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“Setembro Negro”: 40 Anos do Massacre de Munique.

Política A tese de Theodor Adorno é mais atual do que nunca. Cerimônias com
a presença de autoridades e familiares de vítimas lembraram no último dia 5 de
setembro, na Alemanha, os 40 anos do Massacre de Munique. Onze atletas e
técnicos da comissão israelense foram mortos em um ataque terrorista durante
os Jogos Olímpicos de 1972, “considerada a maior tragédia da história dos
jogos”.

A tese de Theodor Adorno é mais atual do que nunca. Cerimônias com a


presença de autoridades e familiares de vítimas lembraram no último dia 5 de
setembro, na Alemanha, os 40 anos do Massacre de Munique. Onze atletas e
técnicos da comissão israelense foram mortos em um ataque terrorista durante
os Jogos Olímpicos de 1972, “considerada a maior tragédia da história dos
jogos”. Na época, a Alemanha era dividida em duas pelo Muro de Berlim. Havia
o lado comunista, a Alemanha Oriental, e o lado capitalista, a Alemanha
Ocidental. Externamente a divisão do país espelhava a polarização política e
ideológica entre Estados Unidos e União Soviética, no período conhecido como
a chamada “Guerra Fria”. Munique, na Alemanha Ocidental, “foi escolhida para
sediar os jogos com a responsabilidade de transformar, por meio do evento, a
imagem vergonhosa deixada pelas Olimpíadas de Berlim, de 1936”. Como é
sabido, nestes últimos jogos realizados no país, o carrasco Adolf Hitler usou o
esporte para fazer propaganda do regime nazista, que poucos anos mais tarde
promoveria o holocausto de judeus.
De outra parte, o “clima de comunicação” nas competições era de paz e
amizade. Nem mesmo “as equipes de segurança dos jogos portavam armas.
Na Vila Olímpica, que abrigava as delegações de 121 países participantes, a
segurança era aparentemente relaxada”. Além disso, os atletas podiam
transitar livremente, sem precisar se identificar. Ironicamente, para lembrarmos
de Sócrates à Kierkegaard, os organizadores daqueles jogos pretendiam
realizar “um evento amigável, sem um policiamento ostensivo”. No Parque
Olímpico e no alojamento dos atletas, os seguranças portavam apenas rádios,
megafones e lanternas, nada de armas. Algo impensável atualmente. “Nas
Olimpíadas de Londres deste ano, ficou evidente a obsessão pela segurança,
pois Munique é vista como o precedente que levou todos a se preocuparem
com o problema”, diz Heloisa Helena Baldy dos Reis, especialista em
segurança em eventos esportivos da Unicamp - Universidade Estadual de
Campinas, e enviada à capital britânica para pesquisar o tema.

Nestes últimos 40 anos, o terrorismo se intensificou e evoluiu


proporcionalmente “às etapas superiores do capitalismo” (Lenin). “Por isso, o
serviço de inteligência trabalhou muito”. Entre eles estavam os atletas de Israel.
Contudo, do ponto de vista da memória individual e coletiva (cf. Augé, 1982;
1993), os anos 1970 foram talvez os mais tensos na relação entre israelenses
e palestinos. Após a Guerra dos Seis Dias, em 1967, Israel anexou os
territórios da Cisjordânia e a faixa de Gaza, expulsando os árabes que viviam
nessas terras (cf. Ayala, 1947; Braga, 2006). Como reação, grupos palestinos
realizaram uma série de atentados terroristas contra alvos judaicos. O ataque
em Munique foi planejado para ser o maior deles. Às 4h30 do dia 5 de
setembro de 1972, oito integrantes do grupo palestino “Setembro Negro”, em
árabe: ????? ?????? que fora criado dois anos antes armados de fuzis AK-
47, pistolas e granadas invadiram os alojamentos dos atletas israelenses na
vila olímpica.

Há 40 anos, atentado que matou 11 atletas israelenses em Munique inaugurou


“era do terrorismo” em grandes eventos e arrastou a paranoia da segurança
para o esporte. Foto: AFP.

Escólio: Na madrugada de 5 de setembro de 1972, oito jovens palestinos


“vestidos como atletas” escalaram a cerca de um dos portões da Vila Olímpica
de Munique. Foram vistos, mas não despertaram suspeitas. Acabaram
confundidos com atletas voltando de alguma festa na cidade alemã, mesmo
que trouxessem em suas mochilas esportivas granadas e rifles Kalashnikovs.
Alguns minutos depois, fariam uma dezena de atletas israelenses reféns. O
barulho no corredor do apartamento acordou o árbitro de luta romana Yosef
Gutfreund, que, ao perceber algo errado, tentou bloquear a porta. Foi tempo o
bastante para o levantador de pesos Tuvia Sokolsky escapar por uma janela
antes que o quarto fosse invadido. Neste momento, o técnico de luta romana
Moshe Weinberg tentou se defender, mas foi baleado. Os jovens palestinos
foram a outros apartamentos e reuniram 12 reféns. Por volta das 5h da manhã,
Weinberg, o levantador de pesos Yossi Romano e o lutador Gad Tsabari
tentaram escapar. Apenas o último conseguiu. Os outros dois foram mortos
pelos terroristas do grupo Setembro Negro, ligado à “Organização para a
Libertação da Palestina” (OLP). A entidade defensora do Estado palestino havia
aderido ao terrorismo, principalmente, após Israel vencer a “Guerra dos Seis
Dias” (1967) e anexar ao seu território a Cisjordânia e a Faixa de Gaza.

Isto posto há quem diga que vivemos hoje uma “era do terrorismo”. Artigos e
livros são publicados, em profusão, analisando até a “filosofia” do terror. Em
todas as áreas do conhecimento, surgem especialistas nas mais diversas
modalidades do fenômeno político: militar, bacteriológico, econômico, político,
jurídico-político-ideológico, religioso e até familiar (Reich). Eleito inimigo
número 1 da civilização ocidental, no seu uso atual o termo designa “uma
atividade que seria um fim em si mesmo, desvinculado de qualquer outro
objetivo que não o da sua própria execução”. Na contracorrente de tais
definições, alguns autores afirmam que o terrorismo não é senão a política
auxiliada pela violência, de modo exclusivo ou não. De um modo geral, afirma-
se que é uma “tática de luta” (Lenin/Mao) contra a ordem estabelecida, mas o
próprio poder pode ser terrorista quando faz uso dos mesmos meios, a
violência, para atingir seus fins (EUA). Com definição tão ampla, é possível
detectar formas de terrorismo ao longo de toda a história social e política
humana. Os processos “contra a bruxaria” na Europa Moderna, que afetaram 1
milhão de pessoas entre 1484 e 1739 e espalharam um clima de denúncias,
suspeição e terror por cidades e aldeias do Velho Continente, se encaixariam
perfeitamente nessa categoria. Tais processos estão na origem da popular
expressão “caça às bruxas”.

O conceito de “terrorismo” no seu sentido contemporâneo, porém, surgiu com a


Revolução Francesa. O período compreendido entre setembro de 1793 e julho
de 1794, caracterizado pela violência e as execuções utilizadas pelos
revolucionários para enfrentar as forças da reação, deu origem ao termo, que
apareceu pela primeira vez em 1798 no suplemento do Dicionário da Academia
Francesa. A expressão passou então a ser utilizada para caracterizar o
extermínio de pessoas de oposição ao regime e a violência promovida pela
autoridade governamental instituída. O “Terror”, em sentido político, ficou
associado à revolução (democrática). Para Marx, “o Terror na França nada
mais foi do que o método plebeu para acabar com os inimigos da burguesia, o
absolutismo, o feudalismo, e o espírito pequeno-burguês”. Referindo-se à
derrota da revolução de 1848 na Áustria, o pensador alemão afirmou que “os
massacres sem resultados nas jornadas de junho e outubro, a fastidiosa festa
expiatória em fevereiro e março, o canibalismo da contrarrevolução,
convencerão os povos de que para abreviar, simplificar e concentrar a agonia
mortífera da velha sociedade só existe um meio: o terrorismo revolucionário”.

Do ponto de vista conceptual o terrorismo tem como representação e resultado


o uso de violência (Weber), física ou psicológica, através de ataques
localizados a elementos ou instalações de um governo ou da população
governada, de modo a incutir medo, terror, e assim obter efeitos psicológicos
que ultrapassem largamente o círculo das vítimas, incluindo, antes, o resto da
população do território. É utilizado por uma grande gama de instituições como
forma de alcançar seus objetivos, tais como: organizações políticas, seja de
esquerda, seja de direita, ou grupos separatistas e até por governos na luta
pela manutenção do poder (Bobbio). No limite do termo, a “guerra de guerrilha”
é frequentemente associada ao terrorismo uma vez que dispõe de um pequeno
contingente para atingir grandes fins, fazendo uso cirúrgico da violência para
combater forças maiores. Seu alvo, no entanto, são forças igualmente armadas
procurando sempre minimizar os danos a civis para conseguir o apoio destes.
Assim sendo, é tanto mais uma táctica militar que uma forma de terrorismo.
Segundo um estudo do Exército dos Estados Unidos de 1988 existe uma
centena de definições da palavra terrorismo. A inexistência de um conceito
amplamente aceito pela comunidade internacional e pelos estudiosos do tema
significa que o terrorismo não é um fenômeno entendido da mesma forma, por
todos os indivíduos, independente do contexto histórico, geográfico, social e
político. Segundo Walter Laqueur “nenhuma definição pode abarcar todas as
variedades de terrorismo que existiram ao longo da história”.

Para o que nos interessa foram dois atletas que enfrentaram os terroristas e
foram mortos no local. Outros nove atletas e técnicos foram feitos reféns pelo
grupo. Os demais conseguiram escapar e avisar a polícia. Começava então
uma operação que duraria mais de 20 horas, acompanhada pela imprensa
internacional, e que, em razão de falhas da polícia alemã, terminaria em
tragédia. Os terroristas exigiam a libertação de 234 palestinos e não árabes
presos em Israel. Mas as autoridades israelenses seguiam a política de não
negociar com terroristas, não importava a circunstância, para não incentivar
novos ataques. A situação para o governo alemão era ainda mais delicada:
tratava-se de judeus sequestrados em uma Olimpíada cuja sede era a antiga
capital do Partido Nazista. Por isso, os negociadores chegaram a oferecer
somas ilimitadas em dinheiro e até a troca dos reféns por alemães; os
terroristas recusaram todas as ofertas. Outro entrave para os alemães foi a
cobertura “ao vivo” de emissoras de TVs de todo o mundo, o que permitiu que
os terroristas acompanhassem a ação da polícia por aparelhos de TV no
alojamento, frustrando as tentativas de invasão. Finalmente, foi negociado que
os palestinos e os reféns seriam levados para o Cairo, mesmo com a recusa do
governo egípcio de se envolver politicamente no caso. Porém, “tudo não
passava de uma armadilha para tentar prender o grupo no aeroporto de
Fürstenfeldbruck, próximo à Munique”.

Às 22h10, terroristas e atletas foram transportados em um ônibus até dois


helicópteros militares e depois até o aeroporto. O plano tinha como objetivo
militar neutralizar os árabes dentro de um Boeing 747 que os aguardava na
pista de decolagem. Mas os policiais foram surpreendidos com um número
maior de terroristas do que o esperado. Decidiram então agir, sem consultar o
comando central. Às 23h começou um tiroteio, meia hora após a chegada dos
helicópteros. Eram cinco atiradores da polícia contra oito terroristas bem
armados. Na confusão, um dos suspeitos atirou uma granada contra um
helicóptero em que reféns estavam amarrados pelos pés e mãos. Por volta das
1h30 o massacre havia terminado. Todos os nove reféns morreram, além de
cinco terroristas e um policial. Três jovens, com idades entre 20 e 22 anos,
foram feridos no tiroteio e presos pela polícia. Entretanto, eles nem chegaram a
ser julgados. Oito semanas depois, um avião da empresa alemã Lufthansa foi
sequestrado em Beirute. Em troca dos reféns, o governo alemão decidiu soltar
os três prisioneiros, que foram para a Líbia.
A Líbia também foi o destino dos corpos dos cinco terroristas mortos. Lá eles
foram enterrados como heróis, com honras militares. Israel respondeu
bombardeando alvos árabes no dia seguinte ao massacre, matando 200
pessoas. Nos bastidores, o governo israelense tramava uma missão secreta
para caçar os envolvidos. A primeira-ministra israelense, Golda Meir, e o
Comitê Israelense de Defesa autorizaram o Mossad, - o serviço secreto de
Israel, a localizar e matar todos os integrantes do Setembro Negro envolvidos
direta ou indiretamente no episódio. Durante duas décadas, dezenas de
pessoas foram mortas pelos espiões do Mossad, entre elas dois dos terroristas
capturados em Munique e um garçom “morto por engano na Noruega”. O
Massacre de Munique também levou governos europeus a criar equipes
profissionais de contraterrorismo. Deu-se o início da guerra das nações
ocidentais contra o terror.

Vale lembrar que Golda Meir (1898-1978) foi uma fundadora do Estado de
Israel. Emigrou para a Palestina no ano de 1921, onde militou no sindicato
Histadrut e no partido trabalhista Mapai. Além de primeira embaixadora
israelense na extinta URSS em 1948, ela foi ministra do Bem-Estar Social,
ministra do Exterior, secretária-geral do Mapai e foi o quarto primeiro-ministro
de Israel, entre 1969 e 1974. Conhecida pela firmeza de suas convicções
estava à frente do Estado de Israel em seu momento mais dramático: a Guerra
do Yom Kippur, na qual tropas egípcias e sírias atacaram Israel, cuja
população estava distraída pelas comemorações do “Dia do Perdão judaico”.
David Ben-Gurion certa vez disse dela: “Golda Meir é o único homem do meu
gabinete”. Proveniente de uma humilde família judaica, em 1906, emigra com a
família para Milwaukee, Wisconsin nos Estados Unidos. Após a conclusão dos
seus estudos, Golda Meir foi, durante algum tempo, professora primária em
Milwaukee e delegada da secção norte-americana do Congresso Judaico
Mundial, mas que não trataremos agora.

A revista alemã Der Spiegel divulgara na última semana documentos oficiais


para apontar sinais (Ginzburg) de que as autoridades do país ignoraram avisos
explícitos sobre um ataque terrorista nos Jogos Olímpicos, além de tentarem
encobrir o resultado e os erros dos envolvidos. Segundo a publicação, em 14
de agosto de 1972 um oficial da embaixada alemã em Beirute, no Líbano, ouviu
que provavelmente “um incidente” causado por palestinos ocorreria nos jogos.
Quatro dias depois, o Ministério das Relações Exteriores alertou a agência de
inteligência da Bavária, estado onde fica Munique, recomendando a adoção de
todas as medidas de segurança possíveis contra o eventual ataque. As
agências de segurança, no entanto, negligenciaram o conteúdo de sentido da
informação, posto que nem sequer registrassem como é típico da burocracia,
os avisos de conteúdo político publicados na imprensa internacional.

A operação, “Ira de Deus”, foi narrada no filme Munique (2005), dirigido por
Steven Spielberg. É um filme de 2005 que relata os eventos que se seguiram
ao Massacre de Munique de 1972. Ele segue um esquadrão do Mossad
(liderado por Eric Bana) que é requisitado para caçar e matar os terroristas do
“Setembro Negro”, a chamada “Operação Cólera de Deus”, responsáveis pelo
assassinato dos atletas israelenses e o fardo que isso foi para a equipe. O filme
é parcialmente baseado no livro: Vengeance: The True Story of an Israeli
Counter-Terrorist Team, escrito pelo jornalista canadense George Jonas.
Estrategicamente Spielberg praticamente não fez pré-estreias do filme, lançado
em dezembro de 2005. A expectativa só seria superada pela polêmica que se
seguiu às primeiras exibições: tanto judeus quanto muçulmanos acusaram o
conteúdo de racial, como ao que parece, guardadas as proporções, a história
se repete nesses dias com a polêmica gerada em torno da estreia do filme.

Com a escalada dos protestos contra o filme anti-islâmico que satiriza o profeta
Maomé, governos de todo o mundo árabe reiteraram o pedido ao YouTube
para bloquear o acesso ao vídeo, prometendo retaliações caso a solicitação
não seja cumprida. A Árabia Saudita foi a última nação a se juntar à lista que
reivindica a retirada do ar do filme: “Inocência dos Muçulmanos”. Produzida nos
Estados Unidos, a fita tem provocado manifestações por toda a região nos
últimos dias. O Paquistão decreta feriado para permitir protestos contra filme
anti-islâmico. A França aumenta segurança no exterior como precaução por
charge de Maomé. O Egito indicia oito pessoas nos EUA por filme sobre
Maomé. Segundo as autoridades sauditas, se o Google, dono do YouTube,
“não cooperar, o próprio governo bloqueará o acesso ao site dentro do país”.

O ponto de partida para o filme corresponde aos trágicos acontecimentos


ocorridos, durante os Jogos Olímpicos de 1972, realizados em Munique. A 5 de
Setembro, oito palestinianos mascarados (autodenominado "grupo Setembro
Negro") invadiram a aldeia olímpica, mataram dois atletas israelitas e raptaram
outros nove. Depois exigiram a saída em segurança do país e a libertação de
alguns prisioneiros árabes. No entanto, quando chegaram ao aeroporto foram
confrontados com a polícia alemã e desse confronto resultou a morte dos nove
reféns. Embora o filme possua uma estrutura e ritmo de thriller, o argumento
detalha a gradação emocional e as alterações psicológicas (Freud) por que
passa Avner, remetendo para um drama mais pungente.

Esta situação espelha os efeitos que a vingança pura e a espiral de violência


podem ter sobre os indivíduos. Neste contexto, o filme usa uma situação
particular para motivar a reflexão sobre o tipo de medidas tomado na
atualidade para combater o terrorismo. Acima de tudo, dá a entender/ver um
mundo feito de várias tonalidades, onde não existem bons e maus, mas apenas
pessoas que podem apresentar múltiplas facetas e atuar por diversas causas.
O filme gerou grande polêmica por lidar com um tema tão sensível quanto o do
conflito religioso e de apropriação de terras secularizado entre israelenses e
palestinos, mas as críticas surgiram dos dois lados, o que parece provar que o
filme não defende um dos lados. Inegável é a sua qualidade técnica e artística,
colocada ao serviço de uma história muito dura, mas decisiva, para
compreender muitas das dinâmicas do mundo atual, nomeadamente as que
conduzem ao semear da violência política.

O jornalista Nahum Sirotsky, ainda em atividade aos 86 anos, era o


correspondente do Estado em Israel na primeira metade da década de 1970.
Ele assinava no jornal com o pseudônimo “Nelson Santos”, porque também
colaborava, na época, com o Jornal do Brasil, do Rio de Janeiro. Ainda em
Israel, o jornalista colabora com veículos da imprensa brasileira, como o jornal
Zero Hora. No jornal Estado de S. Paulo, Sirotsky foi o autor de um texto em
que comenta o terrorismo. “Apesar de ser um veterano observador de guerras
locais, sempre me surpreendo com a inútil crueldade dos terroristas”, escreveu,
sob o título: “Terror, arma trágica e inútil”. O texto acompanhava a manchete de
6 de setembro de 1972, dia seguinte ao massacre dos atletas israelenses em
Munique: “Israelenses chacinados em Munique”.

Em entrevista esta semana ao Estado, Sirotsky narrou o clima em Israel na


manhã seguinte ao atentado ocorrido na Alemanha durante as Olimpíadas de
1972. “Faz muito tempo, mas não me esqueço que a população estava pronta
para qualquer ação de vingança (de Israel), qualquer uma. O ambiente era de
imensa tristeza e frustração”, conta. Sirotsky também escreveu, quatro dias
depois do ataque em Munique, o texto “A represália não causou em Israel
qualquer surpresa”. No texto, que acompanhava outras histórias sobre o
atentado e sobre a reação de países como o Egito - que, segundo matéria no
jornal, apoiou os terroristas -, Sirotsky descrevia como “anticlimático” um
ataque de Israel contra “bases de terroristas” instaladas no Líbano e na Síria.
“Se dependesse apenas do clima que se vive em Israel, teria ocorrido há muito
mais tempo”, escreveu o jornalista em 1972.

Segundo o relato à época, “a lembrança do crime de Munique está presente


(em Israel) e ele é um crime grande demais. Dificilmente o governo poderá
evitar uma resposta militar dramática, feroz, violenta”. Sirotsky também
reproduzia uma declaração do então ministro de Relações Exteriores de Israel,
Abba Eban, “conhecido como moderado”, como relatou o jornalista: “Temos
que acabar com essa escória humana”. No final do texto, Sirotsky escreve:
“Não será exagero afirmar que o atentado de Munique criou uma nova situação
altamente crítica e delicada no Oriente Médio. Os próximos dias - ou as
próximas horas, talvez - poderão trazer algumas surpresas. E estas - sejam
quais forem - certamente não serão agradáveis para os que se rejubilaram com
a chacina dos integrantes da delegação olímpica de Israel na Alemanha”.

Um Relatório da policia de Munique de julho de 1973 indica que as armas com


as quais haviam sido detidos tinham as mesmas características das utilizadas
pelos militantes. Mas eles estavam sob o radar das autoridades muito antes da
prisão. Dois meses antes do ataque, a polícia de Dortmund enviou informações
ao serviço de inteligência estrangeira alemã dizendo haver suposta atividade
conspirativa por terroristas palestinos. O aviso discutia o relacionamento de
Pohl e Mohammed Daoud, Abu Daoud, idealizador dos ataques, que se reuniu
livremente com militantes em um hotel de Munique sem a interferência da
polícia. Pohl ajudou Daoud a comprar diversas Mercedes sedãs em Dortmund,
apresentou o terrorista a um falsificador de passaportes (Abramowski) e levou
o homem pela Alemanha para se encontrar com palestinos. Depois, ainda ficou
em Beirute com Abramowski, que falsificou passaportes do Kwait e Líbano,
mudou nomes de documentos americanos e franceses e trocou fotos de
passaportes para o grupo. Esses documentos permitiram a entrada dos oito
palestinos na Alemanha.

A esta altura dos acontecimentos políticos, ambos alegaram não saber dos
planos para os ataques, mas com a proximidade dos jogos foram consultados
sobre a ação. Com a falha da ação, os chefes do grupo no Oriente Médio
pretendiam se vingar da interferência alemã e chegaram a planejar o sequestro
de políticos locais por todo o país, com a ajuda de Pohl e Abramowski. Planos
que não se concretizaram devido à prisão da dupla. Mesmo com tantos
elementos os ligando ao Setembro Negro, foram condenados em 1974 apenas
por porte ilegal de armas de fogo. Abramowski recebeu uma pena de oito
meses de prisão e Pohl, um pouco mais de dois anos, embora tenha sido solto
- sem explicações - quatro dias depois de condenado. O grupo por trás do
atentado nas Olimpíadas ainda conseguiu resgatar os três sobreviventes ao
sequestrar um avião alemão da Lufthansa com destino a Frankfurt. Para obtê-
lo de volta, o governo alemão não hesitou em enviar o trio à Líbia. “Há quem
diga que o sequestro foi uma armação para a Alemanha se livrar do custoso
peso político do processo contra os acusados, que a obrigaria a tomar partido
de um dos lados envolvidos”, destaca o professor da FGV - Fundação Getúlio
Vargas. Além disso, o país poderia se tornar alvo de novos ataques caso não
cedesse. “A Alemanha se apressou em evitar isso, mandando o mais rápido
possível esses militantes embora.”

A maioria dos filmes sobre o “Massacre de Munique” mostra imagens da


cobertura feita, ao vivo, pela rede de TV americana ABC. O jornalista Jim
McKay, que entre 1961 e 1998, foi apresentador no canal do programa: Wide
World of Sports, foi escolhido, na ocasião, para dar as informações, “em
tempo real”, sobre as negociações entre os terroristas do Setembro Negro e
as autoridades alemãs. McKay estava em seu único dia de folga durante os
Jogos quando os atletas foram atacados, mas ficou no ar pela ABC durante 14
horas, sem qualquer intervalo. A transmissão dos acontecimentos levou 16
horas. Após a tentativa frustrada de resgate dos esportistas, McKay concluiu a
transmissão dizendo: “Quando eu era criança, meu pai costumava dizer que ‘as
nossas maiores esperanças e os nossos piores medos raramente se realizam’.
Nossos piores temores se concretizaram esta noite. Já disseram que havia 11
reféns; dois foram mortos em seus quartos na manhã de ontem, nove foram
mortos no aeroporto hoje à noite. Estão todos mortos“.

Etnograficamente, a publicação dos documentos pela imprensa local é fruto de


uma negociação de seis meses entre o principal jornal do país, o “Yedioth
Ahronoth”, e o gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, que temia
“que a divulgação dos arquivos pudesse prejudicar as relações entre Israel e a
Alemanha”. Os documentos não apresentam nenhuma revelação extraordinária
sobre o atentado ou a operação de resgate realizada pela polícia alemã, mas
descrevem o estado de grande ansiedade que viveu o governo da primeira-
ministra Golda Meir e sua frustração com o resultado da ação: “Não fizeram o
menor esforço para salvar vidas”, disse em um dos arquivos o então chefe do
Mossad, Zvi Zamir, ao comentar a operação das forças de segurança alemãs.
Além disso, Zamir também mencionou que a preparação da polícia foi
insuficiente e criticou os alemães: “único que desejam é seguir com os Jogos
Olímpicos e encerrar o assunto”. Segundo outro documento, Israel pediu à
Alemanha autorização para enviar à Vila Olímpica uma unidade de elite para
resgatar o grupo de atletas e treinadores israelenses sequestrados pela
organização armada palestina “Setembro Negro”. A Alemanha não aceitou o
pedido e deixou a operação em mãos de suas forças de segurança, que no
resgate mataram cinco dos oito sequestradores.
Bibliografia geral consultada:

BRAGA, Ubiracy de Souza, “A Questão Israelense-Palestina: histórias


míticas?”. In: Jornal O Povo. Fortaleza, CE, 7.10.2006; Idem, “Outro Sartre:
Amor, Cinema & Política”. Disponível em:
http://httpestudosviquianosblogspotcom.dihitt.com.br/n/arte-cultura/2012/09/15/;
Idem, “Sobre a frase: Je ne suis pas marxiste”: Disponível no site:
http://httpestudosviquianosblogspotcom.dihitt.com.br/n/politica/2012/09/20/;
CERTEAU, Michel, La Culture au Pluriel. Paris: Union General d`Éditions,
1974; Idem, L`Ecriture de l`Histoire. Paris: Éditions Galimard, 1975; Artigo: “Aos
86 anos, ex-correspondente do Estado segue em atividade e relembra
carreira”. In: http://portalimprensa.uol.com.br/noticias/brasil/; Artigo: “Israel
divulga documentos secretos sobre atentado em Munique”. Disponível no site:
http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/, 30.08.2012; BONIS, Gabriel,
“Munique 1972: há 40 anos, a tragédia que transformou o mundo”. Disponível
no site: http://www.cartacapital.com.br/internacional/, 05.09.2012; BOURDIEU,
Pierre, “The Sentimento of Honour in Kabile Society”. In: J. G. Peristiany (Org.),
Honour and Shame, the Values of Mediterranean Society. Chicago: University
of Chicago Press, 1970; Idem, Esquisse d`une théorie d ela pratique. Genebra:
Droz, 1972; Idem, “L`Identité et la Représentation. Eléments pour une réflexion
critique sur l`idée de région”. In: Actes de la Recherche en Sciences
Sociales, n° 35, 1980; AUGÉ, Marc, “Football: de l`histoire sociale à
l`anthropologie religieuse”. In: Le Débat, 19, 1982; Idem, La Guerre des Rêves:
Exercices d`Ethono-Fiction. Paris: Éditions du Seuil, 1997; AYALA, Francisco,
Le Ragioni Dell`Evoluzione. Rome: Di Renzo Editore, 2005; AZCÁRATE,
Manuel, Crisis del Eurocomunismo. Barcelona: Argos Vergara, 1982; Henfil,
Diário de um cucuracha. Rio de Janeiro: Record, 1983; ADORNO, Theodor W.,
Gesammelte Schriften. Frankffurt/Main, Suhrkamp, 1972; LACLAU, Ernesto,
Política e Ideologia na Teoria Marxista: capitalismo, fascismo e populismo. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, 1978; FREUND, Julien, Sociologie du Conflit. Paris:
Presses Universitaires de France, 1983; BERGSON, Henri, Ensaios sobre os
dados imediatos da consciência. Lisboa: Edições 70, 1988; Idem, Matéria e
Memória. São Paulo: Martins Fontes, 2001, entre outros.

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