Sei sulla pagina 1di 27
fe, 16 20~ & (40360 se (ufiol A UM ESCANDALOSO ‘THEATRO DE HORRORES ‘ A capitania do Ceara soboespectro da violencia José Eudes Arrais Barroso Gomes Vencedor do Concurso de Melhor Monografia do Centro de Humanidades/UFC/2007 pa Fortaleza 2010 Procramagho VisvaL & DiAcRAMAGao ‘Tago Nogueira GATS Gomes, Tost Fades Aras Bartoso ‘Um Escandaloso Theat de Horrors: acapitania do Ceara sob 0 espectro 4 viotncia./ José Eudes Arais Baroso Gomes. Fortaleza: Imprensa Universitiia, 2010. 283. 1 Ceard-histria 2. Viokncia-crte-his- tériaCearh—L-Titulo DD: 981.31 Mapa ‘CARTA MARITIMA E GEOGRAFICA DA CAPITANIA DO ‘CEARA (1817) Fonte PAULET, Anti ee da Sha CARTA Martina «Geograph da capita ‘i do Cee, Leveatnda po den do Gon. Mama ign de Sampo pte sed sotedordens Ant Jot Pale, 1617, Gbietede sao equsgice ‘ede Bgorharia Mita, 4878-14108. _andel em dligéndas do servigo de Voasa Majestade,¢ tendo cuido sobre esta matéria pessoas de grandes expe séncaze feito sobre leas reflexdes que podem caberna ‘minha capacidad,ulguel que faltaria a minha crigagi, se deizasse de representar a Vossa Majestade que ainda neste sertdes do Cears absurd, e que nao para 3 Quadro 2 FUNDAGAO DE VILAS NA CAPITANIA DO CEARA FUNDAGAO VILA 1699 | Sio José de Ribamar (Aquiraz) 1726 | Fortaleza de Nossa Senhora da Assungio 1738 | Nossa Senhora da Expectagao do Ico 1748 | Santa Cruz do Aracati Vigosa, Soure (Caucaia), Arronches 1759 | eee 1760___| Messejana (Paupina) 1764 | Monte-mor-o-novo (Baturté), Crata ‘capt do Curd onesie cotta gs crops nse desler pedo ‘peoor no Si copii uptaia erpndead exigent fev {fo nds nls. Apu uma via or polio oreo 3 popula fo demancnva muta fg ato. Una parla sign {had populace gett el complexe pul oe nr ear on ‘8 se fio m perspective No etna fina dole XVI, con ‘needed prod aloo pr bn igen ete pope oe ls, tows een asp soe findamentl steels a eps de ‘ahh guste dips Nese Snort orm aca asd soe Soc" PINHEIRO, Fanci Jot Op cp. 4-8 > LEMENHE, Mra Auiade. Op. tp. en ot Alara ene 1773__| Sobral 1776 __| Granja 1769 | Campo Maior de Quixeramobim 1781 __ | Vila Nova d'El Rey (Campo Grande) ‘Sko Bernardo das Russas, Si0 Jodo do 1801 | Prince 1814 _ | Santo Antonio do Jardim 1816 | Sio Vicente das Lavras da Mangabeira Diante de um quadro geral de violéncia na capitania, composto por um elevado indice de criminalidade, frequente roubo de gados ~ durante a maior parte do século XVIII principal fonte de riqueza e arrecadagao locas, dificuldades de imposigio da justisa e elevado indice de impunidade, a crescente preocupagiocomafundacao de vilasno Cearaestava diretamente relacionada com o controle social na sociedade local. Ao tentar agregar os ditos “vadios e vagamundos” dos sertoes a0 “convivio da sociedade civilizada” através da fundacao de vilas e exigir das autoridades locais um maior controle sobre a populasio através de alistamentos, mapas populacionais e passaportes, a Coroa procurava impor determinada “normalizagio” social que permitiria a lum 6 tempo assegurar a produgao colonial, faclitar 0 seu escoamento e comercializacao, incentivar 0 comércio local, ampliar os seus tentéculos administrativos © arrecadar mpostos para os cofres régios. O cariter aduaneiro da criagdo de Vilas no Ceara fica claro com a fundagao da vila de ‘Aracati em 1748, a partir de quando houve um decréscimo tempordrio no numero de embarcagdes comerciais no seu porto por conta dos impostos lancados.#” “7 GHRKO,Vlics Care, “As charg. es SOUZA, Sima cer) (ie aan Te irae 205 De qualquer modo, o projeto de criagio de vilas parece ter sido bem acolhido pelas elites locais, na medida em que © levantamento de pelourinhos nos povoados da capitania signifiava 0 seu acesso a cargos concelhios, patentes de comando das ropas militares que seriam formadaslocalmente, privilégios eisengées,além de possibilitar aos homens bons de ‘ada localidade, fazendeiros e grandes comerciantes, 0 poder institucional de controle e dominio sobre a comunidade local através de atificios como orecrutamento militar, elaboracao de posturas e normas obrigatorias para todos os vizinhos, a criacdo de novos tributas ¢ a taxagio do preco de géneros © servigos no limite das vilas. Isso, contudo, esteve longe de significar um alinhamento completo entre os interesses das elites locals e os poderes do centro, como parece evidenciar © trecho seguinte da Meméria sobre a Capitania Independente ddo Ceard escrita em 1814 pelo ex-capitio-mor governador da capitania Barba Alardo de Menezes, que trata da necessidade da criagao de novos juizes de fora no Cearéi ¢ multo importante 4 criagfo dos novos jus de fora, assim como no centro a residéncia do owvidor orgie dando as justigas mutuamente ae mos, eda mesma sorte a tropa seriam involavlmente observa des as leis, as autaridades consereariam todas o seu dev do dacoro respite, 0s delinquentes io Seatiam in ppunes, 0 facinorosos que infestam desaparecerizo, Gesvaneciam-se as intrigas, e até os povos, com mais sossogo ¢trangulldade animariam a sua abandonada agricultura e o seu amortecido comércio, Finalmente, ‘multiplicar-seifo as vile & imitagio das paroquis, como € indispensdvel em tio vasta capitania para a “ra do Cord la, oan: Dao Ros Tas pw. oe In Ete hr Brn Gomer ivilizagdo dos seus habitantes, aonde no convém estejio dspersos sem educardo, nem religito, e do ‘mermo modo davem set, digo mio devem estar api ‘nhoados em um tao pequeno nimero de vila, aonde se frjo, de ordinavio, as maiores cabelas, ¢escandalo Sos monopelis de refinadoegoisme dos ambiciosas, que 6 desfeo para si os omprogs eas riquezas, pisar 0 indigences 9 8 interessante perceber que segundo Barba Alardo de Menezes, além das leis repas vem sendo vicladas na ‘apitani, as propiasautoridades locals no “conservariam todas 0 seu devido decoro e reapeito” © no seu reduzido ‘numero devils forjare-iam “monopélon” dos oficos ¢ Figueras locais. A Meméria de Barba Alardo tratava-se da Teaportaauma provi da Mesa do Desembargo do Passo Aue pediainformaBes sobre a “urgente necessidade que tenha-acapitania de mais juires de fora’, funcondriosrégios diretamente nomeados pelo rei para presidr as cimaras, Com vistas a reduziro poder dos grandes propritarios lcais t garantirocumprimento das ordenagbes régias 2 Pua grande maiona da. popular, emposta. por ‘homens livres e pobtes como indios, vaqueiros, agregados, camgoness, pequenos propriciriosearesios ser fla dagules consierados sem ocupagis” ot sem eesidencia cert, alas tmedidas representavamn um mai controle sabre seus Corpos suas vides, sobretudo através da imposigo do trabalho como forma, E extamente nese sentido que gant fora 0 docrco sobre a alegada “preguga” e "vgabundagen” da popuacao a coptaia, cadaver ais foquentemente adonado pelt [MENEZES ai at Ard de, Opi 9.38 SALGADO, Gras Op ct, po. 8967 autoridades locas. obrigatriedade de fixar residencia junto aos Povoados ede apresentar uma ocuparao produtiva, assim como a ‘correspondent riminalizacio" dos sujeitos que alhassem aestes precetos andavam, desse modo, de maos dadas com a submissio dos trabalhadoresrurais aos grandes propietéios cearenses. 5.2 Alistamentos, mapas, passaportes ¢ licengas: popalagio volante e desersio Muitos des moradores da povoacio vieram perguntar- 'me por noticias de Pernambuco, Entre ests, um rapa, ‘uj acento denunciava ter nascdo numa das provincia ‘A politica de controle sobre a populacso baseada na exigencia de mapas populacionais, implementada nas mais diversas paragens do império portugues, especialmente 2 partir das dltimas décadas do século XVIII, parecia estar relativamente atualizada para os padroes do periodo, tendo fem vista que “os recenseamentos, no sentido moderno do termo, nio remontam amuito antes do fim do século XVIII 55 O gedgrafo Claude Raffestin observa que o recenseamento & tum saber ¢, portanto, um poder, pois “por essa informagao, 0 recenseamento, oEstadopadeassentarmelhor oseusistemade taxagio edeterminar aqueles que estio submetidos ao servico militar’, Ainda segundo ele, “o imposto e o reerutamento ji sao duas razdes, mas ha muitas outras que determinam a necessidade de uma imagem a populacao".**° [esse sentido, esse saber-poder guarda intima relacio om o surgimento do Estado modemo e com a arrecadacao de ‘tibutos, na medida em que antes dosrecenseamentosmademos, JBEMENDONGA, Masos Camo de. O marys de Pombal eo Bra Cleo rsa aim 299 Sho Pus Compatin tors Naina. 18 2 Na Buropa um dos pie rcenseamemosnominatios o dS oer ‘ions 14917500 pine recenseames os Estado Unidos caren om 7, Jia Fata elapse casa pio recetseneto em 80). RAFFES. TIN, Cl "Roane pote In Por wa sour ch po Tao dea Cacia Fg: So Pal: Aten, 1993, pp. 66 058, aplicou-se uma variedade de meétodes indiretos para fazer 0 ‘ileal da populacio, dentre os quais a contagem dos domicilios {foi partcularmente utiizada.°” Uma tltima observacio consiste no fato de que, “para manter essa informacio atualizada, & -necessirio renovar periodicamente a operagio, de modo que se ‘obtenha uma imagem nio muito distante da ralidade. (.) Em ‘outraspalavas, trata-se de uma informagio que se degrada e, por ‘conseguinte, énecesséio reinvestr para atuaiz4la’* Guilherme Studart refere-se 4 ordem régia de 17 de julho de 1774, que requisitava do capitio-general governador ‘de Pernambuco José Cezar de Menezes uma relagio dos habitantes da capitania de Pernambuco e demais capitanias| anexas.®" Ainda segundo Studart, em setembro de 1777, ‘José Cezar de Menezes remeteu a Portugal uma estatstica da comarca do Ceara.” Dois anos depois, a ordem végia de 18 de setembro de 1776, extensiva a todas as capitanias do Brasil, determinou a realizagio do primeiro recenseamento _geral dos habitantes da América portuguesa. Essa foi a origem dda pormenorizada e extensa Idéia da populagao da cepitania de Pernambuco e das suas anexas*", censo das capitanias do norte io apcavs scum coofet estima, de ani ae um ‘me ove gos Van rosea se Dizi Rea dem Acotge So mero de dois foe ban coma em tala Amira popes. SOUZA Lara de Atle (rg). Hata de ds privat no Bras eon © ‘id pride mdr pote Sk Pa Ci ae, 199 2SERAFFESTIN, Cane, Op sit. 6. 239 STUDART, Guilherme. Opt 37 30 ten 9 34, 1361 MENEZES, lu Crd, “ka popu Capita de Perabo, © hs sss aos, eto dss costs, Hose ovens mote, sc, mer der ngene conor, tendon eae ao ree [EV dene wana de 1774 etme pose do govern de mem Cpa ‘ gvemare apm goer es Cra de Menezes nae de Biba ‘Naso oo Ride dono, ol XL (1918) Ri eas, 1S, in xan Tt ere mm realizado entre 1777-1782, que éconsiderado o mais completo registro demografico do Brasil no século XVIIL* Outro exemplo do envio de mapa populacional da capitania do Ceara € 0 Mape das vilese principais povoacées de brancos e indios da capitania do Ceard Grande, datado de 1783 A maior preocupagio. da administragio colonial com a capitania do Cearé guarda relagio direta com 0 desenvolvimento da producto de algodio eo desenvolvimento do comércio na capitania, © que trazia a possbilidade de ‘aumento na arrecadagio de impostos. E nesse sentido que corre a independléncia da capitania do Ceara de Pernambuco ‘em 1798, o que implicou no diteto de comercializarao direta ‘com Portugal; criagto da Junta da Fazenda do Cea, conselho fiscal presidido pelo governador da capitania e diretamente subordinado ao erério portugués; construsio das sedes da alfandega em Fortaleza e Aracati; e a criasio das casas de inspegdo, responsaveis pela cobranga de impostos sobre a produgio de algodio, também estabelecidas em Aracati e Fortaleza, principais portos de exportacio do produto na capitania, Foi assim também que se deua vinda do naturalist ‘Joio da Silva Feij6 20 Ceara em 1799, engenheiro que rovavelmente permaneceu na capitania até 1819 ¢ realizou luma série de estudos sobre as potencalidades de exploracao econdmica da capitania, especialmente a prospeccio de minas de salitree metais®* Tanto a sua Meméria sobre es antigas 32 PORTO ALEGRE, Mai Syvia Opp. 198199 363 Mop da vis picgesFovssnes de Brances indo captain do ‘Cenc Grane coms drome es is Vins, invecsgens dos Orgs ds ‘su respects Maize Capes. so emprimeo de abl e173". AHU CT [AHUACL CU D17, Casa, Decuen 592, ‘+ Fojo asa peas de Gath 20 Ri ani, Grau coenii la Uniesdade de Coin, f profs tts em Lisboa, sees rodents Academia Rel de Cigna de Libs sors eer daha a Sat BeAr er Gt levras do oiro da Mangabeira da capitania do Ceard, quanto & Meméria econdmica sobre gado lanigero do Cearé resultaram destes estudos.*° Esereveu ainda sobre a captania cearense a sua Colegdo descritiva de plantas da capitania do Cearé e a ‘Meméria sobre acaptania do Ceara ‘A constancia da exigénciae envio de arrolamentos da populaco da captania e o crescente indice de racionalizacio controle da sua administrario aio evidenciados ainda pelo Mapa da populasao da Capitanta do Cearé Grande apresentado a Sua Alteza Real, no més de juno de 1804, pelo seu governador da ‘mesma capitania ~ Jodo Carlos Augusto de Oeynhausen © Em 1808, com a abertura dos portos brasileros as “nagdes amigas", inicia-se 0 comércio direto entre Ceara € Inglaterra principalmente de algodo, Em 28 de uno de 1808, apenas sete dias apés tomar posse, o governador Luts Barba Alardo de Menezes dirigiu ofcio circular aos capities-mores das ordenangas das vila da capitaniarequerendoo envio de um ‘mapa padronizado dos habitantes das rspectivas vila e termos c também um mapa das suas companhias de ordenangas: [E Gabe Ve camels crude ox ptm dgunecliin st pos. eo sp Crt em 1799 com scars de gee da capianae sa {io mor mats accpends Remade Mane de Vascomsn o ine Epo mo aps asp da apa d Coad e Pence ino stan geogta, os esses eas rues dpa, ou mins ali ‘oe Ttjby, diode Santa Qtr nde tao im boro se 179) Em 1808 o brine fl wanfoio para Pao, na See da Taupe ulin “Oras Jed Sia Fao” RIC, a, 8H, p. 247-278. 2 FEL, Jot Sit, Menéra sabe a capt do ear ues rata. po far Cleo Bie Bea Ces Feralees: Pao Wal amar Aleit 187 ‘ STUDART,Guheme. "Administra So Caos Aug Oey: RIG, 1995 9.298 i ei Pt roe 23 Para efito de dar um pleno cumprimento As ordens de ‘ua Alteza Real o Principe Nosso Senhor nesta capita- nade cujo govern logo que aqui chegus tome’ posse, deversVosea Mere em consequéncia da carta de oficlo, {que no augusto nome do mesmo soberano senhor me dlrigiu o Minstro e Secretrio de Estado dos Negécios trangeitos eda Guerra em data de 16 de Margo deste corrente ano, enviar: me um mapa ato exato ebem or dena dos habtanter dessa vile eu terme, organizado segundo omodelo, que tems.” ‘Alem do recenseamento oficial da capitania em 1808, nno governo de Barba Alardo de Menezes foram elaborados varios trabalhos cartografics, tals como:aCartademonstrativa da capitania do Ceard (1810), 0 Mapa demonstraciv da freguesia de led (1811), 0 Prospecto da vila de Fortaleza de Nossa Senhora BRASIL, Thm Fompes de Sous, "Ppuso do Cen, RIC me 1189, pp. 78108 um aoe esranko qo stan gover olen moss miso Feet ees ‘MconlPor ara rg de 21 Grou de197 se manda evan maps ‘Snicon em tar cpio da popular ede sa mime, com ‘desat india, comer versio anual pela sna sobre ead fico poli, genga rfugto d apt &” BRASIL Thomas Pomped te Sout Emu ettcy da Prva do Ceo Tom 1. Fecaleen: Pda Walden lent, 1897. Vi inn Hoos as 0 Tenente Coronel do Regiment de infantaria paga da Guarnicao da Praga do Recife de Pernambuco a cujo cargo se acha 0 governa desta Capitania do Ceara Grande por Sua Magestade, que Deus Guarde &. Por {quanto sendo informado da irregulatidade e falta de Aisciplina a que se achao reduadas as tropas aus res deste Reino: ¢ atendendo 2 que nelas sende regu ladas e discplinadss, como devem ser consste uma das principals forcas que tem o mesmo Estado para se defender, fi servido em Carta de 22 de marco do sno proximo paseado aesinada pela sa Real mio, ordenar ‘20 IL" @ Ex"° Snr. Conde copeizo-mor nosso Gene ral que logo que recebesse, mandasse alisar todos of ‘moradores das tress da su jurisdigSo que ee scharem ‘em estado de poderem servi na tropa auilares sem ‘excecdo de nobres plebeos, brancos, mestiss, pretot, ingénuos ¢libertos, a proporsdo dos que tivesse cada uma das veferidas clases forme tergas de alares fordenangas..2” ‘Uma carta régia mandada publicar no Cearé em 1776 determinava que 0 capitio-mor governador © of capitaes-mores de ordenancas da capitania deveriam dar “inteiro cumprimento e execus0 ao disposto no capitulo 15 do regulamento” militar, que tratava a respeito do recrutamento e dos desertores. Segundo aquela carta, os capitdes-mores deveriam ter "listas exatissimas da idade, dacestatura edos nomes, das naturalidades e das ocupagdes dos alistados para os recrutas, como também de todos os [STAPEC. Lio 16 Prats, eas, bandos odes igi (17621808) “Resi. woo Bands parse lar ter x ore det C39. Cet) 12 ‘Favos I demargode 1767018 26 Jar Gomer soldados das suas companhias", Além disso, era avisado {que os capities-mores locas: info consentii40 nos seus dstritos desertor algum de outro Regiment nem ainda aqueles que antes de setem regimentades ge ouverem ausentado dos seus disritoe para se refugiarem em outro com o fim de ‘nko serem liatados:e eto sab pena de nto seéem cas- tigadas o# ditoschefes; com perdimentos dos postos, lempregos que tiverem e das mais penas que tiverem = das mais penae que Sua Majestade reservar ao seu Real Arti, se alistatem estes desertores de diversos Aistritos ou diferentes vegimantos”? 'A ampliagio do. controle sobre populagio através a organizacio militar" expressou-se também através da maltipliarao das ordens para a passagem de mostras militares, que consistiam na reuniao e insperio das tropas de cada localidade. Além da obrigatoriedade de relizario de ‘mostras anuais, os capties-mores cearenses enviaram varios bandos ordenando a passagem de mostras nas diversas tropas militares da capitania, como se vé na tabela 3 mais adiante. JARRE Live 14 Regitos de poring ai, putes, andes eens gis uch ind o6 (1651-196) "eso Ge Copia de dsscaras eo Cape {Sd Reqlament gue andavL="« Ex Ge deem" a0. Tene Cue" Ged Capp se mans Cap mae deem iro compres eexesido dspam 62 Cay. 1 od Reguam.”, 3 ened 176, i 102108 cao observa Chine de Mel, pari segunda meted sul XVI foram ada Regents leis gue objsvavam aapligo dcp ltr to nr da oes cliat MELLO, Cisne iced ‘gan de"Aguera co pac» polis de intesa obi mitra Mae (Gai ns HECKSOAN, Vir KRAAY, Henk, CASTRO, Celso). ove ‘tina mit bral: Rin de ace: FON, 200.70 Un Bu eda 27 Quadro 3 ORDENS DE MOSTRAS MILITARES NA CAPITANIA DO CEARA (1766-1789) MOSTRAS= RIBEIRA | __ TIPO DETROPAS sree [tora HOH 76 Companhia de tnfantaria pga | 13/01/1767 |g do preido de Fortalena anigsn767 3/0769 ‘Ordenangas da vila de N.S. da Ordenangas da via de 5 Jost | 5, : de Rbumar de quae ome | ‘Ordenangas da vila wal de | 30/06/1774 rosa | 3 eee oo aman Cnenogr & vn wa oe] REE Noa : Tpiisinaiaiis| SEES | Sonustecaas saws Regimento de ordenancas da | 26/07/1766 vila real de Monte Moto Novo | 07/09/1768 ‘Ordenancasdolugar de Monte ead owvossare7 | a rare 26/07/1766 RegimentodeCavalarisAuaiae | 24/06/1769 as Vargens de Jeguaribe | 13/06/1773 | 7 ibe do | Quixeramobim 009/175 | Saasarbe 2avosii778 | 2406/1781 ‘Ondenanrae da vila de Santa | 040671760 eee waver | 3 | sovosizza, Urner ns ry et Bi tira oe amar TeryodeInfanara Aan das | oWOsrir—@ |p To de Infaniaia Aucie | OL/L/I776 Marius docs ‘ey09/1789 the omens Purdor da Rb | 120971778 rere ous 25/0011779 Repimento de Cavaara | OS/O87I7ES | 250/780 ‘dlr da Rib do ena | 9308/2770 —— Bibs do 08/09/1768 i769 ‘aaa | Reginento de Cartaria da | 29/08 een Gas Receeayie | SUMMITS Freguetia de io Gongalo da | 20/07/1709 | wae tae80 | 98/09/1779 ‘Serra dos Cocos ole ‘09/780, ra 7avnari7ee Ondesangas aia VissaRel | 29/00770 | 1 Re do le do Camo dn | S/007276 5 a GT TI I a ‘ome 2/10/3775 Piblicoda Cart Livro 36: Portans, ets, bandos eodens vegas 1762-1808). Semen 08/09/1778, Livro 11; Registros de patentes (1759-1765)*, epnento de camara | 2/09/2760" ‘A exigincia de mapas poplaconas passou a ser feta Ribera do | usar da Freguesia de $50 | S6)19/373 ‘a partir do momento mesmo em que se dava a nomeario ou a es | Joredoe Carrs Noves cern? confirmagio das patentes do ofialato das ordenangas das vias ‘Assim, em 1804, quando Leandro Custodio de Olivera e Castro aeo7nis {oi provdo a posto de sargento-mor das ordenancas da recén- Reginento doe Carrienovos | 8/08/1779 ctiada vila cde Sao Joao do Principe, fo! informado de que deveria 08/09/1700 remeter 20 capitiomor governador Jodo Carlos Augusto de I aaron | Gaya ap dp dt eo {harman 21/08/1780 Janno caso da confirmagao da patente de José Anténio de Souza, Galvao, a fntima relagio entre a exigéncia de mapas poptlacionais Ordenaneas da va deN. 8.8 | seyaoia775 | ‘ea cobranga de impostos fica bastante clara, Junto ao seu pedido Expectagio dogo de confirmagio da patente de capitao-mor de ordenangas da vila, e sas, José Antonio fo levado a exw 20 Ordenangas dos Carns Novos | 9/12/1775 ee aeons 3 APEC Lio: Pv do Coto Utramsn (10-100, Provido Ordenangas de indlos do lugar) oa may1769 ‘& Ceuacho Ussamarino em que 8. A. R. orden so Governador deta Copan EKG 24/06/1774 ‘informe juntando cépia das Ordens, que o authorio a crear o Posto de Sarg" Mor dhs Ordenngs de ov Vila Jot do riscipeem qf pod Lean Cat {ine Cho, emetends Mape da Poul seu Teo" 18-188 20 ebro ones CConsetho Ultramarino uma “copia das ordens em virtude das duals foi ereta esta vila, um mapa da sua populacao e destrito, do atual rendimento da camara e suas aplicagges"°" ‘Além disso, & importante frisar que os alistamentos ¢ 0 recrutamento militar também atuavam diretamente no sentido de reforgar os lagos de submissio e dependéncla dos homens pobres aos fazendeiros e grandes comerciantes locais na medida em que regimentalmente os postos de comando das tropas militares locais deveriam ser ocupados pelos mais poderosos senhores de cada pavoacio, Diante da obrigatoriedade da prestacao de servico militar, para fugir do abominado recrutamento paraas tropas de primetra linha - que via de regra funcionava como punicao a “criminosos",mplicava no recebimento de um soldo miserivel eo servigo em distantes fortficasdes, longe da familia por nimero indeterminado de anos?’ ~ sobravarhes ou a deser¢do, que implicava na imersSo zno mundo da ilegalidade, ou a barganha da sua incorporagio nas fileiras das topas locais(milcia eordenancas) comandadas, pelos potentados dos sertdes, situagio que provocava a negociacio de favores, com o énus da consequentesituagio de divida perante os poderosos senhores sertanejos.2”* SSAPEC. Lino 37. Frvates do Comtlbo Ulramaino (100-1408. "roido ‘4 Const amare em que SA. R eden no Gover dest Capa Infeme sees ated Sear alo ainda eect 0 Ports Capi Mor at ‘rdenangs da nova Vil de 8. Berard, anand cpa das Orde prio sre dle um Mapp ppl, ds eden da Crea ¢ Sapp fs 18-19 2” SILVA Kalin Vander. "Do imino, wd ¢ de xs elemento ine modes ia refs oerutamenaeatrges cas dole le ‘Bu Jtede For dco, a fe, 2002 Kalina Vandel doin ete ipo de pric deg aad a pa SILVA, Kalina Vind O mr ol ba nde essed cloa ‘ilaroyo e marginale mat Capona de Parma do aie XI € {271 Recife andj de Cut Cite do Rec 701 Passaportes elicensas Em 1762 foi publicado na capitania do Ceara um alvaré régio “a respeito dos desertores e na pena em que incorre quem os apatrocina’ [Ba Bl Rey foro saber aos que este Alvard de dedaracio, ampliagio ele virem, que sendo a dese;ao um dos mais ‘graves ¢mais pericosos crimes mitre, porque nem a Aespesa dos Reinos e Estados, ea paz pabliae tangull- dade interior externa dels e podem conserva sem os cexécitos,nemestes questoconsttuido se achiocomple- tose prompts debaio da dscipina dos seus respectivos ‘comandantes,sendoa mesma dsergio por esta indispen ‘sve neesidadepablica (.) havendlo mostra a expert nia, que todas as provdencias que ford dadas na so- Drea les ndo astaram até agora pra fazer cassar um to prejudicial dlitoe a indispensivel necesidade, que 1h decor os que nele encore e [ilegivel]concortetn, ou induzindo para a desersio, cu ocultarao dos deserto- 1s pra stem presos, 1 faltando em os demunciaern © prenderem quando chegam ater conhecimento dees (.) sou servdo ordenar que todo aquele,quese ahar fora do seu regimento apresentarpassaporteexpedido nos prei= ss termos da férmula(.). Mando, que todos os mags tras de vara branca, jules ordindrios, a cus dstrtot chegarem quaisquer sobreditesIes facto ei os pass pores acim ordenados, que achando-os sem eles ou ten do excedidoasIconasnelesterminadas, ot prendo logo ‘mediatament em cadeia segura, eos emetam com toda seguransa as cadsias das aboras das comaeas eavisem 08 coronds ou comandantes dos regiments que tact m Jn ha Barn Gee ‘em para mandarem recondsit o sobreditos pesos.) pois que pale da polica so obrigados a conhecer todas 5 pessoas quedenovo entra nos seos distros." Desse modo, sob pena de pristo, instituiase que a céreulagao populacional na capitania deveria estar submetida a0 uso de passaportes™e & obtencao de licencas concedidas pelas autoridades judiciais e militares locais, Por ordem real, provavelmente por conta do seu nio cumprimento, teste mesmo alvara seria reeditado na capitania em 1775. Relacionadas as disputas em tormo da defincto das fronteiras entre 0s impérios ibéricos na América, as determinagdes de obrigatoriedade do uso de passaportesexemplifiat mais uma veza utlizagaoeadaptacao de medidas destinadas ao contexto especifico dos confltos fronteirigos nas regides platina e amazénica paraa tentativa de resolugao de problemas locas. [7APBC: Lino 4 Regios de praia eda, pts, dor oes rpias, da clr a de eb (176179) "Regt de tan gun ada oS ‘Cruel G Aniai Jot Vistrtaco Bags Fo. gue se pbs eee = repo dos Deere, ma peat qu inaremguem apc, 3 ade 1776 fs 1V-12% 2 Sepundo a digo de “pamapos” econ no Gli de pce do meri ead pc Hest Literal Beli “PASSAPORTE (Documenta ‘pions itor, horizon) ~ Docume expe por és compete {gratin pon, vse cu emburciaaedeoare deo al eo ‘tgs norma de mo eid ora om ogo de bra Veen sora pared dette sina uo panaporte decane fo teres ropa ena do pesnsembucags os pots de ple sgeos ‘trem sates deg, nun dencemesoe ee ete ea ‘deena nna nag, Puta dst deft, perches guns abriprcade {do wo de pasupres pare quasi ios de slots atta pla ‘gts clonal ne ma ata do se XVI tsa no cians de “Ais porugus ps de una mda de gra BELLOTO, Hebi Liter Op cp. 0 de, ‘Band Ds de are 223 No Ceara imposiczo do uso de passaportes como estratégia de controle sobre a cixulagao da populagdo gana especial interesseexatamente prcontadamovimentacdopopulacinal saracteristca dos sertdes cearenses, espedalmente em petiodos de secas. Contudo, cabe lembrar que a preoeupagio central recaia sobre a produgio ea crculagso de riquezas, Bm 1784, por exemplo, 0 portugués Manoel Moreira dos Prazeres foi reso em Pernambuco por conta “da furiva retrada que fet" do porto do Acara "sem passaporte'#2 A imposigso do 40 de passaporte também estava entre as medidas de carster nitidamente controlador tomadas através do bando de 28 de janeiro de 1804, no qual 0 capitao-mor governador Joio Carlos Augusto de Geynhausen deverminou que Toda aquela pessoa, que quinze dias contados da data desta em diante chegando a esta vila, quer venha [de Fortaleza], quer venha doutra vila desta capitania, quer venha doutra eapitania nao apresentar © competente passaporte, ou guia assignada pello seu juiz ordinario, e se for de povoagio onde no haja juiz pelo comandante dela, serd preso na cadeia desta vila, onde sera conservado como vadio, até se lhe dar destino, e empregado entre tanto nalimpeza desta vila, ou em outra qualquer faxinas mas fazendo-se suspelto por trazer Armas proibidas, seré preso e empregado nas obras das fortificacses de Mucuripe, até que haja ‘ocasito de o mandar sair da capitania para que isto assim se observe, faco plblico que toda e qualquer pessoa que na data desta em diante entrar nesta vila Aeverd ir apresentar-se na casa do capitao comandante APEC Liv 16: Praia, as, bandos cress (172-180) es m8 rt er er aes della José Henriques Pereira declarar 0 seu nome, ‘manifestar 0 sew passaporte; dizer, que oficio tem 4 que negécio vem; quanto tempo se ha de demorar na vila,e aonde se vai arranchar. Como estas mesmas, fordens existem nas outras vilas desta capitania, 235 pessoas, que saindo desta nto se proverem de passaporte serio infalivelmente presos.. Percebe-se aqui que, através da determinagao expressa da cobranga e fscaliagao de passaportes em Fortaleza, 0 ‘apitio-mor Oeynhausen objetivava obrigar a expedigao € conferéncia de passaportes nas outras vilas da capitania, 0 que acaba indicando que a obrigatoriedade legal do uso de passaportes licencas ndo estaria sendo efetivamente ‘cumprida pelas autoridades locals cearenses. Hi indicios de que o esforco de controle através da Imposigio do uso de passaportes e licengas tinha como um dos seus principas objetivos monitorar a numerosa populace indigena da capitania, especialmente no que diz respeito a sua utilizagao como mio-de-obrapelos moradore, Iso ficaexpresso ‘emum bando langado em 1773 que ordenava orecolhimento de todos o indios que estivessem fora de suas vias Fago saber a todos os indi © moradores desta capt tania que se fax preciso ao Real Servico que se reco- lio logo logo e sem a menor perda de tempo todas as suas respectivas vilas os indios que andarem fora elas, Pela que ordeno a todos os comandantes das fopuesias que cuidadosamenteo faczo executar com 8 APEC. Livro 16: Praia, dias andos onde gis (1762-1804). Resto do Belo gues I™ «Ex Se eo Cae Agito de Osyausen gover ‘devant dou tar sobre objec delrado nl” 28d io de Wo, ae 7576 nano Ta Hero ns maior atividade sem admitirem licens alguma que soja anterior a data deste debaixa das penas impos 125 nas orden de Sua Magestade, e repetidas vezes publicadas em varios bandos, as quaes Ihes 40 de ser inreversivelmente impostas. No entanto, as determinagdes de 1773 néo parecem ter sido cumpridas propriamente na capitania, de modo que tum bando semelhante foi publicado em 1789, Em seu texto 0 capitio-mor Luis da Mota Feo e Torres enfatizava que tendo mostrado a experiéncia que ni bastarem ‘bandos pelos quaisrepetidas vezes se fex notsria a proibigio de se conservarem indios em servigos particulares sem as licensae necessarias, e deven 4o ew acodir desta desordem pelo grande prejuiso que dela se segue ao Real Servic. (.) Elhes ordeno {que ndo apliquem indo algam ao servigo particular dos moradores para fora das vilas sem que estes Ihe apresentem licenga minha por escrito, nem consin- tam que os ditos moradores retenbam ema casa 08 referidos indios além do tempo por que The forem ‘oncedidos, que se declararé nas mesmas lcengas, © também nos recibos que os principais quando Ihes ‘entregarem 05 indios, ¢ como a escandalosa negl: géncia que tem servido na observincia da lei (.) tem sido a origem do se acharem quase desertas, € confundidas as villas, serio obrigadas os diretores © principais a remeter a secretaria deste governo [SAPEC. Lino 16 Portraits, ands rng (162180) “Regio Band se aso pe ere swans ido ni eo fra. (eta 9 demi 173,43 226 thr Goes cada trés meses uma lista das transpressores para fou proceder contva eles com a8 penas que determi rnaale..29 ‘Ainda em 1813, 0 capitao-mor govemnador Manuel Ignacio de Sampaio envioucarta circular aos diretores de Vigosa, Tbiapina, Almofala, MonteMor-Novo e Monte-Mor-Velho autorizando-os a "passar passaportes aos seus indios’** ‘Assim, um conciderdvel nimero de evidéncias aponta para certa distincia entre o planejamento metropolitano fa efetivagia das determinagdes régias na capitania do Ceara, tanto no que se refere ao ajuntamento da populario fem vilas quanto & estrita observarao do uso de passaportes| na capitan, para nao falar do desrespeito as les e justigas régias. Na Descrigdo geogrifica abreviada da capitania do Ceard, relat6rio enviado ao proprio rel, fica caro o cardter de incipiéncia e precariedade da grande maioria das 17 vilas ‘cearenses em 1816.” Barba Alardo de Menezes, que esteve ‘com o governo do Cearé de 1808-1812, comentou em 1814 sobre a violencia dos diretores e a desercio na vila de Soure dizendo que: “apesar de terem desertado muitos dos seus rmoradores, pelas grandes violéncias dos diretores, ainda tem trée companhias de ordenaneas de indios pouco industriosos SS APEC Liv 16 Porras eae, anderen gs (1762-180) "Regio do Bint go I Sa Gon data Cap Lai a Mota Feo «Toes mablon Tins slo poder er indo som esas Sse ox, 1 dnoverto de 189 fi 667 SY APEC. Lin Regt de fin codes dps sos capies mae eas tl aden dep, ona de dts «deo sis {Endo (181 "Repro de haa cielr noe Dicer de VV, Baiping ‘ata Mont Moro Novo, Mere Moro eho podem aS passports Sores aio 1 dejo de 1819, fs, 1080108 pes pegs meds da capita do Cat." Op ci. {in andi ere cd ‘e muito pobres” 5 Segundo ele, na vila de indios de Vigosa 0 quadro de desergbes nao seria diferente: “A sua populagio & quase toda de indios(..). Tem cinco companhias de ordenangas a cavalo e a sua populacio seria extraordinaria, se nao fosse as continuas desergées, nao s6 dos seus diretores, como pelos brancos, com continuas violéncias” 5 arece ter sido assim que em 1802, portant 35 anos depois da publicacio no Ceara da carta régia de 1766 que determinava a criagio de vilas na América portuguesa, 0 capitiormor Bernardo Manuel de Vasconcelos ainda insistia aque a fundacio de vilas era fundamental para a “ivlizacio" da ‘apitania, a imposigao da justicanégiae a geracao de “riquezas" Os comentérios de Bernardo Manuel de Vasconcelos seriam completadospelasconsideragdes do captao-mor Barba Alardo de Menezes 12 anos depois: segundo ele as leis régis continuavam sendo vieladas na capitania eas proprias autoridades locais nio “conservariam todas 0 seu devido decoro e respeito’,sendo que nas cimaras do reduside nimero de vila da captania forjar se Jam “monopélios” dos cargos piblicos e riquezas locais. Mesmo nas décadas seguintes, as observagoes de Koster em 1810-1811 cede Gardner em 1838-1839 acerea da wulgarizaco da violencia, das difculdades de imposicao dajustica publica eda concentraca0 do poder local nas mios dos potentados sertanejoscearenses nao se distanciariam muito das consideracdes de Bernardo Manuel ddeVasconcelos de Barba Alardo, Anda nesse sentido, um outro ‘caso parece ser bastante indicéio, 2 MENEZES, Lia Aled de Op. ct 6 __ ‘CONSIDERACOES FINAIS — 56 mais recentemente os estudos sobre a violéndia na ‘América portuguesa deixaram de se interessarexclusivamente pelos chamados “grandes tournants” da temética, tais como as entradas e guerras de conquista, as ocupagdes francesas holandesas, as campanhas de combate a quilombos ou a5 rebelides e revoltas coloniais de maior projegio. Na ultima década, notadamente, novas pesquisas passaram a abordar a violencia comoaspectointegrante dastessiturasde suasrelacées sociais cotidianas, elemento constitutive da propria producio e reprodugao da vida sociale, por isso, componente da trama das suas tensbes, confit, sociabilidades e sentidos Nesse sentido, nio posso encerrar este trabalho sem antes ressaltar que a pesquisa que lhe serviu de base, afora 0s cédices de autos de querela e 0 rol dos culpados, foi feita ‘majoritariamente a partir da consulta daquela que pode ser considerada como a “documentacio geral" da capitania do Cearé: correspondéncias entre as autoridades locaie e a administrag2o metropolitana, livros de registra das cimarss, representacdes, cartas, memérias e relatorias de ouvidores & ‘apitaes-mores, além de relatos de viajantes escritos jé nas primeiras décadas do século XIX. Assim, a violéncia surgi. 4 partir de uma massa documental nao especializada, 0 que acaba por corroborar a sua forte presenga na vida cotidiana na capitania, seu caréter vlgarizado, comezinho. 2 Alen dos sas lose abe 0 aan, coe ot Marin Sin de Carvaho Franco, Pain Aue Auf, Laure de Mello e Soca Siva Hold Lae ‘oa as tablos Car Anastasia, Maro Anti iver, Lina Mas Res, cla Nona Si, Tana ds Canta Feit Rodrigo Lead dee ‘i rd biog, 230 debra Comer Diante da incrivel frequéncia de testemunhos ¢ comentérios elativos.atos de violéncia no Cearé setecentista, ddescridesestas que certamente seriam demasiadoenfadonhas ‘aso. ndo fossem espantosas, tanto autoridades coloniais {uanto viajantes nfo deixaram de registrar o seu assombro, do passo que para a populagao local em geral tas situagdes into causavam tamanha admiragio, 0 que acaba revelando a ‘oléncia como traga constitutivo do seu proprio universo de Felagdes sociai, ou seja, da propria formacdo social da qual faziam parte, das seus proprios confltes. Como espero ter ficado sulficientemente claro nas paginas que se seguiram, tanto a deflagragio de atos de violéncia quanto a sua preméncla evidenciados a partir do longo inventario arrolado por esta pesquisa acabam por revelar um cotidiano marcado pela ocorréncia de crimes e por lum quadro erOnico de fragilidade de imposicdo da justica régla ha eapitania, Se, por um lado, 0 descumprimento das leis ea bcorréncia de desordens so reputados tanto aos poderosos Senhores sertanejos e suas cabroeiras, que se utilizavam de suas posigoes de poder, prestigio, postos militares e cargos de governanca para cometer variados tipos de crimes e ddesinandos, por outro, a ocorréncia de numerosos outros crimes, tais como o furto de gados, praticados em grande rnimero por elementos coniderados “vadios’,“vagabundos” fu “sem morada certa", aponta para a existéncla de levas de Individuos “desclassificados”, envolvidos ou nao mas teias de dominagio encimadas pelos grandes potentados sertanejos, ‘0s paderaso do sertdo, como eram chamados. 'A violencia apresentava-se assim como um aspecto complexo econtraditério da vida social no Ceara setecentista, Gado que, a0 mesmo tempo em que realimentava as relagdes {de dominasao social sertanejas, mostrava-se ainda como um jnstrumento de negociagio e barganha politica ou poderia romper como uma tentativa de afronta ou ruptura dessa rewma cada de lan Asin, port da tr Cotidianas de assassinatos, roubos, querelas, intrigas, Smeacas, desafion, atentaos “e agressOes fartamente rae na Sane da capitania, subjaz a logica verargicae violenta daguele mundo, que tingia de sangse a sua vida cotidiana, “ “ * ® Deste modo, = documentagio analisada traz 0 confito para o centro do debate sobre a sociedade pecsia Cearense os tentionamentose linhas de fore, hierargulas € confrontos que ae foram sendo forjados no interior da iolenta e confituosasociedade do gado, um dos muitos “Bras” de finals do séclo XVI

Potrebbero piacerti anche