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Referência COMPLETA:

ELIAS, Norbert. O processo civilizador: volume II – formação do Estado e Civilização.


Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1994.

parte dois: sinopse


SUGESTOES PARA UMA TEORIA
DE PROCESSOS CIVILIZADORES

I
DO CONTROLE AO AUTOCONTROLE

“O que tem a organização da sociedade sob a forma de ‘Estados’, o que tem o


monopólio e a centralização de impostos e da força física num vasto terrlt6rio, a ver com a
civilização?” (193) Essa questão possuí muitas implicações. Se o sentido da civilização
parece claro – tese defendida no primeiro volume – nada indica que o mesmo tenha se dado
racionalmente, parte de projeto de algum grupo ou algo do gênero. “Ainda assim, embora
não fosse planejada e intencional, essa transformação não constituí uma mera seqüência
de mudanças caóticas e não estruturadas” (194). O sentido foi dado pelo entrelaçamento
de inúmeras vontades individuais. Essa ordem não é nem racional nem irracional: algumas
vezes ela foi interpretada por “natureza”, Hegel e outros pensadores analisaram tal sentido
como “espírito”. Esse sentido não pode ser reduzido a esse aparato conceitual, pois as
configurações sociais possuem uma autonomia relativa frente as regularidades da ‘mente’.
Destacar a autonomia do social não nos ajuda a compreender sua dinâmica. A exaustiva
análise do primeiro volume desse livro mostrou algumas atitudes “se fez acompanhar de
correspondentes mudanças nas maneiras, na estrutura da personalidade do homem, cujo
resultado provisório é nossa forma de conduta e de sentimentos civilizados” (195).
Portanto, a civilização “é posta em movimento cegamente e mantida em movimento pela
dinâmica autônoma de uma rede de relacionamentos, por mudanças específicas na
maneira como as pessoas se vêem obrigadas a conviver” (195). [193-195]
“Mas que mudanças específicas na maneira como as pessoas se prendem umas as
outras lhes modelam a personalidade de uma maneira civilizadora?” (195). Durante a
história da civilização ocidental percebemos um aumento no número de funções sociais,
que sob pressão da competição, se tornaram mais diferenciadas. “A medida que mais
pessoas sintonizavam sua conduta com a de outras, as teias de ações teria que se
organizar de forma sempre mais rigorosa e precisa, a fim de que cada ação individual
desempenhasse uma função social” (195). A pressão para que as pessoas se controlassem
ficou tão grande que “um cego aparelho de autocontrole foi firmemente estabelecido”
(195). Exemplifica com a diferença de uma vigem por estradas antigamente, onde a
principal questão era a prontidão para a defesa, para uma estrada atualmente, quando a
principal questão é evitar uma colisão com outro viajante. [195-197]
O auto controle ainda hoje varia de acordo com a posição ocupada pelo indivíduo na
cadeia de ações em que se incluí cada ato individual. Mais importante do que estas
variações é a comparação que podemos estabelecer da nossa sociedade com as
antecessoras: “tornando-se o tecido social mais intricado, o aparelho sociogênico de
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autocontrole individual torna-se também mais diferenciado, complexo e estável” (197).


[197]
A diferenciação social é apenas uma das transformações observadas ao estudar a
mudança na constituição psicológica da civilização. “Lado a lado com a divisão de funções
em andamento, ocorre a total reorganização do tecido social” (197). A estabilidade
proveniente do autocontrole é paralelo também a “monopolização da força física e a
crescente estabilidade dos órgãos centrais da sociedade” (197). É esse monopólio que
permite a constituição de espaços sociais pacificados, normalmente livres da violência
física. Outro tipo de violência (econômica) permite o controle dos mais fortes dos mais
fracos. [197-199]
Elias exemplifica tal relação entre diferenciação social e monopolização da força
pelos mecanismos centrais na transformação da nobreza de uma classe de cavaleiros em
uma classe de cortesões. Ele faz uma longa descrição das pulsões existentes entre os
cavaleiros e a violência presente nas situações cotidianos. O contrário acontece na
sociedade atual, na medida em que um grupo de especialistas concentram as funções de
violência a margem (quartéis) da vida social cotidiana. Porém, mesmo “sob essa forma,
como organização de controle, porém, a violência física e a ameaça dela exercem uma
influência decisiva sobre os indivíduos, saibam eles disso ou não.” (200). [199-200]
O autocontrole também estava presente nas sociedades medievais, porém de
maneira difusa, frágil e ligado a situações cotidianas específicas. O autocontrole altamente
desenvolvidos de alguns setores, como os monges, eram contemporâneos à explosão de
violência e descontrole por outros, como os cavaleiros. O autocontrole da sociedade
ocidental atual é desapaixonado, instaurado desde a infância pelos adultos. [200-202]
Conforme os controles foram sendo estabelecidos, a satisfação de anseios e paixões
também teve que se transformar, agora não mais de modo direto, mas pela literatura,
pintura, filmes, etc. As autolimitações são em parte consciente e em parte inconsciente
(‘automatizado’). “Mas, dependendo da pressão interna, das condições da sociedade e da
posição que nela ocupe o indivíduo, essas limitações produzem também tensões e
perturbações peculiares na economia da conduta e das paixões” (204). Disserta sobre a
infelicidade moderna. [203-204]
Dentro dessa pressão por autocontrole, uma série de anormalidades sociais
começam a serem percebidas. A internalização do autocontrole é um processo doloroso e
muitas vezes questões psicológicas mal resolvidas na infância retomam no decorrer da vida
adulta. Entretanto, existem alguns casos em que tal peso consegue se harmonizar com a
vida civilizada. Independentemente, esses dois casos são extremos, a maioria das pessoas
encontra-se no meio termo desses dois casos. A estrutura psíquica da sociedade ocidental
requer “uma diferenciação muito alta, uma regulação muito extensa e estável e
sentimentos, de todas as paixões humanas mais elementares” (206). O custo da
estruturação dessa estrutura é muito considerável. [204-207]

II
DIFUSÃO DA PRESSÃO PELA PREVIDÊNCIA E AUTOCONTROLE

“O que empresta ao processo civilizador no Ocidente seu caráter especial e


excepcional é o fato de que, aqui, a divisão de funções atingiu um nível, os monopólios da
força e tributação uma solidez, e a interdependência e a competição uma extensão, tanto
em termos de espaço físico quanto no número de pessoas envolvidas, que não tiveram igual
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na história mundial” (207). Locais de autocontrole foram se espalhando a partir das


grandes rotas de comércio, atingindo áreas antes remotas. “Ocorreu ainda o fortalecimento
do autocontrole a permanência das compulsões – a inibição de paixões e o controle das
pulsões – impostas pela vida no centro dessas redes” (207). Aconteceu uma mudança na
maneira como o tempo foi percebido, devido a grande interposição de relações sociais. As
pessoas são obrigadas a “subordinarem suas inclinações momentâneas as necessidades
superiores da interdependência, treiná-las para eliminarem todas as irregularidade do
comportamento e conseguirem um permanente autocontrole” (207). [207-208]
Dentro dessa enorme rede existem padrões de comportamento distintos – em alguns
lugares a sexualidade é cercada de mais restrições que outros, por exemplo. Apesar dessas
diferenças, o sentido é o mesmo: controle das paixões e dos instintos com o decorrente
fortalecimento do superego. “Em toda a parte da sociedade ocidental, pequenos grupos
dirigentes são afetados primeiro e, depois, extratos cada vez mais amplos” (208). Foi
somente com o tempo que os extratos mais baixos foram incorporando os mecanismos de
controle. “Em todas as grandes redes humanas há alguns setores mais importantes que
outros” (209). Sobre esses “setores fundamentais” recaí uma maior “cadeia de
interdependência” que articulam várias posições sociais, por isso é compreensível um
maior autocontrole. “Os grupos estabelecidos que competem entre si são, assim,
compelidos a levar em consideração as exigências da grande massa de outsiders” (209).
As “massas” assumem um papel cada vez mais importante no processo e, sob forte pressão
social, acabam acostumando a “controlar suas emoções momentâneas e disciplinar sua
conduta com base numa compreensão mais profunda da sociedade total e da sua posição
nela.” (209). Dessa maneira vai acontecendo uma expansão do autocontrole para toda a
sociedade. Elias disserta sobre a expansão do sistema, seus avanços e recuos.1 [208-210]

III
DIMINUIÇÃO DOS CONTRASTES, AUMENTO DA VARIEDADE

Cita uma interpretação da mudança social em que os grupos outrora oprimidos, se


assumem o poder viram opressores. Elias lembra que “os grupos marginais e mais pobres,
num dado estágio de desenvolvimento, tendem a seguir suas paixões e sentimentos de
forma mais direta e espontânea, regulando-se sua conduta menos rigorosamente que a dos
respectivos estratos superiores” (210). Cita exemplo da relação camponês-senhor e
prisioneiro-mercador. O trabalho presente nas classes altas é uma característica moderna. A
diferença entre o controle das classes altas e baixas no mundo contemporâneo ainda é
considerável. A longo prazo o movimento é em direção a um autocontrole ainda maior
dentro da própria sociedade ocidental. Essa redução de contraste constituí um dos
elementos mais peculiares da sociedade ocidental. [210-211]
O processo de expansão do tipo de civilização ocidental também se expandiu pelo
oriente, tanto através dos assentamentos quanto pela adoção, no seio das elites não-
européias, dos mecanismos de autocontrole característicos do mundo ocidental. Disserta
sobre a tecnologia como um dos sintomas desse processo. [211-212]
As classes altas possuem uma atitude ambivalente no processo de expansão do seu
padrão de conduta para as classes em ascensão. A adoção de um comportamento entendido
como civilizado significa marcas de distinção e prestígio. Tal estratégia é feita como meio

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Na minha opinião, trata-se da expansão do sistema capitalista.
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de defender-se contra as ameaças de posições sociais provenientes dos grupos em ascensão.


[212-213]
Durante a colonização, os europeus criam um muro que separavam seu mundo dos
nativos que eles colonizaram, por um lado, por outro disseminaram um tipo de
comportamento, diminuindo a diferença entre ambos. “O mais das vezes sem uma intenção
deliberada, trabalhavam numa direção que, cedo ou tarde, levou a redução das diferenças
de poder social e conduta entre colonizadores e colonizados” (213). Os grupos que
primeiro adotam o comportamento ocidental são justamente as classes dominantes dos
povos dominados. [213-214]
No próprio ocidente podemos perceber um movimento parecido, basta recuarmos
um pouco no tempo. Disserta sobre a gradual adoção da moderação pelas classes mais
baixas, camponeses e trabalhadores. O processo varia segundo pais: cita exemplo. No que
se refere às classes mais altas, percebemos “a interpenetração dos padrões de conduta da
nobreza e da burguesia.” (214). A adoção e concentração do autocontrole foi o modo pelo
qual a nobreza tratou-se de distinguir-se da burguesia. Cita exemplo de um tratado de
comportamento, onde o autor solicita que tal livro não circule entre pessoas que não são da
boa sociedade. [214-215]

IV
A TRANSFORMAÇÃO DE GUERREIROS EM CORTESÃOS
[215-225]

V
O ABRANDAMENTO DAS PULSÕES:
PSICOLOGIZAÇÃO E RACIONALIZAÇÃO

Começa com um relato sobre as dificuldades da vida na corte. Foi na corte que se
formou, primeiramente, um tipo de sociedade e de relacionamentos humanos onde era
extremamente forte a pressão da opinião das pessoas sobre si mesmas. As intrigas e disputa
de favores, a disputa oratória tomaram o lugar das brigas violentas. Entretanto, nessa
sociedade, os cortesões somente precisam sujeitar suas emoções quando envoltos de seus
pares. Na corte, ao contrário da sociedade burguesa, é mais nítido a opressão aos
sentimentos. [225-227]
“De conformidade com a transformação da sociedade, são, também reconstruídas
as relações interpessoais, a constituição afetiva do indivíduo” (227). As relações
estabelecidas com as pessoas se tornam mais cheias de nuances, mais “psicologizada”
(227). Os sentimentos imediatos prendem o indivíduo a um número menor de opções de
relacionamentos. Conforme o autocontrole se desenvolve, maior a complexibilidade das
relações interpessoais. Também as relações tornam-se mais neutras, pois as ações se
orientam para o “empírico”, para a “experiência”. A percepção cortesã consegui analisar as
relações entre pessoas dentro de um contexto social. A importância das observações sobre o
outro para o estabelecimento de relações interpessoais pode ser percebida na comparação
de dois manuais de conduta. Outro fator revelador do aprofundamento da civilização é a
ampliação da circulação de literatura. Cita a capacidade de alguns escritores de traduzir a
plasticidade das relações existentes nos altos escalões sociais. [227-229]
Assim como a psicologização, a racionalização também vai se tornando perceptível
ao longo da história européia. A racionalização não é um fato isolado, apenas “uma
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manifestação da mudança em toda a personalidade que emerge nessa época, e da


crescente capacidade de previsão que a partir desse período é também exigida e instilada
por um número crescente de funções sociais” (230). A racionalização é fruto da intensidade
das relações interpessoais, uma força de fora para dentro e não o contrário. Os hábitos das
pessoas civilizadas diferem das ditas “primitivas”, não por uma aquisição da razão, mas
porque as relações sociais impuseram diferentes formas de internalizar as normas de
convívio. [229-231]
“O que muda no curso do processo que denominamos de história são as relações
mútuas, as configurações de pessoas e a modelação que o indivíduo sofre através delas.”
(231). A capacidade de prever dadas situações varia segundo sociedade e, no interior dessa,
segundo estratificação/classe: cita exemplos. A capacidade da pessoa pensar-se como um
individuo criativo e autônomo é conseqüência de uma formação social que permite tal
entendimento. [231-232]
Exemplifica a diferença de racionalização e previsão através da literatura, com um
conto que mostra a decadência do ethos guerreiro na sociedade medieval. Exemplifica
novamente com um conto que descreve a aproximação de um duque de oposição ao rei. Os
dois exemplos são sintomático em mostrar o modo de conseguir satisfazer as demandas: o
primeiro pela força, o segundo pela palavra. O segundo exemplo também é um exemplo
cabal da ‘racionalidade cortesã’, que desempenhou um papel importante no
desenvolvimento do Iluminismo. [232-234]
Defende uma aproximação da história com a psicologia. Não é possível separar as
mudanças ocorridas no nível psicológico das do nível social. A racionalização também não
pode ser entendida como ideologia. Invariavelmente, tal processo está ligado a luta de
classes e as disputas por poder e reconhecimento, entretanto tal sentido não pode ser credito
a um projeto político de um grupo sobre outro, pois ele não é controlável. [234-236]
A história tem intensa preocupação com os aspectos do pensamento e do
conhecimento desenvolvidos pelas sociedades por estarem ligados ao lado racional do
humano. As humanidades deveriam, igualmente, preocupar-se com os aspectos irracionais:
por isso o grande interesse na conexão da psicologia com a história. “Os níveis mais
animais e automáticos da personalidade do homem não são nem mais nem menos
importantes para a compreensão da conduta humana do que seus controles. O que
importa, o que determina a conduta, são os equilíbrios e conflitos entre as pulsões
maleáveis e os controles construídos sobre as pulsões.” (237). Sugere que as sociedades
ocidentais possuem um ‘superego’ mais desenvolvido. A peculiaridade do homem
descoberta por Freud não é a - histórica, mas fruto justamente do processo civilizador. Tais
peculiaridades só podem ser plenamente compreendidas, portanto, se inseridas dentro do
próprio processo. [236-238]
Para compreender e explicar os processos civilizadores é preciso investigar tanto as
transformações nas estruturas sociais (sociogêneses) quanto nas estruturas psíquicas
(psicogênese). Essa investigação precisa ser total, necessitando articular as “relações entre
os diferentes estratos funcionais que convivem juntos no campo social” (239). Investigar a
totalidade do campo social significar atentar-se as estruturas do mesmo, as “regularidades
subjacentes” (239). “Em última instância, as fronteiras de tal estudo são determinadas
pelas fronteiras da interdependência, ou pelo menos pela articulação imanente das
mesmas” (239). [238-239]
Assim é que se deve compreender o processo de racionalização da sociedade. Nesse
sentido, não é correto atribuirmos a burguesia a invenção e promoção dos pensamentos
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racionais. “Mudanças desse tipo, porém, não se ‘originam’ numa classe ou noutra, mas
surgem, sim, em conjunto com as tensões entre diferentes grupos funcionais no campo
social e entre as pessoas que competem dentro deles” (240). Defende a interligação de
diversos fatores na formação da sociedade ocidental. Relativiza a influência dos ‘grandes
homens’ nesse processo de diferenciação. [239-241]

VI
VERGONHA E REPUGNÂNCIA

A vergonha é uma forma peculiar da modelação da economia das pulsões.


“Considerado superficialmente, é o medo de degradação social ou, em termos mais gerais,
de gestos de superioridade de outras pessoas” (242). Acontece em situações de claro
desacordo com o superego. Utiliza o conceito de vergonha para defender que nas
sociedades cujo processo de civilização já alcançou determinado patamar, o “superego”
torna-se mais aguçado, influenciando atitudes externas/sociais. Esse é um ponto a ser
explorado em outras pesquisas, em especial aquelas ligadas a atividade sexual. [242-244]
Explora a questão de como a vergonha foi vivida nos diferentes períodos da história
do Ocidente, exemplificando a partir da nudez do corpo. Somente em períodos avançados a
nudez do corpo foi introjetado como vergonha individualmente. Tal situação é
conseqüência da extensão das “cadeias de dependência que se cruzam no indivíduo” (245).
Exemplifica com a maneira que os europeus sentiam a floresta (como local inseguro) e os
citadinos a sentem atualmente (como local de contemplação). O medo do homem do
próprio homem diminuiu, porém, o medo dos julgamentos dos outros aumentou.
Exemplifica tal situação através da resignificação que o uso da faca teve ao longo da
história da sociedade ocidental. [244-248]
“Em parte alguma da sociedade humana há um ponto zero de medo de potências
externas ou de ansiedades internas automatizadas. Embora estes dois medos possam ser
sentidos como muito diferentes, são, no fim, inseparáveis. O que acontece no curso do
processo civilizador não é o desaparecimento de um e o aparecimento de outro. o que
muda e simplesmente a proporção entre os medos de origem externa e os que são gerados
dentro da pessoa, e a estrutura que as articula” (248).

VII
RESTRIÇÕES CRESCENTES A CLASSE ALTA:
PRESSÕES CERCENTES A PARTIR DE BAIXO

Nas sociedades cortesãs existia um certo asco por algumas atitudes características
das classes inferiores. A segurança expressa pelas classes altas no seu bom gosto – seja para
a comida, seja para roupas ou decoração, por exemplo – “tem origem mais numa instância
de auto-regulação que opera mais ou menos inconscientemente do que uma reflexão
consciente.” (249). É o meio cortesão que proporciona o aprendizado dos gostos. [248-249]
As pressões provenientes dos círculos burgueses para acabar com certos privilégios
aristocráticos é bastante anterior ao século XIX. A própria configuração das cortes é
fortemente ligada as pressões provenientes dos círculos da burguesia. Até o momento da
centralização e monopolização da violência na sociedade, eram comuns a tensão entre os
diferentes grupos sociais descambar para a violência. As restrições antigamente expressas
em meios violentos passaram a serem externalizadas por meios psicológicos internos. Nos
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séculos XVI e XVII, quando a nobreza de espada começava a coexistir com a nobreza da
corte, grupos burgueses se aliavam ora com uma e ora com outra em busca de arraigar
privilégios. “Dada essa estrutura de interdependências, a tensão social produzia uma forte
tensão interna nos membros das classes altas ameaçadas” (251). [249-251]
A principal função da nobreza de corte era justamente era distinguir-se como um
grupo social a parte, em contraposição a burguesia. O aprimoramento do gosto e da conduta
estão diretamente ligados ao tempo gasto nisso. A burguesia tinha menos tempo que a
aristocracia. Com a queda da sociedade de corte, a interdependência entre os dois grupos
aumentou, gerando contato mais estreitos e, conseqüentemente, tensões. Nesse momento,
as profissões e o dinheiro passou a ser mais importante que o refinamento do gosto. O
refinamento foi levado para a esfera privada. O controle dos impulsos era igualmente
necessário na sociedade burguesa, porém destinado agora a esfera das relações de
produção. Destaca a simbologia que Paris e Viena ainda guardam como sinônimo de bom
gosto e erotismo. [251-254]
Mesmo com as variações existentes em cada país, o comportamento das cortes
acabou ultrapassando as barreiras sociais, sendo adotado com graus variados e com
numerosas modificações em vasta medida. Isso foi “resultado da existência de cadeias de
dependência muito entrelaçadas e longas, que ligavam as várias sociedades nacionais do
Ocidente” (254). A partir do século XIX, as “formas civilizadas de conduta se
disseminaram pelas classes mais baixas, em ascensão, da sociedade do Ocidente e pelas
diferentes classes nas colônias, amalgando-se com padrões nativos de conduta” (255).
Inglaterra: fusão de um código de maneiras com um código ético. Para conseguir
disseminar um padrão de conduta era preciso um “grau bem elevado de segurança” (256).
[254-256]
Todos os fenômenos explicitados até o momento tiveram como implicação o
aumento da produtividade no trabalho. Essa condição foi fundamental para elevar o padrão
de vida, consolidar as formas de tributação e concentração da violência, fato que gerou a
segurança típica do Estado Moderno. “Se acompanhamos os delineamentos desses
processos ao longo dos séculos, percebemos uma clara tendência para igualar padrões de
vida e conduta e nivelar contrastes.” (257). Existem duas fases de assimilação dos grupos
subalternos em ascensão. Apesar de adotar um modelo, os membros da classe em ascensão
criam um superego diferenciado. [usando uma linguagem do Bourdieu: hábitus não se
apaga!] [256-258]
O código de comportamento, além de um elemento de prestígio, também é um
elemento de poder, pois o governo das pessoas é internalizado na estrutura psíquica. Os
burgueses do tempo da ascensão da sociedade do corte adotavam a postura e os valores da
aristocracia. O controle moral, principalmente sexual, foi mais forte entre os burgueses do
que nobres corteses nesse período de ascensão. “A crescente divisão das funções sob
pressão da competição, a tendência a maior dependência recíproca de todos, que, a longo
prazo, não permitiu a grupo algum obter maior poder social do que outros e acabou com
os privilégios hereditários” (260). Destaca as diferenças existentes em cada nação. Usa o
exemplo específico da Inglaterra e França. [258-263]
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VIII
CONCLUSÃO

Esse livro pretendeu apresentar o processo que ainda hoje continua, iniciado nos
tempos medievais. Esse livro tentou, com diversos exemplos, tentou mostrar o sentido, que
tem avanços e recuos, do desenvolvimento da sociedade ocidental. Da mesma forma que
antigamente, os Estados formados nesse longo processo hoje lutam por hegemonia, estando
em jogo a supremacia por continentes. A situação de livre competição, seja ela entre
artesãos, empresas ou Estados, leva a formação de monopólios. É impossível prever qual
será o futuro centro formado. [263-265]
O mesmo raciocínio pode ser formulado na análise dos grupos sociais, as tensões
resultantes “entre as pessoas que controlam diretamente certos instrumentos do monopólio
como propriedades hereditárias e aquelas excluídas de tal controle e que participam de
competição sem liberdade” (265). A luta da burguesia contra a nobreza nos tempos do
absolutismo é um exemplo desse tipo de disputa. [265-266]
Ao longo desse estudo, o autor defendeu que “a estrutura das funções psicológicas,
o modelo específico de controle do comportamento num período dado, vincula-se à
estrutura das funções sociais e a mudança nos relacionamentos entre as pessoas” (266).
Exemplifica com as influências mútuas acontecidas entre o comportamento da burguesia e
da nobreza. O comportamento da nossa sociedade precisa ser compreendido a partir de uma
perspectiva histórica. As pressões surgidas na sociedade com o maior entrelaçamento
social, o aumento da qualidade de vida e da segurança foi a mudança na estrutura da
personalidade: as estruturas da sociedade foram internalizadas na estrutura psiquica dos
seus membros. [266-269]

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