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Fundamentos de
Direito
Público. SEBENTA
2011/2012
DIREITO
Regente: Prof. Dr. Maria da Glória Garcia
Professor Aulas Práticas: Prof. Dr. Armando Rocha
1. Sebenta
Parte I - Conceitos introdutórios. Formação e evolução do poder político e do direito público
I. Introdução: O Homem e a sociedade......................................................................................................................4
II. Homem, sociedade e poder político.......................................................................................................................8
III. Homem, sociedade e direito................................................................................................................................10
IV. Sociedade, poder e justiça..................................................................................................................................12
V. Sociedade, poder e soberania.............................................................................................................................13
VI. Liberdade, igualdade e poder..............................................................................................................................15
VII. Segurança, poder e direito.................................................................................................................................19
VIII. Estado, direito e cultura.....................................................................................................................................21
2. Sebenta: Síntese................................................................................................................................................................................55
3. Sebenta: Cronologia..........................................................................................................................................................................60
I - Introdução
1. O homem e a sociedade.
1.1 A vida em sociedade.
Segundo Aristóteles:
Na obra ―A Política‖: «o homem é, naturalmente, um animal político»
O homem foi feito para viver em sociedade
O homem tem uma aptidão natural para viver integrado na sociedade aquele que não vive em sociedade é uma criatura degradada
ou um ente superior ao homem: «Um bruto ou um Deus e não um ser humano»
Polis - para os gregos da Antiguidade Clássica a «cidade» - não era uma qualquer comunidade, mas aquela onde podiam ser
satisfeitos os fins vitais do homem.
Corresponde à sociedade perfeita, organizada, natural. A «polis» é o Estado ou comunidade política por excelência.
Os homens nascem para viver em sociedade e, logo, para exercer o poder.
Esta concepção naturalística da sociedade política e poder político virá, mais tarde, na Idade Média, a ser retomada por S.Tomás De Aquino.
Na actualidade com o fenómeno da tecnologia vemos, em certo ponto, que o homem se isola da sociedade.
Ex: Comprar produtos através da internet, sem sair de casa; conversa através do telemóvel isolamento do homem da sociedade
Fisicamente isolo-me da sociedade relação virtual formação de uma nova identidade pessoal e personalidade
Temos de interpretar a nova sociedade em formação as redes são estruturas abertas mas a pessoa humana é um fim em si
mesmo, com dignidade própria
3. Em jeito de conclusão
Sociedade politicamente organizada, dotada de uma constituição: Quando os homens se «constituem» em sociedade e institucionalizam um
poder cujo exercício se funda em normas, se desenvolve em ordem à satisfação dos interesses comuns, isto é, a fins ou valores em que todos se
reflectem, e permite criar, através de normas, expectativas legítimas de comportamentos sociais e assim poderem edificar projectos pessoais
A constituição de uma sociedade política funda o poder político, orienta a sua acção e garante um desenvolvimento social organizado
5. Em jeito de conclusão
A Grécia Antiga deixou uma inestimável herança à civilização ocidental: a «invenção» da política.
Esta «invenção» da política foi encarada em quatro perspectivas possíveis:
na perspectiva do estadista (político) que vive a política na cidade e exerce o poder político, compreendendo-o profundamente
na perspectiva do pensador que procura reflectir sobre a melhor forma de exercer o poder político,
na perspectiva do filósofo, que idealiza a cidade onde o político vive e exerce o poder político da melhor forma
na perspectiva do cientista, que estuda a realidade que é a política, em especial, a cidade e o poder político que nela se exerce e
classifica, com objectividade, os fenómenos que nela evoluem.
Com a Grécia Antiga, o poder político distingue-se dos outros poderes sociais e é objecto de análise autónoma.
7. Em jeito de conclusão
O percurso que fizemos pela história de Roma até à queda do império permite-nos concluir, num primeiro momento, pela necessidade do direito
na sociedade (onde há sociedade há direito) e, num segundo momento, pela importância do direito na sociedade (o direito consolida o império).
O referido percurso abre caminho à reflexão sobre a fundamental diferença entre direito natural e direito positivo
Permito-nos igualmente a distinção importante entre direito público e direito privado
Mas os romanos não se limitaram a descobrir o direito e a evidenciar a sua importância na sociedade. Tornaram-no objecto de uma ciência
(ciência jurídica), criaram uma técnica específica para o interpretar (técnica jurídica) e alguém com a tarefa de o interpretar e aplicar (pretor, juiz).
9.2. Rex a recte judicando. A importância da função de juiz no exercício do poder. O Estado de Justiça.
O monarca medieval é o terceiro imparcial, o árbitro que traz a paz ao litígio que emerge da sociedade.
É o instrumento de concórdia e paz na sociedade. É sua função dizer o direito e cumpri-lo (não ficando fora dele), sob pena de perder a razão de
reinar (se não cumpre a lei, se não julga bem, deixa de ter o fundamento para continuar a ser rei).
É rei o que julga rectamente (rex a recte judicando). O poder está, por isso, estritamente ligado ao direito e à função de julgar. «Fazer justiça» é a
missão por excelência do monarca (traduz a recusa da vindicta privata). O Estado medieval é, neste quadro, entendido como um Estado de Justiça
15. O reconhecimento constitucional dos direitos fundamentais. Os direitos pessoais e os direitos políticos.
A Constituição não se limita a ser o documento que funda o Estado, aquele que o institui, fruto da vontade dos cidadãos. A Constituição:
a defesa por excelência dos direitos que esta consagra
protege os cidadãos face ao poder, já que os direitos reconhecidos na Constituição, os direitos fundamentais, são compreendidos
como limites às intervenções do poder, são direitos contra o poder do Estado.
os direitos fundamentais da 1ª geração os direitos pessoais A liberdade e a propriedade
Linha humanista dos direitos humanos com raízes na Antiguidade Clássica e densificada com o Cristianismo os homens estavam sujeitos a
uma ordem natural que impõe deveres aos titulares do poder político e lhes reconhece o direito de resistência aos abusos do poder
Linha constitucionalista dos direitos humanos torna os homens verdadeiros «sujeitos» de direitos o indivíduo passa a ser compreendido
como «o ponto de partida ―autónomo‖ da ordem social e política»
Todos os homens «nascem e permanecem livres e iguais» artigo 1º da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789)
A limitação do poder político através dos direitos fundamentais (direitos pessoais) e a consciência de que «o esquecimento ou o desprezo dos
direitos do homem são as únicas causas das desgraças públicas e da corrupção dos governos» (Declaração Universal dos Direitos do Homem)
16.1. A lei como expressão da racionalidade jurídica, como manifestação do poder do povo, representado no Parlamento, e como imagem
da justiça. A importância da função legislativa. O Estado-Legislação. Os direitos políticos.
A sociedade política é organizada de acordo com a Razão une todos os homens e institucionaliza-se na norma legal, geral e abstracta:
factor de racionalização da sociedade norma organiza a sociedade
factor de estabilização da sociedade a norma geral e abstracta não pode ser facilmente alterada, só de acordo com um
procedimento próprio e segundo condições pré-fixadas e, ao repetir-se na execução, mantém comportamentos para o futuro
A norma legal, geral e abstracta:
é a expressão da racionalidade
é a imagem da justiça exprime a ultrapassagem de um governo de homens por um governo de leis
traduz uma auto-definição de interesses é o resultado da vontade do povo representado no Parlamento
Através da lei está afirmada a primazia do homem em relação ao Estado ideia de a lei é a mais importante expressão do poder político
porque:
materialmente se confunde com a justiça
é a expressão mesma da Razão que une todos os homens
é emanada dos representantes do povo
Daí que o poder legislativo passe a adquirir supremacia sobre os demais e se possibilite o «endeusamento» da lei no Estado Liberal de Direito
Estado Liberal, pós-revolucionário Estado Legislação O Estado Liberal nasce como Estado Legislação
Estado Liberal estado que, acreditando embora na igualdade e na liberdade, tinha destes valores uma ideia incipiente pois:
não era reconhecido a todos o direito de votar
nem todos podiam participar politicamente
o voto em eleições era atribuído a quem sabia ler e escrever voto capacitário
ou a quem pagava o censo voto censitário
o voto não era reconhecido às mulheres nem aos que, por exemplo, pertenciam à raça negra
Ao longo do século XIX processo de democratização direitos políticos ou de participação política direitos da 2ª geração
alarga-se o direito de sufrágio, a liberdade de expressão e a liberdade de manifestação são amplamente reconhecidas
Nascem os partidos políticos associações de pessoas que têm por fim elaborar um programa de acção política
27. Quem vela pelo cumprimento do direito que disciplina ou rege o Estado.
Os órgãos do poder político são obrigados a cumprir a Constituição e a lei, por sentença judicial, mas fica uma questão:
E se os órgãos estaduais resistem à execução da sentença? Quem guarda o guarda (Quis custodiet custodes)?
Resposta passa pelo cidadão e pelo controlo que faça do exercício do poder pelos seus representantes
Contudo: os tribunais controlam a acção dos titulares dos órgãos do poder político, mas como se executa uma sanção desfavorável ao Estado?
Como é possível «obrigá-lo» e aos seus órgãos, a prestar acatamento à sentença condenatória?
Como lutar «contra quem tem a espada à cintura» (Maurice Hauriou)?
A questão agora apresentada remete-nos para outras duas:
Problema clássico do conceito de direito: será a coacção física, ou a possibilidade do seu exercício, um elemento essencial ao direito?
Existem duas concepções que lhe respondem: uma estatista e outra pluralista:
Estadista: identifica o direito com o direito estadual, a possibilidade do uso da força física é essencial ao direito
Pluralista recurso à coacção física não pertence ao conceito de direito (no direito internacional a coação inexiste)
Entendemos que o direito não coincide com o direito estadual e o uso da força não integra o conceito de direito (inexiste nos
direitos supraestaduais e infraestaduais) O que é essencial ao direito é a determinação de uma sanção para o caso de
incumprimento. Sem sanção ou a ameaça de sanção não há direito.
Problema da construção do próprio Estado nos estados democráticos, a sanção para o momento último da inobservância do direito
pelos titulares do poder político se expressa no momento das eleições políticas
A resposta à questão: «quem guarda os guardas?» parece só poder ser uma quem guarda os guardas é quem os institui como guardas.
29.1.3. O território.
O território é o espaço sobre o qual o Estado exerce a sua jurisdição; é o espaço de vigência do ordenamento jurídico do Estado
delimitado por fronteiras terrestres (artigo 5º CRP)
extensão e os limites das águas territoriais, a ZEE e os direitos de Portugal aos fundos marinhos contíguos
espaço aéreo
As normas do Estado português podem aplicar-se fora do território nacional (artigo 14º)
Integram um direito de propriedade internacional o direito que coloca o território, enquanto bem, ao serviço do Estado
Características do território a indivisibilidade, a inalienabilidade e a exclusividade (artigo 5º/3 CRP)
Existe uma distinção entre a titularidade do poder político soberano sobre o território e a efectiva posse do território
Ex: caso das bases militares em território estrangeiro ou embaixadas
Convenção Internacional de Montego Bay (1982):
definiu conceitos como mar territorial, zona econômica exclusiva, plataforma continental e outros
estabeleceu os princípios gerais da exploração dos recursos naturais do mar (recursos vivos do solo e subsolo)
criou o Tribunal Internacional do Direito do Mar
Contratos acordos de vontades entre sujeitos de direitos. Podem ser disciplinados pelo direito privado ou que podem ser regidos pelo direito
público, administrativo – contratos administrativos (ex: contrato de empreitada de obras públicas, contrato de fornecimento por empresas privadas)
Contratos bilaterais ou multilaterais acordos de vontades entre sujeitos de direitos com outras entidades públicas ou privadas
Contratos de direito privado ex: contrato de compra de um livro, de uma pintura da Vieira da Silva, de um imóvel
Actos jurídicos unilaterais (de conteúdo não normativo) traduzem a manifestação de vontade dos órgãos políticos ou administrativos e definem
juridicamente uma situação individual e concreta actos políticos ou actos administrativos
Actos políticos actividade primária, paralela à legislativa estão directamente regulados na Constituição
Actos administrativos actividade secundária são conformados pela lei administrativa, infra-constitucional, e não directamente
pela Constituição Ex: acto de nomeação de um director geral; o acto que defere uma licença de construção de edifícios; o acto que
recusa a não concessão de um subsídio; o acto que indefere um pedido de bolsa de estudo; o acto que instaura um procedimento de
ilícito de mera ordenação social; o acto que aplica uma sanção disciplinar; o actos que declara a utilidade pública de um imóvel para
efeitos de o expropriar; o acto de concessão de um prémio escolar; os actos de cobrança de impostos.
As decisões dos tribunais são actos jurisdicionais podem ter conteúdo normativo
Ex: caso da declaração de inconstitucionalidade de uma lei pelo Tribunal Constitucional art. 281º/1 e 282º CRP; declaração de
ilegalidade de normas regulamentares, pelos tribunais administrativos
Em regra os actos ou decisões jurisdicionais não têm conteúdo normativo actos ou decisões que põem termo a litígios ou declaram
o direito num caso individual e concreto sentenças e acórdãos
Estado de Direito dispõe de mecanismos de defesa do direito e da lei democraticamente aprovada contra quem a incumpre
Em caso de incumprimento Tribunal Constitucional recorre a sua fiscalização preventiva artigo 278º da CPR
Depois de entrarem em vigor leis podem ainda ser objecto de fiscalização sucessiva pelo Tribunal Constitucional
Órgãos que podem solicitar ao Tribunal Constitucional a declaração, com força obrigatória geral, da inconstitucionalidade de normas:
Presidente da República
Presidente da Assembleia da República
Primeiro-Ministro
Provedor de Justiça
Procurador-Geral da República artigo 281º/2 CRP
Contra a acção dos poderes públicos os cidadãos podem queixar-se ao Provedor de Justiça:
Provedor Justiça órgão independente designado pela Assembleia da República que exerce um magistério de autoridade,
não tem poder decisório mas pode dirigir aos órgãos competentes recomendações para prevenir ou reparar injustiças
Os cidadãos têm ainda o direito de apresentar, individual ou colectivamente, aos órgãos de soberania petições,
representações, reclamações ou queixas para defesa dos seus direitos, da Constituição ou das leis art 52º/ 2 CRP
A defesa da legalidade democrática é empreendida pelo Ministério Público artigo 219º, nº 1 CRP «advogados do Estado»
Ministério Público tem legitimidade para impugnar normas regulamentares e actos administrativos junto dos tribunais administrativos
Ministério Público tem o dever de pedir a declaração, com força obrigatória geral, da ilegalidade de uma norma regulamentar
Ministério Público representa o Estado, em sentido amplo, abrangendo as Regiões Autónomas e as autarquias locais
Ministério Público tem ainda um papel importante na descoberta da verdade material, no processo penal (acção penal), e na defesa de
interesses particulares específicos (os interesses dos incapazes, dos incertos) no processo comum
Apesar de actuar estruturalmente ligado aos tribunais, o Ministério Público não integra os tribunais, pertence à Administração Pública
A Administração Pública é desenvolvida por múltiplas entidades públicas, seja no âmbito central (Estado), seja no âmbito das regiões autónomas,
seja das autarquias locais. No âmbito da actividade da Administração Pública:
tarefas administrativas de polícia actividade caracterizada pelo fim de prevenção de danos ilegais e pela restrição da liberdade de
condutas individuais que envolvam o perigo de dar origem a esses danos (controlo de condutas perigosas). Exemplos:
Inspecção-Geral do Ambiente (IGA) na fiscalização do cumprimento das normas ambientais (polícia administrativa especial)
Autoridade da Segurança Alimentar e Económica (ASAE) enquanto autoridade administrativa com poderes policiais em
defesa dos direitos do consumidor (polícia administrativa especial)
Polícia de segurança pública (PSP) enquanto defende a ordem e segurança públicas (polícia administrativa geral)
Guarda Nacional Republicaca (GNR); Polícia Judiciária (PJ), Guarda Fiscal (polícia administrativa geral)
actividade das polícias municipais, desenvolvendo uma tarefa de polícia de proximidade, para defesa dos munícipes (polícia
administrativa sectorial ou de competência territorialmente delimitada) artigo 272º
Funções de polícia a defesa da legalidade democrática e a garantia da segurança interna e dos direitos dos cidadãos
Os actos de polícia caracterizam-se por serem actos de controlo ou fiscalização de condutas perigosas dos cidadãos
Polícia judiciária é definida por lei como o «corpo superior de polícia criminal auxiliar da administração da justiça»
Estas actividades são operações materiais e intercomunicáveis:
acto de controlo alfandegário pode evoluir para operação de polícia de apreensão de droga e detenção do seu portador
32.2.5. Balanço.
A Administração Pública do Estado tem vindo a abandonar a centralidade dos actos administrativos unilaterais desenvolve cada vez mais
formas de acção negociadas, contratualizadas (Parcerias Público-Privadas) nova centralidade da actuação administrativa
Isto não significa que o Estado se afaste do direito princípio da obediência à lei formal dá lugar à obediência aos princípios gerais de direito
Estado Democrático:
Um Governo exercido pelo povo não é necessariamente um regime democrático a maioria pode esmagar a minoria regime totalitarismo
Na nossa concepção, este é um Estado em que os representantes são eleitos pelo povo, de forma temporária;
Existe um sistema de separação de poderes ninguém pode ter em si a totalidade do poder público; existe sempre a possibilidade
de uma instituição controlar o poder de outra (ninguém pode exercer pode público sem estar controlado)
Garantia do povo contra o arbítrio da maioria
Estado em que existe uma Constituição que protege direitos, liberdades e garantias de todos os indivíduos;
Não pode existir uma democracia sem constituição - limita o poder e garante os direitos do povo que são sempre protegidas
Ninguém pode exercer um poder público sem deter qualquer forma de legitimidade democrática
Esta legitimidade pode prover de eleição directa ou nomeação pelo Presidente.
Criou-se uma lei ordinária em que não se permite que alguém exerça um mandato mais de 3 vezes consecutiva, tendo de esperar 4 anos até ser
nomeado acontece devido a sentimento de desconfiança em relação ao povo (julgam-no incompetente/pouco iluminado/facilmente influenciável)
Todos podem votar mas é necessário que o Estado assegure uma educação aos seus cidadãos para que possam votar com instrução
Estado Democrático única forma de garantir que o povo está esclarecido em relação às pessoas em quem vão votar é a garantia da verdade.
Geração dos Direitos dividem-se/agrupam-se em três gerações, conforme as etapas/épocas históricas em que foram declarados:
Direitos da 1ª Geração direitos fundamentais: liberdade e igualdade; direito à vida; propriedade privada; constituir familia
Direitos dos indivíduos que decorrem da livre actuação dos indivíduos em sociedade, isolada ou colectivamente.
Direitos da 2ª Geração direitos políticos: direito de voto; acesso a cargos públicos; liberdade de manifestação, de expressão
Direitos que atribuem aos cidadãos o poder de cooperarem na vida estadual ou no exercício de funções públicas
Direitos da 3ª Geração direitos económicos, sociais e culturais: direito à saúde, educação, trabalho, habitação
Parte da exigência do Estado em garantir as condições mínimas de vida em sociedade.
Direitos da 4ª Geração direitos de solidariedade, desenvolvimento sustentável, responsabilidade geracional
Direitos da 5ª Geração direitos de acesso à tecnologia e acesso à Internet
33.2. Conteúdo.
Dignidade da pessoa humana conceito-chave do sistema político desdobra-se numa multiplicidade de acções:
em redor dos direitos pessoais direito à vida (art. 24º), direito à integridade física (art. 25º)
em redor dos direitos políticos direito de sufrágio (art. 49º), direito de petição (art. 52º)
em redor dos direitos sociais, económicos, culturais direitos dos trabalhadores (art. 59º ), direito à saúde (art. 64º), direito ao ensino
em redor dos direitos de qualidade direito do ambiente (art. 66º), direito à qualidade de vida urbana (art. 65º)
Dignidade humana não é só o fundamento do sistema organizatório do Estado é também a referência, por excelência, da sua acção e da
acção relacional de toda a comunidade, através dos direitos fundamentais de que é alimento
33.3. Concretização
A consagração e salvaguarda da Dignidade da pessoa humana concretiza-se nas normas legais que dão corpo ao projecto constitucional:
prevêem o regime jurídico da segurança social
garantem um rendimento mínimo
garantem a educação básica
estabelecem restrições à construção de edifícios para defesa da memória e da identidade do homem património nacional
defendem a saúde dos consumidores
35.1. A proibição do arbítrio como momento integrante do princípio do Estado de Direito. As três matrizes evolutivas do princípio do
Estado de Direito.
Princípio de Estado de Direito proíbe o arbítrio e o abuso do poder é hoje compreendido num quadro de síntese de três matrizes evolutivas:
Histórica raiz anglo-saxónica conhecida como a matriz da «rule of law»
Revolucionária raiz francesa suportada pelo princípio da legalidade
Filosófica raiz alemã no seio da qual a própria expressão foi gerada «Rechtsstaat»
35.2. A separação de poderes como momento integrante do princípio do Estado de Direito. O artigo 111º da Constituição.
Compreensão da separação de poderes (Art. 111º CRP) está subjacente às três matrizes evolutivas enunciadas:
Vinculação do Estado à lei e ao direito
Incumprimento da lei e do direito permite o recurso aos tribunais
Separação orgânica de poderes Parlamento/Governo e sua Administração/Tribunais
Os órgãos de soberania em Portugal são Presidente da República, Assembleia da República, Governo e Tribunais (Art. 133,161,197,202 CRP)
A soberania é definida pela referência orgânica à:
Separação material de poderes Legislativo/Administrativo/Judicial
Diferentes poderes que integram o poder soberano e que, no caso português, são:
Poder político-moderador do Presidente da República
Poder legislativo da Assembleia da República e do Governo
Poder administrativo do Governo e sua Administração
Poder judicial dos tribunais.
Separação funcional de poderes Legislar/Administrar/Julgar
Individualização das funções fundamentais do poder político
Separação institucional de poderes Lei/Acto administrativo/Sentença
Consagração constitucional do princípio organizatório básico do poder político trave mestra do Estado de Direito,
Não interessa evidenciar as ideias de «dividir para enfranquecer» ou enfatizar a fonte única do poder (povo) hoje tem o sentido de:
Separar funções entendidas como diferentes
Ordenar essas funções equilibradamente
Distribuir competências por órgãos distintos para optimizar as tarefas do Estado para alcançar as suas finalidades
Constituição não garante só a separação de poderes consagra também a interdependência de poderes (art. 111º CRP)
A interdependência de poderes está patente em três momentos distintos:
No sistema de governo (semi-presidencialismo) projecta-se através de uma rede de relações recíprocas dos órgãos de soberania
Na distribuição da função legislativa por dois órgãos de soberania distintos Assembleia da República e Governo
Na necessidade de intervenção de vários órgãos de soberania no exercício de certas competências
Ex: declaração do estado de sítio e do estado de emergência e o caso da nomeação e demissão dos titulares de órgãos
A separação e interdependência dos poderes consagrados na Constituição através dos critérios orgânicos e funcional:
Permite a construção da teoria do núcleo essencial:
Nenhum órgão de soberania pode esvaziar as funções que foram atribuídas constitucionalmente aos outros órgãos
Nenhum órgão de soberania pode transferir as competências que foram atribuídas constitucionalmente para outro órgão
Em caso de não se cumprir estes princípios subversão do princípio da separação de poderes violação do princípio do Estado de Direito
35. 5. Efectivação dos direitos fundamentais como momento integrante do princípio do Estado de Direito (art. 2, in fine, CRP)
Consagração do Estado de Direito que nasce ligado à garantia de direitos pessoais ampliado aos direitos políticos, aos direitos sociais,
económicos e culturais e, recentemente, aos direitos de qualidade essa ampliação implicou alargamento de finalidades do Estado (art. 2º CRP)
Estado de Direito não visa só direitos pessoais e de participação política visa também a realização da democracia social, económica e cultural
Estado de Direito acentua hoje:
Promoção do desenvolvimento económico, social e cultural, procurando corrigir desigualdades sociais e satisfazer prestações sociais,
bem como permitindo uma melhor qualidade de vida aos cidadãos Estado Social de Direito
Enfatiza a sujeição do poder estadual a princípios e regras jurídicas e a garantia de acesso a tribunal quando tais princípios ou regras
são violadas, transmitindo aos cidadãos a confiança na actuação do poder estadual defende contra o arbítrio, a prepotência, o abuso
Evidencia a soberania popular (art. 2º e 3º/1 CRP) e a vontade popular (art. 1ºCRP) como fonte do poder político
os titulares do poder político são eleitos por sufrágio universal, igual, directo e secreto (art. 10º CRP)
o referendo é uma forma de exercício do poder político (art. 10º, 115º e 240º CRP)
Realização do princípio do Estado de Direito implica a ideia de justiça social alcança-se através da efectivação dos direitos fundamentais
35.5.3. O princípio do Estado de Direito, na sua vertente Social, hoje: privatização de funções públicas, crescente apelo a parcerias
público-privadas, autoregulação social e realização do Estado de Direito.
Evolução do Estado Social de Direito transferência para os privados do exercício de funções públicas, até agora empreendidas pelo Estado:
Caso da privatização das funções notariais permissão das prestações sociais poderem ser desenvolvidas por empresas privadas
Caso das escolas e universidades privadas e dos hospitais privados (Ponte Vasco da Gama e autos-estradas) reconhecer aos
privados a capacidade de conceber, desenvolver e financiar projectos de obras públicas parcerias público-privadas
Gigantismo da máquina organizatória administrativa de um Estado Prestador de Serviços (característico da segunda metade do século XX)
tem vindo a ser substituído por um Estado cada vez mais organizatoriamente exíguo
Questão: Saber se a Constituição Social de Direito se está a cumprir ou se se impõe uma renovação da questão constitucional por questão social
Resposta pode estar na reinvenção de um conceito velho, o conceito de «serviço público» reconhecimento ao Estados da responsabilidade
última pela correcta efectivação dos direitos fundamentais na área económica, social e cultural «obrigação de serviço público»
Esta resposta permite compreender o movimento de desestruturação organizacional e funcional do Estado, na sua vertente administrativa, no
sentido da privatização de funções públicas e tarefas de prestação social, económica e social reinterpretação e reinvenção do Estado de Direito:
Aumento das tarefas de controlo, policiais, do Estado sobre a actuação dos privados
Abertura para uma permanente acção de monitorização da própria comunidade sobre a sua acção
36.1.4. O direito de aceder ao direito. A defesa dos direitos subjectivos perante os outros particulares.
Direito de acesso ao direito para protecção dos direitos ou interesses defendidos por lei não se circunscreve à actuação do Estado nas diferentes
modalidades em que o seu poder se desdobra – legislativo, administrativo, judicial abrange ainda a actuação dos outros particulares, sempre que
o relacionamento intersubjectivo é juridicamente fundado relações de vizinhança, relações familiares ou relações sucessórias, relações
comerciais e relações de trabalho são outros onde o direito está presente
36.3. O direito de apoio judiciário ou a impossibilidade de denegação de justiça por insuficiência de meios económicos.
O direito de acesso aos tribunais pode, porém, ser meramente teórico se não estiver garantido um sistema de apoio em caso de insuficiência de
meios económicos é que, ao contrário de outros serviços públicos, a Constituição não garante o acesso gratuito aos tribunais
Daí que, em caso de falta ou insuficiência de meios económicos para defesa dos seus direitos, a Constituição tenha garantido aos cidadãos o
apoio judiciário, a fim de permitir a efectivação do direito de acesso aos tribunais O apoio judiciário tem diferentes modalidades:
Pode traduzir-se na dispensa, total ou parcial, de taxas de justiça e de outros encargos com o processo
Pode consistir no pagamento de honorários do patrono, advogado ou ao defensor oficioso
Conceito de «insuficiência de meios económicos» é considerado um conceito relativo porquanto indissociável do valor das custas e demais
encargos com o processo e, bem assim, do pagamento ao advogado (patrocínio judiciário)
Requerimento de apoio judiciário é apresentado nos serviços da segurança social pessoalmente, por telecópia, via postal ou via electrónica
38.4. A obrigatoriedade das decisões dos tribunais para todas as entidades, públicas ou privadas
Decisões dos tribunais não há autoridades imunes, são obrigatórias para todas as entidades, públicas e privadas (art. 205º/2 CRP)
38.5. A prevalência das decisões dos tribunais sobre as de quaisquer outras entidades
Prevalência das decisões dos tribunais sobre as de quaisquer outras autoridades (art. 205º/2 CRP) resulta dos tribunais serem órgãos de
soberania é mais uma garantia do princípio do acesso ao direito
Nenhum outro poder do Estado (legislativo) pode sobrepor a sua acção à função jurisdicional e, daí, esvaziar de sentido a decisão jurisdicional
38.6.Princípio da publicidade
Princípio da publicidade das audiências dos tribunais e das suas decisões (art. 206º CRP) traduz um reforço de garantias dos cidadãos,
capaz de permitir um acompanhamento da comunidade de administrar a justiça, já que os tribunais administram a justiça em nome do povo
Existe excepções pode haver razões que possa excluir a publicidade (Art. 206º CRP) salvaguarda da dignidade das pessoas e da moral
pública e salvaguarda do normal funcionamento da justiça só essas podem conduzir ao afastamento da publicidade das audiências
V - Princípio da transparência
40. Princípio da transparência
Princípio da transparência directamente relacionado com o princípio da participação dos cidadãos na vida pública, impõe ao Estado e às
demais entidades públicas o esclarecimento objectivo dos actos que pratiquem, para que as escolhas políticas possam ser conscientemente feitas
Obriga o Governo e outras autoridades a prestar as informações acerca da gestão dos assuntos públicos controlo democrático da acção
político-administrativa «Todos os cidadãos têm o direito de ser esclarecidos objectivamente sobre os actos do estado e demais entidades
públicas e de ser informados pelo Governo e outras autoridades acerca da gestão dos assuntos públicos» (Artº 48/2 CRP)
VI - Princípio da responsabilidade
41. Princípio da responsabilidade. Origem.
Período longo de transformação da cultura político-estadual desde vigência do princípio «The king can do no wrong» à assunção ampla do
princípio da responsabilidade civil do Estado (funções político-legislativa e administrativa) séculos de crescente maturidade democrática
Contínuo aprofundamento do sentido do direito o que hoje consideramos «natural» (indemnização do Estado por actuações ilícitas do poder
estadual) foi durante muito tempo considerado uma impossibilidade entendia-se que era ideia de soberania estadual (soberania régia)
Antigamente não era admissível que o rei ou o poder estadual cometesse erros, provocasse danos e tivesse de compensar quem os sofreu
Mesmo depois das revoluções liberais princípio da irresponsabilidade do Estado manteve-se no quadro da acção administrativa
Edouard Lafferière afirmou: «é próprio da soberania impor-se a todos sem compensações»
Evolução na forma de conceber o poder político e o legitimar compreensão teórica que vai desconstruindo um conceito fechado, autocrático,
de poder, numa sociedade hierarquizada para logo o reconstruir num quadro alargado de poder, aberto e partilhado, um poder democrático
fundado na dignidade da pessoa humana reflectir sobre a génese das ideias jurídico-políticas e o seu reflexo na lei é reflectir sobre o homem
Cientista António Damásio desejo do homem em qualidade de vida não depende da sua vontade, antes à sua natureza
I - Princípio da subsidiariedade
43. Princípio da subsidiariedade
Princípio da subsidiariedade encontra-se consagrado na Constituição em duas vertentes, uma interna e outra externa
43.1. O princípio da subsidiariedade como princípio interno do Estado: a procura do nível óptimo de decisão (art. 6º, nº 1 da Constituição)
Princípio da subsidiariedade está consagrado na Constituição é um princípio ligado à organização e funcionamento do Estado unitário
Princípio da subsidiariedade implica que a definição jurídica de uma matéria só possa ser empreendida por um órgão da administração central
do Estado se não puder ser empreendida em melhores condições por um órgão mais próximo das pessoas que vai afectar ou que são as
destinatárias da acção (de uma região autónoma ou de uma autarquia) procura-se encontrar o nível óptimo da decisão, em razão da matéria,
privilegiando a entidade pública ou órgão estadual que, por estar mais próximo do problema a decidir, podes obter uma melhor decisão
Princípio da subsidiariedade não determina o esboroamento do poder do Estado nem traduz uma sua demissão tem subjacente a convicção
de que quem está longe dos problemas não os conhece bem e tem dificuldades maiores em encontrar a melhor solução
Princípio da subsidiariedade, como princípio interno do Estado, encontra-se ao serviço da descentralização aplicações práticas do princípio:
Art. 225º/2 CRP enquanto garante que a autonomia das regiões visa «promoção e defesa dos interesses regionais»
Art. 235º/2 CRP enquanto garante às autarquias locais «a prestação dos interesses próprios das populações respectivas»
43.2. Princípio da subsidiariedade como princípio director do exercício dos poderes necessários à construção da UE (art. 7º/6 CRP)
União Europeia determinou uma profunda alteração na compreensão da estadualidade portuguesa
Após integração na União Europeia Estado português tornou-se parte de um projecto mais vasto, o projecto de construção da União Europeia
É neste contexto que o princípio da subsidiariedade, compreendido como princípio externo, deve ser interpretado União Europeia só pode
intervir nos casos em que o Estado português, isoladamente, não consegue obter os mesmos resultados que a União
Princípio da subsidiariedade funciona como uma garantia do Estado português perante a União Europeia funciona como uma limitação da
acção da União Europeia um «travão à europeização» das tarefas nacionais.
Princípio da subsidiariedade medidas destinadas à construção da União Europeia devem ser por esta tomadas quando não possam ser
concretizadas satisfatoriamente pelos Estados-membros e, logo, pelo Estado português limite negativo à competência da União Europeia.
Cláusula-barreira impede que competências constitucionais dos órgãos estaduais sejam afectadas pela actuação de autoridades comunitárias
II - Princípio da cooperação
44. Princípio da cooperação. Em geral.
Princípio da cooperação interinstitucional pode colocar-se em vários planos ou níveis:
plano internacional o princípio da cooperação apela à cooperação entre Estados soberanos
plano europeu apela à cooperação entre os Estados-membros da União
plano das relações transfronteiriças o princípio apela à cooperação entre os Estados com fronteiras comuns.
plano estadual o princípio da cooperação convoca a cooperação entre as diferentes entidades públicas, seja entre o Estado e as
autarquias, seja entre as autarquias, seja entre institutos públicos ou outras entidades públicas, no âmbito das respectivas atribuições
A matéria ambiental tem-se tem revelado mais sensível à necessidade da cooperação, nomeadamente em matéria da segurança
45.1. Noção.
Princípio da descentralização democrática da Administração Pública significa que, na medida do possível, a Administração Pública portuguesa
se deve organizar através de pessoas colectivas públicas distintas do Estado, e, logo, dotadas de poder de decisão (princípio da descentralização),
pessoas colectivas públicas que, na sua gestão, devem apelar à participação dos cidadãos (princípio democrático da gestão participada)
48.3. O princípio da prossecução do interesse público e o princípio do respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos dos
cidadãos
Prossecução do interesse público pela Administração Pública não pode justificar o sacrifício abusivo ou arbitrário dos direitos e interesses
legalmente protegidos dos cidadãos «travões» impostos à acção administrativa pelos direito
Há posições jurídicas dos particulares decorrentes da lei que são merecedoras de protecção e funcionam como limite à prossecução do interesse
público (art. 266º/1 CRP) princípio da prossecução do interesse público só é integralmente realizado num diálogo necessário com esses direitos
e interesses, um diálogo que significa respeito pelos limites dele decorrentes
Direitos fundamentais (direitos económicos, sociais e culturais) impõem-se como tarefas ou intenções de agir, vertendo-se em inúmeras
manifestações de interesses, que importa qualificar juridicamente (públicos) e ser satisfeitos pelo Estado e sua Administração contudo, esta
satisfação não pode ser feita à custa de direitos subjectivos nem à custa de outros interesses públicos protegidos por lei
44.3. Os direitos e os interesses legalmente protegidos dos cidadãos como limite à acção administrativa
Interesse público não é considerado constitucionalmente como um valor absoluto ou um valor que se sobrepõe a todos os outros o
fundamento último do Estado de Direito é a dignidade da pessoa humana princípio da prossecução do prossecução do interesse público tem de
se harmonizar com o princípio do respeito pelos direitos e interesses legalmente protegidos
Questão quando se está perante um direito subjectivo e quando se está perante um interesse legalmente protegido? Doutrina tradicional:
Direito subjectivo existe quando o seu titular tem um interesse próprio e, para a sua defesa, tem a faculdade de exigir da Administração um ou
vários comportamentos que satisfaçam integralmente esse direito
Interesse legalmente protegido existe quando o seu titular tem um interesse indirecto, protegido por lei, não em seu benefício mas do
interesse público e, para sua defesa, tem faculdade de exigir o cumprimento da lei ou que não prejudique o seu interesse incumprindo a lei
O titular do interesse legalmente protegido não pode exigir à Administração Pública que satisfaça integralmente esse interesse porque a lei não o
protegeu directamente, não o protegeu como um interesse desse titular mas simplesmente como interesse público
48.4. A prossecução do interesse público pelos privados. A eficácia e a eficiência da acção de prossecução do interesse público.
Interesses públicos podem ser prosseguidos por privados tende a generalizar-se através do movimento recente de privatização de
empresas públicas ou da privatização de funções públicas ou ainda as parcerias público-privadas estes movimentos aparecem ligados à defesa
de um maior comprometimento dos privados na acção administrativa, com o objectivo de permitir que:
o interesse público possa usufruir da natural criatividade da gestão económica privada
o mesmo interesse público possa obter ganhos de eficiência sendo maior no sector privado do que no tradicional sector público
Questão potencial promiscuidade entre entidades públicas e privadas, em razão dos titulares dos respectivos órgãos de gestão e à apetência
que decorre de as obras e serviços públicos desenvolverem interesses económicos de vulto, pressionar no sentido de gerar distorções e fugas à lei
nos procedimentos administrativos peso dos interesses económicos é tão grande e a tendência para que os interesses públicos e privados
confluam é tão acentuada, que a pressão no sentido de desvios à lei e ao direito, por parte dos gestores, são muito fortes
Resposta Estado de Direito tem os seus sistemas de controlo:
controlo político da Assembleia da República sobre o Governo (art. 162º/a) )
órgão superior da Administração Pública (art. 182º)
defesa da legalidade democrática empreendida pelo Ministério Público (art. 219º)
fiscalização da legalidade das despesas públicas, empreendida pelo Tribunal de Contas (art. 214º)
acção da polícia administrativa em geral e da polícia judiciária em particular, no detectar de situações de ilegalidade
fiscalização empreendida pelos tribunais nos feitos que lhes são submetidos a julgamento, sancionando as infracções
Na luta pela defesa da lei e do direito, os Estados têm vindo a conferir atenção particular à «transparência dos procedimentos e actuações na
prossecução do interesse público» princípio da transparência adquire, no âmbito da Administração Pública, papel decisivo:
Art. 1º/4 Código dos Contratos Públicos «à contratação pública são especialmente aplicáveis os princípios da transparência, da igualdade e
da concorrência» precedência do princípio da transparência ao princípio da igualdade é sintomático do relevo que se atribui a este princípio
49.2. Conteúdo actual do princípio da legalidade administrativa. Em especial, a obediência da Administração Pública à Constituição.
Actualidade princípio da legalidade não abrange só a vinculação à lei formal, emanada do poder legislativo.
A legalidade a que o princípio apela integra toda a normatividade Maurice Hauriou chamou «bloco legal»
Legalidade integra a Constituição, a lei da Assembleia da República e o decreto-lei do Governo, os princípios gerais de direito, os regulamentos,
os direitos emergentes de contratos, de actos administrativos, de decisões judiciais tem o sentido de um princípio de juridicidade
Obediência da Administração pública ao princípio da legalidade com esta amplitude levanta problemas complexos de aplicação
Questão: pode a Administração Pública ajuizar a constitucionalidade da lei e só se sentir a ela vinculada quando conclui que essa lei é
constitucional? Ou o juízo de constitucionalidade de uma lei pertence, em exclusivo, aos tribunais? problema levanta complexas questões
V - Princípio da justiça
52. Princípio da justiça.
Diogo Freitas do Amaral o princípio da justiça é um 'princípio compósito' ou um 'princípio de princípios'» duas realidades distintas:
Em primeiro lugar, que o princípio da justiça integra muitos outros princípios ( princípio da igualdade, proporcionalidade, boa-fé)
Em segundo lugar, que o princípio da justiça tem força própria, dele podendo surgir novos princípios, através da evolução comunitária
Mas dizer que a acção administrativa deve obediência ao princípio da justiça (art. 266º/2) o que significa na prática?
Tem o sentido de obrigar a Administração a ponderar o conjunto de valores que, em cada momento, emanam da dignidade humana e
que dão um acréscimo de juridicidade à decisão administrativa, para além dos outros princípios a que a Administração está sujeita
A violação do princípio da justiça acarreta a invalidade do acto administrativo
VI - Princípio da imparcialidade
53. Princípio da imparcialidade.
Princípio da imparcialidade determina que a Administração trate de forma «imparcial todos quantos com ela entrem em relação» (art. 6º do
Código do Procedimento administrativo) impõe aos titulares dos órgãos da Administração Pública o dever de actuar de forma isenta, correcta,
equidistante, acima dos interesses em presença, analisando todos os interesses, tudo vertendo na decisão. O princípio comporta duas vertentes:
Vertente negativa o princípio introduz a ideia de que os titulares de órgãos e agentes da Administração estão impedidos de intervir
em procedimentos administrativos, ou em acto ou contrato de direito público ou privado, em que se discutam interesses pessoais,
familiares ou de pessoas com quem tenham relações de proximidade pretende-se com este impedimento evitar que se suspeite da
correcção ou isenção da sua conduta no procedimento que irá ter lugar (Código do Procedimento Administrativo prevê um conjunto de
garantias de imparcialidade - arts. 44º-51º) O Código distingue situações de:
Impedimento, mais graves titulares dos órgãos ou os agentes administrativos devem considerar-se impedidos verificada
que for a situação de impedimento (art. 44º)
Suspeição, menos graves titulares dos órgãos ou agentes administrativos têm o direito de pedir escusa de intervenção
no procedimento e particulares têm o direito de opor suspeição e pedir substituição do titular do órgão ou agente (art. 48º)
Vertente positiva o princípio impõe aos titulares dos órgãos ou agentes que ponderem exaustivamente todos os interesses em
presença, isto é, procurem detectar todos os interesses com relevo para a decisão e, de seguida, os ponderem, um a um, com o mesmo
grau de rigor comparativo entende-se que um rigor de ponderação de um interesse e menor ponderação de outro introduz factores de
parcialidade na análise procedimental e vicia a decisão administrativa ou o juízo administrativo que seja feito sobre uma situação
Povo: substracto humano do Estado: é a comundade de pessoas, homens e mulheres livres: se não existe um povo não há organização política
Cidadania: qualidade de ser cidadão, membro do Estado, sujeito do seu poder e destinatário das suas normas
Critérios de aquisição de cidadania: originária e derivada: cidadãos originários e derivados têm estatutos jurídicos diferentes
Cidadania e Nacionalidade são distintos: Nacionalidade pode ser atribuida a pessoas colectivas e coisas, Cidadania apenas a pessoas físicas
Porque existe cidadãos?: ideia de criação de identidade (criar dois grupos: Nós e os Outros) e compromisso com um projecto político
Poder político: ligado ao conceito de soberania mas distinto da definição de soberania clássica: procura satisfazer exigências colectivas
Poder político originário: poder de uma sociedade se auto-instituir com autoridade própria, dando a si própria uma Constituição
Território: espaço sobre o qual exerce a sua jurisdição; espaço de vigência do ordenamento jurídico do Estado
Território é delimitado por fronteiras terrestes e engloba águas territoriais, a ZEE, fundos marinhos contíguos e espaço aéreo
Características do território: a indivisibilidade, a inalienabilidade e a exclusividade
Estado é uma entidade jurídica: pessoa colectiva, com direitos e deveres: personalidade jurídica acentua a subordinação do Estado ao Direito
Fins do Estado: Justiça; Segurança; Bem-estar e Sustentabilidade
Estado de Direito: desenvolvimento de uma acção com uma intencionalidade política que tem no direito o seu fundamento, limite e critério
Político: individuo, aquele que luta pelo poder ou exerce o poder e quer manter esse poder
Política: acto, luta por aceder ao poder e, uma vez obtido, exercê-lo e mantê-lo
Políticas públicas: programas de acção ordenados estrategicamente a finalidades e objectivos que se cumprem através do poder
Abade de Sieyès defendia uma distinção entre dois tipos de poderes do Estado: Poder Constituinte e Poder Constituido
Constituinte: o poder que elabora a Constituição; Constituídas: o poder que tem o seu fundamento na Constituiçao
Funções do Estado: Funções primárias (poder supremo, só depende da Constituição) e funções secundárias (poder dependente)
Funções Primárias: têm um dever de conformidade com a Constituição, mas são independentes dentro do seu ordenamento jurídico
Função Política (Governativa): acto político é um acto que só produz efeitos na esfera do Estado (ex:demissão do Governo)
Função Legislativa: um acto legislativo visa vincular todos os sujeitos jurídicos (ex: lei; lei constitucional)
Funções Secundárias: são dependentes do legislador, só podem fazer aquilo que for permitido ou previsto pela lei (Constituição)
Função Administrativa: satisfação de necessidades colectivas previstas pela lei
Função Jurisdicional: resolução de litígios; administração da justiça: ex: decisão de um tribunal: sentença
Órgãos do Estado: entidades puramente jurídica; centros aos quais a lei admite que possam exercer poder; integram-se em pessoas colectivas
Estado: pessoa colectiva que precisa de órgãos para funcionar: não se confundam órgãos com os seus titulares
Estado Português é composto por quatro órgãos de soberania: Presidente da República, Assembleia da República, Governo, Tribunal
Para além dos órgãos de soberania, existe uma infinidade de órgãos: órgãos legislativos, políticicos, administrativos, judicias
Classificação dos órgãos: colectivo ou singular, simples ou complexo
Como se designam os titulares dos órgãos: eleição, nomeação, cooptação, inerência, sucessão, sorteio ou aquisição revolucionária
Actos de Estado: existem quatro tipos de actos do Estado: Actos Políticos, Legislativos, Jurisdicionais e Administrativos
Acção do Estado: através de actos jurídicos formais (acto normativo que institui o Estado), normativos ou não normativos
Actividade normativa primária: exercício da função legislativa: ex: leis da Assembleia, decretos-lei do Governo
Actividade normativa secundária: exercício da função administrativa: ex: decretos-regulamentares, portarias, despachos normativos
Actividade normativa de direito internacional: competência para negociar, ajustar ou aprovar acordos ou convenções internacionais
Contratos: acordos de vontades entre sujeitos de direito: podem ser contratos bilaterais (multilaterais) ou contratos de direito privado
Actos jurídicos unilaterais (não normativo): traduzem vontade dos órgãos políticos ou administrativos para situação individual e concreta
Estado de Direito: dispõe de mecanismo de defesa do direito e da lei democraticamente aprovada contra quem a incumpre
Em caso de incumprimento: Tribunal Constitucional recorre a sua fiscalização preventiva
Provedor de justiça: órgão independente que exerce um magistério de autoridade para reparar injustiças contra acção dos poderes públicos
Defesa da legalidade democrática: empreendida pelo Ministério Público: «advogados do Estado»: representa o Estado, em sentido amplo
Séx. XX: afastamento do tradicional sistema de actuação do Estado: surge Direito Administrativo: Estado mais controlador do que empreendedor
Nova centralidade de actuação administrativa: parcerias público-privadas (Ministério das Finanças): empresas privadas para obras públicas, ect
Através das parcerais público-privadas: procura-se ultrupassar dificuldades financeiras e fomentar cooperação entre Estado e comunidade
A complexidade que hoje caracteriza a realidade social: normas não conseguem prever todas as situações: surgem príncipios jurídicos
Isto não significa que o Estado se afaste do direito princípio da obediência à lei formal dá lugar à obediência aos princípios gerais de direito
Os princípios gerais da contratação pública são os seguintes:
princípio da prossecução do interesse público: só o interesse público justifica a elaboração de um contrato
princípio da legalidade: todos os contratos têm de possuir base legal
princípio da autonomia contratual: as entidades públicas têm poder de conformar os contratos, sem sujeição a um elenco taxativo
princípio da boa fé: as partes, públicas e privadas, estão obrigadas a uma conduta ética, seguindo padrões de rectidão
Os princípios relativos à formação dos contratos públicos:
princípio da procedimentalização da actividade administrativa forma de racionalizar a acção administrativa
princípio da igualdade: impõe a proibição do arbítrio, a proibição de discriminações infundadas; diferenciar o que é diferente
princípio da proporcionalidade: implica uma ideia de adequação, de necessidade e de proporcionalidade em sentido estrito
princípio da imparcialidade: implica que não se favoreça nem prejudique um qualquer concorrente
princípio da concorrência: implica que, no decurso do procedimento concursal, se não alterem as condições do concurso
princípio da participação: determina a abertura do procedimento à colaboração dos particulares
princípio da transparência: implica a disponibilização, por parte da Administração Pública, de toda a informação que possui
princípio da economia: implica a racionalização dos recursos, em razão da sua escassez
princípio da eficácia: implica que os fins sejam atingidos no tempo determinado para os alcançar
princípio da eficiência: implica que os fins sejam atingidos usando o mínimo de custos e não dando azo a efeitos prejudiciais
Os princípios relativos à execução dos contratos:
princípio da estabilidade: o objecto do contrato deve ser pontualmente mantido; só se tal não for possível
princípio do equilíbrio financeiro: a Administração Pública é obrigada a repor o equilíbrio financeiro quando o contrato é alterado
princípio do cumprimento pontual: todas as condições do contrato devem cumpridas nos prazos, sob pena de sanção
princípio da responsabilidade: a Administração Pública deve fiscalizar a observância do contrato, detectando situações de ilegalidade
Complexidade dos Estados Federados: Características: pluralidade de poderes políticos; pluralidade de cidadanias; dever de garantir a existência
dos Estados Federados em absoluta igualdade jurídica; existência de uma Câmara de Representantes; Estados Federados participam na
elaboração, aprovação e modificação da Constituição; Estado Federal rege relações internacionais; não existe possibilidade de desvinculação da
federação; Estados Federados são semi-soberanos
Limitação nas atribuições federais: federalismo clássico e federalismo cooperativo
Classificação: Federações Perfeitas ou Federações Imperfeitas; Federações de Grau único ou Duplo Grau
Constituição Federal: responsáveis pela criação de um sistema jurídico muito complexo: supremacia da Constituição federal
Conceito de Região Autónoma: pessoa colectiva de direito público, de população e território, dotado pelo Estado (através da Constituição) de
autonomia administrativa, política e legislativa, tendo em vista a prossecução de fins próprios do seu substrato humano, sendo para o efeito dotada
de um estatuto e de órgãos de governo próprio, no direito constitucional português: têm estatuto político-administrativo das Regiões Autónomas
Poderes das Regiões Autónomas: Poder Político e Legislativo; Poder Administrativo
Órgãos das Regiões Autónomas: Assembleia Legislativa Regional; Governo Regional; Representante da República
Formas de Governo Monarquia (soberania reside no Chefe de Estado) e República (soberania reside no povo)
PARTE III: OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DO ESTADO DE DIREITO: PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DA REPÚBLICA PORTUGUESA
Geração dos Direitos dividem-se/agrupam-se em três gerações, conforme as etapas/épocas históricas em que foram declarados:
Direitos da 1ª Geração direitos fundamentais: liberdade e igualdade; direito à vida; propriedade privada; constituir familia.
Direitos da 2ª Geração direitos políticos: direito de voto; acesso a cargos públicos; liberdade de manifestação, de expressão
Direitos da 3ª Geração direitos económicos, sociais e culturais: direito à saúde, educação, trabalho, habitação
Direitos da 4ª Geração direitos de solidariedade, desenvolvimento sustentável, responsabilidade geracional
Direitos da 5ª Geração direitos de acesso à tecnologia e acesso à Internet
1469-1527 d.C. Nicolau Maquiavel: introduz conceito de «Estado»: comunidade política soberana
1483-1546 d.C. Lutero: Exclui vínculo entre papa e monarca: separação da Religião com o Poder Político
1530-1596 d.C. Jean Bodin: centralização do poder no monarca: introduz conceito de «soberania»
1588-1679 d.C. Thomas Hobbes: introdução da personalidade jurídica do Estado;
1632-1704 d.C. John Locke: Ideia de «Separação de Poderes» (assim como Montesquieu de 1689-1755)
1712-1778 d.C. Jean Jacques Rousseau
Séc. XVIII Periodo do «Iluminismo»: Era da razão
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