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Brasília, 2 a 5 de maio de 2017 Nº 863

Data de divulgação: 12 de maio de 2017


Este Informativo, elaborado com base em notas tomadas nas sessões de
julgamento das Turmas e do Plenário, contém resumos de decisões proferidas pelo
Tribunal. A fidelidade de tais resumos ao conteúdo efetivo das decisões, embora seja
uma das metas perseguidas neste trabalho, somente poderá ser aferida após a publicação
do acórdão no Diário da Justiça.

SUMÁRIO
Plenário
Processamento de governador: autorização prévia da assembleia legislativa e suspensão de funções - 3
Autonomia federativa: crimes de responsabilidade e crimes comuns praticados por governador - 3
‗Amici curiae‘e tempo de sustentação oral
Repercussão Geral
Propositura da ação: associação e momento para a filiação
1ª Turma
Perda do mandato parlamentar e declaração da mesa diretora da casa legislativa
Mandado de segurança: instauração de processo de revisão de anistia e direito líquido e certo - 2
2ª Turma
Prisão preventiva, risco de reiteração delitiva e presunção de inocência

PLENÁRIO

DIREITO CONSTITUCIONAL - CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

Processamento de governador: autorização prévia da assembleia legislativa e suspensão de funções - 3


Não há necessidade de prévia autorização da assembleia legislativa para o recebimento de
denúncia ou queixa e instauração de ação penal contra governador de Estado, por crime comum,
cabendo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), no ato de recebimento ou no curso do processo,
dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento
do cargo.
Com base nessa orientação, o Plenário, em conclusão e por maioria, julgou parcialmente
procedente pedido formulado em ação direta para: a) dar interpretação conforme ao art. 92, § 1º, I,
da Constituição do Estado de Minas Gerais para consignar não haver necessidade de autorização
prévia de assembleia legislativa para o recebimento de denúncia e a instauração de ação penal contra
governador de Estado, por crime comum, cabendo ao STJ, no ato de recebimento da denúncia ou no
curso do processo, dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais,
inclusive afastamento do cargo; e b) julgar improcedente o pedido de declaração de
inconstitucionalidade da expressão ―ou queixa‖ do art. 92, § 1º, I, da Constituição do Estado de
Minas Gerais — ver Informativos 851 e 855.
O referido dispositivo prevê que o governador será submetido a processo e julgamento perante
o STJ nos crimes comuns e será suspenso de suas funções, na hipót ese desses crimes, se recebida a
denúncia ou a queixa pelo STJ.
Preliminarmente, o Colegiado, por maioria, conheceu da ação. Vencidos os ministros Dias
Toffoli, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e Celso de Mello.
No mérito, prevaleceu o voto do ministro Edson Fachin (relator), reajustado nesta sessão com
os acréscimos do voto do ministro Roberto Barroso no sentido do afastamento do cargo não se dar de
forma automática.
O relator afirmou a necessidade de superar os precedentes da Corte na dimensão de uma
redenção republicana e cumprir a promessa do art. 1º, ―caput‖, da Constituição Federal (CF), diante
dos reiterados e vergonhosos casos de negligência deliberada pelas assembleias legislativas

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estaduais, que têm sistematicamente se negado a deferir o processamento de governadores.
Asseverou ser refutável a referida autorização prévia em razão de: a) ausência de previsão expressa e
inexistência de simetria; b) ofensa ao princípio republicano (CF, art. 1º, ―caput‖); c) ofensa à
separação de poderes (CF, art. 2º, ―caput‖) e à competência privativa da União (CF, art. 22, I); e d) ofensa à
igualdade (CF, art. 5º, ―caput‖).
Esclareceu não haver na CF previsão expressa da exigência de autorização prévia de
assembleia legislativa para o processamento e julgamento de governador por crimes comuns perante
o STJ. Dessa forma, inexiste fundamento normativo-constitucional expresso que faculte aos Estados-membros
fazerem essa exigência em suas Constituições estaduais.
Não há, também, simetria a ser observada pelos Estados-membros. No ponto, o relator
considerou que, se o princípio democrático que constitui nossa República (CF, art. 1º, ―caput‖) se
fundamenta e se concretiza no respeito ao voto popular e à eleição direta dos representant es do povo,
qualquer previsão de afastamento do presidente da República é medida excepcional e, como tal, é
sempre prevista de forma expressa e taxativa, sem exceções.
O afastamento do presidente da República é medida excepcional, e, no caso de crime comum,
seu processamento e julgamento devem ser precedidos de autorização da Câmara dos Deputados
(CF, arts. 51, I; e 86, ―caput‖ e § 1º, I). Essa exigência foi expressamente prevista apenas para
presidente da República, vice-presidente e ministros de Estado. Essa é uma decorrência das
características e competências que moldam e constituem o cargo de presidente da República, mas
que não se observam no cargo de governador.
Diante disso, verifica-se a extensão indevida de uma previsão excepcional válida para o
presidente da República, porém inexistente e inaplicável a governador. Sendo a exceção prevista de
forma expressa, não pode ser transladada como se fosse regra ou como se estivesse cumprindo a
suposta exigência de simetria para governador. As eventuais previsões em Constituições estaduais
representam, a despeito de se fundamentarem em suposto respeito à Constituição Federal, ofensa e
usurpação das regras constitucionais.
Segundo o relator, afastado o argumento de suposta obediência à simetria, a consequê ncia da
exigência de autorização prévia de assembleia legislativa para processamento e julgamento de
governador por crime comum perante o STJ é o congelamento de qualquer tentativa de apuração
judicial das eventuais responsabilizações dos governadores por cometimento de crime comum. Essa
previsão afronta a responsividade exigida dos gestores públicos, o que viola o princípio republicano
do Estado.
A exigência viola, ainda, a separação de poderes, pois estabelece condição não prevista pela CF
para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário. Assim, o STJ fica impedido de exercer suas
competências e funções até a autorização prévia do Poder Legislativo estadual. Esse tipo de restrição
é sempre excepcional e deve estar expresso na CF. Além disso, a previsão do estabelecimento de
condição de procedibilidade para o exercício da jurisdição penal pelo STJ consiste em norma
processual, matéria de competência privativa da União (CF, art. 22, I), portanto impossível de ser
prevista pelas Constituições estaduais.
O relator afirmou que estabelecer essa condição de procedibilidade equivale a alçar um sujeito
à condição de desigual, supostamente superior por ocupar relevante cargo de representação. No
entanto, tal posição deveria ser, antes de tudo, a de servidor público. A autorização prévia de
assembleias estaduais para o processamento e julgamento de governador por crime comum perante o
STJ é, portanto, afronta cristalina à cláusula geral de igualdade estabelecida na CF.
Destacou que a Emenda Constitucional (EC) 35/2001 alterou a redação do art. 53, § 1º, da CF e
aboliu a exigência de autorização prévia das casas legislativas para o processamento e julgamento de
deputados federais e estaduais. O mesmo entendimento de valorização da igualdade e
―accountability‖ dos representantes do povo deve ser aplicado aos governadores, sem as exigências
prévias que consubstanciam privilégios e restrições não autorizados pela CF.
Por fim, sustentou inexistir inconstitucionalidade na expressão ―ou queixa‖, por considerá -la
coerente com o disposto no art. 105, I, ―a‖, da CF. Explicou que a CF não fez nenhuma distinção ao
se referir a ―crimes comuns‖, ou seja, não fez diferenciação entre crimes de ação penal pública ou
crimes de ação penal privada. Da mesma forma, a Constituição do Estado de Minas Gerais previu o
afastamento do governador no caso de recebimento de denúncia ou queixa.

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Nesta assentada, o ministro Roberto Barroso esclareceu acompanhar o relator, e o ministro
Marco Aurélio esclareceu, ultrapassada a preliminar de admissibilidade da ação, também
acompanhar o relator.
Vencidos os ministros Dias Toffoli e Celso de Mello, que julgaram improcedente a ação, na
linha da jurisprudência até então prevalecente na Corte no sentido de considerar legítimas as normas
de Constituições estaduais que subordinam a deflagração formal de um processo acusatório contra o
governador a um juízo político da assembleia legislativa local.
ADI 5540/MG, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 3.5.2017. (ADI-5540)

DIREITO CONSTITUCIONAL - FEDERAÇÃO

Autonomia federativa: crimes de responsabilidade e crimes comuns praticados por governador - 3


É vedado às unidades federativas instituir normas que condicionem a instauração de ação penal
contra governador por crime comum à previa autorização da casa legislativa, cabendo ao Superior
Tribunal de Justiça (STJ) dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares
penais, inclusive afastamento do cargo.
Com base nesse entendimento, o Plenário, em conclusão e por maioria, julgou procedente
pedido formulado em ações diretas para declarar a inconstitucionalidade de dispositivos das
Constituições dos Estados do Acre, de Mato Grosso e do Piauí. Os preceitos tratam da competência
privativa da assembleia legislativa local para processar e julgar o governador nos crimes de
responsabilidade e cuidam do processo e julgamento de chefe do Executivo estadual em crimes
comuns, mediante admissão da acusação pelo voto de 2/3 da representação popular local — ver
Informativo 793.
O Supremo Tribunal Federal (STF) alterou o entendimento a respeito da necessidade de
autorização prévia das assembleias legislativas para instauração de ação penal. Afirmou que a
orientação anterior, que privilegiava a autonomia dos Estados-membros e o princípio federativo,
entrou em linha de tensão com o princípio republicano, que prevê a responsabilização política dos
governantes. Verificou que, ao longo do tempo, as assembleias legislativas bloquearam a
possiblidade de instauração de processos contra governadores.
Há três situações que legitimam a mutação constitucional e a superação de jurisprudência
consolidada: a) mudança na percepção do direito; b) modificações na realidade fática; e c) consequência prática
negativa de determinada linha de entendimento. Para o Colegiado, as três hipóteses estão presentes no caso
concreto.
Fora as situações expressamente previstas na Constituição Federal (CF), o poder constituinte
estadual não pode alterar a competência e o desempenho das funções materialmente típicas do Poder
Judiciário e do Ministério Público.
A definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de
processo e julgamento são da competência legislativa privativa da União. Isso consta da Súmula
Vinculante 46.
Por fim, o afastamento do governador não é automático no caso de abertura de ação penal. O
simples recebimento de uma denúncia, ato de baixa densidade decisória, não pode importar em
afastamento automático do governador. Esse afastamento somente pode ocorrer se o STJ entender
que há elementos a justificá-lo. O governador pode ser afastado, mas não como decorrência
automática do recebimento da denúncia.
Vencido em parte o ministro Celso de Mello (relator), que julgou parcialmente procedentes os pedidos
nos três casos. Pontuou que o crime de responsabilidade, por sua natureza jurídica político-constitucional, tem
caráter extrapenal, razão pela qual o Estado-membro pode legislar a respeito.
ADI 4764/AC, rel. Min. Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
4.5.2017. (ADI-4764)
ADI 4797/MT, rel. Min. Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
4.5.2017. (ADI-4797)
ADI 4798/PI, rel. Min. Celso de Mello, red. p/ o ac. Min. Roberto Barroso, julgamento em
4.5.2017. (ADI-4798)

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL - INTERVENÇÃO DE TERCEIRO

‘Amici curiae’ e tempo de sustentação oral


Havendo três ―amici curiae‖ para fazer sustentação oral, o Plenário, por maioria, deliberou
considerar o prazo em dobro e dividir pelo número de sustentações orais.
O tempo de sustentação oral é de quinze minutos. O Colegiado considerou esse tempo em dobro
(trinta minutos) e, dividido pelos três ―amici curie‖, disponibilizou dez minutos para a manifestação de
cada um deles na tribuna.
Vencido o ministro Marco Aurélio (relator), que não dobrou o prazo para sustentação oral pelo fato
de ―amicus curiae‖ não ser parte processual.
RE 612043/PR, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 4.5.2017. (RE-612043)

REPERCUSSÃO GERAL
DIREITO PROCESSUAL - SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL

Propositura da ação: associação e momento para a filiação


O Plenário iniciou julgamento de recurso extraordinário em que se discute a abrangência dos
efeitos da coisa julgada em execução de sentença proferida em ação ordinária de caráter coletivo
ajuizada por entidade associativa civil relativamente aos substituídos, para definir se estariam
abarcados somente os filiados na data da propositura da ação ou também os que se filiaram no
decorrer da ação.
No caso, determinada associação propôs ação coletiva ordinária contra a União. O objet ivo era
a repetição de valores descontados a título de imposto de renda de servidores, incidente sobre férias
não usufruídas por necessidade do serviço.
Com a procedência do pleito no processo de conhecimento e o subsequente trânsito em julgado,
foi deflagrado, por associação, o início da fase de cumprimento de sentença. Nesta, o tribunal de
origem assentou, em agravo, a necessidade de a primeira peça da execução vir instruída com
documentação comprobatória de filiação do associado em momento anterior ou até o dia do
ajuizamento da ação de conhecimento, conforme art. 2º-A (1), parágrafo único, da Lei 9.494/1997,
incluído pela Medida Provisória 2.180-35/2001.
O ministro Marco Aurélio (relator) negou provimento ao recurso extraordinário e declarou a
constitucionalidade do referido dispositivo legal. Afirmou que a eficácia subjetiva da coisa julgada
formada em ação coletiva, de rito ordinário, ajuizada por associação civil na defesa de interesses dos
associados, somente alcança aqueles filiados em momento anterior ou até a data da propositura da
demanda, residentes no âmbito da jurisdição do órgão julgador, constantes de relação juntada à
inicial do processo de conhecimento.
Ante o conteúdo do art. 5º, XXI (2), da Constituição Federal (CF), autorização expressa
pressupõe associados identificados, com rol determinado, aptos à deliberação. Nessa situação, a
associação, além de não atuar em nome próprio, persegue o reconhecimento de interesses dos
filiados. Decorre daí a necessidade da colheita de autorização expressa de cada qual, de forma
individual, ou mediante assembleia geral designada para esse fim, considerada a maioria formada.
A enumeração dos associados até o momento imediatamente anterior ao do ajuizamento se
presta à observância do princípio do devido processo legal, inclusive sob o enfoque da razoabilidade.
Por meio da enumeração, presente a relação nominal, é que se viabilizam o direito de defesa, o
contraditório e a ampla defesa. Reputou que a condição de filiado é pressuposto do ato de
concordância com a submissão da controvérsia ao Judiciário.
Em seguida, o julgamento foi suspenso.

(1) Lei 9.494/1997: ―Art. 2º-A. A sentença civil prolatada em ação de caráter coletivo propos ta por entidade
associativa, na defesa dos interesses e direitos dos seus associados, abrangerá apenas os substituídos que tenham, na
data da propositura da ação, domicílio no âmbito da competência territorial do órgão prolator. Parágrafo único. Nas
ações coletivas propostas contra a União, os Estados, o Distrito Federal, os Municípios e suas autarquias e fundações,
a petição inicial deverá obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembléia da entidade associativa que a
autorizou, acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos respectivos endereços.‖

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(2) CF/1988: ―Art. 5º (...) XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para
representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;‖
RE 612043/PR, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 4.5.2017. (RE-612043)

PRIMEIRA TURMA

DIREITO PENAL - PENA

Perda do mandato parlamentar e declaração da mesa diretora da casa legislativa


A Primeira Turma, em conclusão e por maioria, julgou procedente ação penal e condenou deputado
federal à pena de 12 anos, 6 meses e 6 dias de reclusão, em regime inicial fechado, mais 374 dias-multa
no valor de 3 salários mínimos, pela prática dos crimes de corrupção passiva [Código Penal, art. 317 (1)]
e lavagem de dinheiro [Lei 9.613/1998, art. 1º, V (2)]. Como efeitos da condenação foram determinadas a
perda do mandato parlamentar e a interdição para o exercício de cargo ou função pública de qualquer
natureza e de diretor, membro de conselho de administração ou de gerência das pessoas jurídicas citadas
na lei de combate à lavagem de dinheiro (redação anterior), pelo dobro da duração da pena privativa de
liberdade.
No caso, foi revelado esquema criminoso que atuou em vários Estados, com o objetivo de desviar
recursos públicos por meio da aquisição superfaturada, por prefeituras, de ambulâncias e equipamentos
médicos, como resultado de licitações direcionadas. Segundo a acusação, cabia ao deputado condenado
apresentar emendas ao orçamento geral da União, destinadas a Municípios das regiões norte e nordeste do
Estado do Rio de Janeiro, para beneficiar grupo empresarial.
Em relação ao crime de corrupção passiva, o Colegiado considerou haver nos autos elementos de
provas que demonstram o recebimento de vantagens indevidas por meio de depósitos em contas-correntes
de terceiros. O livro-caixa da empresa apreendido na operação continha registros de pagamento ao
acusado com as datas e os valores dos repasses. Além disso, em acordo de colaboração premiada, os
proprietários afirmaram haver acertado o pagamento de comissão de 10% sobre o valor de cada emenda
apresentada, fato comprovado por meio de recibos de operações de crédito efetuadas em nome de pessoas
ligadas ao parlamentar condenado.
Quanto ao crime de lavagem de dinheiro, a Turma concluiu que as provas colhidas nos autos
indicam que os valores recebidos por terceiros foram utilizados para pagamento de despesas do deputado
com aluguel de imóveis, aquisição de veículos e quitação de impostos. Essa foi a forma como o acusado
efetivou a circulação dissimulada dos valores, por terceiros e em benefício próprio, convertendo dinheiro
oriundo de corrupção em bens e serviços incorporáveis ao seu patrimônio formal. Quanto a esse crime,
ficou vencido o ministro Marco Aurélio, que votou pela absolvição do acusado.
Relativamente à fixação da pena e aos efeitos da condenação, a ministra Rosa Weber (relatora)
ressaltou que a corrupção ocorreu em momento singular de cooptação de parlamentar federal para
esquema criminoso, planejado e infiltrado nos altos cargos da Administração Pública. Além do descrédito
para a democracia, o crime drenou recursos da saúde pública, área extremamente carente na sociedade
brasileira. A motivação foi criar fonte perene de recursos ilícitos provenientes da corrupção associada a
métodos de lavagem de capitais diretamente conectados ao mandato parlamentar.
Quanto à pena, prevaleceu o voto da relatora, também por maioria. Vencido o ministro Alexandre
de Moraes, que majorou a pena em relação a cada crime, presente a continuidade delitiva, na metade.
O Colegiado, nos termos do voto do ministro Roberto Barroso e por decisão majoritária, decidiu
pela perda do mandato com base no inciso III do art. 55 da Constituição Federal (CF) (3), que prevê essa
punição ao parlamentar que, em cada sessão legislativa, faltar a 1/3 das sessões ordinárias. Nesse caso,
não há necessidade de deliberação do Plenário e a perda do mandato deve ser automaticamente declarada
pela Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.
Salientou que, como regra geral, quando a condenação ultrapassar 120 dias em regime fechado, a
perda do mandato é consequência lógica. Nos casos de condenação em regime inicial aberto ou
semiaberto, há a possibilidade de autorização de trabalho externo, que inexiste em condenação em regime
fechado.
Ressaltou que a CF é clara ao estabelecer que o parlamentar que não comparecer a mais de 120 dias
ou a 1/3 das sessões legislativas perde o mandato por declaração da Mesa, e não por deliberação do

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Plenário. Assim, para quem está condenado à prisão em regime fechado, no qual deva permanecer por
mais de 120 dias, a perda é automática. Vencido, quanto à interdição, o ministro Marco Aurélio.
Por último, a Turma assentou a perda do mandato e sinalizou a necessidade de declaração pela Mesa
da Câmara, nos termos do § 3º do art. 55 da CF (4).

(1) CF/1988: ―Art. 317. Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou
antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem.‖
(2) Lei 9.613/1998: ―Art. 1º Ocultar ou dissimular a natureza, origem, localização, disposição, movimentação ou propriedade
de bens, direitos ou valores provenientes, direta ou indiretamente, de infração penal. (...) V – contra a Administração Pública,
inclusive a exigência, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, de qualquer vantagem, como condição ou preço para a prática
ou omissão de atos administrativos;‖
(3) CF/1988: ―Art. 55. Perderá o mandato o Deputado ou Senador: (...) III – que deixar de comparecer, em cada sessão
legislativa, à terça parte das sessões ordinárias da Casa a que pertencer, salvo licença ou missão por esta autorizada;‖
(4) CF/1988: ―Art. 55. (...) § 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda será declarada pela Mesa da Casa respectiva,
de ofício ou mediante provocação de qualquer de seus membros, ou de partido político representado no Congresso Nacional,
assegurada ampla defesa.‖
AP 694/MT, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 2.5.2017. (AP-694)

DIREITO ADMINISTRATIVO - ANISTIA POLÍTICA

Mandado de segurança: instauração de processo de revisão de anistia e direito líquido e certo - 2


A Primeira Turma, em conclusão de julgamento e por maioria, deu provimento a recurso ordinário
em mandado de segurança interposto pelo Ministério Público Federal (MPF) — na qualidade de
substituto processual —, em que se pretendia impedir o prosseguimento do processo específico de revisão
de portaria que conferiu anistia política a ex-integrante da Força Aérea Brasileira.
Ao julgar o mandado de segurança, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) concluiu pela ausência de
interesse processual do impetrante. A Advocacia-Geral da União (AGU) alegou não existir direito líquido
e certo a ser protegido quando a Administração está na fase de investigação sobre suposta ilegalidade — ver
Informativo 860.
O Colegiado determinou ao STJ que prossiga na apreciação do mandado de segurança, com exame
da pretensão veiculada pelo impetrante. Pontuou haver duas fases distintas no processo de revisão das
anistias deferidas a militares afastados por motivos políticos: a) determinação de amplo procedimento de
revisão pelo Ministério da Justiça e pela AGU; e b) abertura de processos individuais de reanálise dos
atos de anistia.
No caso, ao contrário do afirmado pelo STJ, o processo individual do recorrente já teve início.
Ademais, para a Turma, a impetração de mandado de segurança é adequada à situação concreta. Em
respeito à cláusula constitucional de acesso ao Judiciário, ao cidadão é assegurada tutela contra lesão ou
ameaça de lesão a direito.
Vencidos os ministros Alexandre de Moraes e Roberto Barroso, que deram provimento ao recurso.
Para eles, a segunda fase da revisão da anistia é uma decorrência concreta da primeira fase.
De acordo com os ministros vencidos, a inexistência de direito líquido e certo na hipótese de fato
futuro que potencialmente pudesse lesar o impetrante impede o uso do mandado de segurança. Caso
contrário, haveria duas situações ensejadoras de mandado de segurança: na instauração do procedimento
e, depois, na decisão. Ademais, a simples instauração de processo administrativo para verificar suposta
existência de má-fé não viola direito líquido e certo.
RMS 34054/DF, rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 4.4.2017. (RMS-34054)

SEGUNDA TURMA

DIREITO PENAL - PRISÃO PREVENTIVA

Prisão preventiva, risco de reiteração delitiva e presunção de inocência


A Segunda Turma, por maioria, concedeu a ordem em ―habeas corpus‖ para revogar a prisão
preventiva do paciente e determinar a sua substituição por medida cautelar diversa [Código de Processo

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Penal (CPP), art. 319 (1)], a ser estabelecida pelo juízo de origem. Além disso, determinou a extensão da
ordem concedida à prisão decretada em outro processo em que o paciente também é réu (2).
No caso, o paciente foi preso preventivamente em 3.8.2015 em razão de decisão do juízo de primeiro
grau fundada na garantia da ordem pública — em virtude do risco de reiteração delitiva — e da conveniência
da instrução criminal. Sobreveio, em 17.5.2016, sentença condenatória na qual o paciente foi
condenado à pena de vinte anos e dez meses de reclusão pelos crimes de corrupção passiva e
lavagem de dinheiro em contexto de organização criminosa, vedado o direito de recorrer em
liberdade.
O Colegiado pontuou que a prisão cautelar é a ―ultima ratio‖, e somente pode ser imposta se as
outras medidas cautelares não se mostrarem adequadas ou suficientes para a contenção do
―periculum libertatis‖ [CPP, art. 282, § 6º (3)].
Os pressupostos que autorizam uma medida cautelar devem estar presentes não apenas no
momento de sua imposição, como também necessitam se prolongar no tempo, para legitimar sua
subsistência.
A constrição cautelar do paciente somente foi decidida e efetivada dez meses após o último
pagamento atribuído a ele — em outubro de 2014 — pelo juízo de origem. Com efeito, ainda que a
decisão da autoridade judiciária tenha-se amparado em elementos concretos de materialidade, os
fatos que ensejaram o aventado risco de reiteração delitiva estão longe de ser contemporâneos do
decreto prisional.
Nesse contexto, a Turma entendeu subsistir o ―periculum libertatis‖, que pode ser remediado
com medidas cautelares diversas da prisão e menos gravosas, o que repercute significativamente no
direito de liberdade do réu.
Ademais, o princípio da presunção de inocência [Constituição Federal (CF), art. 5º, LVII (4)],
como norma de tratamento, significa que, no curso da persecução penal, o imputado, diante do
estado de inocência que lhe é assegurado, não pode ser tratado como culpado nem ser a ele
equiparado. Em sua mais relevante projeção, o referido princípio implica a vedação de medidas
cautelares pessoais automáticas ou obrigatórias. A prisão provisória derivada meramente da
imputação se desveste de sua indeclinável natureza cautelar e perde seu caráter de exce pcionalidade
[CF, art. 5º, LXVI (5)] — traduz punição antecipada —, o que viola o devido processo legal [CF, art.
5º, LIV (6)].
Para o Colegiado, descabe utilizar a prisão preventiva como antecipação de uma pena que não
foi confirmada em segundo grau. Do contrário, seria implementada verdadeira execução provisória
em primeiro grau. Tal medida seria contrária ao entendimento fixado pela Corte no sentido de que a
execução provisória de acórdão penal condenatório proferido em grau de apelação, ainda que sujeito
a recurso especial ou extraordinário, não compromete o princípio constitucional da presunção de
inocência (7).
Vencidos os ministros Edson Fachin (relator) e Celso de Mello, que denegaram a ordem. Para
eles, a complexidade dos fatos apurados permite o alongamento do trâmite sem que isso configure
constrangimento ilegal. Ademais, pontuaram que, diante da pluralidade de condutas atribuídas ao
paciente e da gravidade concreta dessas infrações penais, o receio de reiteração delitiva que ensejou
a manutenção da prisão preventiva estaria fundado em base empírica idônea.

(1) CPP: ―Art. 319. São medidas cautelares diversas da prisão: I – comparecimento periódico em juízo, no prazo e
nas condições fixadas pelo juiz, para informar e justificar atividades; II – proibição de acesso ou frequência a determinados
lugares quando, por circunstâncias relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado permanecer distante desses locais para
evitar o risco de novas infrações; III – proibição de manter contato com pessoa determinada quando, por circunstâncias
relacionadas ao fato, deva o indiciado ou acusado dela permanecer distante; IV – proibição de ausentar-se da Comarca
quando a permanência seja conveniente ou necessária para a investigação ou instrução; V – recolhimento domiciliar no
período noturno e nos dias de folga quando o investigado ou acusado tenha residência e trabalho fixos; VI – suspensão do
exercício de função pública ou de atividade de natureza econômica ou financeira quando houver justo receio de sua
utilização para a prática de infrações penais; VII – internação provisória do acusado nas hipóteses de crimes praticados com
violência ou grave ameaça, quando os peritos concluírem ser inimputável ou semi -imputável (art. 26 do Código Penal) e
houver risco de reiteração; VIII – fiança, nas infrações que a admitem, para assegurar o comparecimento a atos do processo,
evitar a obstrução do seu andamento ou em caso de resistência injustificada à ordem judicial; IX – monitoração eletrônica.‖
(2) Ação Penal 5030883-80.2016.4.04.7000/PR.
(3) CPP: ―Art. 282. As medidas cautelares previstas neste Título deverão ser aplicadas observando-se a: I – necessidade para
aplicação da lei penal, para a investigação ou a instrução criminal e, nos casos expressamente previstos, para ev itar a prática
de infrações penais; II – adequação da medida à gravidade do crime, circunstâncias do fato e condições pessoais do

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indiciado ou acusado. (...) § 6º A prisão preventiva será determinada quando não for cabível a sua substituição por outra
medida cautelar.‖
(4) CF/1988: ―Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo -se aos brasileiros
e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à
propriedade, nos termos seguintes: (...) LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença
penal condenatória;‖
(5) CF/1988: ―Art. 5º (...) LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança;‖
(6) CF/1988: ―Art. 5º (...) LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;‖
(7) HC 126.292/SP (DJE de 17.5.2016).
HC 137728/PR, rel. orig. Min. Edson Fachin, red. p/ o ac. Min. Dias Toffoli, julgamento em
2.5.2017. (HC-137728)

Sessões Ordinárias Extraordinárias Julgamentos Julgamentos por meio eletrônico*


Pleno 3.5.2017 4.5.2017 5 55
1ª Turma 2.5.2017 — 116 31
2ª Turma 2.5.2017 — 2 78
* Emenda Regimental 51/2016-STF. Sessão virtual de 28 de abril a 4 de maio de 2017.

Secretaria de Documentação – SDO


Coordenadoria de Jurisprudência Comparada e Divulgação de Julgados – CJCD
CJCD@stf.jus.br

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