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Fichamento: FINLEY, M. I. Grécia Primitiva: Idade do Bronze e Idade Arcaica.

São Paulo:
Martins Fontes, 1981.

Introdução

Segundo o autor, a divisão dos períodos da “pré-história” grega foi desenvolvida com base no
“o progresso tecnológico e social”, de acordo com os “materiais duros empregados na
fabricação de instrumentos cortantes e armas – pedra, cobre, bronze, ferro, na ordem” (pg. 3).

“dividiu-se a Idade da Pedra em Antiga (Paleolítico) e Nova (Neolítico). Em breve, fez-se


necessário falar em Paleolítico Inferior, Médio e Superior; em um período Mesolítico,
intermediário; em Bronze Antigo e Recente, e assim por diante; e também separa cada idade
segundo a região ou civilização” (pg. 3).

“Assim, criou-se um sistema rápido de referências, que, apesar de mostrar-se cada vez mais
inadequado, chegando mesmo a induzir a erros, continua em uso” (pg. 3).

“[...] o fato é que algumas dessas convenções são necessárias quando se tenta registrar os
milhares de anos da pré-história” (pg. 4), por exemplo.

“Na Grécia, a Idade do Bronze começou por volta de 3.000 a.C., ou logo depois.” (pg. 4).

Sobre o advento dos metais na Grécia, “Se as migrações para a Grécia tiveram ou nõa alguma
participação nisso, é incerto e bastante polêmico (...). Evidentemente, as migrações não são
necessárias para explicar o advento dos metais, mas é possível que tenham acontecido – o mar
Egeu foi navegado por homens e ideias mesmo nos mais remotos tempos do Neolítico (e talvez
muito antes). Pelo menos alguns dos cereais cultivados e dos animais domesticados que
marcam o início do Neolítico sem dúvida foram importados do Oriente, provavelmente da Ásia
Menor” (pág. 6).

“Em suma, a península grega não era uma unidade isolada; alias, só recentemente passou a ser
uma unidade (e mesmo hoje não há unanimidade quanto às fronteiras da “Grécia”). Tanto em
sua pré-história quanto em sua história, a Grécia fazia parte de um complexo egeano maior,
abrangendo o continente grego, as ilhas (inclusive Creta e Chipre) e a costa ocidental da Ásia
Menor. Em termos gerais, toda a região partilhava de clima, solo e recursos naturais
semelhantes, e portanto de um modo de vida material semelhante.” (pg. 6).

“A chamada Idade do Bronze Antigo [...] não se caracterizou por uma aplicação prática
substancial do conhecimento da metalurgia, existente de longa data. Os objetos de metal
continuaram a ser raros no Egeu [...] em resumo, o metal, inicialmente, era um luxo no mundo
egeu, e continuou assim por tempo considerável [...]. Pedra, argila reflatária, osso e madeira
continuaram a ser os materiais duras, até que, finalmente, ao termino do terceiro milênio, o
emprego do metal teve um crescimento abrupto por todo o Egeu” (pg. 8).

“O advento da verdadeira era dos metais trouxe problemas radicalmente novos. Uma
sociedade que depende de metais, mesmo que parcialmente, tem de encontrar em sua
estrutura social um lugar para os especialistas, numa proporção inédita, e deve preocupar-se
(...) com a obtenção dessas matérias-primas escassas. O mundo egeu é pobre em metais. Para
as pequenas necessidades dos primeiros metalúrgicos egeus, pequenos depósitos locais
dispersos talvez bastassem (...). O transporte desses metais por longas distâncias era uma
caracerística da sociedade antiga, e podemos explicar a importância de certos povoados por
sua localização numa rota de metal” (pág. 9)
“Quando a escrita finalmente surgiu na Grécia e em Creta, teve uma difusão lenta e
incompleta (sem nunca ter chegado a Tróia, por exemplo), e seu emprego foi tão limitado que
é mais apropriado falar em pré-história do que em história grega, mesmo no que concerne aos
séculos em que as escritas linear A e linear B foram usadas para registros palacianos” (pág. 10)

“A ausência da escrita é uma limitação bastante séria para a sociedade em si. Para o
historiador moderno, constitui um obstáculo. Os “acontecimentos” de toda a pré-história
egéia podem ser contados nos dedos; são conhecidos apenas a partir de mitos e tradições bem
mais recentes e, como veremos, apresentam inúmeros problemas, para dizer o mínimo. A
arqueologia revela cataclismos, mas não as circunstâncias em que ocorreram, nem seus
participantes, embora se possam extrair amplas inferências, de considerável probabilidade, de
alguns poucos exemplos significativos.” (pg. 10)

“Sobre a questão cronológica, “não há um único objeto datado do mundo egeu (e são
pouquíssimos) que não seja importado. Todas as datas são arqueológicas. Estabelece-se uma
cronologia relativa a partir, primeiramente, da evolução estilística da cerâmica e dos estratos
ou camadas nas ruínas de cada sítio isoladamente” (pág. 11).

O “advento dos gregos”

“(...) Na Grécia, algo comparável só tornaria a acontecer no final da Idade do Bronze, mil anos
depois. Povoações ricas e poderosas para aqueles tempos, com uma longa história de
estabilidade e continuidade, literalmente desmoronaram, e o que veio a seguir foi, sem dúvida
alguma, de natureza e escola diferentes. A arqueologia não pode dar nomes ao povos (...) mas
nessa combinação específica de tragédias é legítimo perguntar se elas não testemunharam a
chegada simultânea, a um dos lados do mar Egeu, de migrantes que falavam uma forma
primitiva de grego e, do lado oriental, de povos que falavam outras línguas indo-europeias,
inter-relacionadas – hitita, luviano, palaico” (pág 14 e 15).

“(...) é preciso definir quais as implicações do suposto aparecimento, no Egeu, de indivíduos de


falas indo-europeias antes de 2.000 a.C. Para começar, todas as implicações raciais devem ser
firmemente descartadas – é absurdo imaginar que esses indivíduos já fossem “gregos” (...).
Tampouco se deve pensar que, quando chegaram, falavam uma língua que pudesse ser
facilmente identificada como grego. É mais provável que o grego que conhecemos tenha-se
desenvolvido na própria Grécia, influenciando o idioma dos recém-chegados. O grego, surgiu,
no mais tarde, no período micênico (conforme demonstram as tábulas em Linear B); nessa
época, segundo indicam mudanças e variações verificadas na língua, dois, ou possivelmente
três, dialetos gregos intimamente relacionados difundiram-se pela região. Assim, o padrão
dialetal clássico – jônico, eólico e dórico com suas variantes e subcategorias, tais como o ático
– deve ser atribuído ao período posterior à derrocada do mundo micênico, ou seja, depois de
1200 a.C” (pág. 16 e 17).

“O Egeu sempre constituiu um caminho para ideias, técnicas e instituições, tanto no início do
segundo milênio como em outras épocas. (...) Se, como parece, a Argólida foi o centro da
destruição infligida por invasores no final do terceiro milênio, a implicação adicional é que foi a
partir dessa região que, finalmente, cresceu e difundiu-se a cultura do Heládico Antigo III e do
Heládico Médio, dos quais, por sua vez, originou-se a civilização do Heládico Tardio (ou
micênica). Isso é bem diferente do quadro romântico segundo o qual toda, ou quase toda, a
Grécia foi conquistada numa única e grande investida. O “advento dos gregos”, em outras
palavras, representou a chegada de um elemento novo que, combinando-se com seus
predecessores, criou lentamente uma civilização nova (...)” (pág. 19)
As ilhas

As Cíclades e Chipre

Sobre as atividades econômicas das Cíclades na Idade do Bronze, “muitas ilhas tinham terra
arável – a agricultura, a pesca e a criação de carneiros, cabras e porcos, mais do que as
atividades marítimas, foram o sustento da maioria dos habitantes. Por outro lado, foi a
navegação, juntamente com os trabalhos em pedra e metal, que conferiu a importância às
Cíclades no presente contexto” (pág. 24).

“A chamada cultura Keros-Siros, contemporânea do Heládico Antigo II e do Minoano Antigo II,


nos séculos que tiveram início por volta de 2500, marca o apogeu. Técnicas metalúrgicas
influenciaram as de Creta e Grécia, chegando até Epiro; pode ter havido exportação de metais
(pelo menos de prata e de chumbo, relativamente abundantes nas Cíclades); artigos
manufaturados em argila e mármore foram amplamente difundidos. No entanto, não houve
praticamente quaisquer povoações grandes ou concentrações densas de pessoas. Até mesmo
Filacopi, em Melos, maior comunidade do Cicládico Antigo do Bronze de que se tem notícia,
permaneceu sem fortificação” (pág. 25 e 26).

“Os mais notáveis de todos os produtos cicládicos são os “ídolos” de mármore, na maioria
femininos, encontrados em grandes quantidades em sepulturas, não apenas nas próprias ilhas
como também no continente da Grécia e da Ásia Menor. (...) Como destinavam-se
basicamente a acompanhar os mortos nos túmulos, refletem uma certa tendência ou
concepção religiosa, que foi partilhada além dos limites das Cíclades” (pág. 26).

“Na Idade Média do Bronze as Cíclades perderam sua importância. Não há sinais de
perturbações maiores – pelos contrário, os remanescentes revelam uma existência contínua
por todo o período pré-histórico, assim como pelo histórico. Agora, porém, a pequenez das
ilhas reduz seu significado, que se faz notar apenas ocasionalmente, por causa de alguma
vantagem natural ou em relação a algum poder maior e mais amplo (...) Naxos e Melos
estavam destinadas a ocupar um lugar especial no relato de Tucídides sobre o império
ateniense do século V; mais tarde ainda, Melos nos deu a mais conhecida de todas as
esculturas gregas, a “Vênus de Milo”. A história das Cíclades fez parte integral da história da
Grécia, sobressaindo por um momento fugaz no início da Idade do Bronze” (pág. 26 e 27).

“Ao contrário das Cíclades, Chipre integrou-se na esfera grega apenas periodicamente e,
mesmo assim, nunca de maneira total. (...) Estava mais próxima da Ásia Menor e da Síria do
que da Grécia. (...) Assim o destino de Chipre foi traçado por dois fatores. O primeiro foi a
situação política e comercial no Mediterrâneo oriental como um todo. O comércio ativo entre
a Grécia e o Levante geralmente beneficiava Chipre, por ser uma parada no caminho. (...) O
segundo fator foi a quantidade da demanda externa pelo minério de cobre da ilha, a chave do
crescimento e da prosperidade cipriotas durante a Idade do Bronze. (...) afora a cordilheira
estreira ao norte e as extensas montanhas a oeste e sudoeste, Chpre possui uma vastidão de
terras aráveis e também boas comunicações internas, uma raridade no Egeu. Por milhares de
anos a agricultura constituiu a base da vida cipriota; as importantes cidades costeiras só
passaram a existir quando a exportação do cobre ganhou proporções significativas” (pág. 27 e
28).

“Depois de 2000, o comércio em direção ao oeste apresentou progressos, não com a Grécia,
mas com Creta, que necessitava cada vez mais de cobre e olhava para além das Cíclades. O
comércio com o Levante também cresceu” (...) Chipre entrava agora em seu período de
grandiosidade, que perdurou até 1200 a.C. O interior perdia importância à medida que
verdadeiros centros urbanos, de manufatura e comércio, cresciam por toda a costa sul e leste”
(pág. 29).

As ilhas

Creta

“Na Antiguidade, porem, as regiões central e oriental de Creta eram famosas por seus prados e
planaltos pastoris, suas oliveiras e videiras, carvalhos e ciprestes, pelas praias protegidas do
litoral norte e leste. Ao contrario de Chipre, contudo, Creta era pobre em recursos minerais e
não tinha uma localização tão privilegiada para o trafego marítimo que ia e vinha da Ásia
Menor, Siria e Egito.” (pg. 33)

“Por mais de 3 mil anos, Creta não apresentou nenhum sinal do que viria a acontecer na Idade
do Bronze.” (pg. 33)

“Estamos muito longe de compreender claramente a evolução da Idade da Pedra para a do


Bronze.” (pg. 34).

“Embora Creta tenha saído de seu longo isolamento para entrar no complexo da Idade do
Bronze egeia, recebendo influencias da Grécia e da Macedônia, das Ciclades, da Ásia Menor
principalmente, da Siria e até mesmo do Egito, sua historia, segundo nos informa o estudo de
seus remanescentes materiais, não é uma historia de imitação mecânica, nem de imigrações
extensas, mas a historia de uma sociedade que absorveu elementos novos num
desenvolvimento próprio, intenso e coerente” (pg. 36).

“Por volta do termino do Minoano Antigo, a tecnologia cretense já atingira o máximo possivel
de progresso na Idade do Bronze. O período seguinte, o Minoano Média, a idade áurea de
Creta, entre 2000 e 1600 ou 1550 caracterizou-se por um enorme avanço em outras esferas,
no poder politico, na riqueza e na arte. Foram os séculos em que se concluiu a “revolução
urbana” de Gordon Childe; quando os complexos palácios foram construídos e decorados com
afrescos surpreendentes; quando as artes menores atingiram o apogeu, com um estilo e uma
vivacidade, uma leveza e uma delicadeza de movimento que são imediatamente reconhecidas
como minoanas; quando a sociedade – ou pelo menos sua classe mais alta – revelou, por meio
de suas artes visuais, ter uma psicologia e um estilo de vida bem diferentes de quaisquer
outros de sua época” (pg. 37).

“talvez a mais notável manifestação da originalidade cretense ocorresse no campo da escrita.


Quando se pensa em quão poucos sistemas de escrita foram inventados em todos os lugares e
em todas as épocas da historia mundial, a contribuição cretense, dentro de um período
relativamente curto, parece estar além da compreensão. Primeiro surgiu um tipo de escrita
pictográfica modificada, que Evans, numa analogia com a escrita egípcia, rotulou de
“hieroglífica”. Entao, nos primeiros séculos do Minoano Medio, apareceu uma escrita mais
sofisticada, que Evans denominou de “linear A”, na qual a maioria dos sinais representava
silabas”. (pg. 38).

“Com o passar do tempo, a Linear A foi substituída em Cnossos pela Linear B, uma ramificação
mais complicada da Linear A. Embora a Linear B, ao contrário da Linear A, também fosse
empregada na Grécia continental, até agora os únicos exemplos de Creta foram encontrados
em Cnossos e, bem recentemente, em Cânia.” (pg. 40).
“a única referencia importante que temos da escrita cretense provem de pequenas tabulas de
argila, em forma de folha, que não chegam a 4 mil, muitas das quais são meros fragmentos.
Materiais perecíveis, como cera e papiro, certamente também foram usados, mas nenhum
vestígio deles se conservou. As próprias tábuas de argila sobreviveram por acidente. Não eram
cozidas antes de ser usadas e,tao logo perdiam a utilidade, eram descartadas; foram os
incêndios que se seguiram a destruição dos palácios que preservaram as tábuas porventura
em uso no momento – todas elas datam daquele ano.” (pg. 40).

“A mais valiosa contribuição das tabulas talvez tenha sido no sentido de fortalecer as
implicações de poder inerentes à arqueologia. De fato, pode-se argumentar que as
necessidades de uma administração centralizada cosntruiram um estimulo bem maior para o
desenvolvimento da escrita, tanto entre os sumérios como em Creta, do que as necessidades
intelectuais ou espirituais” (pg. 41).

“Deduz-se que a sociedade era governada pelo palácio central, que administrava cada detalhe
da economia interna, distribuindo pessoas e bens, desde matérias-primas a produtos
acabados, sem o uso de dinheiro ou de um mecanismo de mercado” (pg. 42).

“A história é a seguinte. O rei Minos era casado com Pasifae, filha do Sol, que tomara-se de
uma paixão anormal por um touro saído do mar. Ela pediu ajuda a Dédalo, o artesão de
ascendência divina, que inventou um dispositivo por meio do qual ela podia ter relações
sexuais com o animal. Entao, Pasifae deu a luz um monstro, metade homem, metade touro,
chamado minotauro. A uma ordem do rei, Dédalo construiu um labirinto para alojar o
monstro, e todo ano os atenienses, vassalos de Minos, eram obrigados a entregar sete jovens
e sete donzelas para alimentar o minotauro. Certo ano, Teseu, o jovem filho do rei ateniense,
convenceu o paia inclui-lo na consignação anual de vitimas. Quando chegou a Creta, Teseu
ganhou o amor de Ariadne, filha de Minos, e com a ajuda dela matou o minotauro. Em
seguida, o casal fugiu para a ilha de Naxos onde Teseu abandonou Ariadne, que foi encontrada
pelo deus Dioniso, com quem acabou se casando” (pg. 43).

“Argumenta-se que esse conto reflete, de forma mítica, a sujeição dos atenienses ao domínio
cretense – e, mais tarde, sua emancipação - durante a idade do Bronze.”(pg. 43).

“O touro, por outro lado, é amplamente documentado como elemento importante da religião
minoana: como animal sacrificial, ou nas conhecidas cenas de “saltar o touro”, que mais
provavelmente representam uma forma de ritual do que um mero esporte, ou nas pequenas
estatuetas de bronze encontradas em algumas das cavernas que foram centros de culto” (pg.
44).

“Quanto aos deuses e deusas, são extremamente difíceis de descobrir. Ao que parece, foram
razoavelmente numerosos, mas não eram abrigados em templos, razão por que não havia
estátuas de culto, características das civilizações contemporâneas do Oriente Próximo e das
civilizações gregas posteriores. Fazia-se a adoração em pequenos santuários domésticos, em
lugares sagrados ao ar livre e em cerca de 25 das cavernas situadas em várias partes da ilha”
(pg. 45).

“A impressão, reconhecidamente especulativa, é de que já no inicio do Minoano Media a


sociedade cretense estabeleceu-se como instituição e ideologia, que encontrou um equilíbrio
que, em séculos, nunca foi seriamente ameaçado, que era segura em todos os sentidos, talvez
até mesmo passivamente segura. Dai em diante, pode-se verificar um aprimoramento ainda
maior das artes manuais, o crescimento populacional, ampliações adicionais do palácios –
embora, em grande parte, esses progressos tenham seguido uma linha horizontal, por assim
dizer” (pg. 47).

“Então, tempos depois, homens vindos do continente grego assumiram, não se sabe como, o
poder em Cnossos e, por meio dele, também o controle de grande parte de Creta central. A
prova definitiva disso é o fato de o idioma das tabulas em Linear B de Cnossos ser o grego.
Infelizmente, como já se disse, todas as tabuas datam do momento da destruição, de modo
que não apresentam nenhum indício da data da penetração grega” (pg 47-8).

“Aparentemente os novos governantes de Cnossos adquiriram uma espécie de suserania sobre


uma parte considerável da ilha, sem que eles próprios tenham-se deslocado em grande
número para outros centros” (pg. 48).

“A vida em Creta prosseguiu, mas a era do poder e dos palácios encerrara-se definitivamente.
Dai em diante, o continente ocuparia o centro do palco, a uma calamidade natural, da qual não
se tem certeza, pode ter-se seguido a expulsão dos suseranos gregos de Creta por algum tipo
de levante popular, que também escorraçou o que sobrara do poder nativo, já seriamente
enfraquecido pelos invasores gregos um século antes. Mas tudo não passa de especulação,
para a qual não há fundamentação segura.” (pg. 49).

Civilização Micênica

“O prelúdio extraordinário dessa civilização só é plenamente atestado em Micenas. Equivale a


não mais que dois círculos tumulares. O mais antigo, cuja data principal é 1600 a.C., foi
escavado por arqueólogos gregos no fim de 1951 e hoje é conhecido por Círculo B. O outro,
talvez de um século depois (Círculo A), foi encontrado por Heinrich Schliemann em 1876 (seis
anos após ele ter descoberto Tróia), passando a constituir a ruptura fundamental no estudo
moderno da Idade do Bronze grega. Ambos os círculos faiam parte de um grande cemitério,
provavelmente fora da povoação. Três características (...): primeira, os círculos foram
marcados deliberadamente e projetados para serem importantes; segunda, os objetos
funerários eram numerosos, luxuosos e, em parte, bélicos; terceira, a ideia de deixar
lembrança do poder e da autoridade foi concentrada totalmente nesses túmulos, pois não se
encontrou nenhum vestígio de povoação, do que se pode concluir que não havia muros, nem
fortificações, nem palácios feitos de pedra. Os sepultamentos eram distribuídos
irregularmente no interior dos círculos (...)” (pág. 52).

“O período dos túmulos-tholos (túmulo-colmeia) corresponde também à era em que a


atividade do continente torna-se nitidamente visível no estrangeiro, conforme indicam
inúmeros achados cerâmicos, a princípio sobretudo no Oeste (Sicília e sul da Itália) e, ao final
do Heládico Tardio II, também em outra direção, em Rodes, Chipre, Mileto, Ásia Menor e
outros lugares (...). Em linguagem e conteúdo, são comparáveis às de Cnosso e, como estas,
não revelam qualquer dimensão de tempo, pois também datam de um momento de
destruição e conflagração. Se a data normalmente aceita (logo depois de 1400) para a queda
de Cnosso está correta, então os indivíduos de idioma grego tomaram o controle dessa região
no auge do período dos túmulos-tholos” (pág. 56 e 57).

‘Sabemos que a população crescera de maneira considerável e agrupara-se em vilarejos,


geralmente situados nas encostas que se projetavam acima dos campos agrícolas [...] sabemos
também que a sociedade tornara-se hierarquicamente estratificada, liderada por uma classe
de guerreiros comandada por chefes ou reis. Então, após 1400, ocorreu a dramática mudança,
da concentração em imponentes câmaras funerárias para a construção de várias fortalezas-
palácios” (pg. 59).
“Essa ênfase na fortificação e na belicosidade não pode ter sido uma mera questão de gosto
(...) As tábulas em Linear B do continente registram as mesmas atividades e os mesmos tepos
de inventário que as de Cnosso, o mesmo padrão de controle e administração do palácio sobre
a comunidade e a região circunvizinha” (pág. 60).

“Nas gerações que se seguiram aos primeiros túmulos-tholos, incursões e guerras constantes
presumivelmente elevaram algumas dinastias bem-sucedidas à condição de superpotências e
de suseranias, destruindo, em alguns casos, os chefes mais fracos ou derrotados e, em outros,
permitindo sobrevivessem em algum tipo de submissão. Em vários lugares, como, por
exemplo, Micenas, Tirinta e Tebas, há sinais de grande destruição e incêndios nesse período,
seguidos por mudanças nas edificações e fortificações – o que sugere prejuízos de guerra.
Além disso, houve ainda uniões dinásticas, que, como sempre, complicaram a sucessão ao
trono e as relações interestados” (pág. 60 e 61).

“O quadro resultante dessa análise das tábulas e da arqueologia mostra uma divisão da Grécia
micênica em vários pequenos estados burocráticos, com uma aristocracia guerreira, um
artesanato de alto nível, um intenso comércio exterior de produtos necessários (metais) e
artigos de luxo e, na melhor das hipóteses, uma condição permanente de neutralidade armada
nas relações de um com o outro e talvez, ocasionalmente, com os estados submissos. Nada
indica uma supremacia por parte de Micenas. Tal noção baseia-se inteiramente nos poemas
homéricos, em que Agamêmnon é comandante-em-chefe de um exercito de coalização
durante uma expedição contra Tróia [..]” (pg. 61).

O fim da Idade do Bronze

A documentação textual da tradição egípcia afirma que “as inúmeras incursões ao Egeu
oriental feitar por uma coalização livre de povos” (pg. 66) teria sido responsável pela
desagregação da realeza palaciana e o fim da Idade do Bronze.

“o fim da última grande fase da Idade do Bronze. Esse término foi mais abrupto que a ruptura
da maioria das civilizações passadas. Da tessalia ao norte, a Laconia e Messenia ao sul, pelo
menos uma dúzia de fortalezas e complexos palacianos foram destruídos, inclusive Iolcos,
Crisa, Glá, Pilos, Micenas e uma região de Esparta, que se encontra sob as ruinas dos tempos
clássicos. Outros povoados fortificados, e até mesmo cemitérios foram abandonados.
Arqueologicamente, toda essa devastação deve datar do mesmo período, cerca de 1200, e é
difícil imaginar que não houve relação alguma com a atividade dos “povos do Mar” e dos
destruidores do Império Hitita” (pg. 67).

“Quanto aos povos da Grécia, o ataque contra eles partiu da região mais próxima ao norte,
qualquer que tenha sido sua origem. [...] Os invasores obtiveram êxito na penetração e
destruíram as fortalezas do Peloponeso, aniquilando assim a organização politica e o padrão
de povoação que tenham como finalidade proteger.” (pg. 68).

“(...) não há controvérsia alguma quanto à magnitude da catástrofe na Grécia. (...)Em primeiro
lugar, a destruição significou a derrubada de palácios e de complexos-fortalezas. Com eles,
podemos presumir, caiu a estrutura social piramidal específica que os havia originado. Assim, o
túmulo-tholos desapareceu, com algumas exceções um tanto misteriosas e em lugares
remotos como a Tessália e talvez a Messênia. O túmulo-cista voltou a predominar, como
provavelmente aconteceu entre as classes inferiores durante o período micênico. A arte da
escrita também desapareceu, o que deixa de parecer estranho quando se compreende que,
segundo as evidências de que dispomos, a única função da escrita no mundo micênico era
atender às necessidades administrativas do palácio. Com o desaparecimento deste último,
foram-se a necessidade e a arte. E o palácio desapareceu de modo tão cabal, que nunca mais
ressurgiu na Grécia Antiga (...)” (pág. 72)

Essa destruição foi obra dos “povos do mar” em seu caminho para o Egito, conforme atesta
claramente o relato de Ramses. Nesse caso, seria tentador imaginar uma primeira onda, de
grandes proporções, de refugiados grego, cujo impacto se observa no novo quadro
arqueológico, a qual se seguiram, talvez duas décadas depois, os destruidores “povos do mar”.
Mas ainda continuaria sem resposta a dificílima questão de como os refugiados poderiam ter
provocado tamanho impacto em tempo tão curto” (pg.74).

“A população descreveu e ficou mais pobre [...] São incontestáveis a inferioridade artística e
técnica dos achados, a ausência de tesouros e, sobretudo, de construções grandes, sejam
palacianas, militares ou religiosas. A sociedade micênica fora decapitada, e os sobreviventes,
juntando-se ao novo elemento invasor, construíram um outro tipo de sociedade. É exatamente
esse processo que a arqueologia, por si só, não consegue esclarecer. Que se tratava de uma
sociedade inteiramente nova, porem, fica demonstrado mais tarde, quando a escrita retornou
à Grécia permitindo-nos conhecer alguma coisa sobre a economia e a organização social e
politica” (pg. 75).

“Não se deve permitir que a concentração inevitável em remanescentes materiais e na


tecnologia ofusque a dimensão daquela interrupção. Logicamente, as pessoas continuaram a
plantar, criar animais e manufaturar cerâmica e ferramentas, empregando basicamente as
mesmas técnicas de antes. Também conservaram o culto aos seus deuses, assim como a
prática dos rituais necessários e nessa esfera de atividade, provavelmente, houve tanto
continuidade quanto mudança. Mas a sociedade estava agora organizada de uma outra forma,
tomara um caminho de desenvolvimento muito diferente e criara novos valores. A idade do
Bronze chegara ao fim” (pg. 75).

Idade das trevas

“A arqueologia traz para o primeiro plano o colapso e o declínio ocorridos por volta de 1200
a.C., seguidos pela pobreza e por uma baixa qualidade artística e tecnológica. O que revela
com bem menos clareza, e, em certos aspectos essenciais, absolutamente nada, é o progresso
dos séculos posteriores a 1200, não só em termos materiais, com o surgimento do ferro como
o novo e mais avançado tipo de metal, como também social, política e culturalmente. O futuro
dos gregos não está nos estados burocráticos, centrados nos palácios, mas no novo tipo de
sociedade que se formou a partir das comunidades empobrecidas que sobreviveram à grande
catástrofe (...) Assim, no sentido de que somos nós que tateamos no escuro, e somente por
causa desse sentido, é legítimo adotar a convenção que denomina de “idade das trevas” o
longo período da história grega entre 1200 e 800” (pág. 80)

“É no decorrer do século XI que inovações genuínas significativas aparecem pela primeira vez
no registro arqueológico. Há a cerâmica “protogeométrica”, reconhecida mais facilmente pelos
círculos delineados a compasso e semicírculos pintados com pincel múltiplo (...). Novas
ferramentas, armas e pequenos objetos passam gradualmente a ser manufaturados em ferro,
que substitui o bronze. Com relação às ferramentas de corte e armas, a mudança é abrupta e
completa (...)” (pág. 81).

“Muitas regiões apresentam mudanças não só na estrutura dos túmulos como também nas
práticas funerárias. Digna de nota é a substituição da inumação pela cremação, iniciada por
volta de 1050 em Atenas, onde há provas numerosas e contínuas” (pág. 81).
“Então, aproximadamente no final do mesmo século, surge uma outra característica nova, cujo
significado é bem mais obvio: o estabelecimento, por migrantes da península grega, de
pequenas comunidades ao longo da costa da Ásia Menor e nas ilhas próximas. Com o tempo,
toda a orla ocidental da Ásia Menor tornou-se grega, e o Egeu converteu-se pela primeira vez
numa via marítima grega. As povoações a leste eram agrupadas, segundo o dialeto, em três
faixas do norte para o sul: eólico, jônico e dórico” (pg. 82).

“As primeiras povoações foram eólicas e jônicas, as dóricas vieram pouco depois
(provavelmente não antes de 900)” (pág. 84).

“Não se sabe exatamente por que um determinado grupo escolher atravessar o Egeu naquele
momento, mas não é preciso adivinhar por que rumaram para esse destino. A costa da Ásia
Menor é constituída por uma série de promontórios dotados de defesas naturais, por trás dos
quais encontram-se férteis vales fluviais e planícies, e nos séculos XI, X e IX não havia poderes
estabelecidos, nem populações grandes que impedissem novos colonizadores de se fixarem”
(pág. 84).

“porém, não foi esta a rota principal (o contato com os frígios na Anatólia) da influência do
Oriente sobre o mundo grego da Idade das Trevas, e sim a rota marítima, com origem na Síria
e tendo Chipre como uma das grandes intermediárias. O contato entre a Grécia e o Oriente
Próximo nunca chegou a ser totalmente rompido; e nem poderia ter sido, pois, no mínimo,
havia a imperiosa necessidade grega de importar metal – cobre, zinco e depois o ferro – nessa
época vindo em grande parte, senão todo, do Oriente” (pág. 86).

Sobre os relatos de Heródoto correspondente a Idade das Trevas, como marco da ruptura com
um passado ‘mítico’, “o sítio de Posideion, segundo Heródoto (III 91) a cidade que, na época
dele, constituía a fronteira norte de uma das províncias persas (ou satrapias). Sobre o passado
de Posideion, o historiador limita-se apenas a relatar que fora fundada por um dos heróis
lendários gregos, Anfíloco. E, no geral, quando os gregos do Oriente finalmente começaram a
escrever a própria história – o que só aconteceu no século V a.C. – o período mais antigo foi
representado por pouco mais do que relatos de fundações centrados em indivíduos e relatos
de incidentes isolados, no mais das vezes conflitos. Não existe nenhuma narrativa anterior ao
século VI, e os historiadores não tiveram interesse algum em fazer uma exposição
fundamentada da história social ou institucional (...). O próprio Heródoto ficou embaraçado.
Ao sugerir (III 122) que Polícrates de Samos fora o primeiro grego a buscar um império
marítimo, explicou que estava “deixando de lado Minos” e outros como ele, que Polícrates
fora o primeiro “no que se chama de tempo dos homens” – vale dizer, ao primeiro dos tempos
históricos, em contraposição aos tempos míticos” (pág. 88).

“Não obstante, a arqueologia rejeitou como falso um elemento fundamental das tradições
sobre a antiga colonização jônica, que se imagina ter sido levada a cabo numa única ação,
organizada e iniciada em Atenas (...). Atenas de fato teve participação em algumas povoações
jônicas, mas não há fundamentação quanto ao resto” (pág. 88).

“a tradição que atuou como pano de fundo para os poemas homéricos foi essencialmente a da
Idade das Trevas (e sua existência fornece um parâmetro importante para que se possa julgar
o período com base apenas em seu empobrecimento material). Foi uma tradição que se voltou
deliberadamente para uma idade heroica perdida , e há aspectos de seu próprio mundo que os
poetas conseguiram excluir” (pág. 90).

“As práticas religiosas também passaram por mudanças significativas. O mundo micênico
sepultava seus mortos; os poemas homéricos cremavam-nos, sem exceção. Novamente,
cumpre observar uma diferença dentro da própria Idade das Trevas. Por volta de 1050, a
cremação dos adultos tornara-se universal na maior parte do mundo grego, mas 200 ou 250
anos depois, a inumação voltou ao continente, enquanto que a cremação prosseguiu em
Creta, nas Cíclades, Rodes e Jônia. Nesse ponto, a Ilíada e a Odisséia continuam firmemente
ancoradas nos primórdios da Idade das Trevas, embora a parafernália e os ritos de luto possam
ser ilustrados por sepulturas do final das Idade das Trevas e por cenas retratadas na cerâmica
‘geométrica’ posterior a 800. Foi o período em que as figuras humanas e de animais voltaram à
arte grega pela primeira vez desde a idade micênica (...). Não há cenas de epifanias, de danças
ritualísticas, nem de iniciação; são pouquíssimas as figuras, tato na escultura quanto na
decoração de cerâmicas, que podemos imaginar como deuses (...)” (pág. 92).

“Em suma, os poemas homéricos conservam algumas ‘coisas’ micênicas – lugares,


armamentos e armas, carros de combate – mas pouco das instituições ou da cultura
micênicas” (pág. 92).

“O mundo de Agamêmnon, Aquiles e Ulisses era feito de reis e nobres insignificantes, que
possuíam a melhor terra e grandes rebanhos e tinham uma existência senhorial, na qual
incursões bélicas e guerras locais eram frequentes. A casa e a família do nobre (oikos)
constituíam o centro da atividade e do poder. A extensão do poder dependia da riqueza, do
valor pessoal, dos vínculos por casamento e alianças e dos servos. Não há nenhum papel
atribuído a tribos ou a outros grandes grupos ligados por parentesco” (pág. 93).

“Seria ilusório acreditar que se poderia tirar daí a base para uma historia da Idade das Trevas. É
licito apenas supor que, após a eliminação dos governantes do mundo micênico, e portanto de
toda a estrutura e poder que eles encabeçavam, a sociedade teve de reorganizar-se com novos
arranjos e valores, adequados a nova situação material e social” (pg. 94).

“a época da criação da Iliada e da Odisseia os pares haviam prescindido do rei em quase todo
os lugares e substituído a monarquia pela aristocracia. De uma forma um tanto nebulosa, as
pessoas comuns também existiam como uma corporação, mas não como uma força politica
em qualquer sentido constitucional” (pg. 95).

“Finalmente, no século VIII, os gregos retomaram a escrita, na forma do alfabeto emprestado


aos fenícios e modificado. Quanto a esse fato, a tradição grega acertou (embora não fizessem
ideia da data). Temos condições de determinar como fonte a escrita norte-semítica, mais
especificamente a escrita cursiva usada em atividades comerciais, em vez dos caracteres
monumentais de Biblos, por exemplo. (...) os primeiros a empregarem a escrita talvez tenham
sido os povos da Eubeia, de Creta e de Rodes, de maneira mais ou menos independente uns
dos outros; daí a arte espalhou-se, por um uma rede complicada de rotas, para todas as
comunidades gregas. Falta-nos compreender melhor as razões imediatas pelas quais o
alfabeto foi adotado naquela época (provavelmente antes de 750) e por que se difundiu tão
rapidamente” (pág. 96).

Sociedade e políticas arcaicas

“(...) apesar dos Agamêmnon e Ajax dos poemas homéricos, seus verdadeiros governantes da
Idade das Trevas eram chefes insignificantes dentro de uma estrutura de “numerosos reis”,
cujo desaparecimento de cena nada teve de dramático e memorável. Sem eles, os nobres
foram compelidos a formalizar os órgãos consultivos, anteriormente informais, que vemos em
ação nos poemas homéricos. Foi assim que surgiram os conselhos e cargos públicos (que
denominamos ‘magistraturas’), com prerrogativas e responsabilidades mais ou menos
definidas e uma máquina para seleção e rodízio, restritos ao grupo fechado da aristocracia
proprietária de terras” (pág. 100).

“Essas comunidades eram pequenas e independentes. Seguindo o padrão residencial


mediterrâneo, possuíam um centro “urbano”, que por longo tempo não passou de um vilarejo,
onde geralmente residiam as pessoas mais ricas. A praça da cidade, um espaço aberto, era
reservada; mais tarde, seria flanqueada por edificações cívicas e religiosas [...]mas o acesso
fácil foi preservado, para que o povo pudesse ser reunido quando necessário. A praça era a
ágora, na acepção original da palavra um “local de reunião”, muito antes de ter sido invadida
por lojas e bancas, de modo que a tradução habitual de “mercado” para o termo ágora
raramente é correto e as vezes totalmente errada. Via de regra havia também uma acrópole,
um ponto elevado para servir de cidadela para a defesa. Basicamente, a cidade e o campo
eram concebidos como uma unidade e não [...] como dois elementos antagônicos” (pg. 101).

“A comunicação por terra entre um reduto e outro era lenta e cheia de obstáculos, às vezes
quase impossível em face da resistência. Como no interior praticamente não existiam vias
navegáveis, o mar tornou-se, sempre que possível, o caminho habitual dos gregos. Na
antiguidade, os gregos converteram-se no povo do mar par excellence, muito embora sua
atitude em relação ao mar fosse notavelmente ambígua: o mar era habitado por aquelas
amáveis ninfas, as Nereidas, mas governado por Poseidon, a quem os homens temiam e
serviam, mas não amavam. Entretanto, quando se viram forçados a empreender um
movimento continuo de expansão, a partir de meados do século VII, os gregos partiram para o
mar, tomando o rumo oeste e nordeste. No final da Idade Arcaica, a Hélade ocupava uma
região enorme – do litoral notes, oeste e sul do mar Negro, passando pelo oeste da Ásia
Menor e a Grécia propriamente dita, até grande parte da Sicília e o sul da Itália, prosseguindo
em direção oeste, ao longo de ambos os litorais do Mediterrâneo, até Cirene na Líbia e
Marselha, além de algumas localidades da costa da espanha. Aonde quer que chagassem,
estabeleciam-se na beira do mar, não no interior.” (pg. 102).

“Esquematicamente, pode-se conceber o movimento de “colonização” grega como duas


longas ondas. O movimento ocidental teve inicio por volta de 750 a.C. e prosseguiu livremente
até meados do século seguinte, acompanhado de uma onda secundária que durou cerca de
mais um século, quando o processo foi concluído. A migração rumo ao nordeste começou
antes de 700 com povoações na região da Trácia, em ilhas próximas como Tasos e na Tróade,
na Ásia Menor, seguida, a partir de 650, por outro movimento que alcançou a região do
Helesponto e ambos os litorais do mar Negro” (pg. 103).

“Enquanto as migrações anteriormente não passaram de movimentos ocasionais e incertos,


dessa vez tratava-se de um deslocamento organizado da população, embora ainda em número
reduzido – emigração em grupo sistematicamente preparada pelas ‘cidades-mães’ (pág. 104).

“Apoikia, o termo grego comum para povoações novas no estrangeiro, conota “emigração”
sem implicar o sentido de dependência subentendido na palavra colônia, utilizada por nós.
Vida de regra, cada apoikia era, desde o inicio e intencionalmente, uma comunidade
independente conservando vínculos sentimentais e muitas vezes religiosos com a “cidade-
mae”, mas sem estar econômica ou politicamente subordinada a ela. Com efeito, essa
independência serviu para manter relações amistosas com a cidade de origem” (pg. 104)

“(...) As informações (sobre as migrações) servem apenas para indicar a cronologia do


movimento, que em linhas gerais foi comprovado pela arqueologia, para salientar o modo
como as povoações ativeram-se ao mar, e para revelar o número, a diversidade e a expansão
geográfica das comunidades gregas envolvidas. As evidências literárias sobre o norte do Egeu o
o mar Negro são bem mais escassas. (...) Em breve outras ilhas egeias entraram em cena –
Paros, Rodes, e, sobretudo, Quios. Então, quando o movimento ultrapassou a costa egéia e
atingiu as praias do mar Negro, Mileto tornou-se a principal cidade-mãe (seguida por Mégara).
Se todas as referências à atividade de Mileto fossem tomadas ao pé da letra, a cidade em si
teria ficado completamente despovoada – o que constitui mais uma prova do papel limitado
das ‘cidades-mães’” (pág. 105).

“Todas as terras para as quais os gregos migraram, tanto as do Leste, quanto as do Oeste,
eram habitadas por povos variados, em diferentes estágios de desenvolvimento, com
diferentes interesses nos recém-chegados e diferentes capacidade de resistência. Os etruscos
da Itália central eram suficientemente poderosos para deter a expansão grega num limite
definido a partir da baia de Nápole e avançados o bastante para adotar dos gregos o alfabeto,
os elementos religiosos e grande parte da arte” (pg. 105)

“A distinção (entre mercadores e colonizadores) torna-se mais nítida em face do pequeno


número de postos comerciais legítimos estabelecidos no decorrer do tempo, tais como os
lugares chamados de Empória (que em grego significa literalmente ‘feitoria’ ou ‘centro
comercial’), na Espanha (hoje Ampúrias) e na foz do rio Don; ou a interessantíssima povoação
em Naucrátide, no delta do Nilo, onde os faraós reuniam os representantes de alguns estados
gregos, sobretudo na Ásia Menor, que conduziam o comércio com o Egito. (...) A questão
decisiva, entretanto, é que no início essas localidades não eram poleis gregas, mas pontos de
contato entre o mundo grego e o não-grego, ao passo que todas as outras povoações novas
sempre comunidades gregas, em todos os aspectos. Isso significa, acima de tudo, que (as
colônias) eram povoações basicamente agrícolas, fundadas por homens que saíam em busca
de terras. Instalavam-se perto do mar e preferiam os bons ancoradouros” (pág. 106 e 107).

Em suma, a característica comum a todas as cidades-mae foi uma condição de crise grave,
capaz de provocar a mobilização dos recursos necessários para uma aventura tao difícil quanto
um transplante ultramarino e ainda de criar a psicologia adequada. Por trás dos relatos
tradicionais de rixas, querelas e assassinatos, encontra-se um conflito social mais profundo e
amplo” (pg. 107).

“O conflito social estava arraigado na natureza da sociedade aristocrática e na maneira como


ela se desenvolveu ao longo da Idade das Trevas. A arqueologia revela que a riqueza e as
habilidades técnicas cresceram lentamente e também que, no final do período, houve um
considerável aumento populacional” (pg. 108).

“Com a eliminação dos reis, dos quais restou apenas o nome, a aristocracia aparentemente
cerrou fileiras, controlando a maior parte da terra e criando instrumentos políticos para
monopolizar o poder. A ênfase em genealogias nas tradições posteriores, com cada ‘família’
nobre reivindicando uma antepassado divino ou ‘heroico’, não deixa dúvidas quanto à
tendência para uma aristocracia de ‘sangue’ exclusiva” (pg. 109).

“A aristocracia também fez uso de sua riqueza para estabelecer vínculos de patronagem e
dever com os plebeus. Devemos admitir que não temos senão uma ideia vaga da condição
social da massa de lavradores, artesãos e marinheiros. (...) ainda não se sabe se, e em que
medida, o grosso da mão de obra nos campos e pastos e nas propriedades dos nobres era livre
ou semi-servil (...) havia escravos de fato, mulheres cativas e uns poucos homens. (...) é mais
provável que estivessem presos também em outros aspectos – como, por exemplo, na
obrigação de contribuir com uma parte do que produziram oi de prestar uma certa quantidade
de serviços não pagos.” (pág. 110).
“Devemos levar em conta ainda fazendeiros aristocratas “desclassificados” e uma classe média
e fazendeiros relativamente prósperos, mas não-aristocratas, além de um pequeno numero de
mercadores, embarcadores e artesãos. Sua origem e história podem ser obscuras, mas eles
estão presentes nos trechos da poesia lírica iniciada por volta de 650 e foram o fator principal
da mais importante inovação militar da história da Grécia mais ou menos na mesma época.
Depois que a panóplia já foram suficientemente aprimorada, não se passaram mais do que
algumas décadas para uma comandante – possivelmente o quase lendário Fídon de Argos –
visse a possibilidade de organizar soldados de infantaria fortemente armados, chamados
hoplitas, numa formação compacta de fileiras cerradas. As vantage s desse tipo de organização
sobre a dos guerreiros aristocráticos, bem mais espalhada, eram tão grandes que, no final do
século VII, a falange tornara-se a formação normal no mundo grego” (pg. 110 e 111.).

“A falange, porém, pela primeira vez propiciou aos plebeus de mais recursos uma função
militar importante (...) Num nível simbólico, um lugar na falange podia finalmente levar o
guerreiro a requerer uma participação no poder político” (pág. 111).

“assim, todas as classes estavam envolvidas num conflito social, ou stasis, em diversas
combinações e alianças. No seio da própria aristocracia, a competição pela honra e pelo poder
era normal; a criação de instrumentos formais de administração politica apenas modificou as
condições da disputa” (pg. 111).

“Essa afirmação lapidar, fazendo um uso impreciso da palavra “escravidão”, é demasiado


simplista e esquemático. E também não temos condições de dizer até que ponto a stasis se
tornara universal. Entretanto, a tradição de reivindicações generalizadas por redistribuição das
terras e cancelamento das dividas não foi ficção. Tampouco é falsa a ênfase sobre o monopólio
aristocrático na administração da justiça” (pg. 112).

“clamava-se que só poderia haver justiça quando a lei se tornasse do conhecimento publico e
sua administração fosse aberta e equitativa. Inevitavelmente, os homens incumbidos dessa
tarefa em face da insistência das reivindicações – tais Como Solo em Atenas, Carondas de
Cátana e Zaleuco de Locros no Ocidente – foram tanto reformadores quanto legisladores. Por
não disporem de precedentes, inventaram livremente, numa espécie de originalidade
compulsória que caracterizou cada aspecto da vida e da cultura da Grécia arcaica. Não há
exagero nessa afirmação. A estrutura politica, constituída de magistrados, conselhos e,
posteriormente, assembleias populares, era invenção livre” (pg. 113).

“as palavras de Sólon servem para nos lembrar de que os desdobramentos econômicos,
jurídicos e políticos na Grécia arcaica ocorreram no decurso de um longo período de lutas,
confusas, desiguais, intermitentes, porem bastante violentas em momentos críticos. A
principio, a oportunidade de enviar um setor da população para novas fundações serviu como
uma válvula de segurança. Entretanto, decorrido certo tempo as soluções externas se
esgotaram. A stasis explodiu abruptamente, indivíduos facciosos e ambiciosos aproveitaram a
oportunidade em beneficio próprio e surgiu a instituição especificamente grega da tirania. Não
sabemos se os tiranos arcaicos chegaram a denominar-se dessa forma, mas, seja como for, o
rotulo passou a ser aplicado genericamente a uma classe de homens que conquistaram o
poder autocrático em suas respectivas cidades-Estados. Com o tempo, como não poderia
deixar de ser, o rótulo adquiriu também um significado pejorativo” (pg. 114).

“O fator comum (para as ascensão dos tiranos) era a inabilidade das aristocracias hereditárias
em conter ou resolver os conflitos crescentes, fossem em suas próprias fileiras, fossem entre
os plebeus mais ricos, a população urbana cada vez maior ou o campesinato oprimido e
empobrecido pelas dívidas. Um outro fator, este ocasional, eram os conflitos com outros
estados, como o de Argos contra Esparta ou Atenas contra Mégara” (pág. 115).

Esparta

“Os periecos da Lacônia “viviam livremente em suas próprias pequenas comunidades mas
diferiam do padrão normal grego por carecerem, de modo geral, de autonomia na esfera
militar e em assuntos estrangeiros. Quando a esses aspectos, era subordinados a Esparta,
obrigados a aceitar a política espartana e, quando convocados, combater no exército
espartano e sob a autoridade de Esparta. (...) dóricos no dialeto que falavam e, assim como os
espartanos, com direito a ser chamados de lacedemônios, nome herdado do antepassado
Lacedemônio” (pág. 120).

“Ao longo da antiguidade, quando se escravizava um cidadão ou região, o costume era vender
os habitantes ou dispersá-los. Na lacônia, porém, os espartanos adotaram a alternativa de
manter toda a população submissa em sua própria cidade, nos limites do território nativo. (...)
Por serem privados de liberdade individual, os hilotas eram escravos, mas diferiam em muitos
aspectos dos verdadeiros escravos, que eram servos, propriedade pessoal de seus senhores.
Como vassalos do estado espartano (...) os hilotas detinham certos direitos, que geralmente
eram respeitados. Sua obrigação básica era lavrar a terra e cuidar dos pastos dos espartanos”
(pág. 120 e 121).

“Com exceção de Taras – e a participação espartana em sua povoação é certa, a despeito das
duas versões conflitantes – Esparta, nunca se envolveu no movimento de colonização arcaica.
A razão encontra-se em seu território extenso, sobretudo depois da conquista da Messênia, e
esse fator, aliado ao sistema de periecos e hilotas, constituiu uma lacuna fundamental no
“típico” padrão grego de desenvolvimento”. (pág. 122)

“Os homens esparciatas, os pares, constituíam agora uma instituição militar em tempo
integral. Suas vidas, em princípio, era totalmente moldadas pelo estado e totalmente
dedicadas a ele. Mesmo o poder de decidir se um bebê do sexo masculino deveria ou não
sobreviver foi tirado dos pais e delegado a funcionários públicos. (...) Aos sete anos um garoto
era entregue ao estado para receber sua educação, centrada no valor físico, nas habilidades
militares e nas virtudes da obediência. Na infância e na adolescência, passava por uma série de
grupos íntimos classificados por idade; já adulto, relacionava-se sobretudo com seu regimento
militar e seu rancho. Diversos rituais, em estágios determinados no crescimento de um
homem, fortaleciam o sistema” (pág. 124).

“A concentração da finalidade única da vida do esparciata era reforçada por seu desencargo de
quaisquer preocupações ou atividades econômicas” (pág. 124).

“No topo da estrutura governamental estavam os dois reis hereditários (...). Comandavam os
exércitos no campo, mas, na cidade, não só careciam do poder de autoridade real como ainda
estavam sujeitos à supervisão dos éforos. Em contrapartida, mantinham algumas funções
sacerdotais tradicionais; recebiam, por direito, diversas gratificações (...).” (pág. 125).

“A gerousia era um conselho de trinta anciãos – homens acima dos sessenta anos, com cargos
eletivos vitalícios. Ao que parece, os reis não presidiam a gerousia, nem tinham quaisquer
prerrogativas, em suas deliberações, além das de qualquer outro membro” (pág. 125).

Atenas
“Os atenienses (...) atribuíam a unificação da Ática – ou, na definição deles, synoikismos – a
uma única figura heroica, o rei Teseu”. (pág. 130).

“Atenas também não participou do movimento de colonização. Embora atenienses possam ter
migrado individualmente. (...) Talvez seu grande território tenha propiciado um escoadouro
que outros estados tiveram de procurar no estrangeiro. Além do mais, seu recorde contínuo
de produção de cerâmica, a partir da protogeométrica mais antiga, indica um desenvolvimento
industrial acima da média, que talvez tenha funcionado como uma segunda válvula de
segurança contra o declínio rural e a superpopulação. Com o tempo, porém, Atenas não pôde
escapar à stasis universal da Grécia arcaica, com as mesmas consequências, os mesmos
agrupamentos sociais conflitantes, a mesma necessidade de um tirano. O monopólio
econômico e político das famílias eupátridas (nome dado à aristocracia ateniense) viu-se
ameaçado, tanto do interior do círculo fechado quanto pelas classes inferiores, na segunda
metade do século VII, quando a crise surgiu aparentemente de um modo um tanto súbito” (
pág. 130 e 131).

“O primeiro episódio registrado foi uma tentativa fracassada, por volta de 630, de estabelecer
a tirania, por parte de um nobre chamado Cílon. Relatos atenienses posteriores sugerem que
Cílon teve apoio sobretudo externo, particularmente de seu sogro Teágenes, tirano de
Mégara; que os atenienses resistiram em massa; e que a casa eupátrida dos Alcmeônidas
atraiu uma maldição para si mesma ao violar um salvo-conduto e massacrar os seguidores de
Cílon” (pág. 131).

“Dracon. Supoe-se que ele tenha condificado a lei em 621 – “um código escrito com sangue,
não com tinta”. O que Drácon provavelmente fez foi escrever em detalhes a lei concernente a
assassinatos. Parte dessa lei ainda vigorava no final do século V a.C., e o pouco que sabemos
dela trata principalmente de maneira para por um fim à tradicional luta sangrenta entre
famílias [...] Que Drácon tenha codificado todas as leis, porém, certamente não passa de
ficção. Esse foi o trabalho de Solon na geração seguinte” (pg. 131).

“Solon era um eupátrida que em 594 foi nomeado arconte, o mais alto cargo do estado, com
poderes plenipotenciários para acabar com a stasis por meio de uma reforma total das leis e
do sistema politico. Tanto a escolha de n quanto a forma em que ela se deu são significativas.
Em vez de tomar o poder Solon foi indicado para assumi-lo, o que prova que na própria
aristocracia havia um numero considerável de membros dispostos a aceitar concessões
maiores para a estrepitosa oposição constituída em grande parte de camponeses em regime
de servidão e clientelismo” (pg. 132).

“Seu primeiro ato (Sólon), a chamada seisachtheia, ou ‘livrar-se de fardos’, referiu-se à questão
fundamental da servidão do camponês. Dívidas foram canceladas; os inúmeros atenienses
presos involuntariamente à condição de meeiros (hektemoroi) ou convertidos em servos em
virtude das dívidas foram libertados; outros, vendidos no estrangeiro como escravos, foram
trazidos de volta. Promulgou-se entao uma lei proibindo para sempre a pratica de hipotecar as
pessoas de gomens e mulheres livres como seguro pelas dividas. Solon recusou-se, porem, a
tomar a mais revolucionaria de todas as providencias, o confisco de grandes propriedades para
distribui-las entre os camponeses mais pobres e os sem-terras” (pg. 133).

“A investida mais decisiva de Solon foi a criação de uma hierarquia formal de posição social,
cujo único critério era a riqueza. De acordo entao com esse critério, dividiu-se o cropo de
cidadãos em quatro classes- é essencial ressaltar que a riqueza não era avaliada em termos de
dinheiro, mas pela produção agrícola. Os cargos mais altos, com duração de um ano,
restringiam-se a primeira classe, homens cujas terras produziam quinhentas medidas de secos
ou líquidos. Um desses cargos, o arconte consituia a porta de entrada para o Conselho do
Areópago, o organismo tradicional de pares vitalícios com um poder de supervisão geral e
indeterminado sobre o estado [...] as duas classes seguintes eram elegíveis para os cargos
menores e, presumivelmente, para o novo conselho dos 400 criado por Solon. A classe
restante dos thetes, dos que não produziam duzentas medidas anuais, limitava-se a
assembleia” (pg. 134).

“Os plebeus mais ricos tornaram-se elegíveis para os cargos mais altos e para o Areopago,
rompendo assim com o monopólio dos eupátridas, sem contudo retirar-lhes o poder e a
influência” (pg. 134).

“As classes medias, inclusive os soldados hoplitas que possuíam terra suficiente, recebiam pela
primeira vez uma oportunidade de participar do governo. Mesmo os pobres, tanto urbano
quanto rurais, foram reconhecidos como parte ativa do demos como um todo, apesar de
manterem-se numa posição rigorosamente restrita” (pg. 134).

“Finalmente, um homem ergueu-se acima de todos eles e conseguiu o que Solon tentara
evitar, Pisistrato, um aristocrata influente cuja arvore genealógica, segundo ele, remontava a
Nestor, de Homero, e que conquistara renome numa guerra contra Megara, fez sua primeira
tentativa, de acordo com a tradição, em 561. Foi expulso algum tempo depois; voltou a tentar,
expulso novamente, até que, em 545, finalmente obteve êxito. Governou até morrer, em 527,
e foi sucedido pelo filho Hipias, cuja tirania terminou apenas em 510, mesmo assim graças a
um exercito invasor espartano” (pg. 135).

“É extremamente revelador, portanto, que Heródoto e outros autores sérios posteriores


tenham concordado que Pisístrato fora uma exceção, um ‘bom tirano’, na medida em que a
frase não contradissesse a si mesma. ‘Ele governou a cidade com moderação, mais como
cidadão do que como tirano’ (Aristóteles, Constituição de Atenas XVI 2). Concordavam
também que um dos segredos do êxito de Pisístrato e de seu filho consistiu em que nenhum
deles alterou a constituição de Sólon, providenciando apenas para que o arconte eleito
anualmente fosse sempre um membro da família ou um partidário” (pág. 135).

“Não é fácil definir com precisão o relacionamento entre os Pisistratidas e as demais famílias
aristocráticas de Atenas durante os 35 anos em que estiveram no poder [...] Os Alcmeonidas
chegaram a fazer uma tentativa malograda para destronar Hipias em 513, mas antes disso um
deles, Clistenes, ocupara o arcontado sob o governo de Hipias, e antes ainda sua irmã casara-
se com Pisistrato” (pg. 136).

“entretanto, a aristocracia ateniense sofreu uma derrota permanente sob o governo dos
Pisistratidas. Não se podiam anular os 35 anos de vigência da constituição de Solon, mesmo
com o tirano como supervisor constante, ainda mais que aquele também fora um período de
paz e prosperidade cada vez maior. Embora ainda detivessem os cargos mais importantes e
estivessem engajadas em relações externas, as famílias dominantes também eram subjugadas
no processo compelidas e tendo cada vez mais que se acostumarem a uma estrutura
constitucional que restringira as atividades facionais de antes. Quando os espartanos exilaram
Hipias em 510, uma ala da aristocracia liderada por Iságoras, procurou regressar aos bons
velhos tempos. Foram derrotados numa guerra civil de dois anos, após a qual Clistenes
reelaborou a constituição e assentou a base estrutural da democracia ateniense” (pg. 137).

“A grande atenção dada a edificações e festivais públicos (no período dos Pisistrátidas)
constituiu um fator de crescimento na economia da cidade. Um outro fator foi o notável
incremento da fina cerâmica pintada ateniense, que em meados do século VI obteve
rapidamente o monopólio total das exportações de cerâmica grega para outras cidades da
Grécia, para as colônias ocidentais e para os etruscos. A cunhagem ateniense é uma outra
evidência: embora não se saiba exatamente quando Atenas começou a cunhar a prata, a
mudança decisiva para as famosas ‘corujas’, a única moeda grega genuinamente internacional,
ocorreu ou no reino de Pisístrato, ou no do seu filho. Finalmente, mais e mais gregos de outras
cidades começaram a migrar para Atenas, à medida que se abriam novas perspectivas para o
comércio e a manufatura e à medida que a cidade se convertia num centro cultural pan-
helênico” (Pág. 138).

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