CONCEPÇÕES DE PROFESSORES SOBRE POLÍTICAS DE INCLUSÃO – UM
RECORTE SUL MINEIRO - BRASIL
Débora Felício Faria1
Valdelúcia Alves da Costa2 Resumo As contradições presentes na democracia, expressas nos documentos legais e políticas públicas sobre inclusão, bem como seus impactos na formação dos professores, se constituíram em um dos eixos investigativos da pesquisa intitulada, Formação de professores: concepções sobre educação inclusiva na região Sul mineira, realizada no Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense. Tendo como assentamento teórico-metodológico a Teoria Crítica da Sociedade, a pesquisa, além de analisar a estrutura e funcionamento da educação no estado de Minas Gerais/Brasil, com base nos documentos oficiais, privilegiando a compreensão dos professores sobre seu potencial inclusivo, objeto do presente texto, também apresentou como eixos investigativos a identificação das concepções e atitudes dos professores sobre a educação inclusiva e a caracterização dos participantes, professores da rede de ensino básico. Para proceder ao estudo, no período de 2013 a 2014, foi realizada uma pesquisa empírica em interface com o Projeto de Extensão, Diálogos em Rede, na qual participaram 64 professores de dezessete municípios da região sul mineira. Pelos resultados obtidos, pudemos perceber que os professores anseiam pela oportunidade de discutir sobre questões prementes da educação, pelas quais se sentem afetados, como a demanda por escolas mais acolhedoras e que cumpram sua função educativa. Também se constatou que há possibilidade de crítica à ideologia, considerando que os professores percebem como sendo contraditórias as propostas da educação inclusiva, com destaque ao distanciamento entre seus referenciais e a presunção de que estão realizados. Por outro lado, sendo possível a fragilidade teórica da formação, os professores não revelaram capacidade de problematizar a estrutura social que produz e mantém as desigualdades de acesso à educação, expressando formação heterônoma, ao atribuírem ao Estado a responsabilidade por organizar previamente a escola para superação da segregação de alunos com deficiências/necessidades educacionais especiais, com ênfase à disponibilização de recursos materiais e técnicos, assim como a instrumentalização do professor a priori. Os professores também expressaram o preconceito em sua forma atenuada, considerando que a maioria dos professores não considera a classe/escola especial como modalidade de atendimento educacional mais adequada aos estudantes com deficiência; não se revelando assim hostis à sua presença na sala de aula comum. Por outro lado, expressaram inaptidão à experiência, destacando necessidade de contar com um professor de apoio, monitor ou especialista na sala de aula que se responsabilize pelo ensino e aprendizagem desses estudantes. Concluindo, os professores concebem a educação inclusiva como possibilidade de se questionar o processo educativo, refletir sobre as inter-relações sociais na escola, as práticas pedagógicas e contribuir na formação que combata o preconceito, pois a presença de estudantes com deficiência na escola comum demanda mudanças significativas. Por tudo isso, nosso estudo provoca a pensar que pesquisas sobre a educação inclusiva ainda são necessárias para se afirmar uma sociedade humana.
1 Professora Adjunta da Universidade Federal de Alfenas – Minas Gerais, Brasil 2 Professora Associada da Universidade Federal Fluminense – Niterói/Rio de Janeiro, Brasil