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III - O prejuízo sério a que se refere a lei deve ser apreciado segundo
as circunstâncias concretas de cada caso, devendo a transferência
assumir um peso significativo na vida do trabalhador, abalando, de
forma grave, a estabilidade da sua vida, violando, assim, a garantia da
inamovibilidade que o legislador tutela.
IV - A medida dos prejuízos causados ao trabalhador com a
transferência tem que ser encontrada a partir dos factos que por ele
sejam alegados e que possibilitem determinar aquilo que é essencial
na sua vida e, consequentemente, apurar em que medida esta foi
afectada.
V - A noção de prejuízo sério assume particular relevo e terá,
necessariamente, de entender-se, por definição contextual aberta,
como sendo um juízo antecipado de probabilidade ou de adequação
causal, que implica, contudo, a consideração de elementos de facto
actuais.
VI - Tendo o Autor sido admitido ao serviço da Ré para exercer as
funções de vendedor na zona de Coimbra, sem prejuízo das
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– devia a acção ser tida por improcedente, pois que nos termos do
contrato de trabalho celebrado entre ela e o autor estava
expressamente previsto que as funções de vendedor na zona de
Coimbra eram efectuadas sem prejuízo de deslocações que tivesse de
levar a efeito por virtude dessas funções, o que implicava que estas se
deveriam realizar em razão das áreas de intervenção da actividade da
ré, definidas em cada momento pela mesma, sendo que, de 1998 a
2004, a área de actuação do autor incluiu localidades tais como
Tomar, Alcobaça, Aveiro, Torres Vedras, Abrantes e o Distrito de
Portalegre;
– após a redefinição da área de intervenção da ré, o autor deixaria de
ser responsável por clientes de Viseu, Aveiro, Covilhã, Santa Maria
da Feira, Águeda e Guarda;
– o volume de vendas a realizar na nova área de que o autor ficou
incumbido seria incomparavelmente superior ao da anterior área,
reflectindo-se nas comissões a auferir pelo autor;
- o plafond dos gastos com telemóvel, que não incluía limitação de
chamadas telefónicas de cariz profissional – pois que, demonstradas
estas, seria o trabalhador reembolsado do respectivo custo –, só foi
implementado após a cessação do contrato de trabalho aprazado entre
o autor e a é, pelo que nunca lhe foi aplicado, o mesmo sucedendo no
tocante à fixação de um valor diário para pernoita;
– o contrato colectivo de trabalho citado pelo autor não é aplicável à
relação jurídica firmada entre ele e a ré, já que esta não exerce
actividade de indústria farmacêutica.
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“(…)
Tudo gira à volta da problemática relativa à correcta compreensão do
que deva entender-se por local de trabalho versus garantia de
inamovibilidade – arts. 122.º, f) e 154.º do actual Código do Trabalho
– assente que, por via de regra, o empregador não pode transferir o
trabalhador para outro local de trabalho, diverso do contratado, (…
salvo quando haja acordo ou nos casos expressamente previstos no
C.T. e nos instrumentos de regulamentação colectiva de trabalho),
devendo este realizar a sua prestação, em princípio, no local de
trabalho contratualmente definido…sem prejuízo do previsto
relativamente à mobilidade geográfica (arts. 315.º a 317.º).
E, pese embora a empenhada/esforçada argumentação desenvolvida,
a ponderação de todas as circunstâncias de facto relevantes leva-nos a
concluir que a sentença ‘sub judicio’ analisou bem, identificou, com
sensibilidade e bom senso, o ‘grande momento da verdade’, elegendo
a solução certa.
Com efeito, não obstante o convencionado pelas partes na cl.ª 3.ª do
convénio formalizado no documento de fls. 21-22, …(‘As funções
serão exercidas fora das instalações da R., ou seja, na zona de
Coimbra, …sem prejuízo das deslocações que o Segundo contraente,
o A., tiver de efectuar por virtude dessas mesmas funções’), aceita-se
perfeitamente que os sucessivos alargamentos da área de actuação do
A., em que este foi acordando, sempre caberiam na dita ressalva.
Porém, os termos em que lhe é imposta a nova área, (a Área 4, 'ut'
documento de fls. 42-45), em comparação com o conteúdo da
chamada Área 2, numa divisão que, nos termos do próprio
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“(…)
Questão diversa é já a relativa ao crédito reclamado pelo
trabalhador em sede de indemnização, em que à entidade patronal é
possível discutir na acção por aquele intentada o montante
respectivo, designadamente com a discussão do valor da retribuição,
da antiguidade ou da dimensão dos danos não patrimoniais. Aqui já
não está em causa a validade e eficácia da resolução, antes a
redução às suas consequências patrimoniais (independentes da
licitude da declaração de resolução).
Ainda assim, admite-se que a entidade patronal, aproveitando a
propositura da acção por parte do A., possa, por via reconvencional,
proceder à impugnação ( – Com o mesmo entendimento, Albino
Mendes Baptista, notas sobre a cessação do contrato de trabalho por
iniciativa do trabalhador no novo Código do Trabalho, CEJ, pág.
542 e 543).
Na situação em apreço, foi precisamente isso que sucedeu, tendo a
Ré, deduzido, tempestivamente, pedido reconvencional na qual pediu
a declaração da ilicitude da resolução.
Importa, por isso, apreciar essa invocada ilicitude.
*
De acordo com o que resulta do art.º 444.º, n.º 3 do C.T, na acção
em que for apreciada a ilicitude da resolução apenas são atendíveis
para justificar os factos constantes da comunicação efectuada pelo
trabalhador.
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trabalhador.
Na situação dos autos o A. fundamentou a resolução nos seguintes
factos:
a) ter a Ré introduzido alterações às áreas de intervenção do A.
como vendedor, com impacto nas suas obrigações pessoais
(sobretudo familiares) e acarretando-lhe prejuízos económicos e
financeiros;
b) ter a Ré procedido à redução do valor dos abonos diários, em
especial no que concerne à alimentação que deixou de ser paga ‘à
factura’, para um valor diário de ! 12 e valor zero no caso de não
haver pernoita;
c) redução do ‘plafond’ mensal do valor das chamadas de telefone
móvel.
Daqui resulta uma primeira conclusão: a invocação do A. da falta de
pagamento de diuturnidades, sem prejuízo da sua verificação como
crédito do A., não pode ser tomada em conta como fundamento da
resolução, por não ter sido indicado na sua comunicação.
Depois, não assiste razão ao A. quando invocou como fundamento a
redução do ‘plafond’ concedido pela Ré a título de gastos com as
comunicações por telemóvel.
Numa medida de clara racionalização dos custos a Ré limitou-se a
reduzir o esse valor para ! 10 mensais (valor até ao qual os
trabalhadores não tinham que justificar a sua utilização – logo,
podendo ser canalizado para comunicações pessoais), mas com a
salvaguarda de que, em caso de ser ultrapassado, com chamadas
telefónicas de cariz profissional o trabalhador seria reembolsado do
excesso.
Com tal medida mantiveram-se salvaguardados os direitos
patrimoniais do A. (não suportar à sua custa comunicações de cariz
profissional) e bem assim a racionalização dos custos por parte da
Ré, não assistindo ao A. qualquer direito a que a Ré pagasse
ilimitadamente, sem controlo, as comunicações por telemóvel.
Não existem ainda elementos bastantes para se poder concluir que
ficaram beliscados os direitos do A. com a redução da diária.
É verdade que a Ré se propunha, a partir de 01/06/2007, efectuar
redução do valor da diária para alimentação para !12,00, em caso
de pernoita, com a preterição do instituído pagamento da
alimentação ‘à factura’.
Se bem se compreende aquilo que resulta do texto da factualidade
dada como provada, anteriormente, em caso de pernoita, as despesas
de alimentação eram pagas à factura, ou seja, a Ré, a título de
alimentação, suportava o gasto efectivo com as refeições; com a
nova medida, mantendo o pagamento do subsídio de alimentação,
nas situações de pernoita, passou a conceder o valor diário de ! 12
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Trabalho).
Assim, salvo se houver estipulação em contrário, a transferência do
trabalhador para outro local de trabalho, enquanto derrogação do
princípio da inamovibilidade, só é permitida quando não implique
prejuízo sério ao trabalhador ou se resultar de mudança, total ou
parcial, do estabelecimento onde é prestado o serviço.
Não estando em causa a mudança do estabelecimento em que é
prestado o serviço, há que decidir sobre a verificação ou não da
existência de um ‘prejuízo sério’ para o trabalhador, com a
transferência operada sem o seu consentimento.
O ‘prejuízo sério’ a que se refere a lei deve ser apreciado segundo as
circunstâncias concretas de cada caso, devendo assumir um peso
significativo na vida do trabalhador, não podendo consistir em mero
incómodo um de ou transtorno suportável.
O prejuízo terá de assumir gravidade de molde relevante a
estabilidade da vida do trabalhador, violando a garantia da
inamovibilidade que o legislador tutela (V. Monteiro Fernandes,
Direito do Trabalho, 6. edição páginas 326, bem como o acórdão do
S.T.J. Supremo de 26 de Maio de 1993, no processo n.º 3651).
O prejuízo sério deve ser apreciado segundo as circunstâncias
concretas de cada caso e dependerá, nomeadamente, de uma
deslocação diária muito mais morosa e onerosa ou duma acrescida
dificuldade diária de transporte ou da impossibilidade de uma
deslocação diária, atenta a distância a percorrer, ficando o
trabalhador limitado, por exemplo, apenas a uma deslocação
semanal ou quinzenal, com eventuais reflexos na sua vida pessoal
e/ou familiar.
A medida dos prejuízos causados ao trabalhador com a transferência
tem de ser encontrada a partir dos factos alegados pelo trabalhador
que possibilitem determinar aquilo que é essencial na sua vida, e,
consequentemente, em que medida foi afectada. É ele que, em
melhores condições, poderá trazer ao processo os elementos que
permitam formular o juízo, já que a entidade patronal, por via de
regra, terá sempre maior dificuldade em circunstanciar o quadro que
permita atingir e defender os valores tutelados na lei.
A noção de prejuízo sério assume, pois, particular relevo, bem
decomposta na análise superiormente feita por Bernardo Xavier, terá
necessariamente de entender-se, por definição contextual aberta,
como sendo um ‘juízo antecipado de probabilidade ou de adequação
causal, que implica, contudo, a consideração de elementos de facto
actuais’.
Na situação dos autos o A. foi contratado como vendedor, para
exercer as suas funções na zona de Coimbra, sem prejuízo das
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pelo A..
É certo que se apurou também [cfr. items 11) e 12) de II 1.] que, no
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É certo que se apurou também [cfr. items 11) e 12) de II 1.] que, no
prosseguimento da relação contratual, a intervenção do autor foi
variando, tendo sido ampliada, de sorte a incluir as localidades de
Tomar, Alcobaça (em Fevereiro/Março de 1998), o Distrito de
Aveiro (em Janeiro de 1999), Abrantes (em Setembro de 2002) e o
Distrito de Portalegre (em Novembro de 2004).
No entanto, não obstante essa ampliação, nenhum elemento fáctico se
demonstrou que apontasse no sentido de, a ocorrerem deslocações do
autor para esses novos locais (e dizemos «novos» reportadamente à
definição do espaço acordado anteriormente), houvesse mudança de
«prática» de vida relativamente àquela que ocorria quanto à «zona de
Coimbra», tal como inicialmente foi acordada.
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