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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO

CEARÁ CAMPUS JUAZEIRO DO NORTE


CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA AMBIENTAL

MARCOS VINÍCIUS FURTADO GOMES

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ANÁLISE HISTÓRICA


CONCEITUAL DE PRÁTICAS “SUSTENTÁVEIS” E SUAS INTERAÇÕES
DENTRO DO ATUAL SISTEMA ECONÔMICO

JUAZEIRO DO NORTE-CE
2015
MARCOS VINÍCIUS FURTADO GOMES

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ANÁLISE HISTÓRICA


CONCEITUAL DE PRÁTICAS “SUSTENTÁVEIS” E SUAS INTERAÇÕES
DENTRO DO ATUAL SISTEMA ECONÔMICO

Monografia apresentada à banca


examinadora do curso de
Bacharelado em Engenharia
Ambiental do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará, Campus Juazeiro do Norte -
CE, como requisito parcial à
obtenção do título de bacharel em
Engenharia Ambiental.
Orientador (a): Prof. Me. João Adolfo
Ribeiro Bandeira

JUAZEIRO DO NORTE- CE
2015
G633d Gomes, Marcos Vinícius Furtado.
Desenvolvimento sustentável: uma
análise histórica conceitual de práticas
“sustentáveis” e suas interações dentro
do atual sistema econômico [manuscrito]
/ por Marcos Vinícius Furtado Gomes. –
2015.
107 f. : il. ; 29 cm.

Cópia de computador (printout).


Monografia (Bacharelado em
Engenharia Ambiental) – Instituto Federal
de Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará.
Orientador: Prof. Dr. João Adolfo Ribeiro Bandeira.
1. Desenvolvimento sustentável. I. Título.

CDD: 333.715
MARCOS VINÍCIUS FURTADO GOMES

DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL: UMA ANÁLISE HISTÓRICO


CONCEITUAL DE PRÁTICAS “SUSTENTÁVEIS” E SUAS INTERAÇÕES
DENTRO DO ATUAL SISTEMA ECONÔMICO

Monografia apresentada à banca


examinadora do curso de
Bacharelado em Engenharia
Ambiental do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do
Ceará, Campus Juazeiro do Norte –
CE, como requisito parcial à
obtenção do título de bacharel em
Engenharia Ambiental.

Aprovada em ___/___/___

BANCA EXAMINADORA

Prof°. Me. João Adolfo Ribeiro Bandeira (Orientador)


UFCA - Campus Icó

Profa. Dra. Cieusa Maria Calou e Pereira (Co-Orientadora)


IFCE - Campus Juazeiro do Norte

___________________________________________________________
Prof°. Me. Francisco William Brito Bezerra II (Examinador externo)
Faculdade Leão Sampaio
Dedico à minha mãe Maria Odênia
Furtado, por todo apoio, sem você
não teria chegado aqui.

Ao meu amigo George Ronan (in


memorian) que infelizmente não se
encontra mais conosco, mas que
sempre foi e é fonte de inspiração e
que tem participação nesta
conquista acadêmica.
AGRADECIMENTOS

Agradeço à minha família, em especial à minha avó Dona Dita e à minha


bisavó Madrinha Dulce (in memorian) pelo carinho e apoio que sempre me
deram e pelas orações que sem dúvida transmitiram energia para esta
conquista. Às minhas irmãs Daniele Furtado e Sarah Furtado por todo apoio e
motivação que me dão;

À minha companheira e meu amor Lyndyanne Dias que vem sempre me dando
apoio, incentivo e motivação para as minhas conquistas, te amo narceja;

Ao meu amigo Philipe Thayslon por todos esses anos de amizade, desejo
forças na sua recuperação meu amigo;

Ao meu amigo e orientado João Adolfo por ter aceitado em me orientar, pelo
seu apoio e por sua amizade verdadeira. Ao meu amigo Tarsizio Freitas pelas
correções e pelas conversas e ombro amigo que sempre nos conforta;

Aos meus amigos de longa data Anderson Carvalho, Claudener Souza, Junior,
Mikkael Duarte, Mario Machado, Neilson Bruno, Niel Ferreira, Renan Duarte,
Heli Malzoni que sempre foram fonte de força e inspiração e sempre estiveram
presentes nos momentos bons e difíceis;

Aos meus amigos de graduação Anderson Formiga, Isaaely Costa, Juliana


Filgueira e Vitória de Moraes por todos os momentos de amizade, apoio,
estudos e aprendizagem que vocês me proporcionaram;

Ao meu amigo Reginaldo Brito por toda amizade no decorrer do curso, por ser
responsável em apontar meus erros de forma que eu possa corrigi-los e por
todos os momentos que vivenciamos juntos ao longo desses cinco anos de
amizade.

Aos professores do curso de Engenharia Ambiental, em especial à Prof. Dra.


Girlaine Souza da Silva Alencar por ter me instigado e introduzido no mundo
acadêmico;
Prezo insetos mais que aviões.
Prezo a velocidade
das tartarugas
mais que a dos mísseis.
Tenho em mim
esse atraso de nascença.
Eu fui aparelhado
para gostar de passarinhos.
Tenho abundância
de ser feliz por isso.
Meu quintal
É maior do que o mundo.

(Manoel de Barros)

“Se a natureza fosse um banco, já teria sido salva.”

(Eduardo Galeano)
RESUMO

O debate ambiental tem se intensificado nas últimas décadas principalmente no


que diz respeito ao tema Desenvolvimento Sustentável. Existem várias
vertentes e debates entre diferentes autores sobre o tema. Assim, o presente
trabalho tem como principal objetivo a análise da possibilidade de uma
sustentabilidade global dentro do sistema capitalista. Para esta analise traçou-
se uma digressão histórico e conceitual sobre o tema Desenvolvimento
Sustentável. Assim, observou-se como surgiu seu principal conceito, suas
vertentes e seus debates. Este aspecto demonstra-se importante para
confrontar as ideias abordadas no texto, a partir de levantamento bibliográfico
de vários autores afim de realizar um questionamento crítico sobre o
desenvolvimento sustentável e a sociedade capitalista. No decorrer do
trabalho, surgem debates sobre a relação homem e natureza, denunciando o
caráter predatório predominante da sociedade com os recursos naturais.
Práticas realizadas nos meios de produção e consumo da sociedade, tais como
a obsolescência programada e a percebida, são discutidas e analisadas de
acordo com a finalidade do sistema capitalista, de forma a demonstrar os
impactos causados pela busca ao lucro. Conjuntamente a estas práticas é
ponderado sobre o atual nível de consumo e as necessidades impostas à
sociedade que são caracterizadas como fundamentais para uma qualidade de
vida. Finalmente, confronta-se três vertentes econômicas, sendo elas:
Economia Ambiental Neoclássica, Economia Ecológica e Ecomarxismo. Neste
capitulo é levantado suas principais filosofias e características bem como
críticas a tais modelos econômicos. Com esta análise, realizada de forma
multidisciplinar, concluiu-se que há uma impossibilidade de atingir uma
sustentabilidade global no atual modelo econômico, acreditando que suas
práticas são incompatíveis com a preservação e conservação socioambiental,
pois são capazes de atribuir valor monetário em tudo, inclusive no que não é
passível de preço, como por exemplo a natureza. Desta forma, o sistema
capitalista é capaz de apropriar-se do conceito de sustentabilidade para
obtenção de lucros sustentáveis. Acredita-se que para superar tais problemas
faz-se necessário superar as desigualdades socioambientais, bem como
superar o caráter de alienação do homem com a natureza e do homem com o
próprio homem, tomando o trabalho como forma mediadora capaz de modificar
a natureza e a sociedade, tendo como principal aspecto uma função social e
não mercadológica como é tratado pelo sistema capitalista. Esta avaliação e
conclusão da impossibilidade de atingirmos uma sustentabilidade global no
sistema capitalista não torna invalida todos os esforços atuais que buscam a
sustentabilidade e muito menos deve nos desmobilizar, deve apenas tornar a
sociedade consciente de seus atos e refletir sobre as ações que estamos
tomando.

Palavras-Chave: Desenvolvimento Sustentável; Natureza; Sistema Capitalista;


ABSTRACT

The environmental debate has been intensified in the last decades mainly with
regard to Sustainable Development. There are several slopes and debates
among different authors about the theme. So, the main objective of this paper is
to analyse the possibility of a global sustainability within the capitalist system.
For this analysis it was traced a historical and conceptual tour abou the theme
Sustainable Development. Then, it was observed how its main concept, slopes
and debates came up. This aspect seems importante to confront the ideas
approached in the text, based upon the bibliographical research of several
authors in order to make a critical question about the sustainable development
and the capitalist system. Along the text debates about the relation between the
mankind and the nature has arisen, reporting the predominant predatory
character of the society in relation to the natural resources. Practices held in the
means of production and consumption of the society, such as the programmed
obsolescence and the noticed one, are discussed and analysed in accordance
with the aim of the capitalista system, in a way that it is possible to demonstrate
the impacts caused by the search of profit. Besides these practices it is
considered about the current level of consumption and the needs imposed to
the society which are characterized as fundamental for quality of life. At last, it is
confronted 3 economical slopes, being them: Neoclassical Environmental
Economy. By this analysis, held in a multidisciplinar way, it was concluded that
there is no possibility of achieving a global sustainability in the current
economical model, believing that its practices are incompatible with the
socioenvironmental preservation and conservation, because they are able to
attribute monetary value in everything, even what is not for sale, the nature for
instance. Thus, the capitalist system is able to take the concept of sustainability
to obtain the sustainable profit. It is believed that to overcome such problems it
is necessary to overcome the socioenvironmental inequalities, as well as
overcoming the mankind character of alienation with regard to the nature and to
the mankind itself, taking the work as the mediating way able to modify the
nature and the society, having as main aspect a social function, not a marketing
one, as it is treated by the capitalist system. This evaluation and conclusion of
the impossibility of achieving a global sustainability in capitalista system do not
invalidate the current efforts that seek the sustainability and much less may
desmobilize, it can only make society aware of its actions and reflect about the
actions that we are taking.

Keywords: Sustainable Development; Nature; Capitalist System;


LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Linha do tempo da série histórica dos principais


acontecimentos ambientais importantes ao surgimento e
contextualização do desenvolvimento sustentável. ................................... 27

Quadro 2: As cinco dimensões do Desenvolvimento Sustentável dentro


do Ecodesenvolvimento. ............................................................................... 33

Quadro 3: Nível ótimo de poluição ............................................................... 73

Quadro 4:Externalidades geradas pela “Papel Branco S/A” sobre a


indústria de cooperativas agropastorís “Cooperativas Boi Bumbá". ....... 75

Quadro 5:Tipos de custos sociais e danos correlatos. .............................. 88


SUMÁRIO

1. Introdução ............................................................................................................... 13

2. Referencial Teórico ................................................................................................ 17

3. Histórico .................................................................................................................. 26

3.1 Surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU) ................................ 28

3.2 Publicação do Livro Primavera Silenciosa (Silent Spring)............................. 29

3.3 Conferência de Estocolmo e o Clube de Roma ............................................... 30

3.4 Ecodesenvolvimento e Declaração de Cocoyok ............................................. 32

3.5 Relatório Dag-Hammarskjöld ............................................................................. 35

3.6 Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio........................ 35

3.7 Relatório de Brundtland...................................................................................... 36

3.8 Conferência das Nações Unidas em Meio Ambiente e Desenvolvimento


(CNUMAD) ................................................................................................................... 38

3.9 Conferência Rio + 5 e o Protocolo de Kyoto .................................................... 39

3.10 Conferência de Johanesburgo......................................................................... 40

3.11 Cimeira do Clima ............................................................................................... 40

3.12 Rio + 20 ............................................................................................................... 41

4. O “Fetichismo” do Desenvolvimento Sustentável ............................................ 43

4.1 Obsolescência Programada ou Planejada ....................................................... 51

4.2 Obsolescência Perceptiva ou Percebida .......................................................... 54

5. A Contradição Das Políticas Ambientais De Sustentabilidade Na Ótica Das


Práticas Da Obsolescência Programa E Perceptiva Nos Meios De Produção. ..... 57

5.1 Crise Ambiental, Uma Nova Roupagem Da Crise Do Capital ........................ 62

6. Análise Da Economia Ambiental Neoclássica, Economia Ecológica E


Ecomarxismo (Economia Ambiental Marxista) Na Concepção De Uma Verdadeira
Sustentabilidade. ........................................................................................................... 65

6.1 Economia Ambiental Neoclássica E O Desenvolvimento Sustentável ......... 66

6.1.2 A “Internalização Das Externalidades”, Valoração Ambiental E A


Valoração Contingencial. ...................................................................................... 67
6.1.3 Teorias De Pigou E Coase: A Proposição Do Poluidor Pagador E Os
“Direitos De Propriedade ...................................................................................... 71

6.2 Economia Ecológica ........................................................................................... 78

6.3 Ecomarxismo, Ecossocialismo Ou Economia Ambiental Marxista: Uma


Alternativa Não Capitalista. ...................................................................................... 83

7. Considerações Finais ............................................................................................ 93

Referências .................................................................................................................... 97
1. Introdução

Atualmente, as questões ambientais estão em constantes debates no


contexto global e regional. Há uma crescente discussão sobre um novo modelo
de desenvolvimento, o desenvolvimento sustentável, considerado por muitos
como o principal agente responsável na resolução dos problemas ambientais.
Mas, como se alcançar tal desenvolvimento? Quais suas propostas? Esta
forma de desenvolvimento realmente modifica o atual ritmo desenvolvimentista
e economicista1 de forma a minimizar os impactos socioambientais e a
propiciar qualidade de vida? Dados apresentados no relatório do Fundo
Mundial para Natureza (WWF - World Wide Fund For Nature) em 2006 na
cidade de Pequim, demonstram que apenas Cuba atingiu os critérios mínimos
de sustentabilidade. Nos demais anos em que os relatórios da WWF foram
publicados, 2010 e 2014, nenhum país conseguiu atingir os critérios mínimos
de desenvolvimento sustentável. Os indicadores utilizados para calcular os
critérios mínimos da sustentabilidade utilizados pelos relatórios da WWF são: o
Índice Planeta Vivo e a Pegada Ecológica correlacionando-os com o Índice de
Desenvolvimento Humano (IDH) de cada país, o Índice Planeta Vivo mensura a
“saúde” dos ecossistemas do planeta, medindo tendências no tocante a
biodiversidade do planeta e a Pegada Ecológica mede a extensão da exigência
humana sobre esses ecossistemas, ou seja, a pressão antrópica exercida no
planeta que deve estar em consonância com a biocapacidade ofertada pela
terra.
A preocupação com o meio ambiente é muito recente, datam da década
de 60 os primeiros debates sobre as questões ambientais com a criação do
Clube de Roma e a publicação do livro Primavera Silenciosa de Rachel Carson
lançado em 1962, no qual denunciava a utilização de pesticidas que estavam
causando mortandade e problemas reprodutivos em diversos animais, mais

1 O economicismo, sendo uma visão unilateral da realidade, não considera as demais


dimensões desta realidade, enfocando somente a produção e a produtividade econômica. No
plano prático, implica a concepção de políticas de desenvolvimento embasadas apenas no
crescimento da economia – não levando em conta os aspectos sociais e ambientais -, ao que
chamamos, de forma algo perjorativa, de desenvolvimentismo. (MONTIBELLER FILHO, 2004,
p.45)

13
especificamente em pássaros, além de câncer em seres humanos. O livro foi
um dos principais motivos para o banimento do DDT (dicloro-difenil-
tricloroetano) nos Estados Unidos e é considerado por muitos como um dos
estopins do movimento ambientalista. A partir daí a temática ambiental cresce
exponencialmente e é hoje um dos assuntos mais discutidos. Apesar de todos
os debates pouco enfoque é dado numa das principais causas da crise
ambiental, o consumismo e o atual modelo desenvolvimentista.
Em 1972 o Clube de Roma lança seu clássico livro “Limites do
Crescimento” no qual o crescimento da população, do consumo e da utilização
dos recursos naturais cresce de forma exponencial, porém finito se tratando
dos recursos naturais. O livro relata prognósticos pessimistas, como
esgotamento das principais reservas de minérios, explosão demográfica nas
próximas décadas e destruição de ecossistemas naturais. Porém, as propostas
do Clube de Roma tinham caráter neomalthusiano2 como o controle do
crescimento populacional, principalmente em países subdesenvolvidos. O
relatório ainda alertava contra o otimismo em que as soluções para a crise
ambiental (civilizatória) estaria na tecnologia moderna.
A partir destas discussões, debates e conferências, surge o termo
“sustentabilidade” que eclodiu no debate mundial a partir do conceito de
desenvolvimento sustentável publicado em 1987 no Relatório de Brundtland
(Nosso Futuro Comum) pela Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CMMAD) da Organização das Nações Unidades (ONU) no
qual definiu desenvolvimento sustentável como aquele que atende às
necessidades do presente sem comprometer as gerações futuras a atenderem
as suas próprias necessidades.
Surge então um novo conceito de desenvolvimento como forma de
salvação para as questões ambientais, econômicas e sociais. Porém, esta
alternativa foi desenvolvida de forma simplória e tendenciosa, discutida e
elaborada em um curto intervalo de tempo e com pouca ou quase nenhuma
participação da sociedade. Com o passar do tempo, a sustentabilidade é cada

2 Teoria desenvolvida por Thomas Malthus no qual afirmava que os recursos naturais para
subsistência humana (alimentos) crescia na forma de progressão aritmética (PA) enquanto a
população crescia em progressão geométrica (PG).

14
vez mais pautada e discutida até se começar a colocar em prática ações e
políticas públicas consideradas sustentáveis. Estas alternativas “sustentáveis”
aparecem de forma a sempre prevalecer às questões econômicas e se utilizam
de práticas “sustentáveis” como opção extremamente mercadológica visando o
lucro desmedido e o crescimento econômico contradizendo ao que propõe o
conceito de desenvolvimento sustentável.
Assim, o desenvolvimento sustentável, em seu uso retórico, demonstra-
se apenas como uma forma travestida do antigo conceito desenvolvimentista
industrial do sistema capitalista, tendo como proposta dar à sociedade uma
forma alternativa de desenvolvimento, dita sustentável, que perpassa uma
sensação de proteção ambiental, porém quase sempre visando lucro e
deixando as questões econômicas acima das questões socioambientais.
Entre conceituações, ambiguidades e questionamentos do
desenvolvimento sustentável este trabalho objetiva realizar uma análise crítica,
através de uma revisão bibliográfica extensiva (levantamentos realizados em
livros, periódicos, artigos, trabalhos de conclusão de cursos, jornais e
produções videográficas de assuntos relativos ao tema) da (im)possibilidade de
se praticar uma sustentabilidade global nestes moldes dentro do sistema
capitalista, analisando os tipos de desenvolvimentos e discutindo quais são as
verdadeiras necessidades humanas contrapondo ao conceito atual de
desenvolvimento sustentável, bem como analisar de forma multidisciplinar as
interações de extração de recursos naturais, sociedade, produção, consumo,
descarte de bens de consumo, políticas ambientais e entendimento da
economia ambiental com base nas práticas da obsolescência programa e
perceptiva bem como a discussão e entendimento do funcionamento e
ideologias de mais dois modelos econômicos, sendo eles a economia ecológica
e a economia marxista ou ecomarxismo.
O presente trabalho é considerado inovador por haver poucas
discussões relativas ao tema, desta forma, abrir novas visões relativas à
sustentabilidade, tanto na tentativa de demonstrar suas falhas quanto na de
atingir uma verdadeira sustentabilidade fora de seu discurso retórico, se
demonstra de suma importância.

15
Discordando das propostas simplificadas de sustentabilidade, pretende-
se explorar mais a fundo o verdadeiro problema da “crise ambiental” tomando-a
como uma crise civilizatória, analisando as relações sociais que firmam o
significado de “desenvolvimento” dentro de uma sociedade que trata a natureza
exclusivamente como recursos naturais e as pessoas como força de trabalho.

16
2. Referencial Teórico

A ideia inicial do conceito de desenvolvimento sustentável, de acordo


com Diegues (1996), surgiu a partir de um movimento de conservação dos
recursos naturais no século XIX, com uso racional dos recursos, encabeçado
pelo conservador Gifford Pinchot, engenheiro florestal treinado na Alemanha.
Ainda segundo Diegues (1996). Pinchot se utilizava do contexto de
transformação da natureza em mercadoria e defendia que a conservação da
natureza deveria basear-se em três princípios: o uso dos recursos naturais pela
geração presente; a prevenção de desperdício; e o uso dos recursos naturais
para benefício da maioria dos cidadãos.
Ainda se tratando de ideias iniciais de sustentabilidade, um fato pouco
conhecido e pouco difundido no meio “ambientalista” é que Karl Marx
indiretamente formulou uma ideia de desenvolvimento sustentável bem próximo
ao que será formulada pelos ambientalistas, porém, com uma visão
característica diferente, a da extinção da propriedade privada da terra.
Segundo Santos, Ronaldo (2015), o que levou Marx a formular essa ideia de
sustentabilidade ecológica, foi a “falha” decorrente da separação entre campo e
cidade, bem como a crítica à indústria capitalista. Esta ideia formulada por
Marx tinha um caráter de uma solidariedade interoperacional de fundo
ecológico e foi descrito no livro O Capital, em que Marx (1974, p.901) afirma:
O modo pelo qual o cultivo de determinadas lavouras depende
das flutuações dos preços de mercado e as mudanças
constantes do cultivo com estas flutuações de preço - todo o
espírito da produção capitalista, que é orientada para os lucros
monetários mais imediatos - é contraditório com a agricultura,
que precisa se preocupar com toda a gama de condições de
vida permanentes exigidas pela cadeia de gerações humanas
(...) Do ponto de vista de uma formação socioeconômica
superior, a propriedade privada da terra por determinados
indivíduos vai parecer tão absurda como a propriedade privada
de um homem por outros homens. Nem mesmo uma sociedade
inteira, ou uma nação, ou o conjunto simultâneo de todas as
sociedades existentes é dono da terra. Eles são simplesmente
os seus posseiros, os seus beneficiários, e precisam legá-la em
melhor estado às gerações que as sucedem como boni partes
famílias [bons pais de família].

A insustentabilidade relatada por Marx encontra-se em dois pontos


cruciais, primeiro é a inépcia de se alavancar uma exploração da natureza que

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permita uma garantia que as gerações humanas futuras possam desfrutar
destes recursos e a ideia de infinidade dos recursos naturais.
Posterior a esses esboços indiretos de sustentabilidade que não são
muito conhecidas, o termo desenvolvimento sustentável, como conhecemos
atualmente, surge como alternativa para resolver os problemas inerentes às
questões ambientais, mas que dificilmente apontam o centro do problema. Isto
porque a estratégia utilizada é discutir a “questão ambiental” como percalço do
Capitalismo, onde a criação de técnicas e dispositivos, que não atacam as
reais causas do exacerbado consumo da Natureza, seriam declarados como
soluções (OLIVEIRA, 2005).
De acordo com Diegues (1992), o desenvolvimento sustentável é um
termo utilizado ed nauseam sobretudo nos discursos governamentais e nos
preâmbulos de projetos a serem financiados por instituições financeiras bi e
multilaterais e que o assunto ainda estava crescente no debate mundial e
principalmente brasileiro. No decorrer do tempo a sustentabilidade se tornou
um debate central, abrangendo um pouco mais seu conceito com base em um
tripé que envolve as vertentes econômicas, ambientais e sociais e que
nenhuma destas premissas devem se sobressair a outra de forma a manter um
“equilíbrio”, fato que em suma maioria não ocorre na prática.
Este conceito de desenvolvimento sustentável na ótica do Relatório De
Brundtland3 busca correlacionar a justiça social com responsabilidade
ambiental e eficiência econômica para que possa garantir as necessidades
humanas, porém, não fica claro no relatório quais são estas necessidades.
Tudo indica que o conceito apresentado no relatório Brundtland tenha um
enfoque mais restrito, relacionado à defesa dos mínimos sociais, ou então à
possibilidade de sobrevivência humana (SCHEEFFER, 2012).

3 No ano de 1983 a ONU aprova uma comissão de especialistas liderados pela então primeira
ministra da Noruega Gro Harlem Brundtland para elaborar um novo conceito de
desenvolvimento, surge assim o Relatório de Brundtland ou “O Nosso Futuro Comum” “que
utiliza pela primeira vez o termo “desenvolvimento sustentável” para estabelecer uma forma de
crescimento econômico que seja compatível com a preservação ambiental e a conservação
dos potenciais econômicos do meio ambiente para as gerações futuras” (SANTOS, Ronaldo,
2015).

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No cenário nacional, o desenvolvimento sustentável se transformou
numa fórmula mágica para a solução de todo os problemas inveterados que
assolam a sociedade. No entanto, como todo conceito fundamentalmente
político, cada grupo de interesse ou classe social o define segundo suas
próprias perspectivas (DIEGUES, 2003). Ainda segundo Diegues (2003),
grande parte dos empresários e financistas se utilizam e pensam do
desenvolvimento sustentável como forma de se obter “lucros sustentáveis”,
governos rotulam projetos e políticas públicas como sustentáveis com
finalidade de se obter financiamento internacional.
Neste contexto do desenvolvimento sustentável, algumas políticas e
práticas são difundidas como formas de amenizar os danos ambientais, tais
como a rotulagem e certificação ambiental que são práticas conhecidas de
gestão ambiental. Corrêa (1998), afirma que em 1894 nos Estados Unidos
surgiram os primeiros programas de rotulagem de produtos. Porém, os
primeiros rótulos ambientais surgiram em meados de 1940 (GUÉRON. 2003).
Estes rótulos, conhecidos também como selos verdes consistem em etiquetas
que indicam se a empresa responsável pelo produto é “ambientalmente
correta” ou de alguma forma se utilizam de práticas de conservação ambiental
na produção de um determinado produto além de informar a qualidade ao
consumidor.
Vende-se uma imagem de empresa “ambientalmente correta” não com a
finalidade de sustentabilidade, mas sim, com o objetivo de transmitir conforto
ao consumidor para que passe cada vez mais a consumir seus produtos.
Transforma-se assim uma prática considerada sustentável em um marketing
verde ou sustentabilidade do capital, reforçando a base econômica e deixando
de lado as premissas sociais e ambientais. Corroborando assim ao que
Chambers (1986 apud DIEGUÉS, 2003) afirmou, que a sociedade,
principalmente as classes mais desfavorecidas, devem ser sujeitos do
desenvolvimento e não objeto. Desta forma, observa-se o desenvolvimento
sustentável como qualidade do modo de vida e não ao desenvolvimento
econômico em si, assim as políticas públicas e práticas verdadeiramente
sustentáveis não serão efetivas se prevalecerem a ideia de crescimento
econômico ao invés da qualidade de vida.
19
Esta forma de sustentabilidade difundida cria uma falsa ilusão de
“mercadoria sustentável”, um fetiche no qual o marketing verde, muitas vezes
sem fundamentos, é utilizado para obtenção de lucros. Transfere-se ao produto
uma idealização messiânica de salvação, seduzindo o consumidor para adquirir
um produto de valor mais elevado por ser considerado “ambientalmente
correto”. Nesta ideia da venda de um produto final por um preço mais elevado
por possivelmente ter sido produzido sem agredir a natureza ou com um
potencial de agressão reduzido pode-se tomar o pensamento de alienação
descrito por Marx. Alienação segundo Marx, é basicamente o processo de
exteriorização de uma essência humana no processo produtivo e o não
reconhecimento da atividade enquanto tal. Marx também destaca que essa
alienação, se constitui numa “externalização” da essência do objeto, que agora
ganha uma existência independente (Verselbstsändigung) deste (SANTOS,
Ronaldo 2015). Desta forma, a alienação emerge enquanto a segregação para
com o caráter de essência.
Neste sentido, o que chama atenção a Marx “é o caráter contraditório do
mundo” (MÉSZÁROS; TAVARES, 2007). A distinção/contradição entre matéria
e forma somente é possível a partir de uma cisão entre aparência e essência, e
a sua oposição recíproca, de modo que, a aparência se apresenta a Marx
como alienação da essência (SANTOS, Ronaldo 2015). Conjuntamente a
alienação surge o processo de estranhamento do produto. Estranhamento
(Entfremdung) é um ato (ação transcorrida no tempo e espaço) onde o homem
é tomado de modo genérico, ou seja, enquanto ser social, alheio, estranho
quanto aos resultados desta mesma atividade, bem como alheio à natureza e a
comunhão conjunta com outros seres humanos (RANIERI, 2000). Assim, no
decorrer do processo produtivo o trabalhador utiliza sua força de trabalho que
resulta em um produto que lhe é estranho, onde, o mesmo não pode usufruir
de bem construído por ele.
Dentro do que chamamos de “mercadoria sustentável”, pode-se
observar o processo de alienação e estranhamento. O trabalhador produz uma
determinada mercadoria, seja ela orgânica, com certificação ambiental ou
algum processo ambiental, mesmo que mínimo, e no final do ciclo produtivo o
trabalhador é incapaz de usufruir da “mercadoria sustentável” por este possuir
20
um valor mais elevado, assim a mercadoria incorpora a essência humana
transformando-a em objeto em “coisa”. Assim, o sujeito passa a ser
reconhecido como “coisa” e de criador torna-se a criatura. O trabalhador passa
a dedicar a vida inteira a produzir o objeto de seu trabalho, sendo que este não
lhe pertence, ao invés disso, ele passa a pertencer a este (SANTOS, Ronaldo
2015). Desta forma, para superar o processo de degradação ambiental e as
problemáticas ambientais, deve-se discutir e superar a relação atual de
trabalho do homem e a sua alienação visto que o trabalho é uma ferramenta
que medeia o metabolismo4 entre homem e natureza e é capaz de transformar
o meio ambiente e a sociedade, assim para alcançar um efetivo
desenvolvimento sustentável deve-se também discutir as relações de trabalho.
Um dos principais problemas ambientais, e mais discutidos atualmente,
é a geração de resíduos, produto de um consumismo desenfreado engrenado
por necessidades impostas pelo sistema capitalista e seu modelo
desenvolvimentista, suprindo estas pseudo necessidades em um sistema de
comércio movido por obsolescências. Portanto, não se pode discutir
desenvolvimento sustentável sem se discutir o consumismo desenfreado, o
modelo de desenvolvimento e a impossibilidade de se praticar sustentabilidade
nestes moldes dentro do capitalismo, uma vez que a visão do lucro a qualquer
custo impossibilita a gestão dos recursos ambientais de forma eficiente e
sustentável, além de gerar um grande quadro de desigualdade social.
Estas necessidades são elaboradas pelo sistema e absorvido pelo
indivíduo, fazendo com que haja um controle sobre ele. O resultado não é o
ajustamento, mas a mimese: uma identificação imediata do indivíduo com a
sua sociedade e, através dela, com a sociedade em seu todo (MARCUSE,
1973). Ainda Marcuse (1973) afirma que a sociedade industrial e o sistema
capitalista têm capacidade para aumentar e disseminar comodidades, para
transformar o resíduo em necessidade, destruição em construção fazendo
assim que as pessoas se encontrem e se reconheçam no que possuem, em
suas mercadorias, encontrem sua alma em um automóvel e em objetos

4 O conceito de “metabolismo” (Stoffwechsel), constitui a noção central de envolvida por Marx


para explicar o processo de troca material entre o homem e a natureza que resultará na
produção dos valores de uso necessários a existência (SANTOS, Ronaldo 2015).

21
pessoais. É neste contexto que Adorno e Horkheimer cita sobre a equivalência
existente entre o chamado natureza mágica e a mecanização industrial da
natureza, em que: O animismo havia dotado as coisas de uma alma, o
industrialismo coisifica as almas. (ADORNO & HORKHEIMER, 1986, p.40)
Segundo Santos, Ronaldo (2015), Marx afirmava que a satisfação das
necessidades primárias do homem, consideradas como aquelas que emanam
diretamente de necessidades físicas (alimentação, moradia, proteção,
vestuário), somente podem ser satisfeitas, necessariamente, pela satisfação
das necessidades secundárias, consideradas como necessidades não físicas
ou espirituais. Desta forma, ainda Santos, Ronaldo (2015) complementa que
“as necessidades espirituais do homem decorrem de uma base ontológica
fundamental, que reside em última análise na produção material da existência,
a partir de um intercâmbio contínuo para com a natureza”5.
É difundindo no imaginário da sociedade um modelo de qualidade de
vida baseado no que se pode consumir, numa lógica de acumulação, de
sobrepor o ter ao ser, de forma a sempre está condizendo com o que a moda
dita ou com a última tecnologia existente no mercado e que será substituída
por outra em um curto intervalo de tempo. Assim funciona a lógica do mercado,
a base do sistema capitalista que consiste em controlar empresas e
consumidores, fazendo com que as empresas abandonem de forma
involuntária a produção para o mercado. De acordo com Foladori (1999) o
mercado sugere às empresas o que produzir, elevando o preço de certas
mercadorias e reduzindo o de outras, controla também a forma de produzir,
com que tecnologia e recursos, assim limita decisões da empresa a respeito de

5 O ponto de partido ontológico de Marx é o fato auto evidente de que o homem, parte
específica da natureza (isto é, um ser com necessidades físicas historicamente anteriores a
todas as outras), precisa produzir a fim de se manter, a fim de satisfazer essas necessidades.
Contudo, ele só pode satisfazer essas necessidades primitivas criando necessariamente, no
curso de sua satisfação por meio da sua atividade produtiva, uma complexa hierarquia de
necessidades não-físicas, que se tornam assim condições igualmente necessárias à satisfação
de suas necessidades físicas originais. As atividades e necessidades humanas de tipo
“espiritual” têm, assim, sua base ontológica última na esfera da produção material como
expressões específicas de intercâmbio entre o homem e a natureza, mediado de formas e
maneiras complexas (MÉSZÁROS; TAVARES, 2007, p.79).

22
recursos e dejetos de uma forma restrita a análise de custo-benefício, às
possibilidades que os preços externos lhe impõe.
O próprio mercado e o sistema capitalista limita o processo de
sustentabilidade ao ponto em que quando surge uma tecnologia de tratamento
de poluentes, de redução no uso de recursos energéticos, reutilização de
dejetos, entre outros que são realmente eficazes, torna-se inviável
financeiramente a sua utilização pelas empresas, enquadrando-se no mesmo
paradoxo que a atuação do Estado nas questões ambientais, onde “parte do
seu aparelho constitui os principais canais institucionais de defesa da qualidade
do meio ambiente, outra parte constitui os principais agentes de degradação”
(MORAES, 2005). É a ambiguidade tecnológica contemporânea relatada por
Moraes (2005), em que a técnica surge, concomitantemente, como ameaça e
como elemento de salvação da humanidade.
Como exemplo da limitação do desenvolvimento sustentável dentro da
lógica capitalista podemos citar a indústria tecnológica que recebe a rotulação
de “ambientalmente corretas” por praticarem algumas medidas ditas
sustentáveis como educação ambiental, financiamento de ONGs, redução na
utilização da matéria prima (vale ressaltar que esta prática não é da lógica
sustentável e sim capitalista, visando a redução de recursos para maximização
dos lucros) etc. Por outro lado, esta empresa “sustentável” dispõe de precárias
condições de trabalho aos seus empregados, produz aparelhos com curta
durabilidade aumentando assim a geração de resíduos, não mantendo o tripé
da sustentabilidade e demonstrando a insustentabilidade deste modo de
desenvolvimento na lógica capitalista.
Diante deste contexto há uma necessidade de um questionamento a
este atual modelo de desenvolvimento sustentável que apresenta uma
conotação antropocêntrica e individualista na segregação entre sociedade e
natureza, consistindo na dominação do homem sobre os recursos naturais.
Esta concepção é perceptível na ideologia de áreas protegidas, em que a
natureza deve estar isolada do homem para que possa permanecer em um
estado de clímax, tornando irrelevante toda a cultura e conhecimento dos
moradores tradicionais locais. A imposição de neomitos (a natureza selvagem
intocada) e de espaços públicos sobre os espaços dos "comunitários" e sobre
23
os mitos bi antropomórficos (o homem como parte da natureza) tem gerado
conflitos graves (DIEGUÉS, 1996).
Com a concepção de que a essência humana é o conjunto de todas as
relações sociais, Marx fundamenta as bases de um novo materialismo o
materialismo humanista, naturalista, histórico e dialético. Nele, a essência
humana é construída historicamente a partir da relação dos homens com os
outros homens e com a natureza (FREIRE, 2011). Ainda segundo Freire
(2011), o homem, para ele, é um ser natural, humano e, portanto, social e a
sociedade é a suprema realização da naturalidade do homem. Assim, em
resumo desta relação homem, sociedade e natureza é apresentada por Marx
(2004, p.106) como:
a essência humana da natureza está, em primeiro lugar, para o
homem social; pois é primeiro aqui que ela existe para ele na
condição de elo com o homem, na condição de existência sua para o
outro e do outro para ele; é primeiro aqui que ela existe como
fundamento da sua própria existência humana, assim como também
na condição de elemento vital da efetividade humana. É primeiro aqui
que a sua existência natural se lhe tornou a sua existência humana e
a natureza [se tornou] para ele o homem. Portanto, a sociedade é a
unidade essencial completada (vollendete) do homem com a
natureza, a verdadeira ressurreição da natureza, o naturalismo
realizado do homem e o humanismo da natureza levado a efeito.

Desse modo, podemos fazer uma distinção entre a natureza “intocada”


pelo homem, da natureza conforme inserida dentro do processo histórico de
produção da vida material, apropriada pelo trabalho humano, naturalizada
numa essência histórica que lhe apreende o significado e, ganhando um
“sentido” econômico, passa a fazer parte do mundo social humano (SANTOS,
Ronaldo 2015). Esta natureza “historicamente naturalizada” constitui a própria
essência da existência humana (COSTA, 2012). Desse modo, a necessidade
natural humana é traduzida em uma necessidade social, cuja base não é a
saciedade, mas a renovação constante por novas necessidades sociais
(SANTOS, Ronaldo 2015)
Reforçando a ideia antropocêntrica do desenvolvimento sustentável, em
1992 na Declaração do Rio de Janeiro na Conferência das Nações Unidas
Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Cnumad) em seu Princípio I relata
que: Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas
com o desenvolvimento sustentável. Tem direito a uma vida saudável e
24
produtiva em harmonia com a natureza (MACHADO, 2004). Desta forma, o
conceito de desenvolvimento sustentável é proposto para que se viva em
harmonia com a natureza numa relação de dominância homem-natureza e não
em uma relação de simbiose onde o homem esteja contido no meio ambiente.
Com uma visão holística, entende-se que as questões relacionadas ao
meio ambiente não estão restritas a uma única área de conhecimento e sim a
uma análise multidisciplinar, criticando também essa tendência separatista do
conhecimento, assim como afirmou Morin (1997, p. 88) apud Cunha e Guerra
(2009,):
A história do mundo e do pensamento ocidental foi comandada
por um paradigma de disjunção, de separação. Separou-se o
espírito da matéria, a filosofia da ciência; separou-se o
conhecimento particular que vem da literatura e da música do
conhecimento que vem da pesquisa científica. Separam-se as
disciplinas, as ciências, as técnicas. Separou-se o sujeito do
conhecimento do objeto do conhecimento. Assim, vivemos num
mundo em que é cada vez mais difícil estabelecer ligações.

É esse modelo que serve como suporte ao entendimento arquitetado


sobre desenvolvimento na sociedade contemporânea, o reflexo decorrente
desta visão de mundo são as relações de dominações entre seres humanos,
classes sociais e ser humano-natureza. Desta forma, a abordagem contida
neste trabalho é de caráter universalizado, levando-se em conta várias
vertentes de conhecimentos e não distinguindo ás áreas de estudos, mas sim
correlacionando-as de forma a se complementarem.

25
3. HISTÓRICO

Na contextualização histórica existem dois marcos que foram primordiais


para o surgimento e conceituação do desenvolvimento sustentável, sendo um
deles a Conferência das Nações Unidas em Meio Ambiente Humano que
ocorreu no ano de 1972 em Estocolmo no qual foi uma das primeiras reuniões
para se discutir a problemática ambiental e as soluções para esta crise. O outro
marco foi a Conferência das Nações Unidas em Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD) que ocorreu no ano de 1992 na cidade do Rio De
Janeiro e nesta conferência surgiram algumas conceituações de práticas
“sustentáveis” como, por exemplo, a agenda 21. Estes dois marcos servem
como pontos de referência para um modelo histórico sobre as principais
discussões ambientais até os dias atuais e podem ser divididos em períodos
antes da Conferência de Estocolmo, entre as Conferências de Estocolmo e do
Rio de Janeiro e após a CNUMAD. O Quadro 01, demonstra em forma de linha
do tempo a série histórica dos principais acontecimentos ambientais que são
considerados importantes para o surgimento do desenvolvimento sustentável.
Vale ressaltar que os debates ocorridos sobre a ideia de
desenvolvimento sustentável têm um caráter de debate internacional
construído ao longo dos anos por discussões políticas entres vários países e
organizados, em grande parte, pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Estas discussões apresentavam claramente uma dicotomia Norte-Sul entre
países desenvolvidos e em desenvolvimento.

26
Quadro 1: Linha do tempo da série histórica dos principais acontecimentos ambientais importantes ao surgimento e contextualização do desenvolvimento
sustentável.

Fonte: Próprio Autor.

27
Leis e D’amato (1995, p.45), caracterizou cada década da evolução do
movimento ambientalista, assim, os anos 50 é reconhecido como a década do
ambientalismo dos cientistas, por ser nesta década que a preocupação
ambiental e ecológica global emerge por meio da ciência. Os anos 60 é
caracterizado pelos autores como a década das Organizações Não-
Governamentais (ONG’s), com a aparição de diversos grupos e organizações.
Já os anos 70 é descrito como os anos da institucionalização do movimento
ambientalista, marcado pela Conferência de Estocolmo em 1992 e pela
“preocupação” do sistema político com o tema, nesta década surgem diversas
entidades estatais ligados à preocupação ambiental. Os anos 80 são marcados
pela Comissão de Brundtland e a predominância dos partidos verdes que
surgiram na década de 70, já a década de 90, segundo os autores, é
caracterizada pela entrada dos setores empresariais no ramo, aproveitando-se
do surgimento e valorização do “Mercado Verde” da década.

3.1 Surgimento da Organização das Nações Unidas (ONU)

Antes de comentar os acontecimentos relacionados à temática do


desenvolvimento sustentável, há uma necessidade de abordagem sobre a
ONU, seu surgimento e com que finalidade a instituição foi criada. Afinal,
grande parte das conferências e debates relacionados ao meio ambiente foram
organizadas pela instituição.
O início do século XX inicia-se mediante as catástrofes da Primeira
Guerra Mundial(1914-1918), logo após, ocorre a grande crise de 1929. É um
século conturbado, ao mesmo tempo em que grandes conflitos bélicos
ocorrem, o avanço científico-tecnológico evolui rapidamente. Apesar deste
avanço tecnológico os conflitos armados não foram barrados pelo ser humano.
Logo após a primeira grande guerra mundial, surge a Liga das Nações
por meio do Tratado de Versalhes, que segundo Mendes (2015), apenas 44
países assinaram o tratado com destaque para a não assinatura dos Estados
Unidos (EUA) em razão da recusa de seu Congresso em ratificar o Tratado de
Versalhes. Bandeira (2014), considera que o tratado de paz da Liga das

28
Nações foi um desfecho às claras entre as grandes potências e se tornou um
tratado de paz bastante tímido, pois foi incapaz de evitar um novo conflito
bélico em um curto espaço de tempo (Segunda Guerra Mundial de 1940 a
1945), a falência da entidade ocorre perante interesses econômicos supremos
que resulta na Segunda grande Guerra.
A ONU foi fundada no período Pós-Segunda Guerra Mundial em 1945
onde se intensificou os debates sobre um pacto mundial de paz, existente
desde 1919 no Pacto da Liga das Nações. A ONU foi formalizada através da
Carta das Nações Unidas no qual afirmava que o uso da força só deveria ser
utilizado na defesa de interesses comuns, porém na carta não esclarecia quais
seriam estes interesses e nem quem os definiriam.
Só após duas Grandes guerras mundiais que se pensou em formular
uma organização supranacional que pudesse agir como centro de debates para
resolução dos conflitos de interesses mundiais. Bandeira (2013), complementa
afirmando que o desejo não era apenas por paz, mas, por uma ocasião que
redefinisse as fronteiras do velho continente e unificasse a segurança da
diplomacia internacional definida pelos tratados mútuos entre as nações
“vencedoras” do conflito.
De acordo com Wirth et al (2014), tem-se aí subjacente uma concepção
de mundo na qual são desconsiderados os interesses diversos, sistemas
sociais diversos – que ora cooperam, ora disputam - e onde não existe luta de
classes e que é praticamente impossível a determinação de interesses
comuns, onde a durabilidade da ONU pode ser justificada por sua adaptação
funcional às políticas de poder, entre estas, pode ser citada sua posição
claramente favorável ao polo capitalista, durante a guerra fria.

3.2 Publicação do Livro Primavera Silenciosa (Silent Spring)


No ano de 1962 a escritora, bióloga e ecologista estadunidense Rachel
Louise Carson publicou sua obra mais famosa, o livro Primavera Silenciosa. No
livro, a autora denunciava a utilização de pesticidas e inseticidas à base de
hidrocarbonetos clorados e fósforo orgânico enfatizando a utilização do DDT
(dicloro-difenil-tricloroetano). No livro, Carson destaca relatos de várias cidades
que tiveram sua primavera silenciada devido ao desequilíbrio ecológico

29
causado pelos pesticidas causando problemas reprodutivos em pássaros,
câncer em seres humanos e aumento na taxa de mortalidade.
O lançamento do seu livro teve grande repercussão e é considerado um
dos marcos para o início do debate ambiental. Dez anos após a publicação a
produção de DDT foi proibida nos Estados Unidos e foi criada a Agência de
Proteção Ambiental Norte-Americana, além disso, os debates internacionais
relacionados ao meio ambiente começaram a ser realizados e difundidos.

3.3 Conferência de Estocolmo e o Clube de Roma


No ano de 1972 em Estocolmo, capital da Suécia, ocorre a “Conferência
das Nações Unidas em Meio Ambiente Humano”, conhecida como Conferência
de Estocolmo, primeira conferência mundial organizada pela ONU para discutir
as questões ambientais. Monteiro (2012) afirma que, foi em meados do século
XX que começaram a surgir fenômenos de desequilíbrio ambiental decorrentes
da poluição, tais como a chuva ácida e doenças comprovadamente
relacionadas a algum tipo de poluição e que assim a preocupação ambiental
começava a surgir não com a preocupação em si com a natureza e o meio
ambiente, mas sim com o bem-estar da população. Desta forma, observa-se
que em todo contexto histórico de debates ambientais e de sustentabilidade há
um caráter extremamente antropocêntrico segregando a relação homem-
natureza.

O Clube de Roma foi uma organização fundada pelo industrial italiano e


presidente do Comitê Econômico da OTAN (Organização do Tratado do
Atlântico Norte), Aurelio Peccei, em cerimônia na propriedade da família
Rockfeller em Bellagio, Itália (OLIVEIRA, 2012). Ainda segundo Oliveira (2012),
no ano de 1968 Peccei reuniu informalmente um grupo de estudiosos formados
por trinta economistas, cientistas, educadores e industriais num encontro em
Roma, mas já em 1970 este clube possuía 75 membros de 25 países e tinha
como objetivo pensar o sistema global e encorajar novas atitudes, entre os
quais o combate à degradação ambiental.

No ano de 1972 um grupo de pesquisadores do MIT (Instituto


Tecnológico de Massachussets) encomendados pelo Clube de Roma

30
apresentaram um estudo denominado Limites do Crescimento que fazia um
prognóstico pessimista do crescimento demográfico e econômico, no qual
defendia que o desenvolvimento econômico deveria ser desacelerado, pois
apresentavam limites que estavam próximos.

O estudo foi coordenado por Dennis Meadows, e os autores partiam de


um pressuposto da impossibilidade de um crescimento infinito dentro de um
sistema econômico dependente dos recursos naturais, no estudo afirma
também que o crescimento econômico, que cresceu exponencialmente, no
pós-guerra, necessitaria de um freio que salvaria de um colapso. O estudo
considera cinco variáveis a serem controladas para evitar este colapso, sendo
elas, a população, a produção de alimentos, os recursos naturais não-
renováveis, a poluição e a produção industrial, com esse controle, segundo os
autores, seria possível atingir um estado de equilíbrio global e um dos
requisitos para esse equilíbrio seria: Transferência das preferências
econômicas da sociedade mais para serviços, tais como ilustração e saúde, e
menos para produtos industrializados, isto para reduzir ainda mais o
esgotamento de recursos naturais e a poluição (MEADOWS, 1973, p.161).

Com um tom pessimista e uma característica de Neomalthusianismo6 o


estudo foi apresentado na Conferência de Estocolmo e é considerado como
âncora da conferência.

6 Santos, Ronaldo (2015) afirma que Marx já teria se colocado mesmo que indiretamente nas
discussões sobre os limites naturais e históricos e as barreiras à reprodução capitalista ao
criticar Malthus afirmando que ele teria se equivocado ao “generalizar” e estender a questão da
superpopulação para todas as sociedades, tornando abstratas as divergências históricas nas
formações societárias, e, ainda segundo o autor, reduzindo-as a uma relação apenas
numérica, ao qual Marx afirma “pescada por ele do puro nada, e que não repousa nem sobre
leis naturais nem sobre leis históricas”.

31
3.4 Ecodesenvolvimento e Declaração de Cocoyok
No ano de 1973, surge o conceito de Ecodesenvolvimento elaborado
pelo canadense Maurice Strong (Secretário-geral da Conferência de
Estocolmo) como uma alternativa à política do desenvolvimento.

De acordo com Brüseke (1993), os princípios básicos desta nova visão


de desenvolvimento foram formulados por Ignacy Sachs, no qual absorveu
basicamente seis aspectos, que deveriam traçar os caminhos do
desenvolvimento, sendo eles:

a) a satisfação das necessidades básicas;

b) a solidariedade com as gerações futuras;

c) a participação da população envolvida;

d) a preservação dos recursos naturais e do meio ambiente em geral;

e) a elaboração de um sistema social garantindo emprego, segurança


social e respeito a outras culturas;

f) programas de educação;

Significa o desenvolvimento de um país ou região, baseado em suas


próprias potencialidades, sem criar dependência externa, portanto
endógeno, sem criar dependência externa, tendo por finalidade
“responder à problemática da harmonização dos objetivos sociais e
econômicos do desenvolvimento com uma gestão ecologicamente
prudente dos recursos e do meio” (SACHS, 2002).

Foi nesse sentido, baseado em Sachs que Montibeller (2004)


elaborou o Quadro 02, demonstrando as cinco dimensões do Desenvolvimento
Sustentável demonstrando os componentes e objetivos de cada um dos cinco
pilares do Ecodesenvolvimento, que segundo o autor distingue-se do
Desenvolvimento Sustentável principalmente pelo caráter autossustentável.

32
Quadro 2: As cinco dimensões do Desenvolvimento Sustentável dentro do
Ecodesenvolvimento.

Dimensão Componentes Objetivos

- Criação de postos de trabalho que


permitam a obtenção de renda
individual adequada (a melhor
SUSTENTABILIDADE condição de vida e a melhor
SOCIAL qualificação profissional);
REDUÇÃO DAS
DESIGUALDADES
- Produção de bens dirigida
SOCIAIS
prioritariamente às necessidades
básicas.
- Fluxo permanente de AUMENTO DA
investimentos públicos e privados PRODUÇÃO E DA
(estes últimos com especial RIQUEZA
destaque para o cooperativismo); SOCIAL, SEM
SUSTENTABILIDADE DEPENDÊNCIA
ECONÔMICA - Manejo eficiente de recursos; EXTERNA

- Absorção, pela empresa, dos


custos ambientais;
- Endonegeização: contar com suas
próprias forças.

- Produzir respeitando os ciclos MELHORIA DA


ecológicos dos ecossistemas; QUALIDADE DO
MEIO AMBIENTE
- Prudência no uso de recursos E
naturais não renováveis; PRESERVAÇÃO
DAS FONTES DE
- Prioridade à produção de
RECURSOS
biomassa e à industrialização de
SUSTENTABILIDADE ENERGÉTICOS E
insumos naturais renováveis;
ECOLÓGICA NATURAIS PARA
- Redução da intensidade AS PRÓXIMAS
energética e aumento da GERAÇÕES
conservação de energia;
- Tecnologias e processos
produtivos de baixo índice de
resíduos;
- Cuidados ambientais

33
- Desconcentração espacial (de EVITAR
atividades; de população); EXCESSO DE
SUSTENTABILIDADE AGLOMERAÇÕES
ESPACIAL/GEOGRÁ- - Desconcentração/democratização
FICA do poder local e regional;
- Relação cidade/campo equilibrada

- Soluções adaptadas a cada EVITAR


ecossistema; CONFLITOS
SUSTENTABILIDADE CULTURAIS COM
CULTURAL - Respeito à formação cultural POTENCIAL
comunitária. REGRESSIVO
Fonte: Adaptado de Montibeller Filho (2004)

A possibilidade de se construir um desenvolvimento de base sustentada


é atrelada, necessariamente, a políticas de redistribuição de renda e de
avaliação dos impactos das políticas de países desenvolvidos nos países em
desenvolvimento (SACHS, 1986). Para garantir a redistribuição de renda a
participação popular mencionada no conceito de Ecodesenvolvimento é de
grande importância.

Um ano após o surgimento do Ecodesenvolvimento surge a Declaração


de Cocoyok que é resultado da UNCTAD (Conferências das Nações Unidas
sobre Comércio-Desenvolvimento) e do UNEP (Programa de Meio Ambiente
das Nações Unidas). A Declaração de Cocoyok já traz uma visão diferenciada
relacionada às regiões da África, Ásia e América Latina. Segundo Brüseke
(1993) a declaração contribuiu para a discussão sobre desenvolvimento e meio
ambiente, destacando as seguintes premissas:

a) a explosão populacional tem como uma das suas causas a falta de


recursos de qualquer tipo; pobreza gera o desequilíbrio demográfico;

b) a destruição ambiental na África, Ásia e América Latina é também o


resultado da pobreza que leva a população carente à superutilização do solo e
dos recursos vegetais;

c) os países industrializados contribuem para os problemas do


subdesenvolvimento por causa do seu nível exagerado de consumo.

34
Observa-se que no decorrer das discussões e criação de conceitos em
busca de um novo desenvolvimento, vários tópicos vão sendo acrescidos e
retirados até se chegar ao conceito atual de desenvolvimento sustentável e
moldando-o de acordo com interesses, resta discutir quais interesses são
esses e de onde partem. Por exemplo, pontos importantes como repensar o
consumo e as necessidades socioambientais e redistribuição de renda ainda
são pouco tocadas nos conceitos atuais de desenvolvimento sustentável que
preconizam vertentes voltadas mais ao empresariado que a qualidade de vida,
sempre na relação homem-natureza de forma separatista.

3.5 Relatório Dag-Hammarskjöld


No ano de 1975 a Declaração de Cocoyok foi aprofundada pelo
Relatório Dag-Hammarskjöld, projeto organizado pela fundação de mesmo
nome e que contou com a participação de pesquisadores e políticos de 48
países, contando também com a participação de treze setores da ONU mais o
Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Brüseke (1993) afirma que este relatório ultrapassa outros documentos


até então ao apontar para o problema do abuso de poder e sua interligação à
degradação ambiental e ecológica, mostrando que durante o período colonial
houve uma concentração de solos mais aptos na mão de uma minoria social e
dos colonizadores europeus, causando expulsão e marginalização de grandes
massas da população nativa, forçando-os a utilizar solos menos apropriados,
levando países como África do Sul e Marrocos à devastação de paisagens
inteiras.

Oito anos após o relatório de Dag-Hammarskjöld, em 1983, a ONU


aprova a criação de uma comissão liderados pela então primeira ministra da
Noruega Gro Harlem Brundtland, no qual ficariam responsáveis pela realização
de estudos com a finalidade de conciliar desenvolvimento e preservação do
meio ambiente.

3.6 Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio


Há duas década surgiu um consenso mundial de que a camada de
ozônio deveria ser protegida. A partir desse forte entendimento, o primeiro
35
passo dado na intenção de agir sobre os poluentes que degradam a camada
de ozônio foi em março de 1985. Acordou-se na convenção que os
participantes deveriam tomar medidas adequadas de proteção à camada de
ozônio e houve uma antecipação nas discussões dos protocolos para
mediadas específicas.

A necessidade de um protocolo surgiu quase que imediatamente quando


a primeira evidência do buraco de ozônio antártico foi publicada em junho de
1985. Negociações globais para um protocolo foram colocadas em primeiro
plano, e resultaram na adoção em setembro de 1987 do Protocolo de Montreal
sobre Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio. (SÃO PAULO, 1997)

3.7 Relatório de Brundtland


Finalmente, em 1987, quatro anos depois de sua formação a comissão
de especialistas aprovada pela ONU em 1984 apresenta os resultados de seus
estudos no relatório conhecido como Relatório de Brundtland ou “O Nosso
Futuro Comum” e Liderados pela então primeira ministra da Noruega Gro
Harlem Brundtland surge uma definição concreta de desenvolvimento
sustentável.

Assim, surge o conceito de desenvolvimento sustentável que de forma


simplória ficou conhecido como o desenvolvimento que: atende às
necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações
futuras de atenderem as suas próprias necessidades (BRUNDTLAND, 1987).

De acordo com Brüseke (1993) o relatório apresenta medidas a


serem tomadas a nível do estado nacional, no qual as principais são:

a) limitação do crescimento populacional;

b) garantia da alimentação a longo prazo;

c) preservação da biodiversidade e dos ecossistemas;

d) diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de


tecnologias que admitem o uso de fontes energéticas renováveis;

36
e) aumento da produção industrial nos países não industrializados à
base de tecnologias ecologicamente adaptadas;

f) controle da urbanização selvagem e integração entre campo e


cidades menores;

g) as necessidades básicas devem ser satisfeitas.

E também medidas e metas a serem seguidas a nível nacional,


como:

h) as organizações do desenvolvimento devem adotar a estratégia do


desenvolvimento sustentável;

i) a comunidade internacional deve proteger os ecossistemas


supranacionais como a Antártica, os oceanos, o espaço;

j) guerras devem ser banidas;

k) a ONU deve implantar um programa de desenvolvimento


sustentável.

Comparando-se com documentos internacionais anteriores como os de


Cocoyok, Dag-Hammarskjöld o Relatório de Brundtland quase não faz críticas
à sociedade industrial e aos países industrializados, principais responsáveis
pelo aumento da degradação e da poluição ambiental. O relatório surge de
forma interligada sem dissociações com o crescimento econômico, tornando
este o principal ponto do desenvolvimento sustentável e não a qualidade de
vida social e ambiental. O relatório descreve os padrões mínimos de consumo
fundamentado nas necessidades básicas, porém não relata os padrões
máximos de consumo, parâmetro que é de fundamental importância para o
atendimento do verdadeiro desenvolvimento sustentável. O documento afirma
que almeja o crescimento tanto em países industrializados quanto nos países
não-industrializados e diz que a superação do subdesenvolvimento nos países
do sul depende do crescimento contínuo dos países industrializados e ditos
desenvolvidos do norte.

37
3.8 Conferência das Nações Unidas em Meio Ambiente e
Desenvolvimento (CNUMAD)
Ocorre em 1992 no Rio de Janeiro a Conferência das Nações Unidas em
Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), conhecida também como
Conferência do Rio, Rio - 92 e ECO - 92. É considerada uma das mais
importantes conferências por apresentar meios em que, teoricamente, poderia
se chegar no tão almejado desenvolvimento sustentável.

O evento foi decidido em 22 de dezembro de 1989 durante a


convocação da ONU, onde se decidiu que o Brasil seria o país sede deste
evento e a cidade escolhida foi Rio de Janeiro. A ECO - 92 contou com um
número recorde de delegações de 178 países e foi responsável pela
elaboração da Agenda 21 e a proclamação do conceito de desenvolvimento
sustentável. À primeira vista a aceitação e adoção da Agenda 21 entre os
países signatários teve como grande responsável a ECO - 92, porém, o
verdadeiro acordo aconteceu antes mesmo da convocação da ECO - 92, em
1989 na conferência da cúpula do G7 (Grupo das sete nações mais
desenvolvidas: Estados Unidos, Canadá, Japão, França, Alemanha, Itália e
Reino Unido que atualmente ainda conta com a participação da Rússia)
quando de acordo com Schmidheiny (1992), fizeram um apelo para adoção
imediata, em âmbito mundial, de políticas baseadas nas ideias do
desenvolvimento sustentável.

Vale a observação da conjuntura política na época do surgimento do


desenvolvimento sustentável onde o neoliberalismo estava em seu auge, e dos
princípios que fundamentaram a conceituação da sustentabilidade como a ideia
do liberal norte-americano Gifford Pinchot já citado anteriormente. Desta forma
a conceituação do desenvolvimento sustentável sofreu grande influência da
ideologia neoliberal e é evidente quando se observa o desenvolvimento
sustentável voltado em grande maioria ao empresariado como mais uma forma
de obtenção de lucros e não como qualidade de vida e preservação do meio
ambiente, desta forma, quase nenhum país atinge os parâmetros mínimos de
sustentabilidade anual, demonstrando a fragilidade e a dificuldade de se
praticar a sustentabilidade dentro do capital.

38
O Desenvolvimento Sustentável nasceu no âmago do pensamento da
classe dominante, e utiliza os pressupostos do conservacionismo juntamente
com um ensinamento do universo econômico de gestão de negócios: o
“Princípio da Precaução” (OLIVEIRA, 2007). O acordo para aceitação do
Princípio da Precaução foi em 1984 na Conferência Mundial da Indústria sobre
Administração Ambiental e posteriormente acatado na cúpula do G7 em 1989
já citado anteriormente. Segundo Schmidheiny (1992), este princípio foi
fortalecido na Declaração Ministerial da Reunião da Comissão Econômica das
Nações Unidas para a Europa, o autor ainda afirma de forma contundente a
concepção do desenvolvimento sustentável ao grande empresariado
declarando que a pedra angular do desenvolvimento sustentável é um sistema
de mercados abertos e competitivos em que os preços são fixados de forma a
refletir os custos dos recursos ambientais e outros.

Assim, o pensamento atual do desenvolvimento sustentável é


predominante e a ECO - 92 serviu como um evento de formalização, travestido
de um evento fundamentado em debates, de pensamentos e ideias já
formulados em eventos da elite internacional e que foram ocultados pela
CNUMAD em 1992. A ECO - 92 foi verdadeiramente o palco escolhido para a
aclamação do Desenvolvimento Sustentável enquanto mecanismo de
transformação dos problemas ambientais em lucros crescentes (OLIVEIRA,
2007).

3.9 Conferência Rio + 5 e o Protocolo de Kyoto


Em 1997 ocorreu a 19ª Sessão Especial da Assembleia Geral das
Nações Unidas, mais conhecida como Rio + 5, em Nova Iorque que tinha como
objetivo avaliar os resultados da ECO – 92. Porém o evento provocou pouca ou
quase nenhuma empolgação e o seu resultado foi uma “Declaração de
Compromisso” que reiterava os acordos firmados na Rio – 92, revelando assim
nenhum progresso e pouca efetividade de ações no campo do
desenvolvimento sustentável.

No mesmo ano o Protocolo de Kyoto em Mudanças Climáticas é


discutido, e o principal ponto são as adesões dos países ao protocolo. O

39
protocolo estabelecia metas de emissão de gases na atmosfera, a União
Europeia deveria reduzir suas emissões em 8%, os Estados Unidos em 7% e o
Japão em 6% em relação ao ano de 1990 com prazo que até 2012 essas
metas seriam alcançadas demonstrando avanço visível no ano de 2005. Mas a
grande frustração foi a não adesão do maior emissor de poluentes no mundo,
os Estados Unidos.

3.10 Conferência de Johanesburgo


A Conferência Mundial em Desenvolvimento Sustentável ocorre desta
vez na África do Sul, em Johanesburgo no ano de 2002, 10 anos após a Eco –
92 e assim ficou conhecido como Rio + 10. Mais uma vez a conceituação,
aplicabilidade e os princípios do desenvolvimento sustentável sofrem mais uma
decepção. Os Estado Unidos decidiram vetar a maioria dos consensos
realizados na conferência, desta forma se tornou impossível a elaboração de
uma declaração ou até mesmo tratados internacionais. A informação dos
bastidores da conferência é que os representantes dos Estados Unidos foram
previamente instruídos a bloquearem toda e qualquer proposta, a não
possibilitarem a formação de qualquer consenso (MONTEIRO, 2012). O único
resultado desta conferência foi a criação de um plano de ação simplório de
apenas 50 páginas.

Na realidade, o que se conseguiu como resultado foi “um plano de ação ou de


implementação, não-vinculativo, de 153 longos parágrafos, sem qualquer
sistema de monitoração ou sanção e uma Declaração Política aprovada às
pressas, sem o peso e a legitimidade da Declaração do Rio” (SEQUINEL,
2002). Poucas são as metas claramente estipuladas e, mesmo em relação a
essas, não há grandes novidades, uma vez que existia consenso anterior,
como explicitado, por exemplo, na Declaração do Milênio (JURAS, 2002).

3.11 Cimeira do Clima


No Contexto da política institucional, as aplicabilidades de práticas
sustentáveis iam de mal a pior. No ano de 2010 em Copenhague ocorre a
Cimeira do Clima, que tinha como objetivo avaliar na última década o
progresso do desenvolvimento sustentável desde a Rio - 92 e mais uma vez os

40
participantes saem frustrados e desacreditados do evento. O motivo era a não
elaboração de um tratado que substituiria o Protocolo de Kyoto em 2012, no
qual era o ano de “vencimento” do acordo e que mais tarde seria estendido
para o ano de 2020 como foi decidido na Conferência de Doha (COP-18)
realizada em 2012 no Catar.

3.12 Rio + 20
Vinte anos após a Rio – 92, o Brasil volta a sediar a Conferência das
Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a cidade do Rio de
Janeiro voltava a ser o palco das discussões ambientais, desta vez com o
objetivo de avaliar toda questão ambiental e todas as práticas sustentáveis
realizadas na última década e com a finalidade de elaborar um plano de
agenda do desenvolvimento sustentável para as próximas décadas. A proposta
do Brasil ser novamente o país sede da conferência foi aprovada no ano de
2009 na Assembleia-Geral das Nações Unidas, em sua 64ª Sessão.

De acordo com Viola e Franchini (2012), o sistema terrestre é


incremental e em seu funcionamento combina processos rápidos e lentos com
predominância de efeitos evidentes localizados a longo prazo, porém a
humanidade age de forma imediatista ou à imoralidade extrema e como
consequência as instituições sociais são formadas para funcionar dentro desta
concepção de curto prazo, a Rio + 20 manifestou-se como uma evidência clara
da defasagem entre a crise sistêmica, consciência publica global sobre o
problema, que se expande progressivamente e resposta política extremamente
conservadora e ineficiente. . A Cúpula foi um fracasso desde o ponto de vista
da evolução dos mecanismos cooperativos para governar o ambiente global
nos últimos 20 anos, e um enorme fracasso se consideradas as evidências
científicas sobre a degradação do sistema terrestre acumuladas neste período
(VIOLA; FRANCHINI, 2012).

Segundo Guimarães e Fontoura (2012), os líderes mundiais e a ONU na


Rio + 20 responderam sem fracasso aos três primeiros desafios (antecipar,
perceber e comunicar) para encarar a problemática ambiental, porém o que
ficou evidenciado na conferência foi a incapacidade da “atuação” perante ao

41
discurso, afirmando que o problema encontra-se na vontade política para "agir"
com eficiência e claramente se observa que continua a diferir
consideravelmente os interesses sociais e seus campos de atuação, revelando-
se nas “disputas” entre o setor privado versus movimentos sociais ou países
desenvolvidos e países em desenvolvimento.

Estas questões ganharam ênfase na conferência pela discussão da


economia verde e o discurso da importância do domínio privado. Ambos
visavam a adoção de medidas e decisões que não contrariassem o status
quo e que favorecem apenas a hegemonia das grandes corporações privadas
e a lógica de mercado com base no crescimento econômico infinito no qual
cada país decide o que para si é "verde" ou "não" (GUIMARÃES; FONTOURA,
2012).

42
4. O “Fetichismo” do Desenvolvimento Sustentável
Partindo de uma análise multidisciplinar, pretende-se uma discussão
mais aprofundada sobre o tema desenvolvimento sustentável, não tomando-o
como um tema isolado, mas analisando todos os temas interligados à
sustentabilidade, tais como sociologia, direito, antropologia, economia, ciências
ambientais, etc., possibilitando assim uma análise aprofundada desde a criação
do desenvolvimento sustentável, quem os criou e com que finalidade foi criado
até sua concepção atual que se tornou cada vez mais impraticável dentro do
capital. Desta forma, o “fetichismo” aqui citado não se torna adjetivo apenas ao
desenvolvimento sustentável em si, mas a todos os “atores” e fatores que
dificultam a sua aplicação efetiva, entendendo-se como principais fatores e
“atores” o crescimento apenas econômico (desenvolvimentista), o atual modo
de produção, a busca por lucros a qualquer custo, o consumismo desenfreado,
pseudo necessidades e um comércio regado à base de obsolescências, de
forma geral a economia capitalista.

Uma observação inicial é que toda a busca de interpretação do


funcionamento da economia capitalista deve levar em conta a necessidade de
valorização que se impõe ao capital, isto é, a exigência ou imperativo sistêmico
da obtenção de lucro (MONTIBELLER FILHO, 2004, p.60). É neste
funcionamento da economia capitalista que a interação com o meio ambiente
se torna “esquecida”, se tratando em termos exploratórios e de obtenção de
lucro e à parte, de forma a complementar as relações econômicas e
consequentemente obter mais lucro, fato que consequentemente cria uma falsa
relação de proteção ambiental.

Observando a natureza nos defrontamos com vários problemas


ambientais, crise hídrica, extinção de animais, o uso exacerbado de
combustíveis fósseis, acelerado processo de desertificação, fenômenos
naturais nunca visto antes em tamanhas proporções. O planeta está
desencadeando reações que afetarão drasticamente a vida da população
mundial, desta forma há uma necessidade de uma mudança radical e urgente

43
que no atual contexto o desenvolvimento sustentável, nestes moldes, não se
propõe a realizar. A cronologia do aumento da degradação ambiental nos
últimos séculos coincidentemente, ou não, se relaciona com o surgimento do
sistema capitalista e seu processo histórico, logo após a revolução industrial os
impactos ambientais aumentaram drasticamente. As implicações da destruição
ecológica no sistema capitalista se materializam desde sua origem, pois
possuem fundamento na propriedade privada, no mercado e no lucro
(PIMENTEL, 2008).

Nesse sentido, apontamos que em virtude da necessidade da


expansão capitalista, a questão ambiental não havia recebido a
intervenção cabível e urgente, embora as implicações da ação
humana frente ao meio ambiente não fossem algo peculiar daquele e
nem do atual período da organização societária (BERGER, 2013).

Desde o início dos debates ambientais, após o Clube de Roma, os


relatórios passam a afirmar que o principal agente causador da destruição do
meio ambiente é o aumento populacional e a pressão do crescimento
demográfico, há atualmente muitos defensores desta ideologia Malthusiana,
porém os fundamentos desta ideologia se extinguem quando:

diversos segmentos do pensamento social e dos movimentos


ambientalistas, visto a clara defesa do padrão de consumo dos
países centrais – isentando-os de sua condição de poluidores – ao
mesmo tempo que responsabilizam “os pobres” pela degradação do
planeta (SILVA, 2010, p. 168).

Outra contextualização de fetiche do desenvolvimento sustentável,


aparece dentro da indústria midiática com o chamado marketing verde,
comumente ouvimos expressões tais como responsabilidade socioambiental,
produção limpa, economia verde, produção verde, consumo sustentável,
desperdício zero, compromisso ecológico, mercadorias sustentáveis, dentre
outros, que terminam por entrar em contradição, são propagandas que
perpassam a ideia de proteção ambiental ao mesmo tempo que incentivam o
consumo, muitas vezes de produtos sem nenhuma responsabilidade ambiental,
mas que atribuem algum tipo de rotulação. Júnior (2011) afirma que a
predominância deste processo, indica que o acervo de discursos sobre
desenvolvimento sustentável difundidos na atualidade admite mais a função de
incentivar o consumo e legitimar uma produção do que proporcionar uma

44
profunda reflexão sobre as práticas e valores sobre os quais se apoiam as
sociedades contemporâneas, assim as empresas se preocupam em construir
no meio público um cenário de preocupação ambiental e compromisso com a
causa.

Com esta intenção de incentivar o consumo e legitimar a produção,


retoma-se a discussão sobre alienação e sua superação como forma de se
alcançar o desenvolvimento sustentável. De acordo com Santos, Ronaldo
(2015), Marx elabora um conceito de alienação baseado na atividade humana,
mais especificamente, o trabalho, e com ele lança mão de quatro formas de
alienação: a) alienação do homem para com a natureza; b) alienação do
homem de sí mesmo (de sua atividade); c) alienação de seu ser genérico
(alienação enquanto membro da espécie humana); d) alienação do homem dos
outros homens. Destas, decorrem dois tipos distintos de estranhamento, a
saber: estranhamento do homem em relação a natureza e a si mesmo;
estranhamento do homem quanto ao outro e quanto a espécie humana
(SANTOS, Ronaldo 2015).

Marx, elabora que o “trabalho” medeia o intercâmbio entre homem e


natureza (metabolismo), pois o homem é capaz de modificar a natureza
mediante o seu trabalho, no qual o autor classificou o trabalho como elemento
de mediação de primeira ordem enquanto a propriedade privada e a divisão do
trabalho assalariado surgem como elementos de mediação de segunda ordem,
“que se interpõem entre o homem e a natureza, alienando o homem dos frutos
sua atividade e impedindo-o de realizar plenamente suas capacidades
produtivas (criativas)” (SANTOS, Ronaldo 2015). Marx ainda afirma que a
superação da alienação se dá através das superações dos elementos de
mediação, contudo esta superação deve-se ocorrer através da superação dos
elementos de segunda ordem, visto que, são neles que se encontram todas as
mazelas geradas pelo sistema capitalista, ou seja, a superação não deve
ocorrer nos elementos de mediação como um todo.

Sobre estes pontos é importante destacar que não existe meio de


suprimir a mediação de primeira ordem, sob a justificativa de constituir uma

45
“relação direta entre homem e natureza”, feita sem intermédios de nenhum tipo,
nem mesmo a consciência que se desenvolve dessa relação (SANTOS,
Ronaldo 2015). Marx elabora uma análise sobre o conceito de Metabolismo,
das trocas ocorridas na relação homem-natureza, na qual ele explana dois
pontos fundamentais da alienação, a saber, a alienação fundamental do
homem para com a natureza e por segundo ele elucida uma falta essencial,
uma “falha irreparável”, uma falha metabólica que resulta na separação
antagonista entre o campo e a cidade, um dos principais pontos na crítica de
Marx ao desenvolvimento capitalista. Segundo Foster (2011, p. 202):

Ademais, o conceito de falha metabólica de Marx na relação entre a


cidade e o campo, entre os seres humanos e a terra, permitiu-lhe
penetrar nas raízes do que foi às vezes chamado pelos historiadores
de “segunda revolução agrícola”7, que então ocorria no capitalismo, e
da crise na agricultura associada a isto, permitindo assim que Marx
desenvolvesse uma crítica a degradação ambientalista que
antecipava boa parte do pensamento ecológico de hoje.

A separação entre o campo e a cidade, bem como o aumento


progressivo da distância entre a agricultura e indústria capitalista, são
apontados como os fatos geradores de uma alienação na relação envolvendo
homem e natureza (SANTOS, 2015). Esta falha metabólica descrita por Marx
constitui a própria essência do caráter de predação do homem para com a
natureza, consequentemente a característica predatória do capitalismo em
relação ao meio ambiente, surgindo como um sistema usurpador que rouba do
trabalhador sua força de trabalho e a própria objetivação da força de trabalho
para garantir a mais-valia, desvalendo o trabalhador, alienando-o e
transformando-o em “coisa”, ao mesmo tempo, que retira da natureza toda a
matéria prima para seus interesses sem que haja a devida “restauração” e

7
A primeira revolução foi um processo gradual que ocorreu no curso de alguns séculos, ligado
aos enclosures (cercados) e à crescente centralidade do mercado; as mudanças técnicas
incluíram melhorias na adubação com esterco, rotação de lavouras, drenagem e manejo de
rebanhos. A segunda revolução agrícola, ao contrário, ocorreu em período mais breve - 1830 -
1880 - e se caracterizou pelo crescimento de uma indústria de fertilizantes e pelo
desenvolvimento da química de solos, associada particularmente com o trabalho de Justus von
Liebig. A terceira revolução agrícola ocorreu ainda mais tarde, no século XX, e envolveu a
substituição da tração animal pela tração mecânica na agricultura, seguida pela concentração
de animais em estábulos imensos, conjugada com a alteração genética das plantas
(produzindo monoculturas mais estreitas) e o uso intensivo de substâncias químicas - tais
como fertilizantes e pesticidas (SANTOS, Ronaldo, 2015).

46
retribuição do que lhes foi retirado. Desta forma, ao relatar a falha metabólica,
Marx já denunciava o risco da agricultura em grande escala, ou seja, o
agronegócio. Segundo Marx (1974, p.940):

A grande propriedade fundiária reduz a população agrícola a um


mínimo sempre declinante e a confronta com uma sempre crescente
população industrial amontoada nas grandes cidades; deste modo,
ela produz condições que provocam uma falha irreparável no
processo interdependente do metabolismo social, um metabolismo
prescrito pelas leis naturais da própria vida. Isto resulta num esbulho
da vitalidade do solo, que o comércio transporta muitíssimo além das
fronteiras de um único país. A indústria de larga escala e a agricultura
de larga escala feita industrialmente têm o mesmo efeito. Se
originalmente elas se distinguem pelo fato de que a primeira deixa
resíduos e arruína o poder do trabalho e portanto o poder natural do
homem, ao posso que a última faz o mesmo com o poder natural do
solo, elas se unem mais adiante no seu desenvolvimento, já que no
sistema industrial aplicado a agricultura também debilita ali os
trabalhadores, ao passo que, por seu lado, a indústria e o comércio
oferecem à agricultura os meios para exaurir o solo

Tornando esta crítica atual, segundo Godeiro (2015), a agricultura


familiar no ano de 2006, ano do último senso agropecuário no Brasil, produziu
cerca de 70% dos alimentos produzidos no país e empregou 74% dos
trabalhadores rurais, ainda segundo o autor, na agricultura familiar a cada 100
hectares, trabalham 15 pessoas, enquanto no agronegócio a cada 100
hectares, gera-se emprego para apenas duas pessoas.

Para Santos, Ronaldo (2015), o trabalho enquanto elemento de


“mediação” com caráter de “controle” e “regulação” da interação metabólica “,
onde o homem se adapta as necessidades e limitações naturais, no intuito de
adaptar a natureza ao seu interesse imediato”, perde, a longo prazo, todo
caráter sustentável e com isso o risco surge no caráter alienado da relação, de
onde emerge a base de toda exploração inadequada dos recursos naturais,
partindo de que o homem não o reconhece como ser inserido no quadro natural
do ambiente em que vive (alienação fundamental), até o reconhecimento de
que a matéria de onde extrai os elementos de sua vida é finita.

Neste conceito de “falha metabólica” entre o ser humano e a terra foi


empregado por Marx para assimilar a alienação matéria do homem inserido na
sociedade capitalista das condições naturais formadoras dos pilares da
existência humana. Insistirem em que essa tal falha metabólica entre os seres

47
humanos e o solo foi em larga escala criada pela sociedade capitalista era
afirmar que as condições de sustentabilidade impostas pela natureza haviam
sido violadas (FOSTER, 2011).

Assim, para se atingir uma efetiva sustentabilidade deve-se transcender


este caráter alienado.

Sustentabilidade é, essencialmente, um liame histórico existente


entre gerações humanas prisioneiras da mesma faticidade e que,
compelidas à prevalência da solidariedade, sobre todos os outros
valores derivados da lógica do capital, se unem na conquista da
sobrevivência. A implantação deste modelo de racionalidade depende
da emancipação humana da condição alienada na qual constitui sua
relação com a natureza, o que implica em, necessariamente, mudar a
forma das relações de trabalho no sistema capitalista” (SANTOS,
Ronaldo, 2015)

Observa-se que para todo o caráter da “mercadoria sustentável” e o seu


marketing verde há presente o processo de alienação, onde este é utilizado na
obtenção de lucros e é perceptível nas relações de mercado com os meios
midiáticos. A ligação entre mídia, mercado e meio ambiente serviu e serve
como difusão da ideia de sustentabilidade “como essa nova estratégia
destinada a renovar a dinâmica de apropriação privada dos elementos naturais
pelo capital” (JUNIOR, 2013). Assim, Vilar (1997, p.130) cita que:

as grandes indústrias fazem campanhas publicitárias e plantam


notícias na imprensa, mas veladamente exercem um forte lobby para
afrouxar a legislação ambiental. Nos discursos, defendem a liberdade
de imprensa e a democracia. Nos bastidores, são soldados de uma
conspiração do silêncio para que a população receba apenas a
versão dos poluidores.

Como um bom exemplo desse caráter de mercadoria sustentável,


podemos citar dois exemplos emblemáticos ocorridos no decorrer do ano de
2015. Um é o caso da Samarco mineradora que tem como empresas
controladoras as mineradoras Vale do Rio Doce e BHP Billiton. Esta
mineradora constantemente era vencedora de prêmios de sustentabilidade e
homenageada por ações sustentáveis e esta característica era associada a
empresa como uma mineradora de caráter sustentável no mercado da
mineração. Só para citar, em 2011 a Samarco ganhou o prêmio Hugo Werneck
na categoria Parceiro Sustentável, considerado como o Oscar da ecologia,
arrebatou por cinco vezes seguida o prêmio de melhor mineradora do Brasil,

48
em 2014 ganhou o prêmio ABAP de sustentabilidade da Associação Brasileira
de Agências de Publicidade (ABAP), em 2014 a Samarco recebeu, pela
segunda vez, o troféu John T Ryan, oferecido pela empresa canadense MSA,
pelos índices de segurança em suas operações e foi homenageada por sua
gestão e ações de sustentabilidade além de patrocinar prêmios de
sustentabilidade no estado Espirito Santo ainda em 2015. E neste mesmo ano,
ocorre no estado de Minas Gerais, distrito de Bento Rodrigues e município de
Mariana um dos maiores desastres ambientais brasileiros, o rompimento de
uma barragem de rejeitos de mineração da empresa Samarco, no qual a lama
tóxica percorreu mais de 600 km pelo rio Doce até desaguar no oceano
atlântico destruindo toda vida e diversidade que havia no rio.

O outro caso emblemático, ocorrido no mesmo ano um pouco antes do


acidente causada pela má gestão da mineradora Samarco, foi que a
Volkswagen admitiu burlar testes de emissões de poluentes em mais de onze
milhões de veículos, onde, no momento do teste um software era responsável
por diminuir os índices de emissões. A mesma empresa era considerada a
empresa automobilística mais sustentável do mundo.

Apesar de quase não se ter discussões nos meios sociais sobre


desenvolvimento sustentável, desde seu processo de criação até os dias
atuais, houve uma grande aceitação por parte da sociedade devido ao fato da
mídia difundir profundamente o conceito como forma de salvação já
consolidado, transmitindo a ideia de que não deve ser questionado. Levando
em consideração ao fato que a maioria da população só tem acesso a este
tema por abordagens midiáticas, há pouco questionamento em cima deste tipo
de desenvolvimento difundido como solução aos problemas ambientais.

Relacionando com o atual tipo de desenvolvimento, a sustentabilidade e


os movimentos ambientais deveriam ser uma contrapartida ao crescimento
mercadológico, porém, a sustentabilidade e o ambientalismo são apropriados
mercantilisticamente pelo sistema econômico. Na atual economia, a taxa de
crescimento econômico, é algo que não condiz com a realidade, pois se
apossa de um fetiche, que o aumento dessa taxa implica necessariamente na

49
melhoria das condições de vida da sociedade, criando assim uma veneração
ao crescimento da produção pelo que conhecemos como Produto Interno Bruto
(PIB).

O PIB é o índice que mede a produção anual dos países, e é atualmente


utilizado como um indicador de crescimento, ou seja, uma nação “rica” é uma
nação com um elevado PIB, mesmo que para manter a alta taxa de
crescimento econômico tenham que degradar o meio ambiente e comprometer
as gerações futuras. É a busca incessante pelo lucro.

Ao mesmo tempo em que o desenvolvimento sustentável é transmitido


como meio para soluções de problemas ambientais, o aumento de incentivos
ao consumo é também propagado. Alguns autores identificam que entre os
anos 60 e o começo dos anos 80 há uma passagem de uma sociedade
industrial enfatizada na produção para uma sociedade de consumo. Em
consequência, não se trataria mais de uma configuração em que a produção
determinaria o consumo, mas, ao contrário, este passaria a orientar aquela,
agora desafiada a atender a uma grande variedade de “necessidades” dos
consumidores (JUNIOR, 2013). Desta forma, incentivar o consumo e definir
“necessidades” seriam a forma de regular o mercado para gerar ainda mais
lucros, tornando o marketing o regulador de mercado e com um novo conceito
de desenvolvimento em alta, o “sustentável”, o marketing verde começa a
controlar o mercado em prol da geração de lucros sustentáveis, para
complementar a regência do mercado em que a sociedade e o meio ambiente
são as principais vítimas, o comércio passa a ser regado a base das
obsolescências (programada ou planejada e perceptiva ou percebida), tendo
como consequência a superexploração da natureza e uma maior geração de
resíduos. Adiante, tomando a obsolescência programada como aquela que
regula o tempo útil de vida dos produtos e obsolescência perceptiva como
aquela que “obriga” ou induz o consumidor a trocar um produto em perfeito
estágio de conservação por outro, devido ao fato do produto mais novo ser,
supostamente, mais atrativo que o antigo, entraremos em detalhes práticos e
demonstraremos como essas práticas influenciam para não alcançarmos o
almejado desenvolvimento sustentável.
50
4.1 Obsolescência Programada ou Planejada
A obsolescência programada é a estratégia utilizada pelas indústrias
com a finalidade de diminuir a vida útil de um determinado produto,
programando o tempo em que o produto deve durar, visando a sua troca por
produtos novos fazendo girar a engrenagem da sociedade de consumo. A
obsolescência programa surge pela primeira vez na década de 1930, logo após
a crise de 1929, aparece como “solução” ao alto índice de desemprego que
assolava cerca de 25% da População Economicamente Ativa (PEA) dos
Estados Unidos.

A crise de 1929, uma das maiores crises do capital, ocorreu devido ao


aumento da produção (oferta) e a falta de demanda, a crise ocorreu por uma
superprodução que é uma característica presente em grande parte das crises
do sistema capitalista, sempre pelo excesso de oferta. A crise de 29 afetou
também o Brasil, onde sacas de café foram jogados ao mar por não haver
demandas e assim a inviabilidade de comercializá-lo. Nessa época houveram
demissões em massa e diminuição da produção de bens de consumo, afetando
o mercado.

De acordo com Conceição, Conceição e Araújo (2014), o primeiro passo


para a obsolescência programada foi dado em 1924 quando foi realizado uma
reunião entre fabricantes de lâmpadas dos Estados Unidos e da Europa com o
objetivo de reduzir o ciclo de vida das lâmpadas, o cartel S.A Phoebus
determinou que a vida útil das lâmpadas produzidas na época passasse a ser
de 1000 horas, contra as 3000 horas que estavam sendo produzidas, a reunião
era comandada pela Osram e pela Philips e determinavam que as empresas
que não obedecessem a ordem do grupo (cartel) seriam punidas com multas.

O conceito concreto da obsolescência programada foi introduzido no ano


de 1932 pelo imobiliário estadunidense Bernard London através da publicação
de um folheto intitulado "Ending the Depression Through Planned
Obsolescence" em português “Acabar com a depressão através da
obsolescência planejada”, pregava a ideia de que todos os produtos deveriam
ter seu ciclo de vida interrompido forçando os consumidores a irem as compras
e assim extinguir a depressão da crise que ainda pairava no início da década
51
de 30. De acordo com Conceição, Conceição e Araújo (2014), London afirmava
que a tecnologia havia aumentado a produção, a qualidade dos produtos e
consequentemente a vida útil dos mesmos, fazendo com que os consumidores,
ainda com medo da crise, utilizassem seus bens o maior tempo possível e
assim a crise perduraria, desta forma London propôs que o estado intervisse no
tempo de vida produtos, assim os consumidores comprariam os produtos já
sabendo o seu ciclo de vida e que quando este prazo expirasse o produto
estaria legalmente “morto” e os consumidores deveriam devolver o produto
recebendo um cupom que valeria de desconto para as próximas compras. A
ideia de London na época não foi concretizada, porém a partir da década de 50
ela foi copiada e a obsolescência programada passava se efetivar no mercado,
tendo a vida útil dos produtos controlados por engenheiros, projetistas,
economistas, matemáticos e especialistas.

Já na década de 50 os meios de comunicação passavam a se expandir


e tiveram uma grande importância na implementação da prática da
obsolescência programa, a mídia passava a seduzir seus expectadores a
consumir produtos que agora, no período pós-guerra, passavam a ser mais
inovadores e mais tecnológicos. A partir daí a moda muito mais globalizada,
através do marketing, passava a incorporar nos consumidores o desejo de ter o
novo, de se estar atualizado, assim intrínseco à obsolescência planejada surge
a obsolescência percebida ou perceptiva.

Um documentário produzido pela televisão espanhola RTVE chamado,


“Comprar, Descartar, Comprar: a história secreta da obsolescência
programada”, conta detalhes sobre a prática da obsolescência programada,
retrata o caso da lâmpada de Livermore (cidade da Califórnia, EUA) que
funciona desde 1901 de forma ininterrupta e de outras práticas de
obsolescência como o caso da impressora que é programada por um chip para
funcionar até determinado número de jatos de tinta. Ainda no documentário cita
que enquanto a obsolescência planejada consolidava-se no mundo capitalista,
no outro lado, nos países do bloco leste toda a economia funcionava sem a
presença da obsolescência programada, pois a economia comunista não
baseava-se no livre mercado e sim no que estava planejado pelo estado e
52
neste sistema a obsolescência programada não fazia nenhum sentido, em
alguns países comunistas alguns produtos como máquinas de lavar e
refrigeradores eram produzidos para durar o máximo de tempo possível, cerca
de 25 anos.

A obsolescência programada sustenta-se através do consumismo, desta


forma faz-se necessário uma diferenciação entre consumo e consumismo.
Bauman (2008, p.37) afirma que consumo é algo intrínseco da própria condição
de sobrevivência biológica, já o consumismo é algo que surge tempos mais
tarde pela passagem do consumo ao consumismo, assim Bauman (2008, p.37)
define como:

“Aparentemente o consumo é algo banal, até mesmo trivial. É uma


atividade que fazemos todos os dias. Se reduzido à forma arquetípica
do ciclo metabólico de ingestão, digestão e excreção, o consumo é
uma condição, e um aspecto, permanente e irremovível, sem limites
temporais ou históricos; um elemento inseparável da sobrevivência
biológica que nós humanos compartilhamos com todos os outros
organismos vivos. […] Já o consumismo, em aguda oposição às
formas de vida precedentes, associa a felicidade não tanto à
satisfação de necessidades (como suas “versões oficiais” tendem a
deixar implícito), mas a um volume e uma intensidade de desejo
sempre crescentes, o que por sua vez implica o uso imediato e a
rápida substituição dos objetos destinados a satisfazê-la.”

Lipovetsky (2007), propõe uma divisão esquemática da evolução do


capitalismo em três fases: o surgimento dos mercados de massa e do
marketing (Fase I), A sociedade do consumo de massa (Fase II) e A sociedade
do hiperconsumo. A primeira fase tem início em 1880 e se estende até o final
da segunda guerra mundial, tem por característica o desenvolvimento técnico-
científico, os meios de comunicação, transporte e produção desenvolvem
melhorias e com esse início de globalização há um desenvolvimento do
comércio em larga escala, com isso passa a surgir as primeiras marcas e o
aumento do investimento em publicidade. Foi nessa época em que a ideia da
obsolescência programada obrigatória foi introduzida pela primeira vez, porém
sem sucesso por Bernard London.

A segunda fase do capitalismo, A sociedade do consumo de massa,


perdura dos anos 50 até o início dos anos 80 e tem como fatores marcante o
aumento de créditos, da produção e consumo de bens duradouros, do poder de

53
compra por parte da população e do início da prática da obsolescência
programada e surgimento da obsolescência perceptiva ou percebia, é nessa
fase que o consumismo começa a existir efetivamente e a aquisição de bens
torna fonte de status social, personificando a coisa ou coisificando o ser é o
chamado “efeito Veblen”.

Já na fase da sociedade do hiperconsumo (Fase III), se estende do


início dos anos 80 até os dias atuais, nessa fase passa a explorar as emoções
dos consumidores, as compras passam a ser um fator emocional e há uma
substituição da razão pelas emoções na hora de consumir, há um aumento
exacerbado no consumo de bens supérfluos, passa-se a impor “necessidades”
e a prática da obsolescência programada se une à obsolescência perceptiva de
forma ainda mais forte.

4.2 Obsolescência Perceptiva ou Percebida


A obsolescência perceptiva nasce intrínseco à obsolescência
programada, uma espécie de ramificação. A partir da segunda fase do
capitalismo, o consumo passa a assumir uma condição de status dentro da
sociedade, estar atualizado na moda, nas tendências e nos lançamentos passa
a ser uma forma de se impor socialmente, esta tendência aumenta com o
passar dos anos até se somar à terceira fase do capitalismo quando aliado ao
status o poder de compra assume uma forma emocional e muitas vezes ditada
pelas propagandas.

No início da fase da sociedade de consumo de massa surge a


obsolescência perceptiva que é a estratégia de fazer com que troquemos de
produto, que ainda está em seu perfeito estado de funcionalidade, por outro
mais novo, geralmente por estímulos de propagandas, marketing, modas e
tendências. Assim, com a falsa propagação do consumo por necessidades,
surge a obsolescência com base na construção de identidade individual. A
obsolescência percebida surge para encurtar ainda mais o tempo de utilização
de um certo produto com a finalidade de fazer circular o mercado financeiro de
forma mais rápida.

54
A estratégia da obsolescência perceptiva é uma ramificação da
obsolescência programada, sendo responsável por movimentar a sociedade de
hiperconsumo através de uma constante troca de tendências de estilo
(BAUMAN, 2007). Nesta estratégia, um produto, ainda que em perfeita
funcionalidade, passa a não ser mais percebido como moderno, novo, não está
mais inserido nas tendências de estilo ou de atribuição tecnológica, assim
torna-se obsoleto pela percepção e não pela sua funcionalidade.

Na sociedade atual, com alto desenvolvimento tecnológico, a


obsolescência perceptiva é facilmente observada na comercialização de
celulares e computadores, frequentemente são lançados novos aparelhos com
pequenas modificações, seja em hardware ou em software, além de não haver
a possibilidade de troca das partes modificadas o marketing utiliza-se do
emocional do consumidor e do status, pois adquirindo um produto de “última
geração” o consumidor teria uma posição privilegiada dentro do meio social em
que convive por ser o único ou um dos primeiros a obter o produto. Porém, a
obsolescência percebida não se restringe apenas a produtos tecnológicos, está
presente em grande parte dos bens de consumo como carros, casa, geladeira,
dentre outros.

A sociedade de hiperconsumo se caracteriza não apenas pelos novos


modos de se consumir, mas também por novos modos de organização das
atividades econômicas, das vendas, das mídias, das relações individuais com
as marcas, que passam a ter seu foco na relação consumidor-marca (WADA,
2011). Nesta sociedade, a obsolescência se torna um pouco mais complexa e
envolve uma cadeia de interação social mais extensa, as marcas são
difundidas pela mídia por terem qualidade e muitas vezes durabilidade, porém
frequentemente lançam novos produtos “superiores” aos outros e a divulgação
e o marketing se responsabilizam por convencer os consumidores a trocarem
de produtos mesmo estando em perfeito estado de uso, pode-se dizer que a
mídia tem a responsabilidade de tornar obsoleto diversos produtos.

Ao mesmo tempo em que é difundido pela mídia estas práticas


econômicas é difundido também a “importância” da responsabilidade ambiental

55
e do desenvolvimento sustentável (que quando praticadas é ainda de forma
isolada e medíocre se comparada às práticas insustentáveis), mostrando que o
atual sistema econômico está retrocedendo no que diz respeito a preservação
do planeta.

56
5. A CONTRADIÇÃO DAS POLÍTICAS AMBIENTAIS DE
SUSTENTABILIDADE NA ÓTICA DAS PRÁTICAS DA
OBSOLESCÊNCIA PROGRAMA E PERCEPTIVA NOS MEIOS DE
PRODUÇÃO.
O aumento do consumo no decorrer das três fases do capitalismo e a
aplicação da obsolescência programada e da perceptiva, traz consigo um
aumento explosivo na geração de resíduos sólidos, considerado um dos
principais problemas ambientais da atualidade. A evolução tecnológica passa a
ser incorporada no dia a dia da população mundial e a obsolescência
programada se encontra efetivamente presente nos aparelhos eletrônicos, que
gera um tipo de resíduo que causa uma maior contaminação ao meio ambiente
e é de difícil reciclagem ou reutilização.

Na difusão de práticas consideradas sustentáveis, a redução na


produção de resíduos sólidos é uma das mais discutidas. A política dos 3 R’s,
Reduzir, Reutilizar, Reciclar (mais recentemente renomeado para política dos 4
R’s pela introdução da Reintegração dos resíduos sólidos) prega reduzir a
geração de resíduos na produção, reutiliza-los com outras finalidades, reciclar
transformando o que era resíduo em matéria prima e práticas de reintegração
dos resíduos à natureza, como por exemplo a compostagem entram em
contradição no contexto da sustentabilidade quando se observa o sistema de
produção dos bens de consumo.

A contradição citada se refere ao fato da forma que tais políticas são


implantadas e tomadas de forma isolada para mascarar índices de
sustentabilidade. No que se refere à política dos 4 R’s podemos observar a sua
implantação que já começa equivocada quando busca a redução da geração
de resíduos no ponto mais crítico do processo de produção, que é o descarte.
Além disso há a necessidade da criação de processos de educação ambiental
que deve estar atrelada ao sistema de coleta e tratamento, pois não adianta
haver a separação de resíduos se o sistema de coleta e tratamento é
ineficiente, como também não adianta ter um sistema eficiente se não há a
separação dos resíduos. No que se refere ao processo de reciclagem,

57
observamos a tendência exclusivamente de geração de lucros, muitos
processos de reciclagem não ocorrem por não haver uma “viabilidade
econômica” como é o caso da compostagem, técnica antiga e pouco praticada
atualmente, desta forma quebra o famoso tripé da sustentabilidade dando uma
ênfase à questão econômica e deixando as questões socioambientais em
segundo plano.

Derivado destas práticas mal planejadas e implementadas surgem


dados equivocados que dão falsa impressão de que estamos caminhando a
uma sociedade sustentável. Tomando o Brasil como exemplo, segundo o
IBGE (2010a) o alumínio é o material mais reciclado no Brasil com índices
acima de 90%. Frequentemente é veiculado na mídia Brasileira que o país está
no caminho da sustentabilidade por apresentar altos índices de reciclagem de
alumínio. Observa-se o risco da apresentação de dados isolados, e como esta
metodologia pode tornar-se tendenciosa. Se atrelarmos o índice acima a outros
dados do IBGE (2010b), observamos que o alumínio representa apenas 0,6%
da composição gravimétrica dos resíduos sólidos gerados no país,
demonstrando como é pífia a reciclagem de resíduos sólidos no Brasil

Observa-se que o processo de reciclagem se dá não por interesses de


sustentabilidade, pois não obedecem ao tripé do desenvolvimento sustentável,
os produtos com maiores índices de reciclagem são os que geram lucro, como
é o caso do alumínio, papel/papelão, vidro, dentre outros (que ainda assim, os
níveis de reciclagem de alguns são considerados baixos). Desta forma retira-se
a “responsabilidade socioambiental” e prevalece a geração de lucro, processos
como o de compostagem não são frequentemente realizados por não possuir
lucros elevados como os demais tornando-se inviável economicamente, assim,
o termo “responsabilidade socioambiental”, frequentemente utilizado pelas
indústrias, são formas mascaradas de sustentabilidade.

Nestes moldes do sistema capitalista, prefere-se remediar do que


prevenir, no caso, resolver o problema ambiental na geração final dos resíduos,
ponto onde há uma maior pressão ao meio ambiente. Junto aos processos de
destinação final de resíduos e de reciclagem, deve-se tocar no cerne do

58
problema, o consumismo desenfreado. É neste ponto onde o sistema
capitalista impede a pratica do desenvolvimento sustentável. Tomando mais
uma vez o Brasil como exemplo, segundo dados da Abrelpe (2003, 2004 e
2013) em 2003 o Brasil produziu cerca de 57587875 t/ano de Resíduos Sólidos
Urbanos (RSU) e em 2013 produziu por volta de 76387200 t/ano um aumento
de 24,61% na geração de resíduo enquanto a população cresceu cerca de
9,9%. Observa-se um aumento desproporcional entre a geração de resíduos e
o crescimento populacional, isto se tratando apenas dos Resíduos Sólidos
Urbanos, pois em consequência ao aumento do poder de consumo há também
o aumento de Resíduos Industriais, Resíduos da Construção Civil, Resíduos de
Estabelecimentos Comerciais e Prestadores de Serviços e todos os demais
tipos de resíduos inerentes ao aumento do consumo humano.

Apesar do poder de consumo humano ter aumento ao longo dos anos,


ela ainda se concentra, em grande parte, nas mãos de poucos. Enquanto as
classes mais pobres não possuem acesso aos mínimos necessários outros
trocam de carros, celulares e outras falsas necessidades constantemente,
baseado no american way of life (estilo americano de vida).

Outro problema relacionado às políticas ambientais são as informações


que não são divulgadas ou informadas, por trás destas políticas práticas nada
sustentáveis são realizadas. De acordo com Conceição, Conceição e Araújo
(2014) não é divulgado nas campanhas midiáticas, podendo esta estarem
relacionadas às políticas ambientais, é para onde vão os milhões de toneladas
de resíduos eletrônicos e domésticos que este modo de produção e consumo
provoca, países como Gana da África Ocidental sabem bem. No documentário
produzido pela televisão espanhola RTVE chamado, “Comprar, Descartar,
Comprar: a história secreta da obsolescência programada” denuncia que
diariamente, Gana recebe centenas de contêineres de lixo eletrônico vindo da
Europa. E segundo Lundgren (2012), em um relatório da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), afirma que os países em desenvolvimento são
os destinos de cerca de 80% do lixo eletrônico produzido pelas nações
desenvolvidas.

59
Por trás das políticas ditas sustentáveis as empresas realizam práticas
ilegais como as importações de lixo eletrônico para aumentarem seus lucros.
Espíndola e Arruda (2008), fazem duras críticas a estas contradições nas
políticas públicas:

O que acontece com a maioria das políticas ambientais é o descaso


com as contradições dentro das sociedades, enxergando a sociedade
como um todo, sem suas particularidades culturais e seus diferentes
modos de lidar com a natureza.

Além destas contradições, as políticas ambientais dependem de


pesquisas que devem ser realizadas com caráter multi e interdisciplinar e desta
forma as atuais políticas se mostram ineficientes por não ter estas
características de interligação disciplinar. Fato este que é comprovado no
sistema educacional predominante que tem características individuais,
segregando disciplinas e perpassando uma ideia antagônica até mesmo das
próprias ciências onde, por exemplo, é comumente observado a ideia de
antagonismo entre as ciências humanas e as ciências exatas, quando na
realidade deveria existir uma simbiose disciplinar para um maior entendimento
não só das pesquisas, mas também da compreensão das relações sociais.

Geralmente, estas pesquisas e políticas ambientais ditas sustentáveis


são praticadas por empresas, industrias, ONG’s, no geral o setor privado.
Enquanto a isso, Espíndola e Arruda (2008, p.4) afirmam:

As ONG’s e demais políticas voltadas à aplicação do


desenvolvimento sustentável são muitas vezes mantidas com
recursos estrangeiros. Realizam um trabalho sério, mas assentado
em interesses midiáticos e, com isso, lucrativos. Esse tipo de atitude
acaba por essencialmente descaracterizar a atuação das mesmas, e
também coloca na berlinda toda a estrutura que mantém esse ideal
de desenvolvimento sustentável, inclusive as políticas ambientais. As
instituições agem conforme interesses próprios prejudicando os
grupos sociais; muitas forçam implantações de políticas sem ao
menos procurar saber se serão viáveis ao grupo.

Desta forma, mais uma vez a “sustentabilidade” aparece como uma


prática mercadológica, as políticas ambientais, antes de tudo, surgem como
uma forma lucrativa, uma forma de conseguir “lucros sustentáveis”. Assim,
“atuou-se no sentido de mudar os padrões de consumo para que as pessoas
pudessem comprar produtos considerados limpos, ambientalmente corretos,

60
quando na verdade a busca pela produtividade e pelo lucro jamais deixou de
ser prioridade. ” (ESPÍNDOLA; ARRUDA, 2008)

No plano econômico, o próprio capital se incumbe de transformar a


degradação ambiental em novos mercados, isto é, em novos campos de
acumulação, por exemplo, o mercado de carbono (QUINTANA; HACON, 2011).
De acordo com Löwy (2013), o Tratado de Kioto propõe resolver o problema da
emissão de CO2 pelo “mercado dos direitos de poluir”, tratado como solução
para o problema do efeito estufa o credito de carbono faz com que as
empresas que emitem mais CO2 comprem de outras, que poluem menos,
direitos de emissão.

Acredita-se que a curto e médio prazo as atuais políticas ambientais


aplicadas levarão a mudanças significativas nos problemas ambientais, porém
o que ocorre é que os prazos terminam e estas políticas servem apenas como
“reformas” para o capitalismo, de forma a sustenta-lo e “legitimar” a destruição
ambiental.

O paradigma do desenvolvimento sustentável não questiona as


noções de progresso e de racionalidade econômica existentes, mas
continua a privilegiar o consumismo industrial. Ao invés, os
indicadores primários do regime de desenvolvimento, o
desenvolvimento sustentável simplesmente simplifica o atual modelo
de crescimento econômico, adicionando conceitos como os de
prevenção da poluição, reciclabilidade, gerência de produtos e de
gerenciamento ambiental. A lógica do capital e dos mercados nunca
está em questão, e a despeito de suas boas intenções, a noção de
desenvolvimento sustentável elaborada por Brundtland objetiva criar
e impor uma lógica semelhante a todo o globo (BANERJEE, 2003, p.
87-88).

Seguindo esta linha, o desenvolvimento sustentável funciona de acordo


com a lógica do capital e assim, consequentemente, as políticas ambientais
também operam seguindo a lógica do sistema capitalista, corroborando com a
ideia da valoração ambiental, uma política econômica ambiental que tenta
atribuir valor monetário aos recursos naturais, em muitos casos considerados
inestimáveis, partindo do pressuposto que esta prática é uma alternativa para
conservação do recurso valorado.

Desta forma, os potenciais da natureza são reduzidos à sua


valorização no mercado como capital natural; o trabalho, os princípios
éticos, os valores culturais, as potencialidades do homem e sua
61
capacidade inventiva são reconvertidos em formas funcionais de um
capital humano. Tudo pode ser reduzido a um valor de mercado,
representável nos códigos de capital (LEFF, 2007, p. 25).

Observa-se que as contradições das políticas ambientais acompanham


a mesma ideologia do desenvolvimento sustentável nos moldes capitalistas,
com o objetivo de sanar a crise ambiental, as políticas ambientais estão longe
de amenizar de alguma forma esta crise, que pode ser tratada como uma nova
forma de crise do sistema político econômico vigente, diferenciada das demais
crises, a crise ambiental é uma crise decorrente do modo de produção e não do
excesso de produção como ocorreram nas demais.

5.1 Crise Ambiental, Uma Nova Roupagem Da Crise Do Capital


Atualmente, estamos vivenciando uma forte crise econômica mundial,
alguns consideram esta a crise mais grave da história desde a crise de 1929. É
uma tendência a ideia de que passamos também por uma forte crise ambiental,
confirmada por uns e renegadas por outros (conservadores) que defendem a
ideia que o planeta está passando por ciclos e que as catástrofes ambientais
são características destes ciclos e não consequências do modo de vida da
sociedade. O fato é que enfrentamos problemas ambientais decorrentes da
própria natureza e suas transformações, mas principalmente ocasionados por
problemas derivados de ações antrópicas.

Segundo Löwy (2013), a atual crise do capital demonstra uma


irracionalidade do sistema econômico baseado na mercantilização de tudo, na
especulação, na dominação dos mercados financeiros e na globalização
neoliberal a serviço do lucro a qualquer custo, fato que gera consequências
também na crise ecológica, o autor ainda afirma que a crise ecológica
(ambiental) e a crise econômica deriva de um mesmo fenômeno, um sistema
que transforma tudo (terra, água, ar, ser-humano, etc.) em mercadoria,
decorrendo assim as duas crises de outra maior, a crise da civilização
capitalista industrial moderna, em outras palavras, a crise do modo de vida
baseado no consumismo.

Diferindo da crise financeira, a crise ambiental torna-se mais perigosa à


sobrevivência humana pelo fato de sua resolução não se apoiar nas

62
artimanhas do capital e de medidas econômicas que servem como paliativo até
que outra crise surja. A crise ambiental aparece, assim, como aquela capaz de
lembrar à humanidade – ou ao menos àqueles que insistem na reprodução
ilimitada do capital – que existem limites físicos, orgânicos e químicos para a
sua expansão (QUINTANA; HACON, 2011).

De acordo com O’connor (2009, p. 37), o atual pensamento econômico,


é, e sempre foi unilateral e limitado devido ao fato do que Marx chamou de
“condições de produção” que pressupõe uma oferta ilimitada, este modelo de
produção econômico supõe que o crescimento só é limitado pela demanda.
Segundo o autor, se os custos de trabalho, recursos naturais, infraestrutura e o
espaço se incrementam de maneira significativa, o capital enfrenta a
possibilidade de uma “segunda contradição”, uma crise econômica decorrente
do lado da oferta e que põe em risco a reprodução do capital.

Segundo os seguidores desta tese, as violações dirigidas à força de


trabalho concomitante à exploração da natureza em larga escala
ocasionariam uma elevação nos custos do processo produtivo, pois o
capitalista necessariamente incorporaria tais externalidades
negativas, o que conduziria a uma compressão do lucro. A crise das
condições de produção seria por assim dizer, justamente, a
contradição latente entre a busca excessiva pelo lucro e a
degradação das bases materiais e sociais de sua própria reprodução.
(QUINTANA; HACON, 2011)

Desta forma Duarte (1995, p.99), afirma que alguns autores


consideram a crise ambiental ou ecológica como um fator agravante da crise
do capitalismo, porém, André Gorz se contrapõe a esta ideia e acredita que se
trata de uma crise diferenciada, com características distintas das crises já
ultrapassadas pelo sistema capitalista internacional, por se tratar de uma crise
que se origina no próprio processo produtivo e não mais no consumo (crise de
superprodução) como as crises clássicas que já ocorreram neste sistema
econômico e no modo de produção. O fato do consumo está ligado à produção,
torna a crise ambiental ainda mais preocupante, tomando a ideia de Gorz como
base, a crise ambiental se origina no processo produtivo e se alastra pelo
consumismo desenfreado.

Portanto, o sistema econômico com o passar do tempo tem que se


reinventar, função idealizada pelas crises capitalistas, e com o surgimento do
63
debate ambientalista não poderia ser diferente. Assim, a economia passa a
incorporar a variável ambiental na medida em que o movimento ambientalista
surge e ganha força, então é por volta dos anos 80 que começa a surgir a
economia ambiental baseada principalmente nas teorias neoclássicas,
caracterizando-se por passar a relevar a questão da natureza na economia não
mais como um recurso infinito. Com o surgimento da economia ambiental,
aparece outras ideologias alternativas que criticam a forma com que a
economia ambiental trata a natureza, surgindo assim a economia ecológica e o
ecomarxismo.

64
6. ANÁLISE DA ECONOMIA AMBIENTAL NEOCLÁSSICA,
ECONOMIA ECOLÓGICA E ECOMARXISMO (ECONOMIA
AMBIENTAL MARXISTA)8 NA CONCEPÇÃO DE UMA
VERDADEIRA SUSTENTABILIDADE.
Impossível falar em sustentabilidade sem adentrar-se a outras vertentes
teóricas e conceituais. E a economia é um fator que está interligado a esta
realidade. Atualmente, no discurso ambiental é bastante comum relacionar a
economia ambiental às práticas ditas sustentáveis e à gestão ambiental, este
modelo econômico tem por base categorias neoclássicas que serão discutidas
neste tópico levando em consideração alguns métodos tais como a
internalização das externalidades econômicas e sociais, valoração monetária
ambiental, o método de negociação de Coase, proposição de Pigou, valoração
contingencial, dentre outros. Com isso, será realizada uma análise desta
economia com base nos princípios do Desenvolvimento Sustentável.

Dentre as teorias alternativas podemos destacar a economia ecológica e


a denominada ecomarxismo ou economia ambiental marxista. A primeira tem
por base a ecologia geral com algumas adaptações à ecologia humana e tenta
mostrar-se como uma contraposição à economia neoclássica ambiental
apropinquando os ecossistemas ao sistema econômico e se utilizando das leis
da termodinâmica (principalmente a primeira e a segunda lei), do fluxo de
energia e de materiais, do equilíbrio e da visão sistêmica nas suas abordagens
eco econômicas.

Já a economia ambiental marxista baseia-se na análise econômica


realizada por Karl Marx e entende-se que há a necessidade de reconceituar o
marxismo e suas categorias para inserir mais a fundo a questão ambiental em
seus conceitos. Segundo Lima (2006, p.46), esta vertente parte do princípio
que a relação homem (ser-humano) – natureza “externa” é sempre mediada
por relações sociais, significando que sempre que os recursos naturais forem

8
Estas definições e divisões da economia do meio ambiente não são consensuais. Na literatura
sobre economia ambiental, de modo geral não existe preocupação com a distinçãode
conteúdo, se característico de uma ou outra escola, como pode ser observado em BELLIA
(1996), MARTÍNEZ-ALIER (1995) e Ecological Economics (1998), por exemplo, onde são
citadas, pelos autores, proposições sem a identificação de sua filiação epistemológica
(MONTIBELLER-FILHO, 2000).

65
propriedades privadas na posse de poucos, as causas mais complexas da crise
ambiental não terão sido enfrentadas de crítica, tratando a crise ambiental
como reflexo das contradições de classe inerentes ao sistema capitalista. O
autor ainda cita que é a partir deste contexto que surge a noção de crise
socioambiental.

Desta forma, pretende-se abordar de forma compacta e simples cada


uma das três vertentes, visto que cada uma delas seriam passíveis de um
trabalho completo, analisando suas relações com uma verdadeira
sustentabilidade e ponderando-as de forma a expor seus pontos mais críticos
e/ou favoráveis.

6.1 Economia Ambiental Neoclássica E O Desenvolvimento Sustentável


O pensamento econômico ambiental neoclássico fundamenta-se na
ideia de externalidades, que segundo Peixoto (2013), foi introduzido na década
de 20 pelo economista Arthur Cecil Pigou no qual, defendia que era necessário
atribuir preços aos custos sociais9 marginais, assim esta ideia defendida por
Pigou expressava falhas no sistema produtivas, com isso o economista
elaborou um método para que pudesse corrigir estas falhas ou repara-las na
forma de compensação. Propõe, então, a privatização dos bens públicos como
possibilidade objetiva e única de protegê-los (SOUZA-LIMA, 2006, p.47).
Seguindo este raciocínio, chegaríamos à conclusão de que os economistas
ambientais acreditam que a economia ambiental continuará funcionando
mesmo com a escassez de recursos, que seriam atribuídos por outros
(MORIMURA, 2009).

A relação desta escola com os recursos naturais idealiza-se no princípio


da escassez, considerando “bem econômico” um recurso que esteja exaurindo-
se, desta forma desconsidera os recursos que são abundantes ou que estão
em maior quantidade. Até os anos 60 a economia não considerava as
externalidades relativas ao meio ambiente, nos anos 80 este modelo de

9Entende-se por custos sociais como inconvenientes ocasionados e não assimilados pelos
processos produtivos privados e que são transferidos para a sociedade.

66
economia ganhou força e hoje é o modelo econômico dominante na economia
capitalista quando se trata de meio ambiente.

Com base nos princípios que norteiam a economia ambiental


neoclássica, pretende-se aqui realizar uma breve apresentação dos métodos
utilizados na economia ambiental, tais como, a internalização das
externalidades, valoração ambiental, teoria de Pigou, teoria de Coase dentre
outros e analisar suas influencias na busca de uma verdadeira sustentabilidade
e preservação do meio ambiente.

6.1.2 A “Internalização Das Externalidades”, Valoração Ambiental E A


Valoração Contingencial.
Atualmente a economia ambiental neoclássica é a mais aceita e o seu
principal desdobramento se refere à valoração ambiental. A economia
ambiental neoclássica parte do pressuposto de que toda externalidade, ou seja,
todo “valor econômico”, “recurso” ou “serviço ambiental” que não é inserido no
mercado por mediação do sistema de preço, está sujeito a incorporar um valor
monetário eloquente, em outras palavras, “estabelecer valor para o que o
mercado não considera” (MONTIBELLER FILHO, 2004, p.87).

Assim, esse modelo econômico defende a ideia de “internalizar a


externalidade” através de atribuições monetárias a esta externalidade. As
externalidades negativas são mais discutidas dentro da economia ambiental,
tendo como o exemplo mais a característico a poluição, delimitada como uma
falha da economia que precisaria ser reparada, no caso proposto, com a
“cobrança” ou atribuição de valores às externalidades, transformando até
mesmo a poluição ou os passivos ambientais em mercado financeiro.

Eles começam a perceber, para ficar com apenas um exemplo, que


recursos hídricos contaminados ou gerenciados de maneiras
inadequadas, além de não proporcionar vantagens imediatas, no
longo prazo, poderão comprometer o sistema econômico. Uma
população contaminada tende a comprometer a produtividade do
sistema econômico. Por conta disso, os recursos naturais não podem
continuar sendo uma externalidade, uma ameaça à reprodução do
sistema capitalista (SOUZA-LIMA, 2004).

Essa proposição de internalização das externalidades foi elaborada por


Pigou em 1920, que “trabalhou com a hipótese de que para aproximar o

67
ecossistema da economia, deveriam ser internalizados os custos ambientais no
processo produtivo” (ANDRIUCCI, 2009). Para a autora, poderia ser utilizado
taxas que dependeria da gravidade da poluição e estas taxas iriam servir para
internalizar os custos externos.

A valoração monetária dos bens e serviços ambientais, de acordo com a


economia ambiental neoclássica, processa-se a partir da ideia de que há uma
falha no mercado em designar eficazmente os recursos, pois admite-se que os
valores monetários atribuídos aos bens econômicos não são condizentes com
o preço real total dos recursos e matérias utilizados na produção destes bens.

A economia ambiental neoclássica defende que a valoração ambiental


tem como principal finalidade a preservação dos recursos ambientais, pois a
internalização de externalidades resultaria na proteção dos recursos baseando-
se na ideia de que tomar decisões com base somente nos custos privados,
deixando de lado os custos ambientais, resultaria na degradação dos recursos.
Porém, Andriucci (2009) em sua pesquisa baseadas em estudiosos da
economia neoclássica como Pigou, Coase e outros, afirma que a economia
ambiental neoclássica ficou dividida em duas linhas:

A primeira considera que a economia apresenta capacidade técnica


suficiente para suprir eventuais escassez de algum recurso
ambiental. Desta forma, os recursos ambientais não significam um
verdadeiro limite ao crescimento econômico; a segunda linha
considera que os recursos ambientais têm um custo, e que estes,
considerados externalidades, devem ser identificados e internalizados
nas contas, principalmente do agente causador do dano
(ANDRIUCCI, 2009, p.34)

Observa-se então, o intuito não de proteção ambiental e sim,


manutenção do sistema produtivo, tomando os recursos ambientais com
apenas uma finalidade, a de molda-los e transforma-los em produtos para
suprir as “necessidades” humanas, descartando a importância do meio
ambiente nas interações ecológicas e na manutenção da vida.

Nesses termos, a “internalização das externalidades” pressupõe que


uma das únicas formas de evitar conflitos econômicos com
desdobramentos nos sistemas político e social é não permitir que
existam recursos no ambiente sem proprietários privados. Esse
raciocínio conduz à afirmação de que a “internalização das
externalidades” atua como freio aos possíveis abusos de
determinadas pessoas ou grupos sobre outras(os); atua como
68
possibilidade objetiva de educação dos desejos, das paixões e das
vontades íntimas. Em uma frase, a “internalização das
externalidades” impõe a todo indivíduo ou grupo a percepção de que
não pode fazer o que bem entender por uma única e simples razão:
tudo que está em volta tem dono e, sobretudo, preço (SOUZA-LIMA,
2004).

A questão fundamental na valoração ambiental é de como atribuir


valores monetários aos bens naturais que não são valorados pelo mercado,
mais a frente entraremos na discursão metodológica de como se valorar
economicamente seguindo o pressuposto da economia neoclássica e tecendo
críticas referentes a sustentabilidade, tentando analisar a proposta de
conciliação entre a economia e os pilares da sustentabilidade.

O método da valoração contingencial ou valoração contingente consiste,


basicamente, em atribuir o valor a determinado bem ambiental com base na
opinião de seus usuários. Toma-se como base principal o valor de existência10
que segundo Motta (2009, p.21) não são captados nos demais métodos.

Este método se utiliza de dois parâmetros, a disposição a pagar (DAP) e


a disposição a aceitar compensação (DAAC) que se conceituam
respectivamente no valor que alguém estaria disposto a pagar por um
determinado bem ambiental (para obtê-lo) ou para evitar algum desastre
ambiental e a disposição a aceitar, ou seja, o valor aceitável por alguém na
perda de algum bem ambiental ou alguma poluição.

Na prática é aplicado uma avaliação (questionário) à comunidade


afetada após uma breve explicação sobre o caso e a pesquisa, podendo se
utilizar de um espaço amostral da população dependendo do seu tamanho,
neste questionário uma tabela é apresentada para que o entrevistado aponte o
valor que estaria disposto a pagar (ou disposto a receber) por determinado bem
ambiental (ou prejuízo ambiental), posteriormente realiza uma média de todas
as avaliações e se for o caso multiplica pela população total e obtém-se o DAP

10 Valor de não-uso ou valor de existência (VE) – valor que está dissociado do uso (embora
represente consumo ambiental) e deriva de uma posição moral, cultural, ética ou altruística em
relação aos direitos de existência de outras espécies que não a humana ou de outras riquezas
naturais, mesmo que estas representem uso atual ou futuro para ninguém (MOTTA, 2009,
p.12).

69
ou DAAC que seria o valor monetário atribuído ao bem, recurso ou serviço
ambiental.

De acordo com Motta (2009, p.21) sumulam-se cenários ambientais


mais próximos da realidade de modo que a pesquisa reflita nas decisões reais
que os agentes tomariam. Desta forma, por mais que seja realizada como um
quadro hipotético, este método influencia em tomadas de decisões que por
atribuir um valor monetário, possa vir não exatamente a proteger o bem
valorado, mas sim na decisão de cobranças pelo bem ambiental, podendo esta
ser na forma de multas ou taxações.

Por mais que os defensores desta economia ambiental defendam o


pensamento de valoração dos bens e serviços ambientais, esta deixa
subentendida a ideia que esses bens ambientais tem um preço, que perpassa
um pensamento absorvido pela comunidade de que para se obter aquele
recurso (ou aceitar determinado prejuízo ambiental) basta pagar e ter
condições financeiras para isso.

Em seu estudo, Montibeller Filho (2004, p.88) realiza duas perguntas


essenciais a este respeito, são dois questionamentos que servem como
reflexão e embasam as ponderações seguintes sobre este método de
valoração:

 O fato de imputar valor ao que o mercado não valoriza, no preço,


afeta efetivamente uma decisão de um investimento privado?

 É possível estabelecer um valor correto para as preferências –


termo que para os neoclássicos significa as escolhas do
consumidor – das gerações futuras?

Outro problema, é que na visão do desenvolvimento sustentável os bens


ambientais devem ser garantidos para as gerações futuras, fato que é omitido
no método de valoração contingencial, pois é impossível caracterizar as
preferências das gerações futuras, visto que depende exclusivamente de um
caráter altruísta do usuário, desta forma a cultura, o nível de escolaridade, a
classe, o interesse e outros fatores influenciam na pesquisa, o que assegura
70
uma grande probabilidade de “erro” do método e que pode ser utilizado de
acordo com interesse do pesquisador e/ou do financiador do estudo.

Além disso, tem-se o aspecto de que os valores econômicos obtidos


através do método em questão são uma média, resultante da
manifestação de preferências de uma coletividade humana. Para
compor esta média não são muitas as pessoas que demonstram
preocupação com os não-humanos e com as gerações futuras, e
estas passam a ser, portanto, escassamente representadas.
(MONTIBELLER FILHO, 2004, P.106).

De acordo com Souza-Lima (2006), este pensamento tem tendências a


reduzir as múltiplas dimensões dos bens e serviços ambientais a uma única
dimensão que seria a visão mercadológica e que tende a abandonar a culpa do
poluidor privado devido ao fato dele sempre pagar por estar poluindo e que os
problemas ambientais tendem a ser transferidos para o setor público (camada
de ozônio, mares, atmosfera, entre outros). No decorrer das discussões mais
comentários serão realizados a respeito da valoração ambiental e seus
métodos, no próximo tópico será descrito suscintamente dois dos principais
autores, e suas teorias, que fundamentaram a economia ambiental
neoclássica.

6.1.3 Teorias De Pigou E Coase: A Proposição Do Poluidor Pagador E Os


“Direitos De Propriedade
Pigou foi o primeiro economista a introduzir na economia o conceito de
externalidade por volta de 1920, depois tentando aproximar a economia e a
natureza propôs o princípio do poluidor paga e que foi a base do princípio do
poluidor pagador muito difundido no direito ambiental. Em sua proposição,
Pigou defende que é necessário atribuir um preço ao custo social marginal e
incorporar as externalidades negativas derivadas da produção cobrando-se
uma taxa, multa, licenças negociáveis para poluir ou impostos. O autor
exemplifica com o caso da fábrica poluente que seria instalada em um bairro
residencial, destruindo as amenidades da vizinhança (PEIXOTO, 2013). Assim,
para resolver o problema e internalizar a externalidade ambiental negativa
(poluição) o empresário deveria ser responsabilizado na forma de uma
tributação equivalente à poluição emitida.

71
Porém, qual seria o valor dessa tributação a ser cobrada? Pigou defende
que existirá equilíbrio entre o desconforto (no caso, poluição) e satisfação
(lucro e crescimento econômico principalmente pela fábrica poluente) que
consequentemente resultará no que se chama de “nível de poluição ótima”.
Assim, a comunidade atingida estimará um valor a ser compensada pela
poluição da empresa, ou seja, um valor que aceitaria por ter a qualidade do ar
reduzida pelos poluentes e a indústria assimilará o custo externo marginal em
seu processo produtivo, em outras palavras, o quanto a indústria teria que
arcar em valor monetário adicional por cada bem produzido. Pigou afirmava
que esta relação entre ambas as partes resultaria em um nível de poluição que
seria aceito por ambas as partes no qual ele chamou de poluição “ótima”.

De acordo com Montibeller Filho (2004), o custo externo marginal


(CEM), ou seja, a externalidade (o custo não incorporado na produção), em um
nível de poluição “ótimo” é o valor do imposto a ser tributado pelo
empreendimento sendo que o nível “ótimo” de poluição para a indústria se dá
quando o lucro marginal é igual ao custo externo marginal. No quadro 03
observa-se que a interseção entre a curva da oferta e a curva da demanda
(custo marginal privado - CMP) no ponto A= (P*,Q**) representa o ponto de
equilíbrio da economia, ou ótimo de Pareto, quando não é considerado a
externalidade. Segundo a teoria de Pigou na presença de externalidades este
ponto não é mais o ótimo de Pareto e o preço e o custo marginal não são mais
iguais. Assim, deve-se impor uma taxa equivalente ao “preço” da externalidade
(CEM) para internaliza-la. Com a aplicação deste imposto haveria uma
correção do CMP resultando em uma nova curva de oferta representada pelo
custo marginal social (CMS) que incorpora o CEM e o CMP, internalizando a
externalidade gerada pela produção. Aplicando-se esta taxa, tem-se um novo
ótimo de Pareto em B = (P**, Q*).

72
Quadro 3: Nível ótimo de poluição

Fonte: Adaptado de Motta (2009, p.116).


Partindo da visão do desenvolvimento sustentável o ponto chave da
teoria Pigouviana é a forma que os recursos naturais são tratados, como
mercadorias, transformando a degradação ambiental em mercado. Além disso,
esta teoria deixa a desejar na forma de valoração da externalidade,
desconsiderando as gerações futuras de todo o processo econômico e
atribuindo a responsabilidade de valoração dos impactos ambientais apenas às
partes envolvidas na relação, ou seja, o poluidor e a comunidade afetada
diretamente pela perda do bem ou serviço ambiental.

Contudo, na prática, verifica-se que o Estado não possui elementos nem


informações suficientes para valorar as externalidades, sendo difícil aferir o
montante de imposto a ser aplicado para atingir o objetivo (PEIXOTO, 2013).
Na visão neoclássica o fato da intervenção estatal na teoria de Pigou é uma
falha, já que este pensamento defende a mínima intervenção do estado o que
torna a questão ambiental ainda mais mercadológica.

Outro ponto crítico é que fica muito limitado a redução da poluição,


assim a empresa vai reduzir suas emissões não ao ponto máximo possível,

73
mas sim ao ponto de poluição que é considerada aceitável, possibilitando ao
empreendimento optar ou não por inserções de tecnologias para amenizar as
externalidades. Cabe, porém, agora, uma questão: o método pigouviano, assim
como outros métodos da escola ambiental neoclássica, permite efetivamente
chegar-se ao verdadeiro valor dos bens de serviços ambientais?
(MONTIBELLER FILHO, 2004, p.95). Este é um questionamento vai ser
debatido no decorrer do trabalho.

Diferente de Pigou, Coase defende a não intervenção estatal na


negociação de bens e serviços ambientais para internalização das
externalidades, desta forma, sua tese defende a ideia de direitos de
propriedade sobres os bens coletivos, no caso, os recursos ambientais
naturais, deixando livre a negociação entre as partes envolvidas. Para tanto,
seriam necessários direitos de propriedade bem definidos e custos de
transação reduzidos além de livre acesso à informação, o que por si só
permitiria que as partes chegassem a bom termo acerca da alocação dos
custos ambientais (COSTA; SILVA FILHO, 2012).

O teorema de Coase diz que os agentes econômicos privados podem


solucionar o problema das externalidades entre si. Qualquer que seja
a distribuição inicial dos direitos, as partes interessadas sempre
podem chegar a um acordo no qual todos fiquem numa situação
melhor e o resultado seja eficiente (MANKIW, 2009, p.210).

Para melhor entendimento tomaremos agora o exemplo de Costa (2005)


no qual a autora define duas atividades que se utilizam de um mesmo recurso
para produção de bens. A autora cita o exemplo de uma indústria de celulose
(Papel Branco S/A) que se instala numa comunidade que sua base econômica
são atividades agropastoris através de cooperativas (Cooperativas Boi Bumbá).
Um rio corta a comunidade e inicialmente servia para irrigação e
dessedentação do gado, porém com a chegada da indústria em pouco tempo
foi sentido a poluição em relação a qualidade da água. Com o aumento da
poluição as cooperativas tiveram que tratar a água antes de utiliza-la, o que
gerou uma redução nos lucros, uma vez que o consumo direto gerou doenças
nos rebanhos e perdas de safras. Desta forma, gera o seguinte impasse: as
cooperativas gostariam que a indústria reduzisse o seu nível de poluição para
74
continuar sua atividade com geração de lucros, porém a redução de emissão
de poluentes por parte da empresa geraria redução do seu lucro. Assim, a
autora elaborou o quadro 04 para uma melhor explanação.

Quadro 4:Externalidades geradas pela “Papel Branco S/A” sobre a indústria de cooperativas
agropastoris “Cooperativas Boi Bumbá".

Fonte: Costa, (2005)

Enquanto o benefício marginal da poluição for superior ao seu custo


marginal, a emissão de uma unidade adicional estará aumentando a diferença
entre o benefício e o custo total da poluição (COSTA, 2005). Assim, segundo a
teoria de Coase a emissão de poluição “aceitável” ou “eficiente” será quando o
benefício marginal for igual ao custo marginal. Neste caso o nível ótimo de
poluição é por volta de quatro.

O problema agora é como fazer com que a indústria de celulose reduza


a emissão e consequentemente seu lucro, onde a emissão de maior lucro era
por volta de sete e oito teria que reduzir para quatro. Segundo a proposição de
Coase este estímulo para redução de emissão se daria pela negociação entre
as partes envolvidas e um mercado autorregulado. Neste caso, poderia
demonstra-se interessante para as cooperativas um desembolso
compensatório à indústria de celulose. Outra forma em que a teoria coasiana
seria mais fácil de ocorrer, e é uma tendência que ocorra na prática, era se as
duas empresas tivessem um único proprietário, visto que o maior lucro total é
obtido quando o benefício marginal é igual ao custo marginal.

75
De forma geral, a ideia coasiana baseia-se na de atribuir direitos de
propriedade sobre o meio ambiente natural e as externalidades. Esta teoria
ficou conhecida por “tragédia da propriedade comum”, no qual para a economia
neoclássica “o fato de ninguém ser dono ser dono de um estoque de recursos,
como a população de peixes do oceano, provocaria exploração excessiva
(insustentável). O mesmo aconteceria com a população dos mares, rios ou do
ar pelas empresas” (MONTIBELLER FILHO, 2004, p.95).

O fato é que esta teoria é que demonstra-se insustentável, pois não leva
em consideração as perspectivas das gerações futuras, impede, de certa
maneira, a inserção de tecnologias para redução da emissão de poluentes por
ao atingir o “ponto de equilíbrio” o problema já estaria resolvido, ou seja, não é
preconizado a ideia de redução de danos (poluição, desmatamento, riscos etc.)
ou prevenção de desastres ambientais de forma continuada. Observa-se a
limitação da teoria coasiana ao passar a tratar do problema ambiental quando
mesmo já existe como é observado no exemplo o impacto ambiental com carga
máxima de poluição foi primeiramente perceptível para posteriormente começar
a negociação entre as partes, há uma “perda de tempo” em relação a
preservação do meio ambiente. Ainda assim, a negociação coasiana é limitada,
pois só é possível quando há um número pequeno de envolvidos e é passível a
identificação dos prejudicados.

Munidos deste instrumental teórico, os economistas ambientais


avançaram na implementação de políticas tendentes a encarar os problemas
ambientais (FOLADORI, 1999). Ainda segundo Foladori (1999), se de um lado
os economistas ambientais criam “mecanismos de controle e de planejamento”
dos usos dos bens naturais e de geração de dejetos, por outro, procuram ao
mesmo tempo “instrumentos de mercado” que atribuam preços ao que o
mercado livremente não engendra.

Fazer da valoração econômica do meio ambiente condição sine qua


non para a elaboração de políticas é um reconhecimento acrítico da
impossibilidade, em última instância, de controle sobre o metabolismo
social na sociedade capitalista. Por isso, o maior problema, para
esses autores e formuladores de política, passa a ser como inserir as
questões/necessidades ambientais na lógica automática, e fora de
controle consciente, do mercado (BARRETO, 2009).

76
Portanto, a cerca das características da economia neoclássica
ambiental, pode-se apontar uma infinidade de problemas que afetam a
valoração na perspectiva do avaliador, tais como a baixa escolaridade ou falta
de informação do avaliado, bem como o caráter não altruísta e a incapacidade
de absorver alguns valores, desta forma, nos métodos de valoração propostos
pela economia neoclássica ambiental os bens ambientais geralmente são
subvalorizados e nesta perspectiva gera um acomodamento em desacelerar o
ritmo de consumo e consequente exploração da natureza de forma a não
contribuir de forma efetiva, nem a curto e nem a longo prazo, para a
sustentabilidade.

Conclui-se que a abordagem neoclássica da questão ambiental,


apesar de útil para as finalidades práticas, não produziu pensamento
novo a partir da problemática do meio ambiente: ela apenas incorpora
o tema nos seus tradicionais esquemas analíticos (individualismo
metodológico; modelo de comportamento otimizador dos agentes;
mercado; equilíbrio; máxima eficiência), com o que não dá conta da
questão do desenvolvimento sustentável (MONTIBELLER FILHO,
2004).

Demonstrou-se que a economia ambiental neoclássica ainda


fundamenta-se por uma das principais críticas do presente trabalho à
destruição do meio ambiente e ao fato de não conseguirmos atingir uma
sustentabilidade global, que é tomar e tornar o meio ambiente e os recursos
naturais como meio de mercado “sustentável”. Seus argumentos, por mais
coerentes que sejam, não permitem qualquer ação política além do capital. O
limite é o mercado, depois a emancipação das pessoas (SOUZA-LIMA, 2004).
Somente o fato da economia ambiental atribuir preços a bens que
"naturalmente" não os adquirem constitui a demonstração mais nítida de que o
mercado fracassou na consolidação de uma sociedade sustentável
(FOLADORI, 1999). Pode-se considerar a Economia Ambiental Neoclássica
como uma economia favorável ao crescimento ilimitado e que não fazem
distinção entre crescimento e desenvolvimento, considerando que nos mesmos
há uma extrema compatibilidade com a proteção e conservação ao meio
ambiente.

77
6.2 Economia Ecológica
A Economia Ecológica é outra vertente da economia que tenta
solucionar os problemas ambientais estabelecidos pelos limites do crescimento
e que surge como uma vertente alternativa à Economia Ambiental Neoclássica,
inclusive, traz consigo muitas críticas à esta vertente dominante. Esta escola é
uma das mais recentes no ramo das ciências econômicas. Apesar de suas
motivações remontarem à crítica ambiental de fins da década de 1960, essa
abordagem só veio a se consolidar como corrente no final da década de 1980,
com a fundação da International Society for Ecological Economics (ISEE) e a
criação da revista Ecological Economics, em 1988 e 1989, respectivamente
(FERNANDEZ, 2011). Esta nova visão busca uma nova relação entre o
sistema econômico e a natureza, baseia-se em críticas ao atual modelo
econômico fundamentados em conceitos, princípios e funções (ferramentas)
biológicas, físicas e ecológicas. A Economia Ecológica, entende que o
Desenvolvimento Sustentável não deve ser entendido apenas nas
características econômicas ou ecológicas, este, deve buscar a integração das
duas linhas, buscando uma interdependência entre as duas características.
Apesar desta linha ser relativamente recente, sua origem remonta desde o
século XIX, período em que Sadi Carnot (1796-1832) desenvolveu a Lei da
Termodinâmica. Segundo Souza-Lima (2004), esta lei tem como principal
fundamento a noção de “fluxos energéticos” liberados pelo sistemas
econômicos em forma de calor, e apesar desta lei ter sido muito reconhecida e
festejada no ramo da física, na economia ela ficou marginalizada até os anos
70 do século XX, onde Georgescu-Roegen (1971) e suas análises críticas ao
sistema predatório industrial são considerados clássicos para essa discussão
da economia que tem como base de referência os fluxos de energia ou os
princípios da entropia11. GEORGESCU-ROEGEN finca-pé nos recursos não
renováveis, como ameaça para a sustentabilidade do processo econômico, e
na entropia resultante (FOLADORI, 1999).

11
A energia flui em uma só direção e tende a se dissipar em calor de baixa temperatura que não pode
ser utilizado. Chama-se entropia essa soma de energia não aproveitável (FOLADORI, 2001).

78
Assim, ora a Economia Ecológica busca fundamentos na ecologia, ora
fundamenta-se na economia tradicional, sempre de forma heterogênea. Porém,
segundo Fernandez (2011), permanece como substrato comum o
reconhecimento da fundamental importância dos princípios biofísicos,
particularmente, utilizando-se da primeira e da segunda lei da Termodinâmica,
a Lei da Conservação e a Lei da Entropia respectivamente para a
compreensão das inter-relações e da perspectiva de gestão de
sustentabilidade dos sistemas socioambientais.

Foladori (1999), compilou várias ideias de pensadores (GEORGESCU-


ROEGEN; EHRLICH, HOLDREN; NAREDO; MARTINEZ ALIER; DALY;
BOULDING) que foram fundamentais para a Economia Ecológica e sua crítica
à economia tradicional, com base nas leis da termodinâmica. Assim,
(FOLADORI, 1999) compilou as seguintes críticas:

1) O pensamento econômico tradicional tem considerado a atividade


econômica como um sistema fechado, isolado, reduzido ao ciclo produção-
consumo. Tudo o que escapa a este ciclo, particularmente os recursos naturais
e os dejetos, que antes de ingressar no ciclo econômico(recursos) ou depois de
sair do mesmo (dejetos) não têm preço, não interessa à contabilidade
econômica e, portanto, ao interesse empresarial. Contra isto, a economia
ecológica assinala que a economia de qualquer sociedade é um sistema
aberto, inserido num ecossistema (Planeta Terra) fechado. Este ecossistema
Terra é aberto em energia solar, mas fechado em materiais. Daí que a
atividade econômica deve contemplar não apenas os produtos dentro do ciclo
econômico convencional, mas também aqueles que constituem sua condição:
os recursos naturais e os dejetos.

2) Ao não atentar para os aspectos energéticos e no caráter renovável


ou não dos materiais, a economia se move com ritmos baseados
exclusivamente na dinâmica dos preços, os quais se contrapõem com os ritmos
naturais. E necessário, portanto, que a atividade econômica contemple os
diferentes ritmos naturais e, com isto, a distinção entre recursos naturais

79
renováveis e não renováveis, assim como a velocidade e possibilidade de
reciclagem dos dejetos.

3) Apesar de que, segundo a lei da entropia, toda energia tende a


degradar-se, cada modalidade energética pode ser distinguida segundo sua
qualidade. Quer dizes, a capacidade de produzir trabalho útil é diferente
segundo a fonte energética e seu modo de utilização. A análise energética
poderá servir de guia para a utilização de materiais energeticamente mais
eficientes-e, portanto, mais sustentáveis.

Cavalcanti (2004), estabelece uma diferenciação entre a Economia


Ambiental e a Economia Ecológica, na qual a Economia Ambiental trata o meio
ambiente natural como uma externalidade da economia e quem tem que ser
internalizada por meio da valoração monetária, enquanto a Economia
Ecológica é entendida como um subsistema aberto envolvido pelo ecossistema
global devendo estipular e estabelecer limites ao crescimento econômico com a
finalidade de evitar a devastação irreversível dos bens ambientais e suas
funções ecológicas. Por um lado, observa-se que há uma devastação do meio
ambiente com a remoção de recursos, enquanto por outro lado, observa-se
uma acumulação de poluição e rejeitos que são integrados no sistema de
recuperação da natureza em relação com a velocidade de produção humana.

Neste caso, a economia se constitui como um subsistema dependente


do ecossistema global basicamente em dois pontos: na retirada de matéria
prima para a produção (exploração dos recursos naturais) e como local para
designação de resíduos. Os economistas ecológicos acreditam que estes
resíduos depositados no ecossistema devem ser dispostos de forma a ser
incorporados na biocapacidade de regeneração do planeta. Em outras
palavras, a taxa de exploração dos recursos renováveis não devem exceder a
capacidade de regeneração dos mesmos.

Porém, os economistas ecológicos não levam em consideração todas as


vezes em que a economia e a exploração capitalista já superaram esta taxa.
Todas as condições históricas em que a retirada de recursos superou a
capacidade de “regeneração” do planeta deveriam ser incorporados nas
80
próximas metas para este molde econômico. Assim como a Economia
Ambiental Neoclássica a Economia Ecológica é tratada como uma solução no
viés capitalista e que neste caso os economistas ecológicos não discutem se é
possível a redução da exploração ambiental que torne compatível com a
capacidade de regeneração do planeta dentro de um modelo econômico
capitalista. Os mesmos tomam este paradigma como verdadeiro.

Na Economia Ecológica, eles procuram distinguir crescimento de


desenvolvimento, assim acreditam que:

Mudanças quantitativas e qualitativas são muito diferentes e,


por isso, é melhor mantê-las separadas e chamá-las por nomes
diferentes já fornecidos no dicionário. Crescer significa “aumentar
naturalmente em tamanho pela adição de material através de
assimilação ou acréscimo”. Desenvolver-se significa “expandir ou
realizar os potenciais de; trazer gradualmente a um estado mais
completo, maior ou melhor”. Quando algo cresce fica maior. Quando
algo se desenvolve torna-se diferente. O ecossistema terrestre
desenvolve-se (evolui) mas não cresce. Seu subsistema, a economia,
deve finalmente parar de crescer mas pode continuar a se
desenvolver (DALY, 2004, p.198).

Uma das críticas da Economia Ecológica à Economia Ambiental é que


esta última acredita que as problemáticas ambientais (poluição, geração de
resíduos, desmatamento, empobrecimento do solo, desertificação, etc.) podem
ser superados com o avanço tecnológico. Muitos acreditam que estas
tecnologias já existem atualmente, mas o que os economistas ecológicos
denunciam é que quando alternativas tecnológicas surgem, a sua
aplicabilidade é “inviável” financeiramente. Assim:

Acerca dessa questão, a Economia Ecológica não adota nenhuma


postura a priori, procurando resguardar um “ceticismo cauteloso” ou
“prudente”. Assim, não compartilha o ceticismo alarmista e
pessimista, típico do posicionamento adotado pelos proponentes do
“crescimento zero”, por exemplo, entendendo os limites ecológicos
como absolutos e intransponíveis. Tampouco assume o “otimismo
tecnológico” adotado pela corrente hegemônica, segundo o qual as
restrições ambientais são vistas como um problema menor, que
sempre pode ser superado pela tecnologia. Sua posição consiste em
reconhecer que o progresso tecnológico efetivamente se dá,
promovendo constantemente a superação de limites circunstanciais,
seja através do aumento da eficiência no uso dos recursos, seja pela
substituição de recursos exauríveis por outros, renováveis.
Reconhece, finalmente, que essa dinâmica esbarra em restrições
biofísicas insuperáveis (FERNANDEZ, 2011).

81
Pode-se notar que tais ponderações realizadas pelos Economistas
Ecológicos buscando explanar os limites físicos do planeta são com base em
uma análise energética e que eles acreditam que apenas esses pressupostos
são satisfatórios para contestar a teoria do crescimento ilimitado. De acordo
com Souza-Lima (2004), pode-se notar que a crítica realizada pelos
Economistas Ecológicos à economia tradicional é apenas ao modelo de
produção capitalista, com ênfase aos seus aspectos físicos, deixando de lado
os aspetos sociais. Esta característica pode ser considerada uma quebra de
um dos pilares da sustentabilidade que é o social. Ainda que critique o método
de produção capitalista, a Economia Ecológica se propõe a resolver as
questões ambientais dentro dos moldes capitalista, o que sugere, uma grande
contradição em suas teorias.

Com base nisso, Foladori (1999), elabora duas perguntas cruciais que
servem como críticas à proposta da Economia Ecológica, a primeira em que o
autor classificou como um questionamento da ordem técnico-científica é se
"existem limites físico-materiais para a produção humana?". Quanto a resposta
dos Economistas Ecológicos, podemos esperar um sim, categórico e
irrefutável. E seus argumentos são baseados em que o planeta é um sistema
fechado em relação a recursos e portanto finito, consequentemente, o
crescimento ilimitado da produção não é possível e é limitado. Segundo o
autor, esta ideia pode ser discutível por inúmeros motivos, uma delas é que a
vida na terra também tem um limite, já que calcula-se que o sol se extinguirá
por volta de cinco milhões de anos, assim, “o problema é de ritmo-e-não de
limites absolutos”, podendo esta primeira pergunta ser reformulada de forma
mais correta para “Cresce a produção humana a um ritmo que coloca limites de
abastecimento de materiais num futuro previsível?"”.

O segundo questionamento, classificado como de ordem econômica é:


“Pode-se organizar urna produção econômica alternativa, que contemple os
recursos e dejetos, mas dentro da lógica mercantil da sociedade capitalista?".
Para responder esta pergunta tem-se que realizar uma análise das “tendências
intrínsecas” que existe entre o sistema produtivo capitalista e a degradação da
natureza. De acordo com Foladori (1999), a economia ecológica ainda não
82
realizou esta análise e seus argumentos alternativos não correspondem a uma
proposta política coerente, o autor ainda afiram que não conhecemos se existe
a possibilidade de uma “produção ecológica” dentro do capitalismo.

Assim sendo, a mistificação, tanto da Economia Ambiental quanto da


Economia Ecológica, consiste em equacionar a sustentabilidade ambiental por
meio da incorporação da natureza à lógica do mercado – da gestão econômica
dos recursos ambientais e ecossistemas (BARRETO, 2009). As duas vertentes
econômicas aqui discutidas explanam características ecocapitalistas de
princípios antropocêntricos e desprovido de características altruístas,
importante para atingir o desenvolvimento sustentável. Apesar dos “avanços”
conquistados com o surgimento do movimento ambientalista e novas
perspectivas de soluções ambientais, as mesmas são pautadas na lógica do
capital, sempre buscando a conciliação do meio ambiente e os lucros
sustentáveis exacerbados. Corroboramos assim com Foladori (2001), que para
ele, se os problemas sociais não forem respondidos e resolvidos, a questão
ambiental continuará sem soluções efetivas e continuaremos no caminho da
extinção da própria raça humana. Com isso, veremos agora uma alternativa
econômica/ambiental não capitalista, o Ecomarxismo ou Economia Ambiental
Marxista.

6.3 Ecomarxismo, Ecossocialismo Ou Economia Ambiental Marxista: Uma


Alternativa Não Capitalista.
O Ecomarxismo toma como princípio o pressuposto que a relação
homem-natureza é mediada pelo trabalho e pelas relações metabólicas entre a
sociedade e o meio ambiente natural. Nesta concepção, só é possível tratar
das problemáticas ambientais se ao mesmo tempo procurar sanar os
problemas sociais, tais como a divisão do trabalho, a alienação do homem para
com a natureza, a alienação do homem para com o próprio homem, a
propriedade privada, a divisão de classes, bem como as desigualdades sociais
e a busca incessante pelo lucro. Nesta breve discussão daremos enfoque às
críticas, características e alguns pressupostos do Ecomarxismo.

Pode-se observar, analogamente ao conceito de desenvolvimento


sustentável baseado no “tripé da sustentabilidade” (econômico, social e
83
ambiental) que o Ecomarxismo incorpora a sociedade à natureza, tomando
esta como seu “habitat” e que as relações de trabalho são as principais
ferramentas que moldam a natureza e regem a economia, não uma economia
nos moldes atuais, mas uma economia política que busque a qualidade de vida
global e não a luta pelo lucro a todo custo. A vertente Ecomarxista é a que
entende ser necessário reconceituar categorias analíticas do marxismo de
modo a dar conta da questão ambiental, posta ao capitalismo na atualidade
(MONTIBELLER-FILHO, 2000).

O Ecomarximo foca sua teoria principalmente na cisão entre o campo e


a cidade, em que Marx denominou como falha metabólica e pela segunda
contradição fundamental do capital. De acordo com Montibeller-Filho (2000)
Ecomarxismo é, em síntese, uma teorização e análise da relação contraditória
existente entre o capital e o ambiente natural, em que é conhecida como a
segunda contradição básica do sistema capitalista, que é assim intitulada
devido à similaridade com a relação que o capital tem com o trabalho, esta,
amplamente estudada por Marx e denominada de primeira contradição.

Nessa ordem de raciocínio, acerca das políticas econômicas


marxistas, pode-se afirmar que elas geram desconforto porque
assumem deliberadamente que as relações capitalistas de produção
estão sempre na base, são causas centrais da degradação
socioambiental contemporânea. Isso porque, na presente formulação,
a relação do ser humano com o ambiente físico é sempre mediada
por relações entre grupos, que são determinados e balizados
historicamente por interesses de classe. Interesses que nem sempre
ou nunca são harmônicos ou universais (SOUZA-LIMA, 2004).

Marx e Engels consolidaram a ideia de contradição interna do


capitalismo através do estudo histórico da evolução dos modos de produção de
forma associada à luta de classes, os ecomarxistas argumentam que esta
forma de produção, que organiza toda a vida social, transcende a luta de
classes (SANTOS, Ricardo 2015). A segunda contradição é uma tese que foi
desenvolvida por O’Connor (1988) na publicação da primeira edição de
Capitalism, Nature, Socialism. Para O’Connor:

En la teoría marxista tradicional, el capital es el peor enemigo de sí


mismo. El capital pone en riesgo su propia sostenibilidad debido a lo
que Marx llamó la “contradicción entre la producción social y la
apropiación privada”. Una interpretación de esta contradicción es la
de que mientras mayor sea el poder del gran capital sobre los

84
trabajadores, mayor será la explotación del trabajo (o la tasa de
plusvalía), y mayores serán las ganancias potenciales producidas. Sin
embargo, por esta misma razón también serán mayores las
dificultades para realizar estas ganancias potenciales en el mercado,
o para vender bienes a precios que reflejen los costos de producción
más la tasa promedio de ganancia12 (O’CONNOR, 2002, p.34-35).

Para o autor, esta é a primeira contradição do capital, onde afirma que a


intenção do capital individual é de defender ou reestabelecer seus lucros com o
aumento da produtividade e sempre buscando formas de otimizar o lucro,
aumentado a velocidade de produção, “reduzindo” os salários e o número de
trabalhadores, buscando outras formas convencionais de obter maior lucro com
uma menor quantidade de trabalhadores, com isto, produz um efeito
indesejado que é a redução da demanda final de bens de consumo. Com um
menor número de envolvidos no processo produtivo e uma taxa alta de
exploração, diminui o consumo e aumenta a produção, esta é uma das
principais causas das crises cíclicas de superprodução do capital, claro, em
conjunto com outros fatores.

A contradição fundamental do capitalismo, de acordo com Marx, é que


apesar da socialização da força de trabalho, são os donos dos meios de
produção que se apropriam de maior parte do valor criado (mais valia)
(HARNECKER; URIBE, 2001). De acordo com Harnecker (1979), Marx diz que
a contradição fundamental do capitalismo é a contradição entre o caráter cada
vez mais social das forças produtivas e, cada vez mais meios concentrados de
produção da propriedade privada capitalista e é essa contradição que explica o
dinamismo com que o sistema se desenvolve.

12
Na teoria marxista tradicional, o capital é o pior inimigo de si mesmo. O Capital ameaça a sua própria
sustentabilidade por causa do que Marx chamou de "A contradição entre a produção social e
apropriação privada." Uma interpretação desta contradição é que quanto maior o poder do grande
capital sobre os trabalhadores, maior será a exploração do trabalho (ou a taxa de Mais Valia), e maiores
os lucros potenciais produzidos. Porém, por esta razão também serão maiores as dificuldades para
realizar estes ganhos potenciais no mercado, ou para vender produtos a preços refletindo custos de
produção, acrescidos de taxa média de lucro.

85
De acordo com Montibeller-Filho (2000), O’Connor formulou seu
argumento com base na observação que o sistema capitalista funciona inserido
em condições de produção que não são criadas como mercadoria, tendo como
exemplo os espaços urbanos, as infraestruturas públicas e o meio ambiente
natural, ou seja, “são as condições externas de produção, em contraposição ao
funcionamento interno do capitalismo”, desta forma para O’Connor, este
funcionamento interno do capitalismo gera a contradição fundamental do
capital ou primeira contradição.

Esta se encontra nas relações entre valor e mais-valia, entre capital


constante e capital variável, desencadeando crises pela
impossibilidade mercadológica do que é produzido, em decorrência
da queda relativa do poder de compra do conjunto do sistema pela
tendência de se privilegiar o uso de capital constante em detrimento
do capital variável (que representa os salários pagos)
(MONTIBELLER-FILHO, 2000, p.109).

A segunda contradição do capital surge deste funcionamento externo da


economia, ou seja, é a relação de seu funcionamento com suas condições
externas de produção. Enquanto a primeira contradição capitalista se baseia
nas relações entre valor e mais-valia e capital constante e variável, através da
diminuição do poder de compra da economia pela apropriação crescente do
trabalho pelo capitalista, a segunda contradição resulta da relação do
funcionamento da economia e os custos sociais provocados por ela, custos
estes que incluem entre outros, os custos ambientais (SANTOS, Ricardo 2015).

O’Connor (2002), afirma que a segunda contradição é a redução dos


lucros marginais geradas pela contradição entre capital e natureza, além de
outras condições de produção, associados com os efeitos econômicos
adversos para o capital decorrente do ambientalismo e outros movimentos
sociais.

Montibeller-Filho (2001) explica que as condições externas do sistema


produtivo são os custos externos ou custos sociais que são utilizados na
produção, mas estes não estão inseridos no mercado, portanto são recursos
que não são passíveis de mercados, mas que são utilizados pelo mercado.
Com isso, o autor adaptou o quadro 05 em que correlaciona os custos sociais
mais frequentes com seus respectivos danos sociais e ambientais gerados.

86
Assim, na grande maioria das vezes os recursos são apropriados
(alienados) para o desenvolvimento do processo produtivo capitalista, podemos
citar a alienação do meio ambiente natural e seus recursos que não possuem
proprietários. Bem como a apropriação de parte do trabalho exercido pelo
trabalhador e não incluso nos custos de produção, há uma apropriação dos
recursos naturais que não são inclusos na produção, gerando assim uma forma
de mais valia13 da natureza ou natural, na medida “em que igualmente são
possibilitadas as condições para maximizar ainda mais os lucros
extraordinários dos capitalistas, na medida em que estes não incorporam em
seus custos o valor dos recursos naturais e tampouco os custos sociais ou
ambientais causados pela utilização deste, como, por exemplo, a redução de
estoque natural de recursos esgotáveis” (SANTOS, Ricardo 2015).

13
Os Ecomarxistas consideram esta alienação não paga da natureza como uma forma de mais valia já
que gera um lucro excedente.

87
Quadro 5:Tipos de custos sociais e danos correlatos.

Fonte: Montibeller-Filho (2001) traduzido e adaptado de BECKENBACH (1989)

Bem como o trabalho, a natureza é fonte de riqueza do capitalismo. A


produção capitalista só desenvolve a técnica e a combinação do processo de
produção social na medida em que solapa os mananciais de toda a riqueza: a
terra e o trabalhador (MARX, 2013). Marx ainda complementa quando diz que
“as duas fontes de onde emana toda riqueza: a terra e o trabalhador” (MARX,
1984). Como exemplo dessa “mais valia natural” temos o fato de o preço de
mercado de um recurso natural refletir apenas os valores monetários
efetivamente gastos em sua extração, isto é, não reconhecer o valor intrínseco
ou o valor opção; o salário não corresponder a totalidade de horas de trabalho

88
efetivamente trabalhadas - gerando excedente a ser apropriado pelo capital
(MONTIBELLER-FILHO, 2000).

Nesta busca para produzir mais com um custo de produção menor, o


capital finda por explorar de forma degradante suas fontes de lucro, exaurindo
os recursos naturais e causando desastres e desequilíbrios ecológicos,
destruindo os pilares de sua própria sustentação, é essa a base fundamental
das críticas às contradições do capital. Fuser (2009), afirma que Brkett apontou
três “unidades contraditórias” característicos do capitalismo: capital/trabalho,
centro/periferia e economia/natureza, onde o primeiro termo exerce sempre
uma posição de dominação sobre o segundo.

Os Ecomarxistas dão enfoque na relação economia/natureza com


ênfase na relação de dominância e predominância das questões ambientais
perante o meio ambiente natural, em outras palavras, na relação subordinada
da natureza à economia capitalista mediante seus interesses e suas lógicas.

Os autores ecomarxistas acreditam que as contradições entre as


necessidade de acumulação e as condições gerais de produção
levam a crises recorrentes que tendem a ser cada vez graves, até
atingir limites intransponíveis. Esses limites podem ser físicos,
econômicos ou até mesmo políticos, como é o caso das restrições
que o movimento ambientalista se mostra capaz de impor à ação do
capital (FUSER, 2009, p.5-6).

Porém, outra relação pode ser apresentada na discussão ecomarxista, a


relação da falha metabólica entre campo ou a cidade, ou cisão entre o campo e
a cidade, desta forma, a questão centro/periferia está inserida no debate
ecomarxista bem como a relação capital/trabalho tendo o trabalho como fonte
mediadora e modificadora da natureza. O ponto central do marxismo ecológico,
portanto, a contradição entre as relações de produção mais as forças
capitalistas de produção e as condições da produção capitalista
(MONTIBELLER-FILHO, 2000).

Para Fuser (2009) partindo da análise das contradições do capital,


articulam-se três teses que constituem a espinha dorsal do pensamento
ecomarxista:

89
1. Os problemas ambientais são um problema vinculado à luta de
classes, já que os maiores prejudicados são os trabalhadores e a população
mais pobre.

2. A acumulação capitalista está prejudicando ou destruindo as próprias


condições de reprodução do capital.

3. Esse processo de degradação acrescenta uma nova dimensão de


crise do capitalismo. Concretamente: à crise de superprodução do marxismo
clássico, o marxismo ecológico acrescenta a perspectiva de uma “crise de
subprodução”, ligada aos problemas que afetarão inevitavelmente o aparato
produtivo a partir do uso predatório dos recursos e da poluição ambiental.

Foster (2011) fundamenta-se no livro O Capital de Marx o conceito de


metabolismo, referindo-se as trocas que a sociedade realiza com o meio
ambiente natural por mediação do trabalho, demonstrando que Marx não
subordina a natureza a apenas fonte de matéria prima (recursos naturais), ele
assimila a existência de uma dialética na relação homem-natureza,
incorporando os seres humanos à natureza, demonstrando que os mesmos
também são parte integrante da natureza. Esta critica marxista, aponta a
disjunção que o capitalismo realiza entre o homem e sua própria existência
natural, bem como suas condições, a partir da introdução do trabalho
assalariado, que tem como o objetivo a geração de lucro e não ao atendimento
das necessidades sociais.

Aqui, retoma-se a ideia já discutida no decorrer do texto sobre falha


metabólica. É na antítese entre o campo e a cidade que os ecomarxistas
também fundamentam teses sobre a devastação ambiental. É neste sentido
que Morimura (2009) atribui, como um dos principais fatores da perda da
biodiversidade, a separação entre o campo e a cidade, citando o exemplo das
unidades de conservação que acentua ainda mais essa cisão, dividindo
porções verdes cercadas de cinza e criando “ilhas” de reservas. Foster afirma
que na concepção de Marx:

A abolição da antítese entre cidade e campo não é meramente


possível. Ela se tornou uma necessidade direta da própria produção
industrial, assim como se tornou uma necessidade da produção
90
agrícola e, além disso, da saúde pública. O presente envenenamento
do ar, da água e da terra só pode cessar com a fusão da cidade com
o campo; e só essa fusão vai alterar a situação das massas que
agora definham nas cidades, e permitir que o seu excremento seja
usado para produzir plantas em vez de doenças (FOSTER, 2011)

Marx acredita que os principais motivos da degradação do solo são as


indústrias e a agricultura em grandes proporções. De fato a concentração de
atividades em um lugar gera uma maior possibilidade de desgaste, degradação
e gestão. Este fato se estende tantos aos processos produtivos como aos
processos de tratamento dos impactos ambientais. Por exemplo, é mais fácil
prever os impactos, bem como mitiga-los, reduzi-los e aplicar sistemas
alternativos de conservação do solo em uma agricultura familiar do que no
agronegócio, ao mesmo tempo que é mais fácil e eficiente tratar águas
residuais (esgoto) em unidades de tratamento descentralizadas.

Essa segregação centro/periferia não foi observado por Marx apenas em


nível local, mas também global, como por exemplo a retirada de recursos das
colônias pelos colonizadores. Observa-se que nesta segregação há também
uma predação da cidade com o campo. A retirada de recursos da “periferia”
para manutenção das necessidades do “centro” geral uma forte degradação
ambiental. Há uma “troca” forçada de recursos por rejeitos, pois ao mesmo
tempo em que há uma exploração do campo pela cidade, da periferia pelo
centro, de países em desenvolvimento por países desenvolvido, há uma
transferência de poluição para as zonas afastadas, poluição de rios que afetam
as comunidades rurais, deposito de resíduos sólidos em áreas afastadas, até
mesmo depósitos de resíduos de países “ricos” para países “pobres”.

Baseado principalmente numa visão ecológica considerando os


sistemas agrários, resultados da co-evolução entre sociedade e
natureza; assim como levando em consideração que a dinâmica das
explorações agrárias não implica tão somente um condicionamento
agronômico da parcela produtiva, mas o conjunto de fatores
ambientais, sociais e econômicos; onde o objetivo primordial não se
reduz à busca imediatista da produtividade, mas da sustentabilidade
com todas as implicações que isso representa; (ORTEGA, 2004,
p.47).

Segundo Morimura (2009), é preciso ter a consciência que esta falha


metabólica do sistema capitalista pode ser transferida para qualquer outro
sistema econômico no caso dessa falha não ser devidamente corrigida e esse

91
erro para ser corrigido deve haver uma relação diferenciada com a terra, não
uma relação de posse (propriedade privada), mas de uso comunal das terras.

O ponto central, na visão dos ecomarxistas, é que o capitalismo não


aceita limites fora de si mesmo e não é a “falha” de incorporar a natureza no
cálculo econômico que causa a devastação ambiental e sim o fato de que a
natureza não é tratada de acordo com sua própria lógica (FUSER, 2009). A
economia política marxista é um obstáculo à economia de mercado porque, ao
invés de priorizar ou ter o lucro como fim em si mesmo, projeta as
necessidades sociais como objetivos fundamentais (SOUZA-LIMA, 2004).
Portanto, o Ecomarxismo é fundamento na crítica ao atual modelo econômico
de forma a supera-los, bem como baseados nos fundamentos econômicos,
políticos e filosóficos de Karl Marx se mostrando como uma alternativa não
capitalista de economia ambiental.

92
7. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O principal intuito do presente trabalho foi analisar as práticas ditas
como sustentáveis e averiguar a possibilidade de um desenvolvimento
sustentável efetivo e global dentro do atual modelo econômico, buscando
afirmações e bases teóricas em autores que pertencem às correntes citadas no
decorrer do texto bem como buscando algumas evidências empíricas que
venham a confirmar ou a contrastar a principal hipótese do trabalho.

Demonstrou-se como a crise ambiental pode ser tomada como crise


civilizatória e intrínseca ao capitalismo e que apesar das discussões em torno
dos paradigmas das questões ambientais, o desenvolvimento sustentável na
sua forma global ainda está muito distante de ser atingido. Mas que, o mesmo
continue sendo perseguido, apesar de não acreditarmos na possibilidade de
uma sustentabilidade global dentro do atual modelo econômico. Evidencia-se
este fato quando é demonstrado a busca incessante pelo lucro e pratica
comerciais capitalistas envolvidas por obsolescências, tanto a programada
quanto a perceptiva.

Nos aspectos históricos de construção do conceito de desenvolvimento


sustentável, observou-se que muitos processos foram acontecendo de forma
meio que predefinida de seus resultados finais, muitas vezes sem a
participação popular. E até mesmo as reuniões da ONU tida como as mais
importantes e com maiores “ganhos ambientais” não obteve-se uma adesão
mundial e mesmo os países que aderiram aos tratados, para cumprir
determinadas metas, não as cumpriram e muitas vezes nem chegou-se a um
patamar “aceitável.

Demonstrou-se no decorrer do trabalho que o conceito atual de


desenvolvimento sustentável pode ser apropriado por grupos de interesse onde
cada grupo se utiliza de dimensões que são convenientes para as finalidades
que cada grupo pretende atingir. Muitas vezes se utilizam da sustentabilidade
para se obter lucros sustentáveis, incorporando no preço do produto práticas
“sustentáveis” fiscalizadas por eles mesmos e que por fim não existe nenhum

93
cunho de responsabilidade socioambiental ou, quando existe, não há um
equilíbrio entres as dimensões destacadas pelo desenvolvimento sustentável.

Buscou-se nas correntes econômicas ambientais, destacando as três


mais discutidas, bases para demonstrar a insustentabilidade das atuais
relações de mercado, bem como demonstrar proposições alternativas para
buscar uma sustentabilidade efetiva. Assim, destacou-se duas vertentes
econômicas capitalistas (Economia Ambiental Neoclássica e Economia
Ecológica) e um modelo não capitalista (Ecomarxismo).

No que se refere à Economia Ambiental Neoclássica, foi demonstrado


suas características insustentáveis por tratar os recursos ambientais de forma
mercadológica, tendo o dinheiro como capaz de compensar qualquer dano
ambiental. Ou seja, esta teoria é moldada sobre o arcabouço da atual
economia não havendo nenhuma ruptura epistemológica. Além disso, este
modelo demonstra-se insustentável no que se refere ao tripé da
sustentabilidade, onde, claramente não leva em consideração as gerações
futuras e seus métodos de valoração tendem claramente a atribuir valor
monetário àquilo que não é passível de preço e que é considerado de bem
comum.

A Economia Ecológica demonstra insatisfação ao que prega a Economia


Ambiental Neoclássica e suas práticas, tecendo fortes críticas às práticas
capitalistas, porém propondo sua teoria dentro do sistema econômico atual,
como se fossem capazes de ser reformadas. Buscando fundamentos na
termodinâmica, diferentemente da Economia Ambiental Neoclássica, os
Economistas Ecológicos veem a economia como um ciclo aberto que está
sempre trocando energia com o meio natural e é neste metabolismo energético
que se encontra a chave da sustentabilidade global.

O Ecomarximo fundamenta-se na teoria marxista, reanalisando e


incrementando as teorias de Karl Marx para alcançar uma sociedade justa,
igualitária e sustentável ambientalmente. Esta corrente fundamenta-se
principalmente na segunda contradição do capital e na cisão entre o campo e a
cidade entre periferia e centro. Acredita-se também que as bases para resolver
94
as problemáticas ambientais estão nas relações de trabalho e na desigualdade
social, combatendo-se as relações injustas também está combatendo a
degradação ambiental. Apesar de ter uma ótima fundamentação, e ser julgada
neste trabalho como um modelo passível de atingir a sustentabilidade, esta
corrente carece de estar sempre se renovando e acrescentando novas ideias
atreladas ao ideal marxista.

Para superar e atingir uma sustentabilidade global acredita-se, neste


trabalho, que é preciso superar as relações de alienação entre homem e
natureza e entre o homem para com o próprio homem, tomando o trabalho
como forma mediadora de transformação da sociedade e da natureza,
tomando-se o trabalho como uma necessidade social e não como um recurso
capital inerente aos meios de produção. Só com essa superação dos
processos de alienação é que se torna possível uma sociedade sustentável
que a sua relação entre sociedade e natureza deixe de ser predatória, assim a
sociedade se incorpora ao meio natural, passa a ser parte integrante da
mesma percebendo que a vida de uma é interdependente da sustentabilidade
da outra. Desta forma, supera-se também a cisão da cidade com o campo,
tornando-se dois espaços de trocas mutuas.

Portanto, o presente trabalho demonstrou que para se atingir um


desenvolvimento sustentável global, deve-se reformular os ideais de consumo,
produção e de necessidades. Redefinir necessidades para a atual sociedade
reduzindo o ritmo de consumo, bem como reduzindo a exploração de recursos
e geração de resíduos, é um ponto chave no tocante da sustentabilidade.
Porém, estes pontos devem estar atrelados a um modelo de produção que
supere a relação atual de trabalho, que supere as práticas comerciais
baseadas em produtos de pouca qualidade, pouca durabilidade e que
rapidamente “deve ser descartado e trocado”. Assim, acreditamos que dentro
do modelo capitalista estas premissas não podem ser atingidas, pois é um
modelo baseado no lucro acima de tudo. Consequentemente podemos
concluir, na concepção demonstrada no decorrer do texto, que uma verdadeira
sustentabilidade global não pode ser atingida no atual modelo econômico
capitalista. Esta avaliação e conclusão da impossibilidade de atingirmos uma
95
sustentabilidade global no sistema capitalista não torna invalida todos os
esforços atuais que buscam a sustentabilidade e muito menos deve nos
desmobilizar, deve apenas tornar a sociedade consciente de seus atos e refletir
sobre as ações que estamos tomando.

96
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