Análise do Trabalho Infantil no Contexto

Nacional e a Lei do Menor Aprendiz

Trabalho infantil
Professor José Affonso Dallegrave Neto

Centro de Combate à Violência Infantil (Cecovi)

Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) – PUCweb

Copyright - PUCPR - Versão 1.0 - dezembro 2009

Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz
RESUMO
A contratação de aprendizes no âmbito
empresarial constitui obrigação regulada nos
artigos 428 a 433 da Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT). A quota de contratação
varia entre c5 e 15% do número total dos
trabalhadores existentes em cada
estabelecimento cujas funções demandem
formação profissional.
O aprendiz deverá ter entre 14 e 24 anos,
deverá estar cursando (ou já concluído) o
Ensino Fundamental e deverá estar inscrito
em programa de aprendizagem, nos moldes
da Lei.
1. Limitação da idade para
firmar contratos de trabalho
Por força da Emenda Constitucional n. 20,
promulgada em 15 de dezembro de 1998, a
idade mínima para celebração de contrato
de trabalho foi elevada de 14 para 16 anos.
A redação do artigo 7.º, XXXIII, da
Constituição Federal de 1988 (CF/88) assim
dispõe:
(…)
proibição de trabalho noturno, perigoso ou
insalubre a menores de 18 anos e de
qualquer trabalho a menores de 16 anos,
salvo na condição de aprendiz.
A Convenção n. 138 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) traça os
parâmetros para o trabalho infanto-juvenil.
Ricardo Marques da Fonseca os sintetiza
da seguinte forma:
●Idade mínima de 15 anos, com garantia de
escolaridade mínima sem trabalho durante o
primeiro grau;
●Adoção, pelos países em desenvolvimento,
da idade mínima de 14 anos e,
excepcionalmente, a de 12 anos, em caso
de aprendizagem, desde que com o
compromisso de implementar política de
elevação progressiva desta idade;
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● Idade mínima de 18 anos para atividades
que afetem a integridade física, moral ou
psíquica, podendo cair para 16 anos em tais
hipóteses, desde que o adolescente esteja
submetido a cursos profissionalizantes.
Em 1991, o Congresso Nacional rejeitou a
ratificação a que foi submetida a Convenção
138 ante o óbice com o limite de 14 anos
previsto originariamente na CF/88. Com
base no artigo 49, I, da CF, novamente o
Executivo, em outubro de 1999, sujeitou a
apreciação do Legislativo a ratificação do
tratado.
O presidente da República enviou em 19 de
outubro de 1999 o texto da Convenção 138
da OIT para apreciação do Congresso
Nacional.
Dessa vez, a Convenção 138 da OIT restou
ratificada pelo Brasil, uma vez que
desapareceu qualquer óbice constitucional a
partir da referida Emenda 20/98. O Decreto
de promulgação n. 4.134, de 15 de fevereiro
de 2002, conferiu vigência à Convenção n.
138 e, também, à Recomendação n. 146,
ambas da OIT, que passaram a ter força
normativa de lei federal.
FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. A
Idade Mínima para o Trabalho. Proteção ou
desamparo. In Trabalho em Revista. n. 200,
março, 1999. Curitiba: Decisório Trabalhista,
p. 587-588.
Assim, com base nesse aparato normativo
interno e internacional, fica proibido todo o
trabalho infantil para as idades:
• 14 anos – para qualquer emprego ou
serviço;
• 16 anos – para aqueles que estiverem
alijados de qualquer processo de
aprendizagem profissional;
• 18 anos – para aqueles que exercem
atividades insalubres, perigosas ou
prejudiciais ao desenvolvimento físico,
psíquico e moral.
Trabalho infantil
Registre-se que esta majoração do limite de
idade de 14 para 16 anos causou profunda
reação aos operadores do direito, bem como
de diversos setores da sociedade. Ainda que
a mudança possa representar um “avanço
legislativo” ou um “incentivo ao estudo da
criança e do adolescente”, não se pode
ignorar a crítica feita por Geraldo Meneses
de que
Antes de modificar a lei, colocando na
clandestinidade trabalhadores mirins e
tomadores de serviços, é preciso que os
dirigentes públicos se compenetrem da
imperiosa necessidade da ampliação de
programas assistenciais.
MENESES, Geraldo Magela e Silva.
Observações Sobre as Novas Regras do
Trabalho Infanto-Juvenil. In: Trabalho em
Revista. n. 203, jun. 1999. Curitiba:
Decisório Trabalhista, p. 650.
A justificativa de que o aumento do limite
etário para acesso ao mercado de trabalho
resolverá o problema da evasão escolar é
no mínimo falaciosa. Temos que, “entre o
abandono nas esquinas das cidades de
menores de 14 anos a 16 anos melhor seria
que estivessem sob regime de trabalho
protegido, com salário garantido para
autossustentação. Ademais, resta considerar
que não é certo que a estrutura do campo
educacional de nosso país esteja preparada
para recepcionar todos os menores de 16
anos” .
LEITE, Júlio Cesar do Prado. Idade Mínima
para o Trabalho: alteração constitucional. In:
Jornal Trabalhista. Brasília: Consulex,
1999.
O Fundo das Nações Unidas para a Infância
(Unicef) relaciona as seguintes
características, que tornam o trabalho
precoce prejudicial ao desenvolvimento
educacional e biopsicossocial das crianças:
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I) aquele realizado em tempo integral, em
idade muito jovem;
II) o de longas jornadas;
III) o que conduza a situações de estresse
físico, social ou psicológico ou que seja
prejudicial ao pleno desenvolvimento
psicossocial;
IV) o exercido nas ruas em condições de
risco para a saúde e a integridade física e
moral das crianças;
V) aquele incompatível com a frequência à
escola;
VI) o que exija responsabilidades excessivas
para a idade;
VII) o que comprometa e ameace a
dignidade e a autoestima da criança, em
particular quando relacionado com trabalho
forçado e com exploração sexual;
VIII) trabalhos subrremunerados.
2. Características do
trabalho infantil no Brasil
É possível destacar três principais
características do trabalho do menor.
Conforme estudo realizado por Eliana
Regina de Paula Silva e Yone Frediani. O
Trabalho Infantil no Brasil Após o Advento do
Estatuto da Criança e do Adolescente de
1990. Revista da Pós-Graduação, v. 1, p.
29-35, 2007.
A primeira incide sobre o setor rural. Várias
pesquisas, algumas patrocinadas pela OIT e
pela Unicef, revelam que um grande
contingente de crianças e adolescentes
trabalha no setor rural em condições
altamente insalubres e penosas, por
exemplo, no corte de cana e em plantações
de chá.
Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz
A segunda característica incide sobre o
execrável “trabalho escravo”. Infelizmente,
ainda hoje, menores são vistos trabalhando
sem qualquer garantia de qualidade de vida
– afrontando o desenvolvimento físico, social
e emocional – num regime de
semiescravidão, em locais insalubres e
perigosos e jornadas extensas. Tais
atividades, muitas vezes, se caracterizam
como prostituição infantil. A remuneração,
nesses casos, é praticamente inexistente,
sobretudo porque alguns empregadores
adotam a ilícita prática do truck system, em
que o empregado é mantido no trabalho em
regime de servidão por dívidas contraídas a
título de alimentação, moradia e remédios
concedidos de forma exclusiva em preços
exorbitantes pelo próprio empregador. Tal
medida é proibida nos termos do que dispõe
o artigo 462, § 3.º e 4.º da CLT.
A terceira característica do trabalho infantil
no Brasil incide sobre o mercado informal, o
qual utiliza mão-de-obra infantil sem registro
na CTPS e mediante salários aquém do
prescrito em lei. Nas cidades, tais crianças e
adolescentes geralmente prestam
extenuantes serviços como empregada
doméstica; uma minoria trabalha na indústria
(calçados, confecções, tapetes); outra no
comércio e nos serviços; e outras tantas
permanecem em regime de subemprego nos
faróis e no narcotráfico.
O relatório da OIT, divulgado em maio de
2006, aponta o Brasil como destaque pelas
ações de combate ao trabalho infantil, sendo
reconhecido o dia 12 de maio como Dia
Internacional de Combate ao Trabalho
Infantil. No terceiro mundo são 220 milhões:
135 milhões na Ásia, 70 milhões na África e
15 milhões na América Latina.
SILVA, Eliana Regina de Paula; FREDIANI,
Yone. O Trabalho Infantil no Brasil após o
Advento do Estatuto da Criança e do
Adolescente/1990. Revista da Pós-
Graduação, v. 1, 2007, p. 29-35.
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Nos últimos anos, o Brasil se destacou no
cenário internacional em relação ao combate
do trabalho infantil, conforme reconheceu o
relatório da OIT divulgado em maio de 2006.
Trata-se de uma ação conjunta do Ministério
Público do Trabalho, do Ministério do
Trabalho e do Programa de Erradicação do
Trabalho Infantil (Peti).
O Peti compõe o Sistema Único de
Assistência Social (Suas) com duas ações
articuladas: o serviço socioeducativo,
ofertado para crianças e adolescentes
afastadas do trabalho precoce e a
transferência de renda para suas famílias. O
objetivo do Peti, como o próprio nome
sugere, é o de contribuir para a erradicação
de todas as formas de trabalho infantil no
país, atendendo famílias cujas crianças e
adolescentes com idade inferior a 16 anos se
encontrem em situação de trabalho. O
programa está inserido em um processo de
resgate da cidadania e promoção de direitos
de seus usuários, bem como de inclusão
social de suas famílias.
3. Efeitos do contrato celebrado por menor
de 16 anos
3. Efeitos do contrato
celebrado por menor
de 16 anos
Com o advento da Emenda n. 20, a partir de
15 de dezembro de 1998 o menor de 16
anos que celebrar contrato de emprego fora
da condição de aprendiz será considerado
absolutamente incapaz, aplicando-se, pois, a
nulidade prevista no artigo 145, I, do Código
Civil.
Neste caso, é preciso relativizar os efeitos da
nulidade em face da aplicação do princípio
da preponderância da tutela do incapaz, o
qual é comentado pelo jurista Pontes de
Miranda nos seguintes termos:
 Trabalho infantil
O Direito procura proteger os fracos até onde
lhe pareça que não se hão de considerar atos
ilícitos absolutos os atos que eles pratiquem.
Se alguma regra jurídica o limite, é
excepcional. A tutela do tráfico jurídico,
especialmente a tutela do terceiro, vem em
segundo plano e somente existe onde já não
justifica a tutela dos fracos.
MIRANDA. Francisco Cavalcante Pontes
de. Tratado de Direito Privado. vol. 4, p.
110.
Com efeito, apesar da nulidade do contrato
de trabalho celebrado por menor de 16
anos, ainda assim tal relação jurídica
produzirá efeitos jurídicos até o momento
em que a autoridade competente intervier
para requerer a rescisão. Com outras
palavras, a autoridade (Ministério Público do
Trabalho) pode e deve intervir para cessar o
trabalho infantil. Contudo, em relação ao
período em que o menor já consumou o seu
trabalho, terá direito a receber todos os
direitos trabalhistas.
Nesse sentido, vem julgando os tribunais do
trabalho:
MENOR DE 14 ANOS – CONTRATO DE
EMPREGO. Conquanto inválido o contrato de
emprego do menor de 14 anos, uma vez
prestado o trabalho, de forma irreversível, faz
jus aos direitos trabalhistas como se válido
fosse o pacto laboral. Do contrário, estar-se-ia
premiando o infrator da lei e prejudicando o
menor a que a legislação confere proteção
especial, inclusive vedando discriminação por
motivo de idade. (TRT-PR/RO 5.772/94. AC
3.ª T 7.444/95. Rel. Juiz João Oreste Dalazen
– 3/03/95).
O tema da contratação do trabalho dos
menores aborda as seguintes hipóteses:
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a) Intervenção da autoridade nos
contratos com menores de 16 anos
Se a contratação ocorreu após a vigência da
Emenda n. 20, de 1998, envolvendo
empregado nesta faixa etária de 14 ou 15
anos, por óbvio que eventual intervenção da
autoridade competente importará rescisão
ope judicis ante a violação ao limite de 16
anos já em vigor. A nulidade terá efeitos ex
nunc e o empregador responderá por multa
administrativa . Logo, o contrato será eficaz
até a rescisão judicial, assegurando ao
empregado todos os direitos trabalhistas
inclusive a anotação da CTPS. A mesma
conclusão se verifica quando da rescisão
ope legis motivada pela Procuradoria do
Trabalho.
CONTRATO DE TRABALHO – MENOR –
NULIDADE – EFEITOS
A vedação ao trabalho do menor estabelecida
constitucionalmente, por si só, não afasta os
direitos trabalhistas alcançados pelo reclamante.
Isso porque à hipótese aplica-se a teoria
trabalhista das nulidades, ou seja, a regra é a da
irretroatividade da nulidade, gerando efeitos
apenas ex nunc. Assim, afigurando-se o vício
concernente à capacidade do laborista,
respeitam-se os efeitos jurídicos do contrato
celebrado, mesmo porque não se pode restituir a
força laborativa despendida pelo obreiro em
benefício do empregador, sob pena de se
estimular o enriquecimento ilícito empresário.
Trata-se, na espécie, de "incapacidade de
proteção". Como leciona Délio Maranhão, "a
nulidade do contrato pela incapacidade do
agente constitui medida de proteção ao incapaz.
Assim, se um menor, que não oculta sua
incapacidade, é admitido como empregado,
desfeito o contrato sem culpa sua, terá todos os
direitos que a lei assegura a quem presta
trabalho subordinado e em função do tempo de
serviço. É que o empregador que, cientemente,
contratou com um incapaz, não pode alegar em
seu proveito a nulidade do contrato pela
incapacidade do menor que para ele trabalhou
(...)"
(in: Direito do Trabalho. 17 ed., Rio de Janeiro:
Fundação Getúlio Vargas, 1993, p. 57). (TRT 3.ª
R. - 1T - RO/16527/99 - Rel. Juiz Denise Alves
Horta - DJMG 29/04/2000, p. 9).
 Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz
b) Caso de convalidação da nulidade do
contrato com menor
Se no momento da declaração da nulidade a
causa de invalidade já tiver desaparecido, o
contrato de trabalho se prorrogará em face
do instituto da convalidação. Portanto, se o
empregado menor de 16 anos continuou
laborando ou retornou a trabalhar depois de
ter completado essa idade, o contrato nulo
será convalidado em contrato eficaz, sendo
devido ao obreiro todos os direitos
trabalhistas, inclusive a anotação da CTPS
do período laborado.
É de se frisar, mais uma vez, que nos
contratos civis a regra geral é de que o ato
nulo não se convalida, nem é passível de
“sanação”. Todavia, em se tratando de
contrato de trabalho, a nulidade absoluta é
passível de “sanação” e convalidação ante os
princípios que lhe são peculiares, sobretudo
o de tutela ao menor incapaz que age de
boa-fé.
4. Previsão legal e
tutela constitucional
A previsão e a regulamentação do Contrato
de Aprendizagem encontram-se dispostas
nos artigos 7.º, XXXIII, e 227, § 3.º, ambos da
CLT; artigos 428 a 433; no Decreto n.
5.598/05; no artigo 15, § 7.º, da Lei. 8.036/90;
nos artigos 62 a 65 do Estatuto da Criança e
do Adolescente (ECA), na Portaria n. 702/01
e nas Instruções Normativas da SIT/MET n.
26/01 e n. 66/06.
CLT - Registre-se que o regramento
original da CLT, atinente ao contrato de
trabalho do aprendiz, sofreu duas
importantes alterações: Lei n. 10.097/00 e
Lei n. 11.180/05.
ECA: Lei 8.069/90.
IN nº 66/06 - Em especial os artigos 2.º,
9.º e 11 dessa IN dispõe sobre a atuação
da inspeção do trabalho de proteção ao
trabalhador adolescente.
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Em face do caráter proeminente dos valores
constitucionais, próprios do sistema jurídico
do tipo aberto como é o nosso, impende, em
primeiro lugar, aludirmos ao princípio
previsto no artigo 227 da Carta da
República, o qual pugna ser dever da
família, da sociedade e do Estado,
assegurar à criança e ao adolescente, com
absoluta prioridade, o direito a educação e
profissionalização, dentre outros valores
supremos (vida, saúde, alimentação, lazer,
cultura, dignidade etc.).
No § 3.º, I a III, do referido artigo 227, o
constituinte dispõe que essa proteção
especial abrangerá, dentre outros aspectos,
a garantia de direitos previdenciários e
trabalhistas; o acesso do trabalhador
adolescente à escola, além de estabelecer a
idade mínima de 14 anos para o contrato de
aprendizagem, e de 16 anos para as demais
hipóteses de trabalho. Finaliza (o § 3.º do
art. 227, da CF), proibindo aos menores de
18 anos a realização de qualquer trabalho
noturno, perigoso ou insalubre. O parágrafo
único do artigo 403 da CLT complementa
essa proibição ao estatuir que o trabalho do
menor não poderá ser realizado em “locais
prejudiciais à sua formação, ao seu
desenvolvimento físico, psíquico, moral e
social e em horários e locais que não
permitam a frequência à escola” .
§ 3.º - Em igual sentido, mencione-se o
artigo 65 do ECA.
Artigo 227, § 3.º, I, combinado com o artigo
7.º, XXXIII, ambos da CF.
Artigo 403 - Em igual sentido reza o artigo
63 do ECA: “a formação técnico-profissional
obedecerá aos seguintes princípios: I)
garantia de acesso e frequência obrigatória
ao ensino regular; II) atividade compatível
com o desenvolvimento do adolescente; III)
horário especial para o exercício das
atividades
 Trabalho infantil
Conforme já foi dito, o tempo de serviço do
empregado-aprendiz que laborou antes dos
16 anos, ou seja, dos 14 aos 16 anos
incompletos, é computado normalmente para
fins previdenciários e de aposentadoria. Do
contrário, a norma especial de tutela ao
adolescente seria interpretada em seu próprio
prejuízo, o que é inadmissível.
1. O aluno-aprendiz que recebeu salário
pode ter o tempo relativo ao período que
estudou em escola de formação
profissional reconhecido e averbado como
tempo de serviço.
2. A vedação constitucional do trabalho ao
menor de 14 anos (art. 7.º, XXXIII, CF) não
se constitui óbice ao reconhecimento do
tempo efetivamente trabalhado para fins
previdenciários. É que a norma se erige em
tutela em favor do menor, não podendo,
evidentemente, prejudicá-lo.
3. Apelação e remessa oficial não-providas.
(TRF 1.ª R. – AC 200001000469455 – MG
– 2.ª T. Supl. – Rel. Juiz Fed. Conv. Carlos
Alberto Simões de Tomaz – DJU
09/12/2004, p. 68).
Por força da Lei 11.180/05, o contrato de
aprendizagem só poderá ser celebrado
dentro da faixa etária dos 14 aos 24 anos; o
que vale dizer que o aprendiz que completar
24 anos deverá ter o seu contrato
rescindido, sob pena de conversão em
contrato de trabalho por tempo
indeterminado. Os aprendizes portadores de
deficiência não estão sujeitos ao limite
máximo de idade, conforme dispõe a nova
redação do artigo 428, § 5.º, e artigo 433,
ambos da CLT.
Essa majoração de idade-limite, de 18 para
24 anos, enseja uma crítica positiva e outra
negativa. A vantagem está na possibilidade
de contratar aprendizes maiores de 18 anos
TRF 4.ª R. – AI 01/04/2003. 029322-0 – 3.ª T. –
Rel. Des. Fed. Luiz Carlos de Castro Lugon –
DJU 03/12/2003, p. 738 - JCF.7 JCF.7.XXXIII
JCLT.429.
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para aqueles ofícios que demandam
formação profissional, mas que se
enquadram como trabalho perigoso,
insalubre ou são realizados em horário
noturno.
Doravante, tais atividades poderão ser
objeto de aprendizagem em contratos
celebrados com aprendizes entre 18 e 24
anos, sem qualquer ofensa à proibição
contida no artigo 7.º, XXXIII, da CF.
Reza o inciso trinta e três do artigo 7.º, da CF:
“proibição de trabalho noturno, perigoso ou
insalubre a menores de 18 anos e de qualquer
trabalho a menores de 16 anos, salvo na
condição de aprendiz, a partir de 14 anos.
Quanto ao ponto negativo dessa majoração
etária, aponte-se o desvirtuamento desse
contrato especial originalmente admitido
para inserir o adolescente no mercado de
trabalho. Se o adolescente de até 18 anos
vê de forma otimista a celebração de
contrato de aprendizagem com pagamento
de salário-mínimo/hora, o mesmo não se dá
com aqueles jovens maiores de 18 anos
que, geralmente, preferirão abrir mão da
profissionalização adquirida para receberem
salário em valor (um pouco) maior que
aquele pago ao aprendiz.
Registre ementa abordando a aplicação do
óbice constitucional para o aprendiz antes da
Lei 11.180/05: “O inciso trinta e três do artigo
7.º da Constituição da República veda que o
menor aprendiz exerça trabalho perigoso.
Portanto, a Lei 10.097/00, no que alterou a
redação do artigo 429 da CLT, não pode
obrigar a agravante a empregar e matricular
nos cursos dos serviços nacionais de
aprendizagem um determinado número de
aprendizes, sob pena de uma violação frontal
àquele preceito constitucional, não sendo
possível uma compatibilização do contexto
normativo de regência. Assim, mercê da
vedação constitucional a que os menores
sejam expostos a condições perigosas de
trabalho, não se afigura razoável que também
a aprendizagem prática, além da teórica,
fique a cargo da entidade de ensino que atua
na respectiva área.
Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz
A medida acaba por retardar a inserção do
jovem no competitivo mercado formal de
trabalho; um reflexo da crise de desemprego
que vivenciamos no atual modelo global e
neoliberal de economia e de Estado,
respectivamente.
5. Conceito de contrato
de aprendizagem
O contrato de aprendizagem tem seu
conceito legal previsto na CLT (art. 428) e no
Decreto n. 5.598/05, além de menção feita
no artigo 62 do ECA.
Artigo 62 do ECA. Considera-se
aprendizagem a formação técnico-
profissional ministrada segundo as
diretrizes e bases da legislação de
educação em vigor.
As três regras são compatíveis, merecendo
transcrição do artigo 3.º do mencionado
decreto:
Contrato de aprendizagem é o contrato de
trabalho especial, ajustado por escrito e por
prazo determinado não superior a dois anos,
em que o empregador se compromete a
assegurar ao aprendiz, inscrito em programa
de aprendizagem, formação técnico-
profissional metódica compatível com o seu
desenvolvimento físico, moral e psicológico, e
o aprendiz se compromete a executar com
zelo e diligência as tarefas necessárias a
essa formação.
Como se vê, não se trata de uma
aprendizagem qualquer, assim rotulada
aleatoriamente pelo contratante para se
beneficiar de algumas vantagens legais (vg:
FGTS de 2%). Para definir aprendizagem,
urge delimitar o alcance da expressão legal
“formação técnico-profissional metódica
compatível com o desenvolvimento pleno do
aprendiz”.
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Oris de Oliveira traz a concepção
internacional do que seria “formação
técnico-profissional”, segundo o Glossário
da Unesco:
É expressão utilizada em sentido lato para
designar o processo educativo quando este
implica, além de uma formação geral, estudo
de caráter técnico e a aquisição de
conhecimento e aptidões práticas relativas ao
exercício de certas profissões em diversos
setores da vida econômica e social.
Assim, prosseguindo a explicação, Oris
distingue “formação profissional” de
“formação técnico-profissional”:
Como consequência de seus extensos
objetivos, o ensino técnico e profissional
distingue-se da formação profissional, que
visa essencialmente adquirir qualificações
práticas e conhecimentos específicos
necessários para a ocupação de um
determinado emprego ou de um grupo de
empregos determinados
OLIVEIRA, Oris de. O Trabalho Infanto-
Juvenil no Direito Brasileiro: trabalho
infantil. 2. ed. Brasil: 1993, p. 86.
Com outras palavras, enquanto a formação
profissional se restringe à capacitação
técnica e específica de determinada
profissão, a formação técnico-profissional,
própria dos contratos de aprendizagem, é
multidisciplinar, abrangendo não só aspectos
práticos profissionalizantes como também
lições de formação geral e de cidadania em
seu sentido amplo.
Nos termos do § 4.º do artigo 1.º da IN n. 26
do MTE, para a definição das funções que
demandam formação profissional deverão
ser considerados a Classificação Brasileira
de Ocupações (CBO) e os seguintes fatores:
Trabalho infantil 9

I) Nível das capacidades profissionais e – educação profissional desenvolvida por

dos conhecimentos técnico-teóricos diferentes estratégias de educação
requeridos para o exercício da atividade continuada em instituições especializadas
profissional; ou no ambiente de trabalho equivalente a
dicção do § 4.º do artigo 428 da CLT
II) Duração do período de formação quando fala em atividades organizadas em
necessário para a aquisição das tarefas de complexidade progressiva
competências e habilidades requeridas; e desenvolvidas no ambiente de trabalho.

III) Adequação da função às necessidades

da dinâmica de um mercado de trabalho Por essa expressão, “tarefas de
em constante mutação. complexidade progressiva”, entende-se como
sendo a realização de atividades mais fáceis
e simples, evoluindo para as mais
Não se ignore que, no Brasil, essa complexas, de acordo com o cronograma
concepção mais larga teve início com a previsto no Programa de Aprendizagem.
menção feita pelo artigo 62 do estatuto
infanto-juvenil: “considera-se aprendizagem a Caio Franco Santos bem lembra que o
formação técnico-profissional ministrada Decreto 2.208/97, que regulamentou a Lei de
segundo as diretrizes e bases da legislação Diretrizes e Bases da Educação, em seu
de educação em vigor”. Segundo Ricardo artigo 4.º, estabelece que o currículo dos
Fonseca, a remissão do artigo 62 do ECA cursos de nível básico (caso da
“rompeu com os limites estreitos do velho aprendizagem) não está sujeito à
contrato de aprendizagem imaginado por regulamentação específica. Assim, caberá às
Getúlio Vargas e possibilitou amplas entidades de educação profissional,
experiências que a propiciem”. atentando-se a critérios razoáveis e ao
objetivo maior de qualificação profissional do
aprendiz, elaborar o Programa de
FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. A Aprendizagem, o método e o currículo,
Reforma no Instituto da Aprendizagem incluindo-se aqui a divisão equitativa das
no Brasil: anotações sobre a Lei atividades teóricas e práticas.
10.097/00. Trabalho em Revista. Encarte
de Doutrina. O Trabalho, n. 49,
março/2001, p. 1.153. SANTOS, Caio Franco. Contrato de
Emprego do Adolescente Aprendiz.
A Lei 10.097/00, que aperfeiçoou o contrato Curitiba: Juruá, 2003, pág. 102-103.
de aprendizagem ao modificar inúmeros
artigos da CLT, absorveu as principais
diretivas da Lei 9.394/96 (Lei de Diretrizes e
Bases da Educação Nacional), em especial
aquelas dos artigos 39 a 41:
6. Objetivos e requisitos
da aprendizagem
– integração da educação profissional ao
trabalho, à ciência e à tecnologia;
– acesso à educação profissional do A aprendizagem tem dois objetivos
trabalhador e aluno do ensino regular; essenciais: promover a inserção do
– avaliação do aproveitamento do curso, o adolescente no mercado de trabalho; e
que é traduzido pelo artigo 430, § 2.º da qualificar a mão-de-obra, a qual poderá,
CLT, que prevê a concessão de certificado posteriormente, ser aproveitada pela
de qualificação profissional; empresa.

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 Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz
Um está imbricado no outro, uma vez que só
se adentra no mercado de trabalho o
profissional qualificado. Em outras palavras,
no atual mercado competitivo, a empresa só
contrata o empregado qualificado.
Nos termos do § 1.º do artigo 428 da CLT, a
validade do contrato de aprendizagem
pressupõe a comprovação de matrícula e de
frequência do aprendiz à escola (caso não
tenha concluído o Ensino Fundamental) e a
inscrição em programa de aprendizagem
desenvolvido sob a orientação de entidade
qualificada em formação técnico-profissional
metódica. Em relação ao aprendiz portador
de deficiência mental, a comprovação de
escolaridade deve levar em conta, sobretudo,
as habilidades relacionadas com
profissionalização que for objeto do contrato.
Nesse sentido, reza o § 6.º do artigo 428 da
CLT: “Para os fins do contrato de
aprendizagem, a comprovação da
escolaridade de aprendiz portador de
deficiência mental deve considerar,
sobretudo, as habilidades e competências
relacionadas com a profissionalização.
Não se perca de vista que a aprendizagem é
considerada um contrato de emprego do tipo
especial, vez que mescla profissionalização
com prestação de serviço. O aprendiz, além
de ser considerado um empregado
subordinado, tem a obrigação especial de
executar com zelo e diligência as tarefas
necessárias à formação técnico-profissional
metódica a que o empregador se obriga a lhe
conceder, por força de lei.
Além dessas obrigações especiais, o contrato
de aprendizagem deve ser ajustado por
escrito e por prazo determinado não superior
a dois anos, conforme a complexidade da
profissão a ser aprendida. Exige-se, ainda, o
registro em CTPS, devendo constar na parte
das “Anotações Gerais” que o contrato de
trabalho encontra-se regido pelo artigo 428 e
seguintes da CLT.
* Art.166 “É nulo o negócio jurídico quando: IV) não revestir a forma prescrita em lei; V) for
preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para sua validade; VI) tiver por
objetivo fraudar lei imperativa”.
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10
Não se ignore que o artigo 29 da CLT
impõe ao empregador a anotação de
todas as condições especiais existentes
em sua CTPS.
A inobservância de qualquer uma dessas
formalidades legais caracterizará nulidade
negocial (art. 166, IV, V e VI do CC*) e fraude
à lei trabalhista (art. 9.º da CLT), implicando a
conversão do contrato formal de aprendiz em
contrato de emprego regido pela CLT:
Para que se configure o contrato de
aprendizagem, nos termos do Decreto-Lei n.
8.622/46 e do Decreto n. 31.546/52, é
imprescindível que o menor aprendiz seja
submetido à formação profissional metódica,
a condição que não restou atendida pela
reclamada. Disso, resulta que, na hipótese, o
contrato firmado pelas partes constitui-se em
contrato de trabalho normal, sem prazo
determinado (TRT, 4.ª. Região, 4.ª. Turma,
Rel. Teresinha Maria Delfina Signori Correia,
RO 616.022/94-8, dec. 06/06/2000).
Em igual sentido é a ementa: “A condição de
menor aprendiz deverá constar da CTPS do
obreiro, nos termos do Decreto n. 31.546/52
e pressupõe estar ele sujeito à formação
profissional metódica do ofício, a qual deveria
corresponder a um processo educacional,
com o desdobramento do ofício, a qual
deveria corresponder a um processo
educacional, com o desdobramento do ofício
ou da ocupação, em operações ordenadas de
acordo com um programa cuja execução se
faça sob a direção de um responsável, em
ambiente adequado à aprendizagem (Portaria
27 do MT, de 18/12/1956). Ausentes estes
requisitos, deve-se assegurar ao trabalhador
o salário-mínimo integral, e não a redução
prevista no artigo 89 da CLT, pois de aprendiz
não se trata.” (TRT, 3.ª Reg, Ac. 2.ª Turma,
RO 19710/92, Rel. Alice Monteiro de Barros,
DJMG: 23/07/1993).
 Trabalho infantil
Uma vez convertido o contrato de aprendiz
em contrato de trabalho normal, o empregado
terá direito a receber a diferença da alíquota
do FGTS (2% e 8%), diferenças do valor do
piso salarial da categoria, além de incidir as
regras de aviso prévio e multa de 40% do
FGTS próprias dos contratos por tempo
indeterminado.
7. Remuneração e duração
da aprendizagem
A nova redação do artigo 428 da CLT, dada
pela Lei 10.097/00, estatui em seu parágrafo
segundo que ao menor aprendiz é garantido
o pagamento de salário-mínimo/hora, salvo
condição mais favorável.
A expressão “salvo condição mais favorável”
refere-se a uma condição expressa que
decorra do contrato ou de norma coletiva.
O artigo 2.º da IN n. 26 do MTE: “Ao
empregado aprendiz é garantido o
salário-mínimo/hora, considerado para tal
fim o valor do salário-mínimo/hora fixado
em lei, salvo condição mais benéfica
garantida ao aprendiz em instrumento
normativo ou por liberalidade do
empregador”. As demais vantagens
previstas nos instrumentos normativos da
categoria estendem-se aos empregados-
aprendizes, vg: ajuda-alimentação,
anuênio etc.
No silêncio, tanto o valor do piso salarial da
categoria quanto do salário-mínimo
profissional não serão aplicáveis aos
contratos especiais de aprendizagem. Não se
confunda a vedação de discriminação salarial
por motivo de idade com a disparidade
salarial do aprendiz.
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11
No primeiro caso, o constituinte,
expressamente, proibiu o tratamento desigual
(art. 7.º, XXX, CF). Quanto ao valor salarial
do aprendiz, em face das peculiaridades
desse contrato, visto como obrigação atinente
à função social da empresa (art. 170, III, da
CF), o tratamento menos vantajoso se
justifica desde que se garanta o valor do
salário-mínimo/hora e eventual condição mais
benéfica contratual ou decorrente de norma
coletiva.
Nesse sentido, registre-se a seguinte
ementa: “Não se reputa contrário a lei ou
a princípio geral de direito estabelecer,
espontaneamente, em sede coletiva,
condições econômicas das quais se
excluam os menores aprendizes. É que
não resulta da idade a discriminação
imposta, mas sim do fato de não
haverem alcançado ainda o domínio da
profissão, daí porque nem mesmo a lei
lhes assegura os mesmos direitos que os
demais trabalhadores.”
TST, SDC, Rel. Min. Armando de Brito,
RODC, ac. 416723, dec. 13/04/1998, DJ
22/05/98, p. 167.
O mesmo se diga quanto à validade da
alíquota reduzida do FGTS (2%) em
comparação com os demais empregados
celetistas (8%), prevista no artigo 15, § 7.º da
Lei 8.036/90 e a exigência de que as férias do
empregado aprendiz coincidam com um dos
períodos escolares do ensino regular quando
solicitado, em conformidade com o § 2.º do
artigo 136 da CLT, sendo vedado o
parcelamento das férias, nos termos do § 2.º
do artigo 134 da CLT.
Em igual direção é o artigo 4.º, da IN n.
26 do MTE.
 Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz
São normas tutelares especiais plenamente
aplicáveis ao contrato especial do aprendiz,
não havendo que falar em ofensa ao
tratamento isonômico. Não se olvide que o
princípio da isonomia, além de pugnar pelo
tratamento igual aos iguais, pressupõe
tratamento desigual aos desiguais na medida
de sua desigualdade, como é o caso do
empregado-aprendiz.
De forma geral, as vantagens previstas nos
instrumentos normativos da categoria (art.
7.º, XXXVI, CF) se aplicam aos aprendizes,
exceto naquelas questões taxativas em que o
legislador permitiu tratamento diferenciado
(valor salarial e FGTS). Para essas situações
de lei, eventual tratamento mais benéfico
deverá ser objeto de norma coletiva
expressa:
O contrato de aprendizagem, não
obstante as condições especiais a que
está submetido, dá origem a uma
verdadeira relação de emprego entre as
partes e, em se tratando de trabalhador
urbano, ao aprendiz se aplica o artigo 7.º,
XXXVI, da CF. (TRT 15.ª R., 2.ª T.,
Luciane Storel da Silva. RO 026622, Ac.
041023/98, DOE 01/12/99).
Ementa extraída da obra citada de Caio
Franco Santo, p. 95.
Considerando que o valor do salário-mínimo
editado anualmente pelo Governo Federal
leva em conta a carga de 8 horas diárias e 44
semanais (art. 7.º, IV e XIII, da CF), tem-se
que o valor do salário-mínimo/hora é aquele
resultante desse valor cheio dividido por 220
(divisor previsto no art. 64 da CLT). Assim,
para o valor de R$380,00 temos o valor do
salário-mínimo/hora equivalente a R$1,72 (ou
seja R$380,00/220 = 1,72).
O empregador deverá remunerar o aprendiz
tanto em relação às horas destinadas às
aulas teóricas de formação técnico-
profissional quanto às horas práticas
realizadas em prol do empregador.
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12
Todas essas atividades são computadas
como jornadas efetivas de trabalho para os
efeitos do artigo 432 da CLT, in verbis:
Artigo 432 – A duração do trabalho do
aprendiz não excederá de seis horas diárias,
sendo vedadas a prorrogação e a
compensação de jornada.
§ 1.º – O limite previsto neste artigo poderá
ser de até oito horas diárias para os
aprendizes que já tiverem completado o
Ensino Fundamental, se nelas forem
computadas as horas destinadas à
aprendizagem teórica.
A melhor exegese desse dispositivo legal
deve considerar a dicção do § 1.º do artigo
428 da CLT:
A validade do contrato de aprendizagem
pressupõe anotação na Carteira de
Trabalho e Previdência Social, matrícula e
frequência do aprendiz à escola, caso não
haja concluído o Ensino Fundamental; e
inscrição em programa de aprendizagem
desenvolvido sob a orientação de
entidade qualificada em formação técnico-
profissional metódica.
Como se vê, o legislador exige que o
aprendiz demonstre ter concluído o Ensino
Fundamental ou que nele esteja matriculado
e frequentando as aulas. Nesse caso, a
duração máxima do contrato de
aprendizagem deverá ser de seis horas
diárias. Contudo, para aqueles que já
concluíram o Ensino Fundamental, a duração
máxima do trabalho do aprendiz é de oito
horas diárias.
Em ambos os casos, a remuneração do
aprendiz sempre incluirá as horas destinadas
às lições teóricas, uma vez que o objeto do
contrato de aprendizagem é justamente a
formação técnico-profissional, a qual
compreende, de forma interligada e supletiva,
aulas teóricas e práticas.
 Trabalho infantil 13

Ricardo Marques da Fonseca entende ser

inconstitucional a distinção de duração legal
de jornada de seis e oito horas diárias, sob o
argumento de ser “anti-isonômica, posto que
vem em prejuízo da escolarização
constitucionalmente preconizada e gera
situações díspares entre trabalhadores em
idades protegidas e com a mesma condição
profissional.
FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. A
Reforma no Instituto da Aprendizagem
no Brasil: anotações sobre a Lei
10.097/00. Trabalho em Revista. Encarte
de Doutrina. O Trabalho. n. 49,
março/2001, p. 1.153.
Ao nosso crivo, não há qualquer mácula
constitucional. Conforme vimos
anteriormente, o artigo 227 da Constituição
Federal, ao mesmo tempo em que dispõe ser
dever do Estado assegurar ao adolescente a
educação e a profissionalização, em seu
artigo 208 estatui ser obrigatório e gratuito
apenas o Ensino Fundamental, garantindo ao
Ensino Médio gratuito apenas uma
“progressiva universalização” (incisos I e II,
respectivamente). Logo, bem ou mal, há
tratamento constitucional distinto para o
Ensino Fundamental e o Ensino Médio,
embasando a distinção feita em igual sentido
pelo artigo 432 e parágrafo 1.º da CLT: seis
horas para os que cursam o Ensino
Fundamental, e oito horas para os que já o
concluíram.
Ainda que omissa a legislação, pode-se inferir
que eventual extrapolamento desses limites
legais implicará na obrigação de remunerar
tais horas como extras, acrescidas do
adicional de 50%. Qualquer conclusão
diversa tornaria letra morta o artigo 432 da
CLT, favorecendo o infrator (in casu o
empregador) em flagrante ofensa ao princípio
de proteção ao empregado-aprendiz. A
imposição de horas extras habituais e
permanentes poderá ensejar a SANTOS, Caio Franco. Contrato de
descaracterização do contrato especial de
aprendizagem, convertendo-o em contrato de
trabalho celetista por tempo indeterminado.
8. Contratação obrigatória
do aprendiz
Nos termos do artigo 429 da CLT, as
empresas de qualquer natureza são
obrigadas a empregar e matricular aprendizes
quando em seu estabelecimento houver
funções que demandem formação
profissional. Eis a dicção da CLT:
Artigo 429 – Os estabelecimentos de
qualquer natureza são obrigados a
empregar e matricular nos cursos dos
Serviços Nacionais de Aprendizagem
número de aprendizes equivalente a
cinco por cento, no mínimo, e quinze por
cento, no máximo, dos trabalhadores
existentes em cada estabelecimento,
cujas funções demandem formação
profissional.
§ 1.º – As frações de unidade, no
cálculo da percentagem de que trata o
caput, darão lugar à admissão de um
aprendiz.
Quando de sua origem, a aprendizagem era
obrigatória apenas nos serviços da indústria e
do comércio, hoje alcança todas as atividades
empresariais que contratem trabalhadores
com funções que demandam formação
profissional. Não há na lei qualquer menção à
lista oficial de ofícios complexos sujeitos à
aprendizagem. Contudo, não são passíveis
de aprendizagem as ocupações que possam
ser aprendidas rapidamente, com poucas
instruções ou que não requeiram
desenvolvimento de habilidades específicas,
tais como office-boy, empacotador, porteiro
de condomínio, mensageiro etc.
Emprego do Adolescente Aprendiz.
Curitiba: Juruá, 2003, p. 107.

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 Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz
Os direitos a educação e profissionalização
da criança e do adolescente, previstos no
artigo 227 da CF, foram estendidos às
empresas dentro do princípio da função social
da propriedade (a empresa privada é uma
manifestação da propriedade) de que trata o
artigo 170, III, da CF.
A denominada eficácia horizontal dos direitos
fundamentais, que estende à iniciativa
privada o codever de prestação social e de
cidadania, é cada vez mais larga no atual
contexto neoliberal de Estado mínimo. Nesse
cenário, em que o Estado se reduz e as
empresas visam tão-somente ao lucro,
passou a ser estratégico o fomento da
atuação das organizações não-
governamentais (ONGs). Apelidadas de
Terceiro Setor, são entidades privadas
constituídas, a rigor, por idealistas que se
associam sem fins lucrativos para ocuparem
espaços antes público, e agora vazio.
Como contribuição à sociedade, o legislador
impôs às empresas privadas a obrigação de
contratar aprendizes equivalentes a 5%, no
mínimo, e 15%, no máximo, dos empregados
existentes em cada estabelecimento, cujas
funções demandem formação profissional.
Observa-se que as empresas públicas e
as sociedades de economia mista só
podem contratar empregados através de
concurso público (art. 37, II, da CF). Tal
exigência constitucional inviabiliza a
extensão dos efeitos da obrigatoriedade
de contratação do empregado-aprendiz
até que sobrevenha lei regulamentadora
do tema.
Tal percentual incide não sobre a empresa
como um todo, mas sobre cada um de seus
estabelecimentos, ou seja, sobre cada
unidade produtiva da empresa (agência, filial
ou sucursal).
Transcreva-se o artigo 1.142 do CC:
“Considera-se estabelecimento todo
complexo de bens organizado, para
exercício da empresa, por empresário, ou
por sociedade empresária”.
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14
Para aferição da cota, deve-se levar em conta
o fechamento mensal do número de
empregados de cada estabelecimento
constante do Cadastro Geral de Empregados
e Desempregados (Caged).
O Caged foi instituído pela Lei 4.923/65.
Registre-se que até o dia sete do mês
subsequente o empregador tem o dever
de informar ao MTE todas as
contratações e rescisões de cada
estabelecimento do mês anterior.
Assim, por exemplo, se uma empresa contém
duas filiais (estabelecimentos), com 150
empregados em cada uma, sendo 120 com
funções que demandem formação
profissional, e destes apenas 100 exercendo
função complexa com oferta de programa
profissionalizante na região, a obrigação de
contratação será de no mínimo 5, e no
máximo 15 aprendizes para cada filial.
Entendimento contrário observa o auditor
fiscal Caio Santos, em que teremos a
seguinte situação extremada:
A empresa tem 60 empregados em
determinada função que, embora demande
formação profissional, não é ensinada em
nenhum curso na localidade, e um
empregado em outra função que também
demanda a formação e para a qual existe
curso. A empresa deveria contratar, então,
segundo o critério que julgamos incorreto,
pelo menos três aprendizes, e só poderia
fazê-lo para aquela função exercida na
empresa por apenas um empregado. Com
tantos aprendizes para realizar tarefas que
um empregado dava conta, é muito provável
que este seja dispensado logo após a
admissão dos adolescentes, a não ser que o
empregador se dê ao luxo de mantê-lo
orientando os três aprendizes.
SANTOS, Caio Franco. Contrato de
Emprego do Adolescente Aprendiz.
Curitiba: Juruá, 2003, p. 64-65.
 Trabalho infantil
O parágrafo 1.º do artigo 429 da CLT dispõe
que as frações de unidade, no cálculo da
percentagem de que trata o caput, darão
lugar à admissão de um aprendiz. Assim, por
exemplo um estabelecimento que tenha 24
empregados com função que demanda
formação profissional deverá contratar no
mínimo 5% de aprendizes, o que equivale a
1,2 (5% de 24 = 1,2). Ora. Aplicando-se essa
regra de que as frações de unidade dão lugar
à contratação de um aprendiz, nesse caso, o
estabelecimento deverá admitir dois
aprendizes.
As frações de unidade inferior a 1 (um)
isentam o empregador da contratação de
aprendiz, sob pena de criarmos exegese
absurda como a do estabelecimento com
apenas um empregado com função
qualificada que tenha que contratar um
aprendiz para a mesma função, uma vez que
5% de 1 é 0,05, ou seja, fração de unidade
que implicaria a contratação de um aprendiz.
Dentro dessa interpretação absurda, a
simples regra de fração multiplicaria o
percentual mínimo de 5% para 100%,
conforme o exemplo imaginado, em que 1
(um) empregado qualificado exigirá a
contratação de 1 (um) aprendiz, ou seja
100% do total. Por certo não foi essa a mens
legis da regra em exame que pretendeu dar à
fração apenas a função de arredondamento e
nunca de multiplicação dos valores.
O artigo 11 da Lei 9.841/99 dispõe que:
“a microempresa e a empresa de pequeno
porte são dispensadas do cumprimento
das obrigações acessórias a que se
referem os artigos. 74; 135, § 2.º; 360; 429
e 628, § 1.º, da Consolidação das Leis do
Trabalho (CLT)”.
Como se vê, uma das isenções das micro e
pequenas empresas refere-se à contratação
compulsória do aprendiz prevista no artigo
429 da CLT. Da mesma forma, as entidades
sem fins lucrativos que tenham por objetivo a
educação profissional estão alijadas do limite
fixado no artigo 429 para contratação
obrigatória de aprendiz. Nesse sentido, é
previsão do § 1.ºA do artigo 429 da CLT.
Pro-reitoria de Desenvolvimento
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15
Instrução Normativa n. 26, em seu artigo 1.º,
§ 5.º, incisos VI e VII do MTE exclui da quota
legal as funções caracterizadas como de
direção, gerência ou de confiança (art. 62, II,
da CLT) e aquelas prestadas sob o regime de
trabalho temporário (Lei 6.019/74). Também
encontram-se alijadas da quota legal todas as
funções que exijam habilitação profissional de
nível técnico ou superior (inciso III):
O cálculo da quantidade de aprendizes a
serem contratados terá por base o número
total de empregados em todas as funções
existentes no estabelecimento que
demandem formação profissional, excluindo-
se aquelas que exijam “habilitação
profissional de nível técnico ou superior"
(Inteligência da IN n. 26, art. 1.º, do MTE).
Assim, para efeitos desse critério, estão
incluídos todos os empregados cuja formação
organizada fundamentalmente visar à
preparação dos jovens para a escolha de um
ofício ou de um ramo de formação,
familiarizando-os com os materiais, os
utensílios e as normas de trabalho próprios
de um conjunto de atividades profissionais.
Por isso, também devem ser excluídos do
cálculo da percentagem aqueles
trabalhadores que exercem atividades
incompatíveis com o trabalho de aprendizes,
como os motoristas de caminhão.
(TRT 12.ª R. – RO-V 00110-2003-012-12-00-7 –
(12.577/04) – Florianópolis – 2.ª T. – Rel. Juiz
Garibaldi Tadeu Pereira Ferreira – J. 15/10/04).
Conforme Decreto n. 5028/04, considera-
se microempresa, para efeitos da Lei
9841/99, a pessoa jurídica e a firma
mercantil individual que tiver receita bruta
anual igual ou inferior a R$ 244.000,00
(duzentos e quarenta e quatro mil reais).
Da mesma forma, considera-se empresa
de pequeno porte, a pessoa jurídica e a
firma mercantil individual que, não
enquadrada como microempresa, tiver
receita bruta anual superior a
R$244.000,00 (duzentos e quarenta e
quatro mil reais) e igual ou inferior a
R$1.200.000,00 (um milhão e duzentos
mil reais).
Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz
Finalmente, a empresa se desobriga do ônus
da contratação compulsória, caso não haja
na região qualquer programa
profissionalizante compatível com o seu
quadro de funções que demandem formação
profissional ou, em havendo os programas,
não haja vagas disponíveis. Nesse caso, o
MTE não poderá autuar a empresa.
Antigamente, nessas hipóteses de ausência
de curso ou falta de vagas ofertadas pelo
Senai ou Senac, a empresa poderia
implementar a Aprendizagem Metódica no
Próprio Emprego (Ampe).
Nesse sentido, era a previsão do
artigo 2.º, do Decreto 31.546/52.
Sobre o tema: Tércio José
VIDOTTI, Breves anotações a
respeito das alterações
promovidas pela Lei n. 10.097/00
no contrato de aprendizagem.
Direito do Trabalho – Março/2003,
vol. 104, p. 23.
Contudo, a partir da nova redação dada ao
parágrafo primeiro do artigo 428 da CLT, a
validade do contrato de aprendiz está
condicionada a “inscrição em programa de
aprendizagem desenvolvido sob a orientação
de entidade qualificada em formação técnico-
profissional metódica”. (Redação dada pela
Lei 10.097/00).
Em caso de descumprimento de tais
imposições legais, a empresa estará sujeita a
aplicação de multa administrativa por parte do
auditor fiscal do MTE, além de ser chamada
pelo Ministério Público do Trabalho para
firmar termo de ajuste de conduta que vise
dar cumprimento a esse direito social.
Em que pese o artigo 429 da CLT impor que
“os estabelecimentos de qualquer natureza”
são obrigados a contratar aprendizes, há
parcela da doutrina que exclui desse ônus os
empregadores constituídos em profissionais
liberais, entidades beneficentes ou sem fins
lucrativos ou associações recreativas.
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16
Segundo Caio Santos, aludida obrigação
concerne apenas às empresas que exercem
uma atividade econômica e assumem seus
riscos, uma vez que o artigo 2.º, §1.º, da CLT
preceitua que tais entes se equiparam aos
empregadores “para os efeitos exclusivos da
relação de emprego”.
SANTOS, Caio Franco. Contrato de
Emprego do Adolescente Aprendiz.
Curitiba: Juruá, 2003, p. 61.
Assim, complementa o auditor fiscal,
considerando que a norma que obriga a
contratação de aprendizes (CLT, art. 429,
caput) não regula uma relação de emprego
nem lhe estabelece obrigação acessória, tais
entidades encontram-se desonerados da
contratação compulsória.
9. Entidades de formação
profissional e modos de
contratação
No ano 2000, através da Lei 10.097, houve
uma verdadeira reforma jurídica na regulação
do contrato de trabalho do aprendiz. O ponto
mais significativo foi a possibilidade de o
programa de aprendizagem ser desenvolvido
por Escolas Técnicas de Educação ou por
entidades sem fins lucrativos. Isso só é
possível nos casos de omissão ou
insuficiência de vagas ofertadas por um dos
respectivos Serviços Nacionais de
Aprendizagem (Senai, Senac, Senat, Senar
ou Sescoop).
Nesse sentido, transcreva-se o que dispõe a
CLT:
Artigo 430 Na hipótese de os Serviços
Nacionais de Aprendizagens não
oferecerem cursos ou vagas suficientes
para atender à demanda dos
estabelecimentos, esta poderá ser suprida
por outras entidades qualificadas em
formação técnico-profissional metódica, a
saber:
Trabalho infantil
I) Escolas Técnicas de Educação;
II) Entidades sem fins lucrativos, que
tenham por objetivo a assistência ao
adolescente e à educação profissional,
registradas no Conselho Municipal dos
Direitos da Criança e do Adolescente.
Não se confunda, pois, a realização do
Programa de Aprendiz com a contratação
formal do aprendiz. Explica-se.
Enquanto o Programa de Aprendizagem pode
ser desenvolvido por uma das três entidades
mencionadas no artigo 430, I e II , o contrato
especial de trabalho do aprendiz (art. 428,
CLT) somente pode ser celebrado de duas
maneiras: diretamente entre a empresa e o
adolescente; ou diretamente entre a entidade
sem fim lucrativo (mencionada no art. 430, II)
e o adolescente. São elas: o Serviço Nacional
de Aprendizagem e, sucessivamente, a
Escola Técnica ou ONG (organização não-
governamental) que tenha por objetivo de
educação profissional ao adolescente.
A propósito, transcreva-se a inovação legal:
Artigo 431 da CLT – A contratação
do aprendiz poderá ser efetivada pela
empresa onde se realizará a
aprendizagem ou pelas entidades
mencionadas no inciso II do artigo
430, caso em que não gera vínculo
de emprego com a empresa
tomadora dos serviços.
Urge comentar as duas modalidades de
contratação do aprendiz infanto-juvenil:
a) Vínculo empregatício com a empresa
(tomadora) na hipótese em que esta
contrata diretamente o aprendiz e o
matricula num Programa de Aprendizagem
ofertado pelo Serviço Nacional de
Aprendizagem, e na omissão deste ou
precariedade de vagas, por uma Escola
Técnica ou entidade sem fins lucrativos.
Exegese do artigo 430, I e II da CLT.
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Nesta hipótese “a”, todos os direitos
trabalhistas serão recolhidos e pagos pela
empresa tomadora, além de ela custear a
despesa do Programa de Aprendizagem
através do repasse dos respectivos valores
mensais demonstrados e predeterminados
para uma das entidades apontadas no artigo
430 da CLT (Serviços Nacionais de
Aprendizagem, Escolas Técnicas ou
Entidades sem fins lucrativos). Registre-se
que quanto aos Serviços Nacionais de
Aprendizagem geralmente não há qualquer
ônus para a empresa, na medida em que eles
já são custeados por lei através de
contribuição patronal compulsória feita
mensalmente em folha de pagamento.
A contribuição patronal, geralmente de
1% (exceto o Senar e o Sescoop, que é
de 2,5% por acumularem o serviço social
e a aprendizagem) é arrecadada pelo
INSS que repassa ao serviço nacional
correspondente, conforme explica Caio
Franco Santos, obra citada, p. 110.
b) Vínculo empregatício com a entidade
sem fins lucrativos mencionada no artigo
430, II, da CLT, na hipótese em que esta
própria (ONG) contrata diretamente o
aprendiz e faz a intermediação dele
(aprendiz) com a empresa tomadora.
Exegese do artigo 431 da CLT.
Nesta hipótese “b”, a empresa tomadora,
para se eximir da obrigação legal prevista no
artigo 429, celebra contrato civil com a ONG
contratante, comprometendo-se a repassar
mensalmente os valores integrais dos
encargos sociais (direitos trabalhistas e
previdenciários) e das demais despesas
despendidas e comprovadas para viabilizar o
Programa de Aprendizagem.
O contrato de aprendizagem deve indicar
expressamente o oficio que for objeto da
formação técnico-profissional, o horário das
atividades teóricas ou práticas, a jornada de
trabalho, a data de inicio e término e a
remuneração mensal.
Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz
A entidade responsável pela aprendizagem
assina o respectivo contrato na qualidade de
interveniente no processo de formação,
conjuntamente com a empresa, com o
adolescente aprendiz e seu responsável
legal.
Registre-se que tal Programa de
Aprendizagem pode ser executado pela
própria ONG (entidade prevista no art. 430, II,
CLT) ou através do Serviço Nacional de
Aprendizagem ou de uma Escola Técnica.
Em igual sentido é o parágrafo único do
artigo 2.º da Portaria n. 702 do MTE.
Nesse caso, teremos uma relação triangular:
a empresa privada celebra contrato com a
ONG, que fica incumbida de intermediar e
contratar (CTPS) o aprendiz, que será
submetido a um Programa de Aprendizagem
feito por um terceiro conveniado com a ONG
(Serviço Nacional de Aprendizagem ou uma
Escola Técnica).
Em tais casos surgiu uma dúvida: a ONG que
tenha por objetivo a educação profissional
poderá contratar apenas de 5 a 15% de
aprendizes em relação ao número total de
empregados. Ora, por uma questão óbvia, o
limite fixado no artigo 429 (de 5 a 15%) não
se aplica a tais entidades sob pena de
inviabilizar o próprio objetivo pela qual foi
constituída. O legislador, a fim de evitar
qualquer dúvida, dispôs expressamente, no §
1.ºA do artigo 429 da CLT:
“O limite fixado neste artigo não se aplica
quando o empregador for entidade sem fins
lucrativos, que tenha por objetivo a educação
profissional.”
Há quem critique essa abertura dada pela Lei
10.097/00 às entidades sem fins lucrativos e
às Escolas Técnicas. Nessa esteira, Pedro
Proscurcin lamenta:
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A nova norma promoveu grave flexibilidade
numa área fundamental para a sociedade: a
formação e a qualificação de pessoal. Essa
abertura não pode ser uma forma de
transferência de responsabilidades e de
racionalização de custos sociais
indispensáveis para a construção de uma
nação livre com profissionais qualificados.
PROSCURCIN, Pedro. A Quarteirização
da Aprendizagem. In: Revista LTr, vol. 71,
n. 07, julho de 2007.
O festejado procurador do Trabalho, Ricardo
Tadeu Marques da Fonseca, profundo
conhecedor do tema e conhecido por sua
atuação intensa na efetividade dos direitos
sociais, relata que essa inovação normativa
que criou a possibilidade de entidades sem
fins lucrativos intermediarem a contratação de
aprendizes teve início com ação bem
sucedida promovida pela Procuradoria do
Trabalho da 15.ª Região, em conjunto com a
DRT de São Paulo.
Naquela ocasião, concluiu-se que mais de
100 entidades de guarda-mirins do Estado
encontravam-se em situação de aparente boa
intenção, contudo sem qualquer garantia de
direitos trabalhistas e previdenciários.
Após lavratura de Termos de Ajustamento de
Conduta perante o Ministério Público do
Trabalho, houve registro de cerca de 10 mil
adolescentes em CTPS. Tal acontecimento
foi decisivo para que uma comissão pluri-
institucional elaborasse Projeto de Lei que
culminou com a Lei 10.097/00.
Diante de tais fatos históricos, o procurador
Ricardo Fonseca assim comenta a prática
dos adolescentes serem contratados por
essas entidades sem fins lucrativos (a
exemplo da Guarda-Mirim) e acompanhados
por educadores junto às empresas
conveniadas:
Trabalho infantil
Esta prática já demonstrou fantásticos
resultados, pois os Programas de
Aprendizagem devem se desenvolver em
cenários laborais devidamente equipados e
com experiências concretas de trabalho.
Tanto as máquinas quanto o trabalho
propriamente dito, por vezes, não se podem
obter sem pesados ônus para as entidades
do Terceiro Setor. Destarte, o aprendizado
teórico fica complementado pela
indispensável experiência prática que as
empresas oferecem.
Estas, de outra parte, têm atendida a sua
demanda de mão-de-obra qualificada com a
supervisão do sistema S ou das próprias
entidades sem fins lucrativos, aos quais
cabe o acompanhamento profissionalizante
do jovem trabalhador.
A experiência prática demonstrou, ademais,
que a ideia da aprendizagem metódica no
próprio emprego não atingiu bons
resultados.
Assim, buscou-se dar cumprimento à
determinação constitucional de garantir a
profissionalização de adolescentes, com
envolvimento da empresa, da sociedade civil
– por meio do Terceiro Setor – e do Estado,
eis que são outorgadas às entidades do
Terceiro Setor isenções sobre a folha de
pagamento de seus funcionários (art. 55 da
Lei 8.212/91.
FONSECA, Ricardo Tadeu Marques da. A
Reforma no Instituto da Aprendizagem no
Brasil: anotações sobre a Lei 10.097/00.
Trabalho em Revista. Encarte de
Doutrina: O Trabalho. n. 49, março/2001,
p. 1.153.
O autor complementa sua ideia assim: “Com
isso, o Estado incentiva a contratação de
aprendizes, sem incidência de encargos
previdenciários, patronais ou Imposto de
Renda, desde que tais aprendizes sejam
contratados por intermédio dessas entidades
sem fins lucrativos”.
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Destarte, não se pode negar que a ampliação
dada pelo legislador para possibilitar a
contratação de aprendizes através de
entidades sem fins lucrativos pautou-se em
motivação lídima e histórica, máxime para
suprir as carências de cursos e fortalecer os
Programas de Aprendizagem.
ARRUDA, Hélio Mário de. O Novo
Contrato de Aprendizagem (Lei n.
10.097/00). Trabalho em Revista Encarte
de Doutrina: O Trabalho, n. 52,
Junho/2001, p. 1.233.
Ademais, a prática tem demonstrado que tais
ONGs, que têm por objetivo a assistência à
educação profissional de adolescente, via de
regra, são mais acuradas no compromisso de
atingir os objetivos do Programa de
Aprendizagem do que os Serviços Nacionais
de Aprendizagem mantidos e pertencentes às
Confederações Nacionais dos Empregadores.
A jurisprudência também vê com bons olhos a
intermediação das entidades sem fins
lucrativos para a contração de aprendizes:
Quando a Empresa Brasileira de Correios e
Telégrafos (EBTC) celebra convênio com
associação de bairros para receber em suas
dependências menor carente na qualidade de
adolescente aprendiz, não está agindo de
modo fraudulento, no intuito de desvirtuar a
aplicação dos preceitos contidos na CLT. A
bem da verdade, a EBCT está participando
de programa social, pautado em trabalho
educativo, que, nos termos do artigo 68,
parágrafo 1.º da Lei n. 8.069/90, entendido
como "a atividade laboral em que as
exigências pedagógicas relativas ao
desenvolvimento pessoal e social do
educando prevalecem sobre o aspecto
produtivo.
TRT 3.ª R. – RO 10.862/02 – 2.ª T. – Rel.
Juiz Fernando Antônio de Menezes Lopes
– DJMG 09/10/02.
Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz
Some-se a isso o interesse direto dessas
ONGs em cumprir sua função a fim de fazer
valer a cobrança de suas despesas de
pessoal e viabilizar o seu objetivo primordial,
qual seja o de qualificar o adolescente para
futuro aproveitamento por parte da empresa
conveniada. Não bastasse isso, o Ministério
do Trabalho e Emprego, através da Portaria
n. 702, estabelece normas para avaliação da
competência dessas entidades.
10. Fiscalização e requisitos
de funcionamento das
entidades
A entidade responsável pelo Programa de
Aprendizagem, qualquer que seja, deverá
contar com estrutura adequada ao seu
desenvolvimento, de forma a manter a
qualidade do processo de ensino, bem como
acompanhar e avaliar os resultados,
conforme dispõe o § 1.º do artigo 430 da
CLT . Tal regra não se estende às ONGs, que
apenas contratam e intermedeiam a
aprendizagem.
Artigo 430, § 1.º As entidades
mencionadas neste artigo deverão contar
com estrutura adequada ao
desenvolvimento dos Programas de
Aprendizagem, de forma a manter a
qualidade do processo de ensino, bem
como acompanhar e avaliar os
resultados.
O parágrafo terceiro do artigo 430 da CLT
prevê que o Ministério do Trabalho e
Emprego fixará normas para avaliação da
competência das entidades mencionadas no
inciso II deste artigo, quais sejam as ONGs
que tenham por objetivo a educação
profissional infanto-juvenil.
Nessa esteira, foi editada a Portaria n.
702/01, a qual dispõe, em seu artigo 2.º, que
o Programa de Aprendizagem para o
desenvolvimento de ações de educação
profissional, no nível básico, deve contemplar
o seguinte:
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I) Público-alvo do curso – número de
participantes, perfil socioeconômico e
justificativa para o seu atendimento;
II) Objetivos do curso – propósito das ações
a serem realizadas, indicando sua relevância
para o público-alvo e para o mercado de
trabalho
III) Conteúdos a serem desenvolvidos –
conhecimentos, habilidades e competências,
indicando sua pertinência em relação aos
objetivos do curso, público-alvo a ser
atendido e potencial de aplicação no mercado
de trabalho;
IV) Carga horária prevista – duração, em
horas, do curso e distribuição da carga
horária, justificada em função do conteúdo a
ser desenvolvido e do perfil do público-alvo;
V) Infraestrutura física – equipamentos,
instrumentos e instalações demandados para
o curso, em função dos conteúdos, da
duração e do número e perfil dos
participantes;
VI) Recursos Humanos – número e
qualificação do pessoal técnico-docente e de
apoio, em função dos conteúdos, da duração
e do número e perfil dos participantes;
VII) Mecanismos de acompanhamento,
avaliação e certificação do aprendizado;
VIII) Mecanismos de vivência prática do
aprendizado e/ou de apoio. Mecanismos para
propiciar a permanência dos aprendizes no
mercado de trabalho após o término do
contrato de aprendizagem.
O artigo 3.º da Portaria n. 702 dispõe que a
Secretaria de Inspeção do Trabalho
(SIT/TEM) baixará instrução para orientar a
fiscalização das condições de trabalho no
âmbito dos Programas de Aprendizagem. Em
20 de dezembro de 2001 foi editada a
Instrução Normativa n. 26, com destaque
para o seu artigo 1.º, § 3.º, que estabelece as
seguintes condições de validade do contrato
de aprendizagem:
Trabalho infantil
I) Registro e anotação na Carteira de
Trabalho e Previdência Social (CTPS);
II) Matrícula e frequência do aprendiz à
escola de ensino regular, caso não
tenha concluído o ensino obrigatório;
III) Inscrição do aprendiz em curso de
aprendizagem desenvolvido sob a
orientação de entidade qualificada em
formação técnico-profissional metódica,
nos moldes do artigo 430 da CLT;
IV) Existência de Programa de
Aprendizagem, desenvolvido através de
atividades teóricas e práticas, contendo
os objetivos do curso, conteúdos a
serem ministrados e a carga horária.
Destaque-se, ainda, a dicção do artigo 7.º da
IN n. 26 atinente à fiscalização das ONGs
que contratam aprendizes:
Artigo 7.° – Os auditores fiscais do Trabalho
verificarão se as entidades sem fins lucrativos
que contratam aprendizes, em conformidade
com o artigo 431 da Consolidação das Leis
do Trabalho (CLT), efetuaram o devido
registro e a anotação na Carteira de Trabalho
e Previdência Social (CTPS) e se estão
assegurando os demais direitos trabalhistas e
previdenciários oriundos da relação de
emprego especial de aprendizagem,
examinando, ainda:
I) a existência de certificado de registro da
entidade sem fins lucrativos no Conselho
Municipal dos Direitos da Criança e do
Adolescente, como entidade que objetiva à
assistência ao adolescente e à educação
profissional;
II) a existência de programa de aprendizagem
contendo, no mínimo, objetivos do curso,
conteúdos a serem desenvolvidos e carga
horária prevista;
III) declaração de frequência escolar do
aprendiz no ensino regular;
IV) contrato ou convênio firmado entre a
entidade e o estabelecimento tomador dos
serviços para ministrar a aprendizagem;
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V) os contratos de aprendizagem firmados
entre a entidade e cada um dos aprendizes.
Parágrafo único: Deverão constar nos
registros e nos contratos de aprendizagem a
razão social, o endereço e o número de
inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa
Jurídica (CNPJ) da empresa tomadora dos
serviços de aprendizagem que estiver
atendendo a obrigação estabelecida no artigo
429 da CLT.
11. Rescisão do contrato
de aprendizagem
O contrato especial de aprendizagem
extingue-se em duas hipóteses: quando o
aprendiz concluir o curso ou quando ele
completar 24 anos (art. 433, caput, da CLT),
exceto o aprendiz portador de deficiência,
que não se submete a limite de idade.
Combinando o artigo 433 da CLT com o
artigo 16 da IN n. 26 do MTE, a rescisão
antecipada do contrato do aprendiz pode
ocorrer nos seguintes casos (previstos nos
incisos I a IV da IN n. 26):
I) Desempenho insuficiente ou
inadaptação do aprendiz;
II) Falta disciplinar grave nos termos do
artigo 482 da CLT;
III) Ausência injustificada à escola
regular que implique perda do ano
letivo; e
IV) A pedido do aprendiz.
A hipótese do inciso I somente ocorrerá
mediante manifestação da entidade
executora da aprendizagem, a quem cabe a
sua supervisão e avaliação, após consulta ao
estabelecimento onde se realiza a
aprendizagem. Quanto à hipótese do inciso II,
registre-se que o § 2.º do artigo 432 da CLT
considerava justa causa a falta reiterada do
aprendiz no cumprimento dos deveres
escolares do respectivo curso ou a falta de
razoável aproveitamento.
Análise do Trabalho Infantil no Contexto Nacional e a Lei do Menor Aprendiz 22

A partir da revogação deste dispositivo, dada Logo, há sim estabilidade provisória do

pela Lei 10.097/00, não se considera mais
“falta disciplinar grave” os casos de
desempenho insuficiente, a inadaptação do
aprendiz ou a ausência injustificada à escola
que implique perda do ano letivo. Todas
essas hipóteses autorizam apenas a
cessação antecipada do contrato, mas sem
justa causa.
BARROS, Alice Monteiro de. Curso de
Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, p.
563.
empregado durante o período de
aprendizagem.
Por força do § 2.º do artigo 433 da CLT, nas
hipóteses de rescisão antecipada do contrato
de aprendizagem não se aplicam os artigos
479 e 480 da CLT, que tratam da indenização,
por metade, da remuneração a que teria
direito até o termo do contrato. Logo, nesse
caso, há quem defenda a aplicação da regra
do artigo 481 da CLT , que reza:

A hipótese do aludido inciso III, do artigo 16 Aos contratos por prazo determinado que
da IN 26 (ausência injustificada à escola), contiverem cláusula assecuratória do direito
deverá ser comprovada através da recíproco de rescisão antes de expirado o
termo ajustado, aplicam-se, caso seja
apresentação de declaração do exercido tal direito por qualquer das partes,
estabelecimento de ensino regular. os princípios que regem a rescisão dos
contratos por prazo indeterminado.
Boa parcela da jurisprudência vem
sinalizando que, fora dessas hipóteses, fica
vedada a dispensa arbitrária ou sem justa
causa do empregado aprendiz: Nesse sentido, sustenta Ricardo Tadeu
Marques da Fonseca. Obra citada, p.
Goza o menor aprendiz, durante todo o 1153.
período de aprendizagem, de estabilidade
provisória, não podendo o empregador
rescindir o contrato antes do seu termo, a não Considerando que o aprendiz detém
ser por justa causa incluída a específica do estabilidade provisória no emprego, tal
artigo 432, § 2.º da CLT. prerrogativa (art. 481, CLT) aplica-se apenas
(TRT, 2.ª Região, RO n. 02950468033/95. quando a rescisão antecipada for de iniciativa
Rel. Wilma Nogueira de Araújo Vaz da Silva, do empregado ou nas hipóteses dos incisos I
28/04/97). e III do artigo 16 da IN n. 26 acima transcrita.

Deveras, permitir que o empregador sem

qualquer justificativa possa interromper
abruptamente o Programa de Aprendizagem
e rescindir o contrato de trabalho do aprendiz
é, sem dúvida, permitir o total desvirtuamento
da mens legis em relação a todo o
regramento da matéria. O direito potestativo
do empregador, de dispensa sem justa causa,
não pode sobrepor-se a regras tutelares
dessa natureza, mormente porque nessa
espécie contratual o que menos se leva em
conta é a autonomia privada, a qual está
ausente até mesmo para contratar aprendizes
(fato que resulta de imposição legal: art. 429
da CLT).

Professor José Affonso Dallegrave Neto

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Trabalho infantil 23

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