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PENAL

APLICAÇÃO DA LEI PENAL (Artigos 1º a 12 do Código Penal)

CLASSIFICAÇÃO DAS NORMAS PENAIS

NORMAS PENAIS INCRIMINADORAS: Possuem a função de definir as


infrações penais, proibindo ou impondo condutas, sob a ameaça de aplicação de
uma sanção penal. É a norma penal por excelência.

PRECEITO PRIMÁRIO (preceptum iuris): Possui a função de fazer a descrição


detalhada e perfeita da conduta que se procura proibir (proibitiva) ou impor
(mandamental).

PRECEITO SECUNDÁRIO (sanctio iuris): Possui a tarefa de individualizar a


pena, cominando em abstrato.

NORMAS PENAIS NÃO INCRIMINADORAS: Possuem algumas funções


específicas, tais como: Tornar lícitas determinadas condutas. Afastar a
culpabilidade do agente, estabelecendo causas de isenção de pena. Esclarecer
determinados conceitos. Fornecer princípios gerais para a aplicação da lei penal.

NORMAS PENAIS EM BRANCO (PRIMARIAMENTE REMETIDAS): As normas


penais em branco (primariamente remetidas) são aquelas em que: HÁ A
NECESSIDADE DE COMPLEMENTAÇÃO PARA QUE SE POSSA
COMPREENDERO ÂM BITO DE APLICAÇÃODE SEU PRECEITO PRIMÁRIO.

Pode ser de dois tipos:

NORMAS PENAIS EM BRANCO HOMOGÊNEAS: (EM SENTIDO AMPLO)


O seu complemento é oriundo da mesma fonte legislativa! Artigo 237 do Código
Penal E Artigo 1.521, incisos I a VII do CC/2002:
(Ambas são provenientes do Congresso Nacional)

NORMAS PENAIS EM BANCO HETEROGÊNEAS: (EM SENTIDO ESTRITO) -


O seu complemento é oriundo de fonte legislativa diversa! Artigo 28 da Lei n.º
11.343/2006 E Portaria 344/98 da ANVISA:
(A Lei n.º 11.343/2006 é oriunda do Congresso Nacional)
(A Portaria 344/98 da ANVISA é oriunda de uma Autarquia)

Lei Penal no Tempo: A lei penal começa a vigorar na data expressa em seu
bojo. Em caso de omissão, ela começa a vigorar quarenta e cinco dias após sua
publicação, no País, e em três meses no exterior (Vacância da Lei). A revogação
da Lei Penal se opera com a edição de nova lei, e sua revogação pode se efetivar
total (ab-rogação) ou parcialmente (derrogação). A lei penal pode ser temporária
(com prazo fixado de vigência), ou excepcional (criada para ser aplicada em
evento emergencial ou furtivo).

Tempo e Lugar do Crime: Segundo a Teoria da Atividade, o crime sempre é


cometido no momento da ação ou omissão, com a respectiva aplicação da lei
vigente. A lei penal brasileira utiliza dessa teoria, em conjunto com a teoria do
resultado (segundo a qual o crime é considerado cometido quando da produção
do resultado) e com a teoria da ubiqüidade (segundo a qual considera-se o crime
cometido, tanto no momento da ação ou omissão, quanto na produção do
resultado).

Lei Penal no Espaço: Segundo o princípio da territorialidade, a lei penal pátria


deve ser aplicada dentro do território nacional, respeitando-se os tratados e
convenções estrangeiras, quando existentes.

São considerados como parte do território nacional as aeronaves e embarcações


públicas, além das aeronaves e embarcações privadas. A Lei Penal Brasileira
será sempre aplicada em embarcações e aeronaves estrangeiras que estiverem
de passagem pelo território nacional.

Já o princípio da extraterritorialidade prevê a aplicação da Lei Penal Brasileira a


fatos criminosos praticados no estrangeiro, desde que cometidos contra o
representante do governo brasileiro, ou contra as instituições que compõem a
União, os Estados e os Municípios.

Aplica-se também a Lei Penal Brasileira nos atos praticados por, ou contra,
brasileiros no exterior, sem prejuízo das previsões contidas no artigo 7º do CPB.

Território Nacional: Todo espaço em que o Estado exerce sua soberania, ou


seja, 12 milhas a contar da faixa costeira, incluído o espaço aéreo
correspondente.

Extradição: São atos de entrega e custódia de agentes delituosos por países


que cooperam entre si na prevenção internacional do crime. As extradições
podem ser ativas (feitas pelo país requerente) e passivas (feitas pelo país
cedente).

Deportação e Expulsão: retirada obrigatória dos nacionais do estrangeiro, ou


de estrangeiros do território nacional, por imposição administrativa vinculada à
lei penal vigente.

Sentença Prolatada no Exterior: Uma vez sentenciado no exterior, o nacional


tem direito à atenuação da pena imposta em território nacional pela a pratica de
mesmo crime. Em caso de aplicação de pena mais severa que a brasileira, o
nacional fica isento de cumprimento de pena no nosso território.

Imputabilidade - Capacidade do agente de entender e de ser responsabilizado


penalmente. No caso de inexistência desta capacidade, o agente delituoso é
considerado inimputável.

Causas Dirimentes: São condições para aplicação da imputabilidade: a


menoridade, as doenças mentais e a embriaguez.

No caso da menoridade, aplica-se atualmente a legislação especial contida no


Estatuto da Criança e do Adolescente – Lei 8.069/90.
Já a embriaguez se divide em voluntária e culposa, preservando-se o caso
fortuito ou força maior, que, na prática da ação ou omissão, deixou o agente
inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato.

As doenças mentais são aquelas que impedem o agente de entender o caráter


ilícito da ação ou omissão.

CONCURSO DE PESSOAS (artigos 29 a 31 do CPB)

Aquele que, de qualquer modo, concorre para o crime incide na pena a este
cominada, na medida de sua culpabilidade.

O concurso de pessoas ocorre quando duas ou mais pessoas concorrem para a


prática de um mesmo crime.
Cada participante responde de acordo com sua participação no crime, o que
motiva a aplicação de penas diferenciadas.

Da Autoria: Autor é o sujeito que pratica a ação ou omissão delituosa.

A autoria é mediata, quando executada por terceiro não-culpável (menor, por


exemplo), em favor do autor que não executa o crime pessoalmente.

Da Co-Autoria e da Participação - O co-autor tem participação direta no sentido


de colaborar para a consumação do crime (nesse caso a colaboração é
consciente).

A participação se caracteriza pela concorrência exercida em favor do autor pelo


co-autor ou pelos co-autores.

O CPB pune de forma igualitária o autor, o co-autor e o partícipe de qualquer


delito, com a ressalva de aferição de culpabilidade.

DAS PENAS

No Direito Penal Brasileiro, a pena tem um caráter punitivo e preventivo. Sua


condição punitiva tem equilíbrio no dever de possibilitar a franca reabilitação do
agente condenado.

Espécies de Penas (artigos 32 a 58 do CPB): O artigo 32 do CPB estabelece


que as penas aplicáveis se concretizam em:
privativas de liberdade, restritivas de direito e penas de multa.

Penas Privativas de Liberdade: São medidas de cunho punitivo, aplicadas pela


prática de ilícitos criminais.

As Penas privativas de liberdade dividem-se em:

reclusão (com regimes de cumprimento de penas fechado, semi-aberto e aberto)


detenção (somente para os regimes semi-aberto e aberto).

O cumprimento de pena de reclusão se efetiva nas penitenciárias, as quais têm


por objetivo a tutela de presos condenados no regime fechado.

O regime semi-aberto pode ser cumprido nas penitenciárias comuns, agrícolas


ou similares.

Já o regime aberto deverá ser cumprido em albergues e delegacias (têm caráter


temporário).

Há ainda as penas privativas de liberdade em hospitais de Custódia (o


condenado que, durante o cumprimento da pena, manifestar doença mental
deve ser recolhido em hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico ou
estabelecimento adequado).

Regime Fechado – O condenado fica sujeito ao trabalho no período diurno,


conforme suas habilidades aferidas em exame criminológico, ficando em
isolamento durante o período noturno.

Regime Semi-aberto – O condenado fica sujeito ao trabalho em comum durante


o período diurno, podendo ainda trabalhar externamente e estudar durante o
período de cumprimento da pena.

Regime Aberto – O condenado tem direito ao trabalho e ao estudo fora do


estabelecimento de cumprimento de pena. Durante o período noturno, ele deve
permanecer recolhido, podendo ser transferido para regime mais severo de
cumprimento de pena, no caso de prática de crime doloso ou atentado direto
contra a execução da pena e multa acumulada.

Regime Especial - Reserva legal que beneficia as mulheres no cumprimento de


pena, as quais cumprem pena em estabelecimento penitenciário especial.

Das Penas Restritivas de Direito (Artigos 43 a 52): Dentre as penas restritivas


de direito encontram-se:
a prestação pecuniária, a perda de bens e valores, a prestação de serviços à
comunidade ou a entidades públicas, a interdição temporária de direitos e a
limitação de fim de semana.

Todas essas penas são autônomas e substituem as privativas de liberdade:

quando a pena máxima aplicada não for superior a quatro anos, ou igual ou
inferior a um ano.

A função social das penas restritivas de direito é a da substituição das penas


privativas de liberdade nos casos de crimes com pequeno poder ofensivo.

Prestação Pecuniária – É o pagamento em dinheiro à vítima, a seus


dependentes, ou a entidade pública ou privada, de valor não inferior a um salário
mínimo vigente, e limitado a trezentos e sessenta salários, valor este que poderá
ser abatido de eventual condenação à reparação na área cível.

Perda de Bens e Valores - É a perda de bens e valores dos condenados em


favor do Fundo Penitenciário Nacional, fixado no montante do prejuízo causado
ou no valor do provento obtido na prática delituosa.

Prestação de Serviços à Comunidade ou a Entidades Públicas - Aplicável


em toda condenação superior a seis meses de privação da liberdade. É a
atribuição de tarefas a serem executadas de forma gratuita à comunidade ou a
entidades públicas, de acordo com as aptidões do condenado, no tempo máximo
de uma hora por dia, sem prejuízo da jornada laboral do condenado.

Interdição Temporária de Direitos (Artigo 47) – Proibição do exercício de


cargo, função ou atividade pública, bem como do exercício de mandato eletivo,
além da possibilidade da suspensão da autorização para dirigir e da proibição de
frequência a determinados lugares.

Limitações de Finais de Semana (Artigo 48) – Obrigação de permanecer, aos


sábados e domingos, por cinco horas diárias em casa de albergado ou outro
estabelecimento adequado, onde poderão ser oferecidos ao condenado cursos,
palestras ou atividades educativas.

Da Pena de Multa (Artigos 49 a 52)

Multa (Artigo 49) – Consiste no pagamento de dias-multa ao Fundo


Penitenciário, sempre que fixada na sentença condenatória.

Seu valor é fixado em, no mimo, dez dias-multa e, no máximo, em trezentos e


sessenta dias-multa, valor este que não pode ser inferior a um trigésimo do
salário mínimo, nem superior a cinco vezes o salário vigente à época dos fatos.
A suspensão da multa ocorre no caso de o condenado vir a sofrer doença mental.

Da Aplicação da Pena (Artigos 59 a 76 do CPB)

Fixação da Pena (artigo 59) - No sistema brasileiro, o juiz deve adotar as


circunstâncias judiciais - as agravantes e as atenuantes -, bem como as causas
de aumento e diminuição da pena. Além disso, a pena deve zelar pela
reprovação e prevenção do crime. Na fixação da multa, deve ser respeitada a
situação econômica do réu.

Das Agravantes (Artigo 61) – Sempre agravam a pena: a reincidência, o motivo


fútil ou torpe e a ocultação; a impunidade ou vantagem de outro crime; a traição,
a emboscada e a simulação; o emprego de veneno, fogo, explosivo, ou tortura;
os crimes praticados contra ascendente, descendente, irmão ou cônjuge; o
abuso de poder; e o crime praticado contra: criança, maior de 60 anos, enfermo
ou mulher grávida.
Reincidência (Artigo 63) – considera-se como reincidência, o cometimento de
novo crime pelo período de 5 anos, depois de transitar em julgado a sentença
que, no País ou no estrangeiro, tenha condenado o autor por crime anterior.

Das Atenuantes (Artigo 65) – Sempre atenuam a pena: a menoridade do


agente na época do fato delituoso, bem como a idade superior a setenta anos
na data da sentença; o desconhecimento da lei; o crime cometido por relevante
valor social ou moral; a tentativa de evitar ou minorar as consequências do ato
delituoso; a confissão espontânea; a coação irresistível; o cumprimento de
ordem; e a violenta emoção.

MEDIDAS DE SEGURANÇA

São medidas aplicadas aos inimputáveis e semi-imputáveis que cometem um


delito penal com internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico e
na falta desse, em outro estabelecimento adequado ou sujeição a tratamento
ambulatorial.

Elas estão positivadas nos artigos 96 à 99 do código penal brasileiro. Cabe


ressaltar que o inimputável é isento de pena, conforme reza nosso código penal
em seu artigo 26 e parágrafo único: é isento de pena o agente que, por doença
mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da
ação ou da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou
de determinar-se de acordo com esse entendimento.

Parágrafo único: a pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em


virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito
do fato ou determinar-se de acordo com esse entendimento.

Logo, as Medidas de Segurança não são penas, e, sim, sanção penal de caráter
preventivo e curativo, pretendendo evitar que o autor de algo tido como infração
penal, inimputável ou semi-imputável, mostrando periculosidade, volte a cometer
outro delito penal.

EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE (Artigos 107 a 120 do CPB)

Extinção da Punibilidade (Artigo 107) – É direito do Estado punir, ou seja,


exercer a punibilidade. A legislação, no entanto, estabelece as situações que
impedem o Estado de exercer o poder de punir. Elas estão relacionadas nos
incisos do art. 107, e são:

Morte do agente (Artigo 107, inciso I) – A certidão de óbito expedida por


cartório competente, quando apresentada ao juiz, extingue a punibilidade em
favor do falecido (nesse caso, não vale o atestado de óbito, mas somente a
certidão de óbito).

Anistia, graça ou indulto (Artigo 107, inciso II) –


Anistia – origina-se em lei que exclui a existência do crime sem extinguir a
tipicidade, podendo ser própria (concedida antes da condenação); imprópria
(concedida após a condenação); plena e irrestrita (sem limitação dos efeitos de
sua extensão); parcial (com limitação dos efeitos de sua extensão); condicionada
(impõe condições); e incondicionada (sem a imposição de condições).

Graça – é concedida pelo Presidente da República ao indivíduo, não atingindo


a coletividade. A Graça extingue a punibilidade, mantendo os efeitos da falta de
primariedade.

Indulto – é concedido pelo Presidente da República ao coletivo, mantendo os


efeitos do crime e extinguindo a punibilidade.

Retroatividade de Lei – (Artigo 107, inciso III) – A criação de lei nova, que
deixa de considerar como crime conduta anteriormente considerada delituosa,
extingue a punibilidade pela aplicação do princípio do “abolitio criminis”, contido
no artigo 2º do CPB (que trata da lei penal no tempo).

Prescrição, decadência e perempção (Artigos 107, inciso IV)

Prescrição – Perda do direito de punir do Estado pela sua demora na condução


da Ação Penal. O Artigo 109 do CPB, relaciona os prazos de prescrição das
ações penais, levando em consideração a cominação máxima da pena a ser
aplicada. A prescrição pode acontecer também após a expedição de sentença
condenatória.

A prescrição da pena de multa ocorrerá em dois anos, quando a multa for a única
cominada ou aplicada.

São reduzidos à metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao


tempo do crime, menor, ou, na data da sentença, maior de setenta anos.

Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre enquanto


não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento
da existência do crime, e enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.

O curso da prescrição interrompe-se: pelo recebimento da denúncia ou da


queixa; pela pronúncia; pela decisão confirmatória da pronúncia; pela sentença
condenatória recorrível; pelo início ou continuação do cumprimento da pena; e
pela reincidência. Interrompida a prescrição, todo o prazo começa a correr,
novamente, do dia da interrupção.

Decadência - Perda do prazo para o oferecimento de queixa ou denúncia (seis


meses a partir do conhecimento da autoria), o que causa a perda do direito de
ação por parte do ofendido, extinguindo a punibilidade do autor da infração por
inamovibilidade das partes interessadas (ofendido ou Ministério Público). A
decadência não atinge o direito de requisição do Ministro da Justiça.
Perempção – Exclusiva da ação penal privada, a perempção acontece sempre
que, iniciada a ação penal, o querelante (ou autor da queixa-crime), deixar de
promover o andamento do processo durante trinta dias seguidos.

Renúncia do direito de queixa ou perdão (Artigo 107, inciso V)

Renúncia – Ato pelo qual o ofendido abdica do direito de oferecer queixa.


Independe da aceitação do autor do delito, e deve se exercido antes do início da
ação penal. Aplica-se à ação penal privada, podendo ser a renúncia expressa ou
tácita.

Perdão – Antes do trânsito em julgado da ação penal privada, o ofendido pode


exercer o perdão sobre o autor do fato delituoso. Efetiva-se por meio de
declaração expressa, necessitando do aceite do autor do fato delituoso.

Retratação do agente (Artigo 107, inciso VI) – Nos crimes de calúnia,


difamação, falso testemunho e falsa perícia, a punibilidade pode ser extinta
mediante o exercício da retratação expressa (apenas nos casos em que a lei
permite).

Perdão judicial – (Artigo 107, inciso IX) – Configurado o crime (de lesão
corporal culposa – sem intenção), pode o juiz conceder o perdão judicial. O
perdão pode ser concedido de ofício pelo juiz, ou em razão de requerimento feito
pelas partes.

DOS CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Conceito de funcionário público: antes de estudarmos o peculato, bem como


os demais crimes funcionais (arts. 312 a 326 do CP), é essencial que se defina
quem são, para fins penais, os funcionários públicos.

Perceba que o art. 312 do CP, apesar de fazer expressa menção ao termo, não
o conceitua e, sem esta definição, é inviável a incidência do dispositivo.

Trata-se, portanto, de norma penal em branco (homogênea e univitelina), que


encontra a sua complementação no próprio Código Penal, em seu art. 327, in
verbis:

Art. 327 - Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem,


embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou
função pública.

§ 1º – Equipara-se a funcionário público quem exerce cargo, emprego ou


função em entidade paraestatal, e quem trabalha para empresa prestadora de
serviço contratada ou conveniada para a execução de atividade típica da
Administração Pública.

São considerados funcionários públicos, para fins penais, quem exerce cargo,
emprego ou função pública.
cargos públicos: são as mais simples e indivisíveis unidades de competência
a serem expressadas por um agente, previstas em um número certo, com
denominação própria, retribuídas por pessoas jurídicas de direito público e
criadas por lei.

Empregos públicos: são núcleos de encargos de trabalho a serem


preenchidos por agentes contratados para desempenhá-los, sob relação
trabalhista.

funções públicas: são as funções de confiança e as exercidas pelos agentes


públicos contratados por tempo determinado para atender a necessidade
temporária de excepcional interesse público.

Importante ressaltar que, ainda que a função pública seja


exercida transitoriamentee sem remuneração, poderá o agente ser
considerado funcionário público para fins penais.

Por isso, jurados e mesários eleitorais não estão afastados do conceito.

No parágrafo primeiro do art. 327, temos as figuras equiparadas a funcionário


público: quem exerce cargo, emprego ou função em paraestatal, bem como
quem trabalha para empresa prestadora de serviço contratada ou conveniada
para a execução de atividade típica da Administração Pública.

A inclusão do § 1o se deu com a Lei 9.983/00, constituindo verdadeira novatio


legis incriminadora, pois ampliou o rol dos funcionários públicos para fins
penais.

Quanto às paraestatais a expressão abrange pessoas privadas que colaboram


com o Estado desempenhando atividade não lucrativa e à qual o Poder Público
dispensa especial proteção, colocando a serviço delas manifestações de seu
poder de império, como o tributário, por exemplo.

Não abrange as sociedades de economia mista e empresas públicas; trata-se


de pessoas privadas que exercem função típica (embora não exclusiva do
Estado), como as de amparo aos hipossuficientes, de assistência social, de
formação profissional (SESI, SESC, SENAI).

Por fim, as empresas prestadoras de serviços contratadas para a execução de


atividade típica da Administração Pública são as empresas particulares
responsáveis pela execução de serviços públicos por delegação estatal,
mediante concessão, permissão ou autorização.

É o que ocorre, a título ilustrativo, com o transporte coletivo, com a coleta de


lixo e com as empresas funerárias.

Exemplificativamente, o empregado de uma empresa privada, concessionária


de serviço público, que subtrai, para proveito próprio, valores destinados à
realização de serviços públicos responde por peculato furto (CP, art. 312, §
1.º), e não por furto (CP, art. 155), uma vez que, para fins penais, é equiparado
a funcionário público

Agentes políticos: membros do Poder Executivo e do Poder Legislativo, em


qualquer dos entes federativos, e do Poder Judiciário e do Ministério Público,
no âmbito federal ou estadual são considerados funcionários públicos para fins
penais.

Múnus público: não são funcionários públicos aqueles que exercem o


intitulado múnus público, ou seja, o encargo ou ônus conferido pela lei e
imposto pelo Estado em determinadas situações a algumas pessoas, como,
por exemplo, os inventariantes judiciais, os curadores e tutores dativos, os
leiloeiros dativos etc.

Estagiário: estagiário de órgão público que, valendo-se das prerrogativas de


sua função, apropria-se de valores subtraídos do programa bolsa-família
subsume-se perfeitamente ao tipo penal descrito no art. 312, § 1º, do Código
Penal – peculato-furto –, porquanto estagiário de empresa pública ou de
entidades congêneres se equipara, para fins penais, a servidor ou funcionário
público, lato sensu, em decorrência do disposto no art. 327, § 1º, do Código
Penal. (STJ, REsp 1303748/AC, Relator Ministro Sebastião Reis Júnior, j.
25.06.2012).

Advocacia dativa estabelecida por convênio: o advogado que, por força de


convênio celebrado com o Poder Público, atua de forma remunerada em defesa
dos agraciados com o benefício da Justiça Pública, enquadra-se no conceito
de funcionário público para fins penais.(STJ, RHC 17321/SP, Relator Ministro
Félix Fischer, j. 28.6.2005).

Escrevente de cartório notarial: o agente que desempenha a função de


escrevente em cartório de serviços notariais e de registros. Para fins penais é
considerado funcionário público, ainda que contratado sob a égide do regime
celetista. (TJSP, Ap. Crim. 11615903000, Rel. Des. Ribeiro dos Santos, p.
30/5/2008).

Causa de aumento de pena: segundo o § 2º do art. 327, a pena será


aumentada da terça parte quando os autores dos crimes previstos neste
Capítulo forem ocupantes de cargos em comissão ou de função de direção ou
assessoramento de órgão da administração direta, sociedade de economia
mista, empresa pública ou fundação instituída pelo poder público.

Extraterritorialidade: os crimes funcionais praticados no exterior serão


submetidos à lei brasileira, ainda que o agente tenha sido absolvido no exterior
(extraterritorialidade incondicionada), por força do que dispõe o
art. 7o do Código Penal.
Concurso de pessoas: segundo o CP, em seu art. 30, ao regular o concurso
de pessoas, não se comunicam as circunstâncias e as condições de caráter
pessoal, salvo quando elementares do crime.
Nos crimes funcionais, por ser a condição de funcionário público elementar do
tipo penal, ela se comunica ao particular que, de qualquer modo, tiver ciência
da condição funcional, tiver concorrido para a prática do delito.

Os crimes Funcionais são:

1) Art. 312 – Do Peculato;


2) Art. 313 – Do Peculato mediante erro de outrem;
3) Art. 313 -A – Inserção de dados falsos em sistema de informações;
4) Art. 313-B – Modificação ou alteração não autorizada de sistema de
informações;
5) Art. 314 – Extravio, sonegação ou inutilização de livro ou documento;
6) Art. 315 – Emprego irregular de verbas ou rendas públicas;
7) Art. 316 – Concussão;
8) Art. 317 – Corrupção passiva;
9) Art. 318 – Facilitação de contrabando ou descaminho;
10) Art. 319 – Prevaricação;
11) Art. 320 – Condescendência criminosa;
12) Art. 321 – Advocacia administrativa;
13) Art. 322 – Violência arbitrária;
14) Art. 323 – Abandono de função;
15) Art. 324 – Exercício funcional ilegalmente antecipado ou prolongado;
16) Art. 325 – Violação de sigilo funcional;
17) Art. 326 – Violação do sigilo de proposta de concorrência.

PECULATO – CP 312:

Vem de peculatu – pecus: gado – em certa época foi o gado a base das
fortunas.

1. Bem jurídico. patrimônio público e probidade administrativa.

2. Sujeitos.

a) Ativo: funcionário público, sendo admissível o concurso com o particular.

b) Passivos: União, Estados-membros, Distrito Federal, municípios e demais


pessoas jurídicas mencionadas no artigo 327, §1º.

3. Tipo objetivo. Apropriação ou desvio de bem móvel ou qualquer outro valor,


público ou particular, de que o agente detenha a posse, em razão do cargo.

O objeto material do crime de peculato é dinheiro, valor ou qualquer outro bem


e deve ser coisa corpórea

4. Tipo subjetivo. O dolo e o elemento subjetivo do tipo, consistente no especial


fim de obter proveito próprio ou alheio.
Análise do núcleo do tipo: são duas as condutas típicas previstas:
1) PECULATO-APROPRIAÇÃO: “Apropriar-se o funcionário público de
dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem
a posse em razão do cargo....”

Apropriar-se é fazer sua a coisa de outra pessoa, invertendo o ânimo sobre o


objeto. O funcionário tem a posse do bem, mas passa a atuar como se fosse
seu dono.

Ademais, o funcionário público deve ter a posse em razão do cargo.

A expressão “posse”, nesse crime, abrange também a detenção e a posse


indireta.

A posse deve ter sido obtida de forma lícita.

2) PECULATO-DESVIO: “... ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio”.

3) PECULATO-FURTO: Artigo 312, § 1º do CPB: também chamado de


“PECULATO IMPRÓPRIO”.

OBS: O bem do particular tem que estar sob o domínio do Estado.

4)PECULATO CULPOSO: Artigo 312, § 2º do CPB.

CAUSA DE EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE OU DE REDUÇÃO DA PENA:


Artigo 312, § 3º do CPB.

Efeito da reparação do dano no peculato doloso não extingue a punibilidade;


se a reparação for feita antes da denúncia por ato voluntário do agente: a pena
será reduzida de 1/3 a 2/3: hipótese de arrependimento posterior( artigo 16 do
CPB );

se após o recebimento da denúncia e antes da sentença de 1ª Instância:


atenuante genérica do artigo 65, III, b, do CPB, se após a sentença e antes do
acórdão – artigo 66 do CPB.( ATENUANTE INOMINADA OU DA CLEMÊNCIA.

5) PECULATO-USO: Se for bem fungível, há peculato: funcionário que usa


dinheiro público para comprar apartamento: crime consumado, mesmo que
depois reponha aos cofres públicos; se for infungível não há crime:

Ex: funcionário que usa um trator público em sua casa e depois devolve.

Pena: reclusão de 02 a 12 anos e multa.


Ação Penal: pública incondicionada.
Concurso de pessoas: É admissível, segundo a regra do artigo 30 do CP.
Elemento normativo do tipo: “valer-se de facilidade proporcionada pela
qualidade de funcionário”.

Aplicação da defesa preliminar: Artigo 514 do CPP – “Nos crimes afiançáveis,


estando a denúncia ou queixa em devida forma, o juiz mandará autuá-la e
ordenará a notificação do acusado, para responder por escrito, dentro do prazo
de quinze dias”.

Crimes afiançáveis: artigo 323, I do CPP. Todos os delitos praticados por


funcionários públicos contra a Administração Pública em geral, são afiançáveis,
exceto, artigo 316, § 1º do CPB – EXCESSO DE EXAÇÃO e artigo 318 do CPB
– FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO .

6) PECULATO MEDIANTE ERRO DE OUTREM: CP artigo 313.

Conduta típica: Apropriar-se de dinheiro ou qualquer utilidade que, no exercício


do cargo, recebeu por erro de outrem.

Pena: reclusão, de um a quatro anos, e multa.

Cuida-se aqui do chamado peculato-estelionato.

1. Bem jurídico. Tutela-se a Administração Pública, no aspecto material e


moral.

2. Sujeitos:

a) Ativo: É o funcionário público. Trata-se de crime próprio. O particular pode


ser partícipe do fato, respondendo pelo crime. Exemplo: Se um funcionário, por
um equívoco, recebe determinada quantia de um contribuinte e pensa restituí-
la, no que, entretanto, é desaconselhado por um amigo, não funcionário,
acabando por dividirem entre si o dinheiro, há concurso.

b) Passivo: Direto é o Estado. De forma secundária, também o indivíduo que


sofreu a lesão patrimonial.

INSERÇÃO DE DADOS FALSOS EM SISTEMA DE INFORMAÇÕES – CP


313-A

1. Bem jurídico. interesse em preservar o patrimônio público e garantir o


respeito à probidade administrativa.

2. Sujeitos:

a) Ativo: funcionário público, sendo admissível o concurso com particular. É


necessário que seja praticado por funcionário detentor de senha, senão aplica
o crime de falsidade ideológica.
b) Passivos: União, Estados-membros, Distrito Federal, municípios e as demais
pessoas mencionadas no artigo 327, §1º. Secundariamente, o particular que
sofreu o dano.

3. Tipo objetivo. Inserir ou facilitar a inserção de dados falsos, alterar ou excluir


indevidamente dados corretos nos sistemas informatizados ou bancos de
dados da Administração Pública com o fim de obter vantagem indevida para si
ou para outrem ou para causar dano.
4. Tipo subjetivo. O dolo e o elemento subjetivo especial do tipo, fim especial
de agir, consubstanciado na expressão com o fim de obter vantagem indevida
para si ou para outrem ou para causar dano.

5. Consumação. por se tratar de crime formal, ocorre com a concreção de


qualquer uma das condutas, não se exigindo a obtenção da vantagem indevida
nem que haja o dano almejado (exaurimento).

6. Pena e Ação penal. A pena é de dois a doze anos de reclusão, além da


multa, e a ação é pública incondicionada.

MODIFICAÇÃO OU ALTERAÇÃO NÃO AUTORIZADA DE SISTEMA DE


INFORMAÇÕES – CP 313-B

1. Bem jurídico. O interesse em se preservar o normal funcionamento da


Administração Pública, especialmente o seu patrimônio e o do administrado,
bem como assegurar o prestígio que deve gravitar em torno dos atos daquela.

2. Sujeitos.

a) Ativo: funcionário público, sendo admissível o concurso como particular.

b) Passivos: União, Estados-membros, Distrito Federal, municípios e demais


pessoas mencionadas no artigo 327, §1º, bem como o particular que sofreu o
dano.

3. Tipo objetivo. Modificar ou alterar sistema de informações ou programa de


informática sem autorização ou solicitação de autoridade competente.

4. Tipo subjetivo. O dolo.

5. Consumação. Por se tratar de crime formal, dá-se no momento da concreção


de qualquer uma das condutas, não se exigindo a superveniência de dano, que,
no caso, qualifica o crime.

EXTRAVIO, SONEGAÇÃO OU INUTILIZAÇÃO DE LIVRO OU DOCUMENTO


– CP 314

1. Análise do núcleo do tipo. As condutas previstas são extraviar, sonegar e


inutilizar e podem ser realizadas total ou parcialmente, o que torna mais difícil
a configuração da tentativa, já que a inutilização parcial de um documento
constitui delito consumado, em face da descrição típica.

2. Sujeitos

a) Ativo: somente o funcionário público.

b) Passivo: o Estado e, secundariamente, a entidade de direito público ou outra


pessoa prejudicada.
3. Elemento subjetivo. Dolo, não se exige elemento subjetivo nem se pune a
forma culposa.

4. Objetos material e jurídico. Objeto material é o livro oficial ou outro


documento e o objeto jurídico é a administração pública.

EMPREGO IRREGULAR DE VERBAS OU RENDAS PÚBLICAS – CP 315

1. Análise do núcleo do tipo. A conduta consiste em dar aplicação, e tem como


objeto as verbas ou rendas públicas.

2. Sujeitos:

a) ativo: funcionário público.

b) passivo: o Estado, secundariamente, a entidade de direito público


prejudicada.

3. Elemento subjetivo do tipo. Dolo, não se exige elemento subjetivo específico,


nem se pune a forma culposa.

4. Objetos material e jurídico. Objeto material é a verba ou a renda pública,


objeto jurídico é a administração pública, em seus interesses patrimonial e
moral.

CONCUSSÃO – CP 316

1. Análise do núcleo do tipo. A conduta consiste em exigir, que significa ordenar


ou demandar, havendo um aspecto nitidamente impositivo na conduta.

2. Sujeitos

a) ativo: somente o funcionário público.

b) passivo: Estado e, secundariamente, a entidade de direito público ou a


pessoa diretamente prejudicada.

3. Elemento subjetivo do tipo. Dolo, exige-se o elemento subjetivo específico,


consistente em destinar a vantagem para i ou para outra pessoa. Não existe
forma culposa.

4. Objetos material e jurídico. Objeto material é a vantagem indevida e objeto


jurídico é a administração púbica (aspectos material e moral).
Não se admite tentativa.

EXCESSO DE EXAÇÃO – CP 316 §§1º E 2º

Exação é a cobrança pontual de impostos. Pune-se o excesso, sabido que o


abuso de direito é considerado ilícito.
Assim, quando o funcionário público cobre imposto além da quantia
efetivamente devida, comete o excesso de exação.

1. Análise do núcleo do tipo. Há duas formas para compor o excesso de exação:


a) exigir o pagamento de tributo ou contribuição sindical indevidos; b) empregar
meio vexatório na cobrança.

2. Elemento subjetivo do tipo. Dolo, nas modalidades direta e indireta. Não há


elemento subjetivo do tipo, nem se pune a forma culposa.

3. Elemento normativo do tipo. Meio vexatório é o que causa vergonha ou


ultraje; gravoso é o meio oneroso ou opressor.

4. Objetos material e jurídico. O objeto material é o tributo ou a contribuição


social. O objeto jurídico é a administração pública (interesses material e moral).

CORRUPÇÃO PASSIVA – CP 317

1. Crime comum ou militar. A corrupção passiva está tipificada tanto no direito


penal ordinário (art. 317 do CPB) quanto no direito penal militar (art. 308 do
CPM)

2. Análise do núcleo do tipo. O tipo penal descrito no art. 317 do CPB é


composto por três verbos: solicitar, receber, aceitar. Diz respeito ao indivíduo
que solicita, recebe ou aceita promessa de vantagem indevida.

3. Corrupção própria. Quando o servidor ou funcionário público solicita, recebe


ou aceita promessa de vantagem indevida em razão de um ato ilícito.

4. Corrupção imprópria. Quando o servidor ou funcionário público solicita,


recebe ou aceita promessa de vantagem indevida em função de praticar um
ato lícito.

5. Corrupção antecedente. Quando o pedido de retribuição é feito antes da


realização do ato, configura-se a corrupção a priori.
6. Corrupção subseqüente. Quando o pedido de retribuição é feito após a
realização do ato.

7. Delito bilateral. Nos crimes cometidos por particulares contra a


Administração Pública (crime de Corrupção ativa - previsto no art. 333 do CP),
se o particular oferece ou promete vantagem indevida ao funcionário ou
servidor público e este a recebe, temos aí o que se chama de delito bilateral; é
a combinação simultânea da Corrupção ativa com a corrupção passiva. O delito
bilateral é exceção à teoria monista ou unitária do Direito Penal, consiste na
teoria pluralística.

8. Causa de aumento de pena. Está prevista no §1º do art. 317 do CP, configura
a chamada corrupção exaurida (A pena é aumentada de um terço, se, em
conseqüência da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou deixa de
praticar qualquer ato de ofício ou o pratica infringindo dever funcional).

9. Pena. A corrupção passiva é punida com reclusão, de 2 a 12 anos, e multa.


Pena determinada pela Lei 10.763/03.

10. Corrupção Passiva Privilegiada: Se o funcionário pratica, deixa de praticar


ou retarda ato de ofício, com infração do dever funcional, cedendo a pedido ou
influência de outrem, a pena é detenção, de 3 meses a 1 ano, ou multa.

11. Ação Penal. Ação Penal Pública incondicionada

Não se admite Tentativa

DA FACILITAÇÃO DE CONTRABANDO OU DESCAMINHO – CP 318

1. Conduta típica. É a facilitação com violação do dever funcional do


descaminho ou contrabando.

Para configurar a prática do delito previsto no art. 318 do CP, é necessário que
o funcionário público esteja investido na função de fiscalizar a entrada e a saída
de mercadorias do território nacional.

2. Contrabando. É a importação ou exportação de mercadorias cuja


comercialização seja proibida.

3. Descaminho. É a importação ou exportação de mercadorias cuja


comercialização seja legalmente permitida com a ocorrência de fraude no
pagamento de tributos.

4. Competência. Pelo disposto no art. 144 da CF/88, julgar pessoas incursas


na prática do presente delito é de competência da justiça federal, sendo a
polícia federal a competente para efetuar as prisões.

DA PREVARICAÇÃO – CP 319

Do latim praevaricare que significa faltar com os deveres do cargo

1. Objeto jurídico. Proteger o prestígio da Administração Pública

2. Sujeito

a) Ativo. Funcionário público no exercício da função

b) Passivo. O Estado

3. Análise do núcleo do tipo. "Retardar ou deixar de praticar, indevidamente,


ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer
interesse ou sentimento pessoal".
O tipo penal tem seu núcleo composto por 3 verbos: retardar, deixar de praticar,
praticar.

4. Classificação. Crime próprio - somente pode ser praticado por funcionário


público, se retirada a qualidade o fato torna-se atípico.

5. Elemento subjetivo do tipo. É o dolo, ou seja a vontade específica de


prevaricar. O interesse pessoal está ligado ao sentimental.

6. Diferença entre a prevaricação comum e a militar. A prevaricação comum


está prevista no art. 319 do CP e é punida com pena de detenção de 3 meses
a 1 ano mais multa, sendo aplicada a normatização prevista na lei 9099/95.

A prevaricação militar está prevista no art. 319 do CPM e é punida com pena
de 6 meses a 2 anos. Verifica-se então que a diferença principal entre as duas
tipificações do delito está na pena aplicada.

7. Ação penal. Pública incondicionada

DA CONDESCENDÊNCIA CRIMINOSA – CP 320

1. Definição jurídica. A condescendência criminosa consiste em "deixar o


funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que cometeu
infração no exercício do cargo ou, quando lhe falte competência, não levar o
fato ao conhecimento da autoridade competente, punível com pena de
detenção, de 15 (quinze) dias a 1 (um) mês, ou multa".

A terminologia é imprópria porque não se trata apenas do fato de um


funcionário público ser condescendente com outro que tenha tido conduta
criminosa mas também, se aquele tiver cometido qualquer falta disciplinar.

A condescendência criminosa é praticada pelo funcionário público que, por


indulgência, benevolência ou tolerância, deixa de responsabilizar subalterno
hierárquico que tenha cometido crime, contravenção penal ou qualquer falta
disciplinar.
Também comete o delito em estudo o funcionário público que, embora não seja
superior hierárquico daquele que tenha cometido crime, contravenção penal ou
qualquer falta disciplinar, deixa de levar o fato ao conhecimento da autoridade
competente para puni-lo.

2. Bem jurídico. A Administração Pública

3. Sujeitos

a) ativo. Funcionário público

b) passivo. O Estado

4. Tipo subjetivo. Indulgência, benevolência ou tolerância; no Direito Penal


Militar além disso, a negligência.
5. Condutas típicas

Deixar o funcionário, por indulgência, de responsabilizar subordinado que


cometeu infração no exercício do cargo;

Deixar o funcionário, por indulgência, de levar ao conhecimento de autoridade


competente para punir, o fato de que outro funcionário público tenha cometido
infração no exercício do cargo, evitando assim que o infrator seja
responsabilizado.

6. Consumação. Com a omissão

7. Tentativa. Inadmissível porque o delito é omissivo próprio.

ADVOCACIA ADMINISTRATIVA – CP 321

1. Definição jurídica. O termo advocacia é impróprio e indevido pois nada tem


a ver com a função do advogado.

O delito consiste em "patrocinar, direta ou indiretamente, interesse privado


perante a administração pública, valendo-se da qualidade de funcionário;
punível com pena de detenção, de 1 (um) a 3 (três) meses, ou multa.

Se o interesse é ilegítimo a pena é de detenção, de 3 (três) meses a 1 (um)


ano, além da multa".

2. Análise do núcleo do tipo. O verbo núcleo do tipo é patrocinar, significa


proteger ou beneficiar.

É a figura do funcionário público relapso que relega seu serviço a um segundo


plano e passa a defender interesses privados, legítimos ou ilegítimos, ante a
Administração Pública.

3. Sujeitos
a) ativo. Funcionário público

b) passivo. A Administração Pública

4. Desnecessidade de ser advogado. Tendo em vista que o funcionário público


é impedido de exercer a advocacia, é desnecessária a qualidade de advogado
ao autor para que o delito se configure.

VIOLÊNCIA ARBITRÁRIA – CP 322

1. Revogação do artigo 322 pela Lei de Abuso de Autoridade. GUILHERME


NUCCI crê estar revogado este tipo penal pela vigência da Lei 4.898/65, que
disciplinou, integralmente, os crimes de abuso de autoridade.
Assim, a violência praticada no exercício da função ou a pretexto de exercê-la
deve encaixar-se em uma das figuras previstas na referida lei, não havendo
mais necessidade de se utilizar o art. 322.

ABANDONO DE FUNÇÃO – CP 323

1. Definição jurídica. O delito consiste em "abandonar cargo público, fora dos


casos permitidos em lei; punível com pena de detenção, de 15 (quinze) dias a
1 (um) mês, ou multa.

Se do fato resulta prejuízo público a pena é de detenção, de 3 (três) meses a


1 (um) ano, e multa.

Se o fato ocorre em lugar compreendido na faixa de fronteira a pena é de


detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.

É o cidadão que investido em cargo público, por nomeação ou contratação,


abandona-o. No

2. O prazo do abandono. A lei não estabelece prazo mínimo para configuração


do abandono, basta haver prova da probabilidade de dano que o delito está
caracterizado.

Pela Lei 8112/90, constitui o abandono a ausência intencional por mais de trinta
dias consecutivos.

3. Elemento normativo do tipo. A expressão "fora dos casos permitidos em lei"


constitui o elemento normativo do tipo.

EXERCÍCIO FUNCIONAL ILEGALMENTE ANTECIPADO OU


PROLONGADO – CP 324

1. Análise do núcleo do tipo. Entrar no exercício significa iniciar o desempenho


de determinada atividade; continuar a exercê-la quer dizer prosseguir no
desempenho de determinada atividade. O objeto é a função pública.
2. Sujeitos.

a) ativo: somente funcionário público nomeado, porém sem ter tomado posse;
na segunda hipótese, há de estar afastado ou exonerado.

b) passivo: Estado.

3. Elemento subjetivo do tipo. É o dolo. Não se exige elemento subjetivo


específico, nem se pune a forma culposa. Na segunda figura, há apenas o dolo
direto. Inexiste forma culposa.

4. Elemento normativo do tipo. A expressão “sem autorização” indica a ilicitude


da conduta, ao passo que a continuidade do exercício, devidamente permitida
pela administração pública, não configura o tipo penal.
5. Objetos material e jurídico. O objeto material é a função pública e o objeto
jurídico é a administração pública, nos interesses material e moral.

VIOLAÇÃO DE SIGILO FUNCIONAL – CP 325

1. Análise do núcleo do tipo. Revelar significa fazer conhecer ou divulgar;


facilitar a revelação quer dizer tornar sem custo ou esforço a descoberta. O
objeto é o fato que deva permanecer em segredo.

2. Sujeitos

a) ativo: o funcionário público, abrangendo o aposentado ou em disponibilidade.

b) passivo: o Estado, secundariamente, a pessoa prejudicada com a revelação.

3. Elemento subjetivo do tipo. O dolo, não existe a forma culposa, nem se exige
elemento subjetivo do tipo específico.

4. Objetos material e jurídico. O objeto material é a informação sigilosa. O


objeto jurídico é a administração pública, nos interesses material e moral.

VIOLAÇÃO DO SIGILO DE PROPOSTA OU CONCORRÊNCIA – CP 326

Revogado pelo artigo 94 da Lei 8.666/93.

DO ABUSO DE AUTORIDADE

O ato de abuso de autoridade enseja tríplice responsabilização, a saber:


responsabilização administrativa, civil e criminal, sendo esta última o chamado
crime de abuso de autoridade. Entretanto, a lei nº 4.898/65 não é um diploma
exclusivamente criminal, senão vejamos: “Art. 1º O direito de representação e o
processo de responsabilidade administrativa civil e penal, contra as autoridades
que, no exercício de suas funções, cometerem abusos, são regulados pela
presente lei”.

No presente ensaio, no entanto, cuidar-se-á apenas dos aspectos criminais da


referida lei, sua interpretação e extensão à luz da jurisprudência do Superior
Tribunal de Justiça e do Supremo Tribunal Federal, sempre com o objetivo de
tentar compreender o instituto que é ainda recorrente nos tribunais brasileiros, a
despeito dos mais de vinte anos de nossa carta constitucional democrática.

2. NOTAS GERAIS SOBRE O CRIME DE ABUSO DE AUTORIDADE –


PRIMEIRAS LEITURAS DA JURISPRUDÊNCIA DO STJ E DO STF
Sujeito ativo é a autoridade pública para fins penais. Portanto, trata-se de crime
funcional, próprio, portanto, praticado por funcionário público que exerça cargo
de autoridade. Nesses termos é o disposto no art. 5º da lei em análise, vejamos:
“Considera-se autoridade, para os efeitos desta lei, quem exerce cargo, emprego
ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem
remuneração”.
Esse conceito de autoridade pública é o mesmo conceito de funcionário público
para fins penais do art. 327, caput, do Código Penal. Para Heleno Cláudio
Fragoso (2003, p.128): “Autoridade pública para fins penais é qualquer pessoa
que exerça uma função pública gratuita ou remunerada, permanente ou
ocasional, pertença ou não à Administração Pública”.

Dada a amplitude do referido conceito o mesário eleitoral, p.ex., enquadra-se na


definição e pode ser sujeito ativo do crime em tela. Em verdade, esse conceito
abrange vários cargos ou funções, razão pela qual podem não ser autoridades
para fins administrativos, constitucionais, et all., mas para fins penais, são
autoridades.

Entretanto, as pessoas que exerçam apenas múnus público não praticam a


referida conduta, pois não se enquadram no conceito de autoridades públicas.

O particular pode responder por abuso de autoridade desde que cometa o crime
juntamente com uma autoridade e, desde que, saiba da qualidade de autoridade
do comparsa.

Quanto ao sujeito passivo, esse é dúplice, a saber: a) Sujeito passivo imediato


ou principal – É a pessoa física ou jurídica que sofre a conduta abusiva.

Pessoa jurídica pode ser vítima de abuso de autoridade. Só que além desse
sujeito passivo principal ou imediato, temos um sujeito passivo mediato ou
secundário; b) Sujeito passivo mediato ou secundário – É o Estado. Porque o
abuso de autoridade significa sempre uma irregular prestação de serviço público.

O abuso de autoridade significa sempre uma irregular prestação de serviços


públicos. Ou seja, o abuso de autoridade sempre acarreta um prejuízo à
prestação dos serviços públicos. Portanto, o Estado é vítima do abuso de
autoridade também na medida em que o funcionário não está prestando o
serviço público. Não está representando o Estado corretamente.

Incapazes e estrangeiros também podem ser vítimas de abuso de autoridade.


Enfim, qualquer pessoa física, nacional ou estrangeira, capaz ou incapaz.

A própria autoridade pública, inclusive, pode ser vítima de abuso de autoridade.


Pessoas jurídicas de direito público ou privado também podem ser vítimas de
abuso de autoridade. Em suma, o crime de abuso de autoridade é crime de dupla
subjetividade passiva.

Há dois objetos jurídicos protegidos na Lei de Abuso de Autoridade, quais sejam:


a)Objeto jurídico principal ou imediato – É a proteção dos direitos e garantias
individuais e coletivos das pessoas físicas e jurídicas; b) Objeto jurídico
secundário ou mediato – É a normal e regular prestação dos serviços públicos.

Portanto, os crimes de abuso de autoridade pretendem proteger dois bens


jurídicos: os direitos individuais e coletivos e a regular prestação dos serviços
públicos. Portanto, esse crime é de dupla objetividade jurídica.
Esses crimes só são punidos na forma dolosa. Não existe abuso de autoridade
culposo. O dolo tem que abranger também a consciência por parte da autoridade
de que está cometendo o abuso. Portanto, além do dolo é exigida a finalidade
específica de abusar, de agir com arbitrariedade.

Desse modo, se a autoridade, na justa intenção de cumprir seu dever e proteger


o interesse público acaba cometendo algum excesso (que seria um excesso
culposo), o ato é ilegal, mas não há crime de abuso de autoridade.

Os crimes de abuso de autoridade estão previstos no art. 3º e no art. 4º da lei nº


4.898/65. Os crimes do art. 3º não admitem a tentativa porque a lei já pune o
simples atentado como crime consumado, os quais podem ser chamados de
crimes de atentado.

“Art. 3º Constitui abuso de autoridade qualquer atentado:


a) à liberdade de locomoção;
b) à inviolabilidade do domicílio;
c) ao sigilo da correspondência;
d) à liberdade de consciência e de crença;
e) ao livre exercício do culto religioso;
f) à liberdade de associação;
g) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício do voto;
h) ao direito de reunião;
i) à incolumidade física do indivíduo;
j) aos direitos e garantias legais assegurados ao exercício profissional.”
O simples atentado já configura crime consumado. Logo, esses crimes do art. 3º
da Lei de Abuso de Autoridade não admitem tentativa.
O art. 4º, alíneas “c”, “d”, “g” e “i” também não admitem a tentativa, porque esses
são crimes omissivos puros ou próprios, e crimes dessa natureza não admitem
tentativa. As demais letras do art. 4º admitem tentativa.

“Art. 4º Constitui também abuso de autoridade:


a) ordenar ou executar medida privativa da liberdade individual, sem as
formalidades legais ou com abuso de poder;
b) submeter pessoa sob sua guarda ou custódia a vexame ou a constrangimento
não autorizado em lei;
c) deixar de comunicar, imediatamente, ao juiz competente a prisão ou detenção
de qualquer pessoa;
d) deixar o Juiz de ordenar o relaxamento de prisão ou detenção ilegal que lhe
seja comunicada;
e) levar à prisão e nela deter quem quer que se proponha a prestar fiança,
permitida em lei;
f) cobrar o carcereiro ou agente de autoridade policial carceragem, custas,
emolumentos ou qualquer outra despesa, desde que a cobrança não tenha apoio
em lei, quer quanto à espécie quer quanto ao seu valor;
g) recusar o carcereiro ou agente de autoridade policial recibo de importância
recebida a título de carceragem, custas, emolumentos ou de qualquer outra
despesa;
h) o ato lesivo da honra ou do patrimônio de pessoa natural ou jurídica, quando
praticado com abuso ou desvio de poder ou sem competência legal;
i) prolongar a execução de prisão temporária, de pena ou de medida de
segurança, deixando de expedir em tempo oportuno ou de cumprir
imediatamente ordem de liberdade.” (Acrescentado pela L-007.960-1990)

A consumação se dá com a prática de qualquer das condutas previstas nos tipos


penais suso transcritos.

Os crimes de abuso de autoridade são de ação penal pública incondicionada. A


representação mencionada no art. 12 não é aquela condição de procedibilidade
do Código de Processo Penal, e sim apenas o direito de petição contra o abuso
de poder previsto no art. 5º, XXXIV, “a”, da Constituição. Razão pela qual é
importante ter cuidado com a leitura dos artigos abaixo colacionados, pois dão a
entender numa leitura açodada que se trata de crime de ação pública
condicionada a representação, senão vejamos:

“Art. 1º O direito de representação e o processo de responsabilidade


administrativa civil e penal, contra as autoridades que, no exercício de suas
funções, cometerem abusos, são regulados pela presente lei.
Art. 2º O direito de representação será exercido por meio de petição:
a) dirigida à autoridade superior que tiver competência legal para aplicar, à
autoridade civil ou militar culpada, a respectiva sanção;
b) dirigida ao órgão do Ministério Público que tiver competência para iniciar
processo-crime contra a autoridade culpada.
Parágrafo único. A representação será feita em duas vias e conterá a exposição
do fato constitutivo do abuso de autoridade, com todas as suas circunstâncias,
a qualificação do acusado e o rol de testemunhas, no máximo de três, se as
houver.[...]
Art. 12. A ação penal será iniciada, independentemente de inquérito policial ou
justificação por denúncia do Ministério Público, instruída com a representação
da vítima do abuso.”

A pena máxima prevista para esses crimes é de 6 meses. Então, a competência


é dos Juizados Especiais Criminais, estaduais ou federais, dependendo do caso.
Via de regra, é da justiça estadual, será, no entanto, do Juizado Especial Federal
se atingir bens, interesses ou serviços da União.
Nesse sentido, é imperioso destacar o enunciado da Súmula 172 do STJ, qual
seja:

“STJ Súmula nº 172 - DJ 31.10.1996 - Compete à Justiça Federal processar e


julgar militar por crime de abuso de autoridade, ainda que praticado em serviço.”

O STJ decidiu que se o juiz militar arquiva inquérito por abuso de autoridade, é
cabível a impetração de mandado de segurança pelo MP estadual/federal. A
decisão de arquivamento proferida pelo juiz militar incompetente subtrai do MP,
como titular da ação penal, o direito de formar a opinio delicti e ajuizar ou não a
ação penal.

Por que a Justiça Militar não julga esse crime? O crime de abuso de autoridade
não é crime militar, pois não está previsto no Código Penal Militar. Entretanto,
havendo concurso de crimes entre crime militar e crime de abuso de autoridade,
haverá separação de processos (art. 79, I, CP)

LEI 7716/89 – CRIMES RESULTANTES DE PRECONCEITO DE RAÇA OU DE


COR

A Lei nº 7.716/89 determina em seu título a punição de crimes resultantes de


preconceito de raça ou de cor, categorias estas que foram ampliadas no ano de
1.997, quando o legislador então acrescentou ao art. 1º da referida lei os termos
etnia, religião e procedência nacional, passando referido art. a vigorar da
seguinte forma:

“Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de


discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência
nacional”. (Redação dada pela Lei nº 9.459, de 15/05/97).

A lei 9.459 de 15 maio de 1.997 além de criar novas categorias para a “lei de
racismo”, também acresceu ao artigo 140 do Código Penal, o parágrafo terceiro,
criando com isso a figura da injúria qualificada, in verbis:

Art. 140 - Injuriar alguém, ofendendo-lhe a dignidade ou o decoro:


(...)

§ 3º - Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor,


etnia, religião ou origem.

Pena - reclusão de um a três anos e multa.

O parágrafo terceiro do art. 140 do Código Penal ainda sofreu nova alteração no
ano de 2.003, com a Lei nº 10.741, quando então foram incluídas duas novas
categorias, pessoa idosa ou portadora de deficiência, passando a vigorar da
seguinte forma:

§ 3o Se a injúria consiste na utilização de elementos referentes a raça, cor, etnia,


religião, origem ou a condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência:

Em muito ainda se confunde o crime de racismo com a injúria qualificada do art.


140, parágrafo terceiro, do Código Penal.

No crime defino na Lei nº 7.716/89 a ofensa é dirigida a toda uma raça, a qual é
caracterizada por um fato pejorativo, por sua vez, na injúria qualificada do
parágrafo terceiro do Código Penal, a ofensa é direcionada a honra subjetiva do
indivíduo, ofensa esta que é agregada à raça, cor, etnia, religião ou origem.

Ainda necessário se faz a analise das cinco categorias elencadas na “lei de


racismo”, iniciando pela raça.

Esta do ponto de vista antropológico é uma categoria social, ou seja, mesmo que
biologicamente não haja evidências da existência de grupos raciais humanos, os
grupos sociais dividem a humanidade e as sociedades a partir de traços
fenotípicos.

Na segunda categoria encontramos a cor, a qual se trata única e exclusivamente


da pigmentação da pele.
Por sua vez, etnia refere-se a aspectos sócio culturais.

A religião é toda crença, e aqui cabe fazer uma observação, o ateísmo não está
abrangido pela “lei de racismo”, vez que não é uma religião, mas uma filosofia
de vida.

Por fim, está a figura da procedência nacional, a qual deve ser vista de modo
ampliativo, devendo não ser entendida apenas a nacionalidade do indivíduo,
mas também sua origem regional.

Deste modo, após traçarmos os aspectos históricos e analisarmos cada uma das
categorias abrangidas pela “lei de racismo”, importante se faz a análise do art.
20 desta lei, o qual diz:

“Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor,


etnia, religião ou procedência nacional”. (grifo nosso).

Observem que o legislador, quando da elaboração do art. 20 da “lei de racismo”,


quis dar a este a característica de subsidiariedade em relação aos outros artigos,
posto que ao trazer em sua redação o verbo “praticar”, contempla qualquer outra
forma, como sendo crime, que não esteja exposta nos artigos anteriores.
No tocante a imprescritibilidade dos crimes de racismo, ainda há divergência
entre os autores. Se analisarmos a Constituição Federal, esta é clara ao dispor
no art. 5º, inciso XLII: “a prática do racismo constitui crime inafiançável
e imprescritível, sujeito á pena de reclusão, nos termos da lei”.

Assim, embora tenha o legislador ampliado às categorias protegidas pela Lei


7.716/89, acrescentando a esta a etnia, religião e procedência nacional,
entendemos que foi intenção do legislador constitucional impor
imprescritibilidade apenas ao crime de racismo, e por este, entendemos como
aqueles relativos somente à raça, cor e religião.

Não obstante nossa posição há autores que defendam ainda a inclusão da etnia
no rol dos crimes imprescritíveis, por entenderem que a etnia está ligada
intrinsecamente ao conceito de raça.

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