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A Importâ ncia da Mú sica

na Evoluçã o do Espı́rito
A Doutrina Espírita perante a Arte Musical

Paulo Miguel Fregedo

Agosto de 2012
1 A Importância da Música na Evolução do Espírito

Índice
INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................2

A IMPORTÂNCIA DA MÚSICA NA ANTIGUIDADE...................................................................................................3

CHINA ANTIGA ...............................................................................................................................................................3


ANTIGO EGIPTO .............................................................................................................................................................4
Í NDIA ANTIGA ................................................................................................................................................................5
GRÉCIA ANTIGA..............................................................................................................................................................6

A SENSIBILIDADE DOS SERES V IVOS À MÚSICA .....................................................................................................8

EXPERIÊNCIA LABORATORIAL COM RATOS – BARROCO VS ROCK .......................................................................................8


EXPERIÊNCIA LABORATORIAL COM PLANTAS ....................................................................................................................9

A MÚSICA NO PLANO ESPIRITUAL ......................................................................................................................... 12

O CONTRIBUTO DA ARTE MUSICAL PARA A EVOLUÇÃO DO ESPÍRITO .......................................................... 17

O COMPOSITOR ESPÍRITA ........................................................................................................................................ 19

ALGUNS REQUISITOS PARA O TRABALHO COMPOSICIONAL............................................................................................. 23

CONCLUSÃO................................................................................................................................................................ 24

BIBLIOGRAFIA............................................................................................................................................................. 26

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2 A Importância da Música na Evolução do Espírito

Introduçã o

O presente ensaio apresenta uma proposta reflexiva que procura compreender a


importância que a arte musical representa para a evolução do espírito, à luz da
Doutrina Espírita, codificada no séc. XIX pelo mestre de Lyon, Allan Kardec.

Para analisarmos convenientemente este tema, iremos realizar inicialmente uma


breve retrospetiva histórica para compreendermos a importância que foi dada à
arte musical pelas civilizações da antiguidade. Posteriormente, vamos analisar
alguns estudos científicos realizados com plantas e animais de laboratório para
avaliar os efeitos de alguns estilos musicais. Por último, vamos analisar um
conjunto de obras da Doutrina Espírita, as quais nos revelam de forma pertinente,
informações veiculadas pela espiritualidade superior que explicam a importância
da arte musical para a evolução do espírito através das comunicações realizadas
por um conjunto de entidades espirituais, a saber: o Espírito de Verdade, O Esteta,
Emmanuel, Neio Lúcio, Manoel Philomeno de Miranda e Jules Massenet, publicadas
em obras de alto valor doutrinário com a participação e o aval de Allan Kardec,
Léon Denis e também através da psicografia de Nivart, de Francisco Cândido
Xavier e de Divaldo Pereira Franco.

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3 A Importância da Música na Evolução do Espírito

A Importâ ncia da Mú sica na


Antiguidade

A arte musical para as principais civilizações da antiguidade era considerada como


a mais elevada de todas as artes e a mais importante das ciências. Criam os antigos
sábios da China, do Egipto, da Índia e da Grécia, que a música era o caminho mais
poderoso para a conquista da iluminação religiosa e a base fundamental para a
constituição de um governo estável e harmonioso. Acreditavam de tal forma no
vigor dos seus efeitos sobre a alma humana, que consideravam ser capaz de
determinar o carácter e a moral de um povo ou de uma nação inteira. Os primeiros
textos escritos por estas civilizações apresentam a música como uma atividade
ligada à magia, à saúde, à metafísica e até à política, tendo um papel determinante
nos rituais religiosos, em festas e nas guerras. As cosmogonias de várias destas
civilizações possuem eventos musicais relacionados com a criação do mundo e
suas mitologias frequentemente apresentam divindades ligadas à música.

China antiga

Há aproximadamente 3.000 anos a. C. que a China possuía a mais complexa e


fascinante filosofia da música que atualmente se conhece do mundo antigo. Após o
estabelecimento da civilização chinesa no Huang-He, a música começou a ter um
papel muito importante. Os músicos tinham um estatuto social respeitado e os
instrumentos musicais tiveram nesse período um grande desenvolvimento. Os
antigos chineses acreditavam que a música possuía poderes mágicos, achavam que
ela refletia a ordem do universo. Conforme o seu ponto de vista, as notas musicais
continham uma essência extremamente poderosa e transcendental. Uma frase
musical era uma fórmula de energia e as diferentes frases musicais qualificavam o
sagrado poder do som de maneiras diferentes. Cada composição exercia
influências específicas sobre o homem, a civilização e o mundo. As influências
místicas particulares de uma peça musical dependiam de fatores como o ritmo, os
padrões melódicos e a combinação dos instrumentos usados.

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4 A Importância da Música na Evolução do Espírito

Acima de tudo, foi esse fato que levou os filósofos chineses a dirigirem muito da
sua atenção à música do seu país, pois, para que todos os cidadãos estivessem
livres dos perigos do uso indevido do poder da música e para que todos
aproveitassem o seu uso benéfico e o mais otimizado possível, era necessário
assegurar que só se executava a música considerada correta. Acreditavam
convictamente que o objetivo da música não era o de mero entretenimento, pois
compreendiam que o lado mais negro da natureza humana poderia ser estimulado
pela música sensual, imoral e de teor mundano, prejudicando o individuo e a
própria sociedade. Consequentemente, a toda música caberia a função de
transmitir verdades eternas e influir positivamente no caráter do homem, com o
objetivo de se aperfeiçoar. Com efeito, a própria palavra usada na China para
significar música (Yüo) é representada pelo mesmo símbolo gráfico empregado
para designar a serenidade (Lo).
A música poderia até afetar diretamente a saúde do corpo físico. Cria Confúcio que
a boa música poderia ajudar a aprimorar o caráter do homem, ao afirmar:
“A música do homem de espírito nobre, suave e delicada, conserva um estado d’alma
uniforme, anima e comove. Um homem assim não abriga o sofrimento nem o luto no
coração; os movimentos violentos e temerários lhe são estranhos.”
Mais do que isso, uma vez que os indivíduos são os materiais básicos de construção
da sociedade, a música também poderia afetar nações inteiras, melhorando-as ou
piorando-as, de acordo com a qualidade da sua música:
“Se alguém desejar saber se um reino é bem ou malgovernado, se a sua moral é boa
ou má, examine a qualidade da sua música, que lhe fornecerá a resposta.”
Confúcio in Tame (1984:36)

Antigo Egipto

Para os egípcios, a música teria sido inventada por Tot, sendo este o nome egípcio
mais comum pelo qual era conhecido o deus que corresponde à segunda pessoa da
trindade egípcia. Muitos relatos asseveram que Tot viveu e andou entre os homens.
Consoante Clemente de Alexandria e outras fontes, Tot era outro nome de Hermes
Trismegisto, “inventor da música” e autor de livros de cantos egípcios entoados aos
deuses. Na época do Império Antigo, entre a III e X Dinastias, c. 2635 a 2060 a.C., a
música egípcia viveu o seu auge. Muitas representações figurativas mostram

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pequenos conjuntos musicais com cantores, harpas e flautas, bem como com
inscrições coreográficas descrevendo danças realizadas para o faraó. Nos festivais,
os músicos, cantores e dançarinos andavam em procissão no exterior dos templos
e os sacerdotes transportavam um relicário que abrigava a estátua da divindade.
Frequentemente o que se pretendia não era produzir música agradável, mas um
som rítmico que criasse um estado de êxtase religioso ou simplesmente para
espantar os espíritos inferiores. Acredita-se que este tenha sido o período de maior
florescimento da arte musical egípcia. Os músicos gozavam de grande prestígio
dentro da comunidade. Os egípcios utilizavam a música tanto para a guerra como
para a recreação, mas preferiam as expressões consideradas mais elevadas, como
as dos cultos aos deuses e dos banquetes cerimoniais.

Índia antiga

A mitologia hindu diz que Shiva ensinou a música aos homens há cerca de 6 mil
anos. No entanto, os achados arqueológicos demonstram que é pouco provável que
uma civilização sedentária se tenha estabelecido no vale do Indo antes de 2500
a.C.. A civilização pré-ariana tornou-se próspera e é provável que uma cultura
musical própria tenha sido desenvolvida, possivelmente com influências da
Mesopotâmia. Embora os Vedas (escritos entre 1500 a.C. e 500 a.C.) documentem a
importância religiosa da música na civilização indiana e forneçam extensa
informação mitológica, nenhum documento ou informação precisa sobre como
seria essa música foi encontrado. Desse facto, decorre que pouco ou nada se sabe
sobre os instrumentos, escalas e toda a teoria musical na Índia Antiga.
A música faz parte do quotidiano do povo indiano. É entrelaçada na vida social,
religiosa e cultural do país e integra a envolvente unidade do mundo místico da
Índia. Música é denominada por “Gandharva Veda” e que significa ciência musical.
É um dos quatro “upa vedas”, isto é, “vedas” secundários. Os outros três são
“Dhanur Veda” que significa a arte de manejar o arco; o “Ayur Veda” que significa a
medicina; e o “Artha Sastra” que significa a política.

Deus é compreendido como “Nadabrahma”, ou seja, encarnação do som. Através do


“Nadopasana”, isto é, meditação musical, o homem consegue a felicidade divina. No

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século XIX, Sundaramoorthy Nayar descreve Deus como manifestando-se nas sete
notas e nas formas da arte musical. “Sangita marga”, ou o caminho da música, é o
meio mais eficiente para chegar a Deus. Música é arte (“kala”) e ciência (“sastra”)
ao mesmo tempo. É a linguagem dos deuses.

Grécia antiga

A cultura da Grécia antiga (c. séculos VII a I a.C.) contribuiu categoricamente para a
origem da presente civilização ocidental. A música era compreendida como um
fenómeno de origem divina, estando ligada à magia e à mitologia, existindo várias
histórias místicas relacionadas com a origem da música, seu poder e suas funções.
Acreditavam que a música tinha a capacidade de curar doenças, purificar o corpo e
o espírito e operar milagres no reino da natureza. Além disso, existem diversos
registos que indicam que os sábios gregos acreditavam que a música era parte
integral da génese existencial do ser humano e que continuava a ser usada
sabiamente pelos deuses. Por exemplo, Anfião teria construído Tebas através do
poder do som e Orfeu podia tocar com tamanha doçura que até as feras quedavam
absortas.
Hipócrates “o pai da medicina”, levava os seus casos de enfermidade mental ao
templo de Esculápio para ali ouvirem a música comovedora, a fim de aligeirar os
seus padecimentos e de pacificar os doentes.
Pitágoras, no século VI a.C., achava que a Música e a Matemática poderiam fornecer
a chave para os segredos do mundo. Acreditava que os diversos corpos celestes
produziam diferentes tons musicais e que o próprio universo cantava
harmonicamente. Para os pitagoristas, as energias vibratórias universais eram a
Música das Esferas: harmonia etérea que supunham ser produzida por vibrações
das esferas celestes e sobre as quais julgavam moverem-se as estrelas e os
planetas.
Acima de qualquer outra coisa, os grandes pensadores da antiguidade destacavam
o vigoroso efeito da música sobre o carácter do homem, visto que ela parecia
exercer tamanho poder para determinar a moral do povo. A música era um assunto
que nenhum dos grandes filósofos morais poderia ignorar. Aristóteles, por
exemplo, escreveu:

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“… emoções de toda espécie são produzidas pela melodia e pelo ritmo; através da
música, por conseguinte, o homem se acostuma a experimentar as emoções certas; tem a
música, portanto, o poder de formar o carácter, e os vários tipos de música, baseados nos
vários modos, distinguem-se pelos seus efeitos sobre o carácter – um, por exemplo,
operando na direção da melancolia, outro na efeminação; um incentivando a renúncia,
outro, o domínio de si, um terceiro o entusiasmo, e assim por diante …”
Aristóteles in Tame (1984:19).

A energia musical era entendida como algo muito sério, com a capacidade de
interferir e modificar a matéria, bem como o espírito humano. Daí o cuidado
extremo que era colocado na sua realização, procurando preservar a harmonia
inerente com a natureza e com a divindade.

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A Sensibilidade dos Seres Vivos à


Mú sica
“Todos os seres são sensíveis à música. Até mesmo os animais sofrem sua influência.
Conhece-se a lenda de Orfeu, que com sua lira atraía e agrupava a seu redor as feras da
floresta. Os próprios insetos sentem as vibrações da música… O poder da música
demonstra-se também através da influência da canção sobre o povo. Ela é a
companheira do trabalho, o sustento do esforço paciente repetido, a alegria do lar, pois
exalta as forças e os sentimentos do ser humano… ”
Denis (1994:69).

Tal como nos afirma Léon Denis, todos os seres vivos sofrem a influência das
vibrações musicais, as quais transportam em si mesmas uma energia inerente. Essa
energia poderá ser positiva ou negativa, de acordo com os seus efeitos físicos e
espirituais. Com o auxílio da ciência, já foi possível demonstrar os efeitos que
diferentes estilos musicais provocam nos seres vivos, mais precisamente em ratos
e em plantas. No último caso é mais interessante dado que as plantas não possuem
um cérebro, logo não existem fatores psicológicos para influenciar nos resultados.
A influência da música no reino vegetal primitivo concretiza-se apenas nas células
e na sensibilidade que indiscutivelmente apresentam.

Experiência Laboratorial com ratos – Barroco vs. Rock

Numa experiência realizada por psicólogos com o propósito de identificar a reação


de ratos a dois estilos musicais muito diferentes, a saber, música barroca (Bach) e
música rock. Foram construídas duas caixas sonorizadas com uma ligação entre si
para que os ratos pudessem movimentar-se livremente entre ambas. Numa caixa
fez-se ouvir a música barroca e na outra, música rock. Os ratos descolaram-se na
totalidade para a caixa onde se ouvia a música barroca. Os psicólogos trocaram
então a sonorização das caixas e os ratos abandonaram a caixa onde se escutava
música rock e foram todos para a caixa onde se escutava a música de Bach.

É interessante verificar que algo de imensamente fundamental existe na música


para além das vibrações acústicas, uma energia que pode ser sentida pelos
animais, proporcionando-lhes a oportunidade de escolherem o lugar onde

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encontram um maior bem-estar e na respetiva experiência, foi escolhida a caixa


onde a música do emérito compositor do período barroco se fazia ouvir.

Experiência Laboratorial com plantas

Em 1968, Dorothy Retallack nos Estados Unidos da América, enquanto aluna do


Temple Beull College em Denver, no Colorado, realizou uma experiência muito
interessante utilizando plantas com o objetivo de procurar compreender se estas
respondem a estímulos sonoros, e neste caso, a estímulos musicais com uma
seleção de diferentes estilos. As músicas utilizadas foram, entre outras, J. S. Bach –
música para órgão, Ravi Shankar “Sounds of India” e um pout-pourri de “Acid Rock”
com músicas do grupo Led Zepplin, Vanilla Fudge e Jimi Hendrix. Esta experiência
foi publicada na obra “The Sound of Music and Plants” em 1973.

Em diferentes câmaras sonorizadas e isoladas acusticamente, foram colocadas as


plantas, todas igualmente posicionadas em alinhamento com a fonte sonora e uma
de controlo sem escuta musical. As experiências observaram também a regulação
automática e plenamente controlada do ar, temperatura e luminosidade. Um dos
parâmetros medidos foi o grau de inclinação dos caules em relação com a posição
das colunas. Foi observada então, uma tendência na inclinação dos caules em
função do estilo musical escutado em cada câmara, como se pode observar na
figura abaixo:

Câmara I - Reação positiva: Ravi Shankar e Bach Câmara II - Reação negativa: Acid Rock
Diagrama da inclinação dos caules de plantas em ambiente sonorizado com música

A autora sugere que a inclinação que as plantas apresentaram nas extremidades, se


deve à reflexão sonora no fundo das câmaras de crescimento. Observou-se ainda
que ao fim de três semanas de experimentação, com uma execução diária de três
horas de música em cada uma das câmaras sonorizadas, as plantas sujeitas à

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10 A Importância da Música na Evolução do Espírito

música rock, tinham definhado por completo. As que estiveram sujeitas à música
barroca de Bach e à música indiana de Ravi Shankar tinham um desenvolvimento
acima do normal e de forma exuberante e as que estiveram privadas de música
apresentavam um desenvolvimento normal.

Podemos aferir desta forma que a música também afeta fisicamente o ser humano,
assim como afeta os seres vivos dos reinos inferiores da natureza, e que,
certamente, afetará espiritualmente através da energia que a sua mensagem em
forma de linguagem musical transmite, descodificada pela razão e pelo sentimento
humano.

À pergunta: “A música afeta o corpo físico do Homem?”- A pesquisa científica


moderna através de Podolsky (1946) afirma positivamente:
“É difícil encontrar uma única fração do corpo que não sofra a influência dos tons
musicais.”
As raízes dos nervos auditivos estão mais amplamente distribuídas e possuem
conexões mais extensas que as de quaisquer outros nervos do corpo. Mostrou a
investigação científica que a música influi na digestão, nas secreções internas, na
circulação, na nutrição e na respiração. Verificou-se que até as redes nervosas do
cérebro são sensíveis aos princípios harmónicos. O corpo é afetado de acordo com
a natureza da música, cujas vibrações incidem sobre ele.
Constatou-se que a tensão da laringe sofre influência com as vibrações produzidas
pelas melodias, contraindo-se, por exemplo, durante uma série descendente de
acordes. Como a laringe é sensivelmente influenciada pela corrente constante das
emoções e dos processos mentais do homem, suas reações à música talvez
indiquem o que é basicamente um efeito da música sobre o psiquismo humano.
Em 1963, Julius Portnoy, um famoso musicólogo americano, escreveu no seu livro
intitulado “Music In The Life Of Man”:
“… a música pode, positivamente, modificar o metabolismo, afetar a energia muscular,
elevar ou diminuir a pressão sanguínea e influir na digestão. E pode fazer todas essas
coisas com maior sucesso e de maneira mais agradável do que quaisquer outros
estimulantes capazes de produzir as mesmas alterações no nosso corpo.”

Em parte, o poderoso efeito produzido por ritmos diferentes sobre nós talvez seja
determinado pelo primeiro ritmo que ouvimos, ou seja, a pulsação cardíaca da

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nossa mãe, ouvida por nós continuamente no transcurso dos meses que passámos
no seu ventre.
Numa experiência dirigida em 1960 pelo psicólogo infantil norte-americano Dr.
Lee Salk, fez soar um disco com os batimentos cardíacos normais gravados para
um grupo de bebés recém-nascidos num berçário de um hospital americano. A
maioria acalmou-se e adormeceu. De seguida, o Dr. Salk fez ouvir a pulsação
cardíaca acelerada de uma pessoa excitada. As duas gravações foram reproduzidas
com a mesma intensidade, mas, quando ouviram a segunda, todos os bebés
despertaram, quase todos tensos e alguns chorando.
Desde o tempo mais remoto, pescadores, ceifeiros e outros trabalhadores têm
cantado em uníssono a fim de estimularem seus espíritos para obter o máximo
rendimento no trabalho. Pesquisadores científicos descobriram que a música
melodiosa, animada, ouvida nas fábricas com períodos intervalares de silêncio,
aumenta consideravelmente a produtividade.
Vemos, portanto, que a música afeta o corpo físico de duas maneiras distintas:
• Diretamente, como efeito das vibrações sonoras sobre as células e os
órgãos;
• Indiretamente, como efeito das características globais (ritmo, harmonia,
melodia, dinâmica, interpretação, etc.) do objeto sonoro que é a música,
agindo sobre as emoções, sobre os sentimentos e por seu turno
influenciando numerosos processos químicos do corpo físico.
É justo, deste modo, afirmarmos que quando um músico se apresenta perante uma
plateia para realizar um concerto ou uma audição, ele não está apenas a tocar o seu
instrumento musical, está também “a tocar” na mente e no coração da assistência,
influenciando positivamente ou negativamente, de acordo com as características
do objeto sonoro, da mensagem inerente, da performance musical e da sintonia
criada com o público.

“Lembremo-nos de que, além de acreditar que a música afeta o corpo, as emoções e o


espírito do homem, os antigos também afirmavam que o poder da música é objetivo e
não subjetivo, ou seja, que tipos diferentes de música são inerentemente bons ou
inerentemente maus; que certas combinações de notas musicais são intensificadoras da
vida e possuem uma natureza evolutiva, ao passo que outras se revelam malsãs e
perigosas.” Tame (1984:155)

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A Mú sica no Plano Espiritual

Ao refletirmos sobre as características que a arte musical poderá assumir no plano


espiritual, com o sincero propósito de nos esclarecermos e de compreendermos os
aspetos mais sublimes que a respetiva arte encerra, levantamos algumas questões,
para as quais iremos procurar as respostas dentro da Codificação Espírita e das
obras complementares. Temos por objetivo, a elevação do nosso entendimento a
respeito desta arte que nos emociona e que nos faz vibrar de forma tão
apaixonada:

1. Como será a música no plano espiritual?


2. Qual a importância que ela apresenta para a vivência dos espíritos nesse
plano?
3. Terá a música um papel relevante no mundo espiritual?
4. Terá alguma utilidade para os espíritos no seu processo evolutivo?
5. Qual a verdadeira função e qual o objetivo da arte musical para a
espiritualidade superior?

Como sabemos, as antigas civilizações já consideravam a arte musical como um


reflexo terreno da música cósmica universal, pois acreditavam que todos os corpos
celestes emitem sons musicais e que grandioso é o concerto dos astros e das
galáxias, inaudíveis aos ouvidos humanos mas absolutamente reais, registados por
exemplo, nos dois últimos séculos por obras publicadas à luz da Doutrina Espírita e
que relatam essas experiências através da fenomenologia mediúnica.

Ciente da influência que a arte musical exerce no espírito humano, o inteligente


codificador, na pergunta nº 251 do Livro dos Espíritos, questionou o mundo
espiritual sobre a sensibilidade que os espíritos têm à música, obtendo a seguinte
resposta:

“R: Aludes à música terrena? Que é ela comparado à música celeste? A esta harmonia de
que nada na Terra vos pode dar ideia? Uma está para a outra como o canto do selvagem
para uma doce melodia. Não obstante, espíritos vulgares podem experimentar certo
prazer em ouvir a vossa música, por lhes não ser dado ainda compreender outra mais

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13 A Importância da Música na Evolução do Espírito

sublime. A música possui infinitos encantos para os Espíritos, por terem eles muito
desenvolvidas as qualidades sensitivas. Refiro-me à música celeste, que é de tudo o que
de mais belo e delicado pode a imaginação espiritual conceber.” (o sublinhado é nosso).

Kardec (1857:163).

Podemos observar na resposta dada quatro aspetos fundamentais:

1. A música no plano espiritual é muito diferente da música terrena, sendo


sublime e comovedora;
2. No plano espiritual, apenas os espíritos vulgares sentem algum tipo de
prazer em escutar a música terrena;
3. As qualidades sensitivas estão muito desenvolvidas nos espíritos;
4. A música celeste é o que de mais belo e delicado a imaginação espiritual
pode conceber.

Verificamos que os espíritos são muito sensíveis à música e que ela assume um
papel de elevada importância ao ser considerada como “o que de mais belo e
delicado a imaginação espiritual pode conceber.” A beleza espiritual traduz um
conceito de estética divina, alcançada por inenarráveis labores íntimos, os quais
purificam o coração, alicerçados no desenvolvimento do conhecimento que se
traduz por sabedoria. A delicadeza sintetiza o sentimento do amor, que tudo vê
com natural ternura e sensibilidade e revela a elevada conceção de elegância
espiritualizada, bem como de harmonia com o universo. A beleza e a delicadeza
manifestam-se naturalmente pelo “amor a Deus acima de todas as coisas e ao
próximo como a si mesmo.”

A música celeste exalta as virtudes dos espíritos purificados, elevando-os a planos


de uma espiritualidade incompreensível para a linguagem humana mas que se
reveste de uma total harmonia universal e pura felicidade.

“A música terrestre, portanto, não é comparável à música do espaço. A primeira dá


uma satisfação da qual a vossa sensibilidade nervosa se aproveita; a segunda, que é de
essência divina, proporciona alegrias morais, sensações de bem-estar, êxtases tão
mais profundos quanto mais puro seja o recetáculo, isto é, o ser privado do envoltório
carnal.” Massenet in Denis (1994:110).
“A música é uma impressão especial que invade todo o nosso ser fluídico, mergulha-o
no êxtase, na beatitude, e faz com que ele experimente sensações de júbilo, de
quietude, de alegria…” O Esteta in Denis (1994:72).

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14 A Importância da Música na Evolução do Espírito

Podemos concluir que a arte musical tem certamente a sua importância espiritual
na medida em que exalta os valores inerentes do espírito, o qual foi criado por
Deus com o propósito de alcançar por mérito próprio a perfeição. A música tem a
capacidade de “tocar” as fibras mais íntimas da criatura e de a sensibilizar de uma
forma tão mais sútil e elevada consoante as conquistas alcançadas pelo espírito,
tendo um efeito de maior ressonância entre as vibrações da música e aquele que a
escuta. Tem também a função de despertar a própria sensibilidade para as noções
do belo divino, da harmonia universal e do sentimento de perene tranquilidade, o
qual é um campo fértil para o amadurecimento da própria personalidade.

“… a boa música, a música devocional, suave e doce, a clássica, a dos mestres, essa vai
buscar no recôndito das almas os germes do Bem e do Amor que lá se encontram, as
formas embrionárias dos bons sentimentos e no-los revelam…”
Imbassahy et al. (1944:34).

Deste modo, podemos constatar através da mediunidade de Francisco Cândido


Xavier (1940), na pergunta nº 168 do livro “O Consolador” ditado pelo espírito
Emmanuel, uma das funções da música no plano espiritual:

“168 – Os Espíritos desencarnados cuidam igualmente dos valores artísticos no plano


invisível para os homens?
R: Temos de convir que todas as expressões de arte na Terra representam traços de
espiritualidade, muitas vezes estranhos à vida do planeta (…) No Além, é com o seu
concurso que se reformam os sentimentos mais impiedosos, predispondo as entidades
infelizes às experiências expiatórias e purificadoras. E é crescendo nos seus domínios de
perfeição e de beleza que a alma envolve para Deus, enriquecendo-se nas suas sublimes
maravilhas.”

Léon Denis (1994) é perentório no papel que determina a sustentabilidade da arte


musical na prática espirita quando afirma que “A música (…) representa grande
papel na inspiração profética e religiosa. Ela dá o ritmo à emissão fluídica e facilita a
ação dos espíritos elevados. É por isso que ela tem seu lugar nas reuniões espíritas…”
Quando entregues à escuta musical mais nobre e elevada, aquela que direciona a
criatura para Deus e que a envolve num abraço de pura energia benfazeja, os
mentores espirituais aproveitam esses momentos para promoverem ações de
auxílio aos encarnados como aos desencarnados. A música é como uma porta do

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15 A Importância da Música na Evolução do Espírito

coração, a qual se abre sempre por dentro e permite que o Mestre Amado se
adentre e nos abençoe, nesses momentos de sincera comoção. É pois, este
sentimento sincero e emocionado, a chave da nossa alma, sintonizando-nos pela
vibração com as esferas mais elevadas e abrindo a porta da alma para a luz da
redenção, do êxtase perene, da eterna felicidade.
Constatamos deste modo, que é necessário despertar os valores artísticos do
espírito, procurando elevar o pensamento e sensibilizando o coração para a
compreensão da ideia do belo divino. Esse labor necessita de tempo e maturação
para desenvolver a justa conceituação desse ideal mais nobre, permitindo ao
espírito percecionar belezas inalcançáveis aos olhos humanos. Belezas descerradas
pela vivência íntima do mais puro sentimento do amor, o qual liberta as amarras
do orgulho e do egoísmo e cria um elo que une o espírito aos padrões mais
elevados do sentimento e desvela à razão, a compreensão de uma infinidade de
estados de alma. A perceção do sentimento do belo apura-se com o aprimoramento
do sentimento e da sabedoria. O coração sente e entrevê as belezas imortais para o
espírito. A razão compreende porque se esclarece.

“Dissemos que o objetivo essencial da arte é a procura e a realização da beleza; é, ao


mesmo tempo, a procura de Deus, pois que Deus é a fonte primeira e a realização
perfeita da beleza física e moral.
Quanto mais a inteligência se apura, se aperfeiçoa e se eleva, mais se impregna da ideia
do belo. O objetivo essencial da evolução, portanto, será a procura e a conquista da
beleza, a fim de realizá-la no ser e nas suas obras. Tal é a norma da alma na sua
ascensão infinita.”
Denis (1994:9)

Nesse trabalho íntimo de auto iluminação, o estudo e a desinteressada prática


fervorosa do bem, permitem ao espírito reencarnado, arregimentar-se de
conteúdos elevados que o auxiliarão mais tarde, na vida espiritual. Tal como nos
diz o espírito que se comunicou a Léon Denis sob o pseudónimo de “O Esteta”:

“… Vocês já podem, na Terra, prepararem-se para receber no além essas sensações,


afastando qualquer satisfação material ou sensual. Busquem as atrações artísticas, por
mais pobres que sejam; enriqueçam o pensamento, deem aos nervos alimento de cálidas
vibrações; encham o cérebro de sensações que se traduzem, nesse plano, por estudos

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analíticos de suas vidas terrestres. Tudo isso repercutirá um dia no espaço, em cêntuplo,
pois as vibrações armazenadas no ser carnal despertarão e chamarão, como uma lira de
mil cordas, todas as sensações atrativas que podem proporcionar os sentimentos mais
harmoniosos, mais elevados, que circulam nas correntes que emanam diretamente da
esfera divina.
É o apogeu da arte, uma infinita sensação artística…”
O Esteta in Denis (1994:73)

“Concluindo, a arte é para o ser humano o apelo do campo divino. Quanto mais um ser,
por sua vontade e seus atos aproxima-se de Deus, mais está apto a sentir os eflúvios e as
vibrações divinas. De acordo com a sua evolução, essas vibrações se traduzirão por
criações de virtudes, sendo a palavra virtude tomada em sentido bastante geral. Para
mim ela significa tudo o que é digno de ser amado. A arte é, portanto, um dos meios de se
sentir a grandeza de Deus. Devemos agradecer ao Criador por nos deixar sempre em
relação com Ele. Cabe a nós nos tornarmos cada vez mais dignos disso. É preciso venerar
e amarmos a arte, uma vez que através da imensidão é ela a mensageira da imortal
irradiação e do movimento divino universal.”
O Esteta in Denis (1994:77)

A Doutrina Espírita perante a Arte Musical Paulo Miguel Fregedo


17 A Importância da Música na Evolução do Espírito

O Contributo da Arte Musical para a


Evoluçã o do Espı́rito

Ao analisarmos a arte musical verificamos que existe no seu âmago uma força
energética capaz de transformar e alterar todos os estados de alma.
Vasto é o efeito da música sobre o corpo físico e espiritual. Sempre que estivermos
no campo audível da música, a sua influência atuará sobre nós, acelerando ou
retardando, regulando ou desregulando as batidas do coração; relaxando ou
irritando os nervos; influindo na pressão sanguínea; na digestão e no ritmo da
respiração; acabrunhando ou elevando o espírito a zonas de espiritualidade maior.
Podemos então afirmar que a música tem uma energia própria, que se manifesta
através das vibrações sonoras e que modela o ambiente espiritual com a harmonia
da qual é portadora.
A energia da música vive na sua harmonia, criada pelo compositor, fruto íntimo da
sua meditação e intuição. É um reflexo direto do sentimento do compositor e dos
seus laços com o plano espiritual. Quando este se deixa arrebatar pela magia dos
sons, busca no espaço cósmico, a fonte sublime de toda a criatividade, as melodias
e as harmonias da vida, transportando-as consigo de volta à Terra como foi
perscrutada no Espaço. Todos os matizes mais subtis e cristalinos perdem-se no
contato com a matéria densa. Os instrumentos que conhecemos e admiramos na
sua mais excelente qualidade, ficam muito aquém de produzir sons tão sublimes
como aqueles que se percecionam na suave dança das galáxias e das constelações,
no entanto, a ideia principal, a mensagem está presente, e essa, arrebata os
corações dos Homens e os faz comover. A música sublime ao ser interpretada,
liberta toda a sua energia para o espaço envolvente, impondo ordem ao
desordenado, tranquilidade à tempestade, paz à revolta, serenidade à confusão.
No plano espiritual, essas energias iluminam, permitindo uma maior aproximação
dos guias espirituais que nos poderão envolver e amparar, se nós nos deixarmos
enlevar pela suavidade dos sons e abrirmos o coração às energias envolventes.

A Doutrina Espírita perante a Arte Musical Paulo Miguel Fregedo


18 A Importância da Música na Evolução do Espírito

Encontramos então um princípio geral para a música Nobre e Elevada. No Espaço,


todos os movimentos são harmónicos, regidos pelas Leis Divinas que estabelecem
a eterna estabilidade, o eterno equilíbrio.
Na natureza, tais exemplos de estabilidade e equilíbrio são-nos dados
permanentemente, mostrando ao Homem que todas as coisas se integram na
Ordem Universal da Criação Divina, e que tem por base, a sua força motriz: o
Sentimento do Amor.
À medida que a sensibilidade se depura e se eleva no entendimento, na delicadeza
do ver e do sentir, no encontro íntimo do Homem com a sua realidade cósmica, os
valores internos crescem verticalmente buscando as luzes do aprimoramento que
levantam os véus mais densos da matéria, num transporte sublime da criatura
para os Páramos da Espiritualidade Superior, na qual, a vivência do amor
notabiliza-se com tonalidades tão diferentes, melodias que expressam por tónica
esse nobre sentimento, mas em que os acordes melodiosos nos envolvem e nos
fazem sentir a doçura da afabilidade, a ternura da sinceridade, a suavidade da paz,
sempre a harmonia e Lei do Amor que pela qual é regida.
Portanto, o princípio geral é o impulso energético da criatividade, que parte do
sentimento do Amor e é a sua visão da existência que nos oferece os mais belos
quadros do existir.

“A música é uma lei moral. Ela dá uma alma ao Universo, asas ao pensamento, um
impulso à imaginação, um encanto à tristeza, a alegria e a vida a todas as coisas. Ela é a
essência da ordem e eleva em direção a tudo o que é bom, justo e belo, de que ela é a
forma invisível, porém surpreendente, apaixonada, eterna.”
Platão in Denis (1994:106)

A Doutrina Espírita perante a Arte Musical Paulo Miguel Fregedo


19 A Importância da Música na Evolução do Espírito

O Compositor Espı́rita

Do compositor espírita, aguardamos pois, o nobre gesto de refletir sobre a forma


como desenvolve o seu trabalho, dado que nem tudo o que é musical é bom e a
linguagem que nós devemos procurar edificar no movimento espírita, será sempre
aquela que nos aproxime mais de Deus, tal como acabámos de analisar nos
conteúdos acima expostos.

É interessante verificar que a espiritualidade superior está neste momento a


identificar um conjunto de obras musicais, as quais são interpretadas no plano
espiritual por terem na sua génese, essa preocupação maior, a de religar o Homem
ao seu Criador através dos recursos, conhecimentos técnicos e artísticos que a
mais elevada conceção de arte musical nos pode dar na fase evolutiva em que nos
encontramos.

Todas as obras identificadas têm o cunho da verdadeira erudição e foram


compostas por espíritos eméritos que trabalharam nobremente nos períodos
barroco e clássico da história da música.

Na obra ditada pelo espírito de Manoel Philomeno de Miranda a Divaldo Pereira


Franco podemos encontrar as seguintes referências musicais:

“… o grupo coral infantil apresentou-se cantando o moteto Miserere, que se refere ao


salmo 51, também chamado da penitência, composto por Gregorio Allegri e numa
adaptação de Mozart, no séc. XVIII, que muito jovem ainda, ao ouvi-lo pela primeira vez,
memorizou-o e adaptou-o com ligeiras alterações. A bela música inicia-se com uma
súplica: Senhor, tende misericórdia de mim, e prossegue, comovedora, caracterizada
pelo arrependimento dos erros praticados e rica de certezas do divino amor…”.

“…suave musicalidade chegou-nos aos ouvidos, oriunda do santuário próximo onde se


ensaiavam as partituras da Missa em Si menor de Johann Sebastian Bach,
originalmente composta para orquestra, mas ali apresentada em órgão magistralmente
dedilhado com o coral infantil de nossa comunidade (…) Experimentámos a sensação de
que, naquele momento os Céus comunicavam-se com a nossa colónia…”.

A Doutrina Espírita perante a Arte Musical Paulo Miguel Fregedo


20 A Importância da Música na Evolução do Espírito

Em Maio de 1858 foi publicada na Revista Espírita uma entrevista realizada ao


espírito de Mozart, na qual ele identifica uma das suas mais conceituadas obras
corais e informa que a recebeu inspirado por um grande compositor do período
barroco:

“25. Por que a Ave … (Ave Verum Corpus) me comove até às lágrimas?

R: Teu Espírito se desprende e junta-se ao meu e ao de Pergolesi, que me inspirou essa


obra…”.

Ao escutarmos as obras supracitadas, sentimos verdadeiramente a grandiosidade


que a arte musical pode desvendar ao espírito humano. Sentimos nas fibras mais
íntimas da nossa alma, essa doce união com os planos espirituais superiores, pois a
energia dos sentimentos de louvor a Deus, de misericórdia, de piedade, de
abnegação, de caridade envolvem-nos de uma forma tão penetrante no nosso
espírito, o qual se eleva em pensamento e vibra emocionado com a energia do
amor universal, libertada pelas vibrações harmónicas desses sons suaves e
profundos.

A espiritualidade superior está-nos a mostrar um caminho musical que nos conduz


com segurança na busca dessa influência positiva que desejamos que a arte
musical realize também ao serviço da Doutrina Espírita.

O apelo do espírito de Rossini presente no livro “Obras Póstumas” do emérito


codificador, encontra eco na nossa alma, a qual vibra em ressonância, por
querermos participar, apesar das parcas possibilidades, nesse concerto celeste que
reúne constelações e galáxias, num hino perene de louvor a Deus:

“Oh! sim, o Espiritismo terá influência sobre a música! Como poderia não ser assim? Seu
advento transformará a arte, depurando-a. Sua origem é divina, sua força o levará a
toda parte onde haja homens para amar, para elevar-se e para compreender. Ele se
tornará o ideal e o objetivo dos artistas. Pintores, escultores, compositores, poetas irão
buscar nele suas inspirações e ele lhas fornecerá, porque é rico, é inesgotável.”

Rossini in Kardec (1987:185)

Compreendemos a importância do seu apelo, mas temos de ter a consciência de


que a arte musical para poder servir convenientemente à Doutrina Espírita

A Doutrina Espírita perante a Arte Musical Paulo Miguel Fregedo


21 A Importância da Música na Evolução do Espírito

necessita de ser estudada, trabalhada, compreendida. Não basta sermos espíritas


para realizarmos música espírita. É essencial trilhar um caminho árduo do domínio
do espírito sobre a matéria. A imagem do músico que estuda todos os dias a sua
arte, desenvolvendo habilidades técnicas para aperfeiçoar o seu fraseado musical
no seu instrumento, elucida bem esta ideia. Mas ao músico espírita é-lhe pedido
muito mais. Não basta saber tocar muito bem. É necessário saber sensibilizar os
corações carentes de harmonia e para isso é necessário trabalharmos também a
nossa alma, aprimorando-a nos caminhos do Amor mais puro. Aquele que nos
afasta do mundo e nos aproxima de Jesus, de uma forma segura e por vezes cheia
de muitas dores e de muitas lágrimas, bem como do sentimento de soledade em
relação ao mundo que nos rodeia. No entanto, hoje como espíritas, sabemos que
estamos sendo sempre amparados por aqueles que nos amam profundamente no
mundo espiritual e que apostam no nosso progresso, auxiliando-nos
permanentemente para que tenhamos a fé e a coragem de vencermos os nossos
“adamastores” internos para que cumpramos nossos compromissos espirituais.
Para tal acontecer, é necessário refletirmos constantemente sobre a nossa conduta
e a nossa postura na vida, aprendendo sempre a conhecermo-nos melhor, como
apelava Sócrates, o grande filósofo da Grécia antiga. Temos de compreender que o
trabalho musical a ser desenvolvido em prol do Espiritismo pertence à seara de
Jesus, logo, nós somos apenas alegres colaboradores por nela podermos trabalhar
e isso é o suficiente para sermos muito felizes!

A linguagem musical a ser usada também não pode vir de fora do Espiritismo. Tem
de nascer dentro da Doutrina Espírita, pois ela é tão imensamente rica e
inesgotável que basta arregaçar as mangas e começar a trabalhar, entregando a
nossa alma a Deus e confiando no seu amparo para o empreendimento desta
tarefa, como em qualquer outra.

Temos de analisar todo o nosso trabalho passando-o pelo crivo da razão, tal como
nos aconselhou Allan Kardec, relativamente a todas as ideias que sejam
apresentadas no seio do Espiritismo. Como Paulo de Tarso afirmava “Tudo
podemos mas nem tudo nos convém”. A música não é constituída apenas por notas
musicais, ela é energia! Temos de ter a consciência para compreendermos isto.
Nosso trabalho deverá alcançar o coração humano e alçá-lo a Deus, permitindo a

A Doutrina Espírita perante a Arte Musical Paulo Miguel Fregedo


22 A Importância da Música na Evolução do Espírito

todos aqueles que o escutem, a possibilidade de sentir essas doces e delicadas


vibrações do sentimento do amor e para que isso seja possível temos de amar.
Aliás, temos de amar muito, ligando nossos corações ao plano espiritual, realizando
a parte que nos compete e tocando de forma indelével o coração humano. Desta
forma, cantaremos unidos aos coros celestiais, descerrando o reino os céus, por
momentos, aos espíritos angustiados e sofridos que anseiam por uma consolação
perene, inundando-os de Esperança, iluminando a sua Fé e mostrando-lhes um
sentimento de Amor jamais compreendido na Terra mas que é a harmonia de todo
o Universo.

“Cultura e santificação representam forças inseparáveis da glória espiritual. A


sabedoria e o amor são as duas asas dos anjos que alcançaram o Trono Divino, mas,
em toda parte, quem ama segue à frente daquele que simplesmente sabe.”
Jesus in Lúcio (1994:49)

“Aquele que pode ser, com razão, qualificado de espírita verdadeiro e sincero, se acha em
grau superior de adiantamento moral. O Espírito, que nele domina de modo mais
completo a matéria, dá-lhe uma perceção mais clara do futuro; os princípios da
Doutrina lhe fazem vibrar fibras que nos outros se conservam inertes. Em suma: é tocado
no coração, pelo que inabalável se lhe torna a fé. Um é qual músico que alguns acordes
bastam para comover, ao passo que outro apenas ouve sons. Reconhece-se o
verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas inclinações más.
Enquanto um se contenta com o seu horizonte limitado, outro, que apreende alguma
coisa de melhor, se esforça por desligar-se dele e sempre o consegue, se tem firme a
vontade.” (o sublinhado e o destacado são nossos).
Kardec (1992:276)

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23 A Importância da Música na Evolução do Espírito

Alguns requisitos para o trabalho composicional

• Intencionalidade da composição musical


- Quais os objetivos a que se propõem o compositor na sua realização
musical?
- Qual a sua real intenção na mensagem musical que procura veicular?
- De que modo concretiza a sua intenção na ideia musical que apresenta?

• Organização do material sonoro (qual o critério na seleção?)


- A escolha da tonalidade;
- A organização dos intervalos melódicos e harmónicos;
- A organização do ritmo melódico e harmónico;
- A organização dos sons da harmonia (quais os sons?);
- A sequência dos acordes e respetivas cadências;
- A escolha tímbrica;
- O andamento;
- A dinâmica musical;
- A forma musical.

• A coerência interna entre a intenção musical e o objeto sonoro


Relação estabelecida entre a música composta e a intenção musical,
formando no seu conjunto, a mensagem veiculada.

• A interpretação musical
A capacidade técnica e artística do intérprete em concretizar musicalmente
a ideia musical do compositor.

“… O artista verdadeiro é sempre o “médium” das belezas eternas e o seu trabalho, em


todos os tempos, foi tanger as cordas mais vibráteis do sentimento humano, alçando-o
da Terra para o Infinito e abrindo, em todos os caminhos a ânsia dos corações para Deus
nas suas manifestações supremas de Beleza, de Sabedoria, de Paz e de Amor…”
Emmanuel (1988:100)

A Doutrina Espírita perante a Arte Musical Paulo Miguel Fregedo


24 A Importância da Música na Evolução do Espírito

Conclusã o

Podemos concluir que desde as primevas eras, o homem busca na arte musical
uma íntima ligação com a divindade e entende nessa arte uma representação do
ideal divino. A arte musical para as civilizações da antiguidade permite uma
profunda comunhão sagrada com os planos superiores da existência,
possibilitando trilhar uma senda de autoaperfeiçoamento, de iluminação interior,
tendo como objetivo central, o encontro do homem consigo mesmo e com o seu
Criador.
Hoje, como espíritas, compreendemos que a arte musical influencia o homem, quer
fisicamente, quer espiritualmente. A ciência o comprova. Devemos compreender
que apenas a música mais elevada, a música sagrada, a música devocional deverá
ser utilizada em benefício das nossas atividades espirituais.
Se queremos trabalhar nessa área, é fundamental adestrar o espírito, é essencial
estudar essa arte, assimilá-la e munirmo-nos dos recursos que nos proporcionem a
capacidade de nos comunicarmos musicalmente com destreza.

“O Espiritismo vem abrir para a arte novas perspetivas, horizontes sem limites. A
comunicação que ele estabelece entre os mundos visível e invisível, as indicações
fornecidas sobre as condições da vida no Além, a revelação que ele nos traz das leis de
harmonia e de beleza que regem o Universo vêm oferecer aos nossos pensadores, aos
nossos artistas, motivos inesgotáveis de inspiração.”
Denis (1994:7)

A música espírita não tem apenas um caminho, terá certamente infinitos, desde
que os objetivos sejam os de servir a Jesus com honestidade, amando o próximo
como a si mesmo, para que em cada realização musical possa acontecer o encontro
do Homem com ele próprio, com a sua realidade cósmica, enlaçando-o ao coração
do Mestre Amado e alçando-o às virtudes mais nobres que o Amor mais puro pode
proporcionar. Para isto é necessário amar incondicionalmente e trabalhar
ininterruptamente pelo próprio progresso espiritual.

A Doutrina Espírita perante a Arte Musical Paulo Miguel Fregedo


25 A Importância da Música na Evolução do Espírito

“Deixa que as águas vivas e invisíveis do Amor, que procedem de Deus, Nosso Pai,
atravessem o teu coração, em favor do círculo de luta em que vives; o Amor é a força
divina que engrandece a vida e confere poder.
Façamos, sobretudo, o melhor que pudermos, na felicidade e na elevação de todos os que
nos cercam, não somente aqui, mas em qualquer parte, não apenas hoje, mas sempre.”
Jesus in Lúcio (1994:133)

Música espírita é uma suave vibração de amor, onde a beleza e a virtude


entreveem a felicidade sublime, num sentimento que se advinha eterno no regaço
de Deus.

A Doutrina Espírita perante a Arte Musical Paulo Miguel Fregedo


26 A Importância da Música na Evolução do Espírito

Bibliografia

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Emmanuel e Xavier, Francisco. O Consolador. Rio de Janeiro: FEB, 1988.

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Kardec, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 1992.

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Podolsky, Edward. Music for Your Health. New York: Bernard Ackerman, 1946.

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A Doutrina Espírita perante a Arte Musical Paulo Miguel Fregedo

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