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A FEL!ClDClt i.lAi r li" r ' !' Ì,al.

í:fi[r [ïi)

A paixão é um fio de chuva em vidro de janela. Na vida de


João Rosa,janelasse sucederam,pâixõesescoâram,sem rosto
nem rasto. Mulheres escorreram como âpressadasgotas e se
neblinaram, aves cruzando os céus. João Rosa não se lem-
brava de nenhuma das mulheres que amara. Mentira, recor-
dava Clarice. tlvez porque tenha sido âpenas há semanas
que a relaçãorompera. tlvez porque ainda a amâsse.Talvez.
Como dói o indeciso tenpo clo "talvez". Pior que essa clor
âpenâsa conformadiì certeza dos amores eternos.
O rnais certo "tah-ez" deJoão Rosa é Adélia, sua no\-aniì-
morada. Quando tudo en.rr-olt:rse tornà ene\-oacloapenas:r
paixão nos devolve o horizonte. -\délia. â suâ recerÌrepairão,
foi um céu cruzando un-r pássaro. Tüdo mudou rlescleque,
num final de tarcle,ele recebeu a ÌÌÌensagemno celular:
"Queres conversar?"
E ele teclou, breve, a resposta:
"Conversar sobre quê?"
No minuto seguinte, o écran vibrava com o monossílabo:
"nós". Não existia, até àquele momento, nada que pudesseser
chamado de "nós". De súbito, porém, aquela entidade colec-
tiva ganhou instigante sedução.Na realidade, era um ovo fei-
to âpenasde casca,mas o seu interior fervilhava de promessa.
João Rosa se embriagava com o fascínio desseprenúncio, esse
vazio aberto a tudo e sempre. Foi isto que ele, no primeiro
encontro, disse a Adélia. Ela respondeu:
-E i s s o ,a p o e s i a .
- Não entendo.
- O que me fascina em si não são só os seus olhos negros,
esseolhar de confiança absoluta. O que mais me encanta são
as suas palavras lindas.
João Rosa sabia: falar bem é o mais enebriante dos perfu-
mes. E ele floreava gramáticas com a mais refinada arte.
- Me ensine um pouco de poesia.
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anb sor-uequs os sEtrV'zrlãj ol]ues as-apualde rtsaocly -
avenidae pârou, por fim, na loja em frente à casa.Fez de
contâ que compravauns postais,um bloco de apontamentos
e outras desnecessidades. Porquese demorava,faceao desti-
no? Bastariâmuns escassospâssospara enfrentar a mesma
portâ, o mesmo corÍedor, â mesmâluz. Bastariaminstantes
para revisitar o seupróprio passadoe, contudo,João Rosase
demoravaa observar o céu se acinzentandoe os passeiosa
ficaremmolhados.
Na janela da papelaria,as gotas de chuva escorriam es-
pessas,primeiro, para depoisdesabaremsubitamentesugadas
pela transparência.Rosa fechou os olhos como se quisesse
que a chuva escoassepor dentro das pálpebras.E, uma vez
mais,voltou a adiar-se.Voltaria depois.Não lhe apeteciaen-
frentâr o rosto sofredorde Clarice, a angústiahasteadacomo
um punhal à esperade se cravarno seuindefesoremorso.
- Adélia?
A,voz doce, do outro lado da linha, acendeuconfortos.
Recompensainfinita, essemilagre de existir Adélia e de am-
bos se terem cruzadono infinito labirinto do mundo. A vida
apenastem encontros;tudo o resto são descoincidências. E
ela, a sua nova namorada,esperandoao telefone,já se intri-
gârâ perântetânto silêncio:
-João?
- É pata dizer que vou já âgorater consigo.
- Afinal, não tinha que passarpor suacasa?
- Está a chover,passopor lá amanhã.
Adélia também sabia:não era a chuva que o imobiliza-
va. Era o medo de encarar Clarice. Foi isso que o fez virar
costasà rua, condenandoâs suâsroupas à solidão do velho
armário.
No caminho de regresso,respirou de alívio e sorriu com
a ceÍteza,de que, sem ele, Clarice perdia o chão e se alonjava
do céu. A sua marca, como um brasão,permaneciagravada
na alma de todas âs suasex-mulheres.
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No dia seguinte, Rosa surpreencleuAdélia pendurando roupa


na varanda. Eram camisas dele que pingavam no segundo an-
dar. Cada pingo lhe surgia como gota de suor escapando de
um corpo que já fora seu.
- Porque evita tanto voltar a sua casa?-inquiriu Adélia.
- Não diz que a minha casaagora é esta?
iI i - Não gosto que âs suascoisasainda estejam naquela casa.
1ì - Sabe-selá o que pode essamulher fazer com âs suasroupasl
- Por amor de Deus, feitiçaria, nesta hora, não.
- Pois eu volto a perguntar, João: o que lhe faz ter medo
de passarpela casade Clarice?
Não era medo. Era uma oculta sabedoria.CÌarice estava
um farrapo e queria que o mundo soubessedisso. Amigos
lhe traziam relatos do seu deplorável estado. Tinham crrtza-
do com ela na rua: estranhamente a mulher exibia um olhar
firme, confiante, de estima quase masculina. Apesar disso'
ela passara a usar luto. A todos proclamâva a trágica notícia:
João Rosa, o seuJoão, tinha morrido.
- Morreu, sim.
Os incautos, no início, acreditaram. Para efeitos e defeitos,
ela era uma verdadeira viúva. Os que nunca repararam neÌa
ântes?que a olhassem agorâ' com deferência de uma criatura
que o luto fazia estrear.
- MorreuJoão Rosa?
- lF.ámuito que estavâ morrendo-respondia CÌarice,
1Zi sem quase ter voz.
JN: De vestido escuro,visitava o cemitério. Numa incerta campa
depositavaflores já murchas. Tão despetaladasquanto ela prri-
pria. E regressavaa câsacom a escura solenirladedas viúr'as'
Mas o boato rapidamente se desfez de encontro à evidên-
cia. Cedo se soube que, afinal, João Rosa se mantinhâ tão
existente como sempre. O homen mudara de guarda-fatos,
de casa,de mulher. Mas não se mudara para os aléns.
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seossadsV 'tJIePBPJe^ JãseP noxleP sJlluâur r anb rutsst
soes LAG RI M A
UM A FURTADA
uilo
fsse No final da palestrasobre economia global, os aplausosao
mâ- rubro e eis que uma lagrimazinha, quaseumâ inconcluída
uele gota, lhe espreitou nos olhos. Apressadamente,João Rosa
não passoua mânga do casacopelo rosto.
ìda. Regressados a casâe já no leito, â novanamoradalhe lem-
tora bra o deslizesentimentâI.
- As palmasmexeramconsigo'meu amor...
ôsa - As palmas?
- A ovaçãofinal. Ficou comovido,amor?
- Eu? Você não me conhece,Adélia.
mas - Eu teria ficado, a mim nunca ninguém me ova-
doe cionou.
rrer. - Eu a ovacionoem cadainstante.
?m: - O que sucedeu,amor?Porquêaquelalágrima?
rpe- - Foi daluz, aquelefoco directo sobreo rosto."
rcria Assuntoencerrado:tinha sidolágrimailegítima,uma agui-
)ÍTe- nha técnica,sem história. E para garantir que o temâ não ti-
ilava nha retorno, Rosaderivou a conversa:
- Procurei por si, entre a multidão, mas o maldito foco
não deixavaver ninguém...
nân- Ela se dissolveu:o namorado,em meio de tantos admira-
não dores.a mântinha como centro do universo.
hde, - Procurou por mim entre a multidão?
,Íro- - Claro que sim, naquelemomento eu falavaâpenâsparâ
rido, si, não haviamais ninguém em toda aquelaplateia.
ela a -Jura?
-Juro.
ice a Ela se chegou, açucarosae' corpo e alma, se encostou
nele. E murmurou:
- Pois, foi pena não poder ver os meus olhos cheiosde
quer orgulho por lhe ver ali, brilhando no pódio.
rdar. - Ficou vaidosa?
- Me derreti.
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-eJd os ãprro Jod or8atr oJÌtJnq run ro-Ì'osrl elanbrysos(llÌl
op trnb-ur1EttrÌ]Lr es-Jelio,\LtoJ apo(l 1ìl13lrÌ1 a1t osdrrl rrrl
'RuussÌJt:lJpÌ)ol Ìr,\trlscltllls ll :lâzrÌr ',,t:P-rrtl
LÌl-líììtl-ì
"'aJIJPI') upol r'ttrlsorrlrÌsrÌ'.1()u-rÌr rr;rur'o.h-rp eLll rìJ slod
- Veja no meu espelhinho.
Espreitou e se surpreendeu: erâ como se do fundo do
l:l de olhar uns outros olhos espreitassem.Na verdade, flutuava em
nrP - seu rosto uma aura que ele nunca dera conta antes.
r^ -
f ã r rl - Está a ver? São ou não são azulados?
U n() Talvez fosse do rnar que ele pegara de manhã. João toma-
ra o caminho da marginal e, durante todo o percurso, tinhâ
e s p ra i a d oo o l h a r n o h o ri z onte.
o , i- - - Não é que lhe fique mal, essernar.
l ) nj( t Nessa noite, João Rosa entrou no bar e cornentou para os
amigos que a secretáriase esta\-iìatirando a ele.
- Aproveita a sorte, Rosir.Essa nloca ner.Ìlé nada rná...
- A fulana deu para espreitar-rneos olhos.
E riram-se. C) riso refbrça os laços tribais closc..rç:rdores.

-j
> rlc
)--_ O T E L EF ON EMA
D AM ÃE
).1,,.
- Ninguém se sepârâ,meu filho.
3- - Pois, lhe digo, mãe: eu e Clarice nos separamos.
- Nem o seu pai quando morreu se separou de mim.
' JU- Foi o que lhe disse a mãe quando João Rosa telefonou a
-lh c anunciar a ruptura com CÌarice. A progenitorâ nunca tinhâ
aprovado â suâ ligação com ela. Na verdade, nunca aprova-
e n- ra Ìigação com nenhuma mulher. Afinal, o que ela sempre
reprovou foi o seu crescer, a sua conversão em pessoa com
destino próprio. A mãe nunca o deu à |uz.
- Não percebe, filho? Você será sempre parte de mim,
morará sempre no meu ventre e o meu ventre é maior que o
mundo.
rde - Liguei para falar de mim e não ainda parámos de falar
de si.
un5 - Viu? Eu tenho razão: você é eu.
Rosa desligou. Sem raiva. Apenas com pena da mãe. A luta
dela, durante a adolescência,fora parâ ser mulher daquele que

205
'JOJJOuIeJUdrunl{ueu JoIuB oquel opu eí na anb 'oqlg nau
'snãg e se5er8 gP slod iaJIJelS rod .routenes o naJJoW -^
'ESodo9ol ãP
âgur B noleJ TuISSV'sotuãJJolu anb rua alutlsul ourselu ou solu
-ãJSBueJsopot '1rugy'ollruu IoJ noJouleP ãlE 1BIPoJIãJral oe
opBlrssnssâJEqua] olsIJJ anb sou-orueluedsg 'seluB solJotu
sorue^glserí anbrod ã âJJoruJotut o es anQ 'sIBIu âssIPE
'tusSatuoc anb uo oluãluouJ olJEXaou urêJJoIu seJãI{l
-nur sB ruoc sag5elal sEqulru su enb esslp eEIu EI{ulW -
"'srEru u9n.õ
-lB ruâ opuesuad e^Etsa 'aluada.r ap 'anb eu-neJãJed -
iJãs ep etneq uanb 'agur equtlg -
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iesslp eru ula anb o oqES-
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BSsâpruãlrl e.red gtse Jorue O 'solu€rue anb so ?Junu soluãP
--rad og1q 'rap.red soureJl oeu enb e oJlno o ures reJg IB^ es
anb .raqeg 'JEJI] IE^ sou ePI^ Blrrseure anb opuaqts 'nap sou
eplt e ruanb Jtruv 'soqlg soe soIlIBJIPepanb roulc ou JEUrBE
souapua.rdy'JBuIE e etapuerde sâleP turu{uau '1euge :oqlg e
agur eJtuã sepun;ord sIEIUrreq seSueqlautasEIJãquoJaJJerll
-mu-xa V 'esog ogof ap EPr^ EP setu8ru: so]lnJo so Jal BIqES
eJrJB[J oguas ruen8ulu sEW'e]uePl^e o EIJaLIUoJellgPv
'sopeuluJelap 'sopun;old 'so:nlsã 'soq1o solusâlu sO -
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oprcared e 'Jotuu naul 'elo,t 'l"tgY 'ossr e8rp oEN -
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so nor{ral BIISPV'equll EP OPEIorlno e tun ãp sezo^ sE opuBl
-nJSe EpeJorueuE^ou B 'BtuEJBu BJãJeluoJEEtueuoJalelO
'E^erotu elau enb rãqlntu q Iegul
BJa egru V 'sâJer{lnu sB JIeJI e u;apualde esog enb BIa ruoJ
lo; 'aprp;a,t e1ç 'uran81eap esodse e seuede Jes ogu erud elnl
el-rg18ulBrun IoJ BIeP EPI^ e EPol 'srodeq 'tsd nas o Jes EIJI^
Adélia sorriu: a futura sogrâ actuavacomo sua inesperada
distraísse
aliada. Esperava-sedela' enquanto namorada' que
a pequ e n âra i v a d e J o ã o '
- Deixe a sua mãe, João.
- E,l aq u c m e .l e i x ea m i m'
a
- Deixe a sua mãe e prornete que amanhã vai buscar
sua roupâ. Ou Prefere que vá Ìá eu?
- Não sei se terei temPo'
para
- É qo" não falta rnuito pâra clue não tenha nada
vestir. Cclmeço a ficar cansirdacleser a sua lavadeira"'
- Se calhar vou é ct,urprar tutlo tìe novtl'
fica-
- Só se, entretanto. manclar queimar es roup'ls que
r an lá , n a c a s ad e s s am u l h e rz i n h a '
- Você não entende,Adélia'
E el e c l e s a b a fa rl s s e u s tl e d o s :Cl ari cetetrrrequi trtcscol ìÌ()
em pÌena
stripteaser cle sofrinento. E Rosa faz conrtl gato
nesse obsceno
caça, desrriao rosto lnas continua centraclo
já não quer que ele a voìte a
desnrdar de intimidade. Clarice
amar. Ela está-sevingando de quanto ele não a âllÌou'
que
- Pobre mulher-suspira Adélia' - Ela não sabe
vingança é a arte de quem não sabe viver?
quer des-
Mas Adélia não entende,insiste o homem' Clarice
bei-
fechar nele um remorso como quem dedica um irnpossível
jo. O prazer dela é vê-lo convertido em gota de chuva' cicattiz
no nada'
de luze sentir que ele escoaem lágrima e tlesagua
- D e i x e , q u e ri d o , tu d o i s s o é passado'
passadas'
O passadoé mentira' Metade é feita de coisasnão
passarão'
A urrtiu metade é feita de coisas que nunca rnais

beber' Por
Para escapar da existência, Clarice pensou em
escoâr rios de angús-
um simplËs gargalo de garrafa podem
Ela não' Na
tias. Há quà È.rtq,te na bebida ser um outro'
o ãpunur oJIqS ãP zo^ e enb uroJ ze! e elasB essãJ8ãu
êoso!_
'olJOrUOtsBIrun
oruoJ sorr; ã soJnJSã'ureldruatuor u anb soqlo so eJequoJeJ
ogu 'sotuedse sop oluedsa 'a oqladse oE ãs-Br{lg 'se-rqadlgdse
epe8ad ãlrou B ruoc epe8n"rpeu ep JtpJoJB ered ecaurropy
isãsnapBsoruBZ
-nJc ogu BIâu âs elaueí Brrln ele^ anb ag 'soEru stns rue eJãru
-JopBJBInIãco'a1rau1 'snepu run ãp ogpDual uroo 't8tyseq
iârrrtl] -
:usog oeof ap eo
-llgleru zo B BlnJsâ ãs úI{uII Ep opBI orlno oCI 'optpred roue
nãs op euoJelel âp oJãrunu o -re]l8tp B BJoruâp a ellep es EIe
opuenb soJqruo so uracenbe ãql ogu 'septdsep ogtsa se.rrreyed
sV 'BSBrE Etrqeq anb orcuglts o tuoJ rEIEJâqts ogu ãrIrEIJ
'o5rlsap'.repuatuaya as're3l1 99 'ogof ered.re8r1no -
'EPI^ B glsâ ãPuo âgESogu
ãcrJBIJ 'Bpr^ Bp serraíns su rdrurl oÍtaq O 'ua8eurt e eíraq a
eqlaoíe ãs EIE'BSoU ãp eger8oro; B â ernploru t esnoda.rapuo
orJeruJeoe as-e8rrrp a olrenb ou essa.r8arãJIJBIJ 'epe8errec
-sap ulorsrd erun essoJâs oruoJ 'oçtu eu opuapuad BJTJJBC
isPr^ ãP elnd -
'oxrl ãp oreru ou orcrp.radsap'erz
-eregetlr-8 oruoJ rrrãpsâpoe BpBJIIE.res'yeug ou 'g 'e:eetuas
eson ogof anb sec-rerusBsorâssou eql-Jequel 'a1apue-ro1 anb
soíraq so ãql-JeJo^ep 'eroq u Juqlotu assãI^ ãr{l ESoà âP BIJ
-uãsne e enb el.ranb uyE 'ero8 ErullltÌ p gw vpv?en res Er;enÒ
'Bplqâq ras euenb EIE 'reqâq erranb ogu EIã 'opun3 oN'sogtu
srns rue esuadsns noJoruãp vletn? e 'rugrod 'za-nBlsâC[
'sapBpIJIIãJsra,ulada.r.rrã sBtnlosqBrueSa.rtua
sou anb sessatsesloJseldruts sEruB^BpuIJqslop so opuenb.raz
-BJ E^BrunlsoJ oruoJ 'sepezn.rcseu;ad ep es-nolueg 'ogof ep
soquh ãp B^JâsâJep eSesm?Brun noJll a esuedsap q tog
'Jes eP JsxrãP
aluaursaldurs assapnd Bl" zè^lal'eqes uranb'zan8errgrua
\,azio diì longa ins<inia.A cançãclfala corn elir: "(Juis nìorrer
de ciírtnes,quaseenl<lurqueci...". Morrer cleciúrnresé clernasia-
clo solitário. L, cla tem rr crrnçãoc()rììoconrpanhiir, é a írnica
anriga quc ll-rerestl.
- Tênho nrecloclenìorrer clenrasi'lrlo.
Ergne-se corÌìo que respondcncloa Lullrìsírbitirilunrinaçã<l
interior. Retorna ìo csÌ)cllìo c rrio reconhece as pitlrrvrasclue
lh e fl u e n r n ra i s c k rp e i to q u e tl l l l oc.r:
- Ninguérn lÌìorre Iìurlcì. se lìr.Ìl()Ìlurìì r.uìlor
Po d i a m s e r p rtl ,tv rrts
rl c rtIc ntorn.rssorrrrrrn-l i re
a rtífi c i o d e l e trl rl e rrrri s i crr
ronri nti crr.

Joã<lRosit bltetr ì l)ortrÌ, <l corlrçãocrispatlo rìrì l)()rìtrìrl<lsrle-


r l< l s .(l a tl rt t< l t1 u cl h e tl < l e trc < ltttose' l l rarl ei rr tìrsseì c1ìrl ìe
rlue golpeava. I)<l <.rutrolrtclo,escut()r.r-se a ìrrastrì(lì nrrrrcha
rle (ìlarice, a fresta claprlrta rleir<luescrìparl envirrr.rrrla rrlz.:
- \/eio hojc? lr rluc hojc cst()rÌnluit() 1ÌÌìtigrì.
-,J rí te n tc i v i r rrn te s ,rrã orl eu.
- Fìu sei.
- Sa b e ,c < l rn o ?
- Iìu v i -< l u a p a p e l a ri ae rn frentc.
Si l ê n c i o .Arrte srl u e rt rttn ro sterrtse t()rl ìc tl ernrrsi .rrleos[)es-
s a ,.fo ã o a i n te rp e l o u :
- (l ìa ri c eì
- N ã o n re c h i u n e rl e (l l ' .rri ce.N uncrt rnrti s.
- N ã o e n te n d o .
- Se j :í n ã o n re i ìrn i ì,r.rã <rrl rev< l l tcrr chrnrrrrpcl < lnorne.
(]ue ìhe interessltVater rÌnì rì()nìese ele tnrltvt.tulìÌtì outrlì?
( ) n < l n reé u ttra Iu z tl u e u rn c < l rrtção F. (l l l ri ce qucri rì
rrcetrcl e.
Í ìc a r n o e s c u ro , tl e s l rra rl al,)a ra l ìão erìxergi ìr i r srr:r1l r< i pri rr
er i s tê n c i rr.
F . e l e , h e s i trrn tec, rtrl l p rtl a r .' rltacteanrl o< lsi l ônci o:

209

I
.sBIuSãluISBaS.IuBJEIUV.uãruoqouIsoluotuBJBuIBeJ.SoJ}I.to
uTBJEIuE nãs rug
'ercuacsalopeãP luErEPnruse8rue se JoPãJ
's8true slunqueu ãP Ies ouu anb olrntu 9H -
-
ieuttr{ n11 ieuuof olsl^ ruâI
'eJIJelJ ap sEP€lseJJeselsodsa'rsE sIEUIsPuI€ Elrusl
e orJuglls o e^EãJeà 'sutun8red eP elueJJol Brun JBIESãPzâJ
orulrltÌ ou selu'e1-eSelqeE nãPeJ
E'od.roc o noãl;eJ alus}sul
anb asenb eso6 ogof 'oloc oE evlètl t'le anb sednor eP oqln-lq
-ure ou rucJeqruol seurr-r8g1sy 'oluerd rue noqESâPaJIJBIJ
'uteqesepaurrg asod E e osJnJSIPã]ueJIIãPo 'oltqrls eq
-
iarIrEIJ'opuaqaq EPUBâro
'oPIPuã]uã Je] êP EIIAJSIIES EZãlsIr] BSSOU
o noqlo esoà ogof
'nrrrog 'nepuatue ã sol{ul^ soP oIJEIuJB
'e5ue"rqure1 Etullll,ì e -rrn8utlxa es ap srodap oursãlu
an8assord ogSe;oc o 'oltad Je^Br{ ocu 9Í ep srodep otusary
'erduras Jetue 'Jetu17'Joure tunquâu ulas ourseur B^EIUV
'eure eru EPuIBeJo^ seyg 'ogo['eqtes ogu eJo^ ze^lc1 -
-
aanbrod rnbe nolsa 'ogluE
'sednor sE JBJsnqe;ed tnbe glsã otu ?co^ -
'eptpnts lueu EZãlsIJlureqledsa ogu tleP soqlo so :e'te8rexueanb
ou EpuIEsouãW'E^ElnJSeanb ou E^tlIPeJJeoeu esog ogof
'EruEâIU BpUIE
ecor 'oeof 'osst ro4 'ollugul utn e-ldtuas 9'oqo[ ''reruy -
'oltrgtard ulãs soqJã^ oESJê^IA e JEruV 'oPI^I^
Jel o rueu'opetur Jal o alslxe ogu anb :nrladar e1eu5uern8as
epe;adsaut ruoC 'JEurEeP sxleP âs slttu EJunu oPBluE oPuel
zâ^ elrlíf 'opessud lues oqJe^ lun e reure :Elqes aJITEI)
'JOUJE-Xa :oã
-nuoc eltdag 'erun asenb 'ser,teled senP oES'saldturs I -
'zvdtt nos ogu 'aluarusaldutt5 -
-
ian8asuoc ocu otuoJ
'opr J U â ^' o xl E q sl q e J' e S a q e lB n l P nJ
-eg 'etranb ogu'etqes ogu'etpod oeu :noían8e8uaruoq I
'.(JOLLIB-Xãnãul,, eP eul-âluBl{3 -
-
éoglue 'otuoJ âql-oIlIsI{J 'ectre13 'adlnlsaq
ilr
:
E passaramguerras,desfilaramexércitospelasruas desar_
madas,a sua alergiaao pó se âgrâvoue os lençosde papelse
rer i e. Sa -
âmârrotârame se âmontoâramcomo se fossemdiasno fundo
do tempo. De onde vem essepó que lhe avermelhaos olhos?
Talvez ela mesmase tenha convertido em poeira, talvez seja
essaa razãoporqueperdeuvisibilidadeperânteo espelho.
ra comi-
- Estámaismagra.
Não mais voltou a olhar a balança,não mais espreitouas
nta vez
- calorias.A angústiabastapara a sufocarsob o pesode uma
esperada
enfartadaalma.
em o ter
- Mas esrábem de saúdeì
Talvez estejaincubando doençâgrâ\-e.Grave?,pergunta
'ão. r-ocê ele,subitamente ansioso.Sim, sussurraClarice.De qrr. re.rre
uma doençasenão for gravíssimaì^\Iasnem issolhe dá con_
ainda no
solo.As suasmaleitassãocomuns,sem glória, incapazesde
'audade. seduzira Morte. como ela sempreansiarater estadodoente
com ele à cabeceira,convocandoâ suaurgenteatenção,sentir
a suâ ternura nem que fosseem dosesde miligramas,saben_
do que lhe perscrutavao rosto à catade um desvaimento.
senlpre.
- Tem visto televisão?
ossegue
A Televisãotinha dedicadoum programa inteiro à extin_
ção das espéciesvivas.Para ela, há muito que se exringuiu a
. Sorriu,
Vida. E não foi apenâsdenüo dela.A Vida esvaiu-sent pla_
neta inteiro. O amanhãfaleceu,caroJoão.
O que restouforam diasressequidos, semlembrançado an_
3 sabam.
gigocalorvital. Fazlembrar os laivosde Sol depoisdo poente.
no em-
E issoque tomâmospor Vida.
raseque
- O que lhe digo, caro João, é o seguinte:a árvore está
o r po. E
morta. Apenasaindanão tombou.
lêncio e

LivRoS
ËcoltRtc)s

lmaram
A voz de Adélia o surpreendeassimque enrra em câsa:
nesmas.
- Como correu?
so noIJIJBJ€ e ESEJBp oIJ
anb alenbep 'sopeqldura eí 'sor'u1
íza't elsâcl 'sesIrrrBJãP
-glrJJSã oE Iod 'noJor{J Ogu elâ 'ura'rod
ogof norraldsa elaueí eg
eruJoJul ãtuotu utn opue5erqos BSoã
ep .'os O
'"rrrJ13 ap orrad ou JEoJa B noJg oPuBI{JeJelrod
zo^vo oc30
'rs ap oSepad alse rslsssal e3IJslC âP BSEJe BIJBllo^'oursãtu
so reqlo
gr{uuury 'epe,Ler8trule e 'sopuessudsoPâp 'opelorua
soJ^ll sou BJE
ã apuo 'oprrrr^ Equll slelu âlâ âPuo
"r""r"p enb napuelua
'solceíqo sop leossad slerrr o BJe oeu ednol r
so 'rur5
ogol'áruader ap 'E 'opecy tuequll 'sol'tt1
"ro6 'aJIJBIJ eP esBJrug -
dESEJ rue B-I -
g'e(oq
"'BScJluã 9l oplse sPuIB soJ^II snãlu so 'stodap
'opeto8sa notsl -
r€qleqen o8rsuor opu 9í anb oqey
en -
'sotllãluJâ^ opl I^ so BJunN 'oIJIIoJ run 'ressed
anb 6 -
isâlâ ruor 9q anb 9
"'soqlo snesso -
:epudncoa.rd'zo-t e
zer) ogrr enb as-ecglua3
e8nrua 'stodaq 'soleqle sautn;rad
.IBIrer{r
o,,.d"',ï:i:""Jà"#:ï:ïff
ï:s ;J,Ëg
'ElJu?JãJuoJerun 'rereda'Idno'r eputy -
,",,^ï;:'3ï;:1"#;."
'r-rros ogof
oEru B utoJ eleg EII?PV 'oPesuec ãluârrrBl{uBJlsa .ASEJ B]SEU
I€JluãePseluB'opnt olnbe '":J#:JÏ"
rï:,.:rirË -
lsedno.r sB g -
anb 'ogN -
'esroJ tuoc BSIo3ztP oEu Jel{lilu E sBW iurapr
.'rsB âs-noJIlV -
'EJnol 8tsâ elg -
fora o seu homem. Depois, ârrumou-os um por um num cal-
xote de cartão.
- Amanhã ele virá buscá-los.
No final, serÌtou-se sobre a caixa jâ cheia e deixou-se Íìcar,
absorta como se procÌrrassevozes antigas. E foi' então' que
lhe chegou o eco do seu pai, fumando entre pilhas de livros
que, em menina, ela ajudavaa espanejarem cada domingo'
Lembrou-se, então, da história que seu pai repetidarnen-
te lhe contava. E que fìlava cle r.rmarnulher que só começou
a ter filhos depois de morta. Cacla nove meses' da campa
irrompia um choro, e o coveiro, resmungando e blasfeman-
do, arrastava a sua pá pelas ruelas c1ocen-ritérioe, cotlt cui-
dado s d e p a rte i ra , e s c a \-i ì\-a p rl r rr reti rar o recérr-nl sci do'
Do fa l e c i d o v e n tre d a rn u l h e r trrotaratn. cm i ni trterrul l ta
c or r e n te , d e z e n a s d e c ri a n ç a s . O cor-ei ro-que erl ì ul Ìì
hom e m b o n d o s o -i a a d o p ta n d o os bebés e se afuncl ando
num mâ r d e p o b re z a .
Até que o coveiro mandou pavimentar a campa e abateu a
árvore que the dava son.rbra.A esposasurpreendeu-o a cimen-
tar o chão por cima da sepultura e disse:
- Tüdo isso é para nada: o ventre dessamulher não falece
jnteira'
porque esseventre é a própria Terra, toda
Era essahistória que âgora despertava em Clarice, no eco
das palavras doces do seu longínquo pai. A desbotadahistó-
ria ganhara uma inusitada presença. E ela entendeu: o pai a
aconselhavapor via metafórica' E a encorajava a fazet do seu
ventre urn cadinho pâra novas vidas' vidas que seriam suas' âs
tântas pétalas de uma mesmâ flor. Ela teria que nascer cle si
mesma, superar a cinza, rasgar na parede da angústia a janela
de um novo dia.
- Vou pâra â rua.
Rosa,
Já que havia inventado a norte e a loucura paraJoão
ela inventaria uma vida outra para si. Ela se inventaria Ac1é-
lia. Foi ao espelho e se fez bonita. Foi ao velho baú e se f-ez
vaidosa. Foi ao fundo de si e se fez mulher.
-
'Jã^ 8 nofse opu nã 'at1on "'ello^'ert're13
'olãsscd oP oPBI
:€sod ep ocnor olu8 o 'o91uã 'ãs-nofncsq
€ oPueznJJ 's8fsoJ noJI^ E
oJfno ou as-oPuelsejB 3 BnJ -
.aqts uran$
o nosnod 'eSueguoc zt1al
'EJop€losuoJ'a1apo-rquo ou o5e-rq
s'\en]nl'{'napuodsar ogu BIE
3D J?ãìS€IIlun solqgl sÍÌãs rIIe -
Jãl IE^ :eJIJ€lJ 'lolr; ro4
iur9n31e uroJ
ürãnÒ -
iaJo^ E itrun8rad
aPu6 -
1ãJIJEIJ 'tu'r -
'€luIJts9l
'ãJIJEIC
serqadlgd 'oxreq otsod
up r.radsa,ttue 'seJuaznlãruaJl
ap ropeSuc oPelreJue
ap zedvt IoJ ogu 'se'raqlnur
-rirr"r;""
o neP es 'lot{lo sou soqlo 'oglug
'eso6 oeof'1a.Lgsuadur
so olusâlu E -
irenb anb soJ^II
:JEIBJeP seluB 'B^Il
'âlãP oultxgrd ruãq noJclsã 'o'rtaqu
-rsrnbur 'o-noldulaluoJ g
sun ne6 'nored âJIJelC
-edruor-xa op ogJcarrp eu sossed
-
"'soJ^II âlueruleâJ e'tesrcardna 'ruog
"t"- 'op 'opelseruePardruas
'Je^I^ ãP
eÍas anb ã^ãJq slelu Jod
eJnp ele otuerurcanbse ãsse
EI{uIt ãJIJBIJ
o"r".Ër, as ruenb 'ral apod os ouroJ 'essard
esso.1ãlâ anb lanb anb C)
:ercuglrodrul- Bgull oEu JãzIP
-
'oll3Í 9P ãrrr opu e;o8e 'gqurute rI^ ãPod
'sol^lI snâul so JEJSnqBt{ulA -
'JIts EI na 'ero8e "'o9o['qV -
ouroc BUISeluIS
'OIJOIIJJâ]IEJnleu nãs o ãssoj BnJ E es
o eled neduorl 'esec ep ntrs
ep euoP â eluaJseloPe 'opuntu
'"]'od e ;ãlug e no8aqc ogu eso6 o9o[
ãJTJEIO'1a,ucaq,roca'r1
'BnJ Q no -
ESSaP
:IS lua EIJsEu anb elnletrc B^ou
o roper;oJ ou nolJunuu 'ul1e zo'1
ou€Jãqos olJE oJlâurtJd
O tom era de desespero.Ela parou, deu meia-volta e atra-
vessou,de volta, a estrada.
- Eu estou cego, Clarice!
- Você apenasestáchorando, meu querido.
- Chorando, eu?
- Eu sei. Porque esses,no seu rosto, são os meus olhos.
E lágrimas que não eram suasdesceramcomo gotas de chuva
EE em vidro de ianela.

ir:
Cr|
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B-
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