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Duração: 90 minutos
Teste nº 3 de Português, 12º ano, Ricardo Reis e Álvaro de Campos
GRUPO I
A
Seleciona apenas um dos poemas e responde às questões que se lhe seguem com frases completas,
identificando o heterónimo selecionado:
Antes de nós nos mesmos arvoredos Na casa defronte de mim e dos meus sonhos,
Passou o vento, quando havia vento, Que felicidade há sempre!
E as folhas não falavam
De outro modo do que hoje. Moram ali pessoas que desconheço, que já vi mas não vi.
São felizes, porque não são eu.
5 Passamos e agitamo-nos debalde.
Não fazemos mais ruído no que existe 5 As crianças, que brincam às sacadas altas,
Do que as folhas das árvores Vivem entre vasos de flores,
Ou os passos do vento. Sem dúvida, eternamente.
Tentemos pois com abandono assíduo As vozes, que sobem do interior do doméstico,
10 Entregar nosso esforço à Natureza Cantam sempre, sem dúvida.
E não querer mais vida 10 Sim, devem cantar.
Que a das árvores verdes.
Quando há festa cá fora, há festa lá dentro.
Inutilmente parecemos grandes. Assim tem que ser onde tudo se ajusta —
Salvo nós nada pelo mundo fora O homem à Natureza, porque a cidade é Natureza
15 Nos saúda a grandeza
Nem sem querer nos serve. Que grande felicidade não ser eu!
Se aqui, à beira-mar, o meu indício 15 Mas os outros não sentirão assim também?
Na areia o mar com ondas três o Quais outros? Não há outros.
apaga. O que os outros sentem é uma casa com a janela fechada,
20 Que fará na alta praia Ou, quando se abre,
Em que o mar é o Tempo? É para as crianças brincarem na varanda de grades,
8-10-1914 20 Entre os vasos de flores que nunca vi quais eram.
Odes de Ricardo Reis . Fernando Pessoa.
(Notas de João Gaspar Simões e Luiz de
Montalvor.) Lisboa: Ática, 1946 (imp.1994). Os outros nunca sentem.
- 52. Quem sente somos nós,
Sim, todos nós,
Até eu, que neste momento já não estou sentindo nada.
GRUPO II
Lê o texto seguinte.
O mar enrola na areia, ondas que vão e vêm, imensas correntes revolvem o oceano, em todo o planeta.
Seria um imenso rebuliço harmonioso, não fosse envolver plástico e uma série de outros resíduos. Então
desde a descoberta da grande sopa de lixo, a tal massa gigante de detritos entre a costa da Califórnia, nos
EUA, e o Japão, que ecologistas, apaixonados do mar e investigadores de todo o mundo lhe apontam o dedo
5 – sobretudo aos microplásticos, pedacinhos impercetíveis ao olhar e que se constituíram os grandes
poluentes dos oceanos. Agora, chegou um novo aviso: são também a base de um estranho mundo novo.
Parece que todo esse plástico está a ser adotado por vários tipos de bactérias que o usam como uma espécie
de recife. Foram encontrados pelo menos mil tipos diferentes de microrganismos. Segundo o estudo
publicado na Environmental Science & Technology, é uma verdadeira «plastisfera», um imenso
10 ecossistema.
Em números redondos, o plástico constitui 90% de todo o lixo que boia nos oceanos. O seu inventor,
Alexander Parkes, procurava um material indestrutível para substituir uma dezena de outros, mas, em
pleno século XIX, não imaginou os seus malefícios – nem que alguma vez os seus resíduos tóxicos
contaminassem o mundo. O plástico não é biodegradável nem há processo natural que o consiga eliminar.
15 Tornou-se uma imensa armadilha: a durabilidade que o torna tão útil é também o que o faz prejudicial à
natureza. Como não há uma gestão de resíduos eficiente, o mais comum é esse plástico ir parar ao mar.
Anualmente, mais de um milhão de aves marinhas confundem objetos como escovas de dentes, isqueiros
ou brinquedos com alimento, em degustações que se revelam fatais.
O resto do seu percurso é fácil de imaginar. Se a matéria-prima tóxica entra na cadeia alimentar, o
20 oceano revela-se depois o nosso carrasco, devolvendo o mal que lhe infligimos. O pior? A produção não
para de aumentar: segundo a associação Plastics Europe, a produção mundial de plásticos cresceu de 5
milhões de toneladas em 1950 para 265 milhões em 2010.
São números que parecem intermináveis e nos levam de novo às palavras, inquietantes, do
oceanógrafo Charles Moore, depois da descoberta do tal sétimo continente de plástico: «Foi perturbador.
25 Dia após dia não se via uma única área onde não houvesse lixo.» Um desabafo que se tornou um alerta –
3 costumava.
2
na verdade, desde então, a presença dos plásticos nos oceanos e os seus efeitos sobre a fauna tiveram um
reconhecimento mundial sem precedentes.
Teresa Campos, «Bem-vindo à Plastisfera», Nau XXI, setembro/outubro de 2013 (adaptado)
1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1. a 1.3., seleciona a opção que permite obter uma afirmação correta.
Escreve, na folha de respostas, o número de cada item e a letra que identifica a opção escolhida.
1.1. O dado novo que este artigo de divulgação científica apresenta relativamente à poluição marítima é
(A) a descoberta de uma massa gigante de detritos.
(B) o aparecimento de um ecossistema resultante do plástico.
(C) a impossibilidade de o plástico ser destruído naturalmente.
(D) o surgimento de microplásticos nos oceanos.
1.2. Ao afirmar-se que o oceano se torna «o nosso carrasco» (linha 20), enfatiza-se
(A) o perigo da descoberta de um sétimo continente de detritos.
(B) o aumento drástico da produção mundial de plástico.
(C) a transmissão da toxicidade através da cadeia alimentar.
(D) a proliferação de envenenamentos e mortes de aves marinhas.
1.3. Na expressão, “O seu inventor, Alexander Parkes, procurava um material indestrutível” (ll. 11-12), o elemento
sublinhado desempenha a função sintática de
(A) vocativo.
(B) sujeito.
(C) predicativo do sujeito.
(D) modificador apositivo do nome.
1.4. Atenta na frase “O plástico não é biodegradável nem há processo natural que o consiga eliminar.” (l. 14) e
assinala a alínea incorreta:
(A) Na frase identificamos três orações.
(B) As primeiras orações são coordenadas e a última é subordinada.
(C) A segunda oração classifica-se como coordenada disjuntiva.
(D) A primeira oração é coordenada.
1.5. Classifica o advérbio presente na sequência “Agora, chegou um novo aviso” (l. 6).
(A) Advérbio de predicado.
(B) Advérbio de frase.
(C) Advérbio conectivo.
(D) Advérbio de quantidade e grau.
1.6. Na sequência “nem que alguma vez os seus resíduos tóxicos” (l. 13), o elemento sublinhado é um
(A) pronome indefinido.
(B) pronome demonstrativo.
(C) quantificador universal.
(D) quantificador existencial.
1.7. Identifica a função sintática exercida pela palavra sublinhada no enunciado “São números que parecem
intermináveis e nos levam de novo às palavras” (l. 23).
(A) Sujeito.
(B) Complemento direto.
(C) Complemento indireto.
(D) Complemento oblíquo.
3
GRUPO III
Seleciona UM tema:
A4
A importância da literatura para a criança, como para o adulto, é que ela é um “organizador
fundamental”, que protege a vida contra a automatização e contra a “tragédia da rotina” que
ameaça a afetividade e as relações.
Manuel António Pina, “A língua que os livros “para” crianças falam”,
in Palavra de Trapos, A língua que os Livros Falam, Fund. Calouste Gulbenkian, 2010
Num texto bem estruturado, entre 180 e 280 palavras, apresenta uma reflexão sobre a importância da literatura
para o ser humano, partindo da perspetiva exposta no excerto transcrito.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles com, pelo
menos, um exemplo significativo.
B5
Os espaços, reais ou imaginados, podem ser vividos como lugares de abrigo, de realização pessoal, de
liberdade, de opressão…
Num texto bem estruturado, entre 180 e 280 palavras, apresenta uma reflexão sobre a relação que o ser
humano estabelece com determinados espaços.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles com, pelo
menos, um exemplo significativo.
C6
Na verdade, não são os avanços científicos e industriais que ameaçam o Homem e a Natureza,
mas sim a maneira errada e inconsciente como a Humanidade aplica as suas conquistas
tecnológicas.
Jacques-Yves Cousteau, “Segredos do Mar, o Mundo Fascinante dos Oceanos e das Ilhas”,
in Seleções do Reader´s Digest, julho de 1978
Num texto bem estruturado, entre 180 e 280 palavras, apresenta uma reflexão acerca das consequências da
ação do Homem no planeta Terra.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um deles com, pelo
menos, um exemplo significativo.
4
CENÁRIOS DE RESPOSTA
Teste de Português de 12º ano- Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Camões Lírico
GRUPO I (exercícios retirados do livro auxiliar de estudo “Exercícios de Português, 12º ano”, de Ana Casimiro e Fernanda
Lamy, da Asa (pp. 74-77; pp. 80-84)
5
- não se pode saber o que eles, os “outros”, sentem (vv. 17-20); existe uma incomunicabilidade essencial entre
seres humanos, de que resulta a consciência individual separada de cada eu.
B (exercício retirado do livro de Preparação para o Exame Final Nacional de 2015, Português, 12º ano, da Porto Editora,
pp. 56 e 58)
1.1 A resposta deve contemplar os aspetos que a seguir se enunciam, ou outros considerados relevantes:
- O Mundo tem “novas qualidades”, “diferentes em tudo da esperança”. Os efeitos da mudança na Natureza são
positivos: o tempo cobre “o chão de verde manto”, substituindo a “neve fria” do inverno.
1.2 As repercussões dessa mudança no sujeito lírico são negativas, pois a mudança transformou o “doce canto” em
“choro” (“Em mim converte em choro o doce canto”). Daí, a tristeza e amargura, provocadas pelas saudades desse
tempo passado.
GRUPO III