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Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça 14/11/04 15:52

Acórdãos STJ Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça


Processo: 933/07.3TTCBR.C1.S1
Nº Convencional: 4ª SECÇÃO.
Relator: BRAVO SERRA
Descritores: RESOLUÇÃO PELO TRABALHADOR
JUSTA CAUSA DE RESOLUÇÃO
TRANSFERÊNCIA DE TRABALHADOR
PREJUÍZO SÉRIO
Nº do Documento: SJ
Data do Acordão: 03/03/2010
Votação: UNANIMIDADE
Texto Integral: S
Privacidade: 1
Meio Processual: REVISTA
Decisão: NEGADA A REVISTA
Sumário :
I - Uma das garantias asseguradas ao trabalhador é a da estabilidade
do local de trabalho, traduzindo-se na proibição da entidade
empregadora o transferir para local diferente daquele em que presta
trabalho, salvo em condições precisadas na lei.

II - Assim, salvo se houver estipulação contratual em contrário, a


transferência do trabalhador para outro local de trabalho, enquanto
derrogação do princípio da inamovibilidade, só é permitida quando
não implique prejuízo sério ao trabalhador ou se resultar de
mudança, total ou parcial, do estabelecimento onde é prestado o
serviço.

III - O prejuízo sério a que se refere a lei deve ser apreciado segundo
as circunstâncias concretas de cada caso, devendo a transferência
assumir um peso significativo na vida do trabalhador, abalando, de
forma grave, a estabilidade da sua vida, violando, assim, a garantia da
inamovibilidade que o legislador tutela.
IV - A medida dos prejuízos causados ao trabalhador com a
transferência tem que ser encontrada a partir dos factos que por ele
sejam alegados e que possibilitem determinar aquilo que é essencial
na sua vida e, consequentemente, apurar em que medida esta foi
afectada.
V - A noção de prejuízo sério assume particular relevo e terá,
necessariamente, de entender-se, por definição contextual aberta,
como sendo um juízo antecipado de probabilidade ou de adequação
causal, que implica, contudo, a consideração de elementos de facto
actuais.
VI - Tendo o Autor sido admitido ao serviço da Ré para exercer as
funções de vendedor na zona de Coimbra, sem prejuízo das

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deslocações que tivesse que efectuar por virtude dessas mesmas


funções, consente-se que o seu local de trabalho incluía uma área
relativamente alargada, com base na zona de Coimbra, admitindo-se
que, por virtude dessas funções, tivesse que, pontualmente, efectuar
deslocações para outras zonas do país.

VII - Todavia, uma tal cláusula não permite se conclua pela


possibilidade de, a todo o tempo, ser alterado o local de trabalho do
Autor, antes consubstancia a mera salvaguarda das deslocações, que
já decorre do art. 145.º, n.º 2, do Código do Trabalho.

VIII - Assim, tendo a Ré introduzido uma reestruturação que


implicava que a área de actuação do Autor, para além do distrito de
Coimbra e limítrofes a sul, passasse a incluir hospitais de Lisboa –
que implicavam três dias de trabalho para os percorrer na íntegra e,
consequentemente, a necessidade de pernoitar fora de casa dois dias –
e, bem assim, hospitais da zona de Elvas, Évora e Beja, é ilícita a
alteração de local de trabalho imposta ao Autor na medida em que
não só não obteve o seu acordo como, sobretudo, implicava que este
alterasse, radicalmente, toda a sua vida pessoal e familiar (o Autor
reside a cerca de 20 km de Coimbra, é casado, tem um filho menor,
com oito anos de idade, a quem, três dias por semana, dá de jantar,
ajuda nos afazeres escolares e deita, pois que a esposa do Autor,
sendo professora, tem componente lectiva nocturna).

IX - A modificação operada pela Ré, simultaneamente quanto à


dimensão do serviço e à área de prestação da actividade do Autor, é
ilegítima e, consubstanciando uma violação culposa das garantias
legais deste, torna, pela sua gravidade e consequências, imediata e
praticamente impossível a subsistência da relação de trabalho, tanto
mais que o Autor fez ver à Ré os inconvenientes e transtornos que lhe
causaria a reestruturação das zonas e consequentes repercussões nas
zonas a seu cargo e, não obstante, foi pressionado para aceitar as
novas condições impostas.
X - Ao juízo antes formulado não obstam as apuradas ampliações da
área de intervenção do Autor, ao longo da relação contratual com a
Ré, pois que não logrou demonstrar-se que as mesmas tenham, então,
implicado uma mudança de «prática» de vida relativamente àquela
que ocorria quanto à «zona de Coimbra», tal como inicialmente
acordada, não tendo, igualmente, logrado demonstrar-se que às
aludidas ampliações não tenha o Autor dado o seu acordo.
XI - A circunstância de o Autor não ter chegado a desempenhar
trabalho na nova zona atribuída pela Ré não o impedia de, como o
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fez, resolver o contrato de trabalho com invocação de justa causa,


pois que o trabalhador não tem que, perante uma violação de deveres
por parte da entidade empregadora, susceptíveis de, designadamente,
integrar as causas exemplificativas dos ns.º 1 e 2, do art. 441.º, do
Código do Trabalho, sujeitar-se às consequências reais decorrentes
daquela violação, independentemente da gravidade objectiva destas.
Decisão Texto Integral:

1. AA intentou no Tribunal do Trabalho de Coimbra e contra BB


Produtos Químicos, Ldª, acção de processo comum, solicitando a
condenação da ré a pagar-lhe ! 28.905,17, acrescidos da
indemnização devida pela resolução do contrato de trabalho que fora
firmado entre ela e o autor, cujo cômputo se apuraria em liquidação
de sentença, e juros.
Em síntese, invocou que: –

– o autor foi admitido ao serviço da ré em 1 de Junho de 1996, a fim


de exercer funções como vendedor de dispositivos médicos e material
hospitalar na zona de Coimbra, e sem prejuízo de deslocações que
tivesse de efectuar por virtude dessas funções, vindo, pelo menos a
partir de Dezembro daquele ano, a ser promovido a vendedor
especializado;
– em Maio de 2007, a ré, após uma reorganização da sua área de
vendas, impôs ao autor um esquema de visitas que redundava em ter
ele de visitar cerca de 36 hospitais, e demais clientes nas zonas de
Lisboa, Elvas, Évora e Beja, o que consequenciava que ele tivesse de
permanecer fora da zona de Coimbra e da sua residência grande parte
dos dias de cada mês;
– porque a aceitação daquela imposição implicava uma radical
mudança da vida pessoal e familiar do autor, este expôs à ré as
dificuldades que para o mesmo adviriam;
– a ré não aceitou essa exposição, vindo, a partir daí, a reduzir o
plafond dos gastos do telemóvel do autor para ! 10 mensais,
propondo ainda a redução do valor da diária para alimentação,
preterindo o pagamento «à factura»;
– ré não pagou ao autor as diuturnidades a que se reporta o contrato
colectivo de trabalho celebrado entre a Apifarma e a Fitese,
publicado no Boletim do Trabalho e Emprego, 1ª série, de 8 de Junho
de 2006, diuturnidades essas devidas desde 1 de Outubro de 2005,
num total de ! 115;
– em face dessas circunstâncias, o autor veio a resolver o contrato de

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trabalho outorgado entre ambos;


– perante a resolução do contrato com justa causa, tem o autor direito
a uma indemnização de 45 dias de retribuição base e diuturnidades
por cada ano completo de antiguidade até à data do proferimento da
sentença;
– o autor era um vendedor exemplar, responsável e respeitado por
colegas de trabalho, superiores hierárquicos e clientes da ré, sentindo-
se muito satisfeito no desempenho das suas funções, em cuja
estabilidade confiava, pelo que a situação criada pela ré lhe
ocasionou tristeza e depressão que, inclusivamente, o levaram a
procurar apoio médico, razão pela qual os danos não patrimoniais que
sofreu devem ser ressarcidos em quantia não inferior a ! 7.500.

Contestou a ré, sustentando, em súmula, que: –

– devia a acção ser tida por improcedente, pois que nos termos do
contrato de trabalho celebrado entre ela e o autor estava
expressamente previsto que as funções de vendedor na zona de
Coimbra eram efectuadas sem prejuízo de deslocações que tivesse de
levar a efeito por virtude dessas funções, o que implicava que estas se
deveriam realizar em razão das áreas de intervenção da actividade da
ré, definidas em cada momento pela mesma, sendo que, de 1998 a
2004, a área de actuação do autor incluiu localidades tais como
Tomar, Alcobaça, Aveiro, Torres Vedras, Abrantes e o Distrito de
Portalegre;
– após a redefinição da área de intervenção da ré, o autor deixaria de
ser responsável por clientes de Viseu, Aveiro, Covilhã, Santa Maria
da Feira, Águeda e Guarda;
– o volume de vendas a realizar na nova área de que o autor ficou
incumbido seria incomparavelmente superior ao da anterior área,
reflectindo-se nas comissões a auferir pelo autor;
- o plafond dos gastos com telemóvel, que não incluía limitação de
chamadas telefónicas de cariz profissional – pois que, demonstradas
estas, seria o trabalhador reembolsado do respectivo custo –, só foi
implementado após a cessação do contrato de trabalho aprazado entre
o autor e a é, pelo que nunca lhe foi aplicado, o mesmo sucedendo no
tocante à fixação de um valor diário para pernoita;
– o contrato colectivo de trabalho citado pelo autor não é aplicável à
relação jurídica firmada entre ele e a ré, já que esta não exerce
actividade de indústria farmacêutica.

Ainda a ré pediu, em reconvenção, a condenação do autor a pagar-lhe


! 2.020, pela circunstância de não ter denunciado o contrato de
trabalho com o aviso prévio de 60 dias, e solicitou a sua condenação

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como litigante de má fé.

Tendo o autor respondido à contestação, prosseguindo os autos seus


termos, com dispensa de selecção da matéria de facto, e após a
realização do julgamento, foi, em 10 de Setembro de 2008, proferida
sentença que julgou a acção parcialmente procedente, condenando a
ré a pagar ao autor ! 15.009,63, acrescidos de juros desde 19 de
Junho de 2007 (consoante rectificação posterior), e julgou
improcedente o pedido reconvencional.

Inconformada, apelou a ré para o Tribunal da Relação de Coimbra,


arguindo a nulidade da sentença (caso não ocorresse a rectificação
que peticionara) e impugnando a matéria de facto.
Aquele Tribunal de 2ª instância, por acórdão de 2 de Julho de 2009,
teve como não escrito um determinado ponto da matéria de facto, por
o entender como conclusivo, deu por não provado um outro, e julgou
parcialmente procedente a apelação, condenando a ré a pagar ao autor
! 14.605,70 (já que considerou não ter ele jus ao crédito de ! 403,94),
acrescidos de juros.

2. Mantendo a sua irresignação, vem a ré pedir revista, finalizando a


alegação adrede produzida com o seguinte quadro conclusivo: –

“1. O Acórdão recorrido procedeu a uma errada apreciação dos


factos e subsunção nas normas jurídicas aplicáveis ao caso concreto,
dado que, resultou sobejamente demonstrado nos autos que, com a
reestruturação da equipa comercial, comunicada na reunião
realizada no dia 11 de Maio de 2007, a Recorrente não procedeu a
qualquer transferência do local de trabalho do Recorrido, mas antes
a uma mera reorganização da sua zona de actuação, a qual já vinha
sendo sucessivamente alargada, mantendo-se a área de actuação na
zona de Coimbra, com alargamento a sul e diminuição a norte;
2. Tal reorganização da área de actuação não se traduz em qualquer
violação do contrato celebrado entre as partes, nem de quaisquer
direitos ou garantias do Recorrido, constituindo antes o exercício
legítimo dos poderes de autoridade e direcção da Recorrente, tanto
mais que o Recorrido foi contratado para exercer as funções
inerentes à categoria profissional de vendedor, tendo as partes
expressamente salvaguardado, na cláusula 3ª do contrato de
trabalho de fls. 25 e 26, que tais funções seriam exercidas fora das
instalações da Recorrente, ‘na zona de Coimbra’, mas ‘sem prejuízo
das deslocações a efectuar por virtude dessas mesmas funções’, sem
indicação de qualquer limite;
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3. Para além de expressamente prevenida pelo contrato de trabalho


celebrado entre as partes, a realização de deslocações pelo
Recorrido, decorrentes da nova área de actuação resultante da
reestruturação realizada pela Recorrente, encontra-se abrangida
pelo disposto no artigo 154º, n. 2, do Código do Trabalho que, de
modo algum, limita tais deslocações, designadamente quanto ao seu
número, pelo que, ao decidir de modo diverso, o Acórdão recorrido
violou o disposto no [artº] 154°, n. 2, do Código do Trabalho;
4. Ainda que assim não se entendesse e se pudesse considerar, por
absurdo de raciocínio, que, com a reestruturação da área de
actuação do Recorrido, a Recorrente procedeu a uma modificação
do seu local de trabalho abrangida pela previsão do artigo 315º do
Código do Trabalho, que permite à entidade patronal transferir o
trabalhador para outro local de trabalho, caberia ao Recorrido
alegar e provar factos concretos que permitissem concluir que tal
transferência lhe acarretava ‘prejuízo sério’, entendido como um
‘dano relevante que determine uma alteração substancial do seu
plano de vida’;
5. A factualidade provada nos autos não permite de modo algum
concluir pela existência de qualquer dano relevante e, muito menos,
que a reestruturação da sua área de actuação determinava uma
alteração substancial do plano de vida do Recorrido, pelo que não
pode deixar de se concluir pela inexistência de prejuízo sério cujo
ónus da prova lhe cabia;
6. Assim sendo, mesmo na hipótese de se entender que a
reestruturação realizada se traduzia numa transferência do local de
trabalho, a mesma deveria ser considerada lícita, ao abrigo do
disposto no artigo 315º do Código do Trabalho, pelo que o Acórdão
recorrido violou o disposto no referido artigo 315º e no artigo 122º,
alínea f), a contrario, ambos do Código do Trabalho;
7. Ainda que, de novo por absurdo, assim não se entendesse, no que
não se concede, cabia ao Recorrido o ónus de alegar e provar factos
concretos que traduzissem um comportamento culposo da entidade
patronal, cuja gravidade e consequências justificassem que não lhe
fosse exigível manter-se ao serviço da entidade patronal, nos termos
previstos no artigo 441º e 396º do Código do Trabalho;
8. Ora, resultou dos autos que o Recorrido nunca chegou a prestar o
seu trabalho ao abrigo da referida reestruturação e nos novos
clientes incluídos na sua nova área de actuação e que, menos de dez
dias depois de receber a carta da Recorrente, de fls. 50, em que
expressamente se referia que a prestação do trabalho seria realizada
de acordo com as indicações que em cada momento lhe fossem
transmitidas, resolveu de imediato o contrato, invocando justa causa;

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9. Nesta medida, ainda que, por mero absurdo, se estivesse perante


uma transferência do local de trabalho, ilícita por causar prejuízo
sério ao Recorrido, no que não se consente de modo algum, não é
possível concluir que o comportamento da entidade patronal assumiu
qualquer gravidade ou teve qualquer tipo de consequências, que
impedissem a imediata manutenção da relação laboral, dado que o
Recorrido não chegou a realizar qualquer tipo de trabalho nessa
nova área de actuação, não tendo aguardado sequer pela definição
da forma de execução do trabalho, que ainda se mostrava necessário
efectuar, como lhe foi comunicado, para averiguar se, em concreto,
tal alteração se traduziria em qualquer comportamento grave e se
traria consequências tais que tornassem imediata e praticamente
impossível a manutenção da relação laboral;
10. Acresce, que o Recorrido foi contratado para exercer as funções
de vendedor a exercer fora das instalações da Recorrente e que a
possibilidade de realização de deslocações foi, desde o início,
inequivocamente admitida por ambas as partes, razão pela qual foi
expressamente salvaguardada na cláusula 3ª do contrato dos autos,
pelo que, não é sequer aceitável que se possa considerar a existência
de prática e imediata impossibilidade de manutenção da relação
laboral, decorrente unicamente da fixação de uma área de actuação
que, mantendo a área inicial da zona de Coimbra, implicava a
realização de deslocações por períodos correspondentes a três ou,
muito de quando em vez, quatro dias por mês;
11. Em consequência, não se mostram preenchidos no caso concreto
os pressupostos de justa causa de resolução do contrato de trabalho,
previstos no artigo 441º do Código do Trabalho, que permitiriam ao
Recorrido resolver, de imediato, o contrato que o vinculava à
Recorrente;
12. Assim, o Acórdão recorrido violou o disposto nos artigo[s] 441º e
396º do Código do Trabalho, devendo ser revogado e substituído por
outro que, reconhecendo a inexistência de justa causa de resolução
do contrato de trabalho pelo Recorrido, julgue a mesma ilícita,
julgando totalmente improcedente o pedido indemnizatório deduzido
pelo Recorrido;
13. Ainda que por mero absurdo de raciocínio, mas sem conceder, se
pudesse considerar que a nova área de actuação do Recorrido,
resultante da reestruturação da equipa comercial, se mostrava
incompatível com a sua vida familiar, traduzindo-se numa alteração
substancial das suas condições de trabalho, tornando imediata e
praticamente impossível a manutenção da relação laboral, apenas
lhe assistia o direito de resolver o contrato, nos termos previstos no
número 2 do artigo 441º do Código do Trabalho, sem direito a

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qualquer indemnização, nos termos previstos no artigo 443º, a


contrario, do Código do Trabalho;
14. Em consequência da ilicitude da resolução do contrato de
trabalho, deverá ser julgado totalmente procedente o pedido
reconvencional deduzido pela Recorrente, sendo reconhecido o seu
direito à indemnização prevista nos artigos 446º do Código do
Trabalho, no valor calculado nos termos previstos no artigos 447º e
448º do mesmo Código, condenando-se o Recorrido a pagar à
Recorrente a quantia de ! 2.020,00, correspondente ao período de
aviso prévio em falta, acrescida de juros de mora, nos termos
peticionados;
Termos em que deverá a presente revista ser julgada totalmente
procedente, revogando-se o Acórdão recorrido e substituindo-o por
outro que julgue improcedente a acção e procedente o pedido
reconvencional deduzido, declarando ilícita a resolução contratual,
por inexistência de justa causa, e condene o Recorrido no pagamento
da indemnização peticionada acrescida dos correspondentes juros,
nos termos previstos no artigo 446º do Código do Trabalho.”

Respondeu o autor à alegação da ré, defendendo a improcedência da


revista.

A Ex.ma Magistrada do Ministério Público neste Supremo exarou


«parecer» em que propugnou pela improcedência da revista.

Notificado às partes esse «parecer», veio a recorrente pronunciar-se


em sentido contrário ao que nele se expendia, vindo o recorrido a
pugnar pela sua curialidade.

Corridos os «vistos», cumpre decidir.


II

1. O acórdão sindicado deu por assente a seguinte factualidade (aqui


se incluindo já as alterações que, pelo mesmo, foram introduzidas): –

– 1) o autor foi admitido ao serviço da ré nos termos do acordo junto


a fls. 21 e 22, cujo teor aqui se dá por reproduzido, com início em 1
de Junho de 1996;
– 2) para, sob a sua autoridade, direcção e mediante retribuição,
exercer as funções inerentes à categoria profissional de vendedor de
dispositivos médicos e material hospitalar;
– 3) o autor começou por auferir a remuneração base de Esc.
90.000$00 mensais, acrescida do subsídio de almoço, no montante de
Esc. 550$00 por cada dia de trabalho efectivo e, ainda, comissões
sobre as vendas efectuadas em cada mês;
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– 4) aquela remuneração base sofreu sucessivos aumentos até que,


em Janeiro de 2005, foi fixada em ! 1.010, mantendo-se o subsídio
de almoço e as comissões e ainda um subsídio familiar de ! 16
mensais;
– 5) o autor foi promovido a vendedor especializado, pelo menos
desde Dezembro de 1996;
– 6) as funções profissionais do autor eram exercidas fora das
instalações da ré, ou seja, na zona de Coimbra, de acordo com o
acordado, sem prejuízo das deslocações que o autor tiver de efectuar
por virtude dessas mesmas funções;
– 7) a zona de Coimbra, previamente definida e acordada com o
autor, compreendia os seguintes hospitais: – Hospital Distrital da
Figueira da Foz, Hospitais da Universidade de Coimbra, Centro
Hospitalar de Coimbra, IPO Sousa Martins, S. Teotónio, Santo
André, em Leiria, Amato Lusitano, em Castelo Branco, Cova da
Beira, Pombal e Portalegre e diversos outros clientes;
– 8) o autor saía de manhã cedo para cumprir as suas obrigações, mas
pernoitava em casa;
– 9) o autor realizava a sua actividade nos locais de trabalho
previamente definidos;
– 10) as deslocações do autor para além da Zona de Coimbra eram
realizadas em função das áreas de intervenção que a ré, em cada
momento, definia;
– 11) ao longo da vigência do contrato de trabalho, a área de
intervenção e de actuação do autor foi variando, tendo sido ampliada
por diversas vezes;
– 12) a área de actuação do autor teve as seguintes alterações: – em
Fevereiro/Março de 1998, passou a incluir as localidades de Tomar e
de Alcobaça; em Janeiro de 1999, passou a incluir o distrito de
Aveiro; em Setembro de 2002, passou a incluir a localidade de
Abrantes e, em Novembro de 2004, passou a incluir o distrito de
Portalegre;
– 13) a ré agendou uma reunião com os seus vendedores para o dia 11
de Maio de 2007, onde foi apresentada a reestruturação da equipa
comercial, nos termos constante de fls. 42 a 45, cujo teor aqui se dá
por reproduzido, tendo esse documento sido então distribuído;
– 14) com a reestruturação referida em 13), a área de intervenção do
autor decorrente dessa reestruturação continuava a abranger o distrito
de Coimbra e limítrofes a Sul;
– 15) o autor ficava com cerca de 36 Hospitais, ARS e demais
clientes aí referidos, sendo entregues alguns dos seus clientes
anteriores, a Norte de Coimbra, ao colega do Porto;
– 16) paralelamente à atribuição de novas áreas e de novos clientes, o

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autor deixaria de actuar em outras e deixaria de ter a responsabilidade


por outros clientes até então sob a sua alçada;
– 17) com a definição das áreas dos vendedores da ré, a área de
actuação do autor deixaria de abranger os distritos de Aveiro, Viseu e
Guarda e a zona da Covilhã, do distrito de Castelo Branco, até então
incluídos na sua área de actuação;
– 18) em consequência, o autor deixaria nomeadamente de ser
responsável pelos seguintes clientes da ré: – Hospital de S. Teotónio,
em Viseu; Exelmédica, em Viseu; Hospital Sousa Martins, em Viseu;
Hospital Infante D. Pedro, em Aveiro; Centro Hospitalar Cova da
Beira, na Covilhã, Hospital S. Sebastião, em Santa Maria da Feira;
Hospital Distrital de Águeda, em Águeda; ARS de Aveiro; ARS da
Guarda e ARS de Viseu;
– 19) de acordo com essa reestruturação, o autor teria de estar cerca
de três dias «a fazer» os Hospitais de Lisboa e de pernoitar fora de
casa duas noites, a que teria de acrescentar os vários dias para
efectuar a zona de Elvas, Évora e Beja;
– 20) a forma concreta de planeamento do trabalho do autor na nova
área de actuação iria sendo definida;
– 21) a mulher do autor é professora, a leccionar na Escola Jaime
Cortesão, em Coimbra, cujo horário tem as componentes diurna e
nocturna, sendo que esta, às Segundas-Feiras, se prolonga até às 22
horas e 20 minutos, e, às Quartas e Sextas-Feiras, até às 23 horas e 40
minutos;
– 22) as tarefas domésticas, nomeadamente a de confeccionar o
jantar, de o servir ao seu filho, de auxiliar o filho no desempenho das
actividades escolares e de o deitar, nesses dias, eram asseguradas pelo
autor;
– 23) nessa reunião (de 11 de Maio de 2007), o autor não aderiu
desde logo à proposta que lhe foi feita;
– 24) após a reunião de 11 de Maio de 2007, o autor pediu e foi-lhe
concedido uma ou duas semanas para dar uma resposta;
– 25) o autor foi pressionado para aceitar;
– 26) a ré, em 2 de Fevereiro de 2007, anunciou a redução do plafond
do uso do telemóvel para ! 10 mensais, valor que era insuficiente
para os telefonemas que o autor tinha de efectuar para as dezenas de
hospitais e demais clientes, bem como para a firma;
– 27) a ré definiu esse plafond de ! 10 mensais, até então nunca
definido, dentro do qual os trabalhadores não tinham que justificar a
sua utilização;
– 28) caso, num determinado mês, fosse ultrapassado esse plafond
apenas com chamadas telefónicas de cariz profissional, o trabalhador
seria reembolsado do excesso;
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– 29) a ré propunha-se, a partir de 1 de Junho de 2007, efectuar


redução do valor da diária para alimentação para ! 12 em caso de
pernoita com a preterição do instituído pagamento da alimentação «à
factura»;
– 30) a ré procedeu à fixação de um valor diário em caso de pernoita,
que seria pago sem prejuízo do pagamento do «subsídio de
alimentação»;
– 31) em reunião havida no dia 23 de Maio de 2007 com o Director
(Rodrigo Trocado), o autor expôs as dificuldades do seu foro pessoal
que se lhe colocavam em relação à sua vida familiar, e que não podia
estar tanto tempo fora de casa e que não tinha quem lhe tomasse
conta do filho;
– 32) na sequência da reunião de 11 de Maio de 2007, o autor enviou
à ré a carta junta a fls. 46 a 47, cujo conteúdo aqui se dá por
integralmente reproduzido;
– 33) a ré respondeu a essa carta através da carta junta a fls. 50, cujo
texto aqui se dá por reproduzido;
– 34) por carta junta a fls. 51 e 52, expedida a 15 de Junho de 2007 e
recebida pela ré a 19 de Junho de 2007, o autor, nos termos aí
exarados, resolveu o contrato de trabalho;
– 35) o autor não voltou a trabalhar a partir de 19 de Junho;
– 36) [a ré – crê-se que por lapso se escreveu “O A. Ré”] não pagou
ao autor qualquer montante a título de diuturnidades;
– 37) a ré não pagou ao autor as férias, nem o subsídio de férias
vencidas em 1 de Janeiro de 2007, bem como os proporcionais de
férias, subsídios de férias e de Natal respeitantes ao trabalho prestado
em 2007;
– 38) a ré descontou, sob a rubrica «demissão», o valor da
remuneração mensal e acrescentou, sob a rubrica «acerto de
vencimento», o valor de ! 606,06, correspondente a 18 dias de
trabalho do mês de Junho de 2007, conforme consta do documento de
fls. 55, cujo conteúdo aqui se dá por integralmente reproduzido;
– 39) a ré, em 2 de Junho de 2007, colocou no Correio da Manhã o
anúncio junto a fls. 57, cujo conteúdo aqui se dá por integralmente
reproduzido;
– 40) perante a situação de desemprego, o autor passou a andar triste
e deprimido;
– 41) no dia 18 de Julho de 2007, o autor foi a uma consulta externa
no Hospital Sobral Cid, onde lhe foram prescritos diversos
medicamentos anti-depressivos, cujo tratamento o autor iniciou
imediatamente;
– 42) o autor acabou por nunca trabalhar na nova área de actuação
que lhe foi indicada;
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/0…802576e3003a76ba?OpenDocument&Highlight=0,preju%C3%ADzo,sério Page 11 of 24
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– 43) nunca chegaram a ser definidos os termos concretos como o


autor deveria realizar o seu trabalho nessa nova área de actuação;
– 44) o sistema referido em 27) a 29) apenas foi implementado após a
cessação do contrato de trabalho com o autor, pelo que nunca lhe foi
aplicado;
– 45) o autor nunca chegou a ser afectado pelo novo sistema referido
em 30) e 31);
– 46) a actividade da ré consiste na venda de dispositivos médicos e
material hospitalar;
– 47) a associação de empregadores representativa da actividade
desenvolvida pela Ré é a APORMED – Associação Portuguesa de
Empresas de Dispositivos Médicos.

2. O aresto em crise, ao enfrentar a questão de saber se, perante o


quadro fáctico assente, foi, ou não esteada em justa causa a resolução
do contrato de trabalho do autor, discreteou do seguinte jeito: –

“(…)
Tudo gira à volta da problemática relativa à correcta compreensão do
que deva entender-se por local de trabalho versus garantia de
inamovibilidade – arts. 122.º, f) e 154.º do actual Código do Trabalho
– assente que, por via de regra, o empregador não pode transferir o
trabalhador para outro local de trabalho, diverso do contratado, (…
salvo quando haja acordo ou nos casos expressamente previstos no
C.T. e nos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho),
devendo este realizar a sua prestação, em princípio, no local de
trabalho contratualmente definido…sem prejuízo do previsto
relativamente à mobilidade geográfica (arts. 315.º a 317.º).
E, pese embora a empenhada/esforçada argumentação desenvolvida,
a ponderação de todas as circunstâncias de facto relevantes leva-nos a
concluir que a sentença ‘sub judicio’ analisou bem, identificou, com
sensibilidade e bom senso, o ‘grande momento da verdade’, elegendo
a solução certa.
Com efeito, não obstante o convencionado pelas partes na cl.ª 3.ª do
convénio formalizado no documento de fls. 21-22, …(‘As funções
serão exercidas fora das instalações da R., ou seja, na zona de
Coimbra, …sem prejuízo das deslocações que o Segundo contraente,
o A., tiver de efectuar por virtude dessas mesmas funções’), aceita-se
perfeitamente que os sucessivos alargamentos da área de actuação do
A., em que este foi acordando, sempre caberiam na dita ressalva.
Porém, os termos em que lhe é imposta a nova área, (a Área 4, 'ut'
documento de fls. 42-45), em comparação com o conteúdo da
chamada Área 2, numa divisão que, nos termos do próprio
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documento, ‘acarreta necessária e obrigatoriamente um maior


número de deslocações e de permanência em cidades que não a de
base’, não deixa de constituir – como acertadamente se concluiu –
uma ilícita modificação do local/ /zona de trabalho, exorbitando
claramente a área contratualizada, centrada na zona de Coimbra, com
alteração dos pressupostos respectivos, que não suscitou o
acordo/adesão do destinatário/A.
A fundamentação jurídica em que assenta a solução eleita, (com
referências doutrinais e Jurisprudenciais que temos por apropriadas),
maxime a relativa à ponderação, em prognose, do prejuízo sério
adveniente, (como inevitável consequência, da determinada alteração
da área geográfica de intervenção do A.), na correcta compreensão da
gravidade e consequências postuladas pela noção de justa causa,
precipitando a imediata e prática impossibilidade da subsistência da
relação de trabalho, em tais condições, (como correctamente se
percepcionou e referiu, não se tratava de uma mera intenção ou
projecto da R., mas antes de uma determinação irreversível, já
tomada, e para ser imediatamente implementada, como deflui
inequivocamente da carta/documento da R. de fls. 50, parte final),
concita o nosso inteiro sufrágio, nada de realmente relevante ou
significativo nos parecendo dever acrescentar-se-lhe.
Aderindo aos seus fundamentos, para os quais se remete em tudo o
que não foi ou venha a ser directamente tratado, faremos uso, a final,
da faculdade prevista no n.º5 do art. 713.º do C.P.C.
(Sem ironia, diremos, parenteticamente, que a R., aproveitando a
menos precisa redacção do acordado na falada cl.ª 3.ª do contrato,
relativamente ao local de trabalho, poderia até, quem sabe, vir a
sustentar que a área de actuação do A. tanto é a zona de Coimbra e
arredores, como poderia ser a seguir – …sem deixar cair de todo a
zona de Coimbra, entenda-se… – a área de Lisboa e arredores, a Sul,
para já até Évora, Elvas e Beja, mas sem prejuízo de se estender
também, a mais ou menos curto prazo, a todo o Algarve Litoral, por
exemplo…
Esta hipótese não é de todo descartável – …antes pelo contrário –
bastando atentar no que a recorrente adianta a fls. 264 (e citamos): No
caso concreto, o que se verifica é que a área de actuação atribuída
ao recorrido corresponde exactamente à mesma área para a qual foi
contratado, a zona de Coimbra, com as alterações introduzidas ao
longo dos anos, tendo apenas sido reorganizada em consequência da
reestruturação da equipa comercial…
Elucidativo!
…Como elucidativo é também a alegada circunstância de o A., não
estando obrigado a manter-se para todo o sempre ao serviço da
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/0…802576e3003a76ba?OpenDocument&Highlight=0,preju%C3%ADzo,sério Page 13 of 24
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recorrente, poder denunciar o contrato, em qualquer momento,


mudar de vida, como se essa faculdade pudesse legitimar uma
qualquer conduta do empregador como a que vimos analisando… –
cfr. fls. 272-273).
Somos pois a concluir que a decisão em crise, interpretando os factos
no sentido em que o fez, ajuizou com acerto.
Excluídos do âmbito da previsão do n.º 2 do art. 154.º, os factos que
integram a determinação do empregador implicavam
necessariamente, nas suas inevitáveis e notórias consequências, uma
alteração substancial/ilícita do local de trabalho, com prejuízo sério
para o trabalhador, que ficou assim legitimado a resolver o contrato
com justa causa.
(…)”

Dada a remissão que é feita para a fundamentação carreada à


sentença da 1ª instância, curial é também que aqui se extracte o que, a
propósito, aí ficou consignado.

Lê-se, na verdade, em determinados pontos dessa peça processual: –

“(…)
Questão diversa é já a relativa ao crédito reclamado pelo
trabalhador em sede de indemnização, em que à entidade patronal é
possível discutir na acção por aquele intentada o montante
respectivo, designadamente com a discussão do valor da retribuição,
da antiguidade ou da dimensão dos danos não patrimoniais. Aqui já
não está em causa a validade e eficácia da resolução, antes a
redução às suas consequências patrimoniais (independentes da
licitude da declaração de resolução).
Ainda assim, admite-se que a entidade patronal, aproveitando a
propositura da acção por parte do A., possa, por via reconvencional,
proceder à impugnação ( – Com o mesmo entendimento, Albino
Mendes Baptista, notas sobre a cessação do contrato de trabalho por
iniciativa do trabalhador no novo Código do Trabalho, CEJ, pág.
542 e 543).
Na situação em apreço, foi precisamente isso que sucedeu, tendo a
Ré, deduzido, tempestivamente, pedido reconvencional na qual pediu
a declaração da ilicitude da resolução.
Importa, por isso, apreciar essa invocada ilicitude.
*
De acordo com o que resulta do art.º 444.º, n.º 3 do C.T, na acção
em que for apreciada a ilicitude da resolução apenas são atendíveis
para justificar os factos constantes da comunicação efectuada pelo
trabalhador.
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/0…802576e3003a76ba?OpenDocument&Highlight=0,preju%C3%ADzo,sério Page 14 of 24
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trabalhador.
Na situação dos autos o A. fundamentou a resolução nos seguintes
factos:
a) ter a Ré introduzido alterações às áreas de intervenção do A.
como vendedor, com impacto nas suas obrigações pessoais
(sobretudo familiares) e acarretando-lhe prejuízos económicos e
financeiros;
b) ter a Ré procedido à redução do valor dos abonos diários, em
especial no que concerne à alimentação que deixou de ser paga ‘à
factura’, para um valor diário de ! 12 e valor zero no caso de não
haver pernoita;
c) redução do ‘plafond’ mensal do valor das chamadas de telefone
móvel.
Daqui resulta uma primeira conclusão: a invocação do A. da falta de
pagamento de diuturnidades, sem prejuízo da sua verificação como
crédito do A., não pode ser tomada em conta como fundamento da
resolução, por não ter sido indicado na sua comunicação.
Depois, não assiste razão ao A. quando invocou como fundamento a
redução do ‘plafond’ concedido pela Ré a título de gastos com as
comunicações por telemóvel.
Numa medida de clara racionalização dos custos a Ré limitou-se a
reduzir o esse valor para ! 10 mensais (valor até ao qual os
trabalhadores não tinham que justificar a sua utilização – logo,
podendo ser canalizado para comunicações pessoais), mas com a
salvaguarda de que, em caso de ser ultrapassado, com chamadas
telefónicas de cariz profissional o trabalhador seria reembolsado do
excesso.
Com tal medida mantiveram-se salvaguardados os direitos
patrimoniais do A. (não suportar à sua custa comunicações de cariz
profissional) e bem assim a racionalização dos custos por parte da
Ré, não assistindo ao A. qualquer direito a que a Ré pagasse
ilimitadamente, sem controlo, as comunicações por telemóvel.
Não existem ainda elementos bastantes para se poder concluir que
ficaram beliscados os direitos do A. com a redução da diária.
É verdade que a Ré se propunha, a partir de 01/06/2007, efectuar
redução do valor da diária para alimentação para !12,00, em caso
de pernoita, com a preterição do instituído pagamento da
alimentação ‘à factura’.
Se bem se compreende aquilo que resulta do texto da factualidade
dada como provada, anteriormente, em caso de pernoita, as despesas
de alimentação eram pagas à factura, ou seja, a Ré, a título de
alimentação, suportava o gasto efectivo com as refeições; com a
nova medida, mantendo o pagamento do subsídio de alimentação,
nas situações de pernoita, passou a conceder o valor diário de ! 12
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/0…802576e3003a76ba?OpenDocument&Highlight=0,preju%C3%ADzo,sério Page 15 of 24
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para suportar essas despesas.


Ora, destinando-se esse valor, no essencial, a custear as despesas
com o jantar e ‘lanche’, o valor conferido é perfeitamente razoável,
não se vendo que tal represente fundamento bastante para a
resolução do contrato de trabalho.
Dito isto, em jeito de antecipação, por aqui se ficam as situações de
falta de razão pelo A..
O A. assentou o essencial da resolução numa alegada modificação
ilícita da sua área de trabalho.
É consabido que o trabalhador deve, em princípio, realizar a sua
prestação no local de trabalho contratualmente definido (art.º 154.º,
n.º 1 do C.T.), sendo esse um dos elementos do contrato de trabalho,
de maior relevância para o trabalhador e para o empregador.
É relevante para o empregador porque, em geral, a prestação do
trabalhador só servirá o seu legítimo interesse se o for no local onde
dela precisa.
Para o trabalhador, na medida em que implica com a organização
da sua vida aos mais diversos níveis, quer pessoal, familiar,
habitacional e social.
Daí a relevância em ficar acordado no respectivo contrato, expressa
ou tacitamente, qual o local de trabalho, precisamente dada a
importância que isso passa a assumir para a vida do trabalhador e
da sua família e, quiçá, para o desenvolvimento da actividade do
empregador.
Como refere Bernardo Lobo Xavier (Curso de Direito do Trabalho,
Verbo, 1992, pág. 347) ‘... fixado no contrato o lugar da prestação, o
trabalhador vai dispor nesses termos a sua maneira de viver. De
acordo com o local em que trabalha vai organizar o seu plano de
vida, pois é tendo em vista o sítio onde desempenha a sua actividade
que o trabalhador fixa a sua residência, resolve o problema dos seus
transportes, cuida da educação dos filhos e programa até o gozo dos
seus ócios. Com efeito, trabalhar num determinado lugar significa o
mesmo que ir viver para esse lugar e aqui se compreende uma série
de valores em que entram elementos económicos e materiais de vulto,
como o custo de vida e a fadiga e demora dos transportes e outros
interesses talvez de maior importância: saúde, bem-estar, educação e
a simples alegria de viver...’.
Uma das garantias asseguradas ao trabalhador é a da estabilidade
do local de trabalho, traduzindo-se na proibição da entidade
patronal transferir o trabalhador para local diferente daquele em
que o presta, salvo em condições precisadas na lei.
Em função deste especial relevo, o nosso sistema jurídico garantiu
ao trabalhador a sua inamovibilidade (art.º 122.º, f), do Código do
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Trabalho).
Assim, salvo se houver estipulação em contrário, a transferência do
trabalhador para outro local de trabalho, enquanto derrogação do
princípio da inamovibilidade, só é permitida quando não implique
prejuízo sério ao trabalhador ou se resultar de mudança, total ou
parcial, do estabelecimento onde é prestado o serviço.
Não estando em causa a mudança do estabelecimento em que é
prestado o serviço, há que decidir sobre a verificação ou não da
existência de um ‘prejuízo sério’ para o trabalhador, com a
transferência operada sem o seu consentimento.
O ‘prejuízo sério’ a que se refere a lei deve ser apreciado segundo as
circunstâncias concretas de cada caso, devendo assumir um peso
significativo na vida do trabalhador, não podendo consistir em mero
incómodo um de ou transtorno suportável.
O prejuízo terá de assumir gravidade de molde relevante a
estabilidade da vida do trabalhador, violando a garantia da
inamovibilidade que o legislador tutela (V. Monteiro Fernandes,
Direito do Trabalho, 6. edição páginas 326, bem como o acórdão do
S.T.J. Supremo de 26 de Maio de 1993, no processo n.º 3651).
O prejuízo sério deve ser apreciado segundo as circunstâncias
concretas de cada caso e dependerá, nomeadamente, de uma
deslocação diária muito mais morosa e onerosa ou duma acrescida
dificuldade diária de transporte ou da impossibilidade de uma
deslocação diária, atenta a distância a percorrer, ficando o
trabalhador limitado, por exemplo, apenas a uma deslocação
semanal ou quinzenal, com eventuais reflexos na sua vida pessoal
e/ou familiar.
A medida dos prejuízos causados ao trabalhador com a transferência
tem de ser encontrada a partir dos factos alegados pelo trabalhador
que possibilitem determinar aquilo que é essencial na sua vida, e,
consequentemente, em que medida foi afectada. É ele que, em
melhores condições, poderá trazer ao processo os elementos que
permitam formular o juízo, já que a entidade patronal, por via de
regra, terá sempre maior dificuldade em circunstanciar o quadro que
permita atingir e defender os valores tutelados na lei.
A noção de prejuízo sério assume, pois, particular relevo, bem
decomposta na análise superiormente feita por Bernardo Xavier, terá
necessariamente de entender-se, por definição contextual aberta,
como sendo um ‘juízo antecipado de probabilidade ou de adequação
causal, que implica, contudo, a consideração de elementos de facto
actuais’.
Na situação dos autos o A. foi contratado como vendedor, para
exercer as suas funções na zona de Coimbra, sem prejuízo das
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exercer as suas funções na zona de Coimbra, sem prejuízo das

deslocações que tivesse que efectuar por virtude dessas mesmas


funções (cláusula 3.ª do contrato de trabalho).
Compreende-se que, dadas as características da actividade da Ré e a
função exercida pelo A., que o conceito de local de trabalho inclui
uma área relativamente alargada, com base na zona de Coimbra,
admitindo-se que, em virtude dessas funções, pontualmente, tivesse
que efectuar deslocações para outras zonas do país.
Por isso mesmo, nos termos previamente definidos e acordados com
o A. a zona comercial do A. compreendia os seguintes hospitais:
H.D. Fig. da Foz, Hospitais da Universidade de Coimbra, Centro
Hospitalar de Coimbra, IPO, Sousa Martins, S. Teotónio; Stº. André
em Leiria, Amato Lusitano em Castelo Branco, Cova da Beira,
Pombal e Portalegre e diversos outros clientes.
Ao longo da vigência do contrato de trabalho, a área de intervenção
e de actuação do A. foi variando, tendo sido ampliada por diversas
vezes (em Fevereiro/Março de 1998 passou a incluir as localidades
de Tomar e de Alcobaça; em Janeiro de 1999 passou a incluir o
distrito de Aveiro; em Setembro de 2002 passou a incluir a
localidade de Abrantes e em Novembro de 2004 passou a incluir o
distrito de Portalegre).
Ainda assim, o A. conseguia exercer a sua actividade saindo cedo
mas pernoitando em casa.
Não obstante, com a reestruturação introduzida, apesar de a área de
intervenção do A. continuar a abranger o distrito de Coimbra e
limítrofes a sul, o A. ficou com cerca de 36 Hospitais, ARS e demais
clientes referidos no plano.
De acordo com essa reestruturação o A. teria de estar cerca de três
dias a fazer os Hospitais de Lisboa e de pernoitar fora de casa duas
noites, a que teria de acrescentar os vários dias para efectuar a zona
de Elvas, Évora e Beja.
Para poder cumprir o programa – de acordo com a reestruturação –
o A. teria que alterar radicalmente toda a sua vida pessoal e
familiar, uma vez que é casado, tem um filho menor, de oito anos de
idade, e reside a cerca de 20 km de distância de Coimbra.
Tal como resulta da factualidade apurada:
– a esposa do A. é professora, a leccionar na Escola Jaime Cortesão,
em Coimbra, cujo horário tem as componentes diurna e nocturna,
sendo que esta, às Segundas-Feiras se prolonga até às 22h20, e às
Quartas e Sextas-Feiras, até às 23h40 e
– as tarefas domésticas, nomeadamente a de confeccionar o jantar,
de o servir ao seu filho, de auxiliar o filho no desempenho das
actividades escolares e de o deitar, nesses dias, eram asseguradas
pelo A..
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pelo A..

Estamos então na presença de uma alteração do local de trabalho


que implica prejuízo sério ao trabalhador e, consequentemente,
ilícita, posto que não obteve o prévio acordo do mesmo nem resultou
de mudança, total ou parcial, do estabelecimento da Ré (art.º 315.º
do C.T.).
Não tem razão a Ré quando conclui que a possibilidade dessa
alteração já estava salvaguardada no contrato de trabalho, porque o
que aí se previa era a mera salvaguarda das deslocações que já
decorre do art.º 145º, nº 2 do C.T..
Essa possibilidade não apenas não estava prevista no contrato, como
a Ré alargou substancialmente a área comercial do A., que deixou de
se localizar apenas «na zona de Coimbra» para se estender v.g a
Lisboa, Cascais, Santarém, Beja, Évora, Elvas, etc.), causando-lhe
prejuízos para a sua vida familiar.
Esta modificação, simultaneamente quanto à dimensão do serviço e à
área de prestação de actividade é, por isso, ilegítima e,
consubstanciando uma violação culposa das garantias legais do A.,
(art. 441.º do C.T.) pela sua gravidade e consequências, tornam
imediata e praticamente impossível a subsistência da relação de
trabalho (art.º 396º, n.º 1 do C.T.).
Por outro lado, não se trata de uma mera intenção/projecto da Ré,
susceptível de alteração face à rejeição por parte do A., mas uma
decisão já tomada e na eminência de ser executada, conforme bem o
evidencia a carta de fls. 50.
(…)”

3. As cortes fundamentadoras das decisões tomadas pelas instâncias


têm a anuência deste Supremo, pelo que quiçá bastaria para as
mesmas remeter nos termos do preceituado nas disposições
conjugadas dos artigos 713º, nº 5, e 726º, ambos do diploma
adjectivo comum.

Todavia, e à guisa de refutação do argumentário da impugnante


trazido à sua alegação, ainda se efectivarão algumas considerações.

Como deflui das «conclusões» formuladas na alegação, a recorrente,


num primeiro passo, sustenta que o acervo fáctico apurado não
permitia o veredicto que foi alcançado pelo acórdão revidendo, já que
não procedeu, ex professo, a uma mudança do local de trabalho do
autor, antes tendo reestruturado a sua zona de actuação, de onde
decorreu um alargamento da zona interventiva funcional daquele
autor, o que era permitido em face dos seus poderes directivo e de
autoridade e tinha cobertura no clausulado em 3º do negócio jurídico-
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laboral celebrado entre as partes.


Aquela estipulação, bem como a constante em 1º do dito contrato,
rezam assim: –
“1º
O Segundo Contraente [autor da acção de onde emergiu o vertente
recurso] é admitido ao serviço do Primeiro [a ora impugnante] para
exercer as funções inerentes à categoria profissional de
VENDEDOR.
(…)

As funções serão exercidas fora das instalações do Primeiro
Contraente, ou seja na Zona de Coimbra, sem prejuízo das
deslocações que o Segundo tiver de efectuar por virtude dessas
mesmas funções.
(…)”

Independentemente da factualidade demonstrada [cfr. item 6) de II


1.], os próprios termos em que ficou redigida a normação privada
inserta em 3º supra transcrito, seriam figuráveis, por um normal
declaratário colocado na posição do autor, desconhecedor de qual
fosse a real vontade que a ré detinha ao produzir a declaração
negocial consubstanciada nessa estipulação, como significando que o
desempenho das funções contratadas não era prosseguido nas
instalações da recorrente, mas sim fora delas, conquanto
circunscritas à zona de Coimbra, e isso sem embargo de o mesmo,
por causa do exercício de actividade para o qual foi contratado, se
dever deslocar a outro local geográfico sito fora daquela zona.
Ora, para além desta figuração, certo é que ficou provado que, a
apelidada «zona de Coimbra» foi previamente definida como
abarcando o Hospital Distrital da Figueira da Foz, Hospitais da
Universidade de Coimbra, Centro Hospitalar de Coimbra, IPO Sousa
Martins, S. Teotónio, Santo André, em Leiria, Amato Lusitano, em
Castelo Branco, Cova da Beira, Pombal e Portalegre e diversos outros
clientes, sendo que, no decorrer da realização da sua actividade nos
locais previamente definidos, o autor saía de manhã cedo e
pernoitava em casa [cfr. items 7), 8) e 9) de II 1.]

Isto significa, e inequivocamente, em nossa visão, que, ao menos


aquando da outorga do contrato, era aquele espaço geográfico o que
fora aprazado como local de trabalho do autor (e que tem respaldo no
teor do clausulado).

É certo que se apurou também [cfr. items 11) e 12) de II 1.] que, no
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/0…802576e3003a76ba?OpenDocument&Highlight=0,preju%C3%ADzo,sério Page 20 of 24
Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça 14/11/04 15:52

É certo que se apurou também [cfr. items 11) e 12) de II 1.] que, no
prosseguimento da relação contratual, a intervenção do autor foi
variando, tendo sido ampliada, de sorte a incluir as localidades de
Tomar, Alcobaça (em Fevereiro/Março de 1998), o Distrito de
Aveiro (em Janeiro de 1999), Abrantes (em Setembro de 2002) e o
Distrito de Portalegre (em Novembro de 2004).
No entanto, não obstante essa ampliação, nenhum elemento fáctico se
demonstrou que apontasse no sentido de, a ocorrerem deslocações do
autor para esses novos locais (e dizemos «novos» reportadamente à
definição do espaço acordado anteriormente), houvesse mudança de
«prática» de vida relativamente àquela que ocorria quanto à «zona de
Coimbra», tal como inicialmente foi acordada.

E, de outro lado, que à aludida ampliação o autor não deu o seu


acordo.

Tudo isto para significar que, efectivamente, o negócio aprazado


entre as partes efectuou uma definição concreta do local onde o autor
iria desempenhar o seu labor, conquanto tivesse ficado consagrada a
existência de deslocações a locais não inseridos naquela definição,
para além de, mesmo ponderando as já assinaladas alterações, isso
não querer dizer que inexistisse aquela definição, já que também com
aquelas alterações, o espaço geográfico em que o autor teria de
prestar a sua obrigação laboral se encontrava delineado.
Ora, com a unilateralmente decidida reestruturação das áreas de
intervenção dos seus vendedores, a ré veio, na realidade, a alterar o
mencionado espaço.

Não assiste, assim, razão à ré no particular de que curamos, sendo


que a circunstância, agora por ela erigida (e segundo a qual, perante a
matéria demonstrada, com a reestruturação operada, o autor,
conquanto ficando com as novas áreas de clientes, iria deixar de ter a
seu cargo outros clientes até então a ele adstritos, isso não implicava
que aquela reestruturação impedia o dito autor de manter a assistência
familiar que, até então, prestava), é, frontalmente, contrariada pela
factualidade que acima se encontra enunciada em 8), 19), 21) e 22) de
II 1..
E, se é certo que, ao menos tendo em conta o que se encontra naquele
item 19) de II 1., daí se não possa extrair, sem mais, que, quando o
autor se encontrasse a contactar os clientes dos Hospitais de Lisboa e,
consequentemente, nessa zona tivesse de passar duas noites, isso
consequenciava uma situação que ocorresse sistematicamente todas
as semanas, menos certo não é que, desse mesmo item, igualmente
http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/0…802576e3003a76ba?OpenDocument&Highlight=0,preju%C3%ADzo,sério Page 21 of 24
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as semanas, menos certo não é que, desse mesmo item, igualmente


resulta que acrescia a essa situação aqueloutra de, para além da
indicada zona, o autor ainda tinha de passar vários dias nas zonas de
Elvas, Évora e Beja.
De todo o modo, do aludido item, e ao contrário da perspectiva
sufragada pela ré, também não resulta, de todo, que todas aquelas
deslocações (zona dos Hospitais de Lisboa e zonas de Elvas, Évora e
Beja) não tinham, como ela afirma, “qualquer carácter regular e
periódico, ou pelo menos espaçadamente, e nunca semanalmente”.

Desta arte, não se lobriga que o aresto revidendo tivesse violado os


normativos precipitados nos artigos 315º, nº 1, e 122º, alínea f),
ambos do Código do Trabalho aprovado pela Lei nº 99/2003, de 27
de Agosto (compêndio normativo aplicável ao caso sub iudicio).
4. É evidente que a afirmação imediatamente acima efectuada terá de
ser explicitada pela análise da questão de saber se a matéria de facto
apurada deve, ou não, ser considerada como bastante para integrar o
prejuízo sério a que se reporta o último dos preceitos nela indicados.

Perfilha a ré a óptica de harmonia com a qual a resposta àquela


questão apenas pode ser a dada pela segunda adversativa.
Não se comunga, no entanto, de tal óptica.

Na verdade, da reestruturação, levada a efeito pela ré, das áreas de


intervenção dos seus vendedores e que tiveram projecção naquelas
que, inicialmente, e mesmo com as variações que, ao longo do
contrato aprazado entre ele e a ora impugnante, foram sucedendo,
resulta inequívoco que, ainda que ponderando essas variações, nunca
ocorreriam situações que demandassem ao recorrido a necessidade de
não regresso diário à sua residência.

Esse regresso permitia-lhe a prossecução das tarefas de


acompanhamento familiar a que se reporta o já indicado item 22) de
II 1., sendo aqui perfeitamente cabidas as considerações que foram
carreadas à sentença da 1ª instância, nomeadamente as ancoradas na
indicação doutrinária da obra, aí citada, do Prof. Bernardo Xavier.

Não se poderá, assim, esgrimir com um argumento de acordo com o


qual a alteração que o autor sofreu quanto ao desenvolvimento da sua
anterior zona de laboração não poderá consubstanciar, de um ponto
de vista subjectivo, mas com respaldo objectivo, uma corte
circunstancial que, efectivamente, veio a assumir uma sublinhada
alteração no trem de vida costumeiro dele e, como refere aquela peça
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processual, sem que isso se traduza num mero incómodo ou num


transtorno suportável.
5. Brande a recorrente também com o ponto de vista de que, ainda
que se considerasse que houve ilícita mudança unilateral do local de
trabalho do autor e que com, com ela, este tivesse prejuízos sérios, a
sua conduta não podia ser entendida como revestindo uma gravidade
tal que implicasse a impossibilidade de subsistência da relação
laboral.

Desde logo, deve atentar-se em que, adquirida que foi já a ilicitude da


mudança do local de trabalho do autor, decidida unilateralmente pela
ré (e, para tanto, é necessária, como se depara óbvio, a ocorrência de
factualidade subsumível ao conceito de prejuízo sério do trabalhador
advindo dessa mudança), está desenhada a proibição que tem assento
na alínea b) do já mencionado artº 122º do Código do Trabalho, razão
pela qual é curial o apelo à norma inserta na alínea b) do nº 1 do artº
441º do mesmo corpo legislativo.
Ademais, não se deve escamotear que, consoante se extrai dos items
24), 25), 31), 32) e 33), o autor fez ver à ré os inconvenientes e
transtornos que lhe causaria a reestruturação das zonas dos seus
vendedores e consequentes repercussões nas zonas a seu cargo e, não
obstante, foi pressionado para aceitar as novas condições impostas.
Daqui decorre a reiteração de uma actuação por banda da impugnante
que, muito embora chamada a atenção pelo autor, persistiu no seu
intento de mudança de local de trabalho (que, como já se viu, incorria
em ilicitude).
Não se pode, por isso, sustentar que a ré não assumiu um
comportamento não censurável e desprovido de qualquer gravidade,
não relevando minimamente a sua argumentação no sentido de que,
enquanto o autor não desempenhasse o trabalho na nova zona e se
não tivesse encontrado a definição da sua nova forma de execução,
não lhe seria lícito resolver o contrato.
Uma tal forma argumentativa, no limite, conduziria a que, quando
existe uma violação de deveres por parte da entidade empregadora e
que sejam susceptíveis de, designadamente, integrar as causas
exemplificadas nos números 1 e 2 do artº 441º do Código do
Trabalho, para que o trabalhador pudesse exercer a faculdade de
resolução do contrato, ter-se-ia de sujeitar às consequências reais
decorrentes daquela violação, independentemente da gravidade
objectiva destas.

http://www.dgsi.pt/jstj.nsf/954f0ce6ad9dd8b980256b5f003fa814/0…802576e3003a76ba?OpenDocument&Highlight=0,preju%C3%ADzo,sério Page 23 of 24
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6. Em derradeiro termo, a recorrente vem defender que não seria de


conferir ao autor a indemnização prevista no artº 443º do antedito
Código, pois que a situação em apreço se reconduziria à previsão da
alínea b) do seu nº 2 (e sem que explique qual delas), mesmo que,
sem conceder “se pudesse considerar que a nova área de actuação
do Recorrido, resultante da reestruturação da equipa comercial, se
mostrasse incompatível com a sua vida familiar, traduzindo-se numa
alteração substancial das suas condições de trabalho, tornando
imediata e praticamente impossível a manutenção da relação
laboral”.
É inegável que a adução deste argumento tem, de modo necessário,
de passar pela premissa de que a alteração substancial das condições
de trabalho do autor advindas da mudança da zona onde prestava o
seu labor não pode ser assacável a um comportamento culposo e
ilegítimo da entidade empregadora.
Basta, para tanto, ler aquele específico preceito legal [alínea b) do nº
2 do artº 441º].

Simplesmente, porque a actuação da ré não é de ter como a


prossecução de um exercício legítimo dos poderes que detinha, como
se viu já, torna-se clara a improcedência desta particular adução
argumentativa, com o sequente juízo de o autor não dever ser
responsabilizado nos termos do artº 446º do Código do Trabalho.
II
Pelo que veio de se expor, nega-se a revista.
Custas pela recorrente.

Supremo Tribunal de Justiça, 3 de Março de 2010


Bravo Serra (Relator)
Mário Pereira
Sousa Peixoto

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