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Argelina Cheibub Figueiredo DEMOCRACIA QU ‘REFORMAS? ‘Alternativas democraticas acrise politica: 1961-1964. Tradugio Carlos Roberto Aguiar | | INTRODUGAO ‘Uma questao cléssicae ainda nao resolvida da teoria demo- cratica e-das sociedades liberais ¢ a tensio entre democracia polf- tica e desigualdade econémica e social. A historia tem demonstrado que procedimentos e institui- _gfes democréticos nfo resultarn em uma reparticao justa de bem- estar. As democracias attiais enfrentam grandes desigualdades, ¢ aquelas que aleancaram maior justica social o fizeram muito len- tamente, em conseqiiéncia de mudancas graduais. ritmo lento de mudangas sécio-econémicas sob institui- ‘Gdes democraticas deve-se, talvez, a algumas de suas caracteristi- cas fundamentais — particularmente a competi¢ao politica e a regra da maioria. Nos perfodos em que a redistribuicdo econé- ‘mais, o jd lento ritmo das mudancas sécio-econdmicas sob instituicdes democraticas.! ‘Ambes, Levine (1978) e Karl (1986), demonstram que, na Venezuela, durante a No inicio dos anos 60, a sociedade brasileira defrontou-se com esse dilema. Nesse periodo, um conjunto de reformas politicas ¢ sécio-econémicas tornou-se prioritério na agenda politica, © as instituicdes democraticas do pais ruiram sob a pressio.de forcas polarizadas e radicalizadas a favor e contra a mudanca social Neste estudo investigarei as possibilidades de sucesso de solugSes politico-institucionais que, dadas as condicdes vigentes, pudessem combinar democracia com reformas sociais. Em con. traste com as explicagées predominantes sobre o golpe de 1964, enfatizarei a interacio estratégica entre os atores relevantes, espe- “ cialmente aqueles que buscavam mudanca. Minha pressuposigad ~ central € a de que o regime autoritério instalado em 1964, no no foi o resultado de uma todo-poderosa conspiracio ta contra o regime anterior. Tampouco foi a conseqiiéncia vel de fatores estruturais politicos e/ou econdmicos, al- guns dos quais jé atuavam quando, em 1961, um golpe militar foi abortado. Através da reconstrucio das possibilidades que esta- vam abertas & acdo politica naquele'contexto hist6rico especifico, bem como das oportunidades perdidas,. tentarei avancar no de- bate entre as abordagens estruturais e a abordagem estratégica do problema da mudanga politica, ee se Na segio que segue, examinarei brovemente as principais explicagées da mudanga de regime ocorrida em 1964, com 0 obje- tivo de introduzir algumas das questées teéricas e metodolégicas que sio objeto de preocupacio neste estudo. BREVE REVISAO DA LITERATURA Na literatura existente sobre o golpe de 1964, podemos iden- {ificar dois tipos de explicagies: a estrutural e a irtencional ou “orientada-para-o-ator” As explicacdes estruturais podem ser divididas em dois ‘pos: aquelas que enfatizam o papel de fatores econémicos na determinagao dos eventos analisados e aquelas que acentuam 0 2 ide democritica foi assegurada & custa de refortis & de fatores politicos e institucionais. As explicacées estrutu- eer a politica como a etondmica, apontam para'a inevitabi- - dade de um resultado autoritério, Por esta ra7H0, Podem ser vistas como argumentos estruturalistas extremados, que susten- oplige agegetars oro derrrmpen tore tém por efeito reduzir o conjunto. possivel de agées para um ‘nico ponto” (Elster, 1979, p. 113). A margem deixada para es- colha tao pequena que a propria escolha tomna-se irrelevante, € ago, jientemente, va. aaa teaballos de C/Donnell (1972. ¢ 1975) e Cardoso (4973) destacam-se entre aqueles que enfatizam os fatores econémicos. O'Donnell oferece um modelo.complexo exibindo as conexdes entre estigios de industrializagdo e regimes autoritarios? De acorde com O'Donnell, a medida que a substituicio de importa~ ses-se “aprofunda”, 0 processo de industrializagao atinge um pponto exitco,a partir do qual o erescimento econémico posterior depende de formas autoritérias de regulacao do conflito.” Ele nao enfrenta, propositalmente, a questo da inevitabilidade do resul- ado autoritério, argumentando que existe apenas uma “afini- —- dade eletiva” entre estes dois feriémenos (O'Donnell, 1979, p. 206). Entretanto, sew argumento central funda-se. num pressuposto, implicito que encerra a nogio de necessidade, oy Cardoso oferece uma visio mais claramente determinista, “Afirma que 6 processo de acumulagao exige o desmantelamento dos instrumentos de pressio e defesa disponiveis as classes po- pulares. O autoritarismo decorrente foi, portanto, inevitével por- que “se tornava necessirio reestruturar os mecanismos de acu- avangos jé obtidos rio. desenv (aie 1825 9.287 ; f Estas explicagdes econdmicas jé foram devidamente con- testadas no que se refere as evidéncias empiricas que as susten- tam Uma critica metodolégica a esta abordagem deve ser tam- 2. Collier fomece uma bela representagio exiticn dos argumentos de O'Donnell, felerenies&conergtcia do “atoriarismo busoertico” (197 p. 28) 3, Para argumentagdo mais detalnada& espllo deste astinto, Ver Wallerstein 60, pp. 7D) 1. Shee Ber tiscaman (17) Sea 197 « Warten 1560, 2B ‘bém Jevada em conta, a saber, que estas anélises presumem wma coincidéncia perfeita entre requisites estruturais e agdes indivi- duais ou grupais, sem especificar 0 mecanismo através do qual a “mecessidade” se realiza na agdo. No espitito desta tltima critica, Santos enfatiza a necessi- dade de incorporar varidveis politicas aos esquemas explicativos. Por isso constréi um modelo baseado na premissa de que 05 “conflitos econémicos e sociais geram impactos pela mediacao da io politicas, E sobretudo a estrutura do con- que importa para o resultado de qualquer 1a sociedade como um todo” (Santos, 1986, p. 22). Para Santos, o golpe de 1964 nao foi uma reagio a medidas subs- tantivas tomadas pelo governo, mas sim o resultado da “paralisia de decisdo”, um proceso que ele explica utilizando quat veis: fragmentagéo de recursos de poder, radicalizacdo ideol6- gica, inconstancia das coalizGes que se formaram no Congresso ¢ lidade governamental, definida como rotatividade de pas- isteriais e de agéncias estatais (Santos, 1986, p. 10) © trabalho de Santos se desenvolve em duas etapas. Pri- meizo ele demonstra a veracidade de seu diagnéstico da crise e, a partir daf, passa a uma andlise dos processos que a conduziram a seu ponto terminal. Cada uma das variaveis independentes com qiie tabalha, no entanto, tem valor explicativo diferenciado. A inconstncia de coalizées parlamentares ea instabilidade gover- namental aparecem como facetas da “paralisia de deciso”, en- quanto a fragmentagao dos recursos de poder pode ser vista um constrangimento as possibilidades, de se alcancar uma sao negociada. © processo de radicalizacao torna-se assim 0 > explicativo chave. A radicalizacao impediu que os partidos jjassem em cooperacdo e compromisso: flito politico, em outro conflit (© principal obstéculo a um acordo negociado quanto a0 que ‘utivo considerava uma premissa para um governo eliciente, as reformas institucionais, era.o grau de suspeita com que §. Cardoso. ele proprio, ina criticar sua visto anterior, lembrando “aqueles que fe pmoclamam a inevitabilidade da dtadsra militarcom osb- © para a ‘fase atual’ do desenvolvimento capita speichosa do que parece” (Cardoso, 1979, p. l). 24 Congresso éncarava os objetivos de médio prazo do presidente ¢ seus seguidores. A radicaliza¢ao de um lado, como tética para tes- tar as boas inteng6es do outro, resultow apenas num aumento das suspeitas de ambos 0s lados. O resultado final foi uma dimi- nuigéo da capacidade de negociagao e de transigéncia, (Santos, 1986, p. 661 Z Emi um trabalho posteriot, em que faz uma andlise compa- rativa entre Chile e Brasil,,o proprio Santos descatta a instabili- dade governamental e a inconstincia de.coalizées parlamentares como varidveis explicativas da mudanca de regime nesses dois _ paises. Afirma, ademais; que nao foi a fragmentacao' politica, mas sim a radicalizagao que provocou a ascensdo do autorita- rismo (Santos, 1982, p. 161). ‘Mas se a andlise de Santos tem por mérito superar a dificul- dade de traduziz em termos politicos uma dada situagao econd- mica, a stia énfase rios aspectos politicos institucionais o levam a subestimar 0 cardter sécio-econdmico dos problemas em jogo, no principio dos anos 60, a saber, as.“reformas estruturais”, Santos ‘enfatiza 0 papel desempenhado pelas suspeitas alimentadas por conservadores e militares em relagio as intengdes de Goulart em permanecer no poder, o que os levou a impedir a aprovagdo da - legislacdo sobre reformas. Reis, no contexto de uma critica mais ampla sobre as conseqiiéneias de andlises baseadas num con- traste agudo entre as esferas “sécio-econdmica e politico-institu- cional”, critica esta visio. Argumenta que a_andlise de Santos de iplicito que se os militares tivessem certeza de que Gou- lart pretendia realmente realizar as reformas radicais em nome dos interesses do povo brasileiro, nao teria havido problema, ow seja, nao teriam reagido com a ruptura das'regras institucionais (Reis, 1984, p. 185), Se, de fato, esta conclusdo pode ser inferida de algumas das afirmagées de Santos, ela certamente nao deriva de sua andlise que, como 0 proprio Reis admite; é suite, mais complexa. A importéincia que Santos atribui a esta suspeita, umia ‘ver que ele lida com 0 periodo como um todo, impede que se leve em conta o papel por ela desempenhado em diferentes mo: mentos do tempo. E inegAvel que'a suspeita a respeito das inten- ‘ges de Goulart permeou todo sew governo, Entretanto, as conse- oe giiéncias desta suspeita para a possibilidade de desenvolver uma coalizo reformista forte foram diferentes, por exemplo, no pe- siodo logo apés o plebiscito e no tiltimo més de governo. Ainda assim, Santos mantém a nogéio de inevitabilidade. De acordo com ele; o impasse que resultou no golpe de 1964 “foi a conseqiiéncia imperiosa de um conflito politico caracterizado pela disperso de recursos entre atores radicalizados, impedindo que 9 sistema tivesse um desempenho adequado e impelindo-o para 9 tipo de crise que classificarei de ‘paralisia decisoria” (Gantos, 1985, p. 22). Este tipo de explicacao politico-estrutural pode ser refutado pelo exemplo historico. Hé registro de crises semelhan- tes @ essa descrita por Santos que nao resultaram em colapso do sistema polftico. A Itélia durante os anos 70 é um exemplo em to que convida a exploracées posteriores sobre as ides de agdes bem-sucedidas em face de condicdes. Ambas as explicacdes estruturais, a politica e a econémica, podem ser submnetidas a uma titimia critica que toca diretamente as questdes tedricas e metodologicas abordadas neste estudo, Estas andlises cometem o que Santos define como “a racionaliza- ao do pasado na forma de um determinism ex post facto,” que consiste em aceitar como o tinico possivel o resultado que emerge da reconstrugao da racionalidade inerente A sucesso de eventos que realmente ocorreram, A incapacidade de visualizar um curso diferente para a histéria resulta assim na impossibilidade de expli- car por que as coisas aconteceram dessa forma (Santos, 1980, pp. 20-1). Comentando sobre o mesmo problema, Praeworski argumenta, Se a historia nao é untvoca, se sob condides historicamente dadas ‘os homens tem uma margem de escolha e suas escolhas tém con- seqiiéncias, entio a andlise historica nfo precisa se limitar 4 se- «quencia dnica de eventos que realmente ocorreu. Uma teoria pode lescoberta das oportunidades que foram perdidas, das |] abertas. [Przeworski, 1985a, p. 114] cexperitnia Italiana neste perfodo seja exarninada de crise sem calapso. 26 des inerentes a cada conjuntura e das alternativas que ee O fiato de a historia ter tomado uim curso determinado nao razio suficiente para crer que cursos alternatives fossem ex ante impossiveis. O fato de 0”“pacto populista” como tal nfo mais se sustentar nao significa que o resultado auutoritério fosse inevité- vel. Um compromisso politico poderia ter sido obtido através de diferentes aliancas e coalizées que visassem apoiar um governd democritico, A andlise das condigées sob as quais tal compro- ‘isso teria sido posstvel permite-nos identificar o peso de dife- rentes fatores‘nio curso real dos acontecimentos Quanto as explicagées inten: ou “orientadas-para-o- ator”, podem estas, igualmente; se dividir em dois tipos. O pri- meiro compreende aqueles estudos centrados na conspiragio in- ternacional e/ou diretista contra 0 governo de Goulart. A andlise mais sistemética deste tipo é o detalhado estudo de Dreifuss sobre a ago da classe capitalista através de uma “elite orgénica” composta por “tecno-empresérios” e militares. Ele analisa as ati- vidades de uma organizagdo politica — 0 “complexo” IPES/IBAD (Instituto de Pesquisas e Estudos Sociais/Instituto Brasileiro de Agio Democritica) — liderada pelo “bloco de poder multinacional e associado” que, “através do exercicio de sua influéncia em todos os niveis politicos”, foi capaz. de prove— car a ruphura da forma populista de dominagio e conter 0 “de- senvelvimento da organizacio nacionakde classes trabalhadoras” (Dreifuss, 1981, p. 229). De semio S8 Deets 7 |) Uma vez unificadas as varias oposicées'sob’tuma lideranga sincro- { nizada comum, formulando um “plano geral”, a elite organica 4 langava a campanha politico-militar que mobilizaria o conjunto da \, biurguesia, convenceria os segmentos relevantes.das Forgas Arma- [se da justica de sua causa, neutralizaria a dissencio e obteria 0 apoio dos tradicionais setores empresariais, bem como a adesto ‘ou. passividade das classes subalternas [1981, p. 225] Este tipo de andlise, no entanto, falha em fornecer uma ex- plicaco real, pois toma a mera existéncia de uma cohspiracdo causal dé 7. Sobre o itso de hipoteses contrafactnais na determinagso do co sobre 0 faiores diferentes ver McClelland (1976) e Elster (1978 Um assunio ¢ Max Weber (197). 7 como condigéo suficiente para 0 sucesso do golpe politico. Os conspiradores so vistos como onipotentes. Conseqiientemente a \dida por eles nao € analisada em relagao a outros gimentos (© segundo tipo de andlise intencional ou “orientada-para-o- ator” é exemplificada pelo.trabalho de Stepan (1978). principal asgumento de Stepan & que, no inicio dos anos 60, 0 regime foi submetido a press6es macropoliticas que o predispuseram ao colapso. Entretanto, ele nao considera que essas presses foram, Entio, procara explicar o resultado final em termos de estratégias especificas ¢ atos praticados por Goulart. Argumenta que “o que conduzitt o regime ao ponto de ruptura foi a qualidade da lide- ranga politica do presidente Goulart, cujos atos, nos dltimos meses de regime, minaram crucialmente todos os apoios existen- tes" (Stepan, 1978, p. 11). Stepan, portanto, centra sua andlise nas agées empreendidas por Goulart, na tentativa de alterat 0 equilfbrio de poder em seu favor, ao adotar uma estratégia radi- cal durante 0 més de marco de 1964. Desta forma, Stepan convin- centerhente mostra os efeitos desta estratégia na erosdo do apoio épida consolidagao da oposigao politica ao regime. cordar de Stepan no que tange a importancia por ao papel da lideranga politica, nas circunstncias de somo a enfrentada pelo regime brasileiro no inicio dos de-Stepan parece corroborar a tese de ‘08 acontecimentos histéricos sao deter- necesséria uma grande quanti- ira certamente requeria uma lide- © papel da lideranga em momentos anteriores. ndidas nestes tiltimos momentos poderiam ser has anteriores que haviam estreitado o leque de 28 opsdes abertas a aco politica. Além disso, ao dater-se exchusiva- mente em Goulart, Stepan nao considera o papel ¢ a qualidade da lideranca de outros atores relevantes, nem a relagdo desses atores com Goulart, Dessa forma, a atitude radical de Goulart, nos iiltimos momentos de seu governo, pode nao ter sido, como sugere Stepan, o resullado da superestimagio de sua forga poli- iiiente desorie io. por ele uma estratégia radical teria decorrido principalmente de seu reco- rnhecimento de que nao havia outras alternativas disponiveis e pode ter sido tomada com plena consciéncia dos riscos envolvidos. Estas observacdes nos conduzem ao segundo comentario referente as linhas de pesquisa sugeridas por Stepan no sentido de explicar melhor o rumo dos acontecimentos, ou seja, 6-estudo do estilo de Goulart de fazer politica ¢ a area da personalidad politica. A esse respeito ¢ suficiente lembrar que, por mais impor- tante que seja 0 papel de atores individuais, o resultado final nao pode ser reduzido a sua psicologia, Seria muito. mais frutifero ‘buscar explicagées “orientadas-para-o-ater” de cardter mais abran- gente, voltadas para a anilise da estrutura da situacdo e da intera- cao entre os varios atores politicos. MODELO DE ANALISE Este trabalho adota uma estratégia de pesquisa que, se- gundo a classificagéo de Przeworski, concentra-se na conduta estratégica de atores politicos em situacGes histéricas conerétas, enfatizando interesses e percepgdes e formulando os problemas ‘em terms de possibilidades e escolhas (1986, p. 47). ‘Assim, as escolhas deliberadas intencionais feitas pelos atores so o ponto de partida para a andlise. A interagao entre as, escolhas e a8 agées constitul 0 mecanismo capaz de explicar a ocorréncia de um resultado, dentre os diversos possi constrangimentos estruturais constituem o primeizo dis de filtragem “que estreitam o repert6rio de cursos de agio abstra- 29 tamente possiveis © o reduz a um subconjunto infinitamente menor de aces exeqi (Elster, 1979, p. 113). Portanto, “dentro do conjunto exeqiifvel de agdes compativeis com todos 0s constrangimentos, os individuos escolhem aquelas que acredi- tam levar aos melhores resultados” (Elster, 1982, p. 464). Dentro deste quadro, tendéncias econémicas gerais bem como o arcabougo politi ‘ional sero considerados como constrangimentos &s aces individuais-ou grupais. Constituem as condigées sob as quais as agdes ocorrem, mas, ao mesmo tempo, podem ser objeto da agio politica. 7 A distribuigao real de recursos econémicos, politicos e orga- ico dos varios atores formam um outro con- junto de constrangimentos que tem um impacto mais imediato sobre a probabilidade de uma ago bem-sucedida, Atengio seré dada, principalmente, ao processo de mobili- zar apoios e desenvolver coalizées. A este respeito serdo enfatiza- dos 08 seguintes aspectos do processo pol 08 objetivos corporificados nos diferentes projetos politicos; 2. as.estratégias adotadas ¢ os célculos sobre os quais se baseiam; e 3. as agées finalmente empreendidas pelos atores relevantes no sentido de atingir seus objeti 2, Sob as mesmas condigdes, estratégias dife- a resultados diferentes (Praeworski, 1985). ‘fiming das agbes especificas desempenha um papel ‘momentes de um processo dinmico: a mesma diferentes, ainda que os fatores estrutu- 1977, pp. 25-9). Desta ma- ig de acdes especificas tomam- weste trabalho que, entre 1961 ¢ 1964, escolhas € ‘olaparam as possibilidades de ampliacao e conso- ‘co de apoio para as reformas, e, desta forma, reduziram as nidades de implementar, sob regras democréticas, um com- sobre estas reformas, Existiram duas oportunidades mentar um conjunto varidvel de reformas, e.ambas or diferentes zaz0es. O éfeito acumulado destes dois ‘tou o campo de ages possiveis ao governo e con 30. denou ao fracasso uma tentativa subseqiiente de se formar uma frente de centro-Bsquerda que visasse obter um acordo sobre um programa minimo de reformas e' deter o iminente movimento _ direitista. Nesse momento, a oposi¢ao ao govemno havia crescido ‘eampliado sua base de-apoio, a medida que outros grupos foram ‘se juntando.ao bloco antigovernamental. © confronto entre os ‘giupos politicos competidores acirrou o crescente consénso nega~ regras democraticas : periodo analisado e as altemativas disponfveis em diferentes, ‘momentos do processo politico estio representados no Quadro 1. No Capitulo 1, analiso a formagao de uma forte coalizko contra a tentativa dos ministros militares de impedir a. posse de ‘Goulart na presidéncia. Uma solugao de compromisso foi alcan- No Capitulo 2, examino a experiéncia com o regime parla-~ ‘méntarista, Sob este regime foi perdida a oportunidade de imple- ‘mentar um programa moderado e gradual de reformas, porque a ‘estratégia de solapar 0 novo aranjo institucional predominou sobre 03 esforcos em: direcio as reformas. Numa tentativa de -desestabilizar o regime parlamentarista a fim de restaurar o poder ‘presidencial, Goulart se engajou em uma agao concertada nao s6 ‘com a esquerda, que via no presidencialismo maiores chances de jlementar seu programa de reformas, mas também, com lide- 465 politicos conservadores que visavam chegar a presidéncia da ‘Repablica em 1965. Essa estratégia consistia, por um lado, em alapar sistema por dentro. Isto foi feito ao se impedir sua .cionalizagao e também a formagao de gabinetes viaveis, ou ‘seia. gabinetes que tivessem apoio das forcas partidarias no.Con- 72550. Por outro lado, esta estratégia também. apelava para a ibilizacao de presses externas ao Congresso, principalmente ‘greves politicas, demonstracdes ptiblicas e apoid militar. A estratégia de liquidagao do parlamentarismo exigia de -repetidas oscilacdes entre a esquerda e a direita: Em con- ‘Seqiiéncia; tendia a aumentar 0 descrédito entre os grupos es- -querdistas, principais aliados de Goulart, em relacio A sua inten- ‘0 de promover um ‘programa consistente de reformas. Por 31 Quadro Fiwcograma mostrando as altemativas disponiveis em conjunturas. crlcas durante a presidencia de Goulart. outro lado, a conseqtiente incapscidade de atuagao do governo minou o possivel apoio de forgas situadas na posiso centro-di- reita do espectro politico. No Capitulo 3 trato de duas medidas através’ das quais 0 governe — jé sob o regime presidencialista — tentou resolver a situagao econémica e promover reformas: A primeira foi o Plano ‘Teienal, que combinava reformas com um programa de estabili- zaco, em um esférco de implementar uma politica econémica de centro baseada em uma coalizao multiclaséista. A segunda foi a apresentagio, pelo partido do governo (PTB), de um projeto de gsnencla constitcional que permis x desaproptioyio de ters edidas falharam porque ndo s¢ chegou. a uin problemas substantivos abrangidos por elas. Fal- tou a0 Plano Trienal o apoio necessério. dos principais grupos seanamisos: Apostando en vua eapacidade pare vbtermdiores Pressao sobre o governo, em favor de uma politica reformista e | nacionalista mais agressiva. Em face das crescentes reivindicagées dos trabalhadores, os ‘apitalistas, que haviam concordado com o Plano, retiraram seu apoio. O governo, por seu lado, incapaz de obter apoio.de'suas bases politicas, abandonou o Plano como um todo ¢ voltou sua atenco prioritariamente para as reformas. ‘As negociag6es interpartidarias em torno da emenda consti: ~ tucional para a reforma agréria seguiram caminko semelhante. A tentativa do partido, governamental de maximizar a oportuni- dade acirou a oposigao conservadora e impossiblitu 0 acorde sobre uma solucao viavel. No Capitulo 4, analiso a oposigao tanto da esquerda como da direita a tentativa de Goulart de declarar o estado de sitio e seus esforgos subseqiientes para recomstruir o centro, com 0 obje-. ivo de obter apoio para a reforma agratia. A situacdo como um edo, no entanto, conduziu a um isolamento do governo ea uma situacdo que dificultou muito uma solugao negociada para arise. © Capitulo § centra-se na tentativa de formagéo de uma coalizao de centro-esquerda em apoio as reformas — a chamada Frente Progressista de Apoio as Reformas de Base — liderada por San Tiago Dantas. A Frente era apoiada por politicos moderados, chamados por Dantas de “esquerda positiva”, e visava chegar a ‘um acordo sobre um programa de reformas, assim como inibir 0 crescimento da oposicio ao governo. A resposta dos varios gra- pos politicos a tentativa de Dantas indica que ela ocorreut quando a-cooperacio jé nao era mais possfvel. A estratégia dominante tomou-se, para cada grupo, a busca independente de seus objeti- vos especificos. © Capitulo 6 visa demonstrar que a conspiragio contra 0 Boverno foi uma condigdo necesséria, mas nao suficiente, para 0 sucesso do golpe. Destaca os efeitos inibidores de alguns fatores intrinsecos ao movimento anti-governamental, bem como a in. fluéncia de fatores extemos na construgdo de um consenso nega tivo contra 0 governo! reformas. Argumento que, em conjunturas éspecificas, algumas tivas poderiam ter emergido das condigdes concre- tas daclas, e aponto as razdes que contribufram para o resultado real, ou seja, retrocesso politico, com a ruptura da democracia, & manutengio do status quo econdmico e social, : (0 tem 0 objetivo de enfatizar o papel de outnes atores, ‘os grupos ce opesicto ativa esistemdtica ae govemna, na determinagae 34 CAPITULO 1 GOULART NO'PODER: . ~ COMPROMISSO INSTITUCIONAL Na eleicao presidencial de 1960, Janio Quadros obteve uma esmagadora vitéria, assegurando 48% dos votos. A carreira poli- tica de Quadros havia sido répida e construida & margem do sistema politico-partidaric. Embora tenha sido indicado candi- dato presidencial por um pequeno’partido — Partido Trabalhista Nacional (PTN) —, sua candidatura foi endossada pela Unio Demoeréitica Nacional (UDN), o principal partido oposicionista A ‘hegemonia dominante dos dois partidos criados por Vargas no declinio de sua ditadura: o Partido Social Democrata (PSD), con servador e de base rural, eo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), urbano ¢ de base trabalhista.! Com uma vit6ria menos espetact. Jar (88% dos votos), Joao Goulart, 0 principal herdeiro politico de Vargas e presidente do PTB, foi reeleito vice-presidente da Rept- blica,.com 6 apoio do PSD? A campanha de Quadros baseou-se, ‘Principalmente, em uma critica moralista da corrupcao e da inefi- ‘iéncia burocratica, embora a injustica social também tivesse sido to de suas preocupagées. Ele prometia acabar com tudo isso pela forca de sua personalidade? Goulart, por sua vez, enfatizava imo era estabelecido por decreto do Executive, Em segundo, os dissidios trabalhistas tinham lugar dentro do préprio aparelho estatal, mediante a intermediacio e a arbitragem da istica do Trabalho, que tinha a prertogativa de decidir sobre a legalidade de movimentos grevistas. Finalmente, 0 direito de greve era limi- tado devido a uma lei de greve muito restritiva. Em casos de greves ilegais, o ministro do Trabalho tinha a autoridade legal para intervir nos sindicatos. A prerrogativa de intervir em sindi- ‘catos podia também ser utilizada em casos de greves politicas greves de solidariedade com outros sindicatos) e em jvidade politica e partidaria por parte do sindicato. im governo apoiado pelos sindicatos e dependente deles para implementar seu programa de reformas nao poderia utilizar desses instrimentos para garantir a execuséio de uma politica salarial restritiva. Por essa raz4o, Goulart se mostrava hesitante em se valer desses instrumentos para levar adiante 0 seu programa de estabilizagao. Muito embora, no inicio de seu governo, Goulart houvesse anunciado que as greves seriam re- imidas, ele continuava usando a persuasio e condenando os extremismos e a intransigéncia (CM, 19.1.1963). Para ‘melhorar a primi estratégia: diminuir sua dependéncia do CGT, mediante a cons- truco, dentro do movimento sindical, de uma base organizacio- que sustentasse sua politica centrista de governo. tivo transferiu 0 apoio do governo, na forma de igio e patrocinio, para uma organizagio sindical dos Trabalhadores (UST), de orientagao politica mais moderada.® Entretanto, 0 projeto nao obteve os resultados imediatos que Goulart tanto necessitava, O fracasso de Goulart em criar essa base sindical alternativa teve duas conseqiiéncias imediatas. De um lado, aumentow a descon- fianca do CGT em relagao ao governo e, de outro, reforgou a posicdo do CGT, permitinde-Ihe aumentar seus ataques sobre a “politica de conciliagao”. 29, Para um relato mais detalhiado da tentativa de Goulart em constrair esta base ‘onganizacional altemativa, veja Erickson (1977, pp. 134-37) e Grieco (1979, pp. 422-42), m2 por isso tomava-se imperative ajusté-la as exigé dades do progresso da comunidade brasileira” _ Reptiblica, 1962, p. 112). Estabelecia, entretanto, apenas orienta- Goulart enfrentou também cisdes dentro do proprio go> vero. © ministro do-Trabalho, Almino Afonso, que no comeso de sua gestio estava empenhado em obter a colaboragio' dos trabalhadores, pelo final de margo jé’havia se associado’a es- .. querda radical do PTB, adotando uma postura de oposiggo aberta a0 Plano. Essa mudanga o levou também a uma associacio mais estreita com 0 CGT. No final de maio, ramores de um remanejamento iminente no ministério foram acompanhados por midangas envalgumas das politicas essenciais do Plano. O govern, finalmente, concor- dou em elevar os tetos de crédito e aumentar os sal4rios dos servidores pdblicos em 70%. Goulart mostrava-se cada vez menos desejoso-de arcar com 98 custos politicos de manter seu apoio a medidas que 0 torna- vam tao vulnerdvel ao fogo da esquerda. A situacdo como, um todo indicava que ele havia falhado na tentativa de ampliar suas ‘bases de apoio e estava perdendo terreno rapidamente A es- querda. Compreendendo as implicacées politicas dessa situacao, Goulart voltou-se para as reformas. : AREFORMA AGRARIA VIA CONSTITUICAO Iniciativa do govern : A reforma agraria foi inchuida no Plano Trienal juntamente com trés outros conjuntos de medidas: as reformas acministra- tiva, banedtia e fiscal “va vigente estrutura agréria do pais [..] eonstitalfa] um sério obstaculo ao desenvolvimento acelerado da economia da na¢éo, 30, Ver sesdo sobre as politicas propoistas no Plano Tiienal, 3, zagdo de acordo com o valor declarado para o recolhimento do imposto de renda; recebimento de indenizac4o segundo 0 valor: declarado para 0 recolhimento do imposto territorial; ou, final- mente, estabelecimento do valor da propriedade para efeitos de indenizacao mediante avaliagdo judicial. Tendo em vista que 0 “valor da terra paia efeitos de recolhimento de impostos era, de uma maneira geral, subestimado, a tiltima opedo deve ser enca= rada como um gesto de conciliagio, abrindo a possibilidade de negociagio caso a caso. Duas.outras medidas gerais foram pro- postas. A primeira era o pagamento da indenizagio com titulos da divida pablica, por seu valor nominal, mas sujeito a corregao que compensasse a desvalorizagao monetéria em até 10% do valor total. A segunda era 0 estabelecimento do “arrendamento éompul- s6rio”, de acordo com o qual o proprietério de terras ficaria compe- a rénovar seus contratos de arrendamento. Essa medida foi proposta como um instrumento pelo qual algumas formas de parceria e arrendamtento rural pudessem ser eliminadas, ou-seja, ‘como um estagio transitério para a desapropriacio efetiva. © projeto patrocinado ‘pelo governo nao podia, entretanto, ser foimalmente submetide & apreciagio do Congreso, pois; ‘como propunha 0 pagamento de desapropriagdes com titulos da divida ptblica, tinha que ser precedido por uma emenda consti- tucional. Por essa razo, 0 projeto circulou apenas entre as lide- sas partidarias. Houve consenso sobre a maioria dos pentos, ‘exceto dois, que provocaram grande oposigao se tornaram o icleo das negociacdes que se seguiram, a saber, o arrendamento mpulsério € a indenizagao com titulos da divida ptiblica sujei- a apenas 10% de corregdo para compensar a inflagio, Em abril de 1963, Bocaiuva Cunha, lider do PTB na Camara ¢ Deputados, apresentou ao Congreso 0 projeto de emenda -onstitucional necessério para a implantacao do plano de re- rma agréria do govemo. As mudancas propostas foram vistas mo uma tentativa de levar adiante a reforma agréria radical ‘onizada pela coalizio de esquerda pré-reformas, sem levar conta a existéncia de uma maioria conservadora no Con- -gresso. O projeto de emenda constitucional endossava.os dois = pontos controvertidos contidos no’projeto de reforma agraria do Executivo. Além disso, inclufa uma proposta segundo a qual as ges muito gerais para uma reforma agréria, no capitulo sobre as “politicas para as reformas de base”. ‘A posigao governamental sobre.a reforma agraria foi posta na Mensagem a0 Congreso Nacional, de 1963, enc hada em margo, no inicio da nova legislatura (Goulart, 1963: © govemno propunha a aprovagdo-de uma emenda constitu: nal mudando o pardgrafo 16 do artigo H6 da Constituisio, que exigia pagamento prévio, em dinheiro, para a desapropriacdo de terras, e, também, a regulamentacio do artigo 147 que previa as desapropriagées de acordo com o interesse social. O governo justificava 0 seu pedido alegando que o pagamento prévio em dinheiro exigiria recursos tao grandes que tornaria praticamente “4 impossivel qualquer reforma agréria significativa. Baseado nessa posi¢ao, 0 governo elaborou sew primeira projeto de reforma agréria! O projeto enfatizava a redistribui- | cao de terra, visando, basicamente, aumentar tanto 0 acesso terra quanto o ndmero de unidades familiares. Propunha igual- 4 mente cortigir as imperfeigdes da estrutura agritia existente pela climinagio das formas anti-sociais ¢ antiecondmicas de uso da terra, bem como pela incorporacdo das terras inexploradas ou 4 cultivadas inadequadamente. © projeto continha também incen- tivos para o desenvolvimento de empresas agricolas, para a ex- | pansio a diversificagao do abastecimento de produtos agrico- 7 las, e para a adaptacéo do uso da propriedade as caracteristicas ecolégicas regionais. Regulamentava a desapropriacao de terras “| de acordo com o interesse social e estabelecia condigées para 0“ planejamento e fagio da reformia agraria por meio de um 6rgao executivo central. No que diz respeito a indenizacdo a || ser paga por terras desapropriadas — um ponto bastante contro- | verlido —, propunha que fosse dada ao proprietario de terras a 4 opeio por uma das seguintes alternativas: recebimento de indeni- | Schilling, um membro deste grupo, apresenta emscu livrocste mesmo projeta, 9 ‘como senda 0 projeto de reforma agriria de Brizola (1981, p. 183). ta ais = desapropriagdes baseadas em interesse social poderiam abranger tanto propriedades rurais como urbanas. As mudancas propostas por esse projeto de emenda exam tao abrangentes que vale a pena reproduzir seu texto integral: ‘ait 141, § 16.’Garantido o direito de propriedade, salvo'o caso de desapropriacio por necessidade ou utlidade pablica mediante pré- via indenizagio u por interesse social, na forma do art. 147. art, 147. © uso da propriedade ser4.condicionado ao bem-estar social e para isso a lei poders inclusive: 1. Dispor sobre a justa distribuigao da propriedade, com igual. coportunidade para todos é para este dnico feito, regular a desa- propriagio dos bens indispenséveis, assegurando ao proprietario indenizacdo justa, mediante titulo da divida pablica, resgataveis fem presiacGes sujeitas a correc monetétia com limite niio exce- dente a dez por cento ao ano; IL Disciplinar 0 uso da terra ¢ estabelecer o arrendamento com- puls6rio de propriedades rurais; Bi © arrendamento compuls6rio seré uma etapa ‘inicial com prazo determinado para a desapropriacio definitiva; IV. Sio isentos de quaisquer tributos federais, estaduals, munici- pais, por prazo e forma que a lei determinar, as terras, 08 bens € 08 atos que se relacionam com a execugio das reformas agrétias e territorial urbana; V. A cada familia seré assegurada uma propriedade rural ou ur- bana, que satisfaca 0 minimo vital que a lei estabelecer. [Tapia 1086, p. 507} Derrota da emenda constitucional ‘Antes de ser subinetida a plendrio, a emenda proposta pelo PTB tinha que ser avaliada por uma Comissio Parlamentar. Com- posta de onze membros, essa comissao formada para considerar a matéria era dominada por deputados conservadores: trés oposi- Rodrigues, lider do partido na Camara dos Deputados, Ulysses Guimaraes e Gustavo Capanema); e Amaldo Cerdeira, membro de um pequeno partido, o Partido Social Progressista (PSP). O 16 PTB estava representado por trés membros da ala radical do partido, Bocaiuva Cunha, Ider do partido na Camara, Leonel Brizola® e Doutel de Andraie; ¢ 0 PDC, pelo nacionalista ¢ pr6- reformas Plinio de Arruda Sampaio. ‘Tal como apresentada, a emenda’constitucional do PTB era inaceitavel. A proposta de estender as desapropriagdeé a proprie- dades urbanas assustava 0s grupos conservadores, como uma ameaca generalizada ao direito de propriedade. Da mesma. ma- neira, 08 conservadores encaravam como um simples confisco as propostas de arrendamento compulsério e de pagamento das indenizagées das propriedades desapropriadas pelo valor nomi- nal, pago em titulos vulnerdveis A desvalorizagdo monetaria, Além disso, a emenda era considerada demasiadamente vaga, deixando cléusulas demais para serem reguladas por lei ordiné- ria, que requeria apenas maioria simples para sua aprovagao, O PSD ea UDN nao desejavam perder o recurso que tinham em maos na forma de garantias constitucionais. A despeito da necessidade de negociacao se realmente se Pretendesse que a proposta tivesse chance de ser aprovada, a radicalizagio e a intransigéncia prevaleceram durante 0 periodo em que 0 projeto estava sendo considerado pela comissa0.? O PSD, segitindo as orientagées da Declaragéo’ de Brasilia; apro- vada na convencao nacional ocorrida em margo de 1962, concor- © dou com a proposta de: s terns desay is fossem indeni- zadas com titulos da divida publica, R&i a, entretanto, que o valor dos titulos fosse inteiramente’protegido dos efeitos da infla- ‘go, e que apenas propriedades nao exploradas fossem sujeitas.a desapropriagiio.# : 32. Omandato de Brizola como govemador do Rio Grande do Sulhavia expirado fem 1962, Na eleigio de outubro de 1962 ele havia sido eleito como deputado _ 151983, ~ aT Dentro da UDN, a oposicéo era cerrada. A principi Teceu a preva: igo da ala pré-teformas do partido — a “Bossa ma comissio designada para definir a orientaciio do partido em relacdo a emenda constitucional proposta aprovou que a Constituicdo era intocavel.® E interessante observar que a deciso da corvencao representou uma derrota para a tentativa do grupo “Bossa Nova” de empuzrar o partido para uma posictio cional” Em conseqiiéncia, as negociagdes na Comissiio Parl mentar se radicalizaram. Apesar da decisio da UDN em rejeitar 0 projeto do PTB como um todo, o PSD continuava a endossar a emenda constitti- le terra receberiam em indenizagao por stias terras desapropriadas, Nessa medida, PTB, se quisesse ter seu projeto aprovado, teria que conseguir uma férmula conc para chegar a um acordo com o PSD. Apesar de sua posicio minoritéris, o PTB recusou-se a fazer alteragées no projeto. Bo- 55 Paro gba de ned onal da UDN gue acento sppseaig dh despropnso pare propa tetas, wee CM © 3h Magaitts Pirto,govemador de Minas Ces apoiouas tse eorsts 2 te ora de Lacerda, governador da Guarabura, gus ert al. Por ts das dons posigoes havin wna do ela da Replica x 90, et Convento da UDN hue wna oc de negears da combo pa is mumbo anieorrents degrades a com presidente do pari Adaale Lo no Com Tana emenda constitcional para Alcina Bleto « Emari Sato, que afm uta po (Casto Branco, 1978, 1 foo p. 163) ns caitiva Cunha, o autor do projeto e um dos representantes do PTB | za comissio, rejeitou a reivindicagao do PSD de protecio integral da inflagao, De acordo com ele, tal medida representaria um: “ne {g6cio agrério” eno uma seforma agréria (CM, 12.5.1963). Durante | 08 debates na comissio, declarou que a posicio do PTB referente | a emenda era “inarredavel” (Tapia, 1986, p. 508). oe 'A trajet6ria do projeto de reforma agraria, na arena legisla- tiva, foi acompanhada por uma intensa © veemente campanha visando pressionar 0 Congresso para volar as reformas, Liderada por Brizola, essa campanha foi sustentada pela participacio ativa do movimento sindical representado pelo CGT, de congressistas da Frente Parlamentar Nacionalista e do-movimento estudantil. ‘Acampanha inclua comicios, demonstragées piblicas e ameacas de greve geral, Em um com{cio amplamente transmitide por riidio logo apés a Mensagem ao Congreso Nacional, em marco, Brizola dew um ultimato ao Congresso:.a proposta de reforma agriria_deveria passar dentro ¢ (9 outros ymeios de realiz4la seriam encontrados (Castello Branco, 1975, 1° tomo, p. 138; CM, 23.3.1963). Nao é importante aqui sabermos se esses meios estavam ou néo disponiveis pata ele naquele mo- mentd, O que importa é que-os ataques de Brizola sobre 0 Con) gresso e suas ameacas de recorier a acées extraparlamentares | estabeleceram o tom da campanha da esquerda. As reagies da diréita, enfatizarido a necessidade de “salvar e garantir o funcio- namento do Congresso”, radicalizaram mais ainda a campanha e, certamente, afetaram a batalha na arena legislativa. Em 13 de { maio, no meio dessa campanha, a emenda do PTB foi finalmente (errotada na comissio parlamentar por sete votos a quatro. Busca de um projeto viavel A derrota do projeto do PTB na comissao foi seguida por uma disputa entre 0 govemno e a oposicéo sobre quem tomaria a iniciativa em relagio & reforma agraria. A UDN quetia evitar apare- cet ante 0 eleitorado como um obsticulo a reforma. Por essa raz4o, sua primeira acao depois de 13 de maio foi reabrir.a dis- cusso no Parlamento sobre o projeto de reforma agraria apresen- tado por Milton Campos, que estava-de acordo com.a posicad do ng Partido, jé que no exigia nenhuma mudanca constitucional. Para © PTB, entretanto, era essencial manter a iniciativa sobre ‘uma questo que havia se tornado 0 eixo de seu programa de refor- mas. O malogro, j4 |, do Plano Trienal tomava ainda mais urgente a aprovacio da legislagao sobre a reforma agratia, Embora houvesse sido rejeitada na comissio, a emenda do PTB ainda estava programada para ser votada em plendrio. Sua derrota, no entanto, era certa. A fim de encontrat uma solugio negociada para o impasse, Goulart tentou obter 0 apoio do PSD. Na primeira reunido do ministério depois da derrota da emenda do PTB, ele elogiou o papel do PSD em tentar evitar'a derrota total da emenda, e reafirmou seu comprometimento com:uma reforma agréria moderada, declarando que nao queria “levantar a bandeira da reforma radical” Dentro do PSD, diversos grupos concordavam que era ne- cessdria uma emenda i juanto pelas organizagoes da esquerda ndo parlamentar e, prin= cipalmente, pelo movimento sindical, Sete ‘Com o objetivo de superar; ou pelo menos minimizar, essés problemas, Goulart decidiu assumir ele mesmo 0.comando das negociagdes com 6 PSD e, ao mesmo tempo, tentar neutralizar a influéncia da ala radical do PTB em sett governo.. Com esses objetivos, em junho, reestruturou seu gabinete visando com isto __ ampliar o apoio parlamentar para a aprovacao da emenda consti- _tucional para a teforma agrdria (CM, 9.6.1963; Castello Branco, 1975, 12 tomo, p. 182). Almino Afonso, que representava a ala radical no gabinete, foi substituido no Ministério do Trabalho por Amaury Silva, um membro moderado do PTB. O Ministério da partidos de oposicio. Finalmente, Tancredo Neves, 0 primeiro- ministro anterior, foi escolhido lider da bancada do governo na mara dos Deputados e encarregado de articular uma solugao _ aceitvel tanto para 0 PTB como para 0 PSD. Na frente sindical; wulart ganhou.uma tégua forcada do CGT, que havia sofrido revés temporario coma mudanga de apoio do governo para a UST, mais moderada.” O resultado disso havia sido o fracasso do CGT em sua tentativa de convocar uma greve geral nacional, lideres, tais como Tancredo Neves e Kubitschek. Este ‘iltimc ativamente em campanha presidencial, assumiu uma postura cla- tamente reformista, Declarou que era favordvel a uma emenda constitucional que, no seu entender, desfrutava de amplo apoio popular e, portanto, poderia eliminar a agitagao social (Castello Branco; 1975, 1° tomo, pp. 178-82). Finalmente, 0 Diret6rio Nacio- nal do partido estava, também, disposto a fazer concessées no sentido de atingir um acordo sobre um projeto de centro, A busca de uma férmula aceitavel era, no entanto, constran- ida por dois fatores. © primeiro era a crescente oposicao da ala direita do PSD a qualquer mudanga constitucional. Além disso, ia divergéncias dentro do partido em relacao a questoes espe. cificas. O segundo fator que limitava a ide de negocia- so era a demanda por uma reforma agriria radical, defendida tanto pelo préprio partido de Goulart, particularmente por sua ala esquerda identificada como Grupo Compacto ou Ideol6gico, t6, por volta de meados de junho, o partido chegou a um ‘Grieco fomece uma andlise detalhada da aproximaggo dé Goulart coma UST,

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