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Belém/ PA
2014
GABRIELLY DE CARVALHO FLEXA
TÁSSIA MARA MATOS DA SILVA
Belém/PA
2014
GABRIELLY DE CARVALHO FLEXA
TÁSSIA MARA MATOS DA SILVA
Conceito: _____________________.
Banca Examinadora:
______________________________________- Orientadora
Roseane Torres de Madeiro
Mestra em Psicologia
Escola Superior da Amazônia.
______________________________________- Membro
Marcelo Moraes Moreira
Mestre em Psicologia
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos.
______________________________________- Membro
Arlene Mara de Sousa Dias
Mestra em Psicologia
Universidade da Amazônia.
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente a Deus por me sustentar, dar-me forças quando precisei, por
ouvir minhas orações e por ser meu amigo fiel.
Agradeço ao meu Pai, Dilton Flexa, que acreditou primeiramente que tudo isso seria
possível, fazendo-me a cada dia acreditar também e que, principalmente, esteve sempre
orando por mim.
Agradeço a minha mãe, Lucylya Flexa, meu irmão, Frédyson Flexa e minha avó,
Maria da Consolação, que em todo momento estiveram me apoiando e me ajudando nos
momentos mais difíceis de minha caminhada acadêmica.
Agradeço aos meus amigos de faculdade que durante esses anos me ajudaram a
crescer e amadurecer com nossas inúmeras experiências, assim como a todos aqueles que
direta ou indiretamente contribuíram para a realização dessa monografia.
Agradeço a minha querida e amada amiga, Tássia Matos, que esteve presente ao meu
lado em todos os momentos, que deixou sua tristeza de lado para enxugar as minhas lágrimas,
que puxou minha orelha quando preciso e que, principalmente, me apresentou da maneira
mais “Tassisista” à Psicologia Jurídica e a Saúde Mental dentro do HCTP. Sem você nada
disso seria possível!
Agradeço a nossa orientadora Roseane Torres por acreditar em nós e nos ajudar
mesmo quando não era ainda seu papel e, principalmente, nos incentivando a continuar
quando pensávamos em fraquejar.
Carl G. Jung.
RESUMO
A doença mental é um tema que vem sendo discutido desde as civilizações antigas, onde tudo
o que não estava de acordo com o padrão de referência de homem era visto como sobrenatural
ou mágico. No entanto, o primeiro hospital psiquiátrico exclusivo para doentes mentais ainda
utilizava os mesmos tratamentos, como a utilização de purgativos, sangrias e outros. A Lei
10.216 surgiu, então, diante da necessidade de mudança dessas instituições. Sendo assim, foi
investigado se a reinserção social do agente delituoso portador de transtorno mental, proposta
pela lei, tem sido cumprida no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico do Estado do
Pará e qual o papel da psicologia neste contexto. Para tal, foram utilizados dois questionários
avaliativos e a partir dos dados coletados sugeriu-se propostas para a melhoria dessa
reinserção e/ou ampliação da mesma.
Mental illness is a topic that has been discussed since the ancient civilizations, where
everything that was not according to the standard reference man was seen as supernatural or
magical. However, the first psychiatric hospital exclusively for the mentally ill still used the
same treatments as the use purgatives, bloodletting and others. Law 10.216 came then given
the need to change these institutions. Therefore, we investigated whether the social
rehabilitation of the criminal agent mental patients, proposed the law has been enforced in
Custody and Psychiatric Hospital Treatment of Pará and the role of psychology in this
context. To this end, two evaluative and from the data collected it was suggested that
proposals for improving rehabilitation and / or expansion of the same questionnaires were
used.
1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11
2 REFERENCIAL TEÓRICO..........................................................................13
2.1 O surgimento da doença mental ....................................................................... 13
2.2 A reforma psiquiátrica ..................................................................................... 15
2.3 A lei................................................................................................................... 16
2.4 Hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ................................................ 17
2.5 A reinserção social ........................................................................................... 17
3 OBJETIVBOS………......................................................................................19
3.1 Objetivo geral ...................................................................................................19
3.2 Objetivo específico ...........................................................................................19
4 METODOLOGIA……………………………………………………………20
4.1 Tipo de pesquisa………………………………………………………........…20
4.2 Local da pesquisa…………………………………………………………….. 20
4.3 Descrição dos participantes da pesquisa………………………………………20
4.4 Critérios de inclusão…………………………………………………………..21
4.5 Critérios de exclusão…………………………………………………………. 21
4.6 Procedimento da pesquisa……………………………………………………. 21
5 HIPÓTESES………………………………………………………………… 23
6 RESULTADOS E DISCUSSÕES………………………………………….. 24
6.1 Sessão de tabelas qualitativas…………………………………………………27
6.2 Sessão de tabelas quantitativas………………………………………………..40
6.3 Tabelas dos psicólogos participantes da pesquisa……………………………. 42
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................ 49
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 52
APÊNDICE A – QUESTIONÁRIO PARA AVALIAÇÃO DA
REINSERÇÃO SOCIAL .............................................................................. 54
APÊNDICE B – QUESTIONÁRIO PARA AVALIAR O TRABALHO
DA PSICOLOGIA NA REINSERÇÃO SOCIAL NO HCTP-PA .............56
ANEXO A – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E
ESCLARECIDO ............................................................................................ 57
11
1 INTRODUÇÃO
Esta pesquisa foi realizada a partir da inquietação das pesquisadoras por conta do
modo como a sociedade enxerga os agentes delituosos portadores de transtornos mentais, pela
forma como os mesmos são tratados, pela escassez de políticas públicas que possam intervir
de modo a proporcionar uma mudança na realidade de vida desses indivíduos e,
principalmente, pela deficiência em programas de reinserção social que é um direito de todo
condenado, seja ele portador de transtorno mental ou não.
Por muitos anos os doentes mentais foram tratados com indiferença e assim eram
isolados da sociedade, sendo vítimas de maus-tratos e técnicas repressoras. Entretanto, mesmo
com o a reforma psiquiátrica, ainda localizam-se vestígios dessas atitudes em relação aos
doentes mentais.
Esses vestígios também podem ser encontrados nos Hospitais de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico onde ficam os agentes delituosos portadores de transtorno mental e
que, embora muito se tenha lutado, ainda é uma realidade. Apesar de ter como finalidade o
tratamento psiquiátrico, a ideia de manicômio existe em algumas instituições, passando assim
uma falsa impressão de cuidado ao sujeito.
De acordo com o art. 10 da Lei 7.210 (1984, p. 2), “A assistência ao preso e ao
internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência
em sociedade”, logo, entende-se que mais do que uma simples mudança de ideias que deveria
ocorrer na sociedade, a reinserção social é um dever do Estado e cabe lembrar que seu
benefício não é voltado apenas ao delituoso, mas também a toda sociedade, pois a
probabilidade do mesmo reincidir ao crime se torna menor.
Ainda que exista uma lei que dê suporte e garanta os direitos aos indivíduos que
cometem crimes e tem alguma doença mental para que sejam reinseridos à sociedade,
questiona-se, então, qual a aplicabilidade desta lei no Hospital de Custódia e Tratamento
Psiquiátrico do Estado do Pará (HCTP-PA). Haja vista que, a mesma lei que dá suporte e
inclui o agente delituoso ao meio social é a mesma que o exclui.
Diante disso, questiona-se qual o papel da Psicologia como forma de tratamento
dentro desse contexto e relacionado à reinserção social, ainda que se tenham outros tipos de
tratamentos e métodos, bem como analisar as condições para uma possível reinserção, pois a
mesma visa possibilitar a reintegração do indivíduo ao seu meio, objetivando criar
possibilidades de vida, para que assim possa ser construída uma cidadania plena.
12
2 REFERENCIAL TEÓRICO
1
Trepanação: Ato ou efeito de trepanar, perfurar (osso) mediante uso de trépano. Para diminuir a pressão sobre o
cérebro é feito aberturas na caixa craniana. (DICIONÁRIO..., 2014a).
2
Sangria: Modalidade de tratamento médico onde há retirada de sangue do paciente para o tratamento de
doenças. Pode ser feita de diversas maneiras, incluindo o corte de extremidades, o uso de sanguessugas ou a
flebotomia. (DICIONÁRIO..., 2014b).
14
No início dos anos 800, com Rhazes (860-930), foi criado em um hospital uma ala
destinada somente aos doentes mentais, com a justificativa que a enfermidade mental requer
uma atenção maior que outras doenças. A partir dessa época, a doença mental começou a ser
vista por outros ângulos, não apenas como castigos e punições, mas também por questões
ambientais ou genéticas e que requeriam maiores cuidados (SILVA FILHO, 2011).
Em 1409 na Espanha, o primeiro hospital psiquiátrico foi inaugurado, e no decorrer
do século XIII outros hospitais na Europa criaram suas unidades psiquiátricas. Somente em
1773 foi criado o primeiro hospital psiquiátrico dedicado exclusivamente ao doente mental,
este se situava em Williamsburg, Virgínia, porém, os tratamentos continuavam os mesmos,
com a utilização de purgativos, sangrias, vômitos, etc. (TALBOTT, 1994 apud SILVA
FILHO, 2011).
De acordo com Acioly (2009) e Silva Filho (2011), no decorrer do século XX os
hospitais psiquiátricos eram vistos como locais de tratamento para os indivíduos reconhecidos
como loucos, não era exatamente um avanço científico e sim um refúgio onde se podia
controlar os ditos doentes mentais. O tratamento que se dava a essas pessoas caracterizava-se
pelo asilamento e violência institucionalizada.
Os hospitais psiquiátricos, na verdade, eram uma forma de aprisionar os indivíduos
que não se enquadravam ao que a sociedade considerava “normal”. Do ponto de vista
histórico, essas instituições buscavam, fundamentalmente, atender e institucionalizar as
demandas da sociedade. Portanto, buscava-se acatar as necessidades sociais com a suspensão
daquilo que era considerado estranho no indivíduo e os hospitais psiquiátricos seriam a
solução para tal demanda.
Sadock e Sadock (2007) afirmam que os comportamentos dos indivíduos que não
estavam de acordo com os padrões políticos, religiosos, culturais ou sexuais, bem como os
conflitos dos mesmos e também com a sociedade, não eram considerados transtornos mentais,
a menos que estivessem relacionados a alguma disfunção.
O verdadeiro significado de uma internação em um hospital psiquiátrico “Tende a se
situar no campo da moral. Portanto, não responde necessariamente a uma demanda clínica do
indivíduo socialmente reconhecido como louco, mas institucionaliza necessidades da
sociedade” (ACIOLY, 2009, p. 3).
Delgado (2011, p. 4703), contrariamente ao conceito de Acioly (2009), afirma que a
psiquiatria não surgiu para punir a subjetividade do indivíduo, transformando-a em sintomas
da loucura, assim como o saber médico e os avanços técnicos não podem ser superiores a
integridade do sujeito, ou seja, “a camisa-de-força literal ou química deve ser abolida”.
15
O indivíduo dito doente mental, para ser tratado, não necessariamente precisa ser
controlado apenas com medicação ou as várias técnicas de tratamento psiquiátrico. O controle
nessas situações poderia de nada valer e retirariam algo que é essencial para a escuta do
indivíduo, o seu sintoma. Os hospitais psiquiátricos são exemplos de instituições onde há a
utilização desses tipos de controle, embora há muito se tenha lutado para a reforma da
psiquiatria.
2.3 A lei
psiquiátrico com a criação da Lei 10.216 que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, sendo
então aprovada em 6 de abril de 2001.
Segundo o art. 1o da Lei 10.216 (BRASIL, 2001), os direitos e a proteção das pessoas
com transtorno mental são garantidos sem qualquer discriminação quanto à raça, cor,
orientação sexual, religião, opção política, idade, família, recursos econômicos e ao grau de
gravidade ou tempo de evolução de seu transtorno, ou outra.
De acordo com os incisos II e V do parágrafo único da Lei 10.216 (2001), são
direitos da pessoa portadora de transtorno mental: serem tratadas com humanidade e respeito,
objetivando sempre beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação através da
inserção na família, no trabalho e na comunidade; sendo assegurados os direitos à presença
médica, a qualquer hora e tempo, para que possa ser comprovada a necessidade ou não de sua
hospitalização involuntária;
Conforme os § 1º e § 2º, do art.4º da Lei 10.216 (2001), o tratamento visará, como
finalidade permanente, a reinserção social do paciente em seu meio; e o tratamento em regime
de internação será estruturado de forma a oferecer assistência integral à pessoa portadora de
transtornos mentais, incluindo serviços médicos, de assistência social, psicológicos,
ocupacionais, de lazer, e outros.
A partir do momento em que um indivíduo com transtorno mental comete um delito
e é provado que no momento da ação não era capaz de entender o caráter ilícito do fato, ele
passa a ser considerado inimputável. Segundo o art. 26 do Código Penal Brasileiro (CPB -
comentado em TÁVORA, 2013), tal indivíduo é isento de pena por não compreender o ato
ilícito ou determinar-se de acordo com esse entendimento.
O agente não é condenado, mas passa a uma medida de segurança, segurança, sendo
considerado inimputável, e de acordo com o art. 97 do CPB (comentado em TÁVORA,
2013), o juiz determinará sua internação. Se, todavia, o fato previsto como crime for punível
com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial. Ainda segundo o § 1º, do
art. 97, compreende-se que o agente inimputável que for internado ou passar por tratamento
ambulatorial, ficará por tempo indeterminado até que seja averiguada, mediante perícia
médica, a cessação da periculosidade.
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O agente delituoso passa por perícia médica de ano em ano para que seja avaliado o
nível de periculosidade, entretanto, a qualquer momento o juiz poderá solicitar uma nova
avaliação antes do prazo. A periculosidade deve cessar para que o indivíduo possa ter a
liberdade. Enquanto isso, o indivíduo fica em tratamento, internado nos HCTP, mais
conhecidos como os “manicômios judiciais”. (DELMANTO; DELMANTO; DELMANTO
JUNIOR, 1998).
Gonçalves (2008 apud SILVA 2010, p. 654), afirma que “Dada à imprevisibilidade
dos atos e periculosidade do indivíduo portador de transtornos mentais que comentem
infrações”, a sentença de medida de segurança dada pelo juiz não se caracteriza como um
tratamento de nenhuma espécie, mas sim de uma prisão perpetua.
A partir dos dados coletados no Hospital de Custodia e Tratamento Psiquiátrico do
Estado do Pará, Diniz afirma que “Pelo menos 3% (2) dos indivíduos não deveriam estar
internados por estarem em medida de segurança com a periculosidade cessada, com sentença
de desinternação [...]” (DINIZ, 2013, p. 174). Confirmando a fala de Gonçalves (2008 apud
SILVA, 2010) em se tratar de uma prisão perpétua e não de um verdadeiro tratamento
psiquiátrico ou de espécie alguma.
Oliva (2009), bem como Pinto e Ferreira (2010), afirmam que os agentes delituosos
portadores de transtorno mental, denominado pela autora como “recolhidos”, sempre foram
tratados de forma subumana e com maus-tratos, não havendo nenhum comprometimento
efetivo de cuidado por parte das instituições com a saúde e reinserção social desses
indivíduos.
É possível perceber ainda, segundo Oliva (2009), o sofrimento dos custodiados por
uma “segregação do convívio social”. A medida de segurança por não ter um tempo
determinado faz com que a reinserção do indivíduo se torne dependente do laudo psiquiátrico
para que se comprove que a periculosidade cessou.
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3 OBJETIVOS
4 METODOLOGIA
5 HIPÓTESES
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Medida de
J. B. O. 43 Masculino Esquizofrenia residual (CID 10 - F 20.5)
segurança
3
Não foi encontrado no prontuário do participante da pesquisa, em específico na folha da perícia médica, o
código do CID 10 para tal diagnóstico.
4
Não foi encontrado no prontuário do participante da pesquisa a folha da perícia médica, apenas uma citação do
Código Penal no Despacho do juiz.
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em que se encontra e pelo governo, ou seja, por todos. Logo, questiona-se, que condições de
tratamento estão sendo oferecidas no HCTP-PA? Neste caso, cabe ressaltar o que diz a Lei
10.216. Vejamos:
que vale ressaltar a possível diferença no tratamento oferecido aos internos do HCTP-PA, de
acordo com os dados coletados.
Tabela 4 – Principais relatos de atividades gerais.
Relatos
Nenhuma;
Trabalho;
Futebol;
Aula;
Faxina;
Dança;
Curso de bijuteria;
Culto da Universal;
Tudo o que me mandam fazer;
Na Tabela 11, foram expostos os principais relatos dos agentes delituosos referente a
relação com os internos e, posteriormente, classificados nas categorias de relação boa e
resposta imprecisa. A tabela refere-se a pergunta 9 do Apêndice A.
As respostas “são doidas [sic]”, “só não tenho com um [sic]”, “alguns interpretam de
outra maneira [sic]”, “mais ou menos, porque não conheço os outros internos [sic]” e “Não
tenho bronca com internos, mas é cadeia [sic]” foram enquadradas na classificação imprecisa,
pois não se equivaliam à relação boa e não poderiam ser classificadas como ruim.
Verificou-se que, os maiores relatos estão localizados na classificação de relação
boa, o que nos leva a refletir em possíveis estratégias, as quais serão sugeridas posteriormente,
que possam ser realizadas com os agentes delituosos em conjunto, pois também seria uma
possibilidade de fortalecimento de vínculo para tornar o espaço do HCTP-PA o melhor
possível, não restringindo o ambiente educacional como o único possível para que esse
encontro aconteça e sim voltando-se para outras alternativas, o que poderia ser uma opção
para as respostas que foram enquadradas como imprecisas.
A situação de cárcere possivelmente retirará das pessoas tudo aquilo que se tem de
mais humano e subjetivo, ou seja, suas essências, crenças, objetivos, projetos e outros. Diante
disso, pergunta-se quais sentimentos surgem nas pessoas que se encontram reclusas no
HCTP-PA?
Pode-se dizer que estamos diante da subjetividade de cada pessoa e o que antes era
individual passa a ser coletivo e tratado como tal. São pessoas diferentes, de lugares
diferentes, com histórias diferentes, convivendo em um único lugar, o que possivelmente
levarão a conflitos, principalmente no local e situação em que se encontram, como o relato de
um dos participantes que diz: “olha eu não tenho bronca com internos, mas é cadeia [sic]”.
No relato “são doidas [sic]”, classificado como impreciso, a participante respondeu
que: “Elas não gostam de mim, eu brigo com elas na porrada, eu que atento elas, elas são
doidas [sic]”, entretanto, a participante rasurou a maior parte da resposta deixando apenas
“elas são doidas [sic]” , nos levando a perceber de que forma a mesma se sente em relação aos
outros internos.
34
Dessa forma, é possível fazer um paralelo com o relato de um dos psicólogos, onde o
mesmo afirma:
5
Relaciona com a ideia de Preconceito o relato do agente delituoso baseado no significado que o Dicionário
Aurélio nos traz: “ideia ou conceito formado antecipadamente e sem fundamento sério ou imparcial. Opinião
desfavorável que não é baseada em dados objetivos. Estado de abusão, de cegueira moral. Superstição”
(FERREIRA, 2010, não paginado).
36
Notou-se que a maioria dos relatos mencionam planos e desejos que podem ser
simples aos nossos olhos, mas possivelmente não para pessoas que se encontram aprisionadas,
como os que dizem: “estudar [sic], trabalhar, ir na praia [sic]”, “refazer a minha vida fora do
crime [sic]” e “parar de usar drogas [sic]”.
São relatos que nos provocam diante de respostas encobertas por pedidos de ajuda,
de pessoas que buscam algo, buscam a melhora quando respondem querer refazer a vida fora
do crime ou mesmo quando dizem abertamente querer mudar de vida. E então pergunta-se, o
que está sendo feito em prol dessas pessoas?
Pergunta-se, mais uma vez, se o HCTP-PA visa o oferecimento de um tratamento
adequado, bem como a possibilidade de reinserção dos agentes delituosos ao meio social? Há
um comprometimento em proporcionar atendimentos de saúde regulares, acompanhamento
psiquiátrico e psicológico e a promoção de capacitações profissionais a essas pessoas?
Além disso, existe o incentivo e esforços para a implementação do programa de
Volta pra casa, como mostra o relato de um dos psicólogos: “investir esforços para a
implementação do Programa de Volta Pra Casa [...], o qual propõe o ACOMPANHAMENTO
BIOPSICOSSOCIAL EXTERNO [...], com o intuito de estabelecer um processo de
acolhimento social e familiar como transição entre a desinternação progressiva e
desinternação definitiva [sic]”?
A partir dos relatos dos participantes da pesquisa, nenhuma dessas possibilidades
citadas anteriormente acontecem de forma apropriada e principalmente abrangente, já que
todas as tabelas mostram, em algum momento, relatos contrários. No entanto, não pode-se
afirmar que não acontecem e sim buscar recursos para que esses serviços sejam oferecidos a
todos e da melhor forma possível, ou seja, com qualidade.
38% Sim
62% Não
15%
85%
sim não
De acordo com a Tabela 17, foi possível analisar os relatos dos psicólogos sobre o
entendimento quanto à reinserção social, referente a pergunta 1 do Apêndice B.
Verificou-se e relacionou-se as respostas dos psicólogos participantes e pôde-se
perceber o conhecimento de ambos em relação a reinserção social, considerando que um deles
respondeu citando as Leis 10. 216/01 e a Lei 7. 210/84 como base de suas respostas.
Percebeu-se o claro entendimento sobre esse assunto por parte de ambos, entretanto,
ao analisar com os relatos dos agentes delituosos, fica evidente a deficiência desta ação na
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instituição em que estão inseridos, pois sabe-se que reinserir-se socialmente é sentir-se parte
do núcleo novamente, como já falado anteriormente. Logo, como esse indivíduo pode sentir-
se parte desse núcleo novamente se nem ao menos recebe visita familiar ou de conhecidos? Se
não convive bem com os outros internos dentro do próprio HCTP-PA?
Conhecer o significado da reinserção social é bom, porém, seria muito melhor se a
instituição pudesse contribuir para que a equipe multidisciplinar colocasse em prática essa
ação que é direito desse agente delituoso, como escrito nas Leis 10. 216/01 e 7. 210/84.
prática multi e interdisciplinar com a mesma, entretanto, percebeu-se que os cursos citados
por um dos psicólogos já foram realizados, e que atualmente não existe nenhum curso em
prática.
No relato de um dos psicólogos, verificou-se o intuito de realização de cursos
profissionalizantes, entretanto, não foi possível que os mesmos acontecessem por limitação do
número de agentes penitenciários que pudessem garantir a segurança dos que estariam
oferecendo o curso.
Diante disso, pode-se relacionar a falta desses cursos, já citados por um dos
psicólogos, com a Tabela 8, onde a grande maioria dos internos afirmam não receber
nenhuma capacitação profissional. Cabe lembrar que, de acordo com o art. 34 da Lei 7. 210
(1984, p. 5), “o trabalho poderá ser gerenciado por fundação, ou empresa pública, com
autonomia administrativa, e terá por objetivo a formação profissional do condenado”.
O trabalho e formação profissional é um direito do condenado, o que proporcionará
ao mesmo a sua capacitação para aderir ao meio de trabalho e assim também passar a sentir-se
parte desse núcleo, ou seja, voltar a ser reinserido socialmente.
Foi possível observar, na Tabela 21, que há uma contradição nas respostas dadas
pelos psicólogos participantes da pesquisa, no momento em que se responde não haver uma
agenda e que os atendimentos ocorrem de acordo com a necessidade de cada interno, com
aquele que diz que os atendimentos individuais são realizados diariamente. Diante disso, o
questionamento que surge é em relação ao que de fato ocorre no HCTP, em termos de
atendimento psicológico. Como esses atendimentos se dão? Eles são previamente definidos
ou ocorrem de maneira aleatória a partir da demanda interna?
A partir disso, foi possível fazer um paralelo com a Tabela 6, em que os relatos
dados pelos psicólogos não estão de acordo com os relatos dos agentes delituosos, no sentido
de que alguns relataram receber atendimento “Dificilmente” (sic), de “30 em 30 dias [sic]” e
46
“15 em 15 dias [sic]”, o que não confere com nenhuma das duas respostas dadas pelos
psicólogos.
Se de fato esses atendimentos ocorrerem a partir dos relatos dos agentes delituosos,
mais uma vez, nos encontramos diante de uma situação irregular, por se tratar de uma
instituição que oferece tratamento psiquiátrico, a presença de um psicólogo torna-se
imprescindível para o andamento do tratamento, bem como, na possibilidade de reinserção
dessas pessoas.
De acordo com a Tabela 22, foram expostos os relatos dos psicólogos em relação a
realização de atendimento com familiar ou acompanhantes dos agentes delituosos. A tabela
faz referência a pergunta 6 do Apêndice B.
Verificou-se, a partir do relato dos participantes, que existe um atendimento voltado
para os familiares e acompanhantes dos internos e que propõe-se muito mais do que
fortalecimento de vínculo, mas também possibilidades de reinserção, como em uma das
respostas que diz que o atendimento visa também “[…] a facilitação da (futura) desisternação
do interno […]” (sic).
Diante disso, se os atendimentos realmente são oferecidos e efetivados no HCTP,
podemos avaliar como um ganho não apenas para o agente delituoso, mas também para a
própria família que tem a possibilidade de aprender e compreender mais sobre a situação atual
do familiar aprisionado, bem como, no favorecendo dessa relação interno x familiar diante da
possibilidade de desinternação e reinserção.
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Nos relatos da Tabela 23, de acordo com a pergunta 7 do Apêndice B, estão expostos
os principais relatos em relação a existência de uma equipe multiprofissional atuando com a
Psicologia.
Foi possível perceber, na Tabela 23, que há uma equipe multiprofissional atuando
juntamente e em parceria com a psicologia no HCTP-PA. De acordo com o último relato, a
Junta de Orientações Técnicas (JOTE) objetiva promover uma interação entre essa equipe,
garantindo um momento para que esses profissionais possam estar juntos e, se espera,
compartilhando saberes.
Pode-se avaliar como um ponto positivo e pensar em futuras possibilidades e
reestruturações, para que de fato haja a promoção desses saberes entre os membros dessa
equipe, como por exemplo, a possibilidade de implantação de encontros semanais para se
fazer estudos de caso, onde se voltariam, a cada semana, para um caso ou situação específica
e, a partir dessa discussão, ocorresse o levantamento de novas possibilidades de intervenção,
tratamento e possível reinserção de cada interno.
Se pensar em um tratamento adequado é pensar em uma equipe disposta, unida,
responsável e composta por pessoas que tem amor pelo que fazem.
Tabela 23 – Principais relatos quanto a existência de uma equipe multiprofissional que atue
em conjunto com a psicologia na reinserção social.
Relato
Sim: Assistentes sociais; Terapeuta ocupacional; Pedagogos; Nutricionista; Enfermeira e
Socióloga;
Sim. […] Junta de Orientações Técnicas (JOTE), composta […] do Corpo Diretor e do Corpo
Técnico da instituição, visando garantir um espaço/momento para a promoção de efetiva
interdisciplinaridade entre estas instâncias.
Fonte: As autoras da pesquisa, 2014.
.
48
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS
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SEMINÁRIO NACIONAL SOCIOLOGIA E POLÍTICA UFPR, 2009, Paraná. Anais...
Paraná: UFPR, 2009.
BRASIL. Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984. Institui a Lei de Execução Penal. Diário
Oficial [da] União, Brasília, DF, 13 jul. 1984. Disponível em: <http://www.planaltogov.br/c
civil_03/leis/l7210.htm>. Acesso em: 28 out. 2014.
_____. Lei n° 10.216, de 6 de abril de 2001. Dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas
portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental.
Diário Oficial [da] União, Brasília, DF, 9 abr. 2001. Disponível em: <http://www.planalto.g
ov.br/ccivil_03/leis/leis_2001/l10216.htm>. Acesso em: 10 mar. 2014.
CHAVES, Karine Belmont. O trabalho do/a psicólogo/a no sistema prisional: o resgate das
relações interpessoais no processo de reintegração social também por meio de grupos. Práticas
em Psicologia e Políticas Públicas. Brasília, DF: Conselho Federal de Psicologia, 2010.
Disponível em: <http://crepop.pol.org.br/novo/wp-content/uploads /2011/02/CHAVES-Kari
ne-Belmont.-Trabalho-do-Psicologo-Sistema-Prisional.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2014.
SILVA, Martinho Braga Batista e. O desafio colocado pelas pessoas em medida de segurança
no âmbito do Sistema Único de Saúde: a experiência do Paili-GO. Physis, Rio de Janeiro, v.
20, n. 2, p. 653-682, fev. 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-
73312010000200017&script=sci_arttext>. Acesso em: 10 set. 2014.
TÁVORA, Alexandre et al. Vade Mecum. 3. ed., rev, amp. atual. Rio de Janeiro: Impetus,
2013.
Nome:__________________________________________________ Idade:__________
Sexo: F ( ) M ( ) Profissão:______________________ Estado Civil:________________
1. Como está sendo hoje sua estadia aqui no Hospital de Custódia e Tratamento
Psiquiátrico do Estado do Pará?
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2. Que atividades são realizadas com vocês durante o dia?
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3. Quais atendimentos de saúde você recebe e quantas vezes por semana?
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4. Você recebe acompanhamento psicológico?
Não ( ) Sim ( ) Com que frequência?
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5. Você realiza alguma atividade com os psicólogos?
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6. Você recebe algum tipo de capacitação profissional?
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7. Você recebe visita familiar ou de conhecidos?
a. Não ( ) Sim ( ) Com que frequência?
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Eu,________________________________________________________, nascido
em_________________, com____ anos,__________(Estado civil), ____________(profissão),
residente__________________________________________ Bairro:____________ portador
do RG:_____________, estou sendo convidado a participar de um estudo denominado “A
Questão da Reinserção Social no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico do Estado
do Pará”, cujos objetivos são: Avaliar o trabalho da reinserção social realizado com o agente
delituoso portador de transtorno mental no HCTP-PA, analisando a possibilidade do Hospital
de Custódia ser responsável pela reinserção dos mesmos inseridos nessa instituição; avaliar de
forma qualitativa e quantitativa a clientela, o tempo de internação, a rotina dos profissionais –
principalmente a rotina dos profissionais da psicologia, o número de presos e sua rotina, e
sugerir propostas.
A minha participação no referido estudo será no sentido de responder o questionário
elaborado pela equipe de pesquisadores, a fim de verificar se o objetivo proposto foi
alcançado.
Fui alertado de que, da pesquisa a se realizar, posso esperar alguns benefícios, tais
como: O convívio familiar mais frequente, com atividades de maior participação desse
familiar – quando possível – e da equipe de profissionais que ali trabalham, proporcionando
um convívio também entre os que ali se encontram para a melhora da reinserção à sociedade.
Recebi, por outro lado, os esclarecimentos necessários sobre os possíveis
desconfortos e riscos decorrentes do estudo. Assim, no possível desconforto ao responder
perguntas pessoais, na minha segurança durante toda a pesquisa, bem como o não
cumprimento da veracidade dos fatos e do sigilo.
Estou ciente de que minha privacidade será respeitada, ou seja, meu nome ou
qualquer outro dado ou elemento que possa, de qualquer forma, me identificar, será mantido
em sigilo.
Também fui informado de que posso me recusar a participar do estudo, ou retirar
meu consentimento a qualquer momento, sem precisar justificar, e, se desejar sair da pesquisa,
não sofrerei qualquer prejuízo à assistência que venho recebendo.
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Assinatura do Participante da Pesquisa
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Assinatura do Pesquisador(a)
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Assinatura do Orientador(a)