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HENRI LEFEBVRE: A PRODUÇÃO DO ESPAÇO

“A burguesia submeteu o campo à cidade. Ela fez surgir enormes cidades; ela aumentou
prodigiosa-mente a população das cidades à custa das do campo, arrancando assim uma
grande parte da população ao embrutecimento da vida rural. Da mesma maneira que
submeteu o campo à cidade, ela sujeitou os países bárbaros aos países civilizados, as nações de
camponeses às nações burguesas, o Oriente ao Ocidente. /A burguesia elimina, cada vez mais,
a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Ela aglomerou a
população, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade num pequeno
número de mãos. A consequência fatal destas mudanças foi a centralização política. Províncias
independentes ou apenas federadas entre si, tendo interesses, leis, governos, tarifas
alfandegárias diferentes, foram agrupadas e fundidas numa única nação, sob um único
governo, sob uma única lei, com um só interesse nacional de classe, por detrás de uma única
barreira alfandegária». (Marx/Engels)

A última obra de Henri Lefebvre dedicada ao estudo do fenómeno urbano é, à primeira


vista, desconcertante, porque parece deslocar, fazendo-a desaparecer, a cidade em proveito
do espaço, com o surgimento de novas temáticas, tais como a ecologia, a exaltação da
natureza ou a função do Estado. Porém, esta mudança de direcção é mais aparente do que
real: a obra não só faz um balanço crítico das obras anteriores, como também avança com a
formulação de uma teoria unitária que articula, unificando-os, três espaços diferentes, a
saber, o espaço físico, o espaço mental e o espaço social. Para levar a cabo esta tarefa,
Lefebvre começa por eliminar a distância entre o espaço ideal, dependente de categorias
mentais e lógico-matemáticas, e o espaço real da prática social, recorrendo a conceitos
universais oriundos da Filosofia e não das ciências particulares. O conceito de produção do
espaço é o universal concreto escolhido por Lefebvre e, como tal, constitui o centro da sua
nova teoria unificada que é, na sua essência, uma teoria da mudança social ou uma ciência
prática do espaço urbano: "A problemática do espaço compreende a problemática do urbano
(a cidade, a sua expansão) e do quotidiano (o consumo programado) e substitui assim a
problemática da industrialização, mas sem a eliminar, visto que as relações sociais
preexistentes subsistem e o novo problema é precisamente o da reprodução".

À praxis industrial sucede a praxis urbana, cuja missão histórica é realizar plenamente
a sociedade urbana, não já definida em termos de mera apropriação colectiva e individual da
natureza, mas sim em termos de segunda natureza. Lefebvre atribui um papel importante aos
intelectuais no movimento revolucionário urbano, destacando a tricotomia habitantes-
artistas-autoridades em vez da classe operária. As elites intelectuais - filósofos, artistas,
literatos e cientistas - devem indicar às massas a impossibilidade de viver num espaço gerido
pelas leis da massificação e pelos critérios restritivos da quantidade, de modo a induzir um
espírito de mudança enraizado na dimensão espacial e temporal da vida quotidiana - o mundo
da vida de Husserl, Schutz e Habermas -, capaz de construir o urbano como obra (de arte) e de
modelar a sociedade segundo os seus desejos ou segundo o seu Desejo.

A construção teórica de Lefebvre funda-se no princípio de que "o espaço é um


produto social". Este princípio do espaço como produção social já está presente nas obras de
Marx, Engels, Alfred Weber (irmão de Max Weber), Simmel e Lukács, onde a vida urbana não é
explicada em função da forma espacial da cidade, mas sim em função dos efeitos dos padrões
de mobilidade social: a fragmentação e a diversidade da vida urbana, bem como o
movimento, a diversidade de estímulos e as apropriações visuais dos lugares, constituem
aspectos centrais da experiência do espaço urbano. A análise de Marx da acumulação
capitalista mostra que esta se baseia na aniquilação do espaço pelo tempo, o que produziu
transformações profundas na agricultura, na indústria e na população ao longo do tempo e do
espaço. No entanto, coube a Durkheim elaborar uma teoria social do espaço, mediante a
impugnação da concepção kantiana do espaço como um meio vago e indeterminado. A sua
teoria compreende basicamente dois elementos: Dado que numa determinada sociedade
todos os seus membros têm representações semelhantes do espaço, a causa dessas
representações espaciais é de natureza social (1), e essas representações espaciais espelham
quase literalmente, pelo menos em alguns casos, o padrão dominante de organização social
(2). As categorias do entendimento - escreve Durkheim - "não só vêm da sociedade, como as
próprias coisas que exprimem são sociais. Não somente foi a sociedade que as instituiu, como
são aspectos diferentes do ser social que lhes serve de conteúdo: a categoria de género
começou por ser indistinta do conceito de grupo humano; é o ritmo da vida social que está na
base da categoria de tempo; o espaço ocupado pela sociedade é que forneceu a matéria da
categoria de espaço; a força colectiva é que foi o protótipo do conceito de força motriz,
elemento essencial da categoria de causalidade. No entanto, as categorias não são feitas para
serem aplicadas unicamente ao reino social, elas estendem-se à realidade inteira". Da Escola
Durkheimiana destacam-se os trabalhos teóricos de Marcel Mauss (sociedade esquimó),
Lucien Lévy-Bruhl (povos primitivos), Jean Cazeneuve (locais sagrados), Maurice Halbwachs
(memória colectiva), Robert Herz (predominância da mão direita), Marcel Granet (chineses) e
J. Chelhod (árabes), entre tantos outros, que ajudaram a clarificar a noção colectiva de espaço
nos tipos mais diversos de organização social.

Sem abdicar da sua marcação marxista, Lefebvre utiliza o conceito de produção de


espaço no sentido hegeliano, para designar o processo pelo qual os homens, enquanto seres
humanos, produzem e reproduzem a sua vida, a sua história e a sua consciência: não existe
nada na história e na sociedade que não tenha sido produzido pelos homens. A própria
natureza, tal como se apresenta na vida social aos órgãos dos sentidos, foi transformada e
produzida pela acção humana. Tomado neste sentido mais alargado, o princípio da produção
do espaço tem implicações de grande alcance, uma das quais é o desaparecimento irreversível
do espaço-natureza. A visão lefebvriana da natureza não é instrumental: a dominação total da
natureza operada pelo capitalismo é claramente condenada. A tarefa não é dominar a
natureza, mas transformá-la num símbolo que acompanha a sua destruição real, de modo a
podermos salvá-la e, ao mesmo tempo, participar na conjura contra ela.

Anthony Giddens considera que a nossa sociedade vive para lá do fim da natureza, não
no sentido do mundo físico e dos processos físicos terem deixado de existir, mas no sentido de
existirem poucos aspectos do ambiente natural que nos rodeia que não tenham sido afectados
e modificados pela intervenção do homem, porque, como mostrou Lefebvre, a natureza foi
reduzida ao longo da história humana a "matéria-prima" sobre a qual actuaram as sociedades
e os respectivos modos de produção para produzir o seu espaço.

Cada sociedade produz o seu espaço e este espaço inclui as relações sociais de
reprodução e as relações de produção. O neocapitalismo moderno complexifica o espaço
social, dotando-o de uma tripla-relação: a reprodução biológica, a reprodução da força de
trabalho e a reprodução das relações sociais de produção. O espaço entendido como produto
de um processo produtivo tem uma história: história da sua produção, das suas formas e das
suas representações determinada pelo desenvolvimento das forças produtivas e das relações
de produção. Numa primeira aproximação, Lefebvre elabora uma sequência de cinco tipos de
espaço que, mais tarde, especifica em função da periodização histórica dos modos de
produção: o espaço absoluto, o espaço histórico, o espaço abstracto, o espaço contraditório e
o espaço diferencial. O espaço absoluto é o lugar natural pré-seleccionado pela sua
consagração, mediante a qual é transformado em símbolo ou em parte de um rito: as forças
políticas que ocupam esse espaço consagrado apropriam-se, administrando-a, da produção
daqueles que criaram o espaço. Sacerdotes, escribas, guerreiros e príncipes usurpam o espaço
e dominam os camponeses e os artesãos. As contradições inerentes às relações sociais de
produção conduzem à passagem para outro modo de produção e o espaço-comunidade de
sangue dá lugar ao espaço histórico, um espaço relativizado e animado por um sujeito
colectivo: a cidade histórica ocidental. A actividade produtiva separa-se da reprodução que
perpetua a vida social e torna-se escrava da abstracção: trabalho social abstracto, espaço
abstracto. O espaço abstracto - enquanto espaço produzido pelo capitalismo - não se define
apenas pelo desaparecimento das árvores, pelo distanciamento da natureza, pelos vazios
estatais ou militares, pelas praças-encruzilhadas ou pelos centros comerciais onde confluem as
mercadorias, o dinheiro e os automóveis, mas sobretudo pela sua abstracção que esconde, no
seu sistema reticular, a vigilância do poder político: "O capitalismo ressurgente do século XVII
tratou terrenos, quarteirões, ruas e avenidas como unidades abstractas destinadas à compra e
venda, desprezando os usos históricos, as condições topográficas ou as necessidades sociais"
(Lewis Mumford). A uniformidade absoluta dos lotes resulta da equiparação do valor da terra
ao do dinheiro. O espaço social moderno é usado pelas classes dirigentes como instrumento
polivalente para desmembrar e dispersar as classes dominadas e para controlar e regular a
sociedade através da organização tecnocrática dos fluxos económicos, financeiros e sociais que
definem a cidade moderna. A divisão social e técnica do trabalho é plasmada nesse espaço
urbano, complexo e quotidiano, que assegura, em grande medida, a reprodução das relações
de produção, dissociando o desejo e as necessidades e fornecendo à classe média
representações tranquilizadoras que lhe garantem um lugar rotulado e assegurado. No
entanto, no seio desse espaço urbano abstracto emergem novas contradições, das quais a
mais importante é a contradição existente entre a possibilidade teórica de controlar
globalmente o desenvolvimento do espaço e o seu parcelamento dependente das leis da
economia de mercado. Deste modo, o espaço de contradição antecipa o espaço diferencial
como antítese do espaço abstracto.

A história social do espaço urbano esboçada por Lefebvre faz corresponder


aproximadamente, de modo imperfeito, cada tipo de espaço urbano a um determinado modo
de produção, seguindo a periodização histórica dos modos de produção de Marx: ao
comunismo primitivo corresponde o espaço analógico, ao modo de produção antigo ou
esclavagista o espaço cosmológico, ao modo de produção medieval ou feudal o espaço
simbólico, ao modo de produção capitalista o espaço homogéneo e fragmentado, sendo a
transição do feudalismo para o capitalismo realizada pelo espaço perspectiva do
Renascimento, e, finalmente, ao socialismo o espaço diferencial. O espaço analógico é o
espaço ocupado pelas comunidades primitivas que adoptam o organismo humano como
modelo inspirador da construção do seu espaço quotidiano. No modo de produção antigo, a
cidade ou um dos seus monumentos expressam e reproduzem a ordem cósmica. O espaço da
cidade medieval apresenta-se como um espaço cheio de símbolos religiosos e o mesmo pode
ser dito do espaço perspectiva do Renascimento. O capitalismo gera um espaço homogéneo e
fragmentado: homogéneo, porque tudo nele é equivalente e objecto de troca, e fragmentado,
porque está dividido em pedaços e parcelas que se vendem segundo os critérios estabelecidos
pela renda do solo. O habitat moderno gera alienação e desigualdades sociais. As tensões
relacionadas com a satisfação incompleta das necessidades e do Desejo crescem a um tal
ritmo que a multitude visível de objectos e a multitude invisível das necessidades ocupam
todo o espaço. A sociedade moderna perdeu a utopia da apropriação colectiva da natureza
como condição indispensável da apropriação individual. A natureza, força produtiva e produto
das sociedades anteriores, transforma-se continuamente graças ao trabalho do homem. A
sociedade capitalista domina e devasta a natureza. O espaço dominado define-se por oposição
ao espaço apropriado: o espaço dominado é um espaço natural transformado pela técnica e
pela política em função da ideia de centralidade total imposta pelas autoridades estatais
(técnicos, planificadores), enquanto o espaço apropriado é um espaço natural modificado para
servir as necessidades e as possibilidades de um grupo social que se apropria dele. O resultado
desta estratégia de dominação técnica e política é o bloqueamento do desenvolvimento
histórico do espaço urbano. A cidade transforma-se em lugar de violência e a centralidade
total expulsa os deserdados para as periferias, ao mesmo tempo que alimenta o movimento de
fuga para a natureza. O espaço diferencial manifesta-se neste espaço capitalista como uma
tendência ou uma possibilidade que ainda não está plenamente realizada, embora se insinue
em todos os níveis da vida urbana: a casa, a escola, o bairro e a cidade revelam diferenças que
o espaço abstracto procura encobrir e ocultar. O espaço diferencial reúne o que está dividido,
nomeadamente o público e o privado, demolindo as separações que exprimem o domínio de
um espaço sobre outro espaço, como sucede com a separação entre o centro e a periferia.
(Fim da série de posts dedicada aos estudos urbanos de Henri Lefebvre.)

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