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“A burguesia submeteu o campo à cidade. Ela fez surgir enormes cidades; ela aumentou
prodigiosa-mente a população das cidades à custa das do campo, arrancando assim uma
grande parte da população ao embrutecimento da vida rural. Da mesma maneira que
submeteu o campo à cidade, ela sujeitou os países bárbaros aos países civilizados, as nações de
camponeses às nações burguesas, o Oriente ao Ocidente. /A burguesia elimina, cada vez mais,
a dispersão dos meios de produção, da propriedade e da população. Ela aglomerou a
população, centralizou os meios de produção e concentrou a propriedade num pequeno
número de mãos. A consequência fatal destas mudanças foi a centralização política. Províncias
independentes ou apenas federadas entre si, tendo interesses, leis, governos, tarifas
alfandegárias diferentes, foram agrupadas e fundidas numa única nação, sob um único
governo, sob uma única lei, com um só interesse nacional de classe, por detrás de uma única
barreira alfandegária». (Marx/Engels)
À praxis industrial sucede a praxis urbana, cuja missão histórica é realizar plenamente
a sociedade urbana, não já definida em termos de mera apropriação colectiva e individual da
natureza, mas sim em termos de segunda natureza. Lefebvre atribui um papel importante aos
intelectuais no movimento revolucionário urbano, destacando a tricotomia habitantes-
artistas-autoridades em vez da classe operária. As elites intelectuais - filósofos, artistas,
literatos e cientistas - devem indicar às massas a impossibilidade de viver num espaço gerido
pelas leis da massificação e pelos critérios restritivos da quantidade, de modo a induzir um
espírito de mudança enraizado na dimensão espacial e temporal da vida quotidiana - o mundo
da vida de Husserl, Schutz e Habermas -, capaz de construir o urbano como obra (de arte) e de
modelar a sociedade segundo os seus desejos ou segundo o seu Desejo.
Anthony Giddens considera que a nossa sociedade vive para lá do fim da natureza, não
no sentido do mundo físico e dos processos físicos terem deixado de existir, mas no sentido de
existirem poucos aspectos do ambiente natural que nos rodeia que não tenham sido afectados
e modificados pela intervenção do homem, porque, como mostrou Lefebvre, a natureza foi
reduzida ao longo da história humana a "matéria-prima" sobre a qual actuaram as sociedades
e os respectivos modos de produção para produzir o seu espaço.
Cada sociedade produz o seu espaço e este espaço inclui as relações sociais de
reprodução e as relações de produção. O neocapitalismo moderno complexifica o espaço
social, dotando-o de uma tripla-relação: a reprodução biológica, a reprodução da força de
trabalho e a reprodução das relações sociais de produção. O espaço entendido como produto
de um processo produtivo tem uma história: história da sua produção, das suas formas e das
suas representações determinada pelo desenvolvimento das forças produtivas e das relações
de produção. Numa primeira aproximação, Lefebvre elabora uma sequência de cinco tipos de
espaço que, mais tarde, especifica em função da periodização histórica dos modos de
produção: o espaço absoluto, o espaço histórico, o espaço abstracto, o espaço contraditório e
o espaço diferencial. O espaço absoluto é o lugar natural pré-seleccionado pela sua
consagração, mediante a qual é transformado em símbolo ou em parte de um rito: as forças
políticas que ocupam esse espaço consagrado apropriam-se, administrando-a, da produção
daqueles que criaram o espaço. Sacerdotes, escribas, guerreiros e príncipes usurpam o espaço
e dominam os camponeses e os artesãos. As contradições inerentes às relações sociais de
produção conduzem à passagem para outro modo de produção e o espaço-comunidade de
sangue dá lugar ao espaço histórico, um espaço relativizado e animado por um sujeito
colectivo: a cidade histórica ocidental. A actividade produtiva separa-se da reprodução que
perpetua a vida social e torna-se escrava da abstracção: trabalho social abstracto, espaço
abstracto. O espaço abstracto - enquanto espaço produzido pelo capitalismo - não se define
apenas pelo desaparecimento das árvores, pelo distanciamento da natureza, pelos vazios
estatais ou militares, pelas praças-encruzilhadas ou pelos centros comerciais onde confluem as
mercadorias, o dinheiro e os automóveis, mas sobretudo pela sua abstracção que esconde, no
seu sistema reticular, a vigilância do poder político: "O capitalismo ressurgente do século XVII
tratou terrenos, quarteirões, ruas e avenidas como unidades abstractas destinadas à compra e
venda, desprezando os usos históricos, as condições topográficas ou as necessidades sociais"
(Lewis Mumford). A uniformidade absoluta dos lotes resulta da equiparação do valor da terra
ao do dinheiro. O espaço social moderno é usado pelas classes dirigentes como instrumento
polivalente para desmembrar e dispersar as classes dominadas e para controlar e regular a
sociedade através da organização tecnocrática dos fluxos económicos, financeiros e sociais que
definem a cidade moderna. A divisão social e técnica do trabalho é plasmada nesse espaço
urbano, complexo e quotidiano, que assegura, em grande medida, a reprodução das relações
de produção, dissociando o desejo e as necessidades e fornecendo à classe média
representações tranquilizadoras que lhe garantem um lugar rotulado e assegurado. No
entanto, no seio desse espaço urbano abstracto emergem novas contradições, das quais a
mais importante é a contradição existente entre a possibilidade teórica de controlar
globalmente o desenvolvimento do espaço e o seu parcelamento dependente das leis da
economia de mercado. Deste modo, o espaço de contradição antecipa o espaço diferencial
como antítese do espaço abstracto.