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Giant Steps: análise de um improviso • A música de Michael Jackson

& AFINS
Ano 1 - Número 5 - Setembro 2014
www.teclaseafins.com.br

Antonio
Adolfo
O músico plural
fala dos projetos,
da carreira e do
panorama atual da
música no mundo

Rick Wakeman
O mago dos teclados e sua
Viagem ao Centro da Terra

Hércules Gomes
O novo representante da
musicalidade brasileira

PA300 Testamos o novo teclado arranjador da Korg


EDITORIAL

& AFINS
Ano 1 - N° 05 - Setembro 2014
Setembro é especial para o
Publisher mercado da música no Brasil:
Nilton Corazza é, tradicionalmente, o mês da
publisher@teclaseafins.com.br
Expomusic, evento em que
Gerente Financeiro grande parte dos players da
Regina Sobral área apresentam novidades,
financeiro@teclaseafins.com.br
fazem contatos com con-
Editor e jornalista responsável sumidores, realizam ven-
Nilton Corazza (MTb 43.958) das, ampliam o networking,
avaliam a concorrência, pes-
Colaboraram nesta edição:
Alexandre Porto, Alex Saba, Cristiano Ribeiro, quisam tendências e, princi-
Eloy Fritsch, Hudson Hostins, palmente, mostram o potencial de um segmento ao mesmo
José Osório de Souza, Maurício Domene, tempo tão promissor e tão pouco explorado. Trabalhar esse
Rosana Giosa, Turi Collura
mercado de modo profissional, fazendo que ele cresça e se
Diagramação torne pujante tanto entre fabricantes quanto entre importa-
Sergio Coletti dores e distribuidores, é tarefa que exige tempo e dedica-
arte@teclaseafins.com.br ção, a fim de tornar o gosto pela música - que a maioria de
Foto da capa nosso povo tem - em negócio lucrativo. E para todos. Teclas
Paul Constantinides & Afins não poderia ficar fora desse evento. Durante a feira,
que ocorre de 17 a 21 de setembro no Expo Center Norte,
Publicidade/anúncios
comercial@teclaseafins.com.br
em São Paulo, estaremos em nosso estande difundindo nos-
sa proposta: valorizar o trabalho do músico - principalmente
Contato aqueles que se dedicam às teclas -, divulgar informações, en-
contato@teclaseafins.com.br riquecer a cultura musical e incentivar o estudo. Somente
Sugestões de pauta assim estaremos fazendo jus ao apoio que todos os leitores
redacao@teclaseafins.com.br e colaboradores têm nos dado durante esses cinco meses de
existência da publicação. Durante esse período, atingimos
Desenvolvido por
Blue Note Consultoria e Comunicação
o objetivo de ser a mais completa e dedicada publicação do
www.bluenotecomunicacao.com.br gênero no País e oferecer a nossos leitores 68 páginas de in-
formação pertinente e relevante, qualificada por profissionais
Os artigos e materiais assinados são de responsabilidade
de seus autores. É permitida a reproduação dos conteúdos competentes e experientes, organizada de forma a facilitar a
publicados aqui desde que fonte e autores sejam citados e o leitura e colocar à disposição de todos um grande leque de
material seja enviado para nossos arquivos. A revista não se
responsabiliza pelo conteúdo dos anúncios publicados. subsídios para seu desenvolvimento musical e cultural. Leia
os textos, clique nos links, veja os vídeos e, principalmente,
ouça o que indicamos. Com certeza você vai se surpreender
com a quantidade e a variedade de estilos que povoam nosso
universo. Boa leitura!

Rua Nossa Senhora da Saúde, 287/34


Nilton Corazza
Jardim Previdência - São Paulo - SP Publisher
CEP 04159-000
Telefone:
6 / MAIO 2014 +55 (11) 3807-0626 teclas & afins
NESTA EDIÇÃO 44 mestres
Rick Wakeman
VOCE EM TECLAS E AFINS 4 O mago dos teclados
O espaço exclusivo dos leitores
50 LIVRE PENSAR
INTERFACE 8 Profanação e bandas covers
As notícias mais quentes do por Alex Saba
universo das teclas
54 TRILHA MUSICAL
retrato 12 Relação música - tempo
Hércules Gomes Por Maurício Domene
Representante da musicalidade brasileira
56 cultura hammond
Vitrine 18 A evolução
Novidades do mercado Por José Osório de Souza

review 24 58 keynologia
Pa300 Arranjadores à brasileira
O novo arranjador da Korg por Hudson Hostins

materia de capa 30 58 harmonia e improvisacao


Antonio Adolfo Giant Steps: análise de um improviso
Síntese da pluralidade musical por Turi Collura

sintese 40 60 arranjo comentado


Museu do Sintetizador A música pop de Michael Jackson
por Eloy Fritsch por Rosana Giosa

teclas & afins MAIO 2014 / 7


vOCE em teclas & afins

Vamos nos conectar?


A matéria ficou show, excelente! Muito obrigado! (Fabio Ribeiro,
pelo nossa fã-page no Facebook)

R.: Teclas & Afins existe para levar informação aos amantes
dos instrumentos de teclas. Alguém que, além de excelente
músico, entende como poucos os segredos da tecnologia e do
mercado fonográfico, tem muito a transmitir a nossos leitores.
A redação que agradece sua disponibilidade.

Muito interessante a entrevista com Valentina Lisitsa.


Ela fala com uma naturalidade sobre a música erudita
e sobre a sua relação com as pessoas e sentimentos
que eu nunca tinha visto. É muito saudável para nós,
músicos das teclas, ver alguém com essa postura dela para
quebrar o gelo. (Aleciano Júnior, por e-mail).

R.: Caro Aleciano, agradecemos sua mensagem. A pianista Valentina Lisitsa realmente encara
sua profissão e seu talento com muita naturalidade. A facilidade que possui de executar as mais
difíceis obras do repertório pianístico é comparável à que tem de externar suas opiniões sinceras.

Agradeço profundamente a esta revista pela publicação de uma reportagem sobre a


minha carreira. Um grande abraço ao pessoal da revista Teclas & Afins e meus eternos
agradecimentos. É muita informação importante à disposição dos músicos e amantes da
música. (Luiz Claudio Morato do Canto, pelo nossa fã-page no Facebook)

R.: Mais do que um prazer, é nossa obrigação divulgar aqueles que, com seu trabalho,
contribuem para o desenvolvimento da música, ainda mais quando são nossos leitores.

Parabéns pela revista e pelos vídeos de música! Sucesso! A Comunidade das teclas estava
carente de informações de qualidade assim reunidas em único lugar! (Bruno Lobato Torres,
pelo nosso canal no YouTube)
Parabéns pela revista e sucesso pra vocês. Obrigado por compartilharem coisas boas! (Flávio
Alves, por e-mail)
Adorei a volta de uma revista de músicos das teclas, depois da antiga Teclado e Áudio.
Parabéns! Tô curtindo muito! (Luiz Carlos, por e-mail)

R.: Caros Bruno, Flávio e Luiz Carlos, agradecemos suas mensagens . Realmente os músicos de
instrumentos de teclas estavam carentes de informação. Nosso objetivo é preencher essa lacuna e
esperamos atender às expectativas. Forte abraço!

4 / setembro 2014 teclas & afins


vOCE em teclas & afins

Este espaço é seu!


Teclas & Afins quer divulgar trabalhos, iniciativas, músicos e
bandas que apresentem qualidade e sejam diferenciados.

Não importa o instrumento: piano, órgão, teclado,


sintetizadores, acordeon, cravo e todos os outros têm espaço
garantido em nossa revista. Mas tem que ser de teclas!

Veja abaixo como participar:

1. Grave um vídeo de sua performance. A qualidade não


importa. Pode ser até mesmo de celular, mas o som precisa
estar audível.

2. Faça o upload desse vídeo para um canal no Youtube ou para


um servidor de transferência de arquivos como Sendspace.com,
WeTransfer.com ou WeSend.pt.

3. Envie o link, acompanhado de um release e uma foto para o


endereço contato@teclaseafins.com.br

4. A cada edição, escolheremos um ou dois artistas para


figurarem nas páginas de Teclas & Afins, com direito a entrevista
e publicação de release e contato.

Não fique fora dessa!


Mostre todo seu talento!

Teclas & Afins quer conhecer melhor


você, saber sua opinião e manter
comunicação constante, trocando
experiências e informações. E suas
mensagens podem ser publicadas
aqui! Para isso, acesse, curta, compartilhe e siga nossas páginas nas redes sociais clicando nos ícones
acima. Se preferir, envie críticas, comentários e sugestões para o e-mail contato@teclaseafins.com.br

teclas & afins setembro 2014 / 5


vOCE em teclas & afins

De ouvidos bem abertos


Com grande atividade na vida musical de sua região,
Giovanni Sagaz destaca-se como professor e instrumentista
Pianista, tecladista, violonista, cantor, de piano erudito, bossa nova e jazz. Mas a
arranjador e compositor. Mesmo citando vontade de lecionar sempre falou alto no
todas essas atividades, talvez tenha faltado coração e na mente do jovem músico: “desde
a principal: professor. Giovanni Sagaz, criança, quando me perguntavam o que eu ia
formado em licenciatura em música e ser quando crescesse, respondia: professor!”,
cursando o bacharelado (piano) na Univali, afirma Sagaz. “Mas não imaginava que seria
leciona piano e prática instrumental no de música. Sempre admirei a dedicação e
Conservatório de Música Popular de Itajaí. O o carinho que os professores têm. Por isso,
interesse pelo assunto começou aos quinze após aprender a tocar teclado, piano e violão,
anos de idade, tocando violão, mas, depois foi natural e inevitável começar a dar aulas
de ganhar um teclado do pai, iniciou as desses instrumentos, e logo procurar uma
aulas de piano. Pouco tempo depois, aos graduação nessa área.”
18, profissionalizou-se atuando em bandas Mas o pianista, hoje com 33 anos, não
de baile, sem jamais abandonar os estudos somente leciona, mas mantém forte atuação

Giovanni Sagaz: longe da surdez generalizada

6 / setembro 2014 teclas & afins


vOCE em teclas & afins
Conheça as publicações da
como músico em sua região, participando
de vários projetos de diferentes dimensões
SOM & ARTE
E D I T O R A
e formatos. Tendo a música instrumental
brasileira e estilos como choro, samba, bossa
e baião como prediletos, mantém o Quarteto INICIAÇÃO AO PIANO POPULAR
Sagaz e a banda Armação Instrumental, Volumes 1 e 2
projeto autoral com composições de LANÇ Inéditos na
AMEN
Ricardo Capraro, que acaba de gravar um TO área do piano
CD a ser lançado ainda este ano. Além disso, popular, são
livros dirigidos
acompanha vários artistas como Louise a adultos ou
Lucena, Fábio Campos, Giana Cervi e Barbara crianças que
Damásio, entre outros. Em se tratando de queiram iniciar
seus estudos de
carreira-solo, Sagaz recentemente finalizou
piano de forma
seu primeiro trabalho, denominado 150 Anos agradável e
de Ernesto Nazareth, com a gravação do DVD consistente.
Giovanni Sagaz Interpreta Ernesto Nazareth,
realizada no Teatro Municipal de Itajaí. “O MÉTODO DE ARRANJO PARA
Festival de Música de Itajaí, que está em sua PIANO POPULAR
17ª edição e acontece em setembro, vem Volumes 1, 2 e 3
impulsionando cada vez mais a produção
Ensinam o aluno
musical de qualidade na cidade. Depois de a criar seus
seu surgimento, veio a faculdade de música próprios arranjos.
na Univali, o Conservatório de Música de
Itajaí e eventos como Jam Sessions, shows
instrumentais no Teatro Municipal e outros”,
acredita o músico.
Nesse ambiente fértil, Sagaz alerta para o
atual estágio do ensino de música no País:
“para as novas gerações, eu falo: aprendam REPERTÓRIO PARA PIANO
música ouvindo! Eduquem os ouvidos, pois é POPULAR
alarmante a surdez proliferada na educação Volumes 1, 2 e 3
musical brasileira hoje. Até mesmo a
educação de música erudita está totalmente Trazem 14
surda”, afirma. arranjos prontos
em cada
volume para
desenvolvimento

NA REDE da leitura das


duas claves (Sol e
Fá) e análise dos
arranjos.

Visite nosso site para conhecer melhor


os 3 Métodos e os 3 Repertórios

www.editorasomearte.com.br
teclas & afins Contato: rosana@editorasomearte.com.br
setembro 2014 / 7
INTERFACE

DREAM THEATER NO BRASIL


Com teclados a cargo do virtuose Jordan metal progressivo mundial, aclamados
Rudess, a banda americana Dream Theater pela crítica e pelo público por sua enorme
desembarca no Brasil para uma série de habilidade instrumental, os integrantes do
shows que se inicia em Porto Alegre (Pepsi On Dream Theater costumam presentear suas
Stage, 30 de setembro), segue para Curitiba plateias com shows inesquecíveis, e por
(Master Hall, 2 de outubro), chega a São vezes enormes, chegando a tocar por mais
Paulo (Espaço das Américas, 4 de outubro) de 4 horas ininterruptamente.
e Rio de Janeiro (Vivo Rio, 5 de outubro), e Às vésperas de sua visita por aqui, a banda
segue por Brasília (Net Live, 7 de outubro), anuncia o lançamento de mais um DVD, de
Olinda (Chevrolet Hall, 10 de outubro) e nome Breaking The Fourth Wall (Live From The
Fortaleza (Siará Hall, 11 de outubro). A Boston Opera House). O vídeo deve chegar às
turnê mundial Along For The Ride Tour é lojas em 30 de setembro, data do início da
baseada no mais recente álbum de inéditas turnê no Brasil, em três formatos (Blu-ray,
da banda, laçado em 2013. Expoentes do DVD duplo e Blu-Ray + CD triplo).

Dream Theater: turnê mundial passa pelo Brasil

8 / setembro 2014 teclas & afins


INTERFACE

Projeto conjunto
Às vésperas do lançamento de seu mais
recente álbum, Infinito, o tecladista
e compositor Corciolli percorre o
Brasil apresentando pocket shows
patrocinados pela Yamaha, tradicional
fabricante de instrumentos musicais. O
público de São Paulo terá oportunidade
de conferir as apresentações durante o
período da Expomusic, em setembro,
quando a empresa levará o projeto
a quatro shoppings da cidade –
Shopping D (18), Shopping Light (19),
Top Center (20) e Boulevard Tatuapé
(21) - como parte dos espaços Play
Now, que disponibilizam teclados,
Clavinovas, guitarras, contrabaixos e
baterias eletrônicas para “degustação”
do público.

INSCRIÇÕES ABERTAS
Começa no dia 1º de setembro o período de inscrições para
o Concurso Nacional de Piano Arnaldo Estrella, que, este ano,
chega à sua décima oitava edição. O evento, promovido pelo
Centro Cultural Pró-Música/UFJF, acontece entre os dias 24 e
26 de outubro e mantém os objetivos de incentivar e apoiar
aqueles que se dedicam ao estudo do instrumento, além de
descobrir e premiar novos talentos. No total, serão destinados
R$ 6,5 mil em prêmios. Podem concorrer pianistas de todo o
Brasil e os candidatos serão divididos por faixa etária em duas
categorias, até 21 anos e até 35 anos. Para participar, os músicos
deverão seguir o programa estabelecido pela organização
do concurso. O desempenho dos candidatos será avaliado
por uma comissão julgadora constituída por, no mínimo, três
jurados, e a avaliação será feita em duas etapas, a primeira,
eliminatória. Os interessados devem realizar as inscrições, que
tem taxa de R$ 50,00, pelo site do Centro Cultural Pró-Música.

teclas & afins setembro 2014 / 9


interface

VII ENCONTRO INTERNACIONAL DE PIANISTAS


De 8 a 11 de outubro, o Conservatório de Tatuí sedia a sétima edição do Encontro
Internacional de Pianistas. O evento integra a programação especial em comemoração aos
60 anos do Conservatório de Tatuí, celebrados em 2014. Reunindo atividades artísticas e
pedagógicas, o evento receberá artistas de destaque internacional. Os concertos são abertos
a qualquer interessado, mas para participar das palestras, workshops e masterclasses é
preciso inscrever-se antecipadamente. Para esta edição do evento, estão confirmadas as
participações dos artistas Beatrice Berthold (Pontificia Universidad Católica - Santiago
Chile), Fábio Luz (Escola Superior “Città della Musica e del Teatro” - Penne /Fondation Franz
Liszt), Sergio Gallo (Georgia State University – Atlanta), Nahim Marun (Unesp), Eudóxia de
Barros (CBM), André Rangel (Unesp), Antonio Vaz Lemes, Renato Figueiredo (EMSP), Scheilla
Glaser (EMSP e Emesp), Mauricy Martin (Unicamp), Luciana Noda (UFPB) e Paulo Henrique
Almeida. Também participam Sérgio Molina (palestrante),
George Boyd e Míriam Braga (workshops). As inscrições
podem ser realizadas até o dia 26 de setembro para a
modalidade executante e até 3 de outubro na modalidade
ouvinte. Mais informações podem ser obtidas clicando no
logo do Conservatório, ao lado.

10 / setembro 2014 teclas & afins


programação sujeita a alterações
Temporada 2014: o melhor do jazz
e da música clássica na Sala São Paulo

Faça sua assinatura e garanta seus lugares


no segundo semestre da temporada!
Richard Galliano
Al Di Meola

Próximo espetáculo
Patrick Zimmerli
e Sonia Rubinsky com
TUCCA Filarmonia
10/09 15/10 25/11

Vendas (11) 2344-1051 | ingressos@tucca.org.br | www.tucca.org.br

100% do valor dos ingressos é revertido para o tratamento


multidisciplinar de crianças e adolescentes carentes com câncer
assistidos pela TUCCA, em parceria com o Hospital Santa Marcelina.

PATROCÍNIO

APOIO REALIZAÇÃO
Retrato

@Ana Dourado

Hércules Gomes:
ritmos brasileiros e
técnica apurada
12 / setembro 2014 teclas & afins
retrato

Energia e técnica
Dono de técnica invejável e sensibilidade transbordante,
Hércules Gomes surge como o mais novo representante
da musicalidade brasileira nas teclas
A descoberta de novos talentos brasileiros foi to e, posteriormente, ingressou no curso de
uma das novidades do Festival MIMO deste Música Popular na Universidade Estadual de
ano. O Prêmio Mimo Instrumental tem o Campinas (UNICAMP), onde se formou bacha-
objetivo de valorizar jovens instrumentistas rel, tendo estudado com os professores Paulo
de todas as regiões do Brasil, incentivando Braga, Hilton Valente (Gogô) e Sílvio Baroni.
a inovação no campo da composição, da Teclas & Afins conversou com o músico
técnica e da estética musical. Os quatro sobre a importância do Prêmio Mimo
melhores classificados foram o pianista Instrumental e traz a história e os conceitos
capixaba Hercules Gomes, o trombonista do aclamado pianista.
paulista Jorginho Neto, o grupo carioca
Quarteto de Clarinetas Ômega e a Coutto Qual a importância do Festival MIMO e de
Orchestra, de Sergipe. Além de um prêmio festivais como esse para a carreira de um
em dinheiro, os ganhadores entraram na músico?
programação oficial do festival, que ocorre São muito importantes. Os concursos, apesar
em diversas cidades simultaneamente. Entre de não serem a melhor forma de avaliação
esses talentos, destaca-se o Gomes, que, de um músico, são fundamentais para o
depois do lançamento do álbum Pianismo, desenvolvimento do artista, porque ele se
já figurava entre as grandes novidades da prepara para participar, é um incentivo para
música instrumental brasileira. ele se aperfeiçoar. E sem dúvida alguma
Em seu primeiro trabalho solo, o pianista isso revela novos talentos. Mas ainda são
capixaba já demonstra suas fortes influências muito poucos festivais no Brasil. O mais
de ritmos brasileiros, jazz e da música erudi- importante dos últimos tempos foi o Prêmio
ta, aliadas a uma técnica refinada, traduzindo Visa, que revelou músicos como André
ao piano seu universo sonoro. Com seis com- Mehmari, Monica Salmaso, Yamandu Costa
posições próprias e seis arranjos para músicas e tantos outros, que talvez hoje não fossem
de compositores como Edu Lobo, Hermeto tão conhecidos. Acredito que o Prêmio
Pascoal e Ernesto Nazareth, o álbum traz foto- deu um grande impulso à carreira deles.
grafias panorâmicas do piano brasileiro. Atualmente não temos tantos prêmios,
Natural de Vitória, no Espírito Santo, Gomes, e nem tão significativos. Temos alguns
hoje com 34 anos, iniciou seus estudos aos 13 menores, mas que não duram tanto. Talvez o
como autodidata e, pouco tempo depois, já to- que mais tenha durado tenha sido o Prêmio
cava em bandas do cenário musical capixaba. Nabor Pires de Camargo, de que participei
Estudou na Escola de Música do Espírito San- e tive a felicidade de ganhar, em 2012. Mas

teclas & afins setembro 2014 / 13


retrato

tradicionalmente é um prêmio de choro, mas que eu estava fazendo o meu som, original,
está indo para a décima-quarta edição. Para e as pessoas estão gostando. Aí sim eu
música erudita, até existem mais concursos, decidi gravar. Na verdade era um projeto
mas para a música popular, principalmente que eu tinha há dez anos. Eu fiz com muito
a música instrumental, existe uma carência carinho, muito capricho e acredito que por
muito grande. isso tenha tido uma aceitação tão boa de
Sua carreira deslanchou a partir de público e de crítica
quando? Você sofreu muitas influências de ritmos
A partir de 2013, com o CD Pianismo. brasileiros. Como isso ocorreu e como
Acredito que ter vencido o concurso Nabor construiu seu estilo?
me deu esse impulso de que eu falei. Me Sempre gostei muito de ritmos brasileiros,
deu um pouco mais de coragem de fazer o os tradicionais. Adquiri isso na vida mesmo.
disco. Sempre fiz arranjos para piano e tive Comecei tocando em bandas de baile, de
ligação com a música instrumental, desde a sertanejo, mas sempre tive essa relação com
adolescência. Desde a época da faculdade a música instrumental e MPB. Nunca perdi
eu fazia recitais de piano-solo e sempre isso. Sempre ouvi muita música brasileira.
gostei muito. Mas sempre ficava com o pé Jazz também, mas principalmente música
atrás...”será que o pessoal está gostando?” brasileira. E eu comecei a agregar essas
Depois que ganhei o prêmio Nabor, percebi coisas no meu jeito de tocar piano. Antes de

Pianismo: popular com refinamento

14 / setembro 2014 teclas & afins


retrato
@ Dani Gurgel

Hércules Gomes: CD e Festival alavancam a carreira

entrar na faculdade, eu tocava mais teclado. a música clássica e adaptado para a música
Fui ter o meu primero piano apenas com 21 popular e o jazz. É algo que tem muita
anos. Eu entrei no cruso de música popular ciência. Antes dessa concepção de piano
na UNICAMP e depois de um ano e meio que temos hoje, já aconteceu muita coisa.
de curso, eu queria aperfeiçoar a tecnica, Tecnicamente, não há nada que não tenha
porque eu nunca tinha estudado piano. sido explorado antes. O jazz é algo que
Lá eu conheci uma pessoa muito especial, ifluenciou todas as culturas do mundo, mas
o Silvio Baroni, que foi quem me ensinou o ensino atual às vezes dá muita ênfase à
a tocar. Mas ele era professor de música improvisação, à criatividade, à harmonia,
erudita. Quand comecei a fazer aulas com e se esquece do instrumentista. Não dá
ele, descobri um universo fantástico. Me para ensinar alguém a improvisar antes
apaixonei tanto pela coisa que tranquei a de ter um pianista. Muitas vezes o músico
faculdade de música popular e comecei a tem talento,, mas sem a ferramenta, sem o
fazer só piano clássico, de tão fascinado que conhecimento, ele atinge um determinado
fiquei. Foi a época em que eu mais estudei nível, por mais alto que seja, que poderia
na minha vida. Foi um período muito curto, ser muito maior. Estudar piano clássico para
de apenas três anos, mas muito intenso. mim foi um divisor de águas. Eu comecei a
Depois disso não consegui enxergar mais aplicar essa ferramenta, que adquiri nessa
o piano da mesma forma. Não é possível época, à música popular. E acredito que
tocar do mesmo jeito depois de conhecer isso foi fundamental na construção desse
Liszt, Chopin, Beethoven, Debussy...O meu estilo e fez toda a diferença.
piano foi um instrumento inventado para Quais foram os pianistas que te

teclas & afins setembro 2014 / 15


retrato

influenciaram? exatamente nem uma coisa nem outra.


Sempre gostei muito de Cesar Acredito que o melhor termo para música
Camargo   Mariano e, depois, Egberto clássica seria música escrita. E para a
Gismonti. Tirava as coisas de ouvido. Isso música popular, música improvisada.
me ajudou muito em relação à percepção. Música escrita no conceito de ter que
E é algo importante para o músico popular. tocar aquelas notas. Não que não exija
Depois que comecei a fazer aulas de criatividade, exige muita. Mas você não vai
erudito, descobri o Horowitz. E foi aí que alterar nada, é uma obra. E música popular,
eu descobri o potencial do piano, o que o no sentido de improvisada, mas não de ter
piano é capaz de fazer. Acredito que eu tema e improviso ou improviso free, mas
encontrei meu jeito de ter um pouco do possibilidade de criação. A música é assim
Cesar, um pouco do Gismonti, um pouco do mas você pode mudar muita coisa. O disco
Keith Jarrett, um pouco do Chick Corea, de tem um pouco das duas coisas, Eu diria que
Bill Evans e, ao mesmo tempo, um pouco ele é 70 por cento escrito, apesar de ter
do Horowitz e da Martha Argerich. composições e arranjos. Inclusive alguns
O Pianismo traz isso? solos no disco são escritos. Em algumas
Sim. Ele tem um pouco das duas coisas. músicas, há improviso, nessa concepção do
Eu encontrei um meio termo para que jazz, de apresentação de tema, improviso,
eu pudesse me satisfazer, não sendo reapresentação etc.

@ Dani Gurgel
@ Dani Gurgel

Técnica apurada: ferramenta da musicalidade

16 / setembro 2014 teclas & afins


retrato

@ Dani Gurgel
NA REDE

teclas & afins setembro 2014 / 17


VITRINE Toque nos produtos para acessar vídeos, informações e muito mais!

Moog Music Sub 37


Metasonica - www.metasonica.com.br

O Sub 37 é um sintetizador de edição limitada, baseado no premiado Sub Phatty.


Pode ser utilizado em modo monofônico ou em “Duo-Paraphonic”, em que
dois osciladores podem ser executados de forma independente. Conta ainda
com arpegiador e Step-Sequencer programáveis e sincronizáveis, mandadas
independentes de modulação, 256 presets,geradores de envoltória DAHDSR e 37
teclas sensíveis ao toque e com aftertouch. A edição limitada vem com a assinatura
de Bob Moog no painel e lateral com acabamento em madeira.

Medeli A800
Equipo - www.equipo.com.br

O teclado arranjador A800, da Medeli, possui 61 teclas com touch response (cinco
oitavas), 583 vozes, 230 estilos, cinco estilos externos, 120 songs, cinco músicas demo e
polifonia de 64 notas. Entre as funções e recursos disponíveis, destacam-se One Touch
Setting, Perform, Freeze,
Metro, Dual, Sustain, Lower,
DSP, Harmony, Synth, Free
Solo, Mixer, Modulation e
Pitch Bend. O conjunto de
conexões oferece Phones,
Aux In, Aux Out, Sustain,
Volume, MIDI In-Out-Thru,
USB Port, USB Device
Terminal. Como bônus, o
equipamento ainda traz
funções de exercícios e
dicionário de acordes.

18 / setembro 2014 teclas & afins


VITRINE

Fritz Dobbert FD110


Fritz Dobbert - www.piano.com.br

Unindo sonoridade encorpada, toque preciso e dimensões ideais para pequenos


ambientes - 110 cm de altura, 148 cm de largura e 57 cm de profundidade - o FD110, da
Fritz Dobbert, é um dos mais compactos pianos do mercado. O modelo oferece teclado e
mecanismo produzidos e regulados sob rigoroso controle de qualidade, proporcionando
toque preciso e balanceado, além de tábua harmônica de madeira de pinho maciço e
estrutura reforçada. A presença de console e rodízios facilita a movimentação do FD110,
produzido em série nos acabamentos Café, Preto, Imbuia, Nogueira e Branco, e com
acabamento personalizado sob encomenda. A Fritz Dobbert oferece 5 anos de garantia
para o FD110 e banqueta regulável.

teclas & afins setembro 2014 / 19


VITRINE

Moog Music Theremini


Metasonica - www.metasonica.com.br
O Theremini é o Theremin da Moog. O som é derivado do Animoog, o
sintetizador virtual da marca. A quantização de nota permite que o músico
ajuste o nível de dificuldade de acordo com sua experiência. Na posição
máxima, o Theremini tocará perfeitamente uma escala selecionada,
fazendo que seja impossível tocar uma nota errada. Na medida em que a
função é reduzida, maior controle da nota e do vibrato são conseguidas.
Com o controle no mínimo, o Theremini se comporta como um Theremin
tradicional. O equipamento conta com afinador embutido e oferece alto-
falante embutido, saídas de headphone e efeito delay.

Música Eletrônica -
Uma Introdução Ilustrada
Eloy F. Frtisch
Editora da UFRGS
O livro de Eloy F. Fritsch, professor do Instituto de Artes
e Coordenador do Centro de Música Eletrônica da
UFRGS (e colaborador de Teclas & Afins)- cuja primeira
edição estava esgotada desde 2010 - tem agora a
segunda edição, revisada. Esta tiragem conta com a
inclusão de textos no capítulo sobre composição de
música eletrônica e a disponibiliza um site com os
exemplos do livro atualizados para a linguagem
Max 6. O leitor pode baixar os exemplos e ouvir os
resultados de cada um dos programas musicais. Com
esta novidade, os interessados pelo assunto poderão praticar
e estudar com os exemplos do livro em seu próprio computador. O livro
está disponível no site da Editora da UFRGS. (NC)

20 / setembro 2014 teclas & afins


VITRINE

Workshop De Musica Brasileira


Antonio Adolfo
Irmãos Vitale
Preço sugerido: R$ 65,99

No intuito de prover o mercado de métodos e didáticas de


ensino que aliassem a linguagem popular ao conhecimento
erudito, Antonio Adolfo lançou este livro tendo como foco
alguns dos estilos musicais mais representativos da música
brasileira, como samba, bossa nova, samba funk, partido
alto, choro, samba canção, baião, toada, quadrilha, xote,
maracatu, afoxé e frevo. Ampliando o conhecimento
do músico mediano, o autor faz uma abordagem
desses estilos, discorrendo sobre características gerais,
harmonia, ritmo, levadas, fraseado, ornamentação, considerações
melódicas e estilísticas, bom como outras dicas para compreender melhor
a música brasileira. As explicações são acompanhadas de exemplos gravados em
CD. O livro também atende bem aos que gostam de criar seus próprios estilos
em teclados arranjadores, trazendo os padrões rítmicos fundamentais de cada
instrumento de percussão dentro de cada estilo. (NC)

teclas & afins setembro 2014 / 21


VITRINE

Projeto
Deisy Araújo
Independente
O disco de estreia da pianista e compositora Deisy
Araujo traz 10 faixas instrumentais, a maioria
composta, arranjada e produzida por ela.
Trafegando pelo “jazz brasileiro” – com influências
claras de choro, bossa nova, samba e até mesmo
black music-, o álbum tem bons momentos, como
“Navegando”, de Marcelo Góes, e “A-son”, em que
o domínio da técnica do instrumento e do estilo
proposto fica evidente. Bebendo da fonte em que se saciaram
vários de seus contemporâneos, Daisy mostra que está no caminho certo
e que sua maturidade como compositora e intérprete não tardará a chegar.
Provas disso são as faixas “Pensamento”, “Variações” e “Projeto”. Algumas faixas
podem ser ouvidas no SoundCloud e o disco pode ser adquirido aqui. (NC)

Maximalista
André Frateschi
Tratore
Primeiro trabalho autoral de André Frateschi,
Maximalista é um CD duplo com 15 faixas
autorais. Produzido no estúdio Doze Dólares,
por Fábio Pinczowski e Mauro Motoki, que
também se apresentam no teclado e na guitarra
respectivamente, Maximalista conta ainda com
André Abujamra (Karnak) nas guitarras; Loco
Sosa (Agridoce) e Luis Andre Gigante na bateria,
Dudinha Lima (Lobão) e Zé Mazzei (Forgotten Boys)
no baixo. O álbum traz a participação do pianista Mike Garson
(David Bowie, Nine Inch Nails e Smashing Pumpkins) em seis faixas;
“Tudo vai dar Tempo”, “Eu Não Tenho Saco”, “Gosto da Raiva”, “Isso é Coisa pra
Homem”, “É Tudo Nosso” e “Queda”. Fora isso, compôs e gravou especialmente
para André Frateschi “Soul Searching”, que fecha o disco. Alternando boas
canções com momentos mais performáticos (herança dos trabalhos baseados
em David Bowie?), Frateschi mostra-se um compositor antenado com a
metrópole em que vive (São Paulo), misturando referências à sua própria
história e ironias à vida na grande cidade. (NC)

22 / setembro 2014 teclas & afins


LP-180 WH

Apresentando um senso de qualidade que excede sua


classe, este elegante piano digital apresenta um som
rico e belo, tampa protetora, suporte em peça única e
unidade de três pedais.
LP-180 BK

O teclado Natural Weighted Hammer Action (NH) Design elegante e estiloso, o LP-180 possui apenas
reproduz fielmente o toque e a pegada de um piano 27 centímetros de profundidade, permitindo que seja
acústico. posicionado em vários locais.

Dez diferentes sons de alta qualidade, além de Tampa protetora para as teclas - o primeiro nesta
efeitos de Chorus e Reverb. categoria de pianos KORG® a oferecer esse recurso.

Unidade de três pedais, indispensável para Dois conectores para fones de ouvido para prática
performances de piano clássico. silenciosa ou aulas.

Faça parte da rede social da Assista aos vídeos de produtos e


KORG Brasil no facebook: inscreva-se em nosso canal no youtube
facebook.com/KorgBrasil youtube.com/KorgBR

Para informações técnicas e revendas autorizadas acesse:

www.korg.com.br
teclas & afins setembro 2014 / 23
REVIEW Por alexandre porto

KORG Pa300
Novidade no mercado de teclados arranjadores profissionais,
o Pa300 da Korg oferece ótimos timbres e estilos, além de uma
ampla gama de recursos

24 / setembro 2014 teclas & afins


REVIEW

Os teclados arranjadores gozam de enorme Primeiras impressões


popularidade tanto junto ao público iniciante O layout do Pa300 é sóbrio e simples. Sem
quanto aos hobistas. Para esses, há uma muitas firulas, é eficiente. Seguindo o padrão
grande oferta de modelos no mercado, de da linha, o painel e o acesso aos recursos
marcas mais ou menos conhecidas com maior estão centralizados à frente do músico, entre
ou menor reputação. Quando se trata, no os dois alto-falantes. A disposição dos botões,
entanto, de teclados de qualidade profissional, separados por funções, é confortável e de
poucas são as opções que reúnem recursos de fácil entendimento. O display de 5 polegadas
ponta a preço honesto. Com o lançamento do sensível ao toque permite acesso a uma
Pa300, a Korg oferece, tanto aos profissionais grande variedade de controles na tela.
quanto aos amadores mais exigentes, um O teclado possui 61 teclas (5 oitavas) do tipo
equipamento capaz de oferecer timbres e sintetizador com sensibilidade ao toque.
estilos de qualidade, facilidade de operação e Preciso, sem jogo lateral, é silencioso no
recursos avançados, além de possibilidade de mecanismo. O joystick posicionado ao lado
atualização. esquerdo do teclado substitui as tradicionais

teclas & afins setembro 2014 / 25


REVIEW

rodas de pitch bend e modulação por um executados ainda quatro timbres no teclado
controle único. Além desses dois efeitos, mais além de quatro PADs. No modo Song Play,
um recurso pode ser atribuído a esse controle, podem ser reproduzidos arquivos nos
a escolha do usuário. formatos SMF (Standard MIDI Files), KAR ou
A seção PAD oferece quatro botões de mp3. O músico ainda pode tocar no teclado
acionamento e um de parada. Cada um utilizando até quatro timbres, além dos
deles pode disparar a reprodução simultânea quatro PADs. No modo Sequencer, o músico
de sons ou sequências, sincronizadas com pode gravar, editar ou reproduzir músicas no
os estilos. Dependendo dos ajustes, cada formato SMF. Além disso, a função Backing
reprodução pode continuar em loop e ser Sequence permite gravar uma nova Song,
interrompida mediante o acionamento do baseada nas pistas dos estilos disponíveis no
botão correspondente ou todas podem teclado, e salvá-la como SMF.
ser interrompidas ao mesmo tempo pelo
acionamento do botão Stop. Timbres
Dois knobs rotativos estão posicionados do A quantidade de timbres disponíveis no equi-
lado esquerdo do painel: o controle de volume pamento é enorme (mais de 950, além de 64
geral e o controle de balanço entre o volume do drum kits), mas o que chama a tenção é a quali-
teclado do instrumento (Keyboard) em relação dade deles. Os timbres reproduzidos pela tec-
às pistas de acompanhamento, de songs ou nologia Enhanced RX realmente impressio-
dos pads. Isso permite ação rápida do músico nam pela fidelidade e clareza, principalmente
quando necessário alterar essa relação, seja em em se tratando de um teclado desse seg-
trocas de timbres ou de estilos ou songs. mento e o irmão caçula da linha. Os timbres
O equipamento funciona em três modos acústicos, como piano, violão, cordas, metais
diferentes: Style Play, Song Play e Sequencer. etc, respondem com profundidade e uma boa
O primeiro é o modo padrão dos teclados gama de harmônicos. Por conta da utilização
arranjadores, em que um estilo é de samplers como base para a geração dos
selecionado e reproduzido. No sons, é necessário – como em todo
Pa300, os estilos possuem equipamento que tem
até oito pistas de essa tecnologia
acompanhamentos como funda-
automáticos e mento - prestar
podem ser atenção à tessitu-
ra dos instrumen-
tos a fim de explorar
o melhor que cada
timbre pode oferecer.
Independentemente dis-
so, há uma coleção de boas
sonoridades, que atendem a
diversas aplicações de pratica-
mente todos os estilos musicais.
Essa qualidade também garan-
te que o teclado seja utilizado por

26 / setembro 2014 teclas & afins


REVIEW

músicos em bandas, sem os ritmos automáti- se mesmo em exercícios mais criativos.


cos. Para isso também colabora o recurso de Para armazenamento de todo o conjunto
edição de timbres (Sound Edit) com o qual o de timbres, efeitos e configurações, estão
músico pode alterar os parâmetros ofereci- disponíveis 240 alocações de memória
dos de modo a criar seus próprios timbres ou chamadas Performances, divididas em bancos.
customizar os existentes de acordo com seu
gosto ou sua necessidade, desde o número Estilos
de osciladores até os efeitos aplicados. Quem busca por um teclado arranjador de
Ajustes de envelope (Attack, Decay, Release), qualidade profissional quer ter à disposição
filtros (CutOff e Resonance) e modulação acompanhamentos automáticos realistas
(LFO) estão disponíveis. Também é possível e com riqueza de detalhes, a fim de tornar
configurar o timbre para monofônico ou o resultado sonoro menos previsível e
polifônico e usar o recurso Legato. Com um monótono. O Pa300 atende a esses requisitos
pouco de conhecimento sobre síntese sonora, no que diz respeito aos estilos. São 310 pré-
é muito fácil criar sonoridades que vão desde carregados de fábrica, cada um com três
sintetizadores analógicos vintage a naipes introduções, três finalizações, quatro variações
de cordas e metais. Para armazenamento dos e quatro Fill In/Break, construídos sobre oito
sons de usuário, 256 alocações de memória pistas. Cada estilo possui seu próprio conjunto
estão disponíveis, além de 128 para drum kits. de sons, efeitos e configurações, que podem
Nos modos Style e Song, o Pa300 permite ser utilizados pelo tecladista acionando os
que até três timbres sejam utilizados em botões STS. O músico também tem a opção de
camadas para a região da mão direita, além salvar seus próprios ajustes com cada ritmo. Um
de outro para a mão esquerda. Junto ao grupo de quatro PADs distintos também está
recurso de edição, essa possibilidade eleva a disponível. Para customização, é possível alterar
customização de sonoridades a um patamar individualmente o volume de cada elemento
ainda mais alto. Quatro processadores de do acompanhamento ou desligar pistas. Desse
efeitos master, com 125 tipos de efeitos modo, mesmo nos estilos mais simples, é fácil
disponíveis (incluindo Reverb, Delay, Chorus), criar variações interessantes de modo a imprimir
equalização de três bandas pra cada pista e maior realismo às performances. Esse realismo
equalizador paramétrico master de quatro é ressaltado por frases extremamente fieis
bandas permitem maior controle sobre a de instrumentos de difícil reprodução, como
sonoridade. A resposta aos ajustes realizados guitarras, por exemplo, existentes nos presets.
nesses recursos mostrou-se extremamente Criar os próprios estilos também não exige
eficiente, sendo fácil conseguir alterações muito esforço, além do conhecimento musical.
significativas com poucas modificações de Para armazenamento, mais de mil alocações
parâmetros. A qualidade sonora mantém- estão disponíveis. Isso também permite carregar

Painel traseiro: apenas as conexões fundamentais

teclas & afins setembro 2014 / 27


REVIEW

Painel frontal: profusão de controles e boa distribuição

estilos desenvolvidos e disponibilizados por entrada para pedal, uma saída de áudio e duas
outros músicos e pelo próprio fabricante. portas para conexão USB 2.0.
Com a utilização do Korg USB MIDI Driver, a
Songs porta USB Device pode ser usada para transferir
Ampliando as possibilidades de execução dados MIDI de e para um computador. Isso
de playbacks para o músico (além do permite utilizar o teclado como gerador de
acompanhamento automático), o Pa300 sons multitimbral respondendo a dados MIDI
oferece a função Song, que permite a provenientes de um software sequencer ou
reprodução de arquivos nos formatos utilizá-lo como controlador MIDI para fontes
Standard MIDI File (MID), Karaoke (KAR) e MP3. externas, por exemplo. A instalação do driver,
Dependendo do tipo de arquivo, é possível fornecido pelo fabricante, foi simples e rápida, e
visualizar a letra, as cifras ou, até mesmo, a seu uso não apresentou qualquer problema de
partitura da música na tela do equipamento. funcionamento. O uso de pen drives também
Isso facilita a atuação de tecladistas que foi simples, e o equipamento rapidamente teve
necessitem de apoio para a memória. A acesso às informações contidas neles.
função Songbook permite organizar um show, A entrada de pedal permite a utilização de
catalogando músicas e estilos juntamente apenas um acessório com função assinalável
com suas configurações. pelo usuário e calibração, além de definição de
Aumentando a capacidade de criação do polaridade, como configuração global. A lista
Pa300, é possível gravar SMF diretamente de utilizações é extensa e o pedal pode ser um
no equipamento, seja usando o sequencer auxiliar precioso durante as performances. A
incorporado, seja usando os estilos de saída de áudio serve tanto para amplificação
acompanhamento automático. quanto para fones de ouvido.

Conexões Conclusão
Nesse aspecto o Pa300 é básico, oferecendo O Pa300 se presta bem ao segmento de
apenas as conexões indispensáveis a seu mercado a que é destinado, oferecendo
funcionamento e ao uso dos recursos vários recursos encontrados somente em
disponíveis. Além de entrada de alimentação teclados de maior valor. Para estudantes,
(fonte externa), o equipamento oferece uma professores, hobbistas e profissionais, alia

28 / setembro 2014 teclas & afins


REVIEW

excelente qualidade sonora, tanto de timbres pode causar certos embaraços, principalmente
quanto de estilos, e funções que facilitam as se houver necessidade de troca entre uma e
performances ao vivo – como Songbook, STS, outra, ou uso conjunto de ambas, como em
Performances e PADs – em um equipamento gravações caseiras, por exemplo.
leve, portátil. A profusão de botões facilita O mesmo pode ocorrer em relação à conexão
o manuseio e, em conjunto à tela sensível do pedal. Por apenas uma ser oferecida, o
ao toque - que exibe grande quantidade de músico precisa escolher entre um footswitch
informações -, permite rápida alteração de que responde pelo sustain, por exemplo, e
parâmetros. um controle contínuo, para volume. Como a
Os alto-falantes embutidos respondem bem à maioria opta pelo sustain - e tendo em vista
amplificação de 13W por canal, sem distorções, o preço sugerido de venda ao consumidor e
devendo ser o modo preferível de uso do a relação custo-benefício do equipamento -,
equipamento. A saída de áudio compartilhada esses são detalhes que não comprometem o
para fones de ouvido e amplificação externa uso e a qualidade do mesmo.

KORG Pa300
Preço sugerido: R$ 3.999,00
Importador: Pride Music (www.korg.com.br)

PRÓS
• Mecanismo do teclado
• Timbres
• Realismo dos estilos
• Possibilidade de importar estilos
• Joystick para pitch bend
CONTRAS
• Conexão compartilhada para
• Conexões USB
fones de ouvido e saída de áudio
• Função Songbook
no painel traseiro
• Relação custo-benefício
• Uma única entrada para pedal

teclas & afins setembro 2014 / 29


materia de capa

@ Alex Sandro
Antonio Adolfo:
pluralidade e pioneirismo

30 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


NILTON CORAZZA

O mestre das
finas misturas
Mesclando elementos básicos de sua
formação, Antonio Adolfo é a síntese da
pluralidade da música brasileira

Filho de violinista da Orquestra Sinfônica Cinco, participando das sessões de jazz e


Municipal do Rio de Janeiro. Parece que o bossa nova do Beco das Garrafas. “Ali que me
destino do menino, só por essa razão, já havia interessei por jazz, com os colegas músicos.
sido traçado. Música, com certeza, teria parte Todos ouviam. E se tocava muito jazz”, afirma
importante em sua vida. Mas, apesar da forte o pianista. Nesse mesmo ano, escreveu
influência dos clássicos, o garoto queria mais. “3-D”, sua primeira composição , e formou
Antonio Adolfo Maurity Sabóia nasceu no Rio o Trio 3-D para encenar o musical Pobre
de Janeiro e, aos 6 anos, iniciou seus estudos de Menina Rica, de Vinicius de Moraes e Carlos
violino e teoria musical na Academia de Música Lyra. Ao mesmo tempo, com autorização
Lorenzo Fernandez, seguindo a tradição do juizado de menores, apresentava-se
familiar. Sua professora foi Paulina d’Ambrósio, acompanhando Leny Andrade.
a mesma de sua mãe. Logo Adolfo percebeu Essa mistura de influências – do erudito, do
que podia extrair mais de um piano. “Talvez jazz, da bossa nova e da música popular –
eu sentisse falta de um instrumento mais foi a base da identidade musical de Antonio
completo, com possibilidade de fazer solos, Adolfo, que como pianista, tecladista,
acompanhamentos, harmonias, arranjos”, compositor, arranjador e educador, atuou
lembra o músico. Os primeiros passos ao em diversos segmentos, desde teatro infantil
piano foram orientados pelo professor e adulto à televisão e ao cinema, em uma
Amyrton Vallim, que dava aulas de ouvido, trajetória de sucessos como “Teletema”, “Tema
mas chegou o momento em que percebeu Triste”, “Sá Marina”e “BR3”, participando, como
que deveria se desenvolver e se aprofundar: arranjador e músico de estúdio, da gravação
“eu queria estudar piano clássico por causa de discos de Elis Regina, Edu Lobo, Chico
da técnica. E minha mãe me recomendou, Buarque, Caetano Veloso, Nara Leão e Maria
achando que já estava na hora”. Já tocando Bethania, entre outros.
em festas, pequenos shows no colégio Essa pluralidade também rendeu frutos em
e na roda de amigos, Antonio Adolfo se outras áreas. Como produtor, é considerado
aperfeiçoou com Heitor Alimonda e Wilma o pioneiro da produção independente no
Graça. A carreira profissional teve início em Brasil, por causa do lançamento, em 1977,
1963, como pianista do conjunto Samba do LP Feito em Casa, primeiro de uma série

teclas & afins SETEMBRO 2014 / 31


materia de capa

realizada sob o selo Artezanal. Dedicando- Nos dá disciplina, algo de que a gente
se à música brasileira, lançou na década precisa, posição correta e técnica. Penetra-
de 1980 os discos Os Pianeiros - Antonio se em um repertório mais elaborado. Isso,
Adolfo Abraça Ernesto Nazareth e Viva complementado com a convivência com os
Chiquinha Gonzaga, entre outros. Em 1985, músicos da noite que tocam música popular
montou o Centro Musical Antonio Adolfo, e jazz, que improvisam, me trouxe o que
atuando nas funções de diretor, músico, eu realmente precisava. Eu ensino música
arranjador e professor. Paralelamente a popular, mas o aluno precisa aprender a
isso, publicou o “Livro do músico”, uma técnica correta e ler música. Isso é muito
série de três livros sobre piano e teclado, importante, porque senão ele fica um pouco
“Composição: o processo criativo brasileiro”“capenga”. É preciso ter uma formação maior.
e “Arranjo: um enfoque atual”. Para o Eu aplico elementos de música erudita nos
mercado internacional, produziu o vídeo próprios métodos que tenho, tanto de piano
didático “Secrets of Brazilian Music” e o quanto de harmonia.
livro com CD “Brazilian Music Workshop”. Como foram seus estudos com Guerra
Foi convidado então a ministrar cursos Peixe, Nadia Boulanger e Esther Scliar?
por todo o mundo, especialmente nos Foram voltados para composição e arranjo.
Estados Unidos onde vive atualmente, Com a Nadia Boulanger fiz o curso de harmonia
sobre nossa música. Diretamente de Nova e com a assistente dela eu fazia o curso de
York, e exclusivamente para Teclas & Afins, leitura de partitura de orquestra, a chamada
o pianista falou sobre música, misturas e score. Com Guerra peixe fiz composição. A
carreira. Esther Scliar ensinava elementos dos dois,
composição e arranjo. Tive uma formação
Qual a importância da música erudita e da bem sólida nesse aspecto.
convivência com os músicos da noite em Essa mistura de estilos não atrapalha o
sua formação? músico?
O erudito é uma didática que vem da Europa. De jeito algum. Uma coisa complementa a

O Piano de Antonio Adolfo e Rio, Choro, Jazz...: os mais recentes lançamentos do músico

32 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


materia de capa

@Paul Constantinides
Acompanhador, arranjador, sideman, maestro:
trajetória de sucesso com Zizi Possi
Antonio Adolfo: mistura fina de jazz, música popular e erudito

outra. Hoje os músicos são bem ecléticos violinista. E o Jacques era celista, só tocava
nesse sentido. Os músicos com mais música clássica. Há o Paulo Sérgio Santos,
formação são os mais competentes, os no clarinete. E tem quem faça as duas
que fazem coisas mais elaboradas, seja em coisas, como o Paulo Moura, que tocava de
jazz, música popular ou música erudita. dia nas orquestras sinfônicas e de noite nas
Mesmo que ele se dedique mais à música gafieiras e no Beco das Garrafas.
popular, tendo formação erudita ele sabe o Como vê o paralelo entre choro e ragtime,
que está fazendo de forma mais eficiente. bossa nova e jazz etc?
Ao mesmo tempo, os músicos eruditos A música americana, a brasileira e um pouco
tentam se aproximar da música popular. Há da caribenha, por exemplo, têm origens
muitos pianistas que tem tocado Ernesto muito próximas. A África com seu ritmo
Nazareth, que é um músico e compositor muito forte, a Europa com a música erudita.
popular. Não é erudito. Erudito é o que trata O Brasil e a América Hispânica também têm
com polifonia, com outras coisas. Ele tinha influência muito forte da Península Ibérica
formação erudita, mas foi um dos pioneiros e dos mouros que ficaram por lá por muitos
nisso de misturar o lundu com polca. Muitos anos. Foi a música europeia daquela época
dos músicos eruditos, trocam o erudito que invadiu o Brasil, seja na música erudita
pelo popular. O Jacques Morelenbaum, ou na popular. E o Brasil e os Estados Unidos
por exemplo. O pai dele era regente da têm muitas semelhanças, como Ernesto
orquestra sinfônica em que minha mãe era Nazareth e Scott Joplin. Há uma música de

teclas & afins SETEMBRO 2014 / 33


materia de capa

Antonio Adolfo e o piano: mais possibilidades que o violino

Ernesto Nazareth que gravei no disco Rio, Antonio Adolfo?


Choro, Jazz..., chamada “Não Caio Noutra”, O Piano de Antonio Adolfo é um disco
em que coloquei um estilo ragtime. Ela não que mistura o mestre Tom Jobim, música
é um ragtime, mas a construção, a forma americana como “All The Things You Are”,
de rondó, A-A-B-A-C-A que vem da polca, choros do K-ximbinho, do Pixinguinha e do
o formato europeu, também se usava em Jacob do Bandolim, Guinga. Não coloquei
ragtime. As influências eram de regiões Nazareth porque eu tinha acabado de gravar
próximas, não as mesmas, por isso há o Rio, Choro, Jazz... Minhas, tem “Teletema” e
diferenças. Quem imigrou para os Estados “Chora Baião”. É um disco de piano-solo para
Unidos foram escravos de outros locais, e a Deck (gravadora). Conheço o João Augusto
os europeus também foram outros. Mas há (jornalista e produtor, fundador da Deck) há
muitas semelhanças no jazz e na bossa nova muito anos. Ele já produziu discos em que
também. Os músicos brasileiros tiveram fiz arranjos. É um admirador da música
muita influência do jazz e fizeram uma nova que faço e também do piano. Tanto que
roupagem para a música brasileira que, comprou um piano para o estúdio. O João
assim como o jazz, conquistou o mundo. Augusto me disse: “Antonio, quero que você
Como surgiu a ideia do CD O Piano de faça um disco totalmente livre. Grave o que

34 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


materia de capa

quiser, mas acho importante que a palavra- Tom Jobim, que eu namorava também, mas
chave disso tudo seja ‘emoção’”. Eu achei nunca tinha gravado. Coloquei um pouco
maravilhoso. É a coisa que mais me cativa da minha contribuição ali como compositor,
quando toco. Quando se faz solo, você pode mexendo às vezes em uma nota ou outra,
se soltar mais, porque está conversando não só nessa, mas em outras faixas também.
consigo mesmo. Nesse CD, eu toquei Como a palavra chave era emoção, não quis
músicas que geralmente faço em solo. Nos fazer um disco de músicas muito rítmicas.
shows, há um momento solo, em que gosto Tem coisas mais rítmicas, claro, mas o que
de apresentar algo só de piano. A maioria domina é o lado mais introspectivo.
delas já toquei em shows e é de músicas que Você como compositor atuou no cinema,
remetem à minha carreira, principalmente na TV, em festivais, no teatro. Como é
durante os 15 últimos anos. Ou são músicas trabalhar para um determinado objetivo?
que não gravei anteriormente mas que Trabalhar para um objetivo específico não
achei que ficariam bem em piano-solo. deixa de ser uma motivação para criar. E
Há músicas que nunca toquei em show, tudo que seja uma motivação para criar é
como “Canção que Morre no Ar” do Carlos estimulante. Quando pediam para fazer
Lyra e Ronaldo Bôscoli. Me lembro que, música para cinema, como Sonho Sem
quando tinha 18 anos, aprendi essa música, Fim, por exemplo, daquela trilha, no fim,
que é lindíssima. Estava estudando com o houve uma música que consegui gravar
Amyrton Vallim. E tem “Radamés y Pelé”, de depois, o “Trem da Serra”. É preciso entrar

Antonio Adolfo, Carol Saboya (sua filha) e Claudio Spiewak: jazz latino e música brasileira

teclas & afins SETEMBRO 2014 / 35


materia de capa

Técnica apurada: herança do erudito

no universo daquele objetivo, seja cinema O fato de ter me dedicado ao ensino foi
teatro, o que for. Até mesmo um disco. muito influenciado pela admiração que
Às vezes, estou preparando um disco e tive pelos meus mestres. Não vou citar cada
penso: “está faltando uma música aqui, um, mas a a partir das aulas com Nadia
no estilo tal, para se encaixar”. Fiz isso no Boulanger, que me impressionou muito
O Piano de Antonio Adolfo. Nesse disco como mestra, comecei a me interessar a
também havia um objetivo: fazer um disco passar meus ensinamentos. Outro fato que
com minhas características todas, com me estimulou muito foi o não haver ainda,
piano-solo. Apesar de não ter composto quando comecei a lecionar, em 1975, uma
especificamente nenhuma música para didática competente para música popular,
esse disco, fiz os arranjos, que é uma em que fosse possível juntar os elementos de
forma de composição, de criação. Hoje em música erudita, de ensino mais tradicional,
dia, é difícil separar o que é arranjo e o com elementos do aprendizado do dia a dia
que é composição. O próprio Tom Jobim, que se tem quando é musico, quando atua
principalmente na última fase, em que ele
regeu, ele compôs muitas músicas que não
se sabe onde começa o arranjo e o que é
composição. Esses convites para compor
NA REDE
me estimulam muito. Gosto muito desses
desafios, não só para compor mas para
fazer arranjos também.
Falando em desafios, como decidiu seguir
a carreira pedagógica?

36 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


materia de capa

tocando. Isso me estimulou muito a dar Jobim. Mas não era uma música conhecida.
aulas. Mas começou a acontecer o seguinte: Estávamos desbravando um terreno, uma
as pessoas me procuravam e perguntavam: cultura, com a música brasileira. Tenho
“você tem algum professor de contrabaixo certeza de que se a Elis vivesse hoje, seria
para indicar? Tem algum professor de um estrondoso sucesso mundial. Naquela
bateria? Eu queria aprender flauta...” Então época ela não teve muito reconhecimento
pensei: “vou chamar meus colegas músicos internacional, como merecia. Desde que foi
para darem aula também, junto comigo”. E lançada a bossa nova, a música brasileira
foi se criando um núcleo que virou o Centro que vingou e que acontece aqui até hoje
Musical Antonio Adolfo, que tem sede no é a bossa nova, por incrível que pareça.
Rio de Janeiro. No exterior, nos workshops, Disso, 95% é Tom Jobim. O resto é muito
o ensino é dedicado à música brasileira. pouco. Os clubes de samba-jazz também
Com a internet, os músicos de todo mundo ainda formam um público muito pequeno
têm mais acesso à nossa música. Isso se fora do Brasil. É pequeno se comparado
traduz em mais facilidade para tocá-la? aos grandes mercados da música pop, mas
Sim. Na internet você encontra muitas é grande se comparado ao tipo de música
fontes de aprendizado. Quando toquei com que faço, um pouco mais elaborada, com
a Elis Regina na Europa, em 1968-1969, o essas características bem nossas, com
pessoal só conhecia “Aquarela do Brasil” e sabor de jazz. A mídia emitida por ondas
tinha ouvido falar de Sergio Mendes e Tom de frequência, rádio e TV, só abraça o que

Antonio Adolfo e Carol Saboya: musicalidade em família

teclas & afins SETEMBRO 2014 / 37


materia de capa

é muito popular, porque há uma luta muito


grande pela audiência. Mas a mídia escrita,
sempre deu mais força para músicos com
grande qualidade. E isso também ocorre
fora do Brasil. Aqui existem rádios que só
tocam jazz. E existem as paradas de jazz,
como as de outros estilos. Tenho sido muito
bem recebido pelas estações de rádio. Meus
discos mais recentes, Chora Baião, Finas
Misturas e o Rio Choro Jazz, todos entraram
entre os mais tocados nas estações de
jazz, que são rádios públicas, a maioria, ou
estações de Universidades. Essa é a diferença.
No Brasil, há a rádio pública também. Mas
aqui a quantidade é muito maior. Mas em
comparação ao bolo do mercado, ainda é
uma fatia muito pequena.
Com o Feito em Casa, você já estava
anunciando para o mercado o que iria
acontecer com as gravadoras e abriu o
caminho da música independente no
Brasil. Como vê isso?
É algo que se realizou muito bem. Hoje em
dia, 95 por cento dos títulos são lançados por
Emoção: combustível e objetivo
selos independentes ou de autoprodução.
É como faço: só produzo meus discos. A produção independente é uma grande
realidade. Em termos numéricos, passou
de longe os lançamentos das grandes
gravadoras. As majors atualmente têm
casts muito pequenos. Por exemplo, o João
Augusto (Deck), era independente e se
transformou em uma gravadora de médio
porte. Não digo grande porte porque de
grande porte são as multinacionais. Mas
ele tem um casting maior, de vários estilos
musicais. A produção independente vingou
bastante. Hoje em dia, com a internet, você
pode lançar uma música mesmo sem ter
um disco físico. Aquilo que existia de que
para uma música fazer sucesso tinha que
entrar numa novela, não é mais assim. Hoje,
às vezes, ela entra na novela porque está
Feito em Casa: pioneiro da produção independente fazendo sucesso na internet.

38 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


teclas & afins SETEMBRO 2014 / 39
SINTESE POR ELOY FRITSCH

Museu do Sintetizador
Criado em 2010, o Museu do Sintetizador não durou muito tempo
fisicamente, mas a energia empregada foi suficiente para que uma
equipe de profissionais e estudantes que trabalharam arduamente
no projeto produzissem a versão virtual

O Museu do Sintetizador foi criado para informações sobre a utilização de cada tipo de
a Exposição Música, Ciência e Tecnologia instrumento. O contato com os equipamentos
ocorrida de 9 de agosto a 5 de novembro possibilitou aos visitantes explorarem os re-
de 2010 no Museu da Universidade Federal cursos musicais e conhecerem mais a respei-
do Rio Grande do Sul em Porto Alegre. to de instrumentos modernos, compositores,
Com financiamento do CNPq e da própria músicos e repertório eletrônicos. No espaço,
Universidade, 6902 visitantes passaram por foram disponibilizados desde os primeiros
ele. Um variado acervo de sintetizadores sintetizadores portáteis comerciais, como o
foi reunido e apresentado ao público Synthi AKS e o Minimoog, até a estação musi-
permitindo aos interessados conhecer e cal de trabalho computadorizada Korg Oasys.
interagir com instrumentos eletrônicos Além dos destaques internacionais, foi
usados por expoentes da música moderna. criada a sessão Made in Brazil para exibir
As informações do acervo do Museu do sintetizadores e teclados eletrônicos
Sintetizador (MS) são ampliadas através fabricados por aqui pelas empresas Labolida,
do Museu Virtual do Sintetizador (MVS) – Giannini, Gambit e Tokai. Os visitantes foram
um portal para acesso remoto contendo convidados a explorar os recursos dos
informações multimídia sobre música sintetizadores para criar e modificar sons. A
eletroacústica e assuntos correlatos. audição individual foi realizada com fones
de ouvido e, para demonstrações, foram
Museu do Sintetizador utilizadas caixas amplificadas.
O projeto foi desenvolvido para ser uma Os mediadores auxiliaram na utilização dos
mostra interativa de instrumentos eletrôni- instrumentos, explicando o funcionamento
cos, com painéis fixados na parede contendo e quais as principais funções de cada item

@ Rafael Antunes do Canto

Vista aérea dos instrumentos expostos e visitantes no Museu do Sintetizador

40 / setembro 2014 teclas & afins


sintese

Espaço para audição de música criada com sintetizadores

do Museu. Conforme pode-se observar nas fones suspensos sobre os pufes. Desse modo,
imagens, os sintetizadores foram dispostos o visitante poderia apanhar o fone, deitar-se
em um retângulo sobre mesas e painéis foram no pufe e ouvir a música. As capas dos LPs
fixados informando a ficha técnica de cada correspondem a alguns dos álbuns ouvidos
um. Textos explicativos sobre o instrumento, pelos visitantes.
imagens de músicos que utilizaram o mesmo
modelo de instrumento e uma sugestão de
uso orientam o visitante sobre o uso.
No centro da sala, cercado por sintetizadores,
ficou exposto o Theremin. Esse instrumento
foi ligado para que os visitantes interagissem
com ele ao aproximar e distanciar as mãos das
antenas para produzir os sons.
Além dos sintetizadores expostos, foi
projetado um espaço para o visitante realizar
uma escuta intimista, aconchegante, por meio
de fones de ouvido. O espaço para audição de
música sintetizada foi constituído de pufes,
fones de ouvido, reprodutores mp4 e painel
composto por capas de álbuns clássicos do
repertório para sintetizadores.
Este espaço de audição teve a intenção de
ampliar o repertório musical dos visitantes. Os
pufes proporcionaram o conforto necessário
para uma audição mais prolongada e foram
muito disputados pelo público. Os players
mp4 foram preparados com mais de 12 horas
de música e acionados no início da abertura da
exposição para serem desligados somente no
final. Estavam acomodados em caixas com os Espaço para audição de música composta com sintetizadores.

teclas & afins setembro 2014 / 41


SINTESE

Museu Virtual do Sintetizador o conteúdo para organizá-lo e possibilitar a


O MVS é primeiro museu virtual sobre recuperação a partir da base de dados. Essa
sintetizadores do Brasil e pode ser acessado divisão em períodos foi realizada levando-
pelo endereço www.ufrgs.br/mvs. Já que o se em consideração critérios norteados por
custo para manter um museu físico aberto ao grandes avanços tecnológicos e musicais.
público seria muito elevado - e a possibilidade Foi criada, então, uma linha de tempo,
de tornar o projeto itinerante era remota para permitir que o usuário realize a busca
-, a solução foi criar o Museu Virtual. O MVS exploratória. Essa linha de tempo é o recurso
é um portal para acesso remoto contendo central do MVS e está dividida em sete
informações multimídia sobre música períodos, apresentando textos, imagens,
eletroacústica, música instrumental para arquivos de áudio e vídeos sobre a evolução
sintetizadores, músicos eletrônicos, história, da música eletrônica e da tecnologia, os
conceitos, tecnologias, sistemas, compositores, primeiros instrumentos eletrônicos, os
cientistas, inventores, instrumentos, exemplos avanços da ciência na música, composições
e a produção de composições eletroacústicas. realizadas com tecnologia eletrônica,
O sistema possibilita que o usuário navegue contribuições dos inventores, compositores
pelas páginas e explore o conteúdo e novos instrumentos.
multimídia da base de dados. Por causa do A linha de tempo é equivalente a um
grande volume de informação pesquisado, foi índice que inclui o ano, a descrição do
preciso desenvolver uma maneira de dividir acontecimento, um breve resumo e, quando

Janela principal do MVS e a linha do tempo (toque ou clique para acessar o site)

42 / setembro 2014 teclas & afins


sintese

for o caso, um link para o conteúdo no MVS.


Existe uma linha de tempo para cada período.
Quando o usuário clica sobre o evento, o
conteúdo correspondente surge na janela
abaixo da linha de tempo. O conteúdo do
site é volumoso e a busca exploratória pode
demorar. Mas, para pesquisas objetivas,
o usuário dispõe do recurso de busca por
caracteres. Essa busca direta no site pode
ser feita digitando a palavra desejada ou os
caracteres desejados, no campo de busca. O
mecanismo do MVS, desenvolvido em Java
Script, lista todos os itens da base de dados
que possuam os caracteres pesquisados.
Entre os vários recursos do MVS está a Rádio
Virtual CME ON-Line, elaborada em 2007 por
meio de projetos de ensino à distância. A
rádio foi incorporada ao MVS para divulgar
a produção de música eletroacústica,
experimental e computacional da UFRGS. A
inclusão das composições no formato mp3
é realizada pelo Centro de Música Eletrônica
da UFRGS (CME).
Por meio do Museu do Sintetizador foi
possível observar a expressiva quantidade
de pessoas interessadas no assunto e
Imagem do painel do Theremin e seu inventor, Leon Theremin
que estiveram presentes na exposição,
interagindo com recursos e buscando contribuam para ampliar o conhecimento
aprender sobre o tema. A continuidade da comunidade sobre o assunto. A partir
do trabalho está no Museu Virtual, cujo dessa experiência local, será possível criar
conteúdo multimídia e a informação na um modelo de exposição iti-nerante, que
língua portuguesa podem ser acessados leve o conhecimento artístico, científico e
livremente. Espera-se que essas iniciativas tecnológico para outras regiões do Brasil.

Catálogo Online
da Exposição

Eloy F. Fritsch
Tecladista do grupo de rock progressivo Apocalypse, compositor e
professor de música do Instituto de Artes da UFRGS onde coordena o Centro
de Música Eletrônica. Lançou 10 álbuns de música instrumental tocando
Janela da Radio CME on-line sintetizadores, realizou trilhas sonoras para cinema, teatro e televisão.

teclas & afins setembro 2014 / 43


mestres

© Lee Wilkinson

Rick Wakeman:
as mãos mais ágeis do
rock progressivo
44 / setembro 2014 teclas & afins
cristiano ribeiro

O mago dos
teclados
O auge da carreira-solo de Rick Wakeman pode ser
resumido em três álbuns que, juntamente ao seu
trabalho coma banda YES, fizeram dele um dos mais
conceituados tecladistas da história
Ícone das teclas, Rick Wakeman, indiscu- Wheel, além de atuar como músico de estúdio,
tivelmente, é um pioneiro no uso de teclados chegando a gravar ao lado de David Bowie.
eletrônicos, principalmente no rock progres- O grande trampolim em sua carreira aconteceu
sivo. Domina com maestria vários instrumen- em 1970, quando ingressou na banda The
tos de teclas, como sintetizadores, pianos, Strawbs. Foi um concerto do grupo no Queen
órgãos, clavinets etc, e acabou não tendo sua Elizabeth Hall, mais do que qualquer outro
figura vinculada a um ou outro: a imagem evento até aquele ponto, que chamou a
que o identifica é daquele cara cercado por atenção da mídia para Wakeman. O Melody
pilhas de teclados nos palcos. O Minimoog Maker (tradicional publicação sobre música
é o único equipamento que sempre esteve do Reino Unido) resumiu o que viu – e ouviu
presente no seu set, e que pode ser conside- - em sua manchete: “Superstar do Amanhã”.
rado seu grande parceiro. O The Strawbs cresceu em popularidade e o
tecladista despontou como músico tanto nos
História palcos quantos nos estúdios. Estima-se que
Nascido no dia 18 de maio de 1949 em já tenha participado de mais de 2 mil faixas
Londres, Inglaterra, Wakeman iniciou seus de diferentes artistas e bandas, como Black
estudos musicais com aulas particulares de Sabbath, Cat Stevens (“Morning Has Broken” é a
piano erudito em 1955. Esse período - e os mais lembrada), Mary Hopkins, Cilla Black, Clive
imediatamente posteriores, em que passou por Dunn, Elton John, Edison Lighthouse, David
várias escolas - foi decisivo para a construção Bowie, Lou Reed, Dana, Des O’Connor, Magna
de sua linguagem musical e sua técnica, Carta, Al Stewart, Ralph McTell, Butterscotch,
ambas baseadas na música clássica. Em 1968, Biddu e Harry Nilsson, entre outros.
ingressou na Royal College of Music e, no Em 1971, Wakeman participou de um
ano seguinte, iniciou sua carreira. A primeira segundo álbum com o The Strawbs, intitulado
banda que integrou foi a de Ronnie Smith e, no From The Witchwood. No mês de agosto
mesmo ano, se juntou à banda The Spinning desse ano, deixou a banda para se juntar

teclas & afins setembro 2014 / 45


mestres

© Lee Wilkinson
Journey to the Center of the Earth: nova turnê em 2014
ao YES, grupo que deixou e retornou por da gravadora em lançar um LP totalmente
quatro vezes. Excursionou pela América pela instrumental, o álbum foi um grande sucesso
primeira vez e participou do clássico álbum em todo o mundo. Ao lado do YES, lança
Fragile, considerado por muitos como um Yessongs e, no fim desse mesmo ano,
compêndio do rock progressivo. No final do Tales from Topographic Oceans, saindo em
ano, assinou contrato com a A & M Records excursão para divulgá-los.
e gravou “Catherine of Aragon”, a primeira
faixa de seu álbum de estreia, no Trident Journey to the Center of the Earth
Studios, em Londres. A base de “Catherine Provavelmente o ano mais importante na
of Aragon” foi originalmente escrita por ele carreira de Wakeman tenha sido 1974. Esse foi
para o Fragile com o nome de “Handle With o ano do lançamento de Journey to the Center
Care”. No ano seguinte, o músico grava com of the Earth (Viagem ao Centro da Terra). O
o YES o clássico Close to the Edge e a banda álbum foi gravado ao vivo, no segundo de
se estabelece no mundo inteiro como líder dois concertos realizados no dia 18 de janeiro,
do rock contemporâneo. Simultâneamente, no Royal Festival Hall, em Londres. O disco é
Wakeman continua as gravações de seu baseado no romance de ficção científica de
projeto, alternando períodos de estúdio com Jules Verne que conta a história do Professor
a banda, até que, em 1973, lança o álbum Lidenbrok, seu sobrinho Axel e o guia Hans,
The Six Wives of Henry VIII. Apesar da crítica que descobrem uma passagem para o centro
um tanto quanto indiferente, e muito receio da terra, anteriormente descoberta por

46 / setembro 2014 teclas & afins


mestres

Arne Saknussemm, um alquimista islandês.


A London Symphony Orchestra, o English
Chamber Choir e uma seleção de músicos
escolhidos que formaram a banda The English
Rock Ensemble, além do ator David Hemmings
como narrador, acompanham Wakeman na
empreitada. O disco todo foi gravado por um
estúdio móvel de 16 canais acomodado dentro
de um trailer. Wakeman queria que ambas
as apresentações fossem gravadas a fim de
escolher os melhores trechos, mas a London
Symphony Orchestra exigiu pagamento
dobrado se isso ocorresse. Wakeman, então,
tomou a “assustadora decisão de graver
apenas a segunda sessão com a esperança
de que não houvesse muitos erros. O álbum
recebeu críticas ambíguas. Parte o chamou Outros trabalhos
de “pastiche clássico”, “realmente terrível” e Durante a turnê, já em 1975, Wakeman
“exagero brutal de sintetizadores”, ao passo passou mal ao final de um show e foi
que outros consideraram que “a música internado após uma suspeita de um
surge magnificamente”, “um trabalho pequeno ataque cardíaco. No hospital por
impressionante que só ocasionalmente algumas semanas, escreveu o The Myths
cai em pretensão” e “divertido, fresco e and Legends of King Arthur and the Knights
despretensioso...esta poderia ser a trilha para of the Round Table (Mitos e Lendas do Rei
um musical de Hollywood: melodioso, mas Arthur e os Cavaleiros da Távola Redonda),
com tons épicos”. Atualmente, os críticos completando sua trilogia de grandes
são mais realistas, como frases como “uma sucessos. No ano seguinte, lançou No
das maiores conquistas do rock progressivo” Earthly Connection, também com o English
e “conglomerados interessantes da música Rock Ensemble, e a música para o filme
orquestral e sintetizadores”. O disco angariou White Rock. Ao auge do rock progressivo
um disco de ouro, uma nomeação para o seguiu-se um período turbulento. Wakeman
Grammy e um total de 14 milhões de cópias continuou realizando álbuns ainda de certa
vendidas em todo o mundo. A sequência repercussão como Rick Wakeman’s Criminal
do trabalho foi excursionar pelo mundo Record, Rhapsodies e MAYBE ‘80. Mas o
acompanhado de orquestras e corais locais. progressivo não chamava mais a atenção.
Apesar da enorme produção fonográfica
- participou de centenas de produções,
NA REDE nem mesmo ele sabendo ao certo quantos
álbuns produziu entre solo, trilhas e artistas
para quem gravou – os tempos de glória
se foram e Rick Wakeman é cultuado como
“gênio” e “detentor das mãos mais ágeis do
cenário musical”.

teclas & afins setembro 2014 / 47


mestres

“Journey to the Center of the Earth”


Solo Minimoog (4m25s)

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Setup de Rick Wakeman


em Journey to the Center of the Earth
Três Mellotrons
Dois Minimoogs
Grand piano
Órgão Hammond
Piano Rhodes
Piano elétrico RMI
Clavinet Hohner
Piano honky-tonky

48 / setembro 2014 teclas & afins


O Privia PX Pro-5S é ideal tanto para o palco
quanto para estúdios. Com timbres Morphing AiR,
sintetizador, teclado de quatro zonas, arpejador e
Phrase Sequencer, o PX-5S reúne piano digital
de sonoridade incomparável, poderoso teclado
controlador e sintetizador em um só equipamento.

www.casio.com.br
@BlueNoteComunicação
livre pensar POR ALEX SABA

Profanação!
Quem não consegue tocar os timbres exatos, nas formações
exatas, da forma exatamente igual aos dos originais, que se
permita tocar sua própria versão daquela música ou daquela
banda. Ouse, crie, permita-se... profane!

Outro dia, em uma loja de CDs (sim, elas ainda - tocar igual - e acredito que, por um lado,
existem) de um amigo, o assunto “bandas merece nota zero em criatividade. Na hora
cover”veio à tona. Ele, aprovando, e eu, com um de tocar algo de outra banda, o artista deve
pé atrás. Por sorte, ninguém estava tentando colocar o talento individual e o coletivo a
convencer o outro de nada, mas a conversa cai serviço da música e não da cópia. É legal fazer
bem para ser colocada aqui, afinal essa coluna coisas como um tributo a A, B ou C, mas fazer
é mesmo um livre pensar. Para estarmos em um tributo criando novas versões também é.
pé de igualdade, vou logo dizendo que não Sempre foi assim com grandes músicos, de
gosto de cover do tipo “réplica exata”. Sei que Charlie Parker aos clássicos ou, ao contrário,
há um público para isso, mas, por outro lado, dos clássicos a Charlie Parker. Nos clássicos,
meu gosto pessoal é de não apreciar essas o que mais chama a atenção são as versões
réplicas perfeitas. Vários grupos fazem isso de cada maestro e de cada orquestra. São

Pink Floyd: cover de si mesmo

50 / SETEMBRO
junho 20142014 teclas & afins
livre pensar

a mesma música, as mesmas notas, mas a


energia é outra. E é em relação à energia que
a coisa pega. Quando alguém gravou aquilo,
tinha a energia do momento, de tudo o que
estava acontecendo na vida dele e no mundo.
Então, por mais que se queira se aproximar
daquilo, geralmente não se chega nem perto.
O Pink Floyd tinha uma ótima banda cover
chamada... Pink Floyd! Ao comparar a energia
das duas, pode-se perceber que a primeira
tinha um “quê” especial que se perdeu. Mesmo
com a presença dos quatro membros originais,
não era a mesma coisa. O Genesis tem várias
bandas covers - inclusive a Genetics que está
vindo ao Brasil. A Musical Box, outra banda
cover deles, é legal porque deixa claro que
querem reproduzir exatamente tudo como Steve Hackett: reconstruindo o Genesis
era feito ao vivo. É a proposta. A Genetics
chega perto disso, mas falha no vocalista, que até estarmos confortáveis com ela e depois, aos
não é nem sombra do que Peter Gabriel era. poucos, nos afastávamos dessa linha. Como
Tocar um cover pode ser um tremendo era um grupo instrumental, não tínhamos
exercício de criatividade. Ser uma banda que vocalista, era fácil quando a música tinha letra,
só toca músicas de outra banda também pode porque só a ausência de voz já nos deixava fora
ser isso. Mas é preciso colocar algo a mais. É da zona de conforto. Mas, ao mesmo tempo,
preciso “profanar” a imaculada interpretação tínhamos que ter muito cuidado pra manter
ou composição e dar-lhe outro toque. as linhas melódicas realmente melódicas. E é
O Genesis tem uma banda cover chamada possível fazer isso com qualquer música.
Imagine um trio de violões com um cantor
Steve Hackett. É delicioso ouvir o ex-guitarrista
“profanando” arranjos que, em alguns casos, com a voz do Eddie Vedder. Pois esse trio
ele mesmo fez.“I Know What I Like”(do primeiro fazia várias versões de outras músicas e a
álbum, Genesis Revisited) ficou fantástica por coisa ia a extremos. O El Kabong teve enorme
ele. Foi um sopro de vida nova a essa e a várias
sucesso pelos bares da vida no final dos anos
outras músicas conhecidas. Afinal, se você 90 fazendo exatamente isso. Como não era
quer ouvir as músicas conhecidas, por que uma banda de composições próprias, não
não pegar o disco e colocar para tocar? estava nos planos durar muito, mas enquanto
tocaram, aproveitavam sua instrumentação
Exercício de criatividade para tirar o máximo de cada música. É um
Quando eu tocava em um quarteto de jazz- trabalho de retirar aquilo que não faz parte,
rock nos anos 80, ao encararmos uma música que não é a música, e ficar com a essência dela.
tocada por outros, mesmo que fosse um O Roupa Nova era uma banda de bailes que
standard de jazz, era pra desmontá-la e depois tocava versões e que se tornou um tremendo
remontá-la. Nosso hábito era o de tocar a sucesso, deixando de animar bailes pra ser a
música da maneira convencional várias vezes atração principal deles. Eis um bom exemplo

teclas & afins SETEMBRO


junho 2014 / 51
livre pensar
The Piano Guys: criatividade

de banda cover que soube aproveitar sua Ivan Lins, Gonzaguinha, João Bosco, Aldir Blanc,
experiência nos palcos e nos estúdios para Belchior, davam um novo olhar sobre aquilo
fazer seu próprio som. Existem inúmeras que eles haviam criado. E o público amava ouvir
versões de boas músicas por outros músicos. essas coisas na voz dela porque ela realçava em
E quando eles colocam sua criatividade nisso, cada verso o sentimento do autor.
podem transformá-las em outro sucesso. Hoje em dia existe um grupo de cinco caras
Quantas versões de “What’s Going On” de (mas só dois são músicos) chamado The Piano
Marvin Gaye se conhece? Como esquecer a Guys. São especialistas em refazer sucessos
genial versão de Joe Cocker para “With a Little do rádio de forma instrumental para piano e
Help from my Friends”? Ou a suave versão violoncelo. Com a ajuda de um bom arranjador
dos 10.000 Maniacs para “Peace Train” de Cat e, por vezes, com participações especiais
Stevens (hoje, Issuf Islam)? Miles Davis fez o geralmente nos vocais, conseguem provar
mesmo com Michael Jackson ao regravar que uma boa versão pode ser completamente
“Human Nature”. A lista é longa. diferente do original.
Não quero dizer com isso que não se deve
fazer versões fiéis às originais, mas que os
Alex Saba
músicos se permitam “profanar” as obras que Tecladista, guitarrista, percussionista, compositor, arranjador e produtor
amam. Que sua criatividade aja não apenas com quatro discos instrumentais solo e um disco ao vivo com sua banda
para reproduzir alguma coisa, mas para ir Hora do Rush, lançados no exterior pelo selo Brancaleone Records.
Produziu e dirigiu programas para o canal TVU no Rio de Janeiro e
além, propondo uma nova visão: a sua.
compôs trilhas para esses programas com o grupo Poly6, formado por 6
Elis Regina era mestre nisso. Suas versões das tecladistas/compositores. Foi colunista do site Baguete Diário e da revista
músicas dos compositores então novos, como Teclado e Áudio. www.alexsaba.com.br

52 / SETEMBRO
junho 20142014 teclas & afins
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TRILHA MUSICAL POR MAURICIO DOMENE

Relação música – tempo


“- Mas, mãe, eu não preciso estudar matemática. Eu vou ser músico...
- Filho, a gente nunca sabe o que vai usar na vida, por isso tem que
estudar de tudo!”.

Na reunião com o diretor do filme, o a composição for em compasso 4/4 (quatro


compositor fica sabendo que a trilha deve batidas por compasso), trinta compassos
ter 42 segundos de duração e mudar de serão reproduzidos em 60 segundos.
clima aos 17 segundos. De nada adianta Se o compositor diminuir o BPM da música,
compor melhor que o Hans Zimmer e o John o trigésimo compasso vai acontecer depois
Williams juntos se ele não conseguir seguir dos 60 segundos. Se a fórmula do compasso
essas diretrizes. for alterada para 3/4 (um pulso a menos por
O andamento de uma música é definido compasso do que 4/4), o trigésimo compasso
em BPM (beats per minute ou batidas por vai acontecer antes dos 60 segundos.
minuto). Desse modo, 120 BPM significa Há uma relação entre Andamento, Número de
que em um minuto haverá 120 pulsos - ou Compassos, Fórmula de Compasso e Tempo. A
batidas, para manter o significado da sigla. Se fórmula matemática é a seguinte:

Andamento = Número de Compassos X Fórmula de Compasso X Tempo

(onde Tempo = 60/x, pois o BPM é medida por minuto, e segundos serão usados no cálculo):

A = N * C * 60
x

Com essa fórmula, é possível calcular tudo de que se precisa para ter o mapa de andamento da
música a ser criada.

Para encontrar o Número de Compassos, basta inverter a fórmula:

N = Ax
60C

Por exemplo, se for desejado que o andamento seja 135 BPM e a fórmula de compasso 4/4,
quantos compassos o compositor terá aos 42 segundos?

N = (135*42) = 23,625
(60*4)

Arredondando, 23,5 compassos.

54 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


trilha musical

Lembre-se de que o primeiro compasso é o


1; a contagem não começa do zero. A música
tem que acabar no compasso 24 e meio
(terceiro tempo do compasso 24). Isso quer
dizer que depois dele não pode haver mais
som. O último acorde tem que acontecer
antes disso, no mínimo, no começo do
compasso 24 (e soar por dois tempos, por
exemplo). Se quiser que o acorde se sustente
por mais tempo, ele tem que ser executado
no compasso anterior.

Alterações
Na situação apresentada no início, pode-
se abstrair como a fórmula funciona para
a mudança de clima da música (aos 17
segundos):

N = (135*17) = 9,5625
(60*4) no 17º segundo ocorresse no compasso 10
cravado, e o final da música, exatamente
Arredondando, 9,5 compassos, ou seja, a no compasso 24.
mudança tem que ocorrer no terceiro tempo Atualmente, ninguém faz contas assim
do compasso 10 (9+1). para escolher andamentos e descobrir
Esta escolha de andamento resultou em pontos de sincronismo. Os sequenciadores
número quebrado de compasso, tanto na facilitam muito essa operação! Mas é
mudança de clima, quanto no final da música. importante entender as variáveis contidas
O que fazer para alterar isso? É possível na equação para poder manipulá-las e
mudar o andamento, mas isso alteraria o conseguir o resultado desejado. È possível
clima da música, deixando-a mais lenta ou alterar a fórmula de compasso de um ou
mais rápida. Ou se pode alterar a fórmula alguns compassos, o andamento de um
de compasso de um único compasso, trecho ou da música inteira, o número de
como, por exemplo, usar um compasso 2/4 compassos etc.
como introdução. Isso faria que a mudança A sua mãe tinha razão!

Maurício Domene
Formado pela Berklee em Music Composition for Film and TV, é compositor de trilha sonora premiado com
atuação em cinema, TV, publicidade, teatro e outras plataformas. Tem dois álbuns instrumentais lançados:
“Nuvens” e “Nuvens 2”. Foi colunista sobre Trilha Sonora na revista Home Studio.
Foi professor de “Trilha Sonora” na grade do curso superior de Produção em Radio, Vídeo, Tv e Cinema da
FMU/Fiam. Está à frente do Estúdio Next: www.estudionext.com.br

teclas & afins SETEMBRO 2014 / 55


cultura hammond por Jose Osorio de Souza

A evolução
Depois de seu surgimento e da consolidação de sua sonori-
dade, o conjunto Hammond-Leslie abriu novas possibili-
dades sonoras e permitiu o desenvolvimento de técnicas es-
pecíficas, em muitos gêneros musicais
Depois do lançamento do Hammond e da do blues. A música gospel atual utiliza todo o
caixa Leslie, vários foram os estilos que se potencial do instrumento em seus improvisos
apropriaram dessa sonoridade e incorporaram de glorificação ao divino, com os drawbars
elementos à sua técnica. Organistas alcançaram no extremo e a Leslie na velocidade máxima,
o máximo do Hammmond “pianístico” ainda como o reverendo Moses Tyson Jr. Ela tomou
usando muito da técnica do piano e do órgão de volta aquilo que o mundanismo da música
erudito, com notas soltas e harmonia mais secular deu ao Hammond-Leslie. Mas é difícil
convencional. E nessa evolução o estilo Choro dizer quem fez isso primeiro. Normalmente,
Brasileiro foi difundido em todo o mundo. os que ousam desobedecer às regras são os
Mas, então, o Hammond ficou “azul”: o timbre rebeldes. E quem ganhou notoriedade por
produzido tornou-se tão ou mais importante tirar do Hammond-Leslie toda a sua potência
que a técnica e a impressão emocional do timbrística foram os músicos de jazz e blues.
som começou a falar alto através dos ricos Jimmy Smith tem toque refinado e
acordes do jazz e da liberdade de expressão timbragem encorpada e fechada - a famosa

Ethel Smith e Rhoda Scott: ícones do instrumento

56 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


cultura hammond

utilizam o Hammond-Leslie. Do chorinho e da


bossa nova ao jazz, do blues ao acid rock, do
psicodélico ao rock progressivo. Nomes como
Ethel Smith, Jimmy Smith, Jimmy McGriff, Jack
McDuff, Richard Groove Holmes, Billy Preston,
Booker T., Chester Thompson, Lonnie Smith, se
perfilam ao lado de damas do Hammond como
Trudy Pitts, Rhoda Scott, e uma mais jovem,
Barbara Dennerlein, e aos “hammondistas”
atuais como Joey DeFrancesco, Tony Monaco,
Jim Alfredson e Mike Mangan, deixando muita
gente boa de fora por falta de espaço.
Isso tudo é prova de que o timbre e a cultura
Joey DeFrancesco: nova geração Hammond não vão morrer e têm ressurgido
muito fortemente nos últimos anos. Quer seja
888000000 com 3º percussivo -, se bem que jazz, rock, blues, country, gospel ou qualquer
faz o “squabbling”, uma técnica de arpejos outro estilo, se o timbre Hammond-Leslie estiver
de oitavas, com o timbre característico dela, presente o resultado terá uma característica
aberto e bem “podre” (cheio de harmônicos). única, uma identidade marcante expressada
Jon Lord, um “hammondista” revolucionário, pelo potencial desses dois equipamentos que
apesar de também ter forte influência da compõem um instrumento musical que já se
música erudita (como é comum em todos eternizou tanto quanto o violino, o piano ou a
do rock progressivo), abusa de glissandos e guitarra. O som cheio das flautas, o percussivo
distorções. É importante que se note aqui uma quente estalando, o crocante da Leslie em
característica peculiar dos “hammondistas”: fast, a sujeira boa dos clicks e das válvulas
mesmo que a técnica do glissando - o passar sobrecarregadas, seja fazendo cama para o
a mão ou o polegar rapidamente no teclado solo de uma semiacústica em um pequeno
na passagem entre notas ou acordes - possa clube, ou rasgando durante a adoração
ser usada tanto no piano quanto em órgãos em um templo cristão, o Hammond-Leslie
litúrgicos, as teclas “waterfalls” do Hammond oferece o timbre perfeito para expressar
(formato sólido, como no piano, mas sem alegria e tristeza, um coração quebrado e
o dente na ponta) são as que melhor se uma alma elevada. Instrumento tão humano,
prestam a isso. Desse modo, os organistas amado pela carne e enaltecido pelo espírito,
de Hammond desenvolveram uma técnica viva o Hammond!
exclusiva desse instrumento, alcançando
uma sonoridade única.
Mas a lista de “hammondistas” é enorme, assim
como os estilos musicais, que utilizaram e

Jose Osorio de Souza


Pianista de formação erudita, analista de sistemas de formação acadêmica, foi proprietário de estúdio e escola
de música, Suporte Técnico da Roland Brasil, tecladista da noite, é compositor e escritor, ama história e tecnologia
dos sintetizadores e samplers, mas é apaixonado por teclados vintages, blues, rock progressivo e música de
cinema. Atualmente toca piano instrumental no Grande Hotel Senac em Águas de São Pedro (SP) e atua como
músico gospel na cidade de Itu (SP).

teclas & afins SETEMBRO 2014 / 57


keynologia por hudson hostins

Arranjadores à brasileira
Com a inserção de recursos avançados, os teclados arranjadores atuais
permitem executar qualquer ritmo nacional com perfeição

Essa historia se inicia há mais ou menos teclados arranjadores com uma orquestra
20 anos quando, em termos de gravação, inteira de amostras de sons reais, inclusive
o áudio digital engatinhava nos estúdios com ritmos de bateria em loops de áudio
dominados pelos registros analógicos e pelos captados nos melhores estúdios do mundo!
sintetizadores híbridos analógicos/digitais. Quem não se lembra dos primeiros Casio
O primeiro teclado digital - e que abriu as Tonebanks e PSRs da Yamaha com sons
portas para o mundo dos teclados arranjadores que mais pareciam toques de celulares
- foi o Yamaha DX7, com sua síntese FM. Mas monofônicos? Aliás, os primeiros arranjadores
os verdadeiros responsáveis pela vontade de da Yamaha foram o PS1 e o PS2, criados em
querer mais dos instrumentos de teclas são 1980. O primeiro possuía quatro vozes e quatro
os órgãos eletrônicos, que nos anos 60 e 70 já ritmos com clicks e sons metálicos. Oferecia
possuíam arpegiadores e vocação para serem oito vozes de polifonia e era seu próprio case!
o início dessa nova categoria. A partir daí, a O PS2, por sua vez, já era um teclado com
corrida para desenvolver um teclado que 37 teclas e um pequeno alto-falante. Tinha
comportasse o uso de diversas tecnologias e cinco sons e quatro ritmos: Valsa, Swing, Rock
aplicações onboard se tornou séria: colocar e Latin, com volume independente ainda
em um único instrumento uma representação para acompanhamento e ritmos. Em 1984 o
de quase todos os timbres existentes, desde Yamaha Portatone PSR -15 era apresentado
pianos até sons de bateria, com o máximo com 49 teclas, seis timbres (Organ, Flute, Violin,
de fidelidade conseguida em cada década Trumpet, Piano e Harpsichord) e ritmos de 2,
de evolução. No começo, logicamente, as 3, 4 ou 6 beats (identificados como Swing,
amostras de sons e a tecnologia de síntese Waltz, Disco e Waltz, respectivamente).
eram precárias, até porque o áudio evoluiu Realmente esse universo cresceu muito, não
muito em poucos anos. Atualmente, temos somente na evolução sonora, mas também

58 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


keynologia

pelos controles, pela adição de novos As fabricantes, então, despertaram para o


recursos como sequenciadores, sobreposição desenvolvimento de seus próprios “Music
de sons, configurações de todo o teclado, Styles” distribuindo os estilos em disquetes
implementação MIDI completa, inclusive com com 10 ritmos de cada região do Brasil, depois
entradas USB para reprodução de arquivos em pen drives e também pelos seus sites. No
MP3 - o que possibilita utilizar bases pré- início, muitos estilos, como Samba, Bossa
gravadas e playbacks e, até mesmo, alterar nova, Baião e Forró, eram desenvolvidos
em tempo real o andamento e o tom desses por músicos programadores do exterior (a
arquivos. Ainda há recursos como entradas de maioria era chamada de “Samba-de-Japonês”,
áudio para outros instrumentos e, em alguns pela falta de desenvoltura e em comparação
modelos, entrada de microfone para uso com ao resultado alcançado futuramente nos
um harmonizador de voz interno e efeitos estilos programados por músicos brasileiros).
como Reverbs e Delays. Em meados dos anos 90 começaram a
Isso se tornou um certo tipo de clube de surgir os “Kits de Ritmos Brasileiros”. Tive
apaixonados por teclados arranjadores. O o privilégio de programar muitos estilos
perfil do usuário vai desde crianças que nessa época, desde teclados mais simples
usam os arranjadores para se divertirem e até os lendários G-800, G-1000, EM-20, VA7
descobrirem o universo musical (aliás, esse e VA -76 da Roland. Confesso que foi um
tipo de equipamento é perfeito para isso), trabalho árduo, mas realizado com muito
até empresários que possuem os modelos cuidado a fim de desenvolver resultados
mais avançados de teclados ou pianos com a nunca antes alcançados. Com o passar dos
tecnologia dos arranjadores. anos, tive a oportunidade de programar
É claro que, entre essa turma, existem os para Yamaha, Roland, Michael - o primeiro
músicos profissionais que usam os arran- arranjador da marca, o KAM-500, tem o
jadores para tocar na noite, seja em bandas, painel em português e 64 ritmos brasileiros
sozinho, em duplas, quando ele se transfor- de todas as regiões - e Korg.
ma na principal peça musical no palco. Nesse Quem ganha com tudo isso? O tecladista que
caso, entra em cena um novo recurso... necessita ter os estilos de cada parte de nosso
País - que é gigante e possui cultura musical
Estilos sob medida diversificadíssima - podendo executar as
Talvez o implemento mais importante nesse músicas de sua região em seu instrumento, do
tipo de equipamento, que cria expectativas norte ao sul, do Forró ao Vanerão, passando
a cada lançamento e, com certeza, aquece por toda a infinidade de ritmos criados pelo
o mercado e a disputa das marcas, seja o músico mais criativo e talentoso do mundo:
“Criador de Estilos” ou “Criador de Ritmos”. o brasileiro.
Com esse recurso, o músico pode programar
em casa seus próprios ritmos, em memórias
de usuário conforme sua necessidade. Mas
isso nem sempre é tarefa fácil.

Hudson Hostins
Produtor musical, tecladista e compositor, tem em seu currículo trabalhos para empresas como Roland, Michael, Korg
e Yamaha.É proprietário de estúdio e produtora de áudio onde atende clientes como Beto Carrero World, Massa FM e
Transamérica Hits, entre outras grandes empresas. Produziu vários artistas da região Sul do Brasil atuando com artistas
expressivos da área. É, atualmente, tecladista do cantor Gabriel Valim.

teclas & afins SETEMBRO 2014 / 59


HARMONIA E IMPROVISACAO por turi collura

Giant Steps:
análise de um improviso
Depois da análise das características harmônicas e
compositivas de “Giant Steps”, de John Coltrane, é o momento
de analisarmos o improviso

Na edição de número 4 de Teclas & Afins, analisamos a composição “Giant Steps”, do


saxofonista John Coltrane, observando suas características harmônicas e compositivas.
Dissemos que a composição está baseada em três pontos tonais equidistantes: Eb, G e
B. Ao analisarmos a harmonia em volta desses três pontos, observamos a presença de
acordes de dominante (V7) e de seus segundos cadenciais (II-V7). Veja a tabela a seguir:

Área tonal Acordes da área tonal: Acordes da área tonal:


Acorde: V-I: II-V-I:
Eb Bb7 – Eb Fm7 – Bb7 - Eb
G D7 – G Am7 – D7 – G
B F#7 – B C#m7 – F#7 - B

A música é composta apenas por esses acordes (confira a partitura). A novidade compositiva
reside, como dissemos anteriormente, no emprego de três pontos tonais equidistantes,
buscando eludir a centralidade de uma tônica como ponto de convergência harmônico-
melódica. Essa foi a “novidade” proposta. Já o emprego de dominantes e de II-V é algo comum
na linguagem tonal.

A improvisação sobre Giant Steps


Como funciona a improvisação que Coltrane cria nessa música? Qual o critério, o pensamento
que ele percorre para sua criação extemporânea?
O efeito sonoro da improvisação coltraneana nessa música é incrível. Vamos, então, observar
sua melodia “ao microscópio”, para descobrir seus “segredos”. Para isso, preparei uma
transcrição, ao longo da qual indiquei os graus da melodia em sua relação com seus acordes.
Os números em vermelho indicam as notas da melodia que pertencem aos acordes, isto é, as
notas dos arpejos (1-3-5-7). Logo observamos a grande quantidade de notas de acorde, que
chamo, também, de “notas alvo”*.
Na partitura, as notas de passagem, como o 2º ou o 6ºgraus, forma indicados com a cor
verde. As áreas indicadas com os quadrados cor-de-rosa indicam notas – ou grupos de notas
– de aproximação à nota sucessiva (ou à última nota do grupo)*.
*Tenha acesso a esse
conceito neste link.

60 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


HARMONIA E IMPROVISACAO

A abordagem à improvisação
Podemos catalogar a abordagem à im-
provisação de Coltrane na música “Giant
Steps” como “vertical”, isto é, baseada, de
forma geral, na condução dos arpejos e na
sua preparação/ligação por meio de croma-
tismos ou notas de aproximação. Nenhuma
novidade, nesse sentido, na improvisação.
Todavia, por conta da velocidade da músi-
ca e dos encadeamentos inusitados dos
acordes, é preciso estudar de forma pecu-
liar para obter um bom resultado estético.
Hoje em dia, estamos acostumados a essa
música e a suas sequências de acordes. Os
estudantes de jazz a têm como modelo e
desafio a ser enfrentado. Mas, quando a
música surgiu, em ocasião de sua grava- Anos depois, quando a música se tornou
ção, improvisar sobre seus acordes causou cult entre jazzistas, vários músicos, entre
sérias dores de cabeça aos outros músicos. os quais Rahsaan Roland Kirk, Pat Metheny,
As sessões de gravação do disco Giant Steps Buddy Rich, Jaco Pastorius, Mike Stern,
tiveram a participação de grandes músicos: Greg Howe, McCoy Tyner, Kenny Werner,
além de Coltrane ao saxofone, havia Paul Kenny Garrett, Woody Herman, New York
Chambers ao contrabaixo, Art Taylor na Voices, Taylor Eigsti e Gary Bartz, gravaram
bateria e Tommy Flanagan ao piano (Wyn- suas versões de “Giant Steps”.
ton Kelly substituiu Flanagan na música O próprio Tommy Flanagan,
“Naima”). Flanagan era um grande pianista, em 1982, gravou um disco em
mas observem o solo dele na gravação do homenagem ao falecido Coltrane.
disco: ele está perdido, esboça umas ideias O titulo do disco? Giant Steps – In memory
ao piano, logo depois desiste, dei-xando of John Coltrane. A versão da música no
um vazio, até Coltrane entrar para “pegar disco de Flanagan é mais lenta, e não me
de volta” o solo. Antes de Flanagan, outro parece deixar nenhuma marca relevante,
grande pianista, Cedar Walton, tinha sido não obstante os evidentes esforços do
chamado para gravar... mas recusou-se pianista para “fazer bonito”.
a solar. “Aquela música era muito difícil Em 1991, McCoy Tyner – que foi o
para mim”, afirmou certa vez Walton, em “pianista oficial” de Coltrane de 1961 até
uma entrevista, lamentando ter decli- 1965, além de amigo e parceiro musical
nado o solo. “ Eu era muito jovem, deve- – gravou sua versão de “Giant Steps” no
ria ter feito o que Tommy Flanagan fez”. disco Remembering John. Versão incrível,
Referia-se à possibilidade de solar “assim a de McCoy, nesse disco! Entrevistado
como daria”, mas o solo de Flanagan não a respeito dessa gravação, Flanagan
foi bom, deixando uma “ferida aberta” no respondeu, bem-humorado: “Bom, ele
coração do próprio pianista. teve trinta anos para estudar essa música!”.

teclas & afins SETEMBRO 2014 / 61


HARMONIA E IMPROVISACAO

Sugestão: “roubem” desse solo algumas frases com movimentos V-I ou II-V-I. Vale a pena!

62 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


HARMONIA E IMPROVISACAO

Analisaremos apenas o primeiro chorus do improviso, que oferece vários elementos interessantes:
• O solo começa no compasso 17, em que se encontra o II-V7 de BMaj7, primeiro acorde do
chorus da música. Nesse compasso, temos o arpejo de C#m7 (1-3-5-7), cuja última nota (o
Si natural), cria uma nota de aproximação cromática superior à nota Lá#, 3º grau de F#7. A
última nota do compasso 17, Sol#, é, também, uma nota de aproximação à primeira nota
do compasso 18, em que temos um arpejo sobre BMaj7.
• Sobre o acorde D7 do compasso 18, encontramos a sequência de notas 1-2-3-5. Essa é uma
sequência bastante recorrente ao longo do solo. No trecho que analisamos, observamos,
por exemplo, sua presença nos compassos 23, 28, 30, 32. De fato, a adição do 2º grau a
uma tríade – maior ou menor – enriquece muito sua sonoridade, possibilitando, a criação
de grupos de quatro notas, muito úteis aos improvisos.
• Compassos 18-19: a frase sobre D7 resolve no acorde GMaj7, assim como a frase sobre o
Bb7 resolve no EbMaj7 do compasso 20.
• Notamos a linda frase em arpejos do compasso 21, que resolve sobre a nota Si do compasso
22. Este último contém dois arpejos ascendentes.
• Compasso 23: sequência 1-2-3-5 sobre cada acorde.
• No compasso 26 há uma escala be-bop de Bb7 **
• O compasso 26 é bem interessante: a segunda nota (Lá b) constitui uma aproximação
à nota Sol, terceiro grau de EbMaj7. Seguindo, as notas Ré e Fá constituem uma dupla
aproximação à nota MIb; logo depois, temos mais duas notas de aproximação (novamente
Ré e Fá) que preparam a nota Mi, do início do compasso 27. A prática de grupos de notas de
aproximação que preparam a chegada da nota de resolução é uma característica marcante
do jazz, especialmente a partir da metade da década de 1940, quando se afirma o assim
chamado estilo be-bop.
• Compasso 28: trecho da escala de Sol maior descendente e, logo depois, ascendente.
Observe que o compasso 29 apresenta um desenho parecido com o do compasso anterior,
agora adaptado aos novos acordes, criando uma espécie de “cromatização”, em relação à
frase anterior.
• Compasso 30: novamente uma sequência 1-2-3-5, seguida por um belo cromatismo
que se move em direção à nota Fá do compasso 31. Na segunda parte desse compasso
encontramos um grupo de quatro notas que se movem em direção à sua resolução na nota
MIb, primeira nota do compasso 32. Aqui temos um arpejo de MIb que fecha o primeiro
chorus de improviso.
** Para as escalas be-bop com função
de dominante, acesse este link.

Turi Collura
Pianista, compositor, atua como educador musical e palestrante em instituições e festivais de música pelo Brasil.
Autor dos métodos “Rítmica e Levadas Brasileiras Para o Piano” e “Piano Bossa Nova”, tem se dedicado ao estudo
do piano brasileiro. É autor, também, do método “Improvisação: práticas criativas para a composição melódica”,
publicado pela Irmãos Vitale. Em 2012, seu CD autoral “Interferências” foi publicado no Japão. Seu segundo CD
faz uma releitura moderna de algumas composições do sambista Noel Rosa. Entre outras atividades, em 2014
Turi está ministrando cursos online em grupo, entre os quais os de “Piano Blues & Boogie”, o de “Improvisação e
Composição Melódica” e o de “Bossa Nova”.
turi@turicollura.com - www.turicollura.com - www.pianobossanova.com

teclas & afins


arranjo comentado por rosana giosa

A música pop de
Michael Jackson em piano-solo
A música pop tem como características fortes as melodias relativamente curtas com acordes
ou harmonias simples. Dessa forma, sua assimilação é mais fácil e, por isso, ela se torna mais
popular (ou mais “pop”). Há composições em forma de canção e outras, com ritmos bem
marcantes, que convidam para a dança.
Esse gênero musical surgiu nos anos 50 e sobrevive até hoje. Na década de 1980, Michael
Jackson foi considerado o “rei do pop” por causa de tantas canções e álbuns premiados e milhões
de discos vendidos. Nessa época, ele selou uma parceria com Quincy Jones, grande produtor
e arranjador, que valorizou e enriqueceu muito suas canções. Suas incríveis performances no
palco e em vídeoclipes o consagraram definitivamente na história da música universal.

O arranjo
“Black and White” foi escolhida para esta edição por ser uma canção muito representativa
desse período. A introdução é muito marcante e a melodia é bem simples, mas bem gostosa
e cheia de suingue. Nela, pode-se perceber a simplicidade da harmonia e da melodia, embora
na gravação pareçam mais ricas por causa do arranjo, da quantidade de instrumentos e da
batida marcante feita pela sessão rítmica.
Neste arranjo para piano, a introdução da gravação é mantida e há duas exposições do tema.
Mas, na segunda vez, é feita uma variação melódica para dar mais dinâmica ao arranjo.
No final, a introdução de “Billie Jean” se encaixa como algo que chamamos de música incidental,
ou seja, apenas um trecho de outra música citado ou lembrado.

Bom estudo!

“Black or White”

64 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


arranjo comentado

teclas & afins SETEMBRO 2014 / 65


arranjo comentado

66 / SETEMBRO 2014 teclas & afins


arranjo comentado

Rosana Giosa - Pianista de formação popular e erudita, vive uma intensa relação com a música dividindo seu trabalho
entre apresentações, composições, aulas e publicações para piano popular. Pela sua Editora Som&Arte lançou três
segmentos de livros: Iniciação para piano 1, 2 e 3; Método de Arranjo para Piano Popular 1, 2 e 3; e Repertório para
Piano Popular 1, 2 e 3. Com seu TriOficial e outros músicos convidados lançou o CD Casa Amarela, com composições
autorais. É professora de piano há vários anos e desse trabalho resultou a gravação de nove CDs com seus alunos: três
CDs coletivos com a participação de músicos profissionais e seis CDs-solo.
Contato: rosana@editorasomearte.com.br

teclas & afins SETEMBRO 2014 / 67

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