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A Liberdade Religiosa nas Constituicdes Brasileiras (Estudo filosdfico-juridico comparado) Pe, Jost Scametnt, SDB Diretor da Faculdade de Direito e Campo Grande (Mato Grosso) PONTIFICIA UNIVERSITAS LATERANENSIS FACULTAS PHILOSOPHIAE Tese de Laurea PRIMEIRA PARTE SEGAO GNICA A Liberdade Religiosa no Brasil Império INTRODUGAO. 4} Antecedentes histéricos 2) A Igreja no Brasil 3) A Igreja no Império CAP. I: ANALISE FILOSOFIGO-JURIDICA DA CONSTITUIGAO DE 1824 1) Religigo do Estado 2) Tolerancia religiosa dos outros cultos 3) Atribuigdes do Poder Executive em relagéo ao Poder Espiritual 1 — Protegao religiosa Il — Nomeagao dos bispos e provimento dos beneficios Ml — © beneplacite régio Iv — 0 recurse & Coroa 76 REVISTA DE INFORMACAO LEGISLATIVA 4) Qutras prescrigées legais | — 0 principiv ex Informata conscientia Il — A extingao das ordens religiosas 2) A admissao dos novicos b) Os bens eclesidsticos Il — O casamento na legisiagao imperial tv — 0 ensino religioso V — A liberdade dos funerais e a secularizagéo dos cemitérios CAP. Ik CONSEQUENCIAS PRATICAS. 1) QO cisma de Feijd e o art. 102, § 2%, da Constituigao 2) A questo religiosa e o art. 102, § 14, da Constitui¢ao A) OD. Vital Maria de Gongalves de Oliveira B) D. Anténio Macedo Costa CAP, Ill: CONSEQUENCIAS FILOSOFICAS 1) As antinomias do art. 5° da Constituigao 2) A inconstitucionalidade do art. 102 3) A incompeténcia do Poder Civit am matéria religiosa 4) A ilegitimidade do recurso & Coroa §) Restrigées & organizagéo eclesidstica 6) Restrigdes A liberdade religiosa PRIMEIRA PARTE A Liberdade Religiosa no império (1822—1888) INTRODUCAO 1) Antecedentes histéricos © Estado antigo, como o Estado medieval, foi tado moldado pelos sentimentos religiosos: o primeiro, por sentimentos pagaos, e o segundo, por sentimentos cristaos. As normas juridicas em sua quase totalidade eram religiosas. (:) O Gristianismo que dominou toda a idade Média, ndo apenas como religiéo, mas também como politica (@), ndo fez mais que substituir o culto pag&o, politeista, pelo cristéo, monoteista. Se na antigiidade os direitos politicos eram assegurados aqueles que adoravam os deuses tutelares das respectivas cidades, estes na Idade Médla constituiam pri- vilégios dos cristaos; aos pagaos, aos barbaros, sé se garantiam, quando muito, os direitos civis. © Santo Império Romano—Germano, cujas basss Carlos Magno assentou no século IX e que Otao, o Grande. consolidou no século X, é uma prova incontestavel de quanto influla a religiéo na politica. #2) FUSTEL DE COULANGES, La elf anuigus, Hachette, 1923. pag. 225. (@ NIGOLAS BERDIAEF, Un nouwaeu moyen age, Sriges. Deaciés ce Brouwer, lg. 55. JANEIRO A MARGO ~~ 1974 7 Os papas nomeavam e demitiam imperadores, erguiam e derrubavam impérios. Dominando apenas uma religiéo no mundo ocidental, a catélica, apostélica, romana, néo havia como cogitar em “Liberdade Religiose”. A Reforma que irrompeu no século XVI, com Lutero (Alemanha}, Erasmo (Holanda), Calvino (Franga), Zwinglio (Suiga) e Knox (Escécia), dividindo a cristandade, criou o problema da “Intolerancia Religiosa”, que derramou rios de sangue durante mais de dols sécuios e meio (15171789). © “Cisma do Oriente” (1093), do qual surgiu a Igreja Ortodoxa Grega, 80 “Cisma do Ocidente” (1450), com duplo Papado, o de Roma a o de Avinhdo, néo abalaram o exclusivismo religioso; nem sequer 9 advento da Igreja Angiicana (1534) e mais tarde o da Igreja Ortodoxa Russa con- seguiram infirmar tal oxclusivisme (1537) Palses catdlicos, como a Htalia, a Franga e a Espanha, protegiam seus fiéis, tanto quanto perseguiam, até queimarem vivos os infiéis (as fogueiras da Santa inquisigdo} ou massacrarem-nos {a Noite de Sdo Bartolomeu, de 1572). (*} Outros, protestantes, como a Alemanha, a Inglaterra, a Suécia e a Dinamarea, néo agiam de modo diverso; que se rememorem a Guerra dos Trinta Anos (1618-~1648) @ outros massacres. Toda a Idade Moderna (do século XV ao século XVIII} padeceu do mal da intolerancia, pois era crime de lesa-religiéo a “liberdade do crenga”; que faiem Savanarola, Giordano Bruno, Campanella. Foi a Revolugdo Americana informada pelo racionalismo anglo-fran- cés (Locke, Montesquieu, D’Alembert, Diderot e Rousseau), que procia- mou, pela primeira vez, em texto de lei, a “Liberdade Religiosa”. £ o que se 1é na Declaragao de Virginia, de 12 de junho de 1776: “. todos os. homens tém igual direito ao livre exercicio da religiio, segundo os ditamas da consciéneia” (art. 16). Texto semelhante incluiram logo as Constituig6es escritas que the seguiram: a de Nova Jersey, de 2-7-1776 (art. 18), a de Maryland, de 14-8-1776 (art. 33), @ a de Carolina do Norte, de 18-42-1776 (art. 19). A primeira emenda da Constituigao Federal norte-americana em 1791 reproduziu o principio: “Gongress shall make no law respecting an establishment of religion, or prohibiting the free exercise thereof”. (+) Eram os principios fundamentais da liberdade religiosa: a separagao da Igreja do Estado e o livre exercicia de qualquer religido. A Franga, na primeira Declaragao de Direitos {agosto de 1789}, incor- porou ao texto o salutar principio: “Nul ne doit étre inquiéte pour ses opinions méme religieuses, pourvu que leur manifestation ne trouble pas (2) PAULINO JACQUES, Gurse de Direte Genatitucional, Rio, 967, 94g. 719 ) EADQUED. o-tuy pg. 220, 78 REVISTA DE INFORMACAO LEGISLATIVA Yordre public etabli par la loi” (art. 10). (°) As outras Declaragdes 8 Cons- tituigSes que se seguiram a norte-americana de 1791 reproduziram 2 norma a¢ima cltada. A Convengao Nacional de 1795 foi mais além, porque votou a “'Se- paragdo das Igrejas e do Estado”. Napoledo, em 1802, assinou uma Con- cordata com Pio Vil, pela qual a Igreja Catélica se tornava a “Igreja oficial do Estado”, cabenda, por isso, ao 1? Cénsul nomear os bispos ¢ arcebis- pos. No ano seguinte, semethante acordo firmou com a Igreja Protestante ¢@ Israelita, tiel & sua politica de confraternizagaéo nacional, visando a ascensdo ao trono. (*} A Carta de 1814 (arts. 5° e 6) manteve esse regime bifronte. Sob ele viveu a Franga até 1905, quando tornou a votar a “Separag¢o das igrejas e do Estado”, vigente até hoje. Esse regime de fiberdade religiosa, com a oficializagéo da Igreja Catélica, adotou a italia em 1947 {*), enquanto a Alemanha, na Constitui- go da Prussia de 1950 (art. 2°), consagrou a formula de Frederico, o Grande: “Em meu reino, cada um se salva & sua maneira”. {*) A Consti- tuigéo Imperial alema era omissa. A Inglaterra manteve o regime multissecular de religido oficial — a Anglicana, embora assegure hoje a liberdade religiosa. (*) Examinando as Constituigdes que vigoram em todo mundo, nos vérios continentes, resulta que, em quase todas as comunidades politicas, a todo cidad&o & reconhecido o direito de professar livremente @ propria religiéo; isto 6, a cada cidaddo @ assegurado pela Constituigao aquilo que hoje costuma ser chamado “liberdade religiosa™. (?°} 2) A lgreja no Brasit Na historia nacional sera insolivel qualquer tentativa de separagao da Igreja da vida brasileira. Escreveu D. Vital; “Nao h& questéo tdo me- lindrosa ¢ intrincada como esta das relagdes que existem entre a Igreja @ © Estado. Nela nao se pode tocar sem que ao mesmo tempo se ressintam todas as fibras do corpo social”. (4) Nascemos sob as bén¢dos da Igreja, iniciamos a colonizagao com o seu auxilio extraordinario; contamos nos primeiros reveses com o seu incomparaéve} socorro; obtivemos com seu decidido apoio as maiores (8) THEMISTOCLES BRANOXO CAVALCANTI, A Gonstlivighs Federal Comentads, Ric, 1956, Vol. 9, pig. BY. (6) NEZARD, Elements Ga Drolt Public, pg. 45. Clr. JACQUES, 0105 pig. 220. Gonmtulyky us 27 do deere. do Cattolica sono, stascune not Broprlo. erdine, imente beta ‘evar “quanto on BAvaNe Cider Religions «© Publct Poteds Milena, 065, p4a. (8) BLUNTSCHL! &, K. Polltiqua, pag. 199; Ctr. JACQUES, 0.€., p89. 220. (®) PHRUPS P., Constitutional tama, ply. 450; Cir, tbidem, pap. 220. (20) PAVAN, 0.6., pag. 185. (11) 9. VITAL DE OLIVEIRA, O Blepe, de Otinds @ seus acueatores no tural do, bom séns0, cltedo por 3610, . © Padreade Brantiira, Sho Paulo, 1998, praftelo, JANEIRO A MARGO — 1974 9 vitérias, e conseguimos com as suas luzes a civilizagao de que j4 nos pudemos ufanar. (2) Basta lembrar a trajetoria da Igreja em terras de Santa Cruz desde © importante ato da celebragdo da Primeira Missa. Naqueles tempos remotos dos primeiros séculos da Histéria do Brasil, num periodo que felizmente até nossos dias estd intacta, a fé manteve, juntamente com a lingua, a solidez dessa obra ciclépica da organizagdo de um povo e da formag¢do de uma nacionalidade. “De que outra fonte — pergunta Julio Maria — a nao ser a cristan- dade organizada com os labores, 0 suor e 0 sangue do missionério, po- deria sair a jovem nagdo, cuja gestagdo nacional foi produto fecundo das idéias e dos sentimentos cristaos que o claustro, o pulpito, as ordens Teligiosas e a tribuna sagrada, o clero regular e secular, com suas aulas, seus discursos, seus escritos, davam aos brasileiros?” (3) Quando as aspiragées da independéncia comecaram a alentar a alma dos nossos antepassados, jA o Brasil era catdlico; tie catdlico que a Constituigao Politica de 1824, 0 Pacto Fundamental do Império, nao fez senao reconhecer esse fate, prescrevendo no artigo 59: “A religiéo caté= lica, apostélica, romana, continuaré a ser a religiéo do Império”. 3) A Igreja no império Fundado 0 Império com a proclamagao da Independéncia a 7 de setembro de 1822, seguiram seus governantes rumo bem diverso do que se observara ne periods colonial. A aurora da independéncia politica assinalou o inicio de uma grande restrigdo da liberdade para a Igreja, que dia a dia se acentuou e posterior- mente aloangou 0 auge no ultimo quartel do século XIX, quando o Cate- licismo, de religiao oficial, se torou uma vitima sob os tentaculos morti- feros do regalismo. Deu-se de inicio entre o poder civil ¢ 9 poder eclesidstico uma perfeita antitese. Enquanto este procurava firmar-se sobre os alicerces da legislagaéo canénica, aquele tudo fazia para arranca-lo de tao sdlida base, procurando seduzi-lo, enfraquecé-lo, domina-lo e escravizé-lo. No periodo decorrido entre 1824 e 1889, nao houve no Brasil um $6 governo verdadeiramente catélico, e a legislagéo surgida entre a sepa- ragéo de Portugal e a queda do trono imperial ndo passa de uma série prograssiva de atantados contra a Igraja e seus ministros. Para o pesquisador imparcial da historia brasileira ¢ incrivel a tegis- lag&o imperial com seus alvaras, consultas, resolugées, avisos e regula- (02) Padre MANOEL BARBOSA, A Igreja no Brasil, Rio de Janeiro, 1945, pp. 275. (13) JOLIO MARIA, Maméria sobre @ retlglle no Brasil, pfg. 64; Cir, BARBOSA, o.c., pg. 275. ao REVISTA DE INFORMAGAO LEGISLATIVA mentos em cujas malhas 0 governo trazia presa e manietada a Igreja a que estava Unido. (1) “Q regalismo invadiu tudo, apoderou-se de iudo, de tudo serviu- s@, leis, codigos, ministérios, camaras, assembiéias, para manie- tar a Igreja”. 0°) © império surgiu apoiado nas escravidées da Igreja e da raga nagra @ se desmoronou quando se tornara impossivel manté-las sob 0 mesmo jugo e com o mais absoluta predominio. A politica do governo imperial transparece nas Instrugées dadas ao Monsenhor Francisco Corréa Vidigal, ministro extraordinaério do Governo Imperial enviado a Roma “para obter da Santa Sé uma concordata, am virtude da qual continuassem no chefa do império os antigos diraitos de que em relagdo 4 Igreja s6 achavam de posse os soberanos de Portu- gal”. (') Um ilustre parlamentar da época ofereceu primorosa sintese a Tes- peito da situagado da Igreja. (*7) Mais adiante analisaremos a luta que se travou entre a igreja e o Império por causa do prepotente regalismo acima acenado. “A repercussdéo desse choque — como afirma Batista Pereira — embora ndo o sentissem os dirigentes da época, fazia estremecer os ali- cerces do proprio trono. © Império, por sua natureza, devia ter na retigiao o seu sustentéculo. Abalé-la era abalar-se, Discutir-Ihe 2 legitimidade, era por em choque a propria. Desde esse momento, os espiritos mais sagazes da monarquia comegaram a vé-la como uma nau desarvorada no escuro, correndo vento em popa para o esporao dos recifes onde teria de naufragar”, (**) Nesse Interim, surgiu um fato novo. Enquanto 0 Govern Imperial se descurava das graves consequéncias de sua prapoténcia, os republicanos perceberam logo a oportunidade que Ihes oferecia aquele conflito religioso, isolando @ dinastia da igreja, que era o maior baluarte da monarquia. 278, + pha. 87. 1 pAQ, 87: Meson ‘nstructos o Govemo, “iembranda quanto a Sanie St goste ia. juisdlgho, racomendava. multe dlact'¢Bo © rien no inperadot coma Soberand (14) BARBOSA, (35) JOLIO MARIA, 18) Cir. J6LIO MARIA, 2 noe negocios on Estados, om mate eolsea que altos exexcldos até entho pelos tela de Portugal, ‘dieliou lagltinos dow biepon, hablo ariliciak. idispensne, quando o carto que oa blspoe do que ‘ao dave tar male Guo an provrogativan nocassa etme ado igus fine ke conervagde da uridede da igraia; omvantdnc de ho ‘arg aloe cavanisay) do caratar doa’ cone (17) LEANDRO GEZERRA MONTEIRO, Dlacurao pro‘erido na de 4 de setembro de 1874 (Car ‘doa DepUiados), Ho do vanslro, 1874, pag, 10; "Nao # qusello de opag o sim de principio. Se cam toda libordade "0 rabina dos Judeus a os minlatros dos Wtorancs, calvinistes © enalicacca, mesmo ‘entra née, repulaizem 8 dirigom ‘ol eulto, por Que Bo NA Go tor'n masta time facvidade © paalor Enilco? ‘Ger mado que araim”o prvidgia dn roman ralil8s, om tar do Eaado, omnes porque dé prewnzio so Govero rea come emprogados, cabulxe do. ava. jurladigdo, euay cvdone (18) GARBOSA. ©. + BAG. 282, JANEIRO A MARGO — 1974 Br CAPITULO PRIMEIRO ANALISE FILOSGFICO-JURIDIGA DA CONSTITUIGAO DE 1824 O que preceitua a Constituigéo de 1824 sobre a liberdade religiosa? Quais sao as normas constitucionais que orientaram a politica do governo durante © Império? Reuniremos nesse capitulo os principios constitucionais a esse res- peito para analis&-los a luz da filosofia perene. A Constituigéo do Império fol outorgada a 25 de marco de 1824 por D. Pedro |, apés dissolver por decreto, de 12 de novembro do ano anterior, a Assembiéia Constituinte que ele proprio convocara, como resultante da proclamagéo da Independéncia, a 7 de setembro de 1822. Para elaborar o novo texto, o Imperador instituiu um Conselho de Estado composto de dez membros, escolhidos entre as expressées poli- ticas e intelectuais mais destacadas do Império. Goube a Carneiro de Campos, Marqués de Caravelas, de todos o melhor jurista, a parte mais importante na elaboracao do projeto, Modelo de bom senso e sabedoria, inspirado nas fontes do parlamentarismo eu- ropeu, a Constituigado de 1824 foi uma grande lei, Foi sem duvida obra nytavel para a sua época (). 1) A Religiéo do Estado Em seu Preaémbulo, a Constituigaéo encerra a invocagdo da Santissima Trindade e a expressdo “por graga de Deus" (2). Tal expressdo pode ser interpretada como o reconhecimento de que © Criador da ordem religiosa 6 6 mesmo Criador da ordem temporal, é o mesmo tegislador supremo. Deus deu a sociadade politica o direita e o dever de existir, de conservar a ordem publica e de nao consentir que ela soja perturbada. No artigo 5° firma-se © principio constitucional da religiéo do Es- tado (9). Procedendo deste principio, a Constituigdo declara que a teligiao catélica apostélica romana € e continuaré a ser a religiéo do Estado, porque ela é a religido, sendo de todos, pelo menos da quase totalidade (1) PAULO GARASATE. A Constitulg#o do Brasil a0 alcance de todos, Rio, 1967, pig. 14, 12) Predmbulo da Gonsiituigéo: “‘Oom Pedro Primelre, vor grag: Iimperador “Constilucional 6 Celgnea” Parpehuy. do” Brasilt , uo londe-nos requerico 08 povos deste Império, juntos em. cAmaras, que nds. quanto mos ¢ fizésaomns Juvar © projeto da Consituighs, que haviamos olerecido. te suaa obSorvaG0eS Congiiivinie, mastrande 6 grande dosefo que. enna hes morocer @ mals plana Observacao, ‘ ‘dante fica eenda, dose Inpero. "961, pag. 3. Feligldo catslioa, apostolies, romana, continuark » ser a religibio do Impéri () Anigo 5: “4 82 REVISTA DE INFORMAGAO LEGISLATIVA dos brasileiros. Assim o culto catélico interna como externa constitui um dos direitos fundamentals dos brasileiros. A teligido catdlica 6, pois, a religiao oficial e nacional, especialmente protegida. © Imperador, antes de aclamado, jura manté-la (‘). O juramento de manter a religiao catélica, apostélica, romana 6 também prestado pelo herdeiro presuntivo ao completar a idade de catorze anos (5). O mesmo juramento é exigido do Regente e da Regéne'a (%), e do Conselho do Estado {7}. A condigao de professar a religiéo do Estado para ser elaito depu~ tado (8) é fundada em raz6es politicas atendivels: uma maioria de depu- tados que professasse outra religido pelo menos desejaria a reforma do artigo 5° da Constituigao. Com relago ao senador, qualquer cidadao brasileiro, mesmo natu- ralizado ou que professasse qualquer religiao diversa da do Estado, podia ser apresentado 4 Coroa na lista triplice, uma vez que a lei nao exigia estas duas condigées. E sem divida o modo mais liberal de compor um Senado em uma Constituigao mondrquica. Em se tratando de deputados e senadores e, portanto, de eleigdes, havia um dispositivo constitucional que excluia os religiosos e membros de comunidades claustrais de votar nas assembléias paroqulais (*). Estas excegdes, no dizer dos comentaristas da época, teriam fun- damento em razées de ordem geral, sendo, pois, preciso encontrar no votante as condigdes de responsabilidade consciente de seu voto. Com efelto, estando os religiosos subordinados disciplinarmenie de acordo com as respectivas organizagées, nao teriam a liberdade de agdo que se requer para 0 exercicio do voto (16). © juramento exigido do Regente, da Regéncia e do Conselho de Estado, de manter a religido catdlica, apostélica, romana, era téo impor- 48 Artige, 108: "0. trapevad A» Presidente do S Taunides ab duse Comaras “aposttlice, ro 2 negridade, a. Ind visiblrea ied Poll Genta om mie, eauber presterk nas mos do fo seguinie juramento: Jur manter 2 roliglaa ‘ppostolica, romana, sbseivar a Gonstituigse politica aa Mugao brasileira 9 ser obsdiente Gs inparador”| lige 127. Tanto @ Ragente como s Regincla prestaraa o juramanto menclonsso no artigo. 163. ‘actasceniendo a clévsvia Ge Tdeildade ao. Mmpereior, Ge ihe enlrepar © governe Ings que ele chagve @ meloridede, ov opsear o geu Impeaimont, U7} Amiga 141. "Os Consolheiraa ce Estado. antes do tomarom posse, srestarde iuamento nos ma Iimperador de manter a tatgiio eatslien, apoetél’es, romana, obsrver 0 Conetiigde ete Tel scr ible wo, iouerader, weguuetinetg, sugumd aowy comeiein ina, mrdemy sunnontg ar Uen ay RayBor Gin tamtem'e emtiga © da Lei me 234, da 20 de navembio de 1841; querdo @ cilado de nave O Gahssina do Estado. {8) Arlige 5. “Todos os que podem sor aloltores ao RAbUis pars seror nomesdos depuiedos, Exce- Wameeo: 1 — os qua nko tiverwm 4005 Tigelda na forme dos etigos 82 0 94; 2 — cs es- Uangeltor naturazados; 3 — os que nds professam a reiigilo do Estado. (8) artigo 92. “So exeWvidan do volar nas sesemblélas psroquiate: & 4. — Op retlgiosoe @ cualequer Goo sivar m comunidace etnastral.” (90) RODRIGO OCTAVIO @ PAULO D. VIANNA, Elementoe de Direite Ps 28 Ed. Rov, Alo, 1879, pags. $8 6 60, @ (0 JANEIRO A MARCO — 1974 as tante que, no dizer da lei de 15 de outubro de 1827 (12), eram severamente punidos os qua tentassem a sua destruigéo (), 2) Tolerancia religlosa dos outros cultos A religido, o dever sagrado de prestar culto, de adorar o onipotente senhor do universo 0 primeito e mais justo de todos os deveres, é a jel suprema da criatura inteligente; 6 o seu humilde tributo ao Criador. Esse é 0 principio primordial de toda justiga, o primeiro fundamenta de toda a moral e também a base de toda virtude social. A observancia desse dever e 0 desenvolvimento desse principio, mais ou menos aparente, constilui o culto interno e externo. culto interno, ou seja a #, 0 amor, a adoragao espiritual, 6 uma relagao imediata do homem para com Deus; é um alo privativo de sua consciéncia. Esta liberdade é um dos direitos dos mais inviolaveis da humandade ao qual nenhum poder politico tem acesso. Quando porém o culto passa a ser externo, manifestando o individuo publicamente seu pensamento, sua crenga, pelo ensino ou prédica, petas cerim6nias, ritos ou preces em comum, quando nao se trata mais somente da liberdade de consciéncia, e sim de liberdade de culto, entéo tem lugar a intervencdo do legitimo poder social em defesa da ordem publica e dos bons costumes (3). Conseqiientemente, uma vez que nao haja violagdo dos limites tra- gados pelo artigo 5° da Constituigao, ninguém poderd ser perseguido por Mativo de religifio, desde que respelte a do Estado e nao ofenda a moral publica. Tal principio, de suma justi¢a, acha-se garantido por diversas dis- posigées do Codigo Penal. Segundo o artigo 191, 6 crime perseguir por motivo de religido a quem respeitar a do Estado e nao ofender a moral publica, crime esse sujeito 4 pena de prisic de um a tres meses, além das mais em que o delingdente possa Incorrer. © artigo 277 do mesmo Cédigo proibe e pune o ato de abusar ou zombar dos cultos permitidos no !mpério (#4). Certamente, seria contra- ditéria a lei que reconhecesse ao homem o direito de exercer seu culto, OY Arion 1.9, § 20 — in a destnuigto: de relgize catslica, , romans 112) Antigo 1 § 3.9 — “Sd aplicéyels mos dolitos sapeciticadon neste artigo as panss seguintes: Maxine moris natwial, Wédia: perds da conflangn da Nagas @ de bora’ ccupsr émpregos Ce confianga 2 cinco ance do prada, fortianea da Naeds, Inadilidade porpétua, restris ao emprega em que & fulgado @ cinco ance de suepare8o Uo. exere ccs dos diteliog potlticoe." Cl, JOSE ANTONIO PIMENTA BUENG, Diveilo Consilisigde do Império, io, 1867, pdg. 538. 413) Antigo 179, § 5.9 — "Ningubm pedo ser parseguide par motive se religide, 1ma vez gw vespelte 6 ‘2 moral pubes.” © art 779, § 8% vepiodae argo 10 da, Osclarages 1789, que por sua vez 6 gemelhanie dos artigos §.° ¢ 6° Ga Consttulgts Francese du 1814, Cir, JACQUES, pag. 220, (14) Antigo 52, b — “"Todsa ab outros raligioes serto pormiticas com seu eullo domésiice cu particular, fem casa’ para 1280 ceatinades, sem forma algima anterior ce temple.” ios da Ealado sic seeponstvols per tralgae: maguinande ima pends de 84 REVISTA DE INFORMAGAO LEGISLATIVA desde que for inocente, e entretanto deixasse de reprimir os abusos que de tal permissaéo pudessem surgir e que ademais afetariam a ordem publica. Portanto, nunca poderé ser permitido culto algum ou atos atentatd- rios das verdades fundamentais da existéncia de Deus, da imortalidade da alma ou da moral (3). Seriam principios corruptores de todas as virtudes sociais. Esta atividade do Estado relaciona-se com um ramo especial do Direito, 0 Direito Publico Eclesidstico, e compreende quest6es especiais que analisaremos no proximo parégrafo, quando tratarmos do Poder Exe- cutivo € de suas atribuigdes em réelagaéo ao Poder Espiritual. 3) Atribuigdes do Poder Executive em relagéo ao Poder Espiritual | — Protecao religiosa “© Imperador, antes de ser aclamado, prestar4 nas mos do Presi- dente do Seni reunidas as duas Camaras, o seguinte juramento: “Jura manter a religido catélica, apostélica, romana (9). O Imperador 6 o chefe do Poder Executivo e o exercita pelos seus ministros de Estado. Compete, portanto, ao Poder Executivo manter a religido do Estado 6 tolerar os outros cultos dentro dos limites e condicées estabelecidas peta Gonstituigéo. Em virtude desta atribuigao deve, pois, proteger a religiéo do Estado, sua Crenga, sua moral, seu culto, zelar da sua pureza e nao consentir que seja ofendida. Desta atribuigéo, derivam-se necessariamente outras que passamos a tratar. Il — Nomeagéo dos bispos @ provimento dos beneficios “Compete ao Poder Executivo nomear bispos e prover os beneficios eclesidsticos.” (1) Independentemente do direito do padroado imperial e de concordata com a Santa Sé, esta atribuigaéo é conferida ao Poder Executivo pela Constituigao. Ora, entende-se por direito de padroado — diz 0 Direito Candnico — 9 conjunto de privitégios com certas incumbéncias que, por concesséo da Igreja, correspandem aos fundadores catélicos de uma igreja, capela ou beneficio ou também a seus sucessores (%*), Entre os privilégios desta instituigao destaca-se o dirsito de apresen- tagdo de arcebispos e bispos. A nomeagao destes cargos aclesiisticos compete exclusiva e diretamente a Santa Sé, mas esta pode conceder ao {5} Anigoa 270, 279 © 260, do Cédigo Criminal, fr, BUENO, pég. 25. (18) Ot, anigo 103, C17) Ce amiga 102, (8 Can, 1.448 — “tus patronawus est aurima privilegicrum, cum quibusdam oneribus, uae ox Eccl concessions competunt tuncalorious catholicia Eectesiae, capellae, aul beneticil, vet etiam fb ile causam haber! aul JANEIRO A MARCO — 1974 85 poder civil o direito de apresentacao ou proposta de alguns nomes para gue © préprio pontifice, se o julgar conveniente, fag¢a a nomeagao entre as pessoas indicadas. O padroado nao é uma instituigao propriamente regalista, mas através dele introduziram-se abusos, claramente regalistas (!%). O auxilio material de que sempre precisava a Santa Sé nas guerras sustentadas para a defesa dos Estados Pontificios e nas lutas consegien- tes aos cismas, colocou os papas na contingéncia de se submeterem & ingeréncia temporal nos negécios espirituais. Era uma forma de compon- sagao. Foi assim que o padroado, de uma simples concessao da Santa Sé, se transtormou em tutela permanente do direito majestatico exercido pelos teis. E esse direito vinha sendo exercido desde 1455, quando Calixto Ill, pela bula Inter Costera deu poderes aos soberanos portugueses para conterir toda a jurisdigao ordindria, dominio e poder In spiritualibus, com faculdade de conceder todos os beneficios com cura e sem cura de almas (?%}. E nao 6 s6. Jiilio I!!, em 1551, além de confirmar esses poderes, os ampltiava facultando colé-los por si ou por outrem, e prove-los in tempo- ralibus, como in spiritualibus (4). A Constituigao do Império reivindicava para si a faculdade conferida ao imperador pelo Governo Pontificio (Pontificis concessio) de apresen- tagao de clérigos para beneficios ectesidsticos. Esse poder era conterido pelo papa aos reis em sua qualidade de Graos-Mestres das Ordens Militares (@). E se em tempos anteriores a independéncia do Brasil durante a monaraula existia, ¢ a respeito deste se axercia 0 graa-mastraro, com a Constituigdo de Império cessou essa situagao e com ela a concesséo Pontificia. Os comentarios & Constituigao do Império séo concordes em afirmar que os direitos e as regalias inerentes ao padroado, passaram ao Estado 19) Rntenderse por Augeitemo “ume Inzurta Hegitina se poder ci nos negocios eclesiAstices”. Cre MENENDEZ Y'PELANO, Historia do lon Hetrodoxce expatioles, T. Vi, Suonoa Alzos, 1945, pég. 40. (20) ule, Procclara Porugaiian, § 2°“... Hule Romant Pomitices prnadecesaseas Nostti Gatixtus, Ni colsis quiniua, at Sixtus quertus. nul gratiarem spiciualiom gems Sogu Chrlatl libgraltier non tele pollent dioscesibus, pricrbus dict ordinie, In subéltos Ipxis poputos sunt ettriputne.” Bullarli Romant Gontinuati, Tomus Octavia, Prall Typographin Algl, MECCCL’ . GH Bute anim", § 69; do dalle Il, 30 de, cote st persone. pa Bro tempore existeater reper: sei veainam cca epirualia doputundls omnia ot singuia quascumauy singul um hulusmedl, plano, mo cual g' Marguty co ‘Se ue Iogaagfo Jo Pele © cue ox recureoe euto ecmiidos, Gvando fa buso, ainsi morro am marie vton, soma Albuaueraus, Sepuethy, Loko Paule, ADeole ¢doqultorsnha interior & Constitute 140, ma. aG9¢%0 do 19 do juno do. 1850, dhvdia Admiss6o de recursos por sels vetos, contra nels votes, quando 9 governs, do um golbe a. corto uestho. tue 0 Conastha de Estedo fc resohera, fazenda 0 dacreio ce 26 da margo. Gir. JOAGUIM NABUCG, Um Estadieta do tmpdrio, Sto Paulo, 1649, vol. 1, pig. 225 (21) CRNDINO MENDES DE ALMEIDA, Tratedo de Direito Piblleo Eclealiatico, pés. 1.262, DORNAS, 94g. 26, (42) Ctr. NABUCO. 0.¢., pg. 826. 9] "Clrcular —~ 18 Segto — Ministérto dos Negdcios de Justign, Plo de Janeiro, am 18 de maio de 1855. su dor ha por baw castat as Woongas cn jalvida a Conecrdata qua. & "Franc s0anoe as. de. perio)". teldem, 4g. 900. (24) Gfr, Avisa da 23 de novemaro de 1782: Lei de 25 de novembro de 1/91 @ de 5 de satomtro do. 1737, 145) NABUCO, pag. 314

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