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Regras infantis
nos desenhos de adultos
mentalmente perturbados
B. M . B A R N A R D e N . H . FREEMAN (*)
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1977). É, por isso, particularmente impor- tiva, pode-se solicitar as crianças que com-
tante, no caso de adultos ESN, provar até pletem desenhos nos quais o ponto de
onde é que os seus desenhos espontâneos partida é dado por caras previamente de-
esgotam o seu potencial. Do mesmo modo, senhadas, com diferentes graus de rotação
utilizando trabalhos recentes com crianças, a partir da vertical. As crianças de 3 anos
demonstramos aqui, por comparação, três são afectadas tanto pela orientação da cara,
características de desempenho associadas a como pela folha em que ela está desenhada
diferentes tipos de desenho espontâneo em (Freeman, 1980). Isto permite associar as
adultos ESN cujo QI se situa entre 60 e capacidades de orientação e posicionamento.
abaixo de 30. São elas: a*) o completamento Por fim, para dirigir uma tarefa de repre-
de algumas partes básicas do corpo; b) a sentação para a capacidade de posiciona-
noção das dimensões relativas das partes meiito, verifica-se que as crianças que estão
do corpo como ponto de referência para abaixo do nível dos desenhos convencionais
completar o desenho de uma figura huma- espontâneos da figura humana, responde-
na; c) um viés quando copiam linhas com rão a uma tarefa de completamento dese-
diferentes orientações. nhando os braços no segmento do corpo que
Os dados sobre as estruturas das crianças for maior -cabeça ou tronco (Freeman,
pequenas que formam o contexto para a 1980, pp. 301-3321. Este efeito da propor-
produção do desenho representativo, obti- ção do corpo está fortemente presente nas
veram-se a partir do picionamento e garatujas (antes da capacidade para gerar
orientação de linhas numa página de de- formas organizadas), persiste ainda no está-
senhos não-representativos. As diagonais dio do girino, e só desaparece quando se
são, para as crianças, particularmente difí- gera a forma convencional. Freeman e Har-
ceis de copiar. As verticais e as horizontais greaves (1977) afirmam que o efeito não
são mais fáceis (Berman, 1976); e, em mui- p d e ser reduzido a problemas de coorde-
tas tarefas, a coordenada vertical parece ser nação motora -o que constitui uma con-
mais relevante para as crianças do que a sideração importante no delinear de traba-
horizontal (Freeman, 1980, p. 25). Mais lho para amostras de adultos ESN, os quais
concretamente, Mandler e Stein (1977) de- tendem a ter deficiências no controlo mo-
tectaram uma forte tendência nas crianças tor.
de 5 anos para desenharem uma oblíqua Existem já, disponíveis, alguns dados con-
como uma vertical. Na verdade, Connolly gruentes sobre adultos ESN. Os seus vieses
e Elliot (1972) encontraram um viés moda1 pe'rpeiidiculares assemelham-se aos das crian-
em relação a traços verticais no desenho ças pequenas em desenhos espontâneos
livre de pré-escolares, o que, salientam, é (Freeman, 1980, p. 202), numa tarefa de
congruente com as restrições anatómicas do copiar (ibid., pp. 175-176) e no ajuizar de
movimento livre do braço. Quando a tarefa verticais características (Elliott e Connolly,
consiste em copiar uma linha por sobre uma 1978, expt. 3). O completamento de uma
linha-base, aparece um padrão de resultados cara com vários graus de rotação em con-
bastante diferente. A maior determinante textos diferentes assemelhava-se ao das
da exactidão não está na orientação do alvo, crianças pequenas quando aparecia uma
mas sim na da linha-base (Freeman e Ke- cara em interacção com a orientação da
lham, 1981). Um viés perpendicular pode página, embora as curvas estivessem alte-
ser um competidor poderoso na construção radas de maneira a que a cara fosse seguida
de um ângulo agudo (Ibbotson e Bryant, com menos confiança numa página qua-
1976). Para levar a cabo o trabalho, atrás drada do que numa em forma de losango
referido, no contexto da tarefa representa- (Freeman, 1980, pp. 202-203). Apresenta-
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mos, neste trabalho, mais dados necessá- Para a tarefa das proporções do corpo, fo-
rios para uma comparação cruzada. Pediu- ram usados os estímulos de Freeman (1975,
-se aos adultos ESN que copiassem uma «Séries BB). Consistem num bloco de pa-
linha vertical, uma horizontal e uma oblí- pel A,, em cada página do qual aparece
qua, e que tentassem resolver uma tarefa uma figura com cara cicular e tronco cir-
de proporção do corpo. O que deu aos da- cular, podendo a relação cabeça-tronco ter
dos obtidos com os adultos uma dispersão os valores 3.8, 1.7, 1.0, 0.6 ou 0.3. A se-
idêntica a dos dados das crianças, permi- quência das piginas é aleatória. Os pontos
tindo assim um apreciável tratamento com- são obtidos conforme o sítio onde são dese
parativo de grande amplitude. nhados os braços em cada figura -na ca-
beça ou no tronco.
Procedimento: Fez-se um r e t ó r i o sema-
Método nal para cada indivíduo durante 2 meses
seguidos. Foi pedido o desenho de uma fi-
Sujeitos: Foram testados 25 pacientes. gura humana: pôs-se um cartão plano na
Doze tinham QI abaixo de 60 mas prova- mesa, om frente do paciente, e um papel
velmente acima de 50, seis estavam abaixo quadrado entre o cartão e o paciente; deu-
de 30, e os restantes situavam-se entre 30 -selhe uma caneta de feltro e pediu-selhe
e 50. Os diagnósticos apresentavam 5 com para desenhar uma linha exactamente igual
síndrome de Down, 4 com danos cerebrais a do cartão. O procedimento foi repetido
evidentes, 3 com etiologia pouco clara mas para os outros cartões; a ordem foi contra-
com um componente genético evidente, e balançada. A seguir deu-se o bloco das p r e
os restantes eram não-específicos (com o porções do corpo a metade dos pacientes,
que se designa vulgarmente por atraso fun- enquanto a outra metade fazia as tarefas
cional). Três deles funcionavam, nos pla- na ordem inversa.
nos mental e social, tão normalmente quan- Resultados: Em resposta ao pedido para
to se podia esperar, 3 apresentavam sinta- desenhar a figura humana, encontraram-se
mas psicóticos, 6 eram muito isolados, e os 12 garatujas, 4 figuras-girino e 9 formas
restantes socialmente muito difíceis, inten- convencionais. No teste de orientação, 10
cionalmente ou não. Metade tinha entre 50 foram exactos dentro de uma variação de
a 60 anos e a outra metade entre 20 e 40. 5 em cada desenho; 5 fizeram traços cur-
Apresentavam uma condição física razoá- vilíneos e os 10 restantes fizeram uma linha
vel: 7 estavam muito bem, 2 tinham defi- vertical. Não houve quaisquer efeitos re-
ciências somáticas normais (p. ex., taquicar- sultantes da ordem de apresentação.
dia), 8 tinham problemas sensoriais e/ou O Quadro 1 mostra a associação entre as
deficiências na fala, e os restantes eram fi- tarefas de figura e de linha. O nível de con-
sicamente débeis. Constituíam, no seu con- fiança encontrado foi P < 0.001 (Kendall S):
junto, uma amostra típica da maioria das a maior parte dos dados situam-se na diago-
instituições da região oeste, onde o trata- na1 do quadro. Os desenhadores convencia-
mento é bom e não se faz qualquer segre- nais desenharam correctamente. Os desenha-
gação com base no diagnóstico. dores da figura-girinorevelaram um viés ver-
Instrumentos: Usaram-se, para o teste de tical. Os desenhadores de garatujas apare-
orientação, 4 pedaços de cartão, quadrados, cem divididos quase pela metade: 6 mostram
com 20cm de lado. Cada um tinha, dese- um viés vertical e 5 continuam a garatujar;
nhado no centro com caneta de feltro, uma só um desenhou correctamente. Com excep
linha preta que podia ser vertical, horizon- ção deste, A sofisticação na tarefa de dese-
tal, inclinada a 45" A direita ou A esquerda. nho (traço, girino, convencional) corres-
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QUADRO 1 QUADRO 2
Número de pacientes em cada categoria nas ta-
refas da figura humana e da inclinação linear. Número de vezes que os braços são desenhados
na cabeça de um desenho incompleto d medida
que a relação cabeçaltronco aumenta
Desenho da figura humana
-
ponde uma sofisticação na tarefa de inclina- grau de confiança para o conjunto da amos-
ção linear (garatuja, vertical rectilíneo, tra dos desenhadores de garatujas e figuras-
exacto). Isto é suficiente para se poder defi- -girino (Q = 13.33, df = 4, P < 0.01). Isto
nir o desenvolvimento do desenho indepen- distingue-a da amostra dos desenhadores
dentemente do agrupamento por idades que convencionais e todos os resultados a partir
é tão útil com as crianças. 0 viés vertical é da menor relação cabeça/tronco diferem nas
o mais primitivo que se pode observar, em- duas amostras de ou para além de P < 0.05
bora talvez não tão dramaticamente como (Fisher). A análise dos dados não permite
aqui, no desenho livre de crianças em idade verificar diferenças individuais.
pré-escolar (Connolly e Elliott, 1972) e nal-
gumas tarefas de copiar (Cox, 1978, expt. 2;
Freeman, 1980, p. 228). Discussão
Dezanove dos pacientes conseguiram com-
pletar a tarefa de proporções do corpo: 9 de Os desenhos dos adultos gravemente per-
desenho convencional, 3 de desenho tipo gi- turbados são, na sua maioria, semelhantes
rino e 7 de desenho de garatujas. Um destes aos das crianças pequenas. Os desenhos mais
últimos continuou a garatujar nas páginas avançados, associados a uma idade mais
seguinta, mas os outros foram levados a avançada e a uma maior capacidade per-
produzir membros reconhecíveis, tal como ceptivo-motora nas crianças, estão associa-
acontece nas crianças normais na fase das dos a uma maior habilidade em desenhar
garatujas. Os resultados do posicionamento uma linha inclinada a partir dum modelo.
dos braços estão agrupados no Quadro 2. Estas observações encorajaram ? construção
i
Os resultados vêm na sequência do que de uma escala para os desenhos dos adultos.
era esperado a partir dos trabalhos com A tricotomia das formas nas respostas dos
crianças. Os desenhadores convencionais adultos ESN a tarefa de copiar uma linha
mostraram tendência para porem os braços foi surpreendente: eles tanto garatujavam,
na cabeça do desenho, mas apenas naqueles como eram extremamente exactos com to-
em que as cabeças eram maiores. Os outros dos os estímulos, ou faziam sempre uma
pacientes revelaram o efeito da proporção linha vertical, mostrando não diferenciar os
do corpo. Três pacientes desenharam sem- estímulos. Berman (1976) verificou que as
pre os braços na cabeça, 1 desenhou sempre crianças de 3 anos desenhavam muitas vezes
os braços no corpo e 5 foram mais atraídos uma oblíqua como vertical ou horizontal,
para a cabeça quanto esta era maior em mas nos resultados obtidos havia quase tan-
relação ao tronco. O efeito tem um elevado tas horizontalizações erradas de linhas ver-
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ticais, como verticalizações erradas de li- seguir um modelo de desenho dos adultos
nhas horizontais. Essa densidade de verti- que se baseie na concepção de que dguns
calizações que foi encontrada nos adultos reflectem mais um atraso no desenvolvi-
ESN não foi observada nas crianças nor- mento do que uma perturbação; e que os
mais - ainda que possa ser importante processos de decisão envolvidos na produção
(Mandler e Stein, 1977). É possível que se de desenhos são semelhantes aos das crian-
observe em crianças mais pequenas, mas ças normais. A semelhança nas habilidades
isso tenderia, ao mesmo tempo, a aumentar não-representativas sugerem que 05 dese
a diferença face as crianças normais -uma nhos não só são semelhantes, mas que são
vez que indicaria que os adultos estavam construídos da mesma forma nas crianças e
relativamente mais avançados na habilidade nos adultos. As diferentes formas de super-
de orientação de linhas no desenho da fi- fície podem estar associadas a uma mudança
gura humana. mais profunda de regras na selecção de estí-
A última prova é mais profunda. O efeito mulos para guiar a caneta quando é preciso
das proporções do corpo nas crianças nor- decidir qual a orientação e posição na pá-
mais caracteriza crianças abaixo do estádio gina duma linha determinada. As particula-
da figura convencional. O mesmo acontece ridades na capacidade perceptivo-motora
com os adultos. Além disso, nas crianças, que os: adultos apresentam podem aparecer
a um avanço nas formas convencionais não também nas representações das crianças.
corresponde o desaparecimento completo do
efeito das proporções do corpo. O mesmo
acontece nos adultos. Analisando os presen- REFERÉNCI AS
tes dados a luz do que foi dito na Introdu-
BERMAN, P. W. (1976)’ «Young children’s use
ção, pode-se tirar duas conclus6es. of the frame of reference in construction of
A primeira é que Freeman (1980) terá the horizontal, vertical and the oblique»,
razão quando afirma que algumas das prin- Child Development, 47, 259-263.
cipais características dos desenhos das crian- CONNOLLY, K. J. e ELLIOTT, J. M. (1972),
ças não são redutíveis a ((sintomas da infân- «The evolution and ontogeny of hand func-
cia)), antes são compreensíveis como primei- tion» in N. Blurton Jones (ed), Erhological
ros passos na organização de uma estrutura Studies of Child Behaviour, Cambridge Uni-
versity Press.
complexa. Os adultos gravemente perturba-
COX, M. V. (1978), «Spatial depth relationships
dos são como que principiantes permanen- in young children’s drawingsn, Journd of EX-
tes. É conveniente dividir as características perimental Child Psychology, 26, 55 1-556.
da representação em dois tipos: aquelas que ELLIOTT, J. M. e CONNOLLY, K. J. (1978)’
pertencem ao grupo das tarefas em que se «The effect of visual frame of reference on
pedia para desenharem na página um novo a judgement of plane stimulus orientation by
elemento gráfico - exemplificadas pelo children)), Perception, 7, 139-149.
efeito das proporções do corpo; e aquelas FREEMAN, N. H, (1975), «Do children draw
men with arms coming out of the head?»,
que pertencem ao tipo de problemas da pro- Nature, 254, 416-417.
cura, entre o material armazenado, do ele- FREEMAN, N. H. (1980), Strutegies of Repre-
mento gráfico que deve ser produzido -p. sentation in Young Children: andysis of spa-
ex., os fenómenos de ordenação seria1 tia1 skills and drawing processes, Academic
(Johnson, Perlmutter e Trabasso, 1979). A Press, Londres.
análise dos problemas dos adultos assentará FREEMAN, N. H. e HARGREAVES, S. (1977)’
numa comparação cruzada das potenciali- ((Directed movements and the body-propor-
tion effect in pre-school children’s human
d a d a internas e externas com crianças. figure drawing)), Quarterly Journal of Expe-
Em segundo lugar, é agora possível con- rimental Psychology, 29, 227-235.
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FREEMAN, N. H. e KELHAM, S. (1981), «The to the knee bone: children’s representation
interference of a baseline with children’s orien- of body parts in memory, drawing and lan-
tation judgement need not entirely mask their guage)), Child Development, 50, 1192-1202.
contextual responsiveness)), Quarterly Journal IBBOTSON, A. e BRYANT, P. E., «The per-
of Experimental Psychology. 33, (no prelo). pendicular error and the vertical effect)),
GOLOMB, C. (1981), ((Representation and rea- Perception, 5, 319-326.
lity: the origins and determinants of young MANDLER, J. M. e STEIN, N. L. (1977), «En-
children’s drawings)), Research in Visual Art coding and retrieval of orientation: a new
and Education (no prelo). slant on an old problem)), Bulletin of the
GOODNOW, J. J. (1977), Children’s Draoing, Psychonomic Society, 10, 9-12.
Fontana, Londres. OLSON, D. R. (1970), Cognitive Development:
JOHNSON, L, R., PERLMUTTER, L. e TRA- The Child’s Acquisition of Diagonaiity, Aca-
BASSO, T. (1979), «The leg bone is connected demic Press, Nova Iorque.
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