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William L. Rowe
Tradução de Vítor Guerreiro
Revisão Científca de Desidério Murcho
Para a Peggy
Índice
1. A ideia de Deus 19
2. O argumento cosmológico 39
3. O argumento ontológico 63
4. O argumento do desígnio (o antigo e o novo) 87
5. Experiência mística e religiosa 109
6. Fé e razão 139
7. O problema do mal 169
8. Milagres e a mundividência moderna 199
9. Vida depois da morte 219
10. Predestinação, presciência divina e liberdade humana 241
11. Muitas religiões 263
11
ntrodução à Filosoa da Religião
12
Agradecimentos
W.L.R.
13
Introdução
Temos de contar a religião, sem dúvida, juntamente com a arte e a ciência, entre
os aspectos mais undamentais e ubíquos da civilização humana. Como tal, é
digna do escrutínio e do estudo mais cuidadosos. Mas a religião é um aspecto
tão complexo da vida humana e de tão vastas consequências que jamais uma
só disciplina poderá estudá‑la exaustivamente. Por isto se estuda a religião em
dierentes disciplinas: losoa, história, antropologia, sociologia, psicologia.
A losoa da religião é um dos ramos da losoa, como a losoa da
ciência, a losoa do direito e a losoa da arte. Podemos compreender
melhor o que é a losoa da religião começando pelo que não é. Em pri‑
meiro lugar, não se pode conundir a losoa da religião com o estudo da
história das principais religiões de acordo com as quais os seres humanos
têm vivido. Ao estudar a história de uma religião particular — o cristianismo,
por exemplo — leríamos algo sobre a sua srcem a partir do judaísmo, a vida
de Jesus, a emergência da igreja cristã no seio do império romano, o desen‑
volvimento das doutrinas características da é cristã. Pode‑se levar a cabo
estudos semelhantes a respeito de outras religiões importantes: judaísmo,
islamismo, budismo, hinduísmo . Embora tais estudos sejam importantes
para a losoa da religião e por vezes possa haver sobreposição de ambas as
áreas, não as podemos conundir.
Em segundo lugar, não se pode conundir a losoa da religião com a
teologia. A teologia é uma disciplina em grande medida interior à religião.
15
ntrodução à Filosoa da Religião
16
ntrodução
17
ntrodução à Filosoa da Religião
18
Capítulo 1
A ideia de Deus
19
ntrodução à Filosoa da Religião
20
A ideia de Deus
velhote no Céu», surgiu uma ideia de Deus muito mais sosticada, a que
Robinson se reere como a ideia de Deus «lá ora».
Mudar do Deus «lá em cima» para o Deus «lá ora» é mudar de uma
concepção de Deus como um ser localizado no espaço a uma certa distância
da Terra para uma concepção de Deus como algo distinto e independente do
mundo. Segundo esta ideia, Deus não está em qualquer local ou região do
espaço ísico. É um ser puramente espiritual, um ser pessoal, pereitamente
bom, omnipotente, omnisciente, que criou o mundo, mas não az parte dele.
É distinto do mundo, não está sujeito às suas leis, julga ‑o, orienta‑o para
o seu desígnio nal. Esta ideia bastante majestosa de Deus oi lentamente
desenvolvida ao longo dos séculos por grandes teólogos ocidentais c omo
Agostinho, Boécio, Boaventura, Avicena, Anselmo, Maimónides e Tomás. Tem
sido a ideia dominante de Deus na civilização ocidental. Se rotulamos o Deus
«lá em cima» como «o velhote no Céu», podemos rotular o Deus «lá ora»
como «o Deus dos teólogos tradicionais». E é o Deus dos teólogos tradicio‑
nais que Robinson considera ter‑se tornado irrelevante para as necessidades
das pessoas de hoje em dia. Quer Robinson tenha ou não razão — e é muito
duvidoso que tenha — é inegavelmente verdade que quando nós, que herdá‑
mos maioritariamente a cultura da civilização ocidental, pensamos em Deus,
o ser em que pensamos é em muitos aspectos importantes parecido com o
Deus dos teólogos tradicionais. Será útil, portanto, ao claricar as nossas
próprias ideias acerca de Deus, explorar com maior detalhe a concepção de
Deus que surgiu no pensamento dos grandes teólogos.
O O
21
Capítulo 2
O argumento cosmológico
39
ntrodução à Filosoa da Religião
meiro, Tomás começa pelo acto de haver coisas no mundo que soremmudan‑
ças e conclui que tem de haver uma causa última da mudança, que seja ela
própria imutável. No segundo, começa pelo acto de haver coisas no mundo
cuja existência é claramente causada por outras coisas e conclui que tem de
haver uma causa última de existência, cuja existência seja incausada. No ter‑
ceiro argumento, Tomás começa pelo acto de haver coisas no mundo que não
têm sequer de existir, coisas que existem mas que acilmente imaginamos que
poderiam não existir, concluindo que há um ser quetem de existir, que existe
e que não poderia não existir. Poder‑se‑ia agora objectar que mesmo que os
argumentos de Tomás provassem para lá de qualquer dúvida a existência de um
motor imóvel, de uma causa incausada e de umser que não poderia não existir,
esses argumentos não conseguem provar a existência do Deus teísta. Pois o Deus
teísta, como vimos, é pereitamente bom, omnipotente, omnisciente e criador
do mundo, mas distinto e independente deste. Como sabemos, por exemplo,
40
O argumento cosmológico
41
Capítulo 3
O argumento ontológico
11. Alguns lósoos pensam que Anselmo apresenta um argumento dierente e mais
cogente no Capítulo 3 do seuProslogium. Para este ponto de vista, ver Charles Hart‑
shorne, Anselm’s Discovery (La Salle, L: Open Court Publishing Co., 1965) e Norman
Malcom, «Anselm’s Ontological Arguments»,Te Philosophical ReviewL, n.º 1
(1960), pp. 41‑62. Para uma explicação esclarecedora das intenções de Anselmo no
Proslogium, e , e em recentes interpretações de Anselmo, ver o ensaio de Arthur C.
McGill, «Recent Discussions o Anselm’s Argument» em Te Many‑Faced Argument,
org. John Hick e Arthur C. McGill (Nova orque: e MacMillan Co., 1967), pp. 33 ‑110.
[Santo Anselmo, Proslogion, trad. Costa Macedo, Porto: Porto Editora, 1996.]
63
ntrodução à Filosoa da Religião
ras. A ideia, contudo, continuou a assombrá‑lo até que um dia se lhe tornou
clara a prova que procurara tão arduamente. É esta prova que Anselmo apre‑
senta no segundo capítulo do Proslogium.
OO fm
Coisasqueexistem Coisasquenãoexistem
O EmpireStateBuilding A Fonte da Juventude
Cães Unicórnios
O planeta Marte O Abominável Homem das Neves
Cada uma das coisas (ou géneros de coisas) apresentadas até agora tem a
seguinte característica: logicamen te, podia estar no outro lado da linha.
A Fonte da Juventude, por exemplo, está no lado direito da linha maslogica‑
mente nada há de absurdo na ideia de que a Fonte da Juventude podia estar
no lado esquerdo. De igual modo, embora os cães existam, podemos segura‑
mente imaginar, sem cair em qualquer absurdo lógico, que os cães podiam
não ter existido: podiam estar no lado direito da linha. Registemos então
esta característica das coisas até agora apresentadas, introduzindo a ideia de
coisa contingente: algo que podia logicamente estar no lado da linha oposto
ao lado onde eectivamente está. O planeta Marte e o Abominável Homem
das Neves são coisas contingentes apesar de o primeiro existir e o último não.
64
O argu mento ontológico
65
Capítulo 4
O argumento do desígnio
(o antigo e o novo)
Olhai o mundo em volta: contemplai o todo e cada parte: descobrireis que não
é senão uma enorme máquina, subdividida num número innito de máquinas
menores, que por sua vez se subdividem para lá do que os sentidos e aculdades
humanos conseguem seguir eexplicar. Todas estas diversas máquinas, emesmo as
suas partes mais diminutas, ajustam‑se entre si com uma precisão que deixa estu‑
peactos todos os homens que já as contemplaram. A curiosa adaptação de meios
a ns em toda a natureza assemelha‑se exactamente, embora em muito os exceda,
aos produtos do engenho humano; do desígnio, do pensamento, da sabedoria e
da inteligência humanos. Visto que, portanto, os eeitos se assemelham entre si,
somos levados a inerir, segundo todas as regras da analogia, que as causas tam‑
bém se assemelham; e que o Autor da Natureza é de algum modo similar à mente
do homem, embora detentor de aculdades muito mais vastas, proporcionais à
grandiosidade da obra que executou. Com este argumento a posteriori, e apenas
87
ntrodução à Filosoa da Religião
24. David Hume, Dialogues Concerning Natural Religion , , org. H.D. Aiken (Nova
orque: Haner Publishing Company, 1948), p. 17. [ Diálogos sobre a Religião Natural,
trad. Álvaro Nunes, Lisboa: Edições 70, 2005.]
88
O argu mento do desígnio (o antigo e o novo)
89
Capítulo 5
Experiência mística e religiosa
109
ntrodução à Filosoa da Religião
«Sou Jesus, a quem persegues; mas levanta‑te e entra na cidade, e dir ‑te‑ão
o que tens de azer.» Os homens que viajavam com ele caram sem palavras,
ouvindo a voz mas não vendo quem quer que osse. Saulo levantou‑se do chão
e, quando os seus olhos se abriram, não conseguia ver; então levaram ‑no pela
mão e trouxeram‑no para Damasco. E durante três dias continuou sem ver e
não comeu nem bebeu.
110
Experiência mística e religiosa
Embora a experiência de Saulo seja claramente religiosa, não nos dizo que
é uma experiência religiosa, nem nos dá uma caracterização pela qual possa‑
mos distinguir a experiência religiosa da nãoreligiosa. Não é preciso ver uma
luz ouscante nem ouvir uma voz para ter uma experiência religiosa. Além
disso, ver uma luz ouscante eouvir uma voz apenas não basta para azer uma
experiência religiosa. Como caracterizaremos então a experiência religiosa?
111
Capítulo 6
Fé e razão
A questão central que tem ocupado a nossa atenção desde o primeiro capí‑
tulo é a de haver ou não undamentos racionais que sustentem as armações
undamentais das religiões teístas. Até agora a nossa preocupação oi o estudo
das razões que requentemente se dá a avor da armação de que o deus teísta
existe. Na sua ormulação mais geral, a questão central que temos vindo a
tratar é a seguinte: será que a razão estabelece a verdade do teísmo (ou a sua
probabilidade)? Para tal, observámos com algum cuidado os indícios a avor
do teísmo veiculados pela experiência religiosa e os argumentos tradicionais
a avor da existência de Deus. Assim, para caracterizar a abordagem que
adoptámos, podemos armar ter avançado com base em dois pressupostos:
em primeiro lugar, pressupusemos que se devem ajuizar as crenças religio‑
sas, do mesmo modo que as crenças cientícas e históricas, no tribunal da
razão; em segundo lugar, pressupusemos que as crenças religiosas só serão
aprovadas no tribunal da razão quando orem adequadamente sustentadas
por indícios avoráveis. Chegou o momento de deitar um olhar crítico aos
dois pressupostos.
Contra o nosso primeiro pressuposto, arma‑se requentemente que só
se podem aceitar crenças religiosas com base nafé e não na razão. No mínimo,
portanto, temos de considerar o que é a é e se é racional ou irracional aceitar
crenças religiosas com base nela. Contra o segundo pressuposto, observa ‑se
que nem toda a crença aprovada no tribunal da razão o pode ser em virtude
139
ntrodução à Filosoa da Religião
de se apoiar noutra crença, que seja um indício a seu avor. Arma‑se que
algumas das nossas crenças sãoracionais (são aprovadas no tribunal da razão)
ainda que não as adoptemos com base em quaisquer outras crenças que pos‑
sam ser indícios a seu avor. Se isto or verdade (e penso que é), temos de
considerar a questão de as crenças religiosas poderem ou não integrar esta
categoria e serem portanto aprovadas no tribunal da razão, mesmo na ausên‑
cia de indícios avoráveis, dados por outras crenças que adoptamos.
ç gO fé
140
Fé e razão
141
Capitulo 7
O problema do mal
169
ntrodução à Filosoa da Religião
O Om ógO
170
O problema do mal
stabelecendo a inconsistência
Como podemos estabelecer que duas armações são inconsistentes entre si?
Por vezes não é preciso estabelecer seja o que or, porque as duas armações
contradizem ‑se explicitamente, como, por exemplo, as armações: «Eli‑
sabete tem mais de um metro e meio» e «Elisabete não tem mais do que
um metro e meio». É requente, contudo, duas armações inconsistentes
entre si não serem explicitamente contraditórias. Nesses casos podemos
171
Capítulo 8
Milagres e a mundividência moderna
199
ntrodução à Filosoa da Religião
93. Rudol Bultmann, kerygma and Myth(Nova orque: Harper & Row Publishers, 1961),
p. 5. Sublinhados meus.
200
Milagres e a mundividência moderna
94. Ibid., p. 5.
201
Capítulo 9
Vida depois da morte
v mO
219
ntrodução à Filosoa da Religião
um antasma mas sem qualquer vida real». O que sobrevive é apenas uma
sombra da pessoa que em tempos viveu na Terra. Na morte, o espírito de um
ser humano assume uma orma de existência persistente no Hades, a terra
dos mortos. Comparada com a vida antes da morte, contudo, a vida depois da
morte é vista como uma orma mais pobre de existência. Assim diz Homero
pela boca do poderoso Aquiles: «Não venhas com uma conversa doce sobre
a morte, Ulisses, luz das assembleias. Digo que é melhor lavrar a terra como
trabalhador assalariado para algum camponês pobre, vivendo de alimentos
racionados, do que governar sobre todos os esgotados mortos». A crença
homérica na imortalidade, portanto, é uma crença num género de sobrevi‑
vência à morte corpórea. Mas o que sobrevive aparentemente não é senão
uma sombra da mente e da alma que habitam o corpo terreno.
A concepção platónica da imortalidade envolve o abandono da ideia
homérica de que só os deuses são imortais. Também os seres humanos, do
ponto de vista de Platão, são verdadeiramente imortais. Os seus corpos,
como é óbvio, perecem com a morte. Mas não há propriamente uma iden‑
ticação entre a pessoa e o seu corpo; a pessoa é a alma humana, e a alma é
aquele algo espiritual em nós que raciocina, imagina e recorda. Enquanto
dura a sua vida terrena, a alma está ligada a um corpo particular, ou aprisio‑
nada nele. Mas com a morte ísica a alma escapa ao cárcere do corpo e alcança
o seu verdadeiro estado de vida interminável. No seu diálogo, Fédon, Platão
desenvolve dramaticamente estas ideias. Sócrates,que oi condenado a beber
o veneno da cicuta, encontra‑se pela última vez com os seus seguidores e
argumenta a avor da perspectiva de que ele não é o seu corpo mas que na
verdade é uma alma espiritual no seu corpo, que a alma é indestrutível e,
portanto, imortal, e que a vida da alma depois da morte corpórea é superior
106. Homero, Iliad, livro 23, trad. W.H.D. Rouse (Nova orque: e New American Library,
1950), p. 267. [Ilíada, trad. Frederico Lourenço, Lisboa: Livros Cotovia, 2005.]
107. Homero, Odyssey, livro 11, trad. Robert Fitzgerald (Garden City, NY: Doubleday &
Company, nc., 1963), p. 201. [ Odisseia, trad. Frederico Lourenço, Lisboa: Livros
Cotovia, 2003.]
220
Vida depois da morte
108. Platão, Phaedo, 115 C, D, em Plato: Te ast Days of Socrates, trad. Hugh Tredennick
(Baltimore, MD: Penguin Books, 1954), p. 179. Fédon,
[ trad. Maria Teresa Schiappa de
Azevedo, Coimbra: Minerva, 1998.]
221
Capítulo 10
Predestinação, presciência divina
e liberdade humana
241
ntrodução à Filosoa da Religião
naquele momento particular da minha vida? Como pode dar ‑se o caso de
aqueles que rejeitam o caminho de Deus o azerem por livre‑arbítrio, se Deus,
desde a eternidade, os destinou a rejeitar este caminho? O próprio credo de
Westminster parece reconhecer estadiculdade. Pois na linha seguinte lê‑se:
«No entanto […] por este meio nenhuma violência se exerce sobre a vontade
das criaturas».
Durante algum tempo aceitei simultaneamente a predestinação divina
e a liberdade e a responsabilidade humanas. Ainda que não conseguisse ver
como ambas podiam ser verdadeiras, sentia que ambas podiam ser verdadei‑
ras, pelo que as aceitei com base na é. Mas quanto mais pensava no assunto
mais me parecia que isso não podia ser. sto é, cheguei à perspectiva, correcta
ou incorrectamente, de que não só era incapaz de ver como ambas podiam
ser verdadeiras como conseguia ver que não podiam ambas ser verdadeiras.
Abandonei lentamente a crença de que Deus decretara desde a eternidade
tudo o que acontece. Ao invés, adoptei a perspectiva de que Deus sabe desde a
Talvez seja melhor começar pela ideia de liberdade humana. Porquanto, como
veremos, esta ideia oi compreendida de duas maneiras muito dierentes,
e a maneira que adoptarmos az muita dierença para o tópico em causa.
Segundo a primeira ideia,agir livremente consiste em fazer o que se quer ou
escolhe fazer. Se o leitor quer sair do quarto mas o impedem, pela orça, de
242
Predestinação, presciência divina e liberdade humana
o azer, certamente concordamos que car no quarto não é algo que o leitor
aça livremente. Não ca no quarto de livre vontade porque isso não é o que
escolheu ou quis azer; trata‑se de algo que acontece contra a sua vontade.
Suponha‑se que aceitamos esta primeira ideia de liberdade humana,
segundo a qual agir livremente consiste em azer o que se quer ou escolhe azer.
O problema da predestinação divina e da liberdade humana acaba então por
não ser um grande problema sequer. Porque não? Bem, para tomar o exemplo
da minha conversão juvenil: esta oi livre se oi algo que quis azer, que escolhi
azer e que não z contra a minha vontade. Suponhamos, como creio que seja
verdade, que a minha conversão oi algo que escolhi eque quis azer. Haverá
alguma diculdade em acreditar também que desde a eternidade Deus decretou
que naquele momento particular da minha vida eu me converteria? Não parece.
Porquanto Deus podia simplesmente ter predestinado também que naquele
momento particular da minha vida euquereria escolher Cristo, quereria seguir
o caminho de Deus. Sendo assim, portanto, segundo a nossa primeira ideia de
liberdade humana, o meu acto de conversão oi um acto livre da minha parte e
oi simultaneamente predestinado por Deus desde a eternidade. Na nossa pri‑
meira ideia de liberdade humana, portanto, não parece haver qualquer confito
real entre a doutrina da predestinação divina e a liberdade humana.
Será correcta a primeira ideia de liberdade humana? Uma razão para
pensar que não oi dada pelo lósoo inglês John Locke (–). Locke
pede que suponhamos que se leva um homem enquanto dorme para um
quarto. A porta, que é a única saída do quarto, é então rmemente trancada
a partir do exterior. O homem não sabe que a porta está trancada, não sabe,
portanto, que não pode abandonar o quarto. Acorda, dá consigo no quarto,
olha em volta, e repara que há pessoas amigáveis, com quem gostaria de
conversar. Assim, decide car no quarto em vez de sair.
122. John Locke, An Essay Concerning Human Understanding, livro , Cap. , par. 10,
org. Peter H. Nidditch (Londres: Oxord University Press, 1975), p. 238.Ensaio
[ Sobre
o Entendimento Humano, trad. Eduardo Abranches de Soveral, Lisboa, Fundação
Calouste Gulbenkian, 1999.]
243
Capítulo 11
Muitas religiões
263
ntrodução à Filosoa da Religião
Depressa acorro
A todos os que me oerecem
Cada acção,
Só a mim venerem,
264
Muitas religiões
265
Glossário de conceitos e ideias importantes
281
ntrodução à Filosoa da Religião
Ser impossível: Um ser que não existe e não pode logicamente existir.
Ser necessário: Um ser que existe e não pode logicamente deixar de existir.
Ser possível: Um ser que ou existe ou podia logicamente existir.
Ser que existe no entendimento: Um ser no qual pensamos.
Ser que não está em acto: Um ser que não existe.
eísmo: Crença na existência de um Deus pereitamente bom, criador do
mundo, distinto e independente do mundo, omnipotente, omnisciente,
eterno e auto‑existente.
Argumento a posteriori: Argumento tal que nem todas as suas premissas bási‑
cas são proposiçõesa priori (de modo equivalente: pelo menos uma das
suas premissas básicas é uma proposição a posteriori).
Argumento a priori: Argumento tal que todas as suas premissas básicas são
282
Glossário de conceitos e ideias importantes
283
ntrodução à Filosoa da Religião
284
Glossário de conceitos e ideias importantes
Princípio de credulidade: Se uma pessoa tem uma experiência que parece ser
de x, então, a menos que haja uma razão para pensar de outro modo, é
racional acreditar que x existe.
ese da unanimidade: Os místicos de dierentes religiões têm basicamente
todos a mesma experiência.
O 6: fé zO
Analogia Deus‑pai: Deus é para os seres humanos como os bons pais são para
os seus lhos, a quem amam. Os bons pais, contudo, azem o melhor que
podem para conortar e acompanhar os seus lhos quando estes sorem
por razões que não compreendem.
Ateu amigável: Um ateu que pensa que uma pessoa pode ter justicação
racional para acreditar que o Deus teísta existe.
Ateu hostil: Um ateu que pensa que ninguém tem justicação racional para
acreditar que o Deus teísta existe.
285
ntrodução à Filosoa da Religião
Defesa do livre ‑arbítrio : Deus, embora omnipotente, pode não ter sido
capaz de criar um mundo com criaturas humanas livres sem com isso
permitir a ocorrência de um mal considerável.
Desvio de G. E. Moore : nverter o argumento, começando pela negação da
conclusão e concluindo com a rejeição da premissa crucial.
Mal sem sentido: Um mal que Deus (se existe) podia ter impedido sem com
isso perder um bem superior ou ter de permitir um mal igual ou pior.
Ocultamento de Deus: Ausência de Deus na experiência humana, em parti‑
cular na experiência de seres humanos que sorem por razões que não
compreendem.
Pressuposto da defesa do livre‑arbítrio: É logicamente impossível que uma
pessoa realize livremente um acto qualquer tendo sido causalmente
determinada a realizá‑lo.
Problema indiciário do mal: A armação de que o mal no nosso mundo dá
sustentação racional à crença de que Deus não existe.
Problema lógico do mal: A armação de que a existência de Deus e a existên‑
cia do mal são logicamente inconsistentes entre si.
Resposta do teísmo céptico: Não se mostrou que é provável que exista mal
sem sentido, dado não haver qualquer boa razão para pensar que temos
conhecimento dos bens que Deus conhece.
eísta amigável: Um teísta que pensa que uma pessoa pode ter justicação
racional para acreditar que o Deus teísta não existe.
eísta hostil: Um teísta que pensa que ninguém tem justicação racional para
acreditar que o Deus teísta não existe.
eodiceia: Tentativa de explicar quais poderão ser os propósitos de Deus em
permitir a abundância do mal no nosso mundo.
286
Glossário de conceitos e ideias importantes
287
ntrodução à Filosoa da Religião
288
Glossário de conceitos e ideias importantes
289
Leitura complementar
, Marilyn, Horrendous Evils and the Goodness of God, thaca, Nova
orque: Cornell University Press, .
, Williams P.,Divine Nature and Human anguage: Essays in Philo‑
sophical Teology, thaca, Nova orque: Cornell University Press, .
, Williams P.,Perceiving God: Te Epistemology of Religious Expe‑
rience, thaca, Nova orque: Cornell University Press, .
, Michael J., Darwin’s Blac Box: Te Biochemical Challenge to Evo‑
lution, Nova orque: e Free Press, .
, C.D., Religion, Philosophy and Psychical Research, Nova orque:
Humanities Press, .
, Peter, Prolegomena to Religious Pluralism, Nova orque: St. Martin’s
Press, .
I, William Lane e Quentin Smith, Teism, Atheism and Big Bang Cos‑
mology, Oxord: Clarendon Press, .
I, William Lane, Te kalam Cosmological Argument, Nova orque: Bar‑
nes & Noble Books, .
I, Stephen T.,ogic and the Nature of God, Grand Rapids, M: Eerdmans,
.
I , W.A., No Free unch: Why Specied Complexity Cannot Be
Purchased Without Intelligence, Lanham, MD: Rowman & Littleeld,
.
290
Leitura complementar
291
ntrodução à Filosoa da Religião
I, Nelson,Religion and Rationality, Nova orque: Random House, nc., .
I , Alvin, Does God Have a Nature?, Marquette, W: Marquette
University Press, .
I, Alvin, God, Freedom and Evil , Nova orque: Harper & Row
Publishers, .
, Michael, World Without Design: Te Ontological Consequences of
Naturalism, Oxord: Oxord University Press, .
, William L., Can God be Free?, Oxord: Oxord University Press, .
, William L., Te Cosmological Argument, Princeton University Press,
. Reimpresso (com novo preácio)pela Fordham University Press,.
I, Wilred Cantwell, owards a World Teology, Filadéla: Westminster
Press, .
I, Richard, Será Que Deus Existe?, Lisboa: Gradiva, .
I, Charles e Griths, Paul J., orgs.,Filosoa das Religiões, Lisboa:
Piaget, .
II, William J.,Mysticism: A Study of Its Nature, Cognitive Value
and Moral Implications, Madison, W: University o Wisconsin Press, .
II, William J.,Reason and the Heart, thaca, Nova orque: Cornell
University Press, .
II, William J., Religion and Morality, Aldenshot, nglaterra: Ash‑
gate Publishing Co., .
I, Edward R., Te Nature of God: An Inquiry into Divine Attributes,
thaca, Nova orque: Cornell University Press, .
, Keith, Christianity and Philosophy, Grand Rapids, M: Eerdmans,
.
, Keith, Te Epistemology of Religious Experience, Cambridge:
Cambridge University Press, .
292