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Discussão dos impasses enfrentados, na atualidade, pelos

estudos sobre mulher, as perspectivas feministas e os estudos


de gênero.

Larissa Pelúcio 1

Há pouco mais de duas décadas não havia muitas dúvidas sobre quem era o sujeito
político do feminismo. Como esse sujeito, sintetizado na categoria “mulher” chegou a ser
questionado e substituído pelo conceito de gênero? Adriana Piscitelli procura resgatar esse
percurso no texto “Re-criando a (categoria) Mulher”, lembrando que esta categoria tem
suas raízes na idéia do feminismo radical dos anos de 1960/70 que encontrara a base da
opressão feminina em uma womanhood que nos unia a todas e se sobrepunha o gênero a
outras variáveis tais como raça e classe. Se essa percepção oferecia avanços em relação às
propostas pelo feminismo socialistas, que centrava toda a questão da opressão feminina na
estrutura produtiva e, assim, no capitalismo, pecava por assentar a desigualdade numa base
biológica determinista que essencializava a mulher e apagava as especificidades (de gênero,
de classe, de raça, de etnia e de orientação sexual, etc.) dos diferentes sujeitos que
ocupavam outras fronteiras políticas.
O conceito gênero procura superar problemas conceituais presentes nos estudos
sobre mulheres. Porém, é preciso que se considere que os estudos de gênero se
desenvolvem a partir dos estudos sobre mulheres com os quais compartilhou pressupostos.
Miriam Adelman em sua tese, recentemente publicada em livro, vale-se das observações
feitas por Lynne Segal para sublinhar a importância dos estudos pioneiros, alvo de
consistentes críticas nos trabalhos feministas dos anos de 1990. Como Segal, Adelman
também defende a pertinência de seguirmos lendo os estudos dos anos de 1960/70,
reconhecendo seus limites, mas também reconhecendo suas contribuições valorosas, afinal,
eles são “os nossos clássicos”. Debruçar-se hoje sobre a ousadia feminista como crítica da
modernidade requer esse resgate do debate “clássico”, localizando as diferentes propostas
teóricas dos feminismos (desde sempre plural) não só no tempo, mas também na sua
filiação com as diferentes correntes do pensamento.

1 Texto elaborado para prova de concurso público, em fevereiro de 2010.

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A virada epistemológica que a categoria “gênero” representou, passaria ela mesma
por reformulações, pois o impacto dessa nova categoria analítica foi tão intenso que, mais
uma vez, motivou veementes discussões e mesmo algumas fraturas internas. Também as
relações de gênero passaram a ser compreendidas e interpretadas de muitas e distintas
formas, ajustando-se (a) ou interpelando referenciais marxistas, psicanalíticos, lacanianos,
foucaultianos, pós-estruturalistas, entre outros.
Essas fissuras mais do que rupturas significam um feminismo no plural e apontam
para um debate teórico sempre vívido e fecundo.
Resgato aqui brevemente um texto de Nancy Fraser publicado em 2007 pela Revista
de Estudos Feministas, para iniciar algumas reflexões sobre os estudos sobre mulheres, as
perspectivas feministas e os estudos de gênero, entendendo-os como processos que estão
em andamento e que se situam em um cenário históricos peculiar, no qual o termo
transnacional vem sendo cada vez mais acionado.
No mencionado artigo Fraser faz uma retomada histórica da segunda onda do
feminismo, dividindo este período em três fases: a primeira na qual o feminismo esteve
marcado pelo contexto do surgimento dos novos movimentos sociais, pelo radicalismo das
propostas da Nova Esquerda e por reivindicações socialistas (redistribuitivas). Na segunda
fase, ainda segundo Fazer, o feminismo foi atraído para a órbita da política de identidades.
E, finalmente, em uma terceira, o feminismo passa a ser cada vez mais praticado como
política transnacional.
De acordo com essa divisão, Fraser aponta para o abandono – na segunda fase,
aquela da aproximação com as políticas identitárias – das bandeiras feministas que lutavam
por transformações sociais, política e econômicas profundas. A ênfase, teria se centrado na
busca por reconhecimento.
O enfoque mais culturalista dos anos de 1980, coincidiram com a falência do Estado
do bem-estar social (nos países de capitalismo avançado), o fim do socialismo real e a
emergência do neoliberalismo, o que para Fraser foi uma trágica coincidência histórica que
acabou sendo conveniente à onda conservadora que se abateu sobre a política internacional.
Nesta perspectiva, a verve crítica do feminismo, ao se deslocar para uma política de
reconhecimento, teria se diluído, já que não oferecia respostas teóricas e/ou políticas à onda
conservadora.

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A aposta de Fraser é de que, nesta terceira fase, a transnacional, o feminismo possa
de novo resgatar questões distribuitivas agregando-as às de reconhecimento, reavivando sua
tradição de ação política engajada e de uma teoria social crítica.
Nesta fase, chamemos assim, proponho que a ênfase nos discursos pós-
estrutualistas, pós-modernos e pós-coloniais encetado por feministas como Donna
Haraway, Ella Shohat, bell hoocks, Norma Alarcón, Glória Anzaldúa, entre outras, ao
mesmo tempo em que descentra o sujeito, busca a experiência subjetiva destes sem,
contudo, perder a dimensão de processos macro-sociais, uma vez que elas marcam este
lugar de fala como espaço em que múltiplas teias de desigualdades e enfrentamentos são
tecidas e negociadas. Lugares que são fronteiriços, onde o global e o local se encontram e
se tencionam formando “consciências mestiças”, para ficarmos com os termos de
Anzaldúa.
A pensadora chicana é uma das vozes que reivindica o surgimento de um novo
sujeito pós-moderno. Como Anzáldua, muitas/muitos são as/os teóricas/os e analistas
políticos que, por distintas razões, não se identificavam com discursos que, a partir do
feminismo ou do nacionalismo, promoviam uma política de identidades que ainda era
referendada em essencialismos. Entre estes, o heterossexismo dos movimentos feministas
que remetiam a relações binárias e faziam uso de categorias analíticas naturalizadas e
universalizantes que tendem a apagar as diferenças baseadas, como estão, numa perspectiva
humanista centrada numa política da igualdade. Ainda que a política da diferença entre as
mulheres tenha suas “ciladas”, esta reflexão só se colocará mais tarde, uma vez que, em um
primeiro momento pensar e pautar as diferenças foi estratégico politicamente e profícuo
teoricamente. Vejamos a seguir, iniciando pelo discurso da diferença entre os sexos.
Entre as muitas dicotomias que marcam as discussões nos feminismos, aquela entre
diferença/igualdade se colocou em alguns momentos como um impasse teórico difícil de
ser driblado. Se a diferença entre os sexos, por um lado, era politicamente potente por ser
capaz de apontar para uma experiência subjetiva comum entre as mulheres, por outro
essencializava essa percepção e dificultava a problematização das diferenciações entre as
mulheres. A igualdade, por sua vez, com sua reivindicação por paridade e equidade,
comprometia essas mesmas diferenças das quais eu falava há pouco, não reconhecendo as
estruturas de dominação que estavam ali implicadas. Joan Scott apresenta uma proposta

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instigante para o que ela chama de uma “história de paradoxos”, ou seja, a própria
constituição de um discurso feminista que pretende lutar contra as diferenças sexuais e de
gênero, que excluíam as mulheres da esfera pública e do direito à cidadania, mas a
reivindicação tinha de ser feita em nome das ‘mulheres’ (um produto do próprio discurso da
‘diferença sexual’). Assim, propõe a autora, acentuar as desigualdades ou reivindicar a
diferença não implicam em escolhas de estratégias corretas, pois que igualdade e diferença
não são termos excludentes, mas complementares, compõem, assim, uma mesma ordem
discursiva. Como Scott, outras autoras encontraram na teoria pós-estruturalista algumas
pistas para romper com dicotomias igualdade-diferença, racionalidade-irracionalidade,
objetividade-subjetividade, categorias tomadas como unitárias e universais, quando são de
fato internamente fragmentadas e relacionalmente hierárquicas. Desnaturalizá-las é também
conferir a elas sua dimensão política e epistemológica. Assim, os universalismos
essencializadores, inclusive aquele que propõe o sujeito do conhecimento como sendo uno,
podem ser desconstruídos e contextualizados.
Na busca por novas estratégias epistemológicas e novas formas de conceber o
sujeito, se estabeleceu um diálogo crítico com o pós-modernismo retomando algumas de
suas propostas desconstrucionistas para desvelar as redes de poder que ocultam a aparente
objetividade do conhecimento científico. O clássico texto de Jane Flax (“Pós-modernismo e
Relações de Gênero na Teoria Feminista”) pode ser lido como um dos estudos fundante
dessa proposta. Flax encara a teoria feminista como um tipo de filosofia pós-moderna que
contribuiu nos círculos intelectuais ocidentais para o crescimento das incertezas acerca dos
fundamentos e métodos apropriados para explicar e/ou interpretar a experiência humana.
Seu caráter desestabilizador e desconstrutivista (no sentido empregado por Scott, a partir de
Derrida) passa pelo questionamento das “verdades” científicas e de como elas se
relacionam com estruturas de poder herdadas de um patrimônio iluminista e, portanto,
masculinista.
Algumas autoras têm reivindicado a existência de um feminismo pós-modernos,
enquanto outras preferem tomar algumas reflexões desta corrente teórica para construir um
novo tipo de feminismo que sem se definir como pós-moderno utiliza-se do
desconstrutivismo como ferramenta metodológica fundamental.

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O pós-modernismo enquanto corrente teórica coloca em xeque as metas teorias e
todo um conjunto de categorias teóricas que sustentavam a teoria social tais como sujeito,
progresso, história. Nessa vaga, feministas como Haraway falam sobre e a partir da pós-
modernidade, situando suas falas num momento histórico específico, daí a locução
“conhecimento situado”. Estas feministas reconhecem, neste momento e deste lugar de fala,
o surgimento de novas subjetividades que se criam e se recriam em um marco de novas
formas de dominação, as quais incluem não só os processos de trabalho ou as instituições
do Estado, mas também as novas redes e tecnologias de comunicação. A influência
foucaultiana aqui é clara, como será também a de Deleuze.
Porém, nem este poder que opera em rede ou os processos de desconstrução
engessam ou imprimem um negativismo que nos deixa sem um lugar para assentar outras
categorias, há também possibilidades criativas de resistência frente às novas formas de
dominação.
É possível dizer que o compromisso com a transformação da realidade e esta
necessidade de manter uma resistência ativa às distintas formas de dominação é o que tem
diferenciado as feministas pós-estruturalistas dos teóricos pós-modernos. Além disso, estas
parecem manter as análises macro das formas de dominação, situando-as historicamente,
para que estas estejam atentas às especificidades culturais e locais de cada período e
sociedade.
Ainda no campo epistemológico, feministas alinhadas a essa corrente, propõe que se
realize uma genealogia das categorias que utilizamos, contextualizando-as dentro das
narrativas históricas em que se encontram. A teoria, seria assim, uma ferramenta para a
prática política. A questão que pode ser colocada aqui é de como aglutinar politicamente
quando parece não haver mais identidades que se possa identificar e mesmo reivindicar? A
proposta é avançar para além da “irmandade feminista” do projeto modernista para uma
política de alianças e solidariedade que articule sujeitos fragmentados em suas diferentes
lutas.
Outras feministas têm sido mais cautelosas em relação aos aportes teórico-
metodológicos que as feministas pós-modernas recuperam dos teóricos pós-estutruralistas.
Aquelas apontam que o fato destes serem sempre homens brancos, burgueses e ocidentais
marca um lugar de fala que reflete no desprezo que não reconheceram as contribuições do

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feminismo como teoria social e que em suas genealogias e arqueologias do conhecimento
se mantiveram cegos ao gênero. As mais radicais chegam a propor que o descentramento
do sujeito é mais uma estratégia do patriarcalismo para tirar força do sujeito político que o
feminismo foi capaz de construir. Nesta perspectiva, este sujeito, as mulheres, seria
necessário para articularem-se discursos de enfrentamento. Radicalismo à parte, se
questiona também quanto este descentramento tem relação com a debilidade política e
heurística da categoria gênero.
Se, como já se disse, o gênero trazia ganhos epistemológicos propondo que se
pensasse relacionalmente e para além da “biologia como destino”, ele também trazia
problemas teóricos e políticos. O campo pareceu, então, de tal forma alargado que ao fim,
corria-se o risco de se voltar a uma ciência androcêntrica, uma vez que a masculinidade (no
singular) passava a ser tema de pesquisas e “mulher” e gênero tornavam-se termos
intercambiáveis, embaçando a força política do primeiro e desprezando o valor heurístico
do segundo. Basta observar como a disseminação do conceito de gênero levou a uma
confusão entre o que eram os estudos sobre mulheres e os estudos de gênero.
Como lembra Cláudia de Lima Costa, o “gênero” em seus usos e abusos, chega a
despolitizar os estudos feministas apagando o sujeito político do feminismo (as mulheres) e
reverenciando uma ciência positivista que veio cobrando rigor teórico aos chamados
estudos de mulheres, engajados como estavam com a militância.
Mas é preciso que se reconheça que essa multiplicação de olhares é politizada. Não
há conhecimento desinteressado. Todo conhecimento é uma investida política no mundo.
Não há um relativismo absoluto nas epistemologias feministas, justamente em função de
sua postura política. A epistemologia politizada, que aparece com e nos feminismos,
inclusive naqueles antecedidos pela partícula “pós”, vai combater as formas de opressão
que surgem de certo tipo de ciência que usa o conhecimento como arma de controle.
Nem todos os feminismos são “pós”, e sem dúvida a ênfase em políticas identitárias
teve seu papel histórico inconteste para tirar as mulheres (certamente mais as ocidentais e
brancas) da invisibilidade. Porém, o que se discute mais recentemente, são os custos
teóricos da insistência acerca dessa identidade que garantiu, de certa forma, a coerência e
unidade da categoria mulher.

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A questão que parece marcante nas discussões mais recentes sobre gênero e estudos
de mulheres é a desnaturalização da diferença sexual, desestabilizando as “identidades de
gênero”, uma vez que estas irão aparecer em diversas propostas teóricas, como as de Judith
Butler, como frutos de relações de poder que fixam e subordinam essas significações. O
gênero se desprende assim de uma base biológica: o sexo, uma vez que este é apontado
como sendo ele também socialmente construído. Ou seja, não existe pré-discursivamente.
Butler assinala que as reificações de gêneros e identidades cristalizam hierarquias e
alimentam relações de poder, o que normaliza corpos e práticas, reproduzindo privilégios e
exclusões. Essa normalização das identidades, e sua conseqüente opressão, define padrões
de comportamento rejeitando as diferenças. Diferenças estas que são sempre constituídas
em intersecção com outras diferenças. Entre estas estaria o próprio corpo, tomado em
diversos momentos das discussões feministas como um substrato natural e não como
culturalmente constituído. Essa constituição, lembra-nos Butler, nunca é feita de maneira
neutra, mas a partir de discursos que se assentam num binarismo restritivo, no
falocêntrismo e na heterossexualidade compulsória.
Daí a identidade de gênero ser tomada por Butler como normalizadora, pois fixa e
reifica o que é ser mulher, homem, feminino, masculino, negro, branco etc., perpetuando e
reproduzindo subordinações. A filosofa norte-americana rejeita a identidade como ponto
de partida para a política feminista. De Luretis reivindica um sujeito feminista sempre em
construção e que não coincide com o “as mulheres”. Até mesmo porque, como argumenta
Butler, esse sujeito é construído pelas feministas, portanto, não tem existência pré-
discursiva. Por isso se constitui como um espaço de disputas permanentes.
As teóricas que reivindicam a volta da categoria mulher estão, em geral, dialogando
diretamente com as feministas pós-estruturalistas, com o descostrutivismo que orienta
metodologicamente as abordagens chamadas de pós-modernas (e aqui vale sublinhar que os
termos não são intercambiáveis apenas porque antecedidos pelo mesmo prefixo). Para as
críticas dessa vertente, o pós-estruturalismo teria esvaziado o sentido ontológico da
identidade, tornado o termo teoricamente fraco e politicamente (des)comprometido.
Mas como escreveu Chantal Mouffe, assim como Butler, não se trata de declarar a
morte desse sujeito, mas de resignificá-lo, libertando-o de seu caráter normativo. Não se

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trata mais de se descobrir quem é está “mulher” do feminismo como essência unificadora,
mas como essa categoria é construída dentro de diferentes discursos.
Outras feministas que se opõem às vertentes “pós”, argumentam que não foi a
negatividade discursiva e desconstrutivista do pós-estruturalismo que garantiu avanços
teóricos e políticos ao feminismo, mas, ao contrário, o de ter construído positividade para
esse sujeito e com base na materialidade das experiências que as mulheres têm do social.
Cláudia Costa, por exemplo, sugere que o feminismo contemporâneo foi capaz de recorrer
à categoria mulher sem retornar a uma posição normalista. Isto é, sem torná-la uma ficção
que deveria ser desvelada pela crítica feminista.
Este é um dos pontos vistos, por muitas/os autoras/es, como problemático na obra
de Butler, pois o que fica é que as transformações sociais só poderiam se dar no marco da
desestabilização e implosão das identidades, para além das categorias homem e mulher. A
história do feminismo parece apontar que o uso da categoria mulheres teve sua importância
política e teórica, assim, abrir mão dela seria para muitas feministas fazer um feminismo
sem mulheres.
A questão que passa a ser colocada a partir do pós-estruturalismo tem a ver com o
pós-modernismo e suas implicações políticas e, mesmo, analíticas para o feminismo.
Cláudia de Lima Costa interroga (2002) sobre como escapar da armadilha do binarismo e
da total fragmentação e dispersão que a proposta de descentramento do sujeito coloca, de
maneira que se acabe em um “feminismo sem mulheres”.
Se a questão do feminismo é a opressão relacionada ao gênero, não há como se ter
um feminismo sem mulheres, uma vez que “mulher não tem sexo” (Irigaray). Pois, o que
definiria esta posição não seria uma essência comum baseada numa biologia definidora da
experiência, mas a experiência em si, marcada por exclusões, por incompletudes,
submissão e desprestígio. O que pode envolver negros, homens do terceiro mundo,
travestis, “bichinhas”, enfim, toda uma gama de seres tidos como menos humanos, uma vez
que o humano de referência seria masculino, heterossexual, branco e financeiramente bem
sucedido.
Sexismo, regulação sobre os corpos (aborto, operação para mudança de sexo,
ingestão de hormônios masculinos ou femininos), falta de igualdade de direitos e de direito
à diferença são todos termos de um mesmo discurso heteronormativo que atinge a mulheres

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tanto quanto àquelas e àqueles que são respeitadas/os em seus desejos, práticas, direitos.
Portanto, o feminismo enquanto política não perdeu sua razão de ser, e, enquanto teoria
ainda tem questões conceituais importantes a discutir. Politicamente, vejo que as novas
demandas trazidas pelas feministas negras, pelas mulheres do chamado Oriente, questões
ligadas o mercado transnacional do sexo, além das reivindicações de mulheres transexuais,
para citarmos só alguns exemplos, mostram que este é um lugar de disputas políticas
permanente. Por sua vez, o debate teórico vai sendo alimentado não só por esse cenário
renovado, como pelo diálogo incessante com diferentes áreas do saber e com a própria
produção teórica dos estudos de gênero/das mulheres.
Para a teórica queer Beatriz Preciado, o pós-feminismo representaria uma
maturidade do feminismo como teoria política e não um anti-feminismo. Traria, isto sim, de
uma política e de uma teoria, que formularia resposta à globalização dos modelos norte-
americanos heterossexuais, ao feminismo liberal e, mesmo, à cultura gay integracionista.
Para ela, é preciso que se leia a teoria queer em continuidade com as críticas pós-coloniais.
Finalmente, ao refletir sobre essa “releitura” ampliada e revista da categoria mulher,
sobretudo à proposta por autoras como Linda Nicholson, parece-me que se tem um sujeito
tão descentrado quanto aquele proposto pelo feminismo, chamado por Fraser de “da
terceira fase”. Mas com o prejuízo de se deixar de fora da discussão outras expressões de
gênero que têm sofrido com o sexismo, racismo, heterocentrismo e com as categorias
restritivas do binarismo ocidental. Ou seja, com todo um conjunto de discursos de poder
que têm atingido também aquelas que as feministas reconhecem como sujeitos de suas
reflexões e lutas.
As teóricas que se filiam aos estudos queer e pós-estruturalistas defendem uma
realocação das práticas políticas a partir de uma visão historicamente situada das mulheres
e das relações de gênero. È certo que o desafio de se construir políticas de aliança e
solidariedade entre mulheres com diferentes experiências e necessidade é muito mais
desafiador do que quando se parte de um pressuposto de que há uma base de opressão
comum. Isso exige que se pense uma agenda de luta ampliada e que não pode estar centrada
em perspectivas hegemônicas.
Mais que isso, o desafio neste momento é fazer com que os feminismos e as
feministas ampliem suas reflexões para às margens, abarcando ali não só as mulheres de

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“todas as cores”, mas todos e todas aquele/as tidos como abjetos, alvo, portanto, do mesmo
discurso de poder ao qual as feministas historicamente têm dirigido suas críticas.

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