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Série Mitologia - Celtas

Fernando Martins – ofernando@globo.com


Terapeuta Holístico – CRT 37.039
http://fmth.webnode.com

A LENDA DE DEVORGUILLA

O irredutível afã individualista dos celtas fará com que deparem sempre com grandes doses
de sofrimento, sobretudo na Irlanda. Antes de existir como uma unidade, os celtiberos
também estavam divididos em vários reinos poderosos que por sua vez incluíam em seu
seio antigos domínios de senhores locais.
No século XV, os chamados Reis Católicos encarnaram a ânsia profunda do Grande Rei
Supremo, o Unificador — papel que, salvo as distâncias, Artur assumiria na Inglaterra e
Vercingetórix na Gália —, ao conseguir a primeira grande fusão de povos peninsulares que
daria forma ao conceito de Espanha como tal. Aqui se aproveitou o conceito de
administração e burocracia implícito na romanização do país, que serviu para unificá-lo e
organizá-lo. Mas os antigos irlandeses não contavam com essa bagagem. Até a Idade
Média, a ilha desenvolveu unicamente o sistema social céltico, dividindo-se em quatro
reinos físicos e mais um espiritual: Ulster no Norte, Connacht ou Connaught no Oeste,
Leinster no Leste e Munster no Sul. Passavam o dia guerreando uns contra os outros —
sobretudo os primeiros — para tentar impor sua supremacia definitiva sem consegui-lo.
Meath, que aspirava também a englobar a todos do ponto de vista mais religioso, era o
quinto reino. Durante alguns períodos históricos, houve ainda um local para fragmentar
esses territórios em mais algum outro, mas em essência esses foram sempre os principais.
O problema dos contínuos choques internos propiciou, a partir do século XI, a invasão de
piratas, sobretudo saxãos e dinamarqueses — os que certamente fundariam Dubh Linn, a
atual capital, que significa "Lagoa Negra", exatamente porque os irlandeses chamavam
esses invasores de "pessoas negras" — de acordo com outro costume tão empregado como
nefasto de pedir ajuda a outros povos para enfrentarem-se entre si.
Esses normandos foram os fundadores das primeiras cidades merecedoras de tal nome na
ilha. Com exceção de Dublin, podemos citar Wicklow, Waterford, Limerick ou Cork.
Foram expulsos depois de muito sofrimento no final do reinado de Brian Boru, na batalha
diante dos mesmos muros da atual capital irlandesa, mas voltariam "reencarnados" na
forma da aristocracia anglo-normanda que se havia estabelecido na Inglaterra.
O mito afirma que no ano 1116, o rei de Leinster e Dublin, Dermot Mac Murrough,
apaixonou-se e raptou Devorguilla, ou Dervorgauill, esposa do rei 0'Rourke de Breffini, um
de seus vassalos. A cólera deste deve ter diminuído a da deusa da guerra, porque não cedeu
até que ele tivesse feito com que todos os territórios de Mac Murrough pegassem em armas
contra ele, derrotando-o e obrigando-o a fugir da Irlanda.
Um humilhado e furioso ex-monarca de Leinster foi pedir ajuda ao poderoso rei Henrique
II Plantageneta da Inglaterra, duque de Aquitânia e da Normandia e regente da Bretanha
Armórica, que soube reconhecer a possibilidade de engrandecer suas possessões, e melhor
ainda se a custo de seus incompreensíveis e bárbaros vizinhos irlandeses. Enviou então para
lá seus principais barões que, após uma primeira tentativa que não deu certo, conseguiram
se consolidar em Baginbun. O chefe de suas tropas, Sir Richard de Pembroke, apoderou-se
de Waterford e Dublin e utilizou as duas cidades para receber e organizar as tropas que
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regularmente chegavam de Londres. No melhor da guerra, Mac Murrough morre e


Henrique II percebe que, depois de tudo, por que compartilhar a ilha vizinha com algum
reizinho local se pode conquistá-la inteira para si próprio?
O último grande exército que conseguiu reunir os irlandeses contra os invasores foi
comandado pelo rei Rory 0'Connor. Esteve a ponto de vencer os ingleses, comandados pelo
de Pembroke, mas a historia céltica é um perpétuo "quase" e no final foi derrotado pelos
ingleses. Pouco a pouco, o exército ocupante foi estendendo seu controle sobre mais terras,
até que toda a ilha foi subjugada pela coroa britânica. O Rei Unificador havia chegado,
enfim, para as tribos do Eire, mas não na forma como haviam desejado. Desde aquele
momento, sucederam episódios certamente dramáticos e cruéis com uma Inglaterra em
geral indiferente para os problemas dos irlandeses, até mesmo em ocasiões gabando-se de
um cruel trato feito com eles, explorando-os sempre, sobretudo do ponto de vista
econômico e militar. Uma atitude que provocou contínuas — e continuamente abortadas —
rebeliões, que tiveram de esperar até meados do século XX para obter algum fruto.
Em nosso século, o Eire recuperou a liberdade, ainda que não por completo. Seis dos
condados do mais rico e poderoso de seus reinos tradicionais, o Ulster, ficaram sob controle
de Londres após o acordo de 1921, o que provocaria uma guerra civil entre os irlandeses
favoráveis à obtenção da liberação e da unificação completa da ilha sob uma só república e
os que pensavam que depois de tantos séculos de sofrimento mais valia aproveitar aquela
oportunidade histórica.
Ganharam os últimos, mas nas ruas de Belfast ou de Derry — que os ingleses rebatizaram
de Londonderry, para humilhar os irlandeses —, nos bairros católicos, há ainda grandes
faixas coloridas nas paredes que equiparam Cuchulainn e companhia aos atuais ativistas do
IRA: os restos do exército republicano irlandês, que nunca renunciou à unificação apesar de
ter de se ver reduzido a um grupo armado. Outros grupos terroristas de origem protestante
nasceram para fazer-lhe frente com as mesmas armas, e ainda hoje continuam a arruinar a
vida uns dos outros, como se ressoassem os ecos da maldição de Macha, uma das lendas
mais famosas do Ulster.

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