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2 ESPÉCIES DE ABORTO
a) Aborto natural: é a interrupção da gravidez oriunda de vários fatores de ordem natural, sendo este
realizado pelo próprio corpo da mulher, sem influência externa. Neste caso, o fato é impunível pois não há
conduta.
b) Aborto acidental: é a cessação da gravidez por conta de causas exteriores e traumáticas, como
quedas e choques. Neste caso a conduta não é típica por falta de tipo subjetivo (dolo), tendo-se em vista que
no crime de aborto não há modalidade culposa.
d) Aborto permitido ou legal: é a cessação da gestação, com a morte do feto ou embrião, admitida
por lei. Esta forma divide-se em:
d.1) Aborto terapêutico ou necessário: é a interrupção da gravidez realizada por recomendação
médica, a fim de salvar a vida da gestante. Trata-se de uma hipótese específica de estado de necessidade;
d.2) Aborto sentimental ou humanitário: é a autorização legal para interromper a gravidez quando a
mulher foi vítima de estupro. Dentro da proteção à dignidade da pessoa humana, em confronto com o direito
à vida (nesse caso, do feto ou embrião), optou o legislador por proteger a dignidade da mãe, que, vítima de um
crime hediondo, não quer manter o produto da concepção em seu ventre, o que lhe poderá trazer sérios entraves
de ordem psicológica e na sua qualidade de vida futura;
Além das duas formas admitidas por lei, há também o aborto de fetos anencéfalos. O STF julgou não
configurar crime a interrupção da gravidez de fetos anencéfalos (ADPF 54, Pleno, rel. Marco Aurélio,
12.04.2012, m. v.). Anencefalia é a malformação do tubo neural, a caracterizar-se pela ausência parcial do
encéfalo e do crânio, resultante de defeito no fechamento do tubo neural durante o desenvolvimento
embrionário. O diagnóstico desta anomalia reclama a ausência dos hemisférios cerebrais, do cerebelo e de um
tronco cerebral rudimentar ou a inexistência total ou parcial do crânio. Pode ser diagnosticada clinicamente na
12ª semana de gestação, mediante o exame de ultrassonografia. Os anencéfalos são natimortos cerebrais, e
jamais podem se tornar pessoas. Não há vida em potencial, e sim a certeza da morte (incompatibilidade com
a vida extrauterina).
Segundo NUCCI (2016, p. 627) “a lei penal, ao punir o aborto, busca proteger a vida humana, porém
a vida útil e viável, não exigindo que a mãe carregue em seu ventre por nove meses um feto que, logo ao
nascer, dure algumas horas e finde a sua existência efêmera, por total impossibilidade de sobrevivência na
medida que não possui a abóbada craniana, algo vital para a continuidade da vida fora do útero. O anencéfalo
não é protegido pelo direito penal, que se volta à viabilidade do feto e não simplesmente à sua existência. ”
■ Objeto jurídico: A vida humana. No aborto provocado por terceiro, é a vida do feto bem como a vida e
integridade física e psíquica da gestante.
■ Sujeito ativo: A gestante, nas modalidades tipificadas pelo art. 124 do Código Penal (crimes próprios), e
qualquer pessoa, nos demais casos (crimes comuns). Os crimes previstos no art. 124 do Código Penal são de
mão própria (somente a gestante pode cometê-los). Porém, admite participação. Quando ocorrer autoaborto
com participação (induzimento, instigação ou auxílio de terceiro)o partícipe responde pelos arts. 124, c/c 29
"caput", ambos do C.P.;
■ Sujeito passivo: O feto. No aborto provocado por terceiro há duas vítimas: o feto e a gestante (crime de
dupla subjetividade passiva).
■ Meios de execução: Crime de forma livre, admitindo qualquer meio de execução, comissivo ou omissivo,
físico ou psíquico.
■ Elemento subjetivo: É o dolo, direto ou eventual. Não existe aborto culposo como crime contra a vida –
quem provoca aborto por culpa responde por lesão corporal culposa contra a gestante, pois os ferimentos nela
provocados são consequência natural da manobra abortiva. Se a própria gestante agir culposamente e ensejar
o aborto, o fato será atípico (princípio da alteridade).
■ Lei 9.099/1995: Em face da pena mínima cominada ao autoaborto e ao consentimento para o aborto (art.
124), esses crimes admitem a suspensão condicional do processo, desde que presentes os demais requisitos
exigidos pelo art. 89 da Lei 9.099/1995.
O art. 124 do Código Penal contém duas figuras típicas: a) Provocar aborto em si mesma – autoaborto
(1.ª parte) e b) Consentir para que terceiro lhe provoque o aborto (2.ª parte). Na primeira hipótese
(autoaborto), a gestante efetua contra si própria o procedimento abortivo. O autoaborto admite a
participação. O partícipe do autoaborto o partícipe responde pelos arts. 124, c/c 29 "caput", ambos do C.P.
Na segunda hipótese (consentimento para o aborto), a grávida autoriza um terceiro, que não precisa ser
médico, a fazê-lo. O Código Penal abre uma exceção à teoria monista ou unitária no concurso de pessoas (art.
29, caput), sendo a gestante autora do crime tipificado pelo art. 124, 2.ª parte, e o terceiro, autor do crime
definido pelo art. 126. É crime de mão própria – somente a gestante pode consentir e deve ter capacidade e
discernimento para tanto, o que se evidencia por sua integridade mental e por sua idade (14 anos ou mais).
Provocar significa dar causa ou determinar; consentir quer dizer dar aprovação, admitir, tolerar. O
objeto das condutas é a cessação da gravidez, provocando a morte do feto ou embrião.
Duas situações são possíveis: (a) não houve efetivamente o consentimento da gestante; ou (b) houve
consentimento, mas sem efeitos jurídicos válidos, pois incide uma das situações indicadas pelo art. 126,
parágrafo único, do Código Penal. É crime de dupla subjetividade passiva, pois existem duas vítimas: o feto
e a gestante.
O objeto das condutas é a cessação da gravidez, provocando a morte do feto ou embrião. Este artigo é
uma exceção à teoria monística (todos os coautores e partícipes respondem pelo mesmo crime quando
contribuírem para o mesmo resultado típico). Se existisse somente a figura do art. 124, o terceiro que
colaborasse com a gestante para a prática do aborto incidiria naquele tipo penal. Entretanto, o legislador, para
punir mais severamente o terceiro que provoca o aborto, criou o art. 126, aplicando a teoria pluralística do
concurso de pessoas.
O parágrafo único do artigo supracitado dispõe que a pena será aplicada nos termos do artigo 125
(reclusão, de 3 a 10 anos) se a gestante não é maior de 14 anos, ou é alienada ou débil mental, ou se o
consentimento é obtido mediante fraude, grave ameaça ou violência.
Forma qualificada
Art. 127 - As penas cominadas nos dois artigos anteriores são aumentadas de um terço, se, em
consequência do aborto ou dos meios empregados para provocá-lo, a gestante sofre lesão corporal de
natureza grave; e são duplicadas, se, por qualquer dessas causas, lhe sobrevém a morte.
Na verdade, são causas de aumento da pena aplicáveis somente ao aborto praticado por terceiro
(nunca à gestante), sem ou com o consentimento da gestante (arts. 125 e 126). O art. 127 prevê hipóteses de
crimes qualificados pelo resultado, de natureza preterdolosa. As consequências são:
a) aumentar de um terço a pena, se, em razão do aborto ou dos meios empregados para provoca-lo, a gestante
sofre lesão corporal de natureza grave;
b) provocar a duplicação da pena, se, por qualquer dessas causas, houver a morte da gestante.
Se fosse empregado o art. 127 também ao tipo previsto no art. 124 (autoaborto), estar-se-ia punido a autolesão,
o que não ocorre no direito brasileiro.
Crime qualificado pelo resultado: Trata-se de hipótese em que o resultado mais grave qualifica o
originalmente desejado. O agente quer matar o feto ou embrião, embora termine causando lesões graves ou
mesmo a morte da gestante.
Entendem a doutrina e a jurisprudência majoritárias que as lesões e a morte só podem decorrer de culpa do
agente, constituindo, pois, a forma preterdolosa do crime (dolo na conduta antecedente e culpa na
subsequente). Entretanto, a despeito disso, no entendimento de Guilherme de Souza Nucci, não há restrição
legal expressa para que o resultado mais grave não possa ser envolvido pelo dolo eventual do agente.
Mas, se isso ocorrer, conforme posição predominante, costuma-se dividir a infração em duas distintas (aborto
+ lesões corporais graves ou aborto + homicídio doloso, conforme o caso).
Nenhum direito é absoluto, nem mesmo o direito à vida. Por isso, é perfeitamente admissível o aborto
em circunstâncias excepcionais, para preservar a vida digna da mãe.
O dispositivo arrola duas causas especiais de exclusão da ilicitude – o aborto necessário e o aborto
no caso de gravidez resultante de estupro. Em ambas, o aborto há de ser praticado por médico. O aborto
necessário ou terapêutico depende de dois requisitos: (1) que a vida da gestante corra perigo em razão da
gravidez; e (2) que não exista outro meio de salvá-la. O risco para a vida da gestante não precisa ser atual. Se
o médico supõe erroneamente o perigo em razão das circunstâncias do caso concreto, não responde pelo crime
em face da descriminante putativa prevista no art. 20, § 1º, do Código Penal. Como a vida constitui-se em bem
jurídico indisponível, não se exige o consentimento da gestante para o aborto. Não há crime quando a gestante
se recusa a fazê-lo e o médico provoca o aborto necessário. E não são puníveis as lesões corporais resultantes
do procedimento cirúrgico.
É desnecessária a autorização judicial para o aborto. Se o aborto necessário for realizado por enfermeira, ou
por pessoa diversa do médico, havendo perigo atual para a gestante, o fato será lícito, como corolário do estado
de necessidade (CP, art. 24); ausente este perigo subsistirá o crime de aborto, com ou sem o consentimento da
gestante. O aborto em caso de gravidez resultante de estupro (aborto sentimental, humanitário, ético ou
piedoso) deve ser praticado por médico e exige-se o consentimento válido da gestante ou de seu responsável
legal, se incapaz. Todavia, se for realizado pela gestante ou por outra pessoa, que não um profissional da
medicina, o fato será típico e ilícito, mas é de se reconhecer a incidência de uma dirimente, em face da
inexigibilidade de conduta diversa (causa supralegal de exclusão da culpabilidade). Pouco importa o meio de
execução do delito: violência à pessoa ou grave ameaça. Será possível o aborto ainda que a gravidez resulte
da prática de qualquer outro ato libidinoso diverso da conjunção carnal.
Da mesma forma, por analogia in bonam partem, é permitido o aborto quando a gravidez resultar de
estupro de vulnerável (CP, art. 217-A). É prescindível a condenação e até mesmo a ação penal pelo crime de
estupro, bastando a existência de provas seguras acerca da existência do crime.
REFERÊNCIAS
DE SOUZA NUCCI, Guilherme. Manual de Direito Penal. 12. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016.
MASSON, Cleber. Código Penal Comentado. 2. ed. São Paulo: Método, 2014.