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Quanto amor pode caber numa caixa de sapatos?

Sentir gratidão e não a expressar


é como embrulhar uma prenda e não a oferecer.

William A. Wird

Numa manhã de fevereiro fria e chuvosa, a minha mãe, os meus quatro irmãos e eu estávamos a
limpar o apartamento do meu pai.
Havia milhares de outros sítios onde preferíamos estar mas, com o funeral dele marcado para o
dia seguinte, só conseguia fazer aquilo para distrair o pensamento da dura realidade do seu ataque
cardíaco.
Tudo o que ele possuía estava naquele apartamento.
Embora não fosse materialista, cada um dos seus pertences parecia ter um valor incalculável. Os
seus inúmeros desenhos enchiam cada divisão. Os blocos com os esboços que ele tinha feito no
hospital tinham o sabor da pessoa que ele realmente era. O carro estourado e a mobília estragada nem
sequer chegavam para descrever tudo aquilo que aos meus olhos o tornava tão bem sucedido.
O meu pai vivia um dia de cada vez e nunca levava as coisas demasiado a sério. Era a sua melhor
qualidade… e a pior. Eu tinha trinta e sete anos e tinha crescido de forma semelhante, dando um
enorme valor às pequenas coisas da vida.

Vaguei de divisão em divisão, reunindo as recordações, e deitando fora o lixo que ele nunca tinha
tido a oportunidade de deitar. Quando entrei no seu quarto, rapidamente descobri o seu bem mais
precioso: uma carta do meu sobrinho de oito anos a expressar o seu amor incondicional pelo avô — o
quanto o amava, como gostava de ir pescar com ele, e a esperança que tinha de que o avô nunca
morresse. O coração do meu pai derretia-se e os seus olhos ficavam marejados de lágrimas sempre que
falava na carta. Tinha-o tocado profundamente. Mostrava-a com orgulho a quem quer que fosse.
Por isso reuni a equipa de limpezas para a lermos uma última vez.
Todos nós parecíamos concordar que o lugar desta carta era junto do nosso pai. Para sempre.

O meu pensamento recuou ao tempo em que eu queria ter-lhe escrito uma mensagem
semelhante. Ainda há menos de um ano me tinha sentado para a escrever. O meu coração queria
encher a página com as caraterísticas e os valores com que tinha crescido e que tinha aprendido a
respeitar. Antes de escrever uma única palavra, a minha cabeça parou para pensar um pouco e cheguei
à conclusão que o meu pai nunca deixaria que uma carta como aquela ficasse só para ele.
Mesmo que prometesse nunca a mostrar aos meus irmãos, eu sabia, no entanto, que as suas boas
intenções iriam a dado momento ser ultrapassadas pelo seu orgulho sincero, e eu ficaria demasiado
envergonhado por expressar aqueles sentimentos nesta altura da minha vida.
Além disso, os meus atos sempre tinham sido mais importantes do que meras palavras, portanto
não escrevi a carta. Julgando que o meu pai era indestrutível, sempre achei que haveria tempo para
isso.
À medida que os anos foram passando, incomodava-me nunca ter escrito aquela carta. A minha
mãe estava a envelhecer e a ideia de nunca lhe tinha agradecido todas as coisas que tinha feito por nós
começou a provocar-me calafrios. Agora, em vez de ficar envergonhado, fazia questão de incluir os
meus irmãos no projeto. O Natal estava apenas a um mês de distância e pensei que a gratidão nunca
antes expressa seria uma prenda magnífica. Todos nós tínhamos que escrever algo porque, se um de
nós recusasse, ela iria valorizar o facto de alguém não o ter feito.
Mas não seria tarefa fácil convencer os meus irmãos a escrever. Precisava de um plano.

Empenhei-me e fiz uma lista com os nomes dos meus irmãos, por ordem, desde o que eu
imaginava ser o mais fácil de convencer até ao mais difícil. Decidi que o Bob seria o mais fácil, porque
concordava sempre com a mãe. O Gary seria o segundo, porque costumava enviar pelo correio um
postal do Dia da Mãe. O Mark viria a seguir. Já não falava com ela há seis meses e, pior ainda, tinha
quatro filhos que nem viam a avó. Ora, eu sabia que a Avó sentia a falta dos netos. O Rick vivia em
Rochester e, a não ser pelas ocasionais viagens obrigatórias de noventa minutos para a ver, o seu
contacto com ela era muito limitado.
Todos nós inventávamos razões para não manter o contacto com a nossa mãe. Os meus irmãos e
eu não a púnhamos de lado intencionalmente, mas também não parecíamos querer sair das nossas
rotinas para a visitar. Como dava sempre a impressão de ser a eterna mártir, o nosso reconhecimento
da sua mágoa genuína era abafado pela nossa impaciência e frustração.

Sentei-me ao lado do telefone, totalmente paralisado pelos meus pensamentos. Se o plano não
fosse adiante, aquela seria a ideia mais embaraçosa que alguma vez tinha partilhado com os meus
irmãos.
Peguei no telefone e liguei ao Bob. Expliquei-lhe o que queria fazer, por que razão queria fazê-lo
e qual era o meu plano. Para mim, o Bob era um dado adquirido. Quando acabei o meu discurso de dois
minutos, houve uma pausa do outro lado.
— Bom, teria sido bem mais fácil se tivéssemos escrito uma carta ao pai — disse.
Mas que resposta era aquela? Este irmão era o “garantido.” Noutras circunstâncias, eu poderia
ter desistido e concordado com ele, mas esse não era o caminho que me tinha proposto seguir.
Portanto, recomecei:
— Não podes pensar em algo que nunca tenhas agradecido à Mãe?
— Claro — disse ele.
— Poderias escrever uma carta e tê-la pronta para me entregar na véspera de Natal, quando a
família se reunisse em casa dela?
— Está bem, faço-o! — declarou ele sem mais hesitações.

Desliguei o telefone, e o meu primeiro pensamento foi “Boa, um já está garantido”. Podia
servir-me disso para aliciar os irmãos números dois, três e quatro. Não esperava que o Bob tivesse
oferecido tanta resistência e percebi que a tarefa não ia tornar-se mais fácil.
O Gary respondeu da maneira sensível e carinhosa que eu previra.
— De que tamanho é que tem que ser e o que é que temos de dizer?
O Mark era o próximo. Sentia-me nervoso porque sabia que ele estava zangado com a nossa mãe.
Comecei a conversa explicando a minha ideia e dizendo que o Bob e o Gary tinham já concordado.
Como esperava ouvir uma série de argumentos contrários, nunca vou esquecer o que se passou a
seguir.
O meu irmão começou de imediato a contar uma história:
— Lembro-me de que estava no secundário e de que fui suspenso por uma coisa que não tinha
feito. Fui mandado para casa e a nossa mãe perguntou-me “Fizeste-o?”. Respondi “Não!” e ela levou-me
de novo à escola para me confrontar com o professor mais temido que existia.”
A história de Mark brotou dos seus lábios como se tivesse acontecido no dia anterior. Fiquei
estupefacto, porque não só nunca tinha ouvido aquela história, mas porque ele a recordava tão
vividamente.
O Rick vinha a seguir. Ele tinha uma história semelhante à do Mark do tempo do secundário.
Além disso, o Bob, o Gary e o Mark tinham já concordado, e a minha tarefa realmente começava a ficar
mais fácil.
Dois dias antes do Natal, telefonei aos meus quatro irmãos, e todos eles tinham já terminado a
sua carta. Pedi-lhes que as trouxessem porque eu iria metê-las, às cinco horas, numa caixa de sapatos
que tinha embrulhado para dar à nossa mãe.
A véspera de Natal chegou. Dei a caixa à nossa mãe e disse:
— Esta prenda é de todos nós. Não a abra antes de amanhã.
Ela pareceu surpreendida, mas disse “Obrigada.”
A véspera de Natal era sempre divertida, mas este ano era especial para mim. Eu sabia que tinha
conseguido uma coisa que nunca imaginara! À medida que os meus irmãos e as famílias se iam
reunindo para abrir os presentes, senti que este ano ia ser diferente.
Mais aconchegado… mais bonito…mais caloroso…
Nessa noite, conduzi até casa com um enorme sentimento de dever cumprido. Relembrei a
imagem da minha mãe, a conversar com os netos e a rir. Talvez a noite tivesse sido especial para todos
nós. Todos nós parecíamos mais próximos dela naquela noite, ou talvez não passasse apenas de um
desejo meu.

Na manhã de Natal, o telefone tocou. Era a minha mãe. Contou-me que não tinha conseguido
esperar pela manhã para abrir a caixa de sapatos.
Tinha lido todas as cartas três vezes e chorado até adormecer.
Depois disse:
— Sei que foste o responsável por isto e agradeço-te esta prenda maravilhosa.
Respondi-lhe que todos nós éramos responsáveis e que há muito lho estávamos a dever.
Nunca cheguei a saber o que os meus irmãos escreveram nas cartas, pelo menos não
exatamente. Quanto a mim, inseri uma história de quando eu tinha dez anos e queria ir a uma
competição desportiva. Não me lembro das palavras exatas, mas era algo assim: “Ninguém pareceu
dar-lhe grande importância, mas a mãe viu o desapontamento na minha cara e disse ‘Eu levo-te.’
Sentou-se à chuva durante mais de uma hora enquanto eu dava tudo por tudo para conquistar um
prémio. Penso que nunca lhe agradeci, mas o seu gesto significou muito para mim.”
Disse-lhe ainda que sabia como tinha sido difícil para ela criar cinco rapazes, sendo todos nós um
pouco mais chegados ao pai. “Nós bem sabíamos que a ele cabia a tarefa fácil de ser o bonzinho,
enquanto a mãe era obrigada a ser a que nos repreendia quando errávamos. Foi a mãe que nos ensinou
a distinguir o bem do mal, o justo do injusto, e a pedir desculpa quando estávamos errados. Foi a mãe
quem fez isso e estou-lhe grato.”

A nossa mãe ansiara ouvir aquelas palavras durante anos. Sempre tinham estado nos nossos
corações, mas nunca lhas tínhamos transmitido. Eu sempre a tinha visto a chorar depois de cozinhar o
jantar do dia de Ação de Graças. Ela preparava-o durante todo o dia, enquanto o nosso pai, os meus
irmãos e eu devorávamos tudo e depois íamos para a sala de estar, para atender às nossas prioridades.
Consigo ver em mim muito da minha mãe e do meu pai, e não poderia sentir-me mais feliz. Dei
por mim a querer fazer alguma coisa pela nossa mãe, para lhe mostrar o que sentíamos. Tínhamos que
voltar a demonstrar o nosso apreço por ela e o facto de ter sempre estado ao nosso lado.
O que fiz, fi-lo por todos nós, os filhos.
Desliguei o telefone naquela manhã de Natal coberta de neve.
Recostei-me no sofá e olhei para cima, imaginando o meu pai a enxugar uma lágrima.
Parece que todos tínhamos vivido algo de muito especial naquele Natal.

Jim Schneegold

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