabalhar muito para conseguir uma magra
colas, hidráulicas, governamentais, de gestão colheita de um solo hostil rochoso”. A frase
do trabalho e o desenvolvimento de sistemas de de Heródoto e o excerto citado negligenciam
escrita caracterizam os povos do Oriente Próxi- o fato de que as cheias e a descida das águas
mo, sobretudo egípcios e mesopotâmicos. implicavam construção, desobstrução e mui-
tas vezes reconstrução de diques, regos, canais
No que se refere ao Egito, em seus pri- de irrigação e drenagem, sempre suscetíveis ao
mórdios, a imagem inicial que se tem associa- volume das cheias. Tanto para esses trabalhos
da é aquela que se refere a sua organização como para aqueles do preparo da terra e do
econômica agrícola. Os livros didáticos re- cultivo eram necessários inúmeros trabalha-
produziram à exaustão um bordão que, de dores – que nem sempre aparecem nas abor-
tão repetido ao longo da História, tornou-se dagens didáticas sobre o Egito, muitas vezes
clássico, segundo o qual o Egito seria uma preocupadas em mostrar a beleza de suas pi-
“dádiva do Nilo”. Com essa frase, Heródoto râmides e obras faraônicas, sem explicitar os
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meios pelos quais foi possível sua construção. do literal de seu nome: “entre rios” (Tigre e
Ao trabalhar os conhecimentos de que dis- Eufrates). Contrariamente ao lugar que ocu-
põem os alunos, a problematização desse as- param e ocupam no pensamento ocidental as
pecto é de substantiva importância. civilizações clássicas, a Mesopotâmia, menos
que o Egito, não logrou ter o mesmo reconhe-
uma outra importante representação à cimento – e isso se deve, sobretudo, ao desejo
qual, comumente, é associado o conhecimento de países europeus do século XIX de buscarem
acerca do Egito antigo, é o sistema de hierógli- suas origens nas civilizações grega e romana.
fos. Desde os primeiros estudos a seu respeito, Parte do Crescente Fértil, a Mesopotâmia ex-
no século XIX, os conhecimentos acerca do perimentou condições similares de desenvolvi-
Egito mudaram muito. Pela decifração de sua mento em relação ao Egito, principalmente no
escrita, todo um sistema de linguagem, estru- que se refere ao controle do curso das águas
tura e organização social abriu-se a novas for- por meio de canais e diques e seus benefícios
mas de compreensão. em relação à agricultura, desenvolvida em
regiões planas. Na sua região, dezenas de ci-
Rio Nilo, pirâmides, esfinges, grandes dades se desenvolveram, acompanhadas de
construções e escrita hieroglífica podem ser inúmeras trocas comerciais, possibilitadas pelo
entendidos como referências basilares dos co- cultivo da agricultura além das necessidades
nhecimentos de que dispõem nossos alunos de subsistência. Lembrada como referência de
(advindos dos mais diferentes suportes), e é Estado centralizado e controlador de grandes
a partir deles que propomos a sequência de extensões de terra, foi a partir de meados do
aulas concernentes ao primeiro módulo desta século XIX que escavações revelaram a rique-
Situação de Aprendizagem. za da civilização mesopotâmica. Plaquetas
cuneiformes traduzidas, ruínas e artefatos es-
À Mesopotâmia creditamos, historicamen- cavados revelaram a enormidade das contri-
te, o surgimento do urbanismo e da escrita. buições mesopotâmicas para a História, como
O conhecimento difundido a seu respeito, se verá em algumas das atividades aqui suge-
frequentemente, não ultrapassa o significa- ridas.
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História – 1a série, 1o bimestre
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– a servidão esteve na base dos empreen- É possível tratar da justificativa religiosa do
dimentos hidráulicos, agrícolas e demais poder político de faraós e sacerdotes. O trecho
fatores ligados à urbanização; seguinte – disponível no Caderno do Aluno –
– política, religião e economia são, a prio- pela sua representatividade, pode ser lido pe-
ri, instâncias não dissociadas; los alunos e trabalhado em sala por você:
“Sou vosso filho que vossos dois braços produziram. Fizeste-me soberano Vida, Saúde Força de toda a
terra. Fizeste para mim a perfeição sobre a terra. Cumpro minha função em paz. Não deixo repousar meu
coração, buscando o que é útil e eficaz para vossos santuários. Por meio de grandes decretos estabelecidos
em cada seção de escritura, doto-os de homens, terrenos, reses, barcos. Suas barcaças estão no Nilo. Restituí
a prosperidade a vossos santuários, que estavam anteriormente em decadência. Instituí para vós oferendas
divinas, além das que existiam diante de vós. Trabalhei para vós em vossas casas de ouro, com ouro, prata,
lápis-lazúli, turquesa. Controlei vossos tesouros. Completei-os com coisas numerosas. Enchi vossos celeiros
com grandes quantidades de cevada e de espelta. Construí para vós castelos, santuários, cidades. Vossos no-
mes lá estão gravados para a eternidade. Guarneci vossas equipes, completando-as com um grande número
de homens. Não levei dos santuários dos deuses os homens nem os chefes de distrito, desde que existem
reis para construí-los, a fim de inscrevê-los no exército e nas equipagens. Fiz decretos para estabelecê-los
na terra para o uso dos reis que virão depois de mim na terra. Consagrei-vos oferendas de todas as boas
coisas. Fiz para vós armazéns de festas cheios de alimentos. Fiz vasos esmaltados em ouro, prata e cobres
aos milhões. Construí vossas barcas, que estão no rio com sua grande morada revestidas de ouro.”
Papiro Harris, I, 57, 3. MONTET, Pierre. O Egito no tempo de Ramsés (1300 a.C. a 1100 a.C.). São Paulo: Companhia das
Letras, 1989.
f Cronologia: solicite aos alunos que expo- f Práticas culturais: aqui você pode trabalhar
nham as principais características dos pe- com alguns aspectos de caráter geral como
ríodos que pesquisaram (Antigo Império, a análise das culturas escrita e não-escrita
Médio Império e Novo Império) e proble- (trate, sobretudo, das formas de diferencia-
matize os conteúdos apresentados. ção social que seu domínio estabelecia) e
f Diversidade das fontes de conhecimento a conhecimentos artísticos e literários.
respeito do Egito antigo: escritas, imagé-
ticas, estatuárias, arquitetônicas etc. Você Conclua a aula apresentando a ligação en-
pode mostrar fontes em diferentes suportes tre as principais temáticas tratadas.
e indagar aos alunos que tipo de conheci-
mento a respeito dos egípcios elas podem Sondagem e sensibilização –
oferecer. Mesopotâmia
f Pensamento religioso: neste tópico, você
pode desenvolver alguns aspectos como o Tratar do desenvolvimento das cidades
papel dos faraós como intermediários entre e da escrita, da Matemática, do Direito e da
homens e deuses e sua representação como Astrologia (práticas e conhecimentos tam-
garantia de equilíbrio e prosperidade no bém desenvolvidos, mais cedo ou mais tarde,
mundo; mumificação e crença na imortali- entre outros povos) pode se constituir em al-
dade; túmulos e templos; mitologias etc. guns aspectos interessantes de sensibilização/
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História – 1a série, 1o bimestre
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2. a servidão esteve na base dos empreen- daí ser previsível que os alunos apresentem
dimentos hidráulicos, agrícolas e demais mais informes a respeito de uma civilização
fatores ligados à urbanização; que de outra, ou somente informações a res-
3. política, religião e economia são, a prio- peito do Egito. Esse déficit de informação pode
ri, instâncias não dissociadas (trate da ser superado, principalmente, pelo fato de se
justificação religiosa do poder político ter abordado primeiro o Egito, o que lhe per-
de reis e sacerdotes). mitirá, para o estabelecimento de diferenças e
f Pensamento religioso: o papel dos reis semelhanças, a apresentação de alguns aspec-
como intermediários entre homens e deu- tos referenciais: empreendimentos hidráulicos,
ses e sua representação, como garantia de vida urbana, servidão, relação entre política e
equilíbrio e prosperidade no mundo; tem- religião etc.
plos (zigurates) e palácios.
f Práticas culturais (vide mesmo tópico das Propostas de questões para avaliação
aulas sobre Egito).
1. Em relação aos egípcios e mesopotâmicos,
Conclua a aula apresentando a ligação é comum afirmar que não dissociavam po-
entre as principais temáticas tratadas. Para a lítica, economia e religião. Por quê?
próxima aula, solicite aos alunos que elaborem
um quadro comparativo entre as civilizações Espera-se que os alunos possam reconhe-
egípcia e mesopotâmica, o que poderá ser feito cer a relação de interdependência entre es-
no Caderno do Aluno. Peça que considerem as sas três esferas nas sociedades analisadas,
semelhanças e diferenças de cada uma das ca- considerando que faraós ou reis, entendidos
racterísticas definidoras (economia, sociedade, como deuses ou seus representantes na Ter-
religião e forma de governo). ra, simbolizavam a prosperidade do povo.
Templos e palácios eram parte integrante da
6a aula estrutura e da vida econômica das cidades.
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História – 1a série, 1o bimestre
1. Qual a relação entre os rios Nilo, Tigre e FuNARI, Raquel dos Santos. Imagens do Egi-
Eufrates e o desenvolvimento do Egito e da to Antigo. São Paulo: Annablume, 2006. Este
Mesopotâmia? livro estuda representações e reconstruções do
Egito Antigo em contextos contemporâneos,
2. Faça uma pesquisa comparativa acerca da sobretudo, no Brasil. Trata, mais particular-
ideia de organização do Estado entre os mente, de sua percepção por crianças brasilei-
egípcios e os mesopotâmicos que contem- ras do Ensino fundamental.
ple considerações em relação aos seguintes
aspectos: empreendimentos hidráulicos, vida FuNARI, Raquel dos Santos. O Egito dos
urbana, servidão, relação entre política e Faraós e Sacerdotes. São Paulo: Atual, 2007.
religião. Este livro trata da vida política, econômica
e religiosa dos egípcios antigos, abordando
temas ligados ao poder dos faraós mas, tam-
recursos para ampliar a perspectiva bém, à vida e à cultura cotidiana de campone-
do professor e do aluno para ses, coletores de impostos etc.
compreensão do tema
REDE, Marcelo. A Mesopotâmia. São Paulo:
Site Saraiva, 1997. Escrito para um público jovem
e não especializado no tema, esse livro aborda,
Grupo de Trabalho em História Antiga pelo viés de análises histórico-arqueológicas,
(Gtha) da Associação Nacional de História aspectos políticos, sociais e econômicos da an-
(Anpuh). Disponível em: <http://www.ufrgs. tiga Mesopotâmia.
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SITuAçãO DE APRENDIzAGEM 6
HEBREuS, FENÍCIOS E PERSAS
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História – 1a série, 1o bimestre
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Então os fenícios vieram até Argos e lá des- Com essa frase se estabelece entre Iahweh
carregaram suas mercadorias.” e Abraão uma aliança. Por essa aliança,
Iahweh protegeria todos os hebreus (dos
Heródoto, I, 1. In: Heródotos. História. Tradução do quais os judeus descenderiam). Após a
grego, introdução e notas de Mário da Gama Kury. destruição de Israel pelos assírios (722
Brasília: Editora da universidade de Brasília, 1985. p. 19. a.C.), os judeus foram deportados. Já os
judeus do reino de Judá foram escravi-
zados na Babilônia (586 a.C.). No exílio,
Apresente, um a um, os documentos e inda- fatores como o ato da circuncisão eram
gue aos grupos os conhecimentos que pesquisa- entendidos como próprios da cultura ju-
ram em relação a cada povo; problematize-os. daica. No mundo antigo, assim como hoje,
Anote os apontamentos na lousa, para que os quais outros fatores podem ser entendidos
alunos dos outros grupos possam anotá-los e com a mesma conotação?
para que os responsáveis pela pesquisa possam
complementá-la, com dados não-observados. Considere fatores como a devoção à
Torá, o monoteísmo, a crença na Terra
Avaliação dos produtos da Situação Prometida.
de Aprendizagem
2. Eram navegantes e comerciantes – co-
Espera-se que com a Situação de Aprendiza- mercializavam perfumes, incenso, vidros
gem desenvolvida os alunos possam averiguar – transportavam e negociavam vinhos, ma-
informações a respeito dos povos estudados e deiras etc. Essas características podem ser
trocá-las com os demais colegas. As informa- associadas a qual dos povos orientais estu-
ções dos alunos a respeito desses povos, pouco dado?
ou nunca estudados, podem resumir-se a co-
nhecimentos bíblicos, como já indicado; julga- a) Fenícios.
mos importante que se ressaltem seus aspectos
essenciais e definidores, como os que arrolamos b) Egípcios.
no início do roteiro para aplicação desta Situa-
ção de Aprendizagem. c) Mesopotâmicos.
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História – 1a série, 1o bimestre
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COnSidErAçÕES FinAiS
Ao desenvolvermos os temas tratados dizagem sugeridas foram propostas de modos
neste Caderno, duas orientações principais de abordar temas difíceis, pouco tratados e,
guiaram nossas preocupações: fazer que este em princípio, aparentemente distantes da rea-
material apresentasse discussões historiográfi- lidade dos alunos, cabendo a você verificar sua
cas recentes em relação ao conteúdo arrolado aplicabilidade. Para todos os conteúdos procu-
e fornecesse a você propostas detalhadas para ramos valorizar a diversidade, a pluralidade e a
desenvolvê-lo – algo que facilitasse a elabora- heterogeneidade de suas manifestações.
ção de suas aulas ou mesmo a substituísse, caso
opte por seguir os roteiros que sugerimos. Esperamos que este Caderno possa se cons-
tituir em um instrumental útil para o exercício
O que apresentamos nas Situações de Apren- de suas atividades.
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História – 1a série, 1o bimestre
BiBliOGrAFiA
BAKOS, Margaret Marchiori. Fatos e mitos do gião na Antiguidade Oriental. Rio de Janeiro:
antigo Egito. Porto Alegre: Edipucrs, 1994. Senai, 2000.
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