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Literatura Brasileira IV – Esaú e Jacó: narrador, leitores e autor suposto

[1] “Os motivos clássicos do romantismo, do naturalismo e do realismo estão descartados


dessa história outonal, de águas paradas, antipoda da movimentação desenfreada do
enredo de Helena e da qual os leitores afeitos à literatura romântica e naturalista são
excluidos logo de início pelo narrador, que comunica a intenção de não colocar lágrimas
no livro, embora as coloque, e desculpa-se por insistir em minúcias, ainda que o faça”
(Hélio de Seixas Guimarães, “Esaú e Jacó e o leitor como duplo”, In: Os leitores de
Machado de Assis, p.189).

[2] “O narrador de Esaú e Jacó, assim como os outros narradores a partir de Brás Cubas,
dá vazão a vozes interiores que antecipam possíveis reações ao relato e simulam
transitar entre o lado de lá e o lado de cá das páginas do livro, fingindo colocar-se na
posição do leitor, ou da leitora. A especificidade neste caso talvez esteja no fato de o
interlocutor aparecer como parte de uma consciência divídida que, ao mesmo tempo em
que narra, vai relativizando e interpretando o contado. A princípio projetado como duplo do
narrador, o interlocutor ficcional é uma entidade interposta entre o narrador e o leitor
empirico, apontando para a consciência dividida e para o caráter fragmentário não apenas
do narrador, mas também do leitor a que ele faz apelo” (Hélio de Seixas Guimarães,
“Esaú e Jacó e o leitor como duplo”, In: Os leitores de Machado de Assis, p. 201).

[3] “Ainda que haja ironía na figuração desse leitor inteligente e de boa memória, o
fundamental é a consideração, por parte do narrador, da possibilidade de alguém capaz
de considerar muitas variáveis, de fazer interpretações complexas e perceber que as
explicações nem sempre se reduzem a aparências - as peças brancas e pretas, por
exemplo, distinguem-se menos pela diferença visível do que pelas funções variadas e
complexas que desempenham. São necessários muitos níveis de observação e
interpretação: das peças individualmente (rei e rainha), das peças enquanto tipos (bispos,
cavalos, torres e peões) e de todo o conjunto, levando-se em conta suas posições
relativas, numa visão dinâmica e gestáltica do tabuleiro, indicativa da visão machadiana
da composição e da recepção do texto ficcional. Pode-se pensar nesses três níveis de
interpretação como os dominantes, respectivamente, entre o leitor romântico, aferrado a
individualidades irredutíveis, integras e sempre iguais a si mesmas, o leitor do realismo e
do naturalismo convencional, afeito às tipologias e categorias sociais, e, finalmente, o
leitor que Machado de Assis desenha para a sua obra- alguém que dispensa os
esquemas, capaz ‘de reproduzir na memória as situações diversas’” […] (Hélio de Seixas
Guimarães, “Esaú e Jacó e o leitor como duplo”, In: Os leitores de Machado de Assis, p.
208).

[4] “O romance com o autor suposto destina-se enquanto totalidade unficada ao lançar ao
leitor o problema de sua apreensão enquanto totalidade unificada, ou, se se quiser, a
assinatura de Machado apresenta-se para colocar ao leitor o problema da presença de
Machado enquanto autor efetivo do romance, ou ainda, o problema da diferença que o
separa de Aires, autor suposto. Um problema específico da escrita romanesca que se
impõe num duplo constrangimento: Não esquecerás que escrevi tudo isto, não
esquecerás também que nada disto foi escrito por mim” (Abel Barros Baptista, A formação
do nome, p. 154-155).

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